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Transtorno obcessivo- compulsivo Psiquiatria O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é representado por um grupo diverso de sintomas que incluem pensamentos intrusivos, rituais, preocupações e compulsões. Essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento grave à pessoa. Elas consomem tempo e interferem significativamente em sua rotina normal, em seu funcionamento ocupacional, em atividades sociais ou nos relacionamentos. Uma obsessão é um pensamento, um sentimento, uma ideia ou uma sensação recorrentes ou intrusivos. Diferentemente de ua obsessão, que é um evento mental, uma compulsão é um comportamento. De forma específica, uma compulsão é um comportamento consciente, padronizado e recorrente, como contar, verificar ou evi-tar. Um indivíduo com TOC percebe a irracionalidade da obsessão e sente que tanto ela quanto a compulsão são egodistônicas (i.e., comportamentos indesejados). A conclusão do ato compulsivo pode não afetar a ansiedade e até aumentar sua intensidade. A ansiedade também é aumentada quando uma pessoa resiste em executar uma compulsão. O TOC está enquadrado no transtorno Obsessivo-compulsivo e Transtornos Relacionados e é caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões Os sintomas podem ter impacto relevante na autoestima e na vida acadêmica, ocupacional e social. O TOC costuma ser subdiagnosticado e subtratado, pois os pacientes frequentemente ocultam seus sintomas pela vergonha da irracionalidade dos seus pensamentos e comportamentos. Epidemiologia Prevalência ao longo da vida: 2 a 3% • TOC o quarto diagnóstico psiquiátrico mais comum depois da fobia, de transtornos relacionados a substâncias e do transtorno depressivo maior. A idade média de início é por volta dos 20 anos, apesar de os homens apresentarem uma idade um pouco menor de início (média de 19 anos, aproximadamente) do que as mulheres (média de 22 anos, aproximadamente). Em geral, os sintomas de cerca de dois terços das pessoas afetadas têm início antes dos 25 anos, e os sintomas de menos de 15% têm início após os 35 anos. O início do transtorno pode ocorrer na adolescência e na infância, em alguns casos até aos 2 anos de idade. Nos adultos, há uma proporção semelhante entre homens e mulheres. Nos meninos, a idade de início costuma ser mais precoce, o que possivelmente contribui para a preponderância desse sexo nas amostras de TOC na infância e na adolescência. Mais comum em solteiros (dificuldade em relacionamentos) e negros (assistência médica). Etiologia Nesse transtorno, suspeita-se que haja uma disfunção orbitofrontal-límbica-gânglios basais, e o tratamento com inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) ou terapia cognitivo-comportamental (TCC) Sintomas semelhantes a TOC foram relatados em crianças após infecção estreptocócica de grupo AB-hemolítico, tendo sido chamados de transtornos pediátricos neuropsiquiátricos autoimu-nes associados a estreptococo (PANDAS). Acredita-se que sejam o resultado de um processo autoimune que leva a inflamação dos gânlios da base que perturba o funcionamento do eixo córtico-es-triatal-talâmico. Existe algum interesse em uma ligação positiva entre infecção estreptocócica e TOC. Infecção estreptocócica de grupo AB-hemolítico pode causar febre reumática, e aproximadamente 10 a 30% dos pacientes desenvolvem coreia de Sydenham e exibem sintomas obsessivo-compulsivos. Vários estudos funcionais de tomografia cerebral – por exemplo, tomografia por emissão de pósitrons (PET) – demonstraram atividade aumentada (p. ex., metabolismo e fluxo sanguíneo) nos lobos frontais, nos gânglios da base (especialmente o caudado) e no cíngulo de pacientes com TOC. Os estudos de tomografia computadorizada (TC), assim como os de ressonância magnética (RM), encontraram caudados bilateralmente menores em pacientes com TOC. Dados genéticos disponíveis sobre o TOC sustentam a hipótese de que o transtorno tem um componente genético significativo. Familiares de probandos com TOC consistentemente têm uma probabilidade 3 a 5 vezes maior de apresentar características de TOC do que famílias de probandos- controle. Estudos de concordância para o transtorno com gêmeos encontraram índices de concordância bem mais altos para os monozigóticos do que para dizigóticos. Estudos de EEG do sono encontraram anormalidades semelhantes às dos transtornos depressivos, tais como latência re-duzida do movimento rápido dos olhos. Pesquisas sugerem que o TOC possa ser precipitado por diversos estressores ambientais, sobretudo aqueles que envolvem gravidez, nascimento ou o cuidado de crianças. Promove alterações estruturais e funcionais no cérebro dos pacientes. Apesar dos dados conflitantes, sugere-se que, no TOC, haja o envolvimento do sistema serotoninérgico: evidências indiretas bem documentadas dos efeitos antiobsessivos dos potentes ISRS. Há evidências de cotransmissão de TOC, síndrome de Tourette e tiques motores crônicos em famílias. Não há fator ambiental específico associado, mas sabe-se que infecção estreptocócica pode o causar súbito aparecimento de sintomas obsessivo-compulsivos por anticorpos dirigidos contra os gânglios basais. Quadro clínico O TOC geralmente surge na adolescência ou início da idade adulta, de maneira insidiosa, com evolução crônica e progressiva. Na maioria dos casos, não há fator precipitante do início dos sintomas. Há alguns padrões sintomáticos principais: obsessão de contaminação seguida de lavagens ou esquiva compulsiva do “objeto contaminado”; obsessão de dúvida seguida de compulsão de verificação; pensamentos obsessivos sem compulsão; necessidade de simetria e precisão com alentecimento; acumulação. Outros: obsessões de conteúdo agressivo, sexual ou religioso, compulsões de repetição ou contagem etc. Como parte dos critérios diagnósticos do TOC, o DSM-5 permite aos médicos que indiquem se o TOC do paciente é caracterizado por insight bom ou razoável, insight pobre ou insight ausente. Pacientes com insight bom ou razoável reconhecem que suas ideias do TOC definitiva ou provavelmente não são verdadeiras, ou podem ou não ser verdadeiras. Os com insight pobre acreditam que suas ideias do TOC são provavelmente verdadeiras, e aqueles com insight ausente estão convencidos de que suas ideias são verdadeiras. Padrão de sintomas O padrão mais comum é uma obsessão de contaminação, seguida de lavagem ou acompanhada de evitação compulsiva do objeto que se presume contaminado. O objeto temido costuma ser difícil de evitar (p. ex., fezes, urina, pó ou germes). Os pacientes podem literalmente arrancar a pele das mãos se lavando demais ou não conseguir sair de casa por medo dos germes. Apesar de a ansiedade ser a resposta emocional mais comum ao objeto temido, vergonha e nojo obsessivos também são frequentes. Indivíduos com obsessão por contaminação costumam acreditar que ela se espalha de objeto para objeto ou de pessoa para pessoa com mínimo contato. O segundo padrão mais comum é uma obsessão de dúvida, seguida de uma compulsão por ficar verificando. A obsessão costuma implicar algum perigo de violência (p. ex., esquecer de desligar o fogão ou de trancar uma porta). A verificação pode envolver múltiplas viagens de volta para casa para verificar o fogão, por exemplo. Esses indivíduos têm dúvidas obsessivas sobre si mesmos e sempre se sentem culpados achando que esqueceram ou cometeram algo. No terceiro padrão mais comum, há pensamentos obsessivos intrusivos sem uma compulsão. Tais obses-sões costumam ser pensamentos repetitivos de um ato agressivo ou sexual repreensível para o paciente. Os pacientes obcecados com pensamentos de atos sexuais ou agressivos podem se reportar à polícia ou se confessar a um padre. As ideias suicidas também podem ser obsessivas, mas uma avaliação cuidadosa sobre os riscos de suicídio deve sempre ser feita. O quarto padrão mais comum é a necessidade de simetria ou precisão, que pode levar a uma compulsão de lentidão. Os pacientes podem literalmente levar horas para terminar uma refeição ou fazer a barba. Obsessõesreligiosas e acúmu-lo compulsivo são comuns em pacientes com TOC. Puxar o cabelo e roer as unhas de maneira compulsiva são padrões comportamentais relacionados ao TOC. A masturbação também pode ser compulsiva. CURSO •De 24 a 33%: curso oscilante •De 11 a 14%: curso fásico com períodos de remissão completa •De 54 a 61%: curso crônico e progressivo •80% melhoram no decorrer de 40 anos. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL •Esquizofrenia •Depressão •Hipocondria •Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) •Transtornos fóbicos e ansiosos •Depressão pós-parto •Ruminações obsessivas da depressão •Síndrome de Tourette •Transtorno alimentares •Transtorno dismórfico corporal •Transtorno de personalidade obsessivo- compulsivo grave. As chaves para diferenciar o TOC da psicose são: (1) pacientes com TOC quase sempre podem reconhecer a natureza insensata de seus sintomas, e (2) doenças psicóticas são, em geral, associadas com diversos outros atributos que não são característicos do TOC. De modo semelhante, o TOC pode ser difícil de diferenciar da depressão, porque os dois transtornos costumam ocorrer comorbidamente, e a depressão maior costuma estar associada com pensamentos obsessivos que, às vezes, beiram a verdadeiras obsessões, como as que caracterizam o TOC. As duas condições são mais fáceis de diferenciar por seus cursos. Os sintomas obsessivos associados com depressão só são encontrados na presença de um episódio depressivo, enquanto o TOC verdadeiro persiste apesar da remissão da depressão Especificar se: Relacionado a tique: o indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique. Comorbidades Tiques: 28 a 62% dos indivíduos com síndrome de Tourette têm TOC •Transtorno opositor-desafiador (TOD) •Transtornos de humor, como depressão e transtorno afetivo bipolar •Transtornos ansiosos (pânico, transtorno de ansiedade generalizada e fobia social) •Transtornos alimentares •Abuso ou dependência de substâncias •Transtorno de controle dos impulsos, como dermatotilexomania e tricotilomania •Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). O TOC exibe uma semelhança super-ficial com o transtorno da personalidade obsessivo-compulsiva, que é associado com uma preocupação obsessiva por detalhes, perfeccio-nismo e outros traços semelhantes de personalidade * Níveis plasmáticos de clomipramina e desmetilclomipramina 12 h após a última dose devem ficar abaixo de 500 ng/mℓ pelo risco de convulsões e atraso na condução cardíaca. ISRS = inibidor seletivo da recaptação de serotonina Os efeitos iniciais costumam ser vistos após 4 a 6 semanas de tratamento, apesar de 8 a 16 semanas normal-mente serem necessárias para se obter o máximo benefício terapêutico. As principais abordagens comportamentais no TOC são a exposição e a prevenção de resposta. Dessensibilização, prevenção de pensamentos, inundação, terapia implosiva e condicionamento aversivo também foram usados em pacientes com TOC. Na terapia comportamental, os pacientes devem estar realmente comprometidos com sua melhora. Referências
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