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30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 1/12 Introdução No capítulo anterior, ainda claro em nossa memória, estudamos sobre o texto argumentativo. Vimos que argumentar é expor ideias sobre um determinado tema, defendendo nosso ponto de vista de forma lógica e coerente. No entanto, o texto argumentativo, mesmo sendo riquíssimo em sua estrutura, não carrega todos os elementos existentes do ato de escrever. Um deles, por exemplo, e que veremos agora, é a narração, a qual sempre encanta a todos que gostam de ler e de contar boas histórias. Do Ato de Narrar O ato de narrar é, sem dúvida, uma das mais antigas práticas desenvolvidas pelo ser humano. O conhecido escritor inglês E. M. Foster considera a narrativa uma atividade atávica, ou seja, transmitida desde a idade mais remota da humanidade, vinculada a rituais pré- históricos do homem de Neanderthal e a manifestações registradas antes mesmo do uso da linguagem verbal como a conhecemos hoje. 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 2/12 Por outro lado, se a narração é anterior à nossa forma atual de verbalizar, a narrativa verbal (que é nosso ponto de interesse neste capítulo), originada da fábula, da oralidade, do simples ato de se reunir pessoas e de se contar algo, acompanha, da mesma forma, o homem através dos tempos. E tudo isso muito antes, também, do nascimento da escrita. O ato de narrar tem sua gênese na simples necessidade de se contar histórias, relatar caçadas, grandes guerras, aventuras e façanhas. Os mitos, os temores e as lutas entre povos, orientais e ocidentais, desde seus primórdios civilizatórios, fizeram da narração através das palavras um elemento fundamental para que pudessem dar sentido à sua existência e situar-se no universo. Assim, nasceram as parábolas, que relacionam até hoje homem e cosmo, e nasceram as histórias que rememoravam o passado, contadas pelos mais antigos aos mais novos. Segundo Mempo Giardinelli (1994, p. 18-19), É através da narrativa que o ser humano, independente de sua época, transmite sua cultura e seu conhecimento. Por isso, o homem é e sempre foi um ser narrativo, que sempre contou e ouviu histórias, sendo a idade do ato de narrar a mesma idade do homem. O que é Narrar? 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 3/12 É preciso lembrar que a narração pode ser ficcional (imaginária) ou não, já que é possível que contemos a alguém alguma coisa que nos aconteceu, buscando os fatos em nossa memória e dando a eles uma ordem lógica e compreensível. Como exemplo, podemos lembrar-nos de uma matéria de algum jornal, em que algo importante ocorrido nos últimos dias é contado aos leitores. Vamos ver? Note que, mesmo sendo o exemplo uma notícia de um jornal, construído sobre um acontecimento verdadeiro, o texto não deixa de ser, principalmente nos dois primeiros parágrafos, uma narração como qualquer outra. Observe como existem personagens, espaço (o local onde ocorre o assalto), tempo (o horário e o dia), enredo (como tudo acontece) e até mesmo diálogo, representando a fala direta dos assaltantes: todos os elementos de uma narrativa bem elaborada. Porém, não se trata de uma ficção, e sim de algo que realmente aconteceu na cidade de Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul. file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte2_Rec1.mp4 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 4/12 No entanto, quando falamos em narrativa, na maior parte das vezes, logo nos vem à cabeça a narrativa literária, a ficcional. E isso não é nenhum problema, já que é na narrativa de ficção que o homem cria, desde as mais antigas épocas, suas mais fantásticas histórias. A única diferença é que na ficção os acontecimentos são criados. Tudo, na verdade, é criado: as tramas são criadas, os enredos, as personagens e os lugares. Mesmo uma história ficcional se passando em um local que exista, o autor possui a liberdade para fazer desse espaço um lugar único em seu texto, como descrever uma cidade de maneira mais sombria do que a verdadeira, por exemplo; ou mesmo recriá-la em um futuro distante. As possibilidades dentro da ficção são infinitas. Segundo Ulisses Infante (114-115), é comum que um texto narrativo apresente a seguinte estrutura: 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 5/12 É jogando de maneira criativa com essas quatro instâncias que o autor torna seu texto interessante. Escrever uma boa história não implica simplesmente contar algo, mas fazer isso de forma que a narrativa se torne instigante e curiosa. Por isso, não basta uma boa ideia se não temos prática na hora de elaborarmos o enredo, se não temos habilidade, o que ganhamos apenas através da leitura e do exercício da própria escrita. Vamos a um exemplo? Voltando ao assunto de que tratávamos, sobre a organização do enredo, podemos ver, através da narrativa de Scliar, como o autor joga de forma inteligente com a curiosidade do leitor. O conto, em primeiro 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 6/12 plano, narra a história de um casal sem identificá-lo precisamente. No entanto, para o final, o autor guarda um elemento surpresa, revelando- nos, através de três indicações, “Reis Magos”, “Belém” e “Nazaré”, que se tratava do casal José e Maria, dois dos mais importantes personagens bíblicos: José e Maria. Nada diferente do que disse o filósofo grego Aristóteles ao discutir a criação literária em seus escritos sobre poética, afirmando que a arte não tem o compromisso de ser verdade, como tem a História, mas apenas de parecer verdade, ou melhor: file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte4_Rec2.mp4 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 7/12 É possível também encontrarmos essa prática de maneira muito interessante nos romances históricos, em que os autores fazem uso de acontecimentos marcantes de nossa história (como as grandes revoluções, os grandes momentos políticos) como pano de fundo de suas narrativas, até mesmo para discutir ou rediscutir tais fatos, como já foi feito inúmeras vezes, com questões ligadas à Ditadura Militar em nosso país. O Texto Narrativo e o seu Narrador Depois de refletirmos um pouco sobre enredo, não podemos deixar de nos lembrarmos de outro elemento fundamental do texto narrativo: seu narrador, que nada mais é do que a voz que nos conta a história. A escolha do foco narrativo é extremamente importante para o efeito que o autor deseja causar com seu texto. Muitos, por exemplo, são escritos na primeira pessoa (usando o “eu”), o que dá à narrativa um caráter mais intimista, aproximando o leitor daquele que está contando a história, quase como uma confissão (lembrando que, mesmo sendo em file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte6_Rec3.mp4 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 8/12 primeira pessoa, o narrador nunca pode ser confundido com o autor do texto). Outros textos são escritos na terceira pessoa (usando o “ele”), em que o narrador não é mais uma das personagens da história. E são esses (o narrador em 1ª pessoa e o narrador em 3ª pessoa) os dois principais focos que podemos dar à voz do narrador dentro de umanarrativa, que pode escolher narrar no presente ou no passado. A Personagem de Ficção A personagem, assim como narrador, é também um dos elementos essenciais de uma narrativa, se não o mais importante de todos. Ela pode ser classificada, primeiramente, como principal ou secundária, conforme o papel que desempenha no enredo, e pode ser apresentada de maneira direta ou indireta. file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte8_Rec4.mp4 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 9/12 A apresentação direta de uma personagem ocorre quando ela aparece de forma clara no texto, tendo suas características físicas e/ou psicológicas descritas pelo narrador. Já a apresentação indireta se dá quando ela aparece aos poucos e o leitor vai construindo a sua imagem com o desenrolar dos fatos, a partir de suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai agindo. Podemos dizer, também, que, sendo o personagem principal o protagonista da história, é possível encontrarmos em várias narrativas um antagonista (uma personagem que atua contra o protagonista, impedindo-o de alcançar seus objetivos). Há, da mesma forma, as personagens adjuvantes e coadjuvantes, essas são personagens secundárias, mas que,muitas vezes, exercem papéis fundamentais na história. O Discurso das Personagens file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte12_Rec6.mp4 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 10/12 Sendo as personagens, como apontamos, essenciais ao texto narrativo, pois provêm delas as ações que movimentam as histórias. Representar suas falas (seus diálogos) também se torna um recurso, muitas vezes, indispensável para o sucesso de uma narrativa. É através dessa representação que “ouvimos” a voz das personagens, que podem ser classificadas, discursivamente, como: Fechamento: Curiosidades Sobre o Ato de Narrar Por fim, para fecharmos este nosso capítulo sobre o texto narrativo, vale lembrar algumas curiosidades. A primeira diz respeito à questão da forma como uma narrativa é escrita. Geralmente, pensamos que uma narrativa deve ser redigida, necessariamente, em prosa. Isso não é verdade. Podemos ter um texto narrativo elaborado em verso, basta que nos lembremos de muitas músicas que já ouvimos e que, apesar de serem escritas de maneira versificada, nos contam uma história, como, por exemplo, a famosa canção Eduardo e Mônica, do Legião Urbana, onde podemos inclusive encontrar, entre aspas, discurso direto das personagens: file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte12_Rec6_1.mp4 file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte14_Rec7.mp4 file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/resources/Mat_Empresarial_Aula7_Parte16_Rec8.mp4 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 11/12 [...] Eduardo abriu os olhos, mas não quis se levantar Ficou deitado e viu que horas eram Enquanto Mônica tomava um conhaque No outro canto da cidade, como eles disseram Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer Um carinha do cursinho do Eduardo que disse "Tem uma festa legal, e a gente quer se divertir“ Festa estranha, com gente esquisita "Eu não tô legal, não aguento mais birita" E a Mônica riu, e quis saber um pouco mais Sobre o boyzinho que tentava impressionar E o Eduardo, meio tonto, só pensava em ir pra casa "É quase duas, eu vou me ferrar" [...] A segunda curiosidade diz respeito ao tamanho de uma narrativa. Muitos acreditam que uma narrativa precisa ter a estrutura de um texto com relativa extensão, mas isso pode ser um equívoco também. Não há limites nem para o máximo nem para o mínimo de um texto narrativo. Basta conhecer os atuais minicontos, que, muitas vezes, são escritos com apenas uma ou duas frases, para entendermos que essa ideia é completamente abandonada. Assim, por exemplo, é a minúscula narrativa de Cíntia Moscovich, publicada no livro Os cem menores contos do século, organizado pelo escritor Marcelino Freire e que nos conta apenas o seguinte história: Uma vida inteira pela frente. O tiro veio por trás. Referências Bibliográficas ARISTÓTELES. Poética. São Paulo: Nova Cultural, 2004. 30/03/2019 7. A Estrutura do Texto Narrativo file:///C:/Users/Lizete/AppData/Local/Temp/Rar$EX22.786/PRODUCAO_TEXTUAL_104509/aula_7.html 12/12 INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto: curso prático de leitura e redação. São Paulo: Scipione, 2000. GIARDINELLI, Mempo. Assim se escreve um conto. Tradução de Charles Kiefer. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994. MESQUITA, SamiraNahid de. O enredo.São Paulo: Ática, 1997.
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