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SUMÁRIO 1. Introdução e epidemiologia .................................... 3 2. Os malefícios do cigarro .......................................... 4 3. Rastreio do tabagista ............................................... 9 4. Estágios de motivação para cessação do tabagismo ..................................................................10 5. Grau de dependência .............................................13 6. Tratamento .................................................................16 7. Fármacos não nicotínicos .....................................20 Referências bibliográficas ........................................23 3TABAGISMO 1. INTRODUÇÃO E EPIDEMIOLOGIA O tabagismo é um dos mais impor- tantes problemas de saúde pública. Apesar dos 40 anos passados desde o primeiro documento governamental sobre os prejuízos do fumo à saúde, o mesmo persiste como uma das prin- cipais causas preveníveis de morte no mundo. SAIBA MAIS! O tabaco é uma erva que o ser humano tem utilizado por processo inalatório há mais de 300 anos. A planta ganhou o nome de Nicotiana após Jean Nicot, um embaixador francês em Por- tugal, que em 1560 exaltou em público a virtude do tabaco como agente curativo. A espécie Nicotiana tabacum é hoje a principal fonte do tabaco fumado e a única espécie cultivada no Estados Unidos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que o tabagismo deve ser considerado uma pandemia, já que, atualmente, morrem, no mundo, cin- co milhões de pessoas, por ano, em consequência das doenças provo- cadas pelo tabaco, o que correspon- de a aproximadamente seis mortes a cada segundo. Do total de mortes ocorridas, quatro milhões são no sexo masculino e um milhão no sexo femi- nino. No ano de 2025, ocorrerão 10 milhões de mortes decorrentes do uso do tabaco, se não houver mudança nas prevalências atuais de tabagismo. Nos últimos anos, o Brasil aprovou di- versas regulamentações que tratam desde consumo de tabaco em espa- ços públicos, formas de propaganda, aumentos de impostos e regulamen- tação do uso de aditivos, até políticas de substituição da agricultura do ta- baco por outros produtos agrícolas. Deve-se, em grande parte, a essas ações de impacto populacional a queda da prevalência do tabagis- mo na população brasileira obser- vada nas últimas décadas (31,7% da população adulta em 1989 para 14,7% em 2013). Segundo dados do Vigitel, esse número permanece em queda e, em 2018, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil foi de 9,3%, sendo 12,1 % en- tre homens e 6,9% entre mulheres. As pesquisas realizadas no Brasil por diferentes instituições de referência no assunto na última década indi- cam que o uso de tabaco ocupa o segundo lugar no ranking de dro- gas mais experimentadas no país. A idade média de experimentação de tabaco entre os jovens brasileiros é de 16 anos de idade, tanto para me- ninos quanto para meninas. Os estudos indicam que a experi- mentação de tabaco é maior entre 4TABAGISMO estudantes da rede pública de ensino e, geralmente, as frequências de uso de tabaco nos últimos 30 dias tam- bém são maiores em instituições de ensino públicas. Quando comparados às pesquisas anteriores, os resultados indicam melhora nos indicadores de experimentação, percentual de usu- ários de tabaco nos últimos 30 dias, incluindo aumento da idade média da experimentação. O tabagismo passivo é a exposição à fumaça exalada pelos fumantes e por produtos de tabaco durante a sua queima. A exposição à fumaça ambiental do tabaco está correlacio- nada ao desenvolvimento de doenças e agravos à saúde, mesmo de quem não fuma. Segundo a OMS, não há níveis seguros para essa exposição, incluindo a exposição às emissões advindas dos cigarros eletrônicos (dispositivos eletrônico conhecidos como e-cig, vaper). Apesar das diversas consequên- cias negativas à saúde trazidas pelo tabagismo, dados recentes mostram que dos tabagistas que tentam pa- rar de fumar, representando cerca de metade do total de tabagistas, ape- nas uma minoria recebe aconselha- mento de um profissional de saúde sobre como parar e uma parte menor ainda recebe um acompanhamento adequado para este fim. SE LIGA! A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 80% dos fu- mantes do mundo estão concentrados em países em desenvolvimento e, cerca de 50% destes morrerão precocemente devido a condições associadas ao taba- gismo, abreviando, em média, 15 anos de vida. Dentre estes usuários, observa- -se a alta prevalência de tabagistas en- tre os homens negros, de baixa renda e moradores da zona rural. 2. OS MALEFÍCIOS DO CIGARRO A folha do tabaco contém complexa mistura de componentes químicos, como pode ser visto a seguir: Componentes químicos Isopropenos Hidrocarbonetos Ésteres Minerais inorgânicos Ácidos graxos Fenóis FLUXOGRAMA – COMPOSIÇÃO DA FOLHA DO TABACO 5TABAGISMO A fumaça do cigarro é uma mistu- ra heterogênea de gases, vapores e partículas líquidas. Quando inalada, a fumaça é um aerossol concentra- do com milhões ou bilhões de partí- culas por centímetro cúbico. Para fins de estudos da composição química e propriedades biológicas, a fumaça é separada em fase particulada e fase gasosa. A fase gasosa é composta por mo- nóxido de carbono, nicotina, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído, acroleína, entre outras substâncias. Algumas produzem irritação nos olhos, nariz, garganta e levam à pa- ralisia dos movimentos dos cílios dos brônquios. A fase particulada contém nicotina e alcatrão, sendo este último composto de mais de 40 substâncias compro- vadamente cancerígenas, formado a partir da combustão dos derivados do tabaco. Entre essas substâncias estão o arsênio, níquel, benzopire- no, cádmio, resíduos de agrotóxicos, substâncias radioativas, como o Po- lônio 210, acetona, naftalina e até fósforo P4/P6, substâncias usadas em veneno para matar rato. De for- ma geral, o cigarro possui mais de 7.000 substâncias na sua compo- sição e mais de 72 componentes carcinogênicos. Dentre os vários componentes do ci- garro, encontramos a nicotina como o princípio ativo do tabaco e, apesar de não ser carcinogênica, ela é al- tamente viciante. Essa substância é psicoativa, isto é, produz a sensação de prazer, o que pode induzir ao abu- so e à dependência. A dependência à nicotina é incluída na Classificação Internacional de Doenças da Orga- nização Mundial de Saúde - (CID). Ao ser inalada, a nicotina produz al- terações no Sistema Nervoso Central devido à liberação de inúmeros me- diadores, cada um com uma atividade cerebral específica, como a dopamina, serotonina, betaendorfinas, acetilcoli- na, noradrenalina, vasopressina, glu- tamato e GABA, modificando assim o estado emocional e comportamen- tal dos indivíduos, da mesma forma como ocorre com a cocaína, heroína e álcool. Depois que a nicotina atinge o cére- bro, libera várias substâncias (neuro- transmissores) que são responsáveis por estimular a sensação de prazer explicando-se assim as boas sensa- ções que o fumante tem ao fumar. Com a inalação contínua da nicotina, o cérebro se adapta e passa a preci- sar de doses cada vez maiores para manter o mesmo nível de satisfação que tinha no início. Esse efeito é cha- mado de tolerância à droga. Com o passar do tempo, o fumante passa a ter necessidade de consumir cada vez mais cigarros. Como a maioria das drogas de po- der aditivo, a nicotina produz, de 6TABAGISMO modo significativo, também sensa- ções desagradáveis. Produz aversão, é um potente agente ansiogênico e ocasiona efeitos desagradáveis como náuseas, tosse e tontura quando em suas primeiras experiências. SAIBA MAIS! O cérebro dependente da nicotina: O cérebro dependente de nicotina tem sua neurobiologia modificada pelo uso contínuo da substância, funcionando de modo diferente de um cérebro não-dependente. Foi proposto, em 1987, que as drogas de dependência funcionariam aumentando a neuro- transmissão nas sinapses dopaminérgicasno sistema mesolímbico, especialmente no nu- cleus accumbens. Assim, a capacidade de determinar liberação de dopamina no nucleus accumbens conferiria às drogas de adição propriedades de recompensa, passo inicial do sur- gimento de adição. Mais recentemente, viu-se que os fenômenos envolvidos na adição são mais complexos e envolvem outros neurotransmissores. A nicotina exerce seus efeitos no cérebro através de receptores colinérgicos (amplamente distribuídos no sistema nervoso central), já que apresenta estrutura molecular semelhante à da acetilcolina. A administração continuada de nicotina altera a estrutura do SNC, aumentan- do a densidade de receptores nicotínicos entre 100 e 300%, modificando a fisiologia do SNC. Isso pode ser comprovado pela detecção de alterações no EEG, no metabolismo cerebral e pela mensuração de diferentes níveis séricos de neurormônios. Esses efeitos, diferentes em fumantes e não fumantes, também são verificados em fumantes antes e após o ato de fumar. A área ventral tegumentar (AVT) tem sido relacionada aos efeitos de recompensa de várias drogas de adição, como cocaína, álcool, opiáceos e nicotina, servindo de centro integrador dos efeitos psicoativos dessas substâncias. Dopamina Prazer, diminuição do apetite, adição NICOTINA Norepinefrina Acetilcolina Vasopressina Serotonina Betaendorfina Glutamato GABA Alerta, diminuição do apetite Alerta, melhora da cognição Melhora da memória Modula o humor, diminui o apetite, alívio da síndrome de abstinência Redução da ansiedade e tensão Melhora da memória Redução da ansiedade e tensão FLUXOGRAMA – NEUROTRANSMISSORES LIBERADOS NO SNC POR AÇÃO DA NICOTINA 7TABAGISMO Relação do tabagismo com as doenças não transmissíveis O tabagismo é o mais importante fa- tor de risco isolado para cerca de 50 doenças, muitas delas graves e fatais, como o câncer, doenças cardiovascula- res, enfisema e outras. O tabaco fuma- do em qualquer uma de suas formas causa até 90% de todos os cânceres de pulmão e é um fator de risco signi- ficativo para acidentes cerebrovascula- res e ataques cardíacos mortais. Os produtos de tabaco que não pro- duzem fumaça também causam de- pendência e são responsáveis pelo desenvolvimento de câncer de ca- beça e pescoço, esôfago e pâncreas, assim como muitas patologias buco- -dentais. Além destes, o tabagismo pode levar ao câncer de bexiga, fí- gado, colo de útero, laringe, cavidade bucal e estômago, além da leucemia mieloide aguda. SAIBA MAIS! As doenças cardiovasculares e o câncer, que têm o tabagismo como importante fator de risco, são atualmente a primeira e segunda causas de óbitos por doença no Brasil. O fumo acelera o processo de enve- lhecimento dos vasos arteriais, de- terminando o aparecimento da ate- rosclerose precoce. A fumaça dos produtos do tabaco tem alto conteú- do de monóxido de carbono e este, ao chegar aos alvéolos, desloca a reação natural do oxigênio com a hemoglo- bina, saturando esse pigmento com esse gás venenoso, que tem 210 ve- zes mais afinidade de ligação com a hemoglobina que o oxigênio. Esta li- gação resulta em prejuízo da hema- tose. O monóxido de carbono e sua ligação com a hemoglobina forma um composto altamente estável, a carbo- xiemoglobina, que pode ser medida no sangue de fumantes. Essa quan- tidade é dependente de quanto o indivíduo fuma. Fumantes de 15 cigarros por dia têm, em média, 9% da massa total da he- moglobina sob a forma de carboxie- moglobina, aumentando rapidamente para 20% caso o consumo seja de 25 cigarros ao dia, ou seja, o acréscimo é muito maior do que se esperaria numa relação diretamente proporcional. Os fumantes têm níveis de carboxie- moglobina duas a 15 vezes maiores que os não-fumantes, o que reduz a quantidade total de oxigênio que vai chegar à célula. Assim, onde não existe oxigênio suficiente para suprir o metabolismo aeróbico ocorre o me- tabolismo anaeróbio, com produção excessiva de oxidantes. O maior me- tabolismo anaeróbio dos indivíduos tabagistas leva progressivamente a 8TABAGISMO lesões difusas das paredes do vaso, tornando-as mais rígidas. Além desse mecanismo de hipóxia te- cidual que afeta todas as camadas dos vasos, a nicotina, potente vasocons- tritor, age diminuindo ainda mais o aporte de oxigênio para a periferia. Os fumantes acumulam, também, ra- dicais livres de oxigênio que são dele- térios para as paredes dos vasos. As reações inflamatórias liberam uma série de mediadores que interagem entre si, perpetuando o mecanismo formador das lesões. Nas diversas metanálises em que foram analisados os vários fatores de risco para a ocor- rência de lesões vasculares, o tabagis- mo foi o mais importante. Fumar pode aumentar agudamente a pressão arterial em aproximadamente 5 a 10mmHg acima do seu valor basal. A ação vasoconstritiva arteriolar da ni- cotina, quando absorvida em grandes quantidades, resulta em aumento da resistência vascular sistêmica e eleva a pressão arterial, podendo predis- por a acidentes vasculares cerebrais agudos, angina do peito, infarto do miocárdio e morte súbita. Figura 1. Efeitos da nicotina no corpo. Fonte: https://bit.ly/2Cly2eY 9TABAGISMO Além destas, a impotência sexual masculina e os distúrbios da repro- dução humana são grandes proble- mas relacionados ao tabagismo. A impotência sexual masculina pode ocorrer por diminuição da irrigação sanguínea, motivada pelos mesmos mecanismos vasculares operantes no tabagismo. Na mulher fumante o índice de ferti- lidade é significantemente inferior ao da que não fuma. Existem evi- dências de que a mulher fumante chega à menopausa alguns anos antes que as não-fumantes, prova- velmente, devido aos efeitos na des- regulação hormonal provocada pelos produtos do tabaco. SE LIGA! Comparados aos não fuman- tes, estima-se que o tabagismo aumen- ta o risco de: • Desenvolver doença coronariana em 2 a 4 vezes; • Desenvolver acidente vascular ence- fálico em 2 a 4 vezes; • Desenvolver câncer de pulmão em 23 vezes; • Morrer de doenças pulmonares obs- trutivas crônicas (como bronqui- te crônica e enfisema) em 12 a 13 vezes. 3. RASTREIO DO TABAGISTA O primeiro passo para a Avalia- ção da Pessoa Tabagista é o reco- nhecimento do tabagista e esse reconhecimento pode acontecer du- rante qualquer atendimento na Uni- dade Básica de Saúde. Para isso, é essencial que o profissional de saúde dialogue com o paciente acerca do tabagismo, iniciando com o questio- namento: “você fuma?”. Se o paciente informar para o profissional de saúde que é fumante, este deve interrogar ao paciente se há desejo de cessação do tabagismo: “você deseja parar de fumar?”. Para aqueles que não desejarem ces- sar o uso do tabaco, é essencial que o profissional de saúde oriente eles em relação aos malefícios do tabagis- mo, dos tipos de tratamento disponí- veis para a cessação do tabagismo e da disponibilidade de tratamento na Unidade Básica e dos fluxos que os usuários devem seguir para iniciá-lo. Uma abordagem com foco na redu- ção de danos pode ser utilizada, desde que encarada não como uma meta final, mas como uma possível estratégia para a cessação definitiva. Deve lembrar-se de que a redução de cigarros fumados não reduz o risco de doenças relacionadas ao tabaco. Estimular que o tabagista não faça uso do cigarro em ambientes fecha- dos, especialmente na presença de pessoas não fumantes, é uma boa forma de conscientizá-lo acerca dos riscos que o tabagismo representa para ele e para as demais pessoas. Além disso, faz-se necessário reali- zar um acompanhamento periódico 10TABAGISMO destes usuários, visando monitorar a questão do tabagismo, reavaliando o grau de motivação para cessação (que pode se alterar ao longo do tem- po) e sempre ofertando a possibilida- de de tratamento. Para os usuários que desejarem ces- sar o uso do tabaco, antes de se iniciar o tratamento, é essencial esclarecê- -los quanto aos tipos de tratamen- to que estão disponíveis, avaliando tambémsuas possibilidades singu- lares de participação nas atividades oferecidas pela equipe de saúde. Mesmo o usuário que deseja cessar o tabagismo pode ser necessário es- tratégias de motivação, sendo in- dispensável uma avaliação individual para se identificar o nível de depen- dência, o grau de motivação e a his- tória pregressa da pessoa, situando o tabagismo na integralidade do sujeito. O paciente que informar ser ex-fu- mante deve ser parabenizado e o trabalho de “Prevenção de Recaída” deve ser instalado para esse paciente. Ofereça tratamento adequado Parabenize e realize a “Prevenção de Recaída” Motive para a cessação Parabenize por nunca ter fumado VOCÊ FUMA? Deseja parar agora? Ex-fumante SIM Nunca fumei NÃO SIM NÃO FLUXOGRAMA – RASTREIO DO TABAGISTA 4. ESTÁGIOS DE MOTIVAÇÃO PARA CESSAÇÃO DO TABAGISMO A motivação do fumante é um fator essencial de se trabalhar no proces- so de cessação do uso do tabaco e, contraditoriamente, um dos principais obstáculos para a equipe de saúde. Devido a isso, foi desenvolvido um modelo de avaliação do grau de motivação para a mudança, descre- vendo etapas que podem ser identifi- cadas no discurso da pessoa quando indagada acerca de sua vontade de mudança de hábito e de seus planos para buscar tratamento. 11TABAGISMO A aplicação deste método no contex- to da cessação do tabagismo é sim- ples, baseando-se em informações que podem ser coletadas por qual- quer profissional da equipe de saúde no acolhimento ao usuário. Cabe ao profissional identificar quais os ele- mentos que mais surgem na fala da pessoa e aplicá-los a um dos seis es- tágios, descritas a seguir e esquema- tizadas na Roda de Prochaska. • Pré-contemplação – Não con- sidera a possibilidade de mudar, nem se preocupa com a questão. “Eu não quero parar de fumar”. Nesse estágio, o profissional de saúde deve aumentar a percepção do usuários sobre os riscos e pro- blemas do comportamento atual. • Contemplação – Admite o pro- blema, é ambivalente e considera adotar mudanças eventualmente. “Eu quero parar de fumar, mas não sei quando”. Aqui, o profissional deve evocar as razões para a mudança, os riscos de não mudar e fortalecer a autos- suficiência do usuário para a mu- dança do comportamento atual. • Preparação – Inicia algumas mu- danças, planeja, cria condições para mudar, revisa tentativas passadas. “Eu tenho tentado parar de fumar de um tempo para cá” ou “Eu tenho uma data e um esquema para co- meçar nos próximos 30 dias”. O papel do profissional nesse es- tágio é ajudar o usuário a deter- minar a melhor linha de ação a ser seguida na busca da mudança. • Ação – Implementa mudanças ambientais e comportamentais, investe tempo e energia na exe- cução da mudança. “Eu tenho feito uso descontínuo do cigarro de um mês para cá, ficando sem fumar pelo menos um dia inteiro durante este período”. O profissional começará então a traçar planos para ajudar o usuário a dar passos rumo à mudança. • Manutenção – Processo de conti- nuidade do trabalho iniciado com ação, para manter os ganhos e prevenir a recaída. “Eu parei de fumar”. Quando o usuário já se encontra nessa fase, o profissional deve aju- dá-lo a identificar e a utilizar estra- tégias de prevenção da recaída. • Recaída – Falha na manutenção e retomada do hábito ou compor- tamento anterior – retorno a qual- quer dos estágios anteriores. “Eu voltei a fumar regularmente”. O profissional deve ajudar o usu- ário a renovar os processos de contemplação, preparação e ação, sem que este fique imobilizado ou desmoralizado devido à recaída. 12TABAGISMO SE LIGA! A recaída do usuário consiste no retor- no ao padrão de tabagismo anterior ou até piorado. Quando o usuário, durante a manutenção da cessa- ção, acaba por fumar 1 ou 2 cigarros em situações sociais, principalmente quando relacionadas à bebi- da, chamamos de “lapso”. FLUXOGRAMA – ESTÁGIOS MOTIVACIONAIS - RODA DE PROCHASKA PRÉ-CONTEMPLAÇÃO CONTEMPLAÇÃO PREPARAÇÃOAÇÃO MANUTENÇÃO RECAÍDA SAIBA MAIS! Síndrome de abstinência: muitas vezes, quando o fumante deixa de fumar, podem surgir sin- tomas desagradáveis, tais como irritabilidade, inquietação, ansiedade, insônia, agressividade, cefaleia, tontura, dificuldade em se concentrar, impaciência, sudorese fria e desejo intenso por cigarros - a chamada «fissura». Estes sintomas caracterizam a «síndrome de abstinência» e se iniciam algumas horas após parar de fumar, tendo sua intensidade aumentada nos quatro primeiros dias, e desaparecem em torno de uma a duas semanas. A «fissura» em geral não dura mais que cinco minutos para aparecer e tende a permanecer por mais tempo que os demais sintomas. Porém, ela vai reduzindo gradativamente a sua intensidade e aumentando o espaço entre um episódio e o outro. A síndrome de abstinência torna-se uma grande barreira para que o fumante consiga alcan- çar seu objetivo de parar de fumar e permanecer abstêmio. Dessa forma, o médico deve ter conhecimento de seus sintomas para poder apoiá-lo durante esse processo. 13TABAGISMO Tal graduação tem implicações clínicas diretas, pois o sucesso terapêutico de- pende da superação do desequilíbrio entre a motivação do fumante em cessar com o tabagismo e o grau de sua dependência. Assim, fumantes de consumo intenso apresentam menor motivação, pois têm menor confiança na sua habilidade em superar os sinto- mas de abstinência. Contudo, fuman- tes leves podem ter baixa motivação por acreditarem que poderão parar de fumar em qualquer momento no futuro. 5. GRAU DE DEPENDÊNCIA Considerando que o estado de de- pendência é dinâmico e que as pes- soas não podem ser classificadas simplesmente em dependentes ou não-dependentes, pois é muito sutil a divisão entre uso abusivo de droga e o estado de dependência, é importante ter instrumentos para se mensurar a intensidade deste estado. O Teste de Fagerström é um importante teste aplicado para graduar a dependência. 1. Quanto tempo após acordar você fuma o seu primeiro cigarro? Dentro de 5 minutos = 3 Entre 6-30 minutos = 2 Entre 31-60 minutos = 1 Após 60 minutos = 0 2. Você acha difícil não fumar em locais proibidos como igrejas, bi- bliotecas, cinemas, ônibus, etc? Sim = 1 Não = 0 3. Qual cigarro do dia traz mais satisfação? O primeiro da manhã = 1 Outros = 0 4. Quantos cigarros você fuma por dia? Menos de 10 = 0 De 11 a 20 = 1 De 21 a 30 = 2 Mais de 31 = 3 5. Você fuma mais frequentemente pela manhã? Sim = 1 Não = 0 6. Você fuma mesmo doente, quando precisa ficar de cama a maior parte do tempo? Sim = 1 Não = 0 Pontuação: 0-2 pontos: muito baixo 3-4 pontos: baixo 5 pontos: médio 6-7 pontos: elevado 8-10 pontos: muito elevado Tabela 1. Teste de Fagerström Principais obstáculos para a cessação do tabagismo • Ambivalência: É comum que o usuário apresente ambivalên- cia durante o processo de cessa- ção, trazendo em seus relatos ou atitudes o entendimento de que “precisam” parar de fumar, mas ao mesmo tempo de que “gostam de fumar”, questionando “como en- frentar suas dificuldades na vida sem o cigarro”. Muitas vezes, essa ambivalência é percebida pelo pro- fissional como falta de motivação. No entanto, é importante que o 14TABAGISMO profissional compreenda e esclare- ça-o que é natural que se sinta di- vidido entre parar e continuar, pois ele associou, ao longo dos anos como tabagista, o ato de fumar a muitos espaços e momentos de sua vida. O usuário deve ser esti- mulado a desenvolver atividades alternativas, de modo a substituir o lugar que o cigarro ocupa em sua vida e, assim, ir desvinculan- do em sua rotina as associações estabelecidas. Portanto, a ambi- valência não deve ser interpretada como falta de motivação, mas sim um aspecto esperado durante o tratamento do tabagismo, como com qualquer outra droga. Esta ambivalência precisa ser exposta, acolhida e explicada como um sen- timento esperado e comum para pessoas que estão passandopor este processo, debatendo estraté- gias para trabalha-la e usá-la a seu favor: “o que você quer mais?” • Ganho de peso: O ganho de peso é um importante obstáculo para a cessação tabágica. Estima-se que ocorra uma redução da taxa me- tabólica basal de 4% a 16% ao se deixar de fumar. A preocupação com o ganho de peso ao deixar de fumar torna-se uma importante barreira para que alguns fumantes tomem essa decisão, principalmen- te entre as mulheres. Em um estu- do, 50% das mulheres e 26% dos homens tabagistas afirmam que o medo de engordar após a ces- sação do tabagismo desencoraja que tomem a decisão de parar de fumar. Após a cessação, o ganho de peso pode ser um importante fator para a recaída. O profissio- nal de saúde não deve negar, tam- pouco minimizar, a possibilidade de ganho de peso com a cessação do tabagismo para a pessoa motivada a parar de fumar. Deve-se reforçar que parar de fumar é sempre bené- fico, mesmo com o risco de ganho de peso. É uma boa oportunidade para se recomendar uma dieta ba- lanceada rica em frutas, verduras, legumes, com baixo teor de gor- dura e elevado consumo de água. Entretanto, é prudente não indicar uma dieta rigorosa logo no primei- ro momento de mudança do hábito. Por fim, deve estimular o usuário a praticar atividades físicas regulares, de acordo com sua condição clínica. • Síndrome da abstinência: Como já dito anteriormente, a síndrome de abstinência da nicotina é uma das mais importantes barreiras para a cessação do tabagismo. Os principais sinais e sintomas dessa síndrome são irritabilidade, cefa- leia, tristeza, ansiedade, agressivi- dade, dificuldade de concentração, distúrbio do sono, fissura. O profis- sional de saúde, durante o acom- panhamento do tabagista, deve estar atento a esses sintomas e avaliar a necessidade de uso de 15TABAGISMO medicamentos para seu alívio, lem- brando que a orientação da pessoa neste momento, em geral, é a inter- venção de maior impacto, principal- mente em relação à questão de que a síndrome de abstinência cessa em alguns dias. Além disso, outros recursos podem ser usados, base- ados principalmente em técnicas comportamentais para manejo do estresse, distração e substituição. • Consumo de álcool: A depen- dência da nicotina está relaciona- da ao consumo aumentado de ál- cool. Fumantes são mais propensos a consumir bebidas alcoólicas e os con- sumidores do álcool mais propensos a fumar, essa relação, portanto, pode ser considerada bidi- recional e dose de- pendente. No caso de tabagistas, que também apresen- tam uso nocivo do álcool, é importante, já na abordagem ini- cial, averiguar o de- sejo do usuário em cessar o consumo de ambas as subs- tâncias, pesando os riscos à saúde e os danos mais imedia- tos a sua vida e de sua família, realizando um planeja- mento adequado. Não há consen- so quanto à melhor estratégia a se usar: propor a interrupção do taba- gismo e do alcoolismo ao mesmo momento; ou se em momentos di- ferentes. Recomenda-se, portanto, que o profissional de saúde avalie cada caso individualmente, pe- sando os riscos e os benefícios da abordagem para cessação simultâ- nea. O mesmo ocorre com pessoas que, além do tabaco, são depen- dentes de outras drogas. Figura 2. Benefícios ao organismo com a cessação do tabagismo. Fonte: https://bit.ly/38KzjrZ 16TABAGISMO 6. TRATAMENTO Não farmacológico O tratamento da dependência à ni- cotina tem como eixo central a abor- dagem cognitivo-comportamental, que combina intervenções cognitivas e treinamento de habilidades com- portamentais, visando a cessação e a prevenção de recaídas, poden- do acrescentar a utilização de apoio medicamentoso. Os fumantes frequentemente sofrem de ansiedade e o tabaco acaba sen- do usado por estes como um meio (muitas vezes, o único) de minimizar o problema. Fumar gera sensação de tranquilidade na situação vivenciada, muitas vezes proporcionando ao fu- mante o adiamento de um enfrenta- mento real da situação. Os recursos pessoais para lidar com situações de estresse são muitas vezes subesti- mados e/ou ignorados. Com a redu- ção do efeito da nicotina, a ansiedade progressivamente retorna, o que leva o fumante ao próximo cigarro, perpe- tuando o ciclo. A abordagem cognitivo-comporta- mental tem como objetivo a detec- ção de situações de risco que levam o indivíduo a fumar, desenvolvendo estratégias de enfrentamento des- sas situações. O fumante vive situa- ções rotineiras sem buscar o cigarro, aprendendo a resistir à vontade de fumar. Ele é estimulado a tornar-se um agente de mudança de seu pró- prio comportamento. Farmacológico Quando essa abordagem é insufi- ciente e principalmente nos casos de elevado grau de dependência, pode- mos associar medicamentos com- provadamente eficazes. Estes são classificados em dois grupos gerais, conforme o mecanismo de ação e a eficácia. Destacam-se os nicotínicos (terapia de reposição nicotínica – TRN – que pode ser feita utilizando ade- sivo, goma de mascar, spray nasal, inalação e pastilhas) e os não nicotí- nicos (Bupropiona, Vareniclina, Nor- triptilina, Clonidina). Para a maioria dos pacientes, sugeri- mos a Vareniclina ou uma combina- ção de dois produtos de reposição de nicotina (um adesivo mais uma forma de ação curta, como a sub-lingual ou a pastilha) como terapia farmacoló- gica de primeira linha. A TRN combi- nada consiste em usar o adesivo de nicotina (uma forma de TRN de ação prolongada) e uma TRN de ação cur- ta da escolha do paciente, geralmen- te goma de nicotina ou pastilha de ni- cotina. No entanto, o uso de TRN de tipo único é uma alternativa razo- ável com base no custo, nos perfis de efeitos colaterais e na preferên- cia do paciente. A Bupropiona parece ser um pouco menos eficaz que a combinação TRN 17TABAGISMO ou Vareniclina, mas é uma alternati- va razoável de primeira linha se o pa- ciente tiver tido sucesso a curto prazo com a Bupropiona em uma tentativa anterior de abandono, se o custo for um problema, se o paciente tiver de- pressão isso também se beneficiaria do tratamento ou se o paciente de- seja evitar temporariamente o ganho de peso pós-cessação. No entanto, a Bupropiona é contraindicada em pacientes com distúrbio convulsivo ou predisposição a convulsões. O uso de medicamentos está indica- do para facilitar a abordagem cogni- tivo-comportamental, sempre com avaliação clínica rigorosa, seguindo os seguintes critérios: Fumantes de 10 ou mais cigarros por dia Fumantes com escore no teste de Fagerström a partir de 5 Consumo menor, porém com sintomas da abstinência expressivos Insucesso com metodologia comportamental Fumar o primeiro cigarro antes de 30 minutos ao acordar Desde que não haja contraindicação clínica na escolha do medicamento, deve-se levar em conta o desejo do paciente em usá-lo, o que poderá aumentar a adesão ao tratamento FLUXOGRAMA – CRITÉRIOS PARA USO DE MEDICAMENTOS Terapia de Reposição de Nicotina (TRN) O objetivo da TRN é oferecer a nicoti- na sem o uso de tabaco e assim aliviar os sintomas de abstinência, quebran- do o comportamento de consumo de cigarros relacionado à dependência física. A TRN é dividida em agen- tes de ação rápida que são a goma e a pastilha e agente de ação longa como o adesivo. As taxas de sucesso na cessação do tabagismo melhoram significativa- mente com o uso da terapia de re- posição de nicotina (TRN), dobrando aproximadamente a probabilidade de parar de fumar em comparação com o placebo. 18TABAGISMO A terapia de reposição de nicotina deve ser usada com cautela em pa- cientes com arritmias graves subja- centes, naqueles com angina de peito grave ou com piora e naqueles com um infarto do miocárdio recente (< 2 semanas). Isso ocorre porque a nico- tina pode causar efeitos cardiovascu- lares adversos, aumentando a carga de trabalho do miocárdio através do aumento da frequência cardíaca e pressão arterial. A nicotina também pode contrair artérias coronárias, le- vando a isquemiacardíaca. No en- tanto, os riscos de TRN em pacientes com doença cardiovascular são pe- quenos em relação aos riscos de con- tinuar fumando. A FDA classificou a nicotina como uma “categoria de gravidez D”, o que significa que há evidências de risco para o feto humano. Consequente- mente, nenhuma das formulações de TRN recebeu aprovação da FDA para uso na gravidez. Embora a TRN possa representar um risco para o feto em desenvolvimento, é indiscutivelmente menor do que os riscos de continuar fumando. No entanto, como se supõe que a TRN pode causar danos fetais quan- do administrada durante a gravidez, a TRN deve ser reservada para mu- lheres que não conseguem parar de usar métodos não farmacológicos. Se a TRN for utilizada, é prudente pres- crever doses na extremidade baixa do intervalo de doses para efeito e considerar o uso de formulações que produzam exposição intermitente ao invés de contínua da droga, por exem- plo, goma, spray nasal ou inalador. SE LIGA! O efeito da droga na terapia de reposição nicotínica é rápido, por isso o paciente deve interromper o tabagis- mo já no primeiro dia de tratamento. Adesivo transdérmico de nicotina O adesivo de nicotina fornece a en- trega mais contínua de nicotina en- tre todos os produtos de TRN e é o mais simples de usar. O adesivo possui um padrão de ação lenta de li- beração de nicotina, que produz um alívio relativamente constante da reti- rada do cigarro por 24 horas. O adesivo transdérmico de nicotina é encontrado nas apresentações de 21 mg, 14 mg e 7 mg, e sua posologia varia de acordo com o grau de depen- dência física à nicotina, avaliada por meio do escore obtido no Questio- nário de Fagerström ou simplesmen- te pelo número de cigarros fumados por dia. O adesivo deve ser fixado na pele, trocado a cada 24 horas, fazen- do um rodízio do local da aplicação a cada 24 horas. Deve-se evitar colocá-lo no seio (em mulheres), em regiões de pelos ou em áreas expostas ao sol. Não há, porém, restrição quanto ao uso na água. A posologia recomendada é decres- cente, uma vez que os sintomas de 19TABAGISMO abstinência são controlados com o passar do tempo. A duração do trata- mento com os adesivos é, em média, de 12 semanas. O metabolismo da droga é hepáti- co e sua eliminação é renal, por isso, deve-se ficar atento aos pacientes com grave insuficiência desses dois órgãos. SE LIGA! Para o paciente que fuma mais de 10 cigarros por dia deve-se iniciar o tratamento com a dose mais alta de ni- cotina (21 mg/dia) por seis semanas, se- guida de 14 mg/dia por duas semanas e terminar com 7 mg/dia por mais duas semanas. Caso o paciente consuma 10 cigarros ou menos por dia ou possua um peso inferior a 45 kg, deve-se começar com o adesivo de nicotina de dose mé- dia (14 mg/dia) por seis semanas, segui- do por 7 mg/dia por duas semanas. A duração mais longa do tratamento com o adesivo de nicotina pode levar a melhores taxas de cessação do ta- bagismo. Geralmente, a TRN é usa- da até que o paciente sinta que ele se estabilizou como não fumante. O adesivo pode ser continuado por mais tempo, mesmo indefinidamente, se necessário, pois a TRN é mais segu- ra do que continuar fumando. A TRN é frequentemente usada por um período mais longo em pacientes com doença psiquiátrica ou outros transtornos relacionados ao uso de substâncias. Goma de nicotina A goma de nicotina é um TRN de ação curta comumente usada. A goma de mascar libera nicotina para ser absor- vida pela mucosa oral, resultando em níveis máximos de nicotina no san- gue 20 minutos após o início da mas- tigação e, devido a isso, é ideal para períodos de fissura. A goma de nicoti- na está disponível em vários sabores que a maioria dos usuários considera preferíveis ao sabor original. A dosagem é determinada pelo nú- mero de cigarros fumados diariamen- te, da seguinte forma: • Fumantes que fumam 25 ou mais cigarros por dia, recomenda-se uma dose de 4 mg; • Fumantes que fumam menos de 25 cigarros por dia, recomenda-se uma dose de 2 mg; O paciente deve mastigar pelo menos um pedaço de chiclete a cada uma a duas horas enquanto estiver acor- dado e também sempre que houver vontade de fumar e usar até 24 pe- daços de chiclete por dia durante seis semanas. Essa quantidade deve ser reduzida gradualmente o uso du- rante uma segunda seis semanas, por um período total de três meses. A irritação gástrica e esofágica pode ocorrer se a goma for mastigada mui- to rapidamente, porque a nicotina é liberada mais rapidamente do que 20TABAGISMO pode ser absorvida pela mucosa bu- cal e a nicotina é engolida. A nicotina absorvida pelo trato gastrointestinal é amplamente metabolizada pelo fí- gado e, portanto, é relativamente ine- ficaz para a cessação do tabagismo. Dessa forma, os efeitos colaterais consistem em náusea, vômito, dor ab- dominal, constipação, soluços, dor de cabeça, salivação em excesso, dor no maxilar e irritação na boca ou úlceras. Bebidas ácidas, como café, bebidas carbonatadas, devem ser evitadas antes e durante o uso de goma, pois as bebidas ácidas diminuem o pH oral, o que faz com que a nicotina se ionize e reduz a absorção de nicotina. Embora a escolha da farmacoterapia para a população em geral seja tipi- camente baseada na preferência do paciente, a farmacoterapia pode pre- cisar de adaptação devido a contrain- dicações ou comorbidades e para pa- cientes em contextos ou populações específicos. SE LIGA! Doença cardiovascular - Em pacientes com doença cardiovascu- lar estável (DCV), usamos os mesmos tratamentos da população em geral. A Vareniclina, a TRN e a Bupropiona são eficazes nessa população. 7. FÁRMACOS NÃO NICOTÍNICOS Bupropiona Em 1997, a Bupropiona de liberação sustentada foi aprovada como o pri- meiro medicamento não nicotínico para parar de fumar. Pensa-se que o mecanismo de ação desse agente, originalmente comercializado como antidepressivo, seja devido à sua ca- pacidade de bloquear a recaptação neural dos neurotransmissores do- pamina e norepinefrina, reduzindo os desejos de nicotina e os sintomas de abstinência. SE LIGA! Os pacientes devem iniciar a terapia com Bupropiona 1 a 2 semanas antes da data de cessação do taba- gismo, começando com 150 mg uma vez ao dia por 2 dias e depois aumen- tando para 150 mg duas vezes ao dia. O medicamento é iniciado antes da data de término porque os níveis terapêuti- cos são atingidos após cerca de 7 dias de terapia. Os efeitos adversos associados à te- rapia com Bupropiona incluem insô- nia (30% a 40%) e boca seca (11%), além de náuseas, vômitos, diarreia e dor abdominal, sendo que estes efei- tos geralmente diminuem com o uso continuado. Tomar a segunda dose no início da noite, mas não antes de 8 horas após a primeira dose, pode mi- nimizar a insônia. 21TABAGISMO O aumento da pressão arterial tam- bém pode ocorrer com o uso desse medicamento. A Bupropiona é con- traindicada em pacientes com his- tórico de convulsões ou fatores co- nhecidos por aumentar o risco de convulsões, incluindo um diagnóstico atual ou anterior de bulimia ou ano- rexia nervosa, tumores do sistema nervoso central, diagnóstico de epi- lepsia, convulsão febril na infância, alterações no eletroencefalograma e uso concomitante de medicamen- tos conhecidos por diminuir o limiar convulsivo. Vareniclina A Vareniclina reduz os sintomas de abstinência ao bloquear a ligação da nicotina ao receptor que medeia os efeitos reforçadores da nicotina que levam à sua dependência. Por meio dessa ação, a Vareniclina reduz os aspectos gratificantes do tabagismo. Apesar das preocupações anteriores com a possível ocorrência de humor depressivo e ideação suicida nos pa- cientes em uso dessa droga, dados subsequentes indicam que a Vare- niclina não causa excesso de efei- tos colaterais neuropsiquiátricos em comparação com a reposição de ni- cotina ou Bupropiona. Em dezem- bro de 2016, a Food and Drug Ad- ministration (FDA) dos EUA removeu o aviso em caixasobre os possíveis efeitos colaterais neuropsiquiátricos necessários em 2009. TRATAMENTO Vareniclina + TRN TRN, Vareniclina ou Bupropiona Combinação de TRN TRN + Bupropiona Vareniclina + Bupropiona Abordagem cognitivo- comportamental Falha no tratamento Sem tratamento prévio Não farmacológico Farmacológico FLUXOGRAMA – TRATAMENTO 22TABAGISMO FLUXOGRAMA – MAPA RESUMO TABAGISMO Doenças relacionadas Disfunção erétil e redução da fertilidade Câncer de pulmão, pâncreas, esôfago, bexiga, entre outros Diabetes Asma, DPOC, Tuberculose Tratamento Veraniclina, Bupropiona, Clonidina, Nortriptilina Goma de mascar, adesivo, pastilhas, inalador, spray nasal, sub-lingual Abordagem cognitivo- comportamental Não-nicotínico Nicotínico Não-farmacológico Farmacológico Estágios motivacionais Manutenção Recaída Pré-contemplação Contemplação Ação Preparação Graduação de dependênciaTeste de Fagerström Epidemiologia Redução de 15 anos na expectativa de vida Principais usuários são homens negros, pobres, de zona rural Principal causa de morte evitável no mundo 23TABAGISMO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Diretrizes para cessação do tabagismo. J. bras. pneumol. vol.30. São Paulo. 2004. INCA 2020. Medications for smoking cessation - Robin L Corelli, Karen Suchanek Hudmon O cuidado da pessoa tabagista – Caderno de Atenção Básica – Ministério da Saúde Pneumologia – Guia de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da EPM-UNIFESP. 2 ed. (2014) Pratica Pneumológica. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) Segunda edição (2017) UpToDate 2020: Pharmacotherapy for smoking cessation in adults 24TABAGISMO
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