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1 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 Introdução Tabagismo é um problema de saúde pública mundial! Independentemente de você se tornar oncologista ou não, o combate ao tabagismo faz parte da obrigação do médico como promoção à saúde. Está havendo uma queda significativa da incidência e da prevalência do tabagismo, pois os indivíduos já não fumam como antigamente. Ao fazer a anamnese, principalmente quando são pacientes com 60-70 anos, na grande maioria das vezes, os tabagistas começaram com uma idade muito precoce (12 anos). Às vezes começaram com o uso de fumo de rolo, já que muitas famílias tinham fábricas desse fumo, e não com o cigarro propriamente dito. Muito pacientes, ao receberem diagnóstico de câncer, já conseguem parar de fumar. Na grande maioria das vezes, pela presença da própria doença, a tendência é parar de fumar, porém muitos ainda permanecem fumando. Então, o médico tem o trabalho de conscientização. Hoje em dia, existem diversas formas de cigarros, como por exemplo, o cigarro eletrônico, que é muito utilizado pela população mais jovem (> 18 anos). É importante saber que existe tratamento disponível na rede pública. • O tabagismo é uma doença (dependência de nicotina) que tem relação com aproximadamente 50 enfermidades, dentre elas vários tipos de câncer, doenças do aparelho respiratório e doenças cardiovasculares; não é somente o câncer que está relacionado ao tabagismo. Tem que lembrar que o tabagismo afeta negativamente a função cardíaca e a respiratória e que, além disso, o paciente pode vir a desenvolver um câncer. • Estima-se que, no Brasil, a cada ano, cerca de 157 mil pessoas morram precocemente devido às doenças causadas pelo tabagismo. Os fumantes adoecem com uma frequência duas vezes maior que os não fumantes; pneumonia, por exemplo, não tem a mesma repercussão em pacientes tabagistas e não tabagistas, sendo que estes últimos, muitas vezes podem passar ilesos. Os tabagistas tem problemas maiores, mais sintomas, bactérias mais agressivas (normalmente; o pulmão é uma área propícia e hospitaleira), maior chance de complicações, menor desempenho físico por conta dos problemas respiratórios e menor resistência. • De acordo com a Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doença e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), o tabagismo integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais em razão do uso de substância psicoativa (nicotina). Ele também é considerado a maior causa evitável isolada de adoecimento e mortes precoces em todo o mundo. Formas de exposição ao tabaco e nicotina • Cigarros clássico: vários modelos, tipos, sabores; • Charuto e cachimbo: não tem nicotina, mas tem outras substâncias tóxicas e prejudiciais. • Cigarros eletrônicos ou vaporizadores; • Tabaco que não produz fumaça (tabaco de mascar e rapé): uso muito comum no interior. Exposição tópica porque o indivíduo masca o tabaco. • Exposição oral inadvertida ao tabaco: às vezes a pessoa está fumando do seu lado. Criança, principalmente, são as que mais sofrem por conta dos pais tabagistas. • Exposição cutânea ao tabaco; • Exposição passiva à fumaça de tabaco: é aquela pessoa que mora com um fumante. É praticamente a mesma coisa que exposição oral inadvertida ao tabaco. Cigarros eletrônicos • São dispositivos com uma bateria e um cartucho contendo um pulverizador que aquece uma solução de propilenoglicol, glicerol e geralmente, mas nem sempre, nicotina; aqui, o problema maior não é nem a nicotina (também presente no cigarro normal), mas sim as substâncias tóxicas e Tabagismo 2 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 cancerígenas, que chegam a ser do mesmo valor ou até pior que a nicotina. • Não há combustão ao usar cigarros eletrônicos, o aerossol emitido pelo dispositivo é mais do que vapor d`água; não é bem uma fumaça. • Além de frequentemente conter nicotina, o aerossol do cigarro eletrônico tem partículas ultrafinas, que podem ser inaladas e chegar ao pulmão; aromatizante como diacetil, um produto químico ligado a doença pulmonar grave; compostos orgânicos voláteis, substâncias químicas que causam câncer; e metais pesados (por exemplo níquel, estanho e chumbo,), embora todos em níveis mais baixos do que a fumaça do cigarro convencional. Às vezes, o paciente acha que sair do cigarro convencional e ir para o cigarro eletrônico é uma etapa de desmame do tabagismo. Porém, essa estratégia não traz nenhum tipo de benefício na tentativa de cessação do tabagismo. • Cigarros eletrônicos são outra forma de fornecimento de nicotina. • A nicotina inalada de alguns dispositivos de cigarro eletrônico é fornecida para o cérebro tão rapidamente quanto a nicotina dos cigarros convencionais, os pacientes podem manter uma dependência semelhante com os cigarros eletrônicos, embora com exposição menos prejudicial do que a dos cigarros convencionais; • O uso duplo (uso continuado de cigarros convencionais e cigarros eletrônicos) também é comum e os benefícios para a saúde dos cigarros eletrônicos no contexto do uso duplo não estão comprovados. • Em comparação, as terapias de reposição de nicotina aprovadas pela FDA demonstraram eficácia para ajudar os fumantes a conseguir parar com vários benefícios adicionais: ❖ Efeitos colaterais pequenos e leves; ❖ Baixa probabilidade de induzir dependência; ❖ Nenhum potencial de uso indevido entre os jovens ou evidências de que os jovens passarão para o uso de produtos de tabaco convencional. Fisiopatologia • Nicotina é um fármaco altamente viciante encontrada no tabaco, sendo um dos principais componentes da fumaça do cigarro; • A compulsão por cigarro pode começar depois de dias da primeira utilização; normalmente, não é apenas uma tragada. Tem que ter uma exposição maior para que se possa ter uma tendência a ter uma compulsão por nicotina. • A nicotina estimula os receptores colinérgicos de nicotina no cérebro, liberando dopamina e outros neurotransmissores, o que ativa o sistema de recompensa do cérebro durante atividades prazerosas, de forma semelhante à da maioria das outras drogas viciantes. Lembrar que a dopamina é a substância do prazer, sendo liberada a partir do momento em que a nicotina estimula os receptores colinérgicos. TABAGISMO ENTRE ADULTOS Tabagismo na população acima de 18 anos no Brasil entre 1989 e 2019 Em 1989, era mais ou menos uma média de 34,8% da população de tabagisma; destes, 43,3% eram homens e 27,0% eram mulheres. Em 2003, houve uma nova pesquisa (Pesquisa Mundial de Saúde), na qual foi vista que a quantidade de tabagistas caiu de 34,8% para 22,4%; destes, 27,1% eram homens e 18,4% eram mulheres. Em 2008, uma Pesquisa Especial de Tabgismo mostrou uma queda ainda mais significativa, chegando a 18,5%; destes, 22,9% eram homens e 13,9% eram mulheres. Em 2013, 14,7% da população era tabagista; destes, 18,9% eram homens e 11,0% eram mulheres. Em 2019, a Pesquisa Nacional de Saúde mostrou que 12,6% da população acima de 18 anos é tabagista; destes, 15,9% eram homens e 9,6% eram mulheres. Teve um período entre 2003 e 2008 em que as mulheres começaram a se aproximar mais dos homens em relação a quantidade de fumantes, chegando a acreditar que ultrapassariam. Nesta 3 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 época, teve um aumento significativo de câncer pulmão, que agora está mais em queda. Gráfico: mostra a queda da prevalência. Avalia de acordo com o período e com as medidas de saúde pública. Em azul representa a prevalência de homens e, em vermelho, de mulher. Não tem como fazer um combate a algo se não tiver medidas públicas pra isso. Essas medidas incluem desde a assistência básica até a assistênciade alta complexidade. Em 1989 começou o primeiro imposto específico do cigarro, aumentando o preço do produto, o que levou a uma certa diminuição do uso. Imagens de advertência, restrição de publicidade, leis sobre o ambiente e aumento do preço do cigarro foram medidas adotadas em 1996. Logo depois, teve uma lei proibindo a venda para jovens abaixo de 18 anos. Até hoje, é obrigatório que as imagens de pessoas com câncer, traqueostomia, emagrecidos e com diversas outras alterações, apareçam nos maços de cigarro. São medidas de advertência chocantes, mas são necessárias pra lidar com o vício. Antigamente, era muito fácil ter propaganda de cigarro na televisão. Mostrava uma mulher linda, magra (lembrar que a cessação do tabagismo faz a pessoa engordar), arrumada e com um cigarro na mão. Às vezes, colocava um homem atleta, correndo, com a finalidade de estabelecer o uso do cigarro como uma forma de sucesso. Hoje, essas publicidades foram proibidas. Entre 2007 e 2009, foram criadas as Leis Municipais sobre ambientes livres, que foram as que mais trouxeram impacto. Isso porque, a partir do momento em que você não pode fumar em um ambiente fechado (exemplo: bar e restaurante), você vai se controlar um pouco mais, diminuindo a quantidade de cigarros usados. Doenças relacionadas ao tabagismo NEOPLASIAS • Leucemia mieloide aguda; • Câncer de bexiga; • Câncer de pâncreas; • Câncer de fígado; • Câncer de colo de útero; • Câncer de esôfago; • Câncer nos rins; • Câncer de laringe; • Câncer de pulmão; • Câncer na cavidade oral; • Câncer de faringe; • Câncer de estômago. Resumo: todos de cabeça e pescoço e basicamente quase todos do trato gastrointestinal. DOENÇA DO APARELHO RESPIRATÓRIO • DPOC; • Enfisema pulmonar; • Bronquite crônica; • Asma; • Infecções respiratórias. O tabagismo entra como um critério maior no paciente vítima de COVID. Quanto maior a carga tabágica, mais sequelas respiratórias. DOENÇAS CARDIOVASCULARES • Angina; • Infarto agudo do miocárdio; • Hipertensão arterial; • Aneurismas; • Acidente Vascular Cerebral; • Tromboses: existem as tromboses e as tromboangeítes obliterantes secundárias ao cigarro (o próprio cigarro faz pequenos trombos nos pequenos vasos e, dentre esses, os vasos das 4 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 extremidades; se o paciente for diabético, pior ainda). Normalmente, essas pequenas tromboses começam a causar isquemia no local, sendo na maioria das vezes, tromboses arteriais; o paciente faz isquemia (dedo preto) que precisa de amputação. Pacientes grandes tabagistas tem que ter as extremidades bem avaliadas. Além dos dedos amarelos (por conta do tabagismo), podem ter amputação causada por tromboangeítes obliterantes decorrentes do tabagismo. Fármacos utilizados para cessação A questão comportamental é de extrema importância, mas o doente tem que querer parar. É muito mais difícil parar de fumar do que parar de beber. Isso porque, a nicotina tem um poder viciante muito maior do que o álcool. Tem pacientes que conseguem parar sozinhos, mas caso não seja possível, o objetivo do médico é tentar utilizar algum medicamento que possam ajudar. • Brupropriona: aumenta a liberação cerebral de noradrenalina e dopamina; então, teoricamente, o paciente não vai buscar o prazer no cigarro, porque o próprio medicamento por si só já vai dar o prazer. • Vareniclina: hoje, é a monoterapia mais eficaz utilizada isoladamente; atua no receptor de nicotina-acetilcolina (a subunidade a-4 b-2), onde atua como agonista parcial, bloqueando os efeitos da nicotina; ❖ O efeito da vareniclina é atenuar os sintomas da abstinência de nicotina e diminuir os efeitos prazerosos do tabagismo se o paciente recair; ❖ A vareniclina é a monoterapia mais eficaz disponível para a cessação do tabagismo. Tirar o cigarro, muitos conseguem. O grande problema é a abstinência levando à recaídas. Quando o paciente recebe a vareniclina, ela vai fazer o papel da nicotina, dando o prazer necessário. • Combinações de diferentes produtos de reposição de nicotina são mais eficazes do que cada produto isoladamente e são comparáveis em termos de eficácia à vareniclina; • A combinação do adesivo de nicotina a um fármaco de ação mais curta de reposição de nicotina (por exemplo pastilha, goma, spray nasal ou inalador) é mais eficaz do que a monoterapia (ex. adesivo transdérmico puro); • Quando utilizado em associação, o adesivo de nicotina ajuda a manter concentrações contínuas e o uso de chiclete, pastilha, inalador ou spray nasal possibilita o paciente elevar as concentrações de nicotina em resposta aos desejos imediatos. Ex. o adesivo tem uma liberação lenta de nicotina e às vezes o paciente sente o desejo de fumar; neste caso, ele faz uso da goma, que é como se fosse uma substituição do cigarro, o que diminui à vontade. • Administrar a terapia de reposição da nicotina na dose de cerca de 1mg por cigarro fumado por dia. Os pacientes que utilizam o adesivo de nicotina devem continuar a usá-lo, mesmo que tenham uma recaída e fumem. O que é feito normalmente: BUPROPRIONA DE LIBERAÇÃO PROLONGADA • Dosagem: 150mg pela manhã durante 3 dias (começando 1-2 semanas antes de parar de fumar), a seguir 150mg duas vezes ao dia; pode- se manter a dose em 150mg uma vez ao dia se o esquema de duas doses diárias não for tolerado. Ex. O paciente fala que vai parar de fumar em determinado dia ... então ele tem que iniciar o uso do medicamento + ou - 15 dias antes da tentativa. • Duração: 7-12 semanas inicialmente (pode continuar por até 6 meses). 5 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 • Efeitos adversos: insônia, boca seca, sintomas neuropsiquiátricos. • Comentários: vendido apenas com prescrição médica; contraindicada com antecedentes de convulsões, distúrbios alimentaers, uso de inibidores de monoamina oxidade nas últimas 2 semanas. CHICLETE DE NICOTINA Normalmente utilizado para a fase aguda. • Se fumar >30 minutos após acordar, 2 mg; se furmar <30minutos após acordar, 4 mg; o esquema para a duas dosagens é uma a cada 1-2 h nas semanas 1-6; 1 a cada 2-4 horas nas semanas 7-9; 1 a cada 4-8h nas semanas 10-12. • Duração: Até 6 meses; • Efeitos adversos: Gosto amargo na boca; dispepsia; • Comentários: Apenas venda livre em farmácia. Recomenda-se mastigação lenta (para melhor absorção da nicotina) e manter a goma entre as bochechas para maximizar os níveis séricos e minimizar a irritação gástrica e esofágica; pode ser difícil usar uma quantidade suficiente de chiclete para lidar adequadamente com abstinência; disponível em diferentes sabores; não utilizar em pacientes que tem distúrbio de ATM. PASTILHA DE NICOTINA • Dosagem: igual ao chiclete de nicotina; • Duração: igual ao chiclete de nicotina; • Efeitos adversos: náuseas, insônia, aftas orais; • Comentários: Somente de venda livre; disponível em diferentes sabores e em uma miniversão; a necessidade de doses frequentes pode comprometer a adesão. INALAÇÃO DA NICOTINA • Dosagem: 6-16 cartuchos/dia nas semanas 6-12; depois reduzir gradativamente nas próximas 6-12 semanas; • Duração: 3-6 meses; • Efeitos adversos: irritação local da boca e da garganta; • Comentários: Apenas com prescrição médica. SPRAY NASAL DE NICOTINA • Dosagem: 8-40 doses/dia (1 dose = 1 borrifada em cada narina); • Duração: 14 semanas; • Efeitos adversos: Irritação nasal e faríngea; • Comentários: Apenas com prescrição médica; atinge pico de níveis sanguíneos mais cedo (em 10 minutos) do que outros produtos de reposição de nicotina; Os que são inalatórios (spray e inalador) tem que ser com prescrição médica. ADESIVO DE NICOTINA Esse é o que vai fazer, na verdade, o pacienteparar de fumar. Os outros são pras recorrências. É como se fosse morfina, sendo a goma de mascar e as pastilhas a forma de escape. Em relação ao adesivo, é importante lembrar de limpar a área e aplicar direitinho. Sempre quando for trocar, colocar em áreas diferentes. Muito importante!!! • Dosagem: 21mg/dia por 6 semanas, a seguir 14mg/dia por 2 semanas, a seguir 7mg/dia por 2 semanas; se fumar >10cigarros/dia, iniciar com a dose de 21mg; se fumar <10cigarros/dia, iniciar com dose de 14 mg; • Duração: 10 semanas; • Efeitos adversos: Reação cutânea local, insônia e sonhos vívidos; • Comentários: Fármacos de venda livre e com prescição; reações cutâneas locais menos prováveis se o local do adesivo for alternado; pode ser removido à noite se os sonhos vívidos causarem incômodo. Na grande maioria das vezes, é possível controlar bem com o uso do adesivo. Às vezes, é necessário combinar com a bupropriona. VARENICLINA Muito utilizada pelos profissionais da pneumonologia, mas a professora nunca usou. • Dosagem: 0,5mg VO, uma vez/dia durante 3 dias, depois 0,5 mg bid por 4 dias, depois 1mg bid; • Duração:12-24 semanas; • Efeitos adversos: Mais comumente náuseas e distúrbios do sono; sintomas neuropsiquiátricos; • Comentários: Apenas com prescição médica. 6 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 Quanto mais elevada a duração do tratamento, maior a probabilidade de abstinência a longo prazo entre pacientes que pararam de fumar após uso de vareniclina. Segurança dos fármacos • As contraindicações à bupropriona incluem antecedente de convulsões, distúrbios alimentares e uso de inibidores de monoamina oxidase (IMAO) nas últimas 2 semanas; • Eventos adversos neuropsiquiátricos graves relatados com bupropiona de liberação prolongada ou vareniclina: ❖ Alterações do comportamento; ❖ Hostilidade; ❖ Agitação; ❖ Humor deprimido; ❖ Pensamentos suicidas, tentativa de suicídio e suicídio consumado; É importante falar dos efeitos tanto para o paciente quando para a família. Estes podem acontecer tanto por efeito das drogas quanto por abstinência, mas na grande maioria das vezes, é por efeito do medicamento. Alguns pacientes que tomam vareniclina referem aumento dos efeitos do álcool. Instruir os pacientes a reduzir a quantidade de álcool que consomem até saberem se a vareniclina exerce alguma influência. • A reposição de nicotina deve ser utilizada com cautela em fumante com certos riscos cardiovasculares (aqueles com 2 semanas após infarto do miocárdio com arritmias graves ou angina grave), embora a maior parte dos dados sugira que esta utilização é segura; • Os adesivos de nicotina são contraindicados para fumantes com sensibilidade tópica grave; • Por causa da preocupação com a segurança, a inadequação dos dados de eficácia, ou ambas, não se deve utilizar os fármacos para cessação nos seguintes casos. ❖ Gestantes fumantes; ❖ Fumantes leves (<10 cigarros/dia); ❖ Adolescentes (<18 anos), possivelmente com exceção daqueles que fumam muito; ❖ Usuários de tabaco sem fumaça. Sinais e sintomas de abstinência A abstinência é a grande ¨pedra no sapato¨, porque na grande maioria das vezes, a falha na tentativa de parar de fumar ocorre por conta da síndrome de abstinência. • Desejo forte por nicotina nos cigarros; • Ansiedade; • Humor deprimido; • Incapacidade de concentração; • Irritação, inquietação; • Insônia, fome: não é o cigarro que leva o paciente a emagrecer ... é a abstinência (ansiedade) que leva o paciente a engordar. • Cefaleia; • Distúrbios do trato gastrointestinal; • Esses sintomas são piores nos primeiros 3 dias (quando a maioria dos fumantes que tentam parar, recai) e costumam diminuir em 2 a 4 semanas na maioria dos fumantes, mas alguns sintomas podem persistir por meses. • Ganho de peso é comum: os ex fumantes ganham, em média, 4 a 5kg, e isso é outra razão de recaída. Podem ocorrer temporariamente: tosse, cefaleia e constipação após a cessação do tabagismo. Medidas de saúde pública para incentivo à cessação do tabagismo • Desde 2002, o Ministério da Saúde juntamente com as secretárias estaduais e municipais de Saúde vem organizando uma rede de unidades de saúde do SUS para oferecer tratamento do tabagismo para os fumantes que desejam parar de fumar; • O tratamento é realizado por profissionais de saúde e composto de uma avaliação individual, passando depois por consultas individuais ou sessões de grupo de apoio, nas quais o paciente fumante entende o papel do cigarro na sua vida, recebe orientações de como deixar de fumar, como resistir à vontade de fumar, e principalmente como viver sem cigarro. 7 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 Estratégias do programa nacional de controle do tabagismo • Rede de tratamento à pessoa tabagista (Rede de Tratamento do Tabagismo no SUS); • Promoção de ambiente livre de fumaça (Lei Antifumo nº 12.546/2011); • Realização de campanhas educativas: Dia mundial sem tabaco. Dia nacional de combate ao fumo (29 de agosto); • Ações de promoção da saúde e a prevenção do tabagismo com adolescentes e jovens (Programa Saber Saúde). Não existe nada relacionado a triagem de CA de pulmão, como outubro rosa e novembro azul, por exemplo, mas os pacientes são orientados, principalmente os tabagistas. O objetivo não é fazer radiografia de tórax ou tomografia computadorizada, mas sim conscientizar a população tabagista a tentar parar de fumar, orientando uma consulta médica para melhor avaliação e orientações. Medidas públicas para cessação do tabagismo • O tratamento ofertado às pessoas tabagistas ocorre no âmbito municipal, preferencialmente na atenção básica dos municípios; • Prevê uma avaliação clínica com abordagem cognitivo-comportamental (mínima ou intensiva), individual ou em grupo. Trata-se de um modelo de intervenção centrado na mudança de crenças e comportamentos que levam um indivíduo a lidar com uma determinada situação com vistas a parada do fumo e também a manutenção da abstinência. Então, são medidas que normalmente orientam o paciente a tudo isso. Orientação relacionada a como parar de fumar e a como lidar com a abstinência, para continuar com a cessação do tabagismo. Medicamentos disponíveis na saúde pública • Portaria n.761/2010, atualizada pela Portaria n.10 a 16 de abril de 2020, pode ser inserido o apoio medicamentoso, através de: ❖ Terapia de reposição nicotínica – Adesivo (7 mg, 14 mg e 21 mg). Goma (2mg) e Pastilha de nicotina (2mg); utilizados nas crises; momento de escape; ❖ Antidepressivo (Cloridrato de Bupropriona – Apresentação: comprimido de 150mg). Orientações baseadas em evidências • Perguntar em cada consulta se o paciente usa tabaco e registrar a resposta; • Aconselhar todos os fumantes a parar de fumar em uma linguagem clara, forte, personalizada e imparcial; • Avaliar a disposição do fumante de parar nos próximos 30 dias, destacando os benefícios da cessação para os fumantes que não pretendem parar de fumar nos próximos 30 dias; • Auxiliar os que desejam tentar parar de fumar com orientação breves e tratamento medicamentoso; • Agendar o acompanhamento, de preferência pós a primeira semana da data fixada para a interrupção do tabagismo e então mais tarde para prevenir recorrências. Evolução • Para os fumantes dispostos a parar, os médicos devem trabalhar com o paciente de modo a determinar uma data para a cessação, de preferência em 2 semanas (já utiliza a bupropriona – ação mais lenta), e enfatizar que a abstinência total é melhor do que a redução; • As experiências pregressas de cessação de tabagismo podem ser revisadas para identificar o que ajudou e o que não ajudou e os desencadeantes do tabagismo, ou desafiosna cessação, devem receber planejamento prévio. • Por exemplo, o uso de álcool está associado a recaída, assim, a restrição ou abstinência de álcool devem ser discutidas. Adicionalmente, a cessação é mais difícil quando outros fumam em casa, deve-se incentivar os cônjuges e outras 8 Beatriz Machado de Almeida Oncologia – Tabagismo – Aula 10 pessoas fumantes na residência a fumar fora de casa ou parar completamente; • Os médicos devem reforçar sua disponibilidade e assistência para apoiar a tentativa de parar de fumar.
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