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- -1 MOTRICIDADE HUMANA: CONTROLE, APRENDIZADO E DESENVOLVIMENTO UNIDADE 1 - CONCEITOS E ELEMENTOS BÁSICOS DA MOTRICIDADE HUMANA Ana Carolina Passos de Oliveira - -2 Introdução Para o desenvolvimento de todas as tarefas humanas, sejam elas atividades de trabalho, lazer ou atividades do dia a dia, o movimento é algo primordial para sua efetiva realização. Cada movimento realizado é composto pela interação entre o meio ambiente no qual o indivíduo está inserido, ou seja, as demandas internas, e as demandas internas que são esperadas para execução dos movimentos. Você já parou para analisar quantos movimentos estão envolvidos em uma tarefa simples do dia a dia, como por exemplo, escovar os dentes? Ou ainda, em uma atividade mais complexa, como jogar uma partida de futebol? Para o desempenho final destas atividades, é preciso uma sequenciação de diversos pequenos movimentos para obtenção do resultado esperado. A sequenciação das ações a serem realizadas é bem estruturada em um esquema mental, quando uma atividade já é conhecida, assim, muitas vezes os movimentos realizados são automatizados. Entretanto, mesmo em atividades que estejam em um estágio automatizado, para que haja o desenvolvimento de cada pequeno movimento, alguns fatores são necessários para estruturação da ação, dentre estes fatores, podemos citar: equilíbrio, tônus musculares, consciência temporal, coordenação motora, entre outros. Pensando em uma situação prática, é comum observarmos que algumas crianças com faixas etárias mais avançadas parecem ter maior habilidade para o desenvolvimento de uma atividade esportiva, se comparadas às crianças de faixas etárias menores. Mas, a que poderíamos atribuir essas diferenças? Essas diferenças podem ser atribuídas principalmente ao fato de que o processo maturacional, ou seja, o desenvolvimento de crianças mais velhas está mais avançado se comparado às crianças mais novas. A resposta pode parecer simples, porém, para que este desenvolvimento ocorra é preciso compreender como cada um dos fatores, citados anteriormente, que influenciam no desenvolvimento, são capazes de interferir na prática de diversas atividades. Nesta Unidade, serão apresentados os principais fatores psicomotores necessários para realização de uma ampla gama de atividades. Os fatores psicomotores estarão relacionados com as habilidades motoras, psicológicas e cognitivas. A conceituação desses fatores é importante para compreensão do processo de desenvolvimento da motricidade humana. A partir de agora, você aprenderá mais sobre este importante tema. Boa leitura! 1.1 Fatores psicomotores O desenvolvimento humano inicia-se desde o momento da fecundação e prolonga-se por toda a vida, até a velhice. Neste processo, constantemente ocorrem modificações nos padrões motores. Durante a fecundação, as atividades motoras ocorrem de maneira reflexa quando o feto realiza pequenos movimentos. Após o nascimento, as habilidades motoras começam a ser aprimoradas, assim, a criança atinge a capacidade de desenvolver atividades motoras complexas. Contudo, com o processo de envelhecimento, também são observadas algumas modificações no desempenho de atividades motoras. Em geral, observa-se o declínio dos fatores psicomotores envolvidos na realização de atividades. - -3 O movimento humano nasce da interação de três fatores: o indivíduo, a tarefa e o meio ambiente. O indivíduo será responsável pela criação do movimento, respeitando as limitações e especificidades relacionadas à tarefa e ao meio ambiente. Desta forma, é possível afirmar que o movimento é comandado por mais de um elemento, podendo ser restringido ou favorecido por estes. Assim, a capacidade de um indivíduo de realizar uma tarefa, considerando os aspectos citados, determina sua capacidade funcional (COOK-SHUMWAY; WOOLLACOTT, 2010). VOCÊ QUER VER? Sabendo que os fatores psicomotores são influenciados principalmente pelo estágio maturacional, o filme com produção de Kennedy e Frank O curioso caso de Benjamin Button, Marshall e direção de David Fincher, apresenta de forma fictícia, uma criança que nasce com aspecto e características de um idoso, porém, com o passar do tempo, adquire características cada vez mais joviais. No filme, é possível observar as modificações nas fases ao longo do período mostrado. Fica evidente as diferenças apresentadas entre todas as fases da vida, no que diz respeito a experimentação em cada fase. Você pode curtir o filme no link < >.https://www.youtube.com/watch?v=GpRK8MKMdO8 https://www.youtube.com/watch?v=GpRK8MKMdO8 - -4 Figura 1 - Fluxograma de relação dos fatores que determinam a capacidade funcional do indivíduo. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. Os fatores do indivíduo são influenciados principalmente por características genéticas e são responsáveis pela formação de um padrão previsível de desenvolvimento, o qual é atingido por uma série de fatores biológicos. Alguns destes fatores, descritos por Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), são listados a seguir. Clique nas abas. • Direção do desenvolvimento Por direção do desenvolvimento, compreende-se que o mesmo ocorre de forma cumulativa e direcional, em função do processo de maturação do sistema nervoso. • Taxa de crescimento É observada em todos os indivíduos de maneira padrão, não sendo influenciada por modificações do meio externo. Algumas condições patológicas são capazes de afetar a taxa de crescimento, entretanto, após a resolução da condição patológica, a flutuação autor-reguladora permite que a criança atinja os mesmos níveis de desenvolvimento da faixa etária. • Entrelaçamento recíproco Ocorre a partir de dois processos diferentes: a diferenciação e a integração. Na diferenciação, ocorre a • • • - -5 Ocorre a partir de dois processos diferentes: a diferenciação e a integração. Na diferenciação, ocorre a progressão gradual do movimento a partir de padrões globais até a obtenção de padrões específicos. Deste modo, compreende-se que a prática de determinada função pode ser aprimorada com o desenvolvimento dos fatores relacionados a ela. No processo de integração, ocorre a coordenação dos músculos responsáveis pela integração dos movimentos. Os fatores ambientais são de extrema importância para o desenvolvimento humano. Quando se trata de um bebê, é através da estimulação proporcionada pelos pais, na infância, que a criança criará seu repertório motor. Alguns fatores ambientais que proporcionam o desenvolvimento da criança são os que apresentamos a seguir (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Clique nos itens. Laços A relação entre pais e bebê determina as ações de imitação da criança. A criança não vai, de fato, copiar as ações dos pais, mas se basear nelas para o desenvolvimento de suas ações globais. Estimulação e privação A influência da estimulação e privação é um tema que divide opiniões entre os pesquisadores, alguns consideram que é questionável a influência causada por estes aspectos no desenvolvimento humano. Contudo, é preciso considerar que tanto a maturação quanto a estimulação, são importantes para o desenvolvimento de habilidades motoras. A criança necessita de prática de algumas habilidades motoras para que as mesmas sejam aprimoradas e assim, o movimento seja desenvolvido com maior precisão e menor gasto energético. Os aspectos psicomotores relacionam as capacidades psicológicas, cognitivas e motoras para realização de diversas funções e/ou atividades. Mas, como estes aspectos podem se relacionar? Os aspectos psicológicos estão conectados ao desenvolvimento relacional da criança com o meio ao qual está inserida. Através do movimento, ela poderá se expressar e gerar diferentes vivências que influenciaram os demais aspectos (cognitivo e motor). Os aspectos cognitivos e motores estão relacionados diretamente ao desenvolvimento maturacional da criança. A interação entre os aspectos psicomotores garante a evolução motora do indivíduo. Você sabe quais seriam os fatores que são capazes de influenciar diretamente esse processo de evolução? Onde podemoslocalizar de maneira prática cada um desses fatores, considerando o desenvolvimento? Ao estudar os conteúdos a seguir, a partir das definições apresentadas, você poderá compreender conceitualmente como cada um dos fatores, considerados básicos, podem influenciar no processo de desenvolvimento da motricidade humana. Continue lendo! VOCÊ O CONHECE? Henri Paul Hyacinthe Wallon, médico, psicólogo e filósofo francês, é um dos mais importantes pensadores a relacionar a motricidade humana ao ambiente social. No campo da psicomotricidade, Wallon entende que a pessoa deve ser compreendida nos aspectos da afetividade, motor e cognitivo. Para o autor, a motricidade humana é um elemento que não deve expressar apenas o deslocamento espacial ou a movimentação rítmica e sequencial dos músculos, mas sim, um meio de comunicação com o outro e com a vida. Assim, através deste, é possível que a expressão seja realizada (CARVALHO, 2003). - -6 1.1.1 Tonicidade muscular O corpo humano é formado, em maior parte, pela musculatura estriada esquelética, formada por um conjunto de fibras agrupadas que tem propriedades contráteis que produzem determinado grau de tensão sobre estas, configurando o tônus muscular. O tônus muscular está relacionado à capacidade de tensão do músculo em estado de repouso, esta capacidade possibilita a contração rápida dos músculos quando requerida por estímulos nervosos (SILVA; OLIVEIRA, 2017). Para garantia da estabilidade postural, a atividade tônica deve variar permanentemente, garantindo a manutenção da postura tanto em momentos de mobilidade quanto de imobilidade. Durante a imobilidade, pode-se achar que as fibras musculares não apresentam atividade, porém, principalmente na imobilidade, as fibras precisam manter-se de forma ativa para garantir a estabilidade postural. Deste modo, a tonicidade muscular é o fator primordial para o desenvolvimento motor, pois, garante a preparação e a manutenção da postura para realização de diversas atividades, estando assim, diretamente relacionada com todas as ações da motricidade humana. A capacidade de gerar tensão no músculo está ligada à forma clônica e tônica. As características clônicas estão relacionadas à capacidade de geração de movimento, que ocorre a partir do ciclo de encurtamento e alongamento das fibras musculares (miofibrilas), já as características tônicas estão relacionadas à capacidade de suporte (FONSECA, 2012). Ainda, a tonicidade pode ser compreendida a partir da forma de repouso e de atividade, que guardam entre si uma relação. A característica de repouso relaciona-se à manutenção, enquanto a de atividade está ligada à atitude, organizando as formas de atividade postural e prática. Assim, é observado um estado de ativação permanente. Existem diferentes estados da tonicidade muscular, que representam condições patológicas, que podem ser classificados de acordo com Gagliardi e Takayanagui (2019). Clique nas abas. • Hipotonia É caracterizada pela diminuição do tônus muscular. É causada principalmente pela inibição do arco reflexo (processo de condução do estímulo nervoso a partir de um neurônio), podendo ser apresentada em um ou mais grupos musculares. Baixa resistência à movimentação passiva, aumento da amplitude das articulações, podendo haver frouxidão ligamentar e flacidez muscular perceptível pela palpação, são algumas das consequências da hipotonia. • Hipertonia O tônus muscular aumentado é responsável pela hipertonia. Neste contexto, ocorre a ausência do controle sobre as vias da medula espinhal (corpo dos neurônios motores), gerando alteração nas fibras motoras. A hipertonia pode ser expressa pelo tônus elástico. Neste, o movimento ativo ocorre de forma VOCÊ SABIA? O corpo humano é composto por 212 músculos! Alguns destes músculos conectam-se, formando relação agonista/antagonista, podendo realizar três tipos de contração: • contração concêntrica: ocorre o encurtamento das fibras musculares; • contração excêntrica: ocorre o alongamento do músculo durante a contração; • contração isométrica: o músculo é tensionado em um estado estático de movimento. • • • • • - -7 motoras. A hipertonia pode ser expressa pelo tônus elástico. Neste, o movimento ativo ocorre de forma exagerada e o repouso é leve, ou ainda, pode ser expressa pelo tônus rígido, onde os movimentos ativos são realizados com destreza, porém, a fase de repouso ocorre de forma exacerbada. • Catatonia Ocorrem períodos de alteração na consciência, combinados com imobilidade. O indivíduo fica geralmente em uma posição rígida e imóvel por um prolongado período de tempo. Sua ocorrência é, geralmente, associada a desordens de ordem psicológica, ainda que possa ser associada a causas neurológicas. • Paratonia Consiste na resistência a movimentos passivos, sendo o grau de resistência variado e dependente da velocidade do movimento, assim, quanto mais rápida for a velocidade do movimento, maior será a resistência exercida sobre o membro. Geralmente, é um distúrbio tônico relacionado a quadros de demência. • Sincinesia Contrações involuntárias que ocorrem em consequência à realização de algum movimento voluntário de grupo muscular diferente. A sincinesia ocorre principalmente nos músculos da face. Além do papel estrutural que a tonicidade muscular representa, a tonicidade está também relacionada à emoção. Essa relação é explicada pelo diferente potencial de ação, que gera níveis de tonicidade muscular variados, que é enviado ao músculo quando distintas áreas do cérebro são estimuladas. Se diz que o tônus plástico é responsável pelas expressões corporais, isso se dá em função do fato de que foi observado um baixo tônus quando eram estimuladas as áreas subcorticais. Desta forma, deve-se compreender a tonicidade como elemento básico para a motricidade em todas as faixas etárias, sendo esta que dará suporte ao equilíbrio humano. A seguir, você vai saber mais sobre outro elemento básico, o equilíbrio. 1.1.2 Equilíbrio Assim como a tonicidade muscular, o equilíbrio também é um fator primordial para a motricidade humana. Em caso de prejuízos ao equilíbrio, pode limitar a realização de atividades. Inclusive, o equilíbrio é responsável pela manutenção da postura bípede. O equilíbrio depende, além da capacidade de manutenção, da tonicidade, da percepção cinestésica, proprioceptiva e do sistema sensorial. Deste modo, o equilíbrio pode ser estático ou dinâmico. • • • - -8 No equilíbrio estático, o indivíduo necessita manter a posição imóvel sobre uma base de suporte, assim, o centro de gravidade realiza pequenos movimentos oscilatórios (que você viu na figura 1) porém, é mantido dentro da base de suporte. Por outro lado, no equilíbrio dinâmico, ocorrem alterações na base de sustentação e no centro de gravidade. O corpo está em movimento. Figura 2 - Manutenção do centro de gravidade nos limites da base de suporte durante equilíbrio estático. Fonte: Elaborada pela autora, 2019. A orientação necessária para realização de diversas atividades está ligada a capacidade de equilíbrio, à medida que o indivíduo com bom equilíbrio pode realizar as atividades com menor dispêndio energético, tendo em vista que consegue realizar movimentos com maior nível de coordenação. Ainda, o processo de equilibração passa a ser automatizado a partir da consciência da utilização bimanual e bipedal. A aquisição do equilíbrio está diretamente relacionada ao desenvolvimento do indivíduo. É comum que nos estágios iniciais, a criança tenha dificuldade, principalmente para manutenção da postura bípede e para atividade de caminhar. Entretanto, com o processo de envelhecimento, ocorre a redução da capacidade de equilíbrio devido às perdas sensoriais. Pense em uma criança que recentemente aprendeu a andar, perceba que a mesma provavelmente desenvolverá VOCÊ SABIA? Para que o equilíbrio seja mantido, é necessária a integração do sistema proprioceptivo, visual e vestibular. No entanto, quem desempenha o papel principal para manutenção do equilíbrio geral é o sistema vestibular. O sistemavestibular é composto por um sistema de tubos ósseos localizados no osso temporal, que formam o labirinto. A labirintite, uma inflamação que ocorre no labirinto, quando acontece esta infecção, são causadas sensações de tontura, afetando diretamente a capacidade de manter o equilíbrio, principalmente na posição bípede. - -9 Pense em uma criança que recentemente aprendeu a andar, perceba que a mesma provavelmente desenvolverá um padrão de caminhada muito diferente do habitual que um indivíduo adulto realiza. Para a realização da atividade, a criança provavelmente terá uma base aumentada (isto é, pés bem afastados) e os braços ficam afastados do corpo. Essas adaptações ocorrem a fim de promover uma maior sensação de equilíbrio e segurança durante a atividade. Agora, vamos pensar em indivíduo idoso, muito provavelmente você já deve ter percebido que idosos tendem a ter uma velocidade de caminhada mais lenta, se comparado aos jovens. Além da velocidade de caminhada, alguns outros fatores como redução do comprimento do passo e redução da fase de duplo apoio da marcha, marcam as modificações no padrão de marcha desta população. Assim como nos bebês, essas modificações são ocasionadas a fim de promover maior equilíbrio e sensação de segurança. Em resumo, o equilíbrio é responsável principalmente pela manutenção da postura bípede e da atividade de caminhada. Sua efetividade está relacionada à integração de diversos fatores que são influenciados tanto pelas fases iniciais quanto pelo processo de envelhecimento. No próximo tópico, é a vez de você aprender mais sobre consciência direcional e o conceito de lateralidade. Fique atento! 1.1.3 Consciência direcional A consciência direcional está diretamente relacionada ao processo de maturação e experiência. Apesar de aparentemente o corpo humano ser simétrico entre os hemicorpos direito e esquerdo, durante a realização de atividades motoras, muitas vezes, o recrutamento ocorre de maneira assimétrica, surgindo assim o conceito de lateralidade. A lateralidade é um fator primordial para que seja desenvolvida a consciência direcional para sua utilização funcional. A lateralidade está relacionada à percepção das dimensões do corpo em relação à sua localização e direção, estando ligada às manifestações sensoriais. Assim, os padrões de movimentação estão ligados diretamente à informação espacial recebida através dos sensoriais.feedbacks Os fatores relacionados à motricidade humana, em geral, são desenvolvidos ao longo do processo de maturação. Entre os cinco e 11 anos, ocorre a maturação da dominância de um dos membros, estando relacionada à maturação da lateralidade cerebral ou ainda, relacionada à preferência do indivíduo por um dos membros, deste modo, considera-se uma predisposição inata da lateralidade, estas são reforçadas a partir da experimentação do meio. Este processo ocorre também na consciência direcional. Por exemplo, aos seis anos de idade, a lateralidade está bem desenvolvida, assim a criança passa a ter maior consciência entre os lados esquerdo e direito do corpo. O não desenvolvimento desta capacidade pode acarretar problemas de orientação espacial, assim como problemas em habilidades como a escrita (COOK-SHUMWAY; WOOLLACOTT, 2010). A realização da motricidade dependerá necessariamente do espaço em que esta realiza-se, para tanto, a consciência direcional é de fundamental importância para localização e utilização do corpo no espaço. VOCÊ QUER LER? Considerando o exposto sobre as modificações na marcha em indivíduos idosos, no estudo realizado por Lima e colaboradores (2018), foi verificada a relação entre o equilíbrio corporal e o risco de quedas em idosos, considerando características como gênero e faixa etária. Notou- se que a característica “faixa etária” apresentou relação entre o equilíbrio corporal e o risco de quedas. Para ler o estudo completo, é só você clicar em <https://dialnet.unirioja.es/servlet >./articulo?codigo=6852131 https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6852131 https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6852131 - -10 1.1.4 Consciência corporal A consciência corporal está relacionada à visualização do esquema corporal. Ou seja, o esquema corporal está ligado ao reconhecimento das partes do corpo e de seu potencial de realização de ações, movimentos independentes e interdependentes que ocorrem, entre outros fatores, pela capacidade de dominância lateral e pela percepção do mundo exterior o (ECKERT, 1993). A capacidade de compreender as partes do corpo ocorre em três áreas distintas: a capacidade de reconhecer as partes do próprio corpo e as partes do corpo no outro, partindo então para o reconhecimento da funcionalidade de cada uma de suas partes, reconhecendo sua especificidade e, por fim, o reconhecimento de como colocar em ação cada uma das partes. Assim, a partir do reconhecimento destas habilidades, é possível o planejamento do ato motor. Durante o processo de desenvolvimento da criança, a consciência corporal passa por algumas fases definidas por Le Boulch (1983). Clique nos itens a seguir para conhecê-las. C o r p o submisso São realizados movimentos automatizados, como automatismos para alimentação e reflexos de defesa. Corpo vivido Nesta fase, a criança consegue perceber a diferença entre seu corpo e os objetos. Aqui, ocorre o enriquecimento da bagagem motora da criança, que irá descobrir seu corpo internamente. C o r p o descoberto Nesta fase, a criança passa a ter uma percepção mais complexa do próprio corpo, conseguindo perceber as principais características do mesmo. C o r p o representado Nesta etapa, é produzida a primeira imagem corporal, formando a completa estrutura do esquema corporal. Os movimentos desnecessários durante a ação motora são restringidos, dando maior precisão aos movimentos. Acompanhe o estudo de caso a seguir. - -11 O esquema corporal está ainda relacionado à imagem, conceito e esquema corporal. A imagem corporal diz respeito às experiências vivenciadas pelo indivíduo, que formam o conceito subjetivo do próprio corpo. O conceito corporal, forma-se mais tardiamente que a imagem corporal e trata-se do conhecimento do corpo e o esquema corporal que é derivado das experiências sensoriais vivenciadas (ECKERT, 1993). Deste modo, o desenvolvimento da consciência corporal necessita de um desenvolvimento global sobre os aspectos corporais. O esquema corporal será responsável pela comunicação consigo mesmo sobre a posição e apresentação do corpo para si e para o meio externo. CASO Em uma turma de escolares com idades entre quatro e cinco anos, a estruturação do esquema corporal ainda não está completamente desenvolvida. Nas fases iniciais, a criança precisa ser estimulada, para favorecer a compreensão de cada uma das partes de seu corpo, podendo inclusive, diferenciá-las. Neste caso, considerando que a turma não tenha ainda o pleno desenvolvimento do esquema corporal e que o desenvolvimento da consciência corporal é fundamental para o aprendizado de conceitos essenciais para alfabetização, como por exemplo, em cima, ao lado, em baixo, algumas atividades podem ser propostas para que as crianças sejam estimuladas a desenvolver, além das noções do esquema corporal, sua autoimagem, favorecendo o processo de alfabetização. Para tanto, atividades lúdicas são realizadas. As atividades podem ser baseadas em estratégias da psicomotricidade, como por exemplo: utilizar um espelho e colocar a criança à frente dele, utilizar músicas que remetam às partes do corpo, utilizar o corpo do colega como espelho, uma criança ficar de frente a outra e então uma realizar os movimentos e a outra deve segui-los, desenhar o contorno do corpo em papel e depois completar as partes. VOCÊ QUER VER? O filme , produção de Nancy Leopardi e direção de Tara Miele,Anorexia - A Ilusão da Beleza trata sobre distúrbios de imagem e transtornos alimentares. Assim como abordamos nesta Unidade, um dos fatores em que a consciência corporal está relacionada é como o indivíduo vê seu próprio corpo,o que seria o conceito de imagem corporal. No caso de transtornos de imagem, o indivíduo cria uma imagem distorcida do próprio corpo, enxergando-o, muitas vezes, de maneira distorcida, sendo necessário o trabalho através de terapias para o resgate da autoimagem. Para curtir o filme, você já sabe, é só clicar no link <https://www.youtube.com >./watch?v=LcK8qr_UD0Q https://www.youtube.com/watch?v=LcK8qr_UD0Q https://www.youtube.com/watch?v=LcK8qr_UD0Q - -12 1.1.5 Consciência espacial Para o desenvolvimento da consciência espacial, é necessário o desenvolvimento das demais capacidades citadas até o momento, principalmente da consciência direcional e corporal. Na consciência corporal, é importante que a criança reconheça as partes do corpo, entretanto, para um efetivo desenvolvimento da motricidade, é fundamental que a criança saiba controlar seu corpo nas diferentes situações e ambientes. Para tanto, também é necessário que a criança tenha desenvolvido o nível da consciência, onde haverá a capacidade de diferenciar as atribuições de cada parte do corpo e o nível da independência e onde a criança alcança a independência dos movimentos em relação ao seu próprio corpo e ao ambiente (COOK-SHUMWAY; WOOLLACOTT, 2010). A posição corporal é definida a partir da localização do corpo no espaço, a partir de um referencial. Fazendo uma relação prática, a capacidade de reconhecimento da posição corporal segue a lógica do reconhecimento do espaço das letras em uma frase: as letras são ordenadas sequencialmente, formando as palavras, que por consequência, também serão ordenadas, dando origem às frases. Assim, a consciência espacial pode ser dividida em relação à quantidade de espaço ocupada pelo corpo e à habilidade em projetar o corpo no ambiente em que está inserido. Alguns conceitos como acima, abaixo, ao lado e atrás, compõem a consciência espacial. Para que esses conceitos sejam plenamente compreendidos, é necessária a integração de diversos sistemas sensoriais. Ainda, além da percepção do ambiente, realizada pelo sistema sensório motor, é necessário que o indivíduo seja capaz de criar representações mentais acerca do espaço em que está inserido. Para exemplificar a situação, vamos imaginar dois homens que precisam carregar uma mesa de um cômodo a outro e para isso precisam passar por uma porta estreita. Para que a realização dessa tarefa seja possível, ambos os homens precisam, a partir da representação mental criada do espaço em que podem passar com a mesa, criar uma estratégia para realizar a tarefa. Uma saída para isso seria virar a mesa de lado, passando de forma inclinada os pés da mesa pela porta. A realização dessa tarefa por uma pessoa ou um grupo de pessoas que não possuísse uma boa consciência espacial seria muito mais difícil. O desenvolvimento parcial ou o não desenvolvimento da consciência espacial, podem levar à problemas de mobilidade e ainda, problemas de aprendizado. Adequar-se ao espaço está relacionado à capacidade de determinar se um corpo ou um determinado objeto é capaz de adaptar-se em um espaço proposto. Face à esta consideração, a localização do corpo no espaço estará intimamente ligada com o desenvolvimento da motricidade humana. A seguir, é hora de você ler sobre consciência temporal. Você aprenderá a respeito de tempo e ritmo. Vamos lá! 1.1.6 Consciência temporal (ritmo) Pensar nos aspectos temporais implica em compreender noções do tempo como hoje, ontem, manhã e noite. Além da localização, nestes aspectos a consciência temporal, por exemplo, está relacionada à velocidade de execução dos movimentos. A consciência temporal é composta por alguns aspectos: a sincronia dos movimentos, ritmo e velocidade de execução das ações e sequenciamento das ações. A dimensão temporal está intimamente relacionada à dimensão espacial, ou seja, existe uma relação de interdependência entre as dimensões. Caso uma não seja eficientemente desenvolvida, a outra não atingirá seu máximo potencial. Contudo, existindo esta relação bem desenvolvida, diz que há um padrão bem coordenado dos movimentos. Um exemplo disso é a coordenação entre olho e pé ou ainda, a coordenação óculo manual. - -13 Figura 3 - Imagem ilustrativa em relação à consciência temporal. Fonte: Lightspring, Shutterstock, 2019. O ritmo é o fator de maior importância quando se trata do desenvolvimento da consciência temporal e deve ser visto como um fenômeno do movimento, sendo descrito como: a recorrência sincrônica de eventos relacionados, de modo que permita a formação de padrões identificáveis. (GALLAHUE, OZMUN; GOODWAY, 2013). Assim, o ritmo pode ser compreendido como fator principal para performance de diversas atividades, sejam elas cotidianas ou esportivas. Para desenvolvimento de uma atividade ritmada, é preciso que seja realizado o sincronismo dos eventos/tarefas em um determinado tempo. Uma atividade motora comum, que necessita de ritmicidade para seu desenvolvimento, é a atividade de galopear. A aquisição da consciência temporal na criança é apoiada na motricidade. A criança precisa localizar-se no tempo e espaço para dar função às suas ações motoras cotidianas. Na relação entre motricidade e tempo, são observados três estágios. Clique nos itens e conheça-os. Aquisição e movimentos de base. Consciência das relações no tempo. Transposição em nível simbólico. O desenvolvimento da coordenação temporal pode ser realizado através de atividades que envolvam características rítmicas e jogos sensório-motores. As crianças já nascem com a noção de ritmo, porém, não tem a capacidade de organização dos movimentos no ritmo. Para isso, além do processo de maturação onde ocorre o desenvolvimento da percepção temporal, a criança deve ser estimulada para reconhecer os ritmos de seu próprio corpo e os ritmos que a cercam, o que facilitará a sincronização das ações. 1.1.7 Coordenação motora A coordenação motora é de fundamental importância para o desenvolvimento de atividades, tanto do dia a dia quanto para atividades esportivas. A coordenação motora é expressada quando ocorre a ativação de diversas partes do corpo para execução de movimentos que guardam relação e ordem. Ainda, a organização espaço- temporal possibilita um padrão ótimo de desenvolvimento de atividades. Os movimentos coordenativos podem ser amplos (coordenação motora global) ou precisos (coordenação motora fina), sendo que a complexidade do movimento está relacionada ao número de elementos que precisam ser coordenados. Em condições patológicas, - -14 movimento está relacionada ao número de elementos que precisam ser coordenados. Em condições patológicas, a capacidade de coordenação motora pode ser afetada. Uma condição patológica ligada à perda de coordenação é ataxia, esta é uma condição neurológica ocasionada por lesão no cerebelo que leva à perda de equilíbrio e coordenação motora (GAGLIARDI; TAKAYANAGUI, 2019). 1.1.7.1 Coordenação motora global A coordenação motora global ou grossa ocorre quando há a ativação dos grandes músculos e está condicionada à maturação (FAIRBROTHER, 2012). Assim como as experiências e interação com o ambiente em que está inserido, neste sentido, é comum que o indivíduo, no início do processo de desenvolvimento, a criança acabe realizando tentativas erradas ou tenha um maior dispêndio de força para realização de algumas tarefas. Deste modo, é de fundamental importância que a coordenação motora global seja desenvolvida desde os primeiros anos de vida. Figura 4 - Realização de uma atividade (correr) que envolve coordenação motora global. Fonte: Shutterstock, 2019. Como exemplo de movimentos que envolvem a utilização da coordenação motora global, pode-se destacar as habilidades de saltar, correr, pular, chutar, dentre outras. Pensando em uma criança, durante a atividade de pular corda, é recrutado a realização de movimentos rítmicos, específicos e precisos. Assim, além da capacidade de saltar (elemento da coordenação motora global), são ainda integrados outros fatores psicomotores, como consciência temporal e consciência corporal.Então, compreendemos a coordenação global, como grandes movimentos que necessitam de um maior espaço físico e do recrutamento de um maior número de unidades motoras para sua realização. Compreende-se também que no processo de desenvolvimento da criança, a coordenação motora global é adquirida primariamente, para que posteriormente sejam desenvolvidos movimentos finos, que compõe a coordenação motora fina. 1.1.7.2 Coordenação motora fina Em oposição à coordenação motora global, a coordenação motora fina utiliza pequenos músculos, em geral, responsáveis pela destreza manual. Deste modo, a motricidade fina constitui o movimento ou controle de segmentos corporais para atingir uma resposta específica em uma tarefa, exigindo um menor nível de ativação (FAIRBROTHER, 2012). - -15 Figura 5 - Realização de uma atividade (escrita) que requer a utilização da coordenação motora fina. Fonte: Pressmaster, Shutterstock, 2019. As atividades que envolvem a coordenação motora fina são, em geral, atividades que requerem pouco uso de força, porém, necessitam de muita precisão e, em alguns casos, de velocidade. A motricidade fina começa seu refinamento a partir dos seis ou sete anos de idade, sendo essencial para o desempenho escolar, haja vista que a partir da coordenação motora fina são desenvolvidas atividades como a escrita (COOK-SHUMWAY; WOOLLACOTT, 2010). São exemplos de movimentos que envolvem a coordenação motora fina: as atividades de escrever, utilizar objetos pequenos etc. A aquisição da coordenação motora fina se dá mais tardiamente, principalmente pela necessidade de precisão das tarefas a serem realizadas. Assim, para realização de tais atividades, serão recrutados pequenos músculos, em geral, das mãos ou dos pés. A coordenação motora fina é essencial para o desenvolvimento de atividades escolares, do mesmo modo que a escrita e sequenciamento de letras e reconhecimento de letras com grafia parecida, como por exemplo: p, q ou m, n. VOCÊ QUER LER? No estudo de Paola Matiko Martins Okuda e colaboradores (2011), foi analisada a coordenação motora fina de crianças em idade escolar com dislexia e transtorno de atenção e hiperatividade. Neste estudo, observou-se que em ambos os casos, as crianças apresentaram dificuldades para a realização de atividades que exigissem movimentos coordenativos finos. Vale a pena ler, é só clicar no link < >.http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v13n5/72-10.pdf http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v13n5/72-10.pdf - -16 Síntese Concluímos a Unidade sobre os elementos básicos da motricidade humana. Agora, você já conhece conceitualmente os fatores psicomotores que influenciam a motricidade humana e sabe que esses fatores se relacionam entre si, para o desenvolvimento global da criança. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • conhecer os principais fatores psicomotores que estão integrados com o desenvolvimento da motricidade humana; • compreender sobre as características de tonicidade muscular e equilíbrio; • aprender sobre os diferentes modos de consciência, que em conjunto integram a realização de movimentos amplos e finos; • compreender que o ambiente externo influencia diretamente sobre a capacidade de organização e realização da motricidade humana; • aprender sobre as características de coordenação motora global e fina no processo de desenvolvimento maturacional. Bibliografia ANOREXIA - A ILUSÃO DA BELEZA. PRODUÇÃO: Nancy Leopardi. Direção: Tara Miele. 1:11min. Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=LcK8qr_UD0Q>. Acesso em: 31/07/2019. CARVALHO, E. M. R. . Psicologia ciência eTendências da educação psicomotora sob o enfoque walloniano profissão. v. 23. n. 3. 2003. p. 84-89. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n3/v23n3a12.pdf>. Acesso em: 30/07/2019. COOK-SHUMWAY, A; WOOLLACOTT, M. H. teoria e aplicações práticas. Trad. Martha CecilyControle Motor: Blauth Chaim. 3. ed. Barueri: Manole, 2010. ECKERT, H. M. . São Paulo: Manole, 1993.Desenvolvimento motor FAIRBBROTHER, J. T. . Barueri: Manole, 2012.Fundamentos do comportamento moto FONSECA, V. significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. 2. ed.Manual e observação psicomotora: Rio de Janeiro: Wak, 2012. GAGLIARDI, R. J; TAKAYANAGUI, O. M. . 2. ed.Tratado de neurologia da academia Brasileira de Neurologia Rio de Janeiro: Elsevier, 2019. LE BOULCH, J. . Trad. Neila S. de Faria e Neuza G. Travaglia. Uberlândia: MEC/SEED, 1983.Psicomotricidade O CURIOSO CASO DE BENJAMIN BUTTON. Produção: Kennedy e Frank Marshall. Direção: David Fincher. 2:42: 29min. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GpRK8MKMdO8>. Acesso em: 31/07/2019. OLIVEIRA, A. C; SILVA, K. C. . 1. ed. Curitiba: Intersaberes, 2017.Ludicidade e psicomotricidade OKUDA, P. M. M. et al. Coordenação motora fina de escolares com dislexia e transtorno do déficit de . Rev. CEFAC. vol. 13. n. 5. São Paulo, 2011. Disponível em: <atenção e hiperatividade http://www.scielo.br/pdf >. Acesso em:31/07/2019./rcefac/v13n5/72-10.pdf • • • • • https://www.youtube.com/watch?v=LcK8qr_UD0Q https://www.youtube.com/watch?v=LcK8qr_UD0Q http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n3/v23n3a12.pdf http://www.scielo.br/pdf/pcp/v23n3/v23n3a12.pdf https://www.youtube.com/watch?v=GpRK8MKMdO8 https://www.youtube.com/watch?v=GpRK8MKMdO8 http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v13n5/72-10.pdf http://www.scielo.br/pdf/rcefac/v13n5/72-10.pdf Introdução 1.1 Fatores psicomotores Direção do desenvolvimento Taxa de crescimento Entrelaçamento recíproco 1.1.1 Tonicidade muscular Hipotonia Hipertonia Catatonia Paratonia Sincinesia 1.1.2 Equilíbrio 1.1.3 Consciência direcional 1.1.4 Consciência corporal 1.1.5 Consciência espacial 1.1.6 Consciência temporal (ritmo) 1.1.7 Coordenação motora Síntese Bibliografia
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