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Direito Desportivo M A T E R I A L T E Ó R I C O Unidade: Estatuto do Torcedor Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Paulo Celso Sanvito Revisão Textual: Profª. Msª. Magnólia Gonçalves Mangolini Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 1 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br zzzzzzzzzzzzzzz Orientação de Estudos Olá caros alunos, Iniciaremos os estudos desta unidade com a análise dos aspectos gerais relativos ao “Estatuto do Torcedor” (Lei 10.671/03), bem como dos direitos e deveres relativos aos torcedores, especialmente no que se referem à organização das competições, seus regulamentos e as garantias referentes à comercialização de ingressos, segurança, transporte, alimentação e higiene desses consumidores durante os eventos esportivos. Posteriormente realizaremos o exame do regramento relativo às relações dos torcedores com a arbitragem, as entidades de prática desportiva, e com a Justiça Desportiva e, então, concluiremos os estudos desta unidade com a apreciação das regras gerais referentes às penalidades e crimes praticados por dirigentes, torcidas organizadas e torcedores. Vale mencionar que o estudo do tema convém ser complementado com a leitura da bibliografia indicada no plano de Ensino, no texto base, além de uma pesquisa na Biblioteca Virtual, na Biblioteca Central da Universidade e na Internet. Sem a perfeita compreensão de todos os tópicos abordados nesta unidade, seu estudo ficará prejudicado. A T E NÇ Ã O: Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as atividades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma. Contextualização O estudo desta unidade apresenta grande importância, pois trata dos direitos e deveres dos torcedores que frequentam os diversos estádios existentes no país. Esses estádios, em sua grande maioria, são marcados por condições precárias de conservação, falta de lugares numerados, pouca transparência das entidades envolvidas e problemas relativos à venda de ingressos e às torcidas organizadas. Cabe destacar que o estudo deste tema mostra-se interessante, pois analisa sob a ótica do Direito, a relação de consumo existente entre esses “fanáticos por futebol” com os clubes e “cambistas”, facilitando o entendimento das regras que devem orientar o comportamento de todos, antes e depois das partidas. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 3 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 3 Unidade: Esta tuto do Torcedor 1. Considerações Iniciais Em 15 de maio de 2003 foi sancionada a lei 10.671, popularmente batizada de “Estatuto do Torcedor”, objetivando estabelecer normas de proteção e defesa do torcedor, relativas à sua segurança e conforto, à transparência e publicidade na organização das competições desportivas profissionais, à independência e imparcialidade da arbitragem dessas competições, à moralidade, celeridade e independência dos órgãos da Justiça Desportiva e à responsabilização dos dirigentes desportivos pelo descumprimento de suas obrigações legais. Vale destacar que o Estatuto sofreu importantes modificações, introduzidas pela Lei 12.229 de 27 de julho de 2010, que dispõe sobre medidas de prevenção e repressão aos fenômenos de violência por ocasião de competições esportivas. Pois bem, de acordo com o art. 2º do Estatuto, “torcedor é toda pessoa que aprecie, apoie ou se associe a qualquer entidade de prática desportiva do país e acompanhe a prática de determinada modalidade esportiva”. É o torcedor, sem sombra de dúvidas, um consumidor, nos moldes da definição trazida pela Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), no seu art. 2º, segundo o qual é consumidor toda pessoa física ou jurídica que adquire, de forma onerosa, produto ou serviço como destinatário final, ou faça parte de uma coletividade determinável ou mesmo indeterminável de pessoas que haja intervindo em uma relação de consumo. Leciona Décio Luiz José Rodrigues1: Ao pagar e adquirir um ingresso, o torcedor é o destinatário final do espetáculo (produto e serviço) promovido pelo fornecedor (clubes e organizadores do evento), sendo que este comercializa o espetáculo. Portanto, existe uma relação de consumo entre o torcedor e os clubes organizadores quando da realização do evento esportivo (RODRIGUES. 2003. p14). As entidades responsáveis pela organização das competições, bem como a entidade de prática desportiva detentora do “mando de campo”, de acordo com o art. 3º do Estatuto de Defesa do Torcedor, são equiparados ao conceito de fornecedor estampado no art. 3º do Código de Defesa do Consumidor. 1 RODRIGUES, Décio Luiz José. Direitos do torcedor e temas polêmicos do futebol. São Paulo: Rideel, 2003. p. 14. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 4 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 4 Unidade: Esta tuto do Torcedor Vale lembrar que conforme disposição do art. 3º do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90), “fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”. O § 1º do mesmo artigo, por sua vez, define produto como sendo “qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial” e o conceito de serviço é estabelecido no § 2º, como sendo “qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.” Embora a Lei Pelé, em seu art. 42, § 3º, já houvesse afirmado que o espectador pagante, por qualquer meio, de espetáculo ou evento esportivo, equipara-se, para todos os efeitos legais, ao consumidor. O Estatuto do Torcedor dispõe acerca de diversas questões específicas do interesse do torcedor, tais como a obrigação de divulgação de tabelas e regulamentos das competições com antecedência mínima de sessenta dias do seu início; a possibilidade de participação dos torcedores, jornalistas e mesmo os atletas na constituição destes regulamentos, através do encaminhamento de sugestões através das ouvidorias obrigatórias com a nova lei; punição para dirigentes desportivos violadores das regras básicas de higiene e segurança, dentre outras inovações. Vejamos as principais disposições relativas ao Estatuto do Torcedor: a) Da transparência na organização das competições De acordo com o art. 5º e seguintes do Estatuto de Defesa do Torcedor, publicidade e transparência na organização das competições administradas pelas entidades de administração do desporto ou pelas ligas de que trata o art. 20 da Lei Pelé é um direito fundamental do torcedor, sendo dever destas a ampla divulgação, inclusive pela internet, a íntegra do regulamento da competição, as tabelas da competição, contendo as partidas que serão realizadas, com especificação de sua data, local e horário; o nome e as formas de contato do Ouvidor da Competição; os borderôs completos das partidas; a escalação dos árbitros imediatamente após sua definição; e a relação dos nomes dos torcedores impedidos de comparecer ao local do evento desportivo. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 5 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 5 Unidade: Esta tuto do TorcedorO Estatuto, no art. 6, criou a figura do “Ouvidor da Competição”, com a função de recolher sugestões, propostas e reclamações dos torcedores e propor as medidas necessárias, sendo garantido o amplo acesso postal ou por mensagem eletrônica, e o direito de receber as respostas às sugestões, propostas e reclamações que encaminhou, no prazo de trinta dias. O regulamento da competição deverá ser divulgado juntamente com a tabela de jogo, com antecedência mínima de sessenta dias do seu início, sob pena de suspensão do dirigente da entidade organizadora por um prazo de seis meses. O princípio do acesso e do descenso nas competições também foi consagrado pelo estatuto, em seu art. 10, vedando-se o convite para as competições oficiais das diversas modalidades esportivas (§ 2o), devendo ser respeitado o critério técnico, conceituado como “a habilitação da entidade de prática desportiva em razão de colocação obtida em competição anterior” (§ 1o). É importante esclarecer que serão desconsideradas as partidas disputadas pela entidade de prática desportiva que não tenham atendido ao critério técnico previamente definido, inclusive para efeito de pontuação na competição (§ 4o), sendo certo que em campeonatos ou torneios regulares com mais de uma divisão, será observado o princípio do acesso e do descenso (§ 3o). Já em relação à publicidade e transparência das competições, determinou-se a obrigação de divulgação na internet, por parte da entidade organizadora da competição, das súmulas e dos relatórios das partidas, até às quatorze horas do terceiro dia útil subsequente ao da realização das mesmas. (art. 12) b) Da segurança do torcedor partícipe do evento esportivo Fatos lamentáveis envolvendo torcidas e mortes no Brasil e no mundo, na última década, causaram um clamor generalizado, não tendo sido outro o motivo para que o legislador ordinário brasileiro viesse a regulamentar a garantia fundamental do torcedor, partícipe de eventos esportivos, à segurança, prevendo penalidades àqueles responsáveis pela organização das competições e aos próprios torcedores que venham a incitar e/ou praticar atos de violência. Neste diapasão, dispõe o art. 13 da Lei 10.671/03 que “o torcedor tem direito a segurança nos locais onde são realizados os eventos esportivos antes, durante e após a realização das partidas”, sendo assegurada a acessibilidade ao torcedor portador de deficiência ou com mobilidade reduzida. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 6 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 6 Unidade: Esta tuto do Torcedor Assim, são condições de acesso e permanência do torcedor no recinto esportivo, sem prejuízo de outras condições previstas em lei: I - estar na posse de ingresso válido; II - não portar objetos, bebidas ou substâncias proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de violência; III - consentir com a revista pessoal de prevenção e segurança; IV - não portar ou ostentar cartazes, bandeiras, símbolos ou outros sinais com mensagens ofensivas, inclusive de caráter racista ou xenófobo; V - não entoar cânticos discriminatórios, racistas ou xenófobos; VI - não arremessar objetos, de qualquer natureza, no interior do recinto esportivo; VII - não portar ou utilizar fogos de artifício ou quaisquer outros engenhos pirotécnicos ou produtores de efeitos análogos; VIII - não incitar e não praticar atos de violência no estádio, qualquer que seja a sua natureza; IX - não invadir e não incitar a invasão, de qualquer forma, da área restrita aos competidores e X - não utilizar bandeiras, inclusive com mastro de bambu ou similares, para outros fins que não o da manifestação festiva e amigável (inciso incluído pela Lei nº 12.663, de 2012). O não cumprimento das condições estabelecidas neste artigo implicará a impossibilidade de ingresso do torcedor ao recinto esportivo, ou, se for o caso, o seu afastamento imediato do recinto, sem prejuízo de outras sanções administrativas, civis ou penais eventualmente cabíveis. As entidades de prática desportiva detentoras dos mandos dos jogos, bem como seus dirigentes, passaram a ser responsabilizadas pela segurança do torcedor, tendo o dever de solicitar, ao Poder Público, a presença de agentes públicos de segurança, informando aos órgãos responsáveis pela segurança, transporte e higiene os dados necessários à segurança das partidas, em especial o local do evento, o horário de abertura, a capacidade e a expectativa de público. A entidade responsável pela organização da competição, de acordo com o art. 16 do Estatuto do Torcedor e sob pena de destituição dos seus dirigentes (art. 37, I), passou a ter o dever de: I – confirmar, com até quarenta e oito horas de antecedência, o horário e o local da realização das partidas em que a definição das equipes dependa de resultado anterior; II – contratar seguro de acidentes pessoais, tendo como beneficiário o torcedor portador de ingresso válido a partir do momento em que ingressar no estádio; III – disponibilizar um médico e dois enfermeiros para cada dez mil torcedores presentes à partida; IV – disponibilizar uma ambulância para cada dez mil torcedores presentes à partida; V – comunicar previamente à autoridade de saúde a realização do evento. Além disso, os estádios com capacidade superior a 10.000 (dez mil) pessoas deverão manter central técnica de informações, com infraestrutura suficiente para viabilizar o monitoramento por imagem do público presente (art. 18) e das catracas (art. 25). Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 7 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 7 Unidade: Esta tuto do Torcedor O art. 19 da Lei 10.671/03 dispôs que a entidade responsável pela organização da competição, bem como os seus dirigentes, respondem solidariamente com a entidade de prática desportiva, detentora do mando de campo, independentemente da existência de culpa, pelos prejuízos causados ao torcedor que decorram de falhas de segurança nos estádios ou da inobservância de quaisquer das regras de segurança dispostas no estatuto (responsabilidade civil objetiva). Sobre esta questão é a análise do pensamento de Décio Luiz José Rodrigues2: Quando se fala em responsabilidade independentemente de culpa, estamos diante da chamada responsabilidade objetiva, que se caracteriza pela ocorrência do evento, do fato ou do prejuízo independentemente de alguém ter causado isso por sua vontade (dolo) ou por imprudência, negligência ou imperícia (culpa). Todavia, pela redação do dispositivo, por mencionar prejuízos causados a torcedor que “decorram, de falhas de segurança nos estádios ou da inobservância do disposto no capítulo que trata da segurança do torcedor nos estádios”, forçoso parece-nos concluir que haveria necessidade de prova de “culpa das entidades responsáveis pela organização da competição, de seus dirigentes, da entidade detentora do mando do jogo e de seus dirigentes”. E assim, penso, que quando se fala em “falha” ou “inobservância”, estamos nos referindo a “culpa” juridicamente, devendo, portanto, haver imprudência, negligência ou imperícia e que tais tenham causado o prejuízo (RODRIGUES. 2003. pp. 24-25). Tal como se observam dos comentários acima transcritos, as ressalvas acerca da necessidade de que o dano tenha sido causado em virtude de falhas de segurança nos estádios ou inobservância das regras de segurança dispostas no estatuto, terminam por transparecer a necessidade de ocorrência da culpa, decorrente da negligência ou da imperícia dos dirigentes e entidades desportivas envolvidas no evento. No entanto, não basta aos organizadores do evento a tomada de todas as precauções possíveis à contenção de sinistros envolvendo os espectadores. É necessário que não ocorram os incidentes, caso contrário, indiscutivelmente,terá falhado a segurança, caracterizando-se a negligência ou a imperícia dos seus responsáveis. 2 RODRIGUES, Décio Luiz José. Direitos do torcedor e temas polêmicos do futebol, 1ª ed., São Paulo, RIDEEL, 2003, p. 24-25. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 8 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 8 Unidade: Esta tuto do Torcedor Como sempre haverá culpa in eligendo na ocorrência de fato que traga prejuízos a torcedor partícipe de evento esportivo (Conforme lição de César FIUZA (Novo Direito Civil, Curso completo de acordo com o Código Civil de 2002. 6. Ed., Belo Horizonte: Del Rey, 2003, p. 608), “será in vigilando a culpa, se for fruto da falha no dever de vigiar. A culpa in eligendo é aquela que resulta da má escolha. Quando se escolhe mal uma pessoa para desempenhar certa tarefa, resultando danos, a responsabilidade é daquele que escolheu mal.), uma vez que existe, solidariamente, o dever de garantia de segurança a este torcedor por parte da entidade de prática desportiva, da organizadora da competição e de seus dirigentes, e a ocorrência de tal fato será conseqüência de falha no sistema de segurança do evento, a responsabilidade civil, in casu, será sempre inafastável, mesmo que caracterizada como subjetiva” (sempre haverá a presença do elemento culpa). c) Dos ingressos De acordo com o art. 20 do Estatuto de Defesa do Torcedor (Lei 10.671/03), “É direito do torcedor partícipe que os ingressos para as partidas integrantes de competições profissionais sejam colocados à venda até setenta e duas horas antes do início da partida correspondente”. Quando não for possível definir, com antecedência de 4 dias, se o jogo será ou não realizado, ou quando as equipes participantes forem definidas a partir de jogos eliminatórios, o prazo referido será de quarenta e oito horas e não de setenta e duas horas. Além desta disposição do art. 20, o Estatuto do Torcedor tem outra inovação de grande importância: a exigência de descentralização dos pontos de venda das entradas das partidas que compõem as competições de âmbito nacional ou regional de primeira e segunda divisão. Nestes eventos, a entidade de prática desportiva detentora do mando de campo deverá disponibilizar pelo menos “cinco postos de venda localizados em distritos diferentes da cidade”, conforme a redação do § 5º do mesmo art. 20. A exigência de fornecimento de comprovante de pagamento ao torcedor- consumidor, logo após a aquisição dos ingressos, também se configura como uma importante inovação do Estatuto do Torcedor. Era muito comum nos principais estádios de futebol do Brasil que o torcedor, após adentrar as dependências internas do estádio, não mantivesse em sua posse qualquer comprovante de pagamento do ingresso. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 9 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 9 Unidade: Esta tuto do Torcedor O Estatuto do Torcedor também exigiu que laudos técnicos atestassem a real capacidade de público dos estádios brasileiros, bem como que, em todos eles, fossem demarcados os assentos destinados a cada torcedor. O Estatuto não dispôs acerca do valor a ser cobrado pelos ingressos, limitando-se a afirmar o direito do torcedor de fazer constar no seu ingresso o preço pago por ele e também que os valores dos ingressos destinados a um mesmo setor do estádio não poderão ser diferentes entre si, nem diversos daqueles divulgados antes da partida pela entidade detentora do mando de jogo, salvo nos casos de venda antecipada de carnê para um conjunto de, no mínimo, três partidas de uma mesma equipe, bem como na venda de ingressos com redução de preço decorrente de previsão legal. O art. 39, X, do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) considera como prática abusiva vedada ao fornecedor de produtos ou serviços “elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços”. O torcedor que sentir-se lesado com aumento considerado abusivo poderá questionar judicialmente o valor cobrado pelo ingresso, uma vez que é direito básico do consumidor a proteção contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços. Por fim, de acordo com o art. 23, § 2º, I e II, do Estatuto do Torcedor, estará sujeita a perda de mando de campo, por um período mínimo de seis meses, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, a entidade desportiva detentora do mando de campo que coloque a venda um número de ingressos superior à capacidade de público do estádio ou que permita o ingresso, às dependências internas do estádio, de um número de pessoas maior do que a capacidade deste. d) Do transporte É garantido ao torcedor o acesso a transporte seguro e organizado; a ampla divulgação das providências tomadas em relação ao acesso ao local da partida seja em transporte público ou privado e a organização das imediações do estádio em que será disputada a partida, bem como suas entradas e saídas, de modo a viabilizar, sempre que possível, o acesso seguro e rápido ao evento, na entrada, e aos meios de transporte, na saída. (art. 26) A entidade responsável pela organização da competição e a entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo solicitarão formalmente, direto ou mediante convênio, ao Poder Público competente: I - serviços de estacionamento para uso por torcedores partícipes durante a realização de eventos esportivos, assegurando a estes acesso a serviço organizado de transporte para o estádio, ainda que oneroso; e II - meio de transporte, ainda Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 10 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 10 Unidade: Esta tuto do Torcedor que oneroso, para condução de idosos, crianças e pessoas portadoras de deficiência física aos estádios, partindo de locais de fácil acesso, previamente determinados (art. 27). No entanto estas disposições ficam dispensadas, na hipótese de evento esportivo realizado em estádio com capacidade inferior a 10.000 (dez mil) pessoas (art. 27, PU). O clube de futebol detentor do mando de campo e seus dirigentes não podem ser responsabilizados por um sinistro para o qual não concorreram sequer com culpa, sendo totalmente desproporcional o entendimento de que haveria responsabilização dos mesmos em virtude de danos ocorridos no interior dos meios de transporte coletivo ou particular. Assim, as únicas possibilidades possíveis de se vislumbrar acerca da responsabilização de clubes e dirigentes por danos causados a torcedores no interior de meio de transporte utilizado para o acesso ao estádio seriam aquelas nas quais o transporte fosse fornecido pela própria entidade responsável pelo evento esportivo ou quando o referido dano viesse a ocorrer nas imediações do estádio, quando passa a existir o dever de segurança do torcedor partícipe do evento por parte dos seus organizadores. e) Da alimentação e da higiene De acordo com o § 1º do art. 28, é dever do poder público, por meio de seus órgãos de vigilância sanitária, verificar o cumprimento das normas básicas de higiene referentes às instalações físicas do estádio e também dos produtos alimentícios comercializados em seu interior. Os dirigentes da entidade de prática desportiva detentora do mando de campo e da entidade organizadora do evento poderão ser suspensos por seis meses de suas atividades, caso não viabilizem a consecução dos direitos do torcedor. É vedada, da mesma forma, a imposição de preços excessivos ou o aumento sem justa causa dos preços dos produtos alimentícios comercializados no interior dos estádios, podendo o torcedor fazer uso dos seus direitos básicos de consumidor, propugnados no art. 6º do Código de Defesa do Consumidor c.c. art.39, X, do mesmo instrumento local. Segundo o art. 29 do Estatuto, “é direito do torcedor partícipe que os estádios possuam sanitários em número compatível com sua capacidade de público, em plenas condições de limpeza e funcionamento”. A sanção imposta aos responsáveis pela violação desse dispositivo legal é aquela prevista no art. 37, II, do Estatuto do Torcedor. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 11 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 11 Unidade: Esta tuto do Torcedor f) Da relação do torcedor com a arbitragem esportiva O Estatuto do Torcedor, em seu capítulo VIII (art. 30 ao 32) instituiu como direito do torcedor que a arbitragem das competições desportivas seja independente, imparcial, previamente remunerada e isenta de pressões, sendo da entidade de administração do desporto ou da liga organizadora do evento esportivo a responsabilidade pela remuneração do árbitro e de seus auxiliares. A entidade desportiva detentora do mando de campo de jogo e aos seus dirigentes, caberá, com o auxílio dos agentes públicos de segurança, garantir a integridade física do árbitro e de seus auxiliares, conforme disposto no art. 31 do Estatuto. Por essa razão, é dever das entidades de administração do desporto contratar seguro de vida e acidentes pessoais, tendo como beneficiária a equipe de arbitragem, quando exclusivamente no exercício dessa atividade. (art. 31 - A). Visando garantir a moralidade desportiva, o Estatuto instituiu, em seu art. 32, uma das suas regras mais polêmicas: a necessidade de sorteio para a escolha dos árbitros de cada partida de uma competição, com antecedência mínima de 48 horas da realização de cada rodada, em local previamente definido e aberto ao público, garantida sua ampla divulgação. Discordamos da regra estampada no art. 32 do Estatuto do Torcedor, por entendermos tratar-se de uma medida paliativa de forte conotação demagógica, que não tem eficácia real na prevenção da corrupção e na consecução dos princípios da moralidade, independência e imparcialidade da arbitragem nas competições desportivas. g) Da relação do torcedor com a entidade de prática desportiva A cada entidade de prática desportiva fará publicar documento que contemple as diretrizes básicas de seu relacionamento com os torcedores, disciplinando, obrigatoriamente: I - o acesso ao estádio e aos locais de venda dos ingressos; II - mecanismos de transparência financeira da entidade, inclusive com disposições relativas à realização de auditorias independentes e III - a comunicação entre o torcedor e a entidade de prática desportiva que poderá, dentre outras medidas, mediante a instalação de uma ouvidoria estável; a constituição de um órgão consultivo formado por torcedores não sócios; ou pelo reconhecimento da figura do sócio-torcedor, com direitos mais restritos que os dos demais sócios. (art. 33) Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 12 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 12 Unidade: Esta tuto do Torcedor h) Da relação do torcedor com a Justiça Desportiva A fim de garantir publicidade, transparência, independência e moralidade a Justiça Desportiva, visando proteger o torcedor, a Lei 10.671/03, em seu capítulo X, dedicou três dos seus artigos a esta fundamental instituição, constitucionalmente reconhecida pelo art. 217, § 1º da Carta Magna de 1988. Dispõe o art. 34 do estatuto do Torcedor que os órgãos da Justiça Desportiva, no exercício de suas funções, deverão observar, por ser direito do torcedor, os princípios da impessoalidade, da moralidade, da celeridade, da publicidade e da independência. O art. 35 do mesmo estatuto obriga que as decisões proferidas pela Justiça Desportiva sejam motivadas e tenham publicidade, vedando o segredo de justiça e exigindo a disponibilização de tais decisões na internet. As decisões proferidas que não observarem o disposto dos dois artigos supracitados serão consideradas nulas (art. 36). O capítulo XI do Estatuto do Torcedor dispõe acerca das penalidades aplicáveis àqueles que vierem a descumprir as suas regras. No seu art. 37, o Estatuto do Torcedor estabelece que, sem prejuízo de outras sanções cabíveis, entidades de administração do desporto, ligas ou entidades de prática desportiva que violarem suas disposições, incidirão, observado sempre o devido processo legal, nas penalidades de: I – destituição de seus dirigentes, na hipótese de violação das regras de que tratam os capítulos II, IV e V; II – suspensão por seis meses de seus dirigentes, por violação de outros dispositivos da lei, não referidos nos capítulos mencionados; III – impedimento de gozar de qualquer benefício fiscal em âmbito federal; e IV – suspensão, por seis meses, dos repasses de recursos públicos federais da administração direta e indireta. Serão considerados dirigentes, para fins do art. 37, o presidente da entidade responsável pela infração, ou aquele que lhe faça às vezes, bem como o dirigente que tiver praticado a infração, ainda que por omissão, podendo tais dirigentes, e também qualquer pessoa que, direta ou indiretamente, puderem interferir prejudicialmente na completa elucidação dos fatos, serem afastados provisoriamente de suas funções, até a decisão final. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir, segundo o § 2º do mesmo art. 37 e no âmbito de suas competências, multas em razão do descumprimento das normas expostas no Estatuto. Ao torcedor que promover tumulto, praticar ou incitar a violência, num raio de cinco mil metros do local de realização do evento esportivo, ou invadir local restrito aos competidores, estabelece o art. 39 do Estatuto à sanção de impedimento de comparecimento às proximidades e ao local de realização de Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 13 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 13 Unidade: Esta tuto do Torcedor qualquer evento esportivo, pelo prazo de três meses a um ano, de acordo com a gravidade da conduta, sem prejuízo de outras sanções cabíveis. Já o art. 39-A do Estatuto penaliza a torcida organizada que, em evento esportivo, promover tumulto; praticar ou incitar a violência; ou invadir local restrito aos competidores, árbitros, fiscais, dirigentes, organizadores ou jornalistas, a qual restará impedida, assim como seus associados ou membros, de comparecer a eventos esportivos pelo prazo de até 3 (três) anos. Aliás, é importante destacar que para os efeitos previstos no Estatuto, considera-se torcida organizada, a pessoa jurídica de direito privado ou existente de fato, que se organize para o fim de torcer e apoiar entidade de prática esportiva de qualquer natureza ou modalidade, com obrigação de manter cadastro atualizado de seus associados ou membros, o qual deverá conter, pelo menos, as seguintes informações: I - nome completo; II - fotografia; III - filiação; IV - número do registro civil; V - número do CPF;VI - data de nascimento; VII - estado civil; VIII - profissão; IX - endereço completo; e X – escolaridade (art. 2°). É certo, ainda, que a torcida organizada responde civilmente, de forma objetiva e solidária, pelos danos causados por qualquer dos seus associados ou membros no local do evento esportivo, em suas imediações ou no trajeto de ida e volta para o evento. (art. 39-B) É imprescindível que o Estatuto de Defesa do Torcedor, instrumento moralizador do nosso desporto profissional, seja cumprido e tenha, assim, efetividade. O desporto, em especial o futebol, é um elemento primordial da nossa cultura, devendo ser preservado como um patrimônio nacional. O torcedor, como consumidor que é, tem não só o direito, mas também o dever, de exigir a aplicação do Estatuto do Torcedor, para que estenão se torne mais um instrumento decorativo na nossa vasta coleção de leis, portarias, resoluções e decretos. O Estado, por sua vez, não pode se eximir do cumprimento de sua finalidade primordial, que é garantir a segurança pública e a plena efetivação dos seus princípios fundamentais, reprimindo a violência e disponibilizando o acesso do cidadão aos instrumentos garantidores da elevação de sua dignidade pessoal e da construção do bem-estar social. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 14 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 14 Unidade: Esta tuto do Torcedor i) Dos crimes O Estatuto criminaliza no artigo 41-B, a conduta do torcedor que “promover tumulto, praticar ou incitar a violência, ou invadir local restrito aos competidores em eventos esportivos” com pena de reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa, incorrendo nas mesmas penas aquele que: I - promover tumulto, praticar ou incitar a violência num raio de 5.000 (cinco mil) metros ao redor do local de realização do evento esportivo, ou durante o trajeto de ida e volta do local da realização do evento e II - portar, deter ou transportar, no interior do estádio, em suas imediações ou no seu trajeto, em dia de realização de evento esportivo, quaisquer instrumentos que possam servir para a prática de violência. Neste caso, na sentença penal condenatória, o juiz deverá converter a pena de reclusão em pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, pelo prazo de 3 (três) meses a 3 (três) anos, de acordo com a gravidade da conduta, na hipótese de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido anteriormente pela prática de condutas previstas no artigo acima indicado. Deverá, ainda, o juiz determinar na sentença a obrigatoriedade suplementar de o agente permanecer em estabelecimento indicado pelo juiz, no período compreendido entre as 2 (duas) horas antecedentes e as 2 (duas) horas posteriores à realização de partidas de entidade de prática desportiva ou de competição determinada. Vale destacar, no entanto, que a pena impeditiva de comparecimento às proximidades do estádio, bem como a qualquer local em que se realize evento esportivo, converter-se-á em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. Luiz Flávio Gomes3 informa que, diferentemente do artigo 39-A que cuidou da conduta pertinente às torcidas organizadas, o artigo 41-B especificou o crime a ser imputado de maneira individual àquele que se porta de maneira a causar transtornos nos estádios de competição esportiva. Com o apenamento apresentado por sua norma secundária, é de se concluir que estamos diante de uma infração penal de menor potencial ofensivo (já que sua pena máxima é igual a dois anos – art. 61 da Lei 9.099/95), logo incidentes todos os benefícios despenalizadores da Lei dos Juizados Especiais. 3 GOMES, Luiz Flávio. O "novo" Estatuto do Torcedor e o populismo penal. Disponível em http://www.lfg.com.br - 17 de setembro de 2010. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 15 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 15 Unidade: Esta tuto do Torcedor E prossegue o renomado jurista ao informar que o próprio artigo 41-B trata da medida despenalizadora a ser imposta no caso de o agente ser primário, ter bons antecedentes e não ter sido punido anteriormente pela mesma prática, qual seja: a conversão da pena de reclusão no impedimento de comparecer às proximidades de qualquer evento esportivo, pelo período de três meses a três anos. Por outro lado, os crimes constantes nos artigos 41-C a 41-G do Estatuto cuidam da conduta íntegra que deve se apresentar nos ambientes esportivos, seja no que tange à veracidade do resultado das competições (Art. 41-C, 41- D e 41-E), seja na obtenção de vantagens quando da venda dos ingressos dos eventos (Art. 41-F e 41-G). Já a conduta “Solicitar ou aceitar”, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva é apenada com reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa (art. 41-C). As alterações promovidas pela Lei 12.299/10, também criminalizam a conduta do chamado “cambista”. Assim, o artigo 41-F criminaliza a consulta “vender ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no bilhete, que é apenada com reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa”. Já o artigo 41-G prevê que a conduta “fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete” é apenada com reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa. Neste caso, a pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o agente for servidor público, dirigente ou funcionário de entidade de prática desportiva, entidade responsável pela organização da competição, empresa contratada para o processo de emissão, distribuição e venda de ingressos ou torcida organizada e se utilizar desta condição para os fins previstos no artigo em comento. Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 16 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 16 Unidade: Esta tuto do Torcedor Material Complementar Uma vez que Educação a Distância oferece ao aluno a oportunidade de organizar sua aprendizagem e buscar outras bases de conhecimento, é indicado, como material de estudo complementar, para um aprofundamento nesta unidade 5, que o aluno consulte os sites: − Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor- IDEC: http://www.idec.org.br − Fundação PROCON/SP: http://www.procon.sp.gov.br/ − Blog do jornalista Vitor Birner, que versa sobre as atualidades do mundo esportivo: http://blogdobirner.virgula.uol.com.br − Site que lista todas as principais torcidas organizadas e apresenta a visão destes torcedores: http://www.organizadasbrasil.com Depois de ler o material e informar-se sobre o assunto, vamos pôr em prática esses conhecimentos nas atividades! Bom trabalho! http://www.idec.org.br/ http://www.procon.sp.gov.br/ http://blogdobirner.virgula.uol.com.br/ http://www.organizadasbrasil.com/ Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 17 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 17 Unidade: Esta tuto do Torcedor Anotações _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ Campus Virtual Cruzeiro do Sul | 18 | www.cruzeirodosulvirtual.com.br 18 Unidade: Esta tuto do Torcedor www.cruzeirodosul.edu.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000
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