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Novas receitas simples e deliciosas RICHARD BERTINET Novas receitas simples e deliciosas MARCO ZERO Para Lola Maude. com todo o meu amor Agradecimentos Mais uma vez. tenho uma dfv1da de grat1dao com Shella Keating por seus conselhos. crft1ca impecavel e por fazer com meus pensamentos o mesmo que eu fac;o com farinha e agua. Agradec;o a Kyle Cathie por apo1ar m1nhas ideias e me de1xar seguir em frente. A Jean Cazals pela exce lente fotograf1a. a Jenny Semple pelo design e ide1as fabulosos . a Sophie Allen por manter o trem nos trilhos e a todos da equ1pe da Kyle Cathie que partic1param na transformac;ao dos meus garranchos em um livro. A Zed Ondrousek por seu auxfl10 inestimavel na preparac;ao dos itens ea Janice Teitzel (a nossa Roo) por ser uma fortaleza quando prec1samos - voce sera sempre bem-vinda. A Elod1e Stanley por seus conselhos e d1cas sabre nutric;ao: a Bloomsbury Store. Cath Kidston e ao Bath Antiques Centre por nos emprestarem sua bela porcelana. roupa de mesa e aderec;os: e a Tim White e John Warwick pelo trabalho com os DVDs. Aos nossos inumeros cl1entes fieis da The Bertinet Kitchen. espec1almente aos que part1c1param de nossas aulas. geralmente vindos de locais d1stantes. e que nos aJudaram a 1dent1f car s1tuac;oes que eles. e outros. enfrentam ao preparar paes em casa. e aos Barson e aos Page por serem meus degustadores. Finalmente . a Aude Lebesgue por seu apo10 em casa. enquanto trabalhavamos no l1vro ea Joe as crianc;as. Jack. Tom e Lola Maude. que fazem tudo valer a pena. Richard NOTA: Todos os tempos de prepare apontados nas rece1tas sao aprex1mados e dependem do perfodo que voce levar para trabalhar sua massa. Alem disso. eles nao 1ncluem o tempo do pre-fermento. pois esse passo e rea 1zado antes do 1nfc10 do prepare do pao. Cert1f1que-se de ler as receitas cu1dadosamente antes de comec;ar. , SUMA~IE) lntrodu~ao 6 Bagels 103 Pretzels 106 Equipamentos e tecnicas 11 J gredientes 16 · rabal hando com seu forno 21 rabalhando a massa 23 escansar e dobrar 28 Bl ini de trigo-s arraceno 109 Rolinho "sushi" 110 Flamiche 112 Doc es 115 Dividi r a massa 31 Croissants 116 Mo ldar a massa 32 Variai;oes 122 Crescer 36 Croissant de amendoas 126 Preparar a casca 37 Stollen 129 E sobre o clima? 40 Brioche 133 Far breton 136 Fermenta~ao lenta 43 Biscoito de gengibre do Mr. Z 139 Meu Bath bun 140 Sollrdough (levain) e Receitas adicionais 143 out ros tipos 44 Preparando o sourdough 47 {_ Renovando o pre-fermento 52 Preparando seu pao s~rdough 54 Variai;oes 59 Baguete com pre -fermen to t Fatos e mitos 145 Sobre paes 146 lde ias para sobras de pao 152 poolish 61 Cerveja e pre-fermento poolish 65 Fornecedores 156 Metodo de aut61ise 68 Baguete com massa Tabela de medidas 157 fermentada 73 f ndice Diferentes 77 ' Pao de graos 78 Pao de farinha de espelta 81 Pao de centeio com uvas-passas 82 Pao bretao 86 Pao de farinha de uva cabernet 89 Pao de farinha khorasan 92 Ciabatta 95 Pain brie 97 1 Pao de farinha de castanha portuguesa 101 ~ I NTRODU(;AO Quando escrevi meu primeiro livro , Paes - De- liciosos , simples e contemporaneos , meu so- nho era fazer com que todos ficassem viciados em fazer pao. Eu queria manter tudo o mais simples possfvel, para que aqueles que nun- ca se consideraram capazes de prepara-los percebessem a diversao e a satisfa~ao desse trabalho . E o retorno tern sido extraordinario . Fico muito feliz quando as pessoas me dizem que aquilo que antes acreditavam ser muito 6 0 LIVRO DO PAO complicado e diffcil de fazer acabou se tornan- do uma retina. Este e-mail, enviado por uma aluna, diz tudo - e par isso que amo ensinar a preparar pao: " ... Esta manha, eu me levantei cedo e fiz o pao sozinha pela primeira vez , ea famflia intei- ra se sentou para tomar o cafe da manha com pao quente . Foi uma visao fantastical Na noite passada, eu livrei nosso congelador de 19 paes industrializados . Fiquei tao orgulhosa! " Adquirir o gosto pela panifica~ao e um 6t i- mo come~o . mas agora quero mostrar coma aplicar uma abordagem simples no prepare de massas um pouco mais comple xas. 0 sour- dough e os croissants, especialmente, sao dais tipos que todos querem aprender a fazer . Par isso, este livro e para aqueles que fazem paes, mas querem aprimorar seu trabalho , conhecer alguns tipos que precisam de um prepare mais lento, experimentar novas tecnicas e farinhas diferentes - coma a farinha de castanha por- tuguesa, a de trigo-sarraceno ou a exotica fa- rinha de uva cabernet que eu encontrei. Resolvi incluir neste livro alguns tipos de paes nos quais a textura da casca seja uma de "Nao 1;Yioorta onde voce esteJa ou cn-i que cond c;oes :.--Jba he, sempre ';3 uma forria de fazer L.m pouco de mag1ca corn fan""'ha e ag~a." suas principais caracterfsticas - como no caso do sourdough ou da baguete. A casca obriga a mastigar bem o pao, aumentando a produc;ao de saliva que contem as enzimas responsaveis pela quebra dos carboidratos, para que a di- gestao ocorra da forma apropriada. Por outro lado, o pao de forma industrializa- do, macio (e, algumas vezes, completamente "sem casca"), altamente processado e repleto de aditivos, exige pouca mastigac;ao e frequen- temente nao e digerido de forma adequada, deixando uma sensac;ao de inc hac;o ou a im- pressao de que se trata de uma alergia ao trigo - falaremos sobre isso adiante, no Capftulo 5. Quando se faz pao ha muito tempo, trabalhar a massa se torna uma ac;ao rotineira. Vai alem da tecnica. Voce comec;a a compreender as ligeiras variac;oes de comportamento da massa conforme a temperatura e o clima - seco ou umido - e ins- tintivamente acaba se ajustando. Lembre-se de INTRODU<;:Ao 7 "Nunca pararros de dcscobr1r d1fercntes :ecnicas Ou ngred1en~es quc podem trazer ulT'a nova d1mc~1sao a este :rabalho .. que estamos falando sobre algo organico , que se modifica, cresce e reage. Ao trabalhar em outra cozinha - por exemplo , quando fac;o demonstra - <;6es em locais onde a temperatura (isso sem falar do forno) e inevitavelmente diferente - , me pego adicionando um pouco mais de agua, um pouco menos de fermento biol6gico , diminu indo o tempo de fermentac;ao ... Ao fazer paes todo s os dias , o cerebra parece conectar-se aos ingre- 8 0 LIVRO DO PAO dientes , as cond i<;oes do ambiente, e a massa que sera preparada mesmo antes de se enfiar a mao no saco de farinha . Nao importa onde voce esteja ou em que condi<;oes trabalhe, sempre ha uma forma de fazer um pouco de magica com farinha e agua. Tudo isso e extremamente importante em uma padaria, pois os clientes esperam que o pao man- tenha o mesmo padrao, todos os dias. Na Franc;a, minha terra natal, se o pao esta bonito num dia, mas nao tao bonito no outro, os clientes simples- mente irao comprar em outra padaria. E claro que em casa esse grau de perfeic;ao e menos importan- te do que o fato de estar preparando algo born e saudavel para voce e sua famflia. Se voce seguir as receitas e tecnicas deste livro, o resultado sera um pao saboroso e de qualidade, independentemente das peculiaridades de sua cozinha, ou dos capri- chos do tempo, mas tambem ira notar que em certos dias a massa se comportara de forma ligeira- mente diferente, ou seu pao fica- ra melhor do que o normal. Assim, ao longo do livro, que- rn ajuda-lo a entender um pouco mais sobre como a massa traba- lha, para que voce tambem seja capaz de ajustar o preparo auto- maticamente e fazer paes de ex- celente qualidade todos os dias. Em minhas aulas de panificac;ao, deixo todos entediados repetindo que um padrao estavel de quali- dade e resultado de pratica. Mas e verdade. Quanto mais produzir, mais acostumado voce estara a sua massa. Procure inserir o preparo de paes em seu cotidiano. Pessoalmente, se estou assandopao em casa, e sempre no fim da noite ou de manha bem cedo. Por alguma razao, nunca gostei de fazer pao no perfodo da tarde. Talvez seja um regresso aos meus tempos de aprendiz, quan- do costumava me levantar as 2 horas. Meu gato f1cava esperando ao !ado da cama e entao pulava para se aninhar no local quente , enquanto eu tinha que sair para o ar gelado. Mas o frio sempre me despertava rapidamente, e eu ficava alerta e pronto para comec;ar a assar. Alguns paes deste livro sao um pouco mais de- safiadores, mas isso nao significa que o leitor sera bombardeado com terminologias e tecnicas com- plicadas, ou que precisara de um forno diferente. Todos os paes deste livro podem ser assados nor- malmente em casa. Assim como fac;o em minhas au las na escola de culinaria, neste livro , conduzo o leitor atraves das receitas de forma simples e apresento algumas variac;oes que podem ser experimentadas depois que ele tenha dominado o conceito basico de cada estilo de pao. Tambem dou algumas ideias sobre combinac;oes com pratos variados e oferec;o recei- tas simples para sobras de pao - na Franc;a, acreditamos que existe um tipo diferente de pao para cada prato e desde cedo aprendi que nenhum pao deve jamais ser desperdic;ado. Espero que voce aprecie algumas ideias no- vas e lembre-se de que, mesmo que ja se fac;a paes ha muitos anos, sempre e possfvel desco- brir diferentes tecnicas ou ingredientes que pos- sam trazer uma nova dimensao a este trabalho. Essa e a alegria do mundo da panificac;ao - e como um enorme , colorido e emocionante que- bra-cabec;as que tern sido montado pelos seres humanos de todo o mundo por seculos, mas que nunca estara completo. INTRODUCAO 9 EQUIPAMENTOS Uma das grandes vantagens em fazer pao e que nao e precise possu1r uma infin1dade de equ1pamentos extravagantes - apenas suas maos e alguns 1tens bas1cos. No entanto. perceb1 que quando as pessoas passam a preparar paes com frequenc1a. gostam de se presentear com certos utensfl1os "espec1al1zados". que os pade1ros costumam usar ... 1. Jarra medidora - para medtr e despeJar lfqu1dos. 2. Tigela de a1;0 inoxidavel - A mtnha e grande o bas- tante para acomodar pelo menos 4 kg de massa. Eu a utll1zo para m1sturar. descansar e. algumas vezes. para de1xar a massa fermentar. 0 ac;o 1nox1davel e fact! de ltmpar. res1stente a quedas. levee simples de manusear. Uma t1gela de porcelana pode ser bon1ta. mas nao e tao prat1ca. e uma parte fundamental do trabalho de pan1f1- cac;ao e se sent1r confortavel. 3. Faca para cortar a massa - Quando prepare croissants e prec1so cortar a massa com prec1sao. em forma de tnan- gulo. em vez de usar a ponta do raspador (veJa item 9). eu ut1l1zo uma faca do chefe de lamina grandee cega. ass1m. posso fazer o corte dtretamente sobre a m1nha tabua de made1ra sem danif1ca-la. 4. Faca para pao - Quando alguem prepara o pr6pno pao. acredito que merec;a se valorizar - por isso. 1nv1sta em uma faca grandee serrilhada. que seJa apropriada para pao. 5. Tesoura afiada - As vezes e bastante decorat1vo e ef1caz fazer o corte na parte superior do pao. antes de assar. com uma tesoura em vez de usar uma lamina. E ass1m que eu fac;o com o Pao de Farinha de Castanha Portuguesa (veJa p. 101). 6. Pincel culinario - Para croissants. brioches ou ou- tros paes que sao p1ncelados com ovo (um ovo bat1do com uma p1tada de sal) antes de 1rem para o forno. 12 0 LIVRO DO PAo 7. Aramado - Quando o pao quente acaba de sa1r do forno. ele e 1nd1gesto (sa1ba mats sobre este assunto no Capftulo 5). por 1sso. coloque-o para esfriar sobre um aramado ou em uma cesta de v1me antes de servtr. 8 . Assadeiras - Voce prec1sara delas para de1xar a massa crescer e para assar. com ou sem a pedra de assar (veJa p. 21). Se nao t1ver uma pa de made1ra dtsponfvel (veJa item 17). voce pode ut1l1zar o fundo de uma assade1ra v1rada ou uma assade1ra rasa. sem bordas. para desl1zar a massa para o forno. 9. Raspadores de plastico ou metal - Meus raspadores de plast1co sao. provavelmente. meus utensfl1os favori- tes. e func1onam como extensoes das m1nhas maos. Uso o de be1rada arredondada para mexer a massa e aJudar a remove-la da t1gela de uma s6 vez. ev1tando est1ca-la. Ut1l1zo o raspador de metal ou a be1rada reta do de plas- t1co para cortar e d1v1d1r a massa. e a arredondada para m1sturar. pois quanto menos for tocada com as maos. menos grudenta a massa se tornara ao ser trabalhada. 10. Balan<;a digital - Quando se esta coz1nhando. nor- malmente pode ocorrer alguma variac;ao nas quant1da- des de 1ngred1entes. mas a panif1cac;ao e uma c1enc1a mats exata. por 1sso e 1mportante pesar tudo com prec1- sao. E ma1s fact! conf1ar na balanc;a do que tentar ver o nfvel do 1ngred1ente em uma Jarra. por 1sso eu peso ate a agua ou qualquer outro lfqu1do usado. ass1m como os ovos. Voce pode estar se perguntando: por que pesar os ovos? 0 mot1vo e que quero est1mula-lo a usar os melho- res 1ngred1entes. o que s1gn1f1ca produtos organicos. e os ovos ca1p1ras (veJa pp. 19-20) mu,tas vezes vanam em tamanho. Ass,m. enquanto um ovo grande padrao (sem casca) pesa normalmente cerca de 55-60 g. o mesmo pode nao ocorrer como os ovos do seu fornecedor local. 11. Termometros - E ut1I ter um que mostre a tem- peratura amb1ente e outro de forno para venf1car se o 1nd1cador esta correto. pois saber a 1ntens1dade do ca- lor e fundamental para obter uma bela casca. A ma,or parte dos fornos possu, um ponto mats quente. por 1sso mov,mente o term6metro dentro dele para encontrar a melhor posir;ao para assar o pao. Se est1ver preparando mu,tas un1dades ao mesmo tempo. talvez seJa necessa- no troca-las de lugar durante o processo . 12. Lamina de barbear - 0 obJet,vo de nscar com um corte a superffc1e dos paes antes de leva-los ao forno e abrir a massa de modo que seJa possfvel controlar o lo- cal por onde os gases devem escapar. Ao faze-lo. voce tambem cna mats bordas crocantes formando uma bela e saborosa casca. Pode-se usar uma faca af,ada. um b1stun ou ate mesmo um est,lete. mas uma lamina presa a um cabo. conhec1da como lame de boulanger. ea ferramenta de panif,car;ao espec,al,zada e faz o tra- balho de forma raptda e l1mpa. sem repuxar ou prender. 13. Borrifador de agua - Usar um bornfador ltmpo para bornfar o 1ntenor do forno um pouco antes e depots de colocar os paes aJuda a ad1c1onar um1dade. lsso retar - da o processo de formar;ao da casca. perm1t1ndo que os gases dentro da massa se expandam apropnadamente. Sem a vaponzar;ao. a casca se forma mu,to depressa e f1ca espessa. mu,tas vezes adqu1nndo um tom ac,nzenta- do. e o pao pode nao romper no local dese1ado. A comb,- nar;ao do vapor com o calor da pedra de assar resultam em um amb1ente parec1do ao de um forno prof1ss1onal para pantf1car;ao (veJa na p. 22. Vaponzando o forno). EQUIPAMENTOS E TECNICAS 13 14. Formas - pequena (para paes com cerca de 400-600 g) e grande (800 g-1 kg). 15. Panos de prato - Eu tenho uma p1lha de panos de prato de linho. grosses. que uso para cobnr a massa enquanto ela descansa. Eles tambem podem ser usa- dos para forrar assade1ras. se voce nao t1ver um tec1do de canhamo (veJa item 20) d1sponivel. Nao use panos de prato de algodao. pois a massa 1ra grudar. Eu s1m- plesmente sacudo ou escovo bem os panos ap6s cada sessao de pan1f1cac;ao e os de1xo secar. Ja que eles terao absorv1do um pouco da um1dade da massa. Eles nun- ca sao lavaaos. pois nao quero o che1ro de sabao em p6 se m1sturando a massa. Quanto ma1s sao ut1lizados. ma1s f1cam 1mpregnados com os fermentos b1ol6g1cos e sabores natura1s. e se tornam uma parte organica do processo de panif1cac;ao. 14 0 LIVRO DO PAO 16. Cesta para crescer - Ela nao e um item 1nd1spensavel. voce pode usar uma tigela forrada com um pano de prato . As cestas de v1me forradas com tec1do de canhamosao perfe1tas para acomodar paes grandes. como o sourdough. enquanto eles crescem. 0 v1me perm1te a c1rculac;ao do ar em volta da massa e de1xa que ela respire. sem que grude no forro. Nern toda cesta para crescer e 'e1ta de v1me. Elas podem ser encontradas em d1versos matena1s. de plast1co a made1ra. e em d1ferentes for'Tlatos. Tenho algumas ces- tas de Junco. fe1tas a mao. que eram trad1c1onalmente usa- das na Bretanha. sem forro. Coloco a massa d1retamente dentro delas e. a med1da que cresce e preenche todo o cesto. ela adqu1re o padrao do Junco. dando a casca uma textura e um design bem 1nteressantes. 17. Pa de made ira - E usada pelos pade1ros para transfe- nr a massa cresc1da para a pedra de assar ou assade1ra quente no forno (veJa p. 22) e ret1ra-la para venf1car se esta assada Ela pode ser subst1tuida por uma assade1ra de borda reta ou por uma assade1ra com o fundo voltado para c1ma. mas a pa de made1ra e perfe1ta para desl1zar o pao para dentro do forno de forma rap1da e fac1I. para que a porta f1cue aberta o minimo de tempo possivel e nao haJa perda de calor. As pas podem ser encontradas em d1ferentes formatos e tamanhos. de acordo com a necess1dade para f1loes ou baguetes. No entanto. nao e necessano adqu1nr um modelo 1ndustnal1zado - e fac1I fazer uma pa usando pedac;os de compensado (para ba- guetes. voce va1 prec1sar de t1ras de aprox1madamente 40 er, de compnmento por 10-12 cm de largura). A tam- pa de uma ca1xa de champanhe de tamanho magnum pode ser uma pa de made1ra perfe1ta 18. Rolo para massa - Pessoalmente. pref1ro os rolos para massa fe1tos de made1ra. pois gosto de seu toque natural. 0 meu e mu1to especial porque fo1 fe1to para m1m. por meu av6. quando eu t1nha 16 anos. Escolha um modelo born e f1rme. nao mu1to f1no. e de um tamanho que seia confortavel para manusear. Voce prec1sara dele para abnr a massa em algumas rece1tas e para preparar o Pain Brie (veia p. 97). 19. Escova macia - Adqu1ra um p1'lcel ou escova de cer- das natura1s para ret1rar o excesso de fannha da superfi- c1e de trabalho. Eu uso apenas meu raspador e a escova para manter a bancada limpa ate term1nar o trabalho de panif1cac;ao do d1a. S6 entao eu lavo completamente a su- perfic1e da bancada com sabao e agua. caso contrano. o che1ro dos produtos de l1mpeza pode 1mpregnar a massa. 20. Tecido de canhamo - E um t1po de tela forte. como um linho bem grosso. fabncado em f1bra natural crua. usa- do para acomodar a massa moldada enquanto ela cresce. e. como sua superfic1e e bem aspera. a massa nao gruda. Ele e rig1do o bastante para ser plissado e. ass1m. e capaz de manter baguetes ou paes redondos separados. ou pode ser usado para forrar uma cesta para crescer (veJa item 16). 0 tec1do de canhamo nao e essenc1al - ele pode ser subst1tuido por uma assade1ra forrada com um pano de prato - mas e um dos 1tens que note1 que as pessoas real- mente gostam de usar. Escove-o e de1xe secar ap6s o uso. Cronometro - Uma xfcara de cafe e uma ferramen ta essencial na minha cozinha ... e sim , voce esta certo, eu me esqueci de colocar um cron6metro na foto principal, o que , alias, serve para comprovar o meu ponto de vista: mesmo tendo feito paes a vida toda , voce pode se es- quecer de marcar o tempo no forno . Nao ha nada pior do que passar a manha inteira preparando alegre- mente a massa, esperando que ela cres<;a, para depois deixar seu pao no forno ate virar um peda<;o de carvao , simplesmente porque se es- queceu dele. Uma dica importante: nao confie que ira se lembrar - marque o tempo! EQUIPAMEN TOS E TECNICAS 15 INGREDIENTES Ex1stem excelentes farinhas espec1a1s para pao d1sponfve1s no mercado. produz1das de mane1ra cu1dadosa e trad1c1onal para que nao percam suas caracterfst1cas natura1s. Atualmente. elas nao sao d1ffce1s de encontrar. e algumas podem ser compradas pela internet (veja p. 156. em F ornecedores). 1. Farinha de trigo especial - Para a ma1oria dos paes. voce qual1dade. nao prec,sam ser branqueadas ou tratadas va1 prec1sar de fannha de trigo especial. de boa qua idade com calor para f1carem ma1s claras. por 1sso tendem a (se possfvel organica. cuia plantac;ao nao fo1 submet1da a ter uma colorac;ao creme e um excelente aroma de tngo. produtos qufm1cos). pois e ma1s nca em protefnas do que a fannha comum. lsso s1gnifica que durante o prepare da massa ma1s gluten se forma. o que a torna ma1s elast1ca. aJuda a crescer e resulta em um pao leve e aerado. As farinhas que eu uso vem de fornecedores loca1s - mo1nhos trad1c1ona1s que moem os graos a moda ant1ga. com m6s de pedra em vez dos grandes c1l1ndros de ac;o usados nas 1ndustnas. A moagem na pedra mantem a 2. Graos - Em m1nha rece1ta de Pao de Graos na p. 78. sug1ro que voce prepare sua pr6pna combtnac;ao de graos para ser m1sturada a fannha. Entretanto. se qu1- ser usar uma m1stura pronta na rece,ta. basta somar a quant1dade de fannha e graos da l1sta de 1ngred1entes e subst1tu1r pela m1stura. temperatura reduz1da e as proteinas estave1s. 0 resultado 3. Centeio - Ele sempre ad1c1ona sabor e s1ngulanda- e naturalmente uma fannha forte que nao necess ta de de ao pao. Pref1ro usar o cente10 escuro. normalmente qualquer ad1t1vo ou "corret1vo" . frequentemente utlltza- combtnado com a fannha de tngo especial - uma pe- dos por pade1ros para aJudar a fannha comerc1al a ter um quena quant1dade como 30-40 g faz toda a d1ferenc;a melhor desempenho. Fannhas mofdas na pedra. de boa no sabor do pao - pois 100% de cente10 pode torna-lo 16 0 LIVRO DO PAo bastante pesado. a nao ser que voce use fermento (veJa p. 47) para de1xa-lo ma1s leve. 4. Farinha de uva cabernet - Essa fannha 1ncomum. pro- duz1da no Canada. nao e fe1ta a part1r de graos. mas de cascas de uvas cabernet. sobras do processo de v1nif1ca- ~ao. que sao des1dratadas e moidas. Ela possu1 uma fan- tast1ca colora~ao bordo que f1ca aparente no pao. alem de dar um toque de v1nho ao sabor (veia a rece1ta na p. 89). Como ela s6 e encontrada no Canada e na Gra-Bretanha. voce pode subst1tuHa por fannha de uva comum. 5. Semolina fina - Gosto de usar semolina f1na para polv1lhar a pa de made1ra (veia p. 14) antes de colocar a massa cresc1da para leva-la ao forno. Os graos sao como pequenas perolas que aJudam os paes a desl1zar fac1lmente de um local para outro. Pode-se usar a fan- nha de tngo comum. mas como ela que1ma com ma1s fac11idade do que a semolina. o resultado pode ser um pao com a base ma1s escura. 6. Farinha de trigo integral - Essa fannha e vista fre- quentemente como a ma1s saudavel. pois contem o grao 1nte1ro. ao passo que a fannha sem1-1ntegral contem cerca de 85% de farelo de tngo. e a branca. 75-80% . 7. Farinha de espelta - Adoro o sabor da fannha de espelta. E uma espec1e ant1ga de grao pertencente a familia do tngo. c1tada 1nclus1ve na Biblla. Por algum tempo ela f1cou esquec1da. pois o mundo optou por ou- tras vanedades de tngo. ma1s produt1vas e face1s de cult1var. mas agora. seu sabor l1ge1ramente amendoado esta novamente em voga. Embora contenha gluten. ela nao e tao forte quanto a fannha de tngo comum. por 1sso. pessoas com 1ntoleranc1a a tngo . e nae a gluten. podem cons1derar sua d1gestao ma1s fac1I. 8. Khorasan (ou Kamut® > - Este e outro t1po de tngo ant1go que. como a fannha de espelta. ca1u em desuso e agora retornou. Na America. onde e produz1do orga- nicamente em Montana. ele e conhec1do como Kamut® e. segundo a h1st6na. era usado no Eg1to ant1go e fo1 re- descoberto por um p1loto amencano na decada de 1950. No entanto. em Shipton Mill. onde compro a fannha. um estudo descobnu que seu verdade1ro nome e Khorasan e. provavelmente. teve ongem no norte do Ira. Em partes do Onente Med10 e da Asia Central. ele tern s1do cul- t1vado em s1stemas de agncultura de subs1stenc1a por seculos . A fannha e l1ge1ramente ma1s f1brosa do que a de tngo. tern umacor de are1a dourada e um excelente toque terroso . Pode-se usar somente o Khorasan. mas ele contem um t1po de gluten ma1s fraco do que o da fanriha comum. que pode de1xar a massa ma1s pesada. por 1sso acred1to que o resultado sera um pao ma1s leve se ele for m1sturado com a fannha de tngo especial 9. Fuba - E moido a part1r do m1lho e usado no prepare da polenta. Eu o ut11izo no lugar da fannha de tngo para EQUIPAMENTOS E TECNICAS 17 polvilhar a ciabatta an- tes de assar. pois da um lindo acabamento ao pao. 10. Farinha de casta- nha portuguesa - Ela vem. principalmente. da Franc;a ou da Italia e. muitas vezes. esta disponfvel apenas sa- zonalmente. par isso e possfvel que seja mui- to cara. Entretanto. ela da um sabor fantastico ao pao e nao contem gluten. Outros ingredientes Fermento biol6gico - 0 fermento e uma substancia in- crfvel. Pertence a famflia dos fungos e. aparentemente. sao necessarias dez bilhoes de celulas para fazer uma unica celula de fermento biol6gico fresco. As receitas de meu primeiro livro. Paes - Deliciosos. simples e contemporaneos. levam fermento fresco. que e feito a partir de celulas cultivadas em laborat6rio. mas aqui eu tambem introduzi leveduras naturais. coma as usadas na fabricac;ao de queiJo ou cerveja. que se multiplicam se estiverem sob as condic;oes adequadas. Eu raramente uso fermento biol6gico seco. pois acre- dito que ele tende a ser muito forte em termos de sabor e ativac;ao. Entretanto. nao custa nada manter um pouco na despensa para uma necessidade. Se utilizar o fermen- 11. Aveia - Gosto de acrescentar aveia a mistura de to seco. adquira do tipo "mistura facil" e reduza pela me- graos ao preparar o Pao de Graos (veja p. 78). Pode-se tade a sua proporc;ao em relac;ao a farinha recomenda- tambem usa-la para polvilhar a superffcie de paes rusti- da na embalagem. Em vez de primeiramente dissolve-lo cos antes de assa-los. em agua morna. esfarele diretamente na farinha. Nao e 12. Trigo-sarraceno - A maioria das pessoas pensa no trigo-sarraceno coma um ingrediente tipicamente americano. usado no preparo de panquecas. mas ele tambem e tradicional na Bretanha. onde costuma ser usado para fazer galettes salgadas. Na Franc;a. e conhe- cido coma sarrasin par causa dos sarracenos. invaso- res arabes que podem te-lo introduzido na Europa no seculo XV. Apesar do name. o trigo-sarraceno nao e uma especie de trigo. mas o fruto de um arbusto da fa- mflia do ruibarbo e da azedinha. Par nao canter gluten. as massas preparadas com ele nao crescem - a nao ser que ele seja combinado com a farinha de trigo comum -. par essa razao. ele e tipicamente usado em paes chatos e panquecas assadas em frigideiras (na verdade. originalmente preparadas em uma sim- ples pedra quente). Eu utilizo o trigo-sarraceno com farinha branca e de centeio no Pao Bretao (p. 86) e no Blini (p. 109). Ele adiciona um sabor ligeiramente acido. sutil. que combina especialmente com frutos do mar. 18 0 LIVRO DO PAO necessario acrescentar qualquer tipo de ac;ucar. pois ha ac;ucar natural suficiente na farinha para alimentar o fer- mento. Ao reduzir a quantidade de fermento e sem ali- menta-lo excessivamente com mais ac;ucar. ele ira reagir mais devagar e se tornar menos intenso. Uma regra simples e basica. seja no caso do tipo fres- co ou seco. e que quanta menor for a quantidade usada. mais tempo a massa levara para crescer. mas o sabor se desenvolvera melhor e a durabilidade do pao sera maior. Par outro lado. quanta maior a quantidade usada. mais depressa a massa vai crescer. e o resultado pode ser um pao com textura semelhante a de um tijolo e com gosto de fermento. alem de estragar muito mais rapido. Agua - Alguns panificadores insistem em usar agua mi- neral. mas. pessoalmente. nao tenho nada contra a agua de torneira. a nao ser que seja de uma area onde os pro- dutos qufmicos utilizados para limpa-la deixem um sa- bor ruim - nesse caso. e melhor que seja filtrada antes. Deve estar na temperatura corporal. a menos que a re- ceita indique o contrario. o que significa que se pode co- locar os dedos nela sem sentir calor ou fno. A1nda ass1m. no caso de reg1<3es com temperaturas extremas. talvez seia necessano esfnar ou aquecer a agua (veia p. 41). Eu costume pesar m1nha agua. por isso ela e med1da em gramas em vez de m11il1tros. Sal - Mu1to tern sido escnto sobre o sal e seu uso ex- cessive nos ult1mos anos. t fac1I culpa-lo e esquecer que sem ele n6s. l1teralmente . morrerfamos . Na panif1ca<;ao. o sal e 1mportante porque aJuda a estab1lizar a fermenta- i;ao. melhorando a core o saber. desenvolvendo a casca e conservando o pao . Sem ele. o pao f1cara ran<;oso e secara ma1s depressa. Algumas vezes. meus alunos co- mentam : "20 g de sal em 1 kg de fannha? lsso e mu1to!" Mas e precise lembrar que 1 kg de farinha fara 2 paes grandes . ou o equ1valente. por 1sso a quant1dade de sal em cada fat1a e relativamente pequena (veJa p. 148). E claro que voce pode reduz1r a quant1dade de sal da re- ceita. se deseiar . mas ra notar que a massa cresce ma1s rap1damente . e o saber e a cor do pao flcarao d1ferentes. Acred1to que fa<;a sent1do usar sal mannho puro . flno. com cnteno. quando est1ver ut1l1zando 1ngred1entes natu- ra1s e ev1tando o uso de alimentos processados que . em geral. sao repletes de sal - mu1to provavelmente proces- sado. cuio conteudo mineral natural fo1 reduz1do - espe- c1almente aqueles que voce nae sabe se contem nfve1s elevados. como b1sco1tos e cereais (veia ma1s sobre o assunto no Capftulo 5) . Eu geralmente uso sal mannho na massa em vez do sal-gema . que e ma 1s d1ffc1I de dis- solver. No entanto . um dos meus favontos e o se/ gns . da Bretanha. um sal mannho rust1co e grosso . replete de minera1s. que prec1sa ser d1ssolv1do em um pouco da agua 1nd1cada na rece1ta antes de ser ad1c1onado. Ovos - Bons ovos fazem toda a d1feren<;a. Compare a forte cor alaranJada das gemas dos ovos de gal1nhas ca1p1ras. cnadas soltas. as gemas amareladas de gal1- nhas criadas em gran1as. e va1 se surpreender . Nao se trata somente da cor . mas do saber e da for<;a da albu- EQUIPAMENTOS E TECNICAS 19 mina. que e muito maier quando os ovos se originam de animais bem-criados. especialmente das rac;as anti- gas. que nao sao cruzamentos planejados para p6r ovos sem parar. A intensidade do saber. cor e brilho que eles dao a paes. como os brioches. fazem valer a pena o pe- queno gasto extra. sem falar no born tratamento dado as galinhas. Como mencionei na p. 12. os ovos caipiras tendem a variar no tamanho. por isso em todas as receitas que levam ovos inteiros eu indico seu peso sem a casca. alem da quantidade apro- ximada. ja que pesa-los e um me- todo muito mais precise. Manteiga - A maioria das receitas usa manteiga sem sal. embora o Pain Brie . na p. 97 . leve mantei- ga breta salgada. do tipo ao qual sou acostumado desde crianc;a - e que ate hoje acho fantastica. Para mim. o melhor cafe da manha e uma fatia de sourdough ligeiramente tostada com manteiga breta sal- gada. Tambem adore usa-la nos scones. um tipo de biscoito ingles. A manteiga salgada e mais macia do que a sem sal. por isso nao serve para croissants. que devem ser feitos com manteiga o mais dura e fria possfvel. Para o prepare de croissants. principalmente. em que 20 0 LIVRO DO P.A.O o saber da manteiga pode ser notado. a qualidade e fundamental. Muitos deles. em geral encontrados em supermercados . sao feitos com algo conhecido como "manteiga concentrada" (voce podera ver no r6tulo). com carotene. que a deixa com uma colorac;ao alaran- jada brilhante e que supostamente torna os croissants mais atrativos. Pessoalmente . acredito que isso faz com que eles adquiram um bri- lho estranho. como se estivessem bronzeados! Minha manteiga favorita para croissants e massa folhada e asem sal. fresca e cremosa French Appellation d'Origine Contr61ee da Normandia ou de Charente. Em Charente. dizem que e precise 1.000 litres de leite para fazer 100 litres de nata para produzir 10 kg de manteiga. As melhores variedades das duas regioes pos- suem um maravilhoso saber cre- moso . que se torna amendoado e refinado quando usadas para as- sar. lsso nao quer dizer que nao haja uma infinidade de 6timos tipos de manteiga disponfveis - e que eu tenho a ten- dencia de manter a variedade francesa para croissants. Por outro lado. quando prepare scones ou Bath Buns (veja p. 140). eu uso manteiga inglesa. Procure experi- mentar as melhores manteigas e optar por aquelas de que mais gostar. TRABALHANDO COM SEU FORNO Muitas vezes as pessoas nao acreditam que seja possfvel assar um born pao em um forno caseiro. Em minhas aulas, usamos fornos tfpicos. do tipo que qualquer pessoa pode manusear. nada especial ou "exclusivo para chefs". No entanto. e preciso maximizar o potencial de seu forno, aquecendo-o bem, usando uma pedra de assar. borrifando-o com agua ao colocar o pao e. o mais importante. certificando-se de nao desperdi<;ar calor deixando a porta aberta por mais tempo do que o necessario. Preaquecimento - A massa crescera melhor e mais ra- pidamente se estiver em um ambiente morno, por isso nao e necessario aquecer apenas o forno. mas toda a cozinha. o mais cedo possfvel. Em geral. ao preparar paes. a primeira coisa que far,;:o quando levanto pela manha e ligar o forno na temperatura mais alta (250°C. se possfvel). Para algumas recei- tas. voce vai precisar baixar a tem- peratura antes de colocar o pao no forno; para outras ela podera ser mantida. Se for assar o pao direta- mente sobre uma pedra de assar ou assadeira. coloque-as no forno assim que ligar para que fiquem realmente bem quentes. Usando um fogao Aga - Quando eu me mudei de Londres. para uma casa em Bath. me vi diante de um Aga pela primeira vez. Ainda que eu tenha conseguido fazer 6timos paes. especialmente os menores. embora o fogao tivesse. provavel- mente. uns 40-50 anos. nao per- manecemos no local por tempo bastante para que eu me tornasse um expert. Por isso. se voce quiser saber tudo sobre como assar usando um Aga, sugiro que de uma olhada em alguns dos varios livros disponfveis a respeito. Tudo o que tenho a dizer e: certifique-se de que seu Aga esteja completamente aquecido antes de fazer seu pao e tente assar na parte da manha (quando o forno esta mais quente), em vez de no final do dia quando voce provavelmente ja preparou todas as refeir,;:oes e a temperatura do forno pode ter baixado um pouco. E importante usar um term6metro de forno para verificar a temperatura. Tambem acho aconselhavel nao usar os queimadores do fogao Aga para cozinhar ao mesmo tempo , pois isso desvia o calor. Fiz paes excelentes diretamente no piso do forno direito superior. bem quente - e ainda melhores quando coloquei uma pedra de as- sar dentro dele. Algumas vezes. o pao comer,;:ava a dourar em 5 mi- nutos. entao . eu mantinha a porta do forno entreaberta. Usando a pedra de assar - A ideia de usar uma pedra de assar e ten- tar reproduzir o efe1to de um forno de padaria. em que a massa e co- locada diretamente sobre o fundo quente feito de tijolos. comer,;:ando a assar por baixo imediatamente. Como eu geralmente costumo assar mais de um pao ao mesmo tempo. uso duas placas de pedra refrataria que ficam sempre em meu forno. em grades diferentes. para que eu nunca tenha que me lembrar de coloca-las. No momento em que ligo o forno. as pedras comer,;:am a esquentar. e. EQUIPAMENTOS E TECNICAS 21 quando estou pronto para assar. basta desllzar a massa sobre elas usando minha pa de made1ra (veJa p. 14). A pedra de assar nao e essenc1al - pode ser subst1tufda por uma assadeira refon;ada. com o fundo virado para cima. para que a superffcie seja completamente plana. ou voce pode adquirir apenas uma pedra e usar uma as- sadeira adicional. se precisar. Entretanto. a pedra con- servara melhor o calor e e um daqueles itens que realmente deixa as pessoas ma1s seguras ao preparar paes. Vaporizando o forno - Para preparar um pao com uma boa casca e cor. sera pre- ciso vaporizar o forno enquanto a mas- sa assa. Assim como usar uma pedra de assar e o mais pr6ximo que se pode chegar do piso de um forno de padeiro. a vaporizar;ao cria um efeito semelhante ao s1stema de inje~ao de vapor que os pade1ros profissionais usam para adicio- nar umidade ao forno. Sem o vapor. a casca de seu pao vai se formar muito depressa e os gases 1nternos que se expandem nao terao como sa1r. 0 resultado e que a casca ira romper - nao necessariamente no lugar onde voce deseja. Voce tambem vai no- tar que ela ira adqu1rir uma colora~ao ac1nzentada em vez de dourada. Com o vapor. a superffcie do pao se mantera umida. retardando a forma~ao da casca. permitindo que o gas se expanda ate romper no local deseJado. atraves dos cortes que voce fez na massa. Algumas pessoas sugerem que se coloque gelo no fundo do forno. mas nao cre10 que 1sso cne vapor su- ficiente a tempo. Quando os cubos tiverem derretido. a casca ja estara comer;ando a se formar. Outros costu- mam colocar uma assade1ra com agua no fundo do for- no. o que pode funcionar bem. especialmente no caso de um forno a gas em que a fonte de calor se s1tua na base. 22 0 LIVRO DO PAo Vaporizar o forno com agua usando um borrifador limpo e. sem duv1da. a minha forma preferida - e e tao facil. Quanta mais uso o forno domestico para assar. ma1s descubro que quanta mais vaporiza~oes. melhor - isso faz uma grande diferenr;a. espec1almente para ba- guetes. E 6bvio que nao se deve borrifar tanto a ponto de deixar o forno ensopado. mas cerca de 15 esguichos antes de colocar a massa e outros 5 de- pois e o bastante. Aproxime-se do forno ao borrifar - apenas alguns centfmetros de distancia - sera possfvel sentir o va- por em suas maos. mas far;a-o rapida- mente para nao manter a porta do forno aberta por muito tempo. Levando a massa ao forno - Pode soar bastante 6bvio dizer: "nao deixe a porta aberta por mais tempo que o necessario. ou havera perda de calor". mas quando estou ensinando. esta e uma mensagem diffcil de ser compreend1da. Colocar a massa no forno nao deve levar ma1s do que 15-20 segundos - ou voce pode perder 40-60°C. o que rouba o aumento imediato do calor. responsavel por selar a base do pao e que ajuda a formar uma bela casca. 0 segredo e ser organizado e ter em mente uma lista de tarefas: a massa esta sobre a pa de madeira ou as- sade1ra? Ja fez os cortes na superffcie da massa? Ela esta pr6xima do forno? 0 seu borrifador esta ao alcance das maos? Se a resposta para todas essas perguntas for sim. voce ja pode abnr a porta do forno. Vaporize rapidamente o forno - cerca de 15 esgu1chos - deslize a massa para dentro. de ma1s 5 borrifadas e entao feche a porta. e nao fa~a o que a maioria das pessoas faz quando partic1pa das aulas pela primeira vez: abrir novamente a porta. Sera necessario verificar o pao perto do final do tempo de cozimento. mas resista a tenta~ao de faze-lo antes disso. TRABALHANDO A MASSA Prefiro falar em "trabalhar" a massa do que "sovar", pois minha tecnica e muito diferente da maneira tradicional. EQUIPAMENTOS E TECNICAS 23 Prime1ro e prec1so m1sturar os ingredientes na t1gela (de acordo com a rece1ta). por cerca de 3-5 minutos. cert1ficando-se de que todos os elementos secos es- teiam 1ncorporados e unidos. Depois. com a aJuda do raspador. v1re a massa sobre a superffc1e de trabalho (nao enfarinhada). Adqu1ra o habito de raspar bem a t1gela. sem de1xar qualquer sobra. pois a massa sera colocada de volta depo1s de ter sido trabalhada. para descansar e crescer ate quase dobrar de tamanho. Por isso. qualquersobra que fique na tigela ira secar e gru- dar na massa. 1mpedindo que ela fique sedosa no final. (Somente lave a tigela depo1s de terminado o trabalho. pois voce nao vai querer incorporar nenhum cheiro ou sabor de sabao ou detergente a massa.) Agora. e prec1so transformar o que parece ser uma mistura grudenta em uma massa sedosa. macia e bri- lhante. Em mu1tos lugares as pessoas falam sobre "so- var". o que s1gnif1ca press1onar e esmurrar a massa com os dedos e a palma da mao. Minha forma e bastante diferente e se baseia em uma tecnica francesa do tem- po em que os padeiros t1nham que trabalhar com cerca de 80 kg de massa somente com as maos. Trata-se de esticar e bater para baixo de forma bastante intensa. de modo que o maximo de ar poss(vel seja introduzido e permane<;a dentro dela. at1vando a elast1c1dade do glu- ten. formando uma massa levee brilhante. 24 0 LIVRO DO PAO E essa tecn1ca. adaptada para a panif1ca<;ao caseira. que permite que se trabalhe com uma massa mais umi- da e mole do que a maiona das pessoas esta acostu- mada. Quando comece1 a fazer paes na lnglaterra. fique1 1mpressionado com o fato de que a ma1oria das receitas ex1g1a uma quantidade muito menor de agua em rela<;ao a farinha. algo que eu nunca hav1a fe1to. Muitas vezes. elas tambem 1nd1cam a ad1<;ao de ma1s farinha. se ne- cessario. Depois, deve-se enfarinhar bem a superffcie de trabalho para evitar que a massa grude ao sovar. lsso adiciona uma grande quantidade extra de fannha - e. na minha op1niao. farinha dema1s faz com que a massa fique bastante dura. diffcil de trabalhar e pesada. resultando em um pao com aspecto de t1Jolo. Ao trabalhar a massa. eu nao enfarinho a banca- da de jeito nenhum. As pessoas que ja fazem paes ha anos. quando veem a quantidade de agua que eu uso e depois me observam manusear a massa grudenta. costumam ficar relutantes no infcio. pois leva um tem- po ate se acostumarem. mas depois que pegam o jeito e sentem a leveza e o bnlho da massa. nunca ma1s voltam atras. Por isso. nao enfarinhe a supertrcie de trabalho - a massa estara grudenta no come<;o. mas resista a tenta- <;ao de mergulhar as maos no saco de fannha. pois ela ira se unir. Voce precisa apenas acreditar! A tecnica Passe os dedos sob a massa (pagi- na ao lado. a direita) e. entM. com os polegares paralelos as pontas dos ind1cadores (1). levante-a li- geiramente (2). gire-a para c1ma (3) e. em segu1da. jogue-a de volta para ba1xo. longe de voce. sobre a superffcie de trabalho ( 4 ). Estique a frente da massa na sua direc;ao e. depois. v1re-a de volta sobre si mesma como uma onda (5). es- tendendo a massa para a frente e para os lados. enf1e-a em torno das bordas (6). Repita essa sequenc1a varias ve- zes (inicialmente. depois de cada 10-15 giros. utilizando o raspador de plast1co para aJudar a levantar a massa da superffcie de trabalho). Quanta ma1s prat1car. mais entrara em um ntmo e podera fazer tudo EQUIPAMENTOS E TECNICAS 25 em um movimento suave. 0 segre- do e relaxar. Nao se preocupe com a textura grudenta. mantenha o toque bem leve e trabalhe a massa rapida- mente. Muitas vezes. nas aulas. vejo pessoas lutando com a massa. pois a agarram com muita forc;a. pressio- nando os dedos. deixando-a ainda mais pegajosa. Quando eu entro e comec;o a trabalhar de forma rapida e leve por cerca de 1 minuto. eles no- tam a diferenc;a imediatamente. pois a massa expande e renasce. Na sequencia. ela ira crescer. pois as bolhas de ar sao retidas em seu interior. e comec;ara a ficar sedosa. homogenea e firme. e ao mesmo tempo brilhante e um pouco malea- vel. soltando-se completamente da superffcie de trabalho. Se. depois de ter trabalhado a massa por 10-15 minutos. ela ainda estiver pegajosa. nao entre em panico. Voce ja fez o bastante para levar ar para dentro dela. Finalize formando uma bola (veja ao lado) e. na pr6xima vez. ten- te manusea-la com um pouco mais de leveza e estica-la um pouco mais ao trabalhar com ela. 26 0 LIVRO DO PAO Usando uma batedeira Prefiro misturar e trabalhar a massa manualmente. mas eu sei que para algumas pessoas e mais facil utilizar uma ma- quina. Toda massa pode ser preparada em uma batedeira com o batedor para massas pesadas e. no caso de algu- mas receitas. como o brioche. isso faz sentido porque e um processo longo que pode parecer bastante intimidador. No entanto. eu diria que quando se comec;a a preparar paes e born trabalhar a massa com as maos algumas vezes. antes de usar uma batedeira. para sentir como ela se forma e saber qual e o resultado esperado. Ainda nao encontrei um gancho que possa misturar o meu estilo de massa. que e muito mole. sem ter que in- terromper o movimento frequentemente e raspar o fundo da tigela para que os ingredientes se incorporem adequa- damente. Alem disso. como nao acredito que seja possfvel obter a mesma quantidade de ar na massa como quando ela e misturada manualmente. sugiro que mesmo ao usar uma batedeira. depois de virar a massa sobre a superffcie de trabalho. trabalhe-a com as maos por cerca de um mi- nuto (veja p. 25) para torna-la mais aerada e brilhante. Para misturar em uma maquina. coloque os ingredien- tes na tigela e comece a bater na menor velocidade pos- sfvel. Bata por 4-5 minutos. parando algumas vezes para raspar todos os ingredientes secos do fundo da tigela. para que tambem possam ser trabalhados. Aumente a velocidade para o nfvel 21/2-3 e bata por mais 7-8 minu- tos. ate que a massa se una. Vire sobre a superffcie de trabalho. sem enfarinhar. e trabalhe a massa por mais um minuto - 5 ou 6 dobras devem ser suficientes - de- pois forme uma bola (veja na pagina ao lado). Uma fina camada de farinha ... Depois que a massa for trabalhada, voce podera enfari- nhar ligeiramente a superffcie de trabalho. A farinha nao vai afetar a massa. mas voce nao vai querer estragar sua textura homogenea. por isso. use uma camada fina. Com isso. quero dizer que nao sera possfvel ver quase nenhu- ma farinha na bancada de trabalho. se passar o raspador. s6 obtera um pequeno monte. Moldando uma bola com a massa Depois de polvilhar a superffcie de trabalho com a farinha (1). coloque a massa. com o lado liso para baixo (2). e dobre cada borda em direc;ao ao centro. pressionando bem com os dedos (3) e. a medida que faz isso. va girando a bola (4-5). Finalmente. inverta a posic;ao da bola e estique e dobre as bordas para baixo (6). EQUIPAMENTOS E TECNICAS 27 DESCANSAR E DOBRAR Depois que tiver trabalhado e formado uma bola com a massa. voce vai precisar deixa-la descansar em um local morno e sem correntes de ar e. entao. dependendo da receita. dobrar e moldar. Enfarinhe ligeiramente a tigela bem raspada e colo- que a bola de massa. com a parte lisa voltada para cima, cubra com um pano de prato e deixe descansar em um local morno e sem correntes de ar. normal- mente por cerca de 1 hora (embora o tempo possa variar de receita para re- ceita). Durante esse perfodo ela cresce- ra ate atingir aproximadamente o dobro de seu volume e desenvolvera sua es- trutura. enquanto o sabor amadurece. Por "local morno" eu quero dizer 25-30°C. que e a temperatura em minha cozinha depois que o forno esteve liga- do desde cedo. Eu simplesmente deixo a massa sobre o fogao. que e afastado de qualquer corrente de ar. Dentre os outros lugares que podem ser usados esta o mi- cro-ondas (desligado. e claro). ou um ar- mario de coz1nha. Muitas vezes. um arma- rio arejado e o mais recomendado, mas o ar morno interno pode ser muito seco. por isso e necessario cautela para que a mas- sa nao resseque e forme uma pelfcula sa- bre a superffcie. impedindo-a de crescer adequadamente. Se optar por um armario arejado. coloque um pano de prato umido sobre a massa (mas sem deixar que a to- que). Se ele secar. borrife-o ligeiramentecom agua. Assim como a massa precisa de calor para que o fermento seja ativado e ela cres9a da forma adequada. e igualmente importante que nao fique sujeita a cor- rentes de ar. pois isso tambem pode fazer com que uma pelfcula se forme ao seu redor. Quando se tra- 28 0 LIVRO DO PAo balha em uma padaria. uma corrente de ar e o pior que pode acontecer. pois ela destr6i o equilfbrio e a constancia do calor. cruciais para que o pao adquira um alto padrao de qualidade. Algumas das receitas deste livro. como o sourdough, pedem que a massa des- canse duas ou tres vezes durante o pro- cesso. Em geral. quanta mais tempo ela puder descansar. mais apurado sera o sa- bor do pao e maior sera sua durabilidade. Dobrando - Quando a receita pede que a massa descanse mais de uma vez, e preciso molda-la novamente entre cada repouso, para refor9a-la. ajudando a de- senvolver o seu sabor. Este e o ponto em que um outro tipo de receita pedi- ria que a massa fosse "sovada". o que. traduzindo. significa algo como bater ate deixa-la inconsciente. Eu prefiro usar o ii-il1:ili!t-'~ 1 termo "dobrar", porque o que eu fa90 e bem mais suave. Eu apenas enfarinho levemente a bancada e depois viro a massa da tigela sobre ela. com a ajuda do meu raspador. para que a parte lisa e arredondada que estava por cima fique por baixo. Eu a achato um pouco com as pontas dos dedos e entao dobro as bordas sobre o centro algumas vezes. pressionando para baixo de- l1cadamente. e giro a massa moldando uma bola (veja a fotograf1a ao lado e na p. 27). Em seguida. ela pode voltar para a tigela (ligeiramente enfarinhada) para descansar outra vez. de acordo com a receita. EQUIPAMENTOS E TECNICAS 29 · ~· · · • Ct\ -- -~_,,_. ,.,- ·:.·.·,_ ... :--,-::·':", . . 't. "lt.'t . ... _ ... ._. . .. . .-. ... • . ,... . . . i ;.. y • . ·t·~'.- 30 0 LIVRO DO PAo DIVIDIR A MASSA A massa agora estara brilhante e maleavel. pronta para ser virada. dividida e moldada em filoes. baguetes ou pequenos paes redondos. Sempre que precisar dividir um grande pedac;o de mas- sa em ma1s do que duas partes. primeiro enfannhe 11- geiramente a superffcie de trabalho. Nas aulas. percebo que depois de conseguirem ev1tar o uso de mu1ta fari- nha na superficie de trabalho. ao comec;arem a cortar a massa e senti-la um pouco pegajosa novamente. os alunos tendem a levar as mMs ao saco de farinha. Por isso. tente realmente se convencer a nao fazer isso. as- s1m voce preserva a suav1dade e o brilho da massa. Com a ajuda do raspador, v1re a massa da tigela. com o lado liso voltado para baixo. sobre a superffcie de trabalho (1). Pressione delicadamente formando um retangulo. Com o lado ma1s longo voltado na sua direc;ao. dobre um terc;o no sentido do centro (2) e press1one com as pontas dos de- dos. Entao. dobre o outro lado para o centro e novamente pressione para baixo (3-4). Em segu1da. traga a extremida- de superior da massa para cima e dobre para baixo para selar (5). Vire tudo. de forma que a costura flque voltada para baixo (6). Agora. voce esta pronto para dividi-la. Prepare sua balanc;a. Em meu pnmeiro llvro. eu de1- xei o leitor a vontade para decidir se pesaria ou nao os pedac;os de massa ao dividi-la para fazer paes redondos ou baguetes. Entretanto. depois de algum tempo reali- zando esse trabalho. voce percebe que vale a pena ser mais preciso e manter todos os paes do mesmo tama- nho. para que quando forem levados ao forno. todos as- sem igualmente. Caso contrario. o forno perdera calor se for preciso abrir a porta para que os paes menores. ja assados. sejam ret1rados prime1ro. Por isso. neste livro. quero encoraja-lo a usar a balan- c;a. Utilize a parte afiada do raspador para cortar cada pedac;o de massa (7) e. depois. use-o para levanta-la. Por estar usando uma quant1dade mfnrma de farinha em sua bancada, sera facil erguer os pedac;os de forma limpa. sem que eles se prendam. mantendo a elastici- dade da massa. Se um pedac;o grudar e voce comec;ar a tentar agarra-lo com as maos. s6 vai conseguir fazer com que fique ainda ma1s pegaioso. Pode parecer frescura. mas e born ter o habito de manter cada pedac;o de massa na vertical - ou seja. com o lado liso voltado para cima - ao coloca-lo na ba- lanc;a e ao retira-lo. pronto para moldar. Dessa forma. voce ira manusear a massa o mfnimo possfvel. Corte e pese um pedac;o de cada vez (8-9) - nao corte todos ao mesmo tempo - porque. a nao ser que voce tenha um olho incrivelmente born. nao consegui- ra ser tao preciso nos tamanhos e pode acabar com uma grande quantidade de sobras de massa que tenta- ra usar para fazer aiustes. Entretanto . depo1s de algum tempo fazendo paes. voce 1ra notar que pode calcular os pesos de forma bastante instintiva. Eu me desafio a acertar todas as vezes! Portanto. corte e depors pese. corte e depors pese ... Se um pedac;o de massa estiver aba1xo ou acrma do peso. basta ret1rar a sobra com o raspador ou completar o que falta com uma parte do pedac;o principal. Utilize as sobras ao longo do trabalho. para que o mfnimo possfvel seja desperdic;ado. Agora. voce esta pronto para moldar a massa. EQUIPAMENTOS E TECNICAS 31 MOLDAR A MASSA Na panifica<;:ao, as vezes usamos o termo "enformar" para o processo de fazer paes de f6rma ou redondos, entretanto, percebi que as pessoas compreendem muito melhor a simples ideia de "moldar". Antes de comec;ar a moldar a massa em qualquer for- mato. prepare os cestos ou assadeiras para coloca-la para descansar e crescer (veja p. 36). A boa panificac;ao esta intimamente relacionada com ser organizado e manter o passo seguinte sempre em foco. Se estiver fazendo paes grandes. prepare a cesta para crescer. o tecido de canhamo ou a tigela forrada com um pano de prato e polvilhe com uma fina camada de farinha (a nao ser que a receita indique um perfodo longo para o crescimento. o que requer uma quantida- de maior de fannha polvilhada). Se for usar assadeiras. certifique-se de que elas estejam ligeiramente untadas com oleo vegetal ou manteiga. Se estiver preparando paes redondos ou baguetes. forre uma assadeira com o tecido de canhamo ou pano de prato e. novamente. polvilhe com farinha. Depois de colocar a pnmeira fileira de paes redondos ou bague- tes. fac;a uma prega no tec1do antes de colocar a file1ra seguinte. para mante-los separados enquanto crescem. Mantenha tambem alguns panos de prato extras a mao para colocar sobre a massa. Moldando filoes Ao comec;ar a moldar a massa e importante colocar um pouco de pressao no que eu chamo de "coluna verte- bral" do pao. para que ele fique bem firme. Para faze-lo. primeiro polvilhe a superffcie de trabalho com a farinha. Pegue o pedac;o de massa e coloque-o 32 0 LIVRO DO PAO sobre a superffcie. com o lado liso para baixo. e achate com as pontas dos dedos moldando uma forma oval. Dobre um dos lados em direc;ao ao centro (1) e pres- sione para baixo com firmeza usando as pontas dos dedos. Dobre o outro lado tambem para o centro e. no- vamente. pressione bem (2-3). Agora. dobre a borda do fun do para o centro e pressione para baixo ( 4 ), depois repita com a borda de cima (5). Deve ser possfvel ver. claramente. as marcas das pontas de seus dedos. for- mando a "coluna" (6). Dobre ao meio e pressione para baixo de novo, firmemente. para selar as bordas (7-8). Finalmente. vire a massa para que a costura fique por baixo e coloque-a em uma forma para bolo ingles untada (9). sobre um tecido de canhamo. ou em uma cesta de vime ou tigela, forradas com um pano de prato l1geiramente enfarinhado. Moldando paes redondos Usando a mesma tecnica da p. 27 (Moldando uma bola com a massa). dobre cada borda da massa em direc;ao ao centro. pressionando bem com os dedos. girando a bola durante o processo. Vire-a. coloque a mao por cima em forma de concha e va moldando com osdedos. ate que ela fique redonda e lisa (voce pode me ver fazendo isso na figura 4 da p. 135). Quan- do todos os paezinhos estiverem moldados, coloque sobre uma assadeira forrada com tecido de canhamo ou pano de prato. ligeiramente enfarinhados. EQUIPAMENTOS E TECNICAS 33 34 0 LIVRO DO PAo Moldando baguetes Uma vez que a principal caracterfst1ca da baguete e sua aparencia longa e delgada. e muito importante firmar bem a sua "coluna vertebral". Assim como indicado para moldar qualquer outro pao. polvilhe ligeiramente a superffcie de trabalho com farinha. achate o peda~o de mas- sa com as pontas dos dedos (1). depois dobre um lado ate o centro e pressione firmemente para ba1xo (2). Dobre o outro lado para o cen- tro e. novamente. pressione para baixo (3). Finalmente. dobre a massa ao me10, no sentido do comprimento. formando um cilin- dro longo. Se voce for destro. comece pela borda do lado direito da massa. segure a ponta entre o indicador e o polegar da mao esquerda ( 4) e gire-a ligeiramente na sua dire~ao, depois pressione para baixo com o polegar direito (5-6). Trabalhe dessa mane1- ra por toda a extensao da massa. Este leve movimento de tor~ao deixara a borda mais firme do que se fosse apenas pressionada com os dedos para selar. como no caso de um pao mais robusto (7). Trabalhe rapida- mente - quanto menos tempo a massa for manuseada. mais flexfvel e recept1va ela es- tara e menos ira grudar em suas maos. Vire a baguete para que a costura fique por baixo e role ligeiramente a superffcie de forma rapida usando as pontas dos dedos. Nao pressione ou achate a massa ou ela per- dera o brilho - bastam apenas toques leves para solta-la. Coloque sobre o tecido de ca- nhamo ou assadeira forrada com um pano de prato. ligeiramente enfarinhados (8-9). Se estiver preparando mais de uma ba- guete. fa~a pregas no tecido enfarinhado para mante-las separadas. Cubra com ou- tro pano de prato e deixe crescer de acordo com as instru~oes da receita. EQUIPAMENTOS E TtCNICAS 35 CRESCER Este e o perfodo em que a massa e reservada para descansar novamente. depois de ter sido moldada em filoes ou paes redondos. Mais uma vez. ela ira crescer ate quase dobrar seu volume. 36 0 LIVRO DO PAo Normalmente. os paes deste livro levam entre 1 e 2 horas para crescer (no mesmo local onde a massa descansou anteriormente). dependendo da rece1ta e da temperatura de sua cozinha. 0 motive pelo qua! digo "quase" dobrar seu volu- me e que. ate comec;ar a ter uma "intuic;ao" para esse trabalho. nem sempre sera facil avaliar o memento em que o volume da massa dobrou. Voce consegu1ra melhores resultados se. em vez de deixar a massa crescer por mais tempo do que o 1ndicado. deixa-la menos tempo (ainda ass1m ela va1 crescer e romper na superffcie) - passar do tempo de cresc1mento pode fazer com que ela afunde e o pao fique parecendo um tiJolo. Crescimento retardado - Este e um metodo simples que consiste em manter a massa para crescer na geladeira. durante toda a noite. em vez de mante-la em temperatura ambiente. A fermentac;ao mais longa proporciona um 6timo saber e casca. embora nem sempre seja prati- ca. pois voce nao vai querer esperar 24 horas todas as vezes antes de assar seus paes. Mas voce pode experimenta-la se t1ver mais massa do que deseJa usar em um dia. Coloque-a sobre um tec1do de canhamo ou as- sade1ra forrada com um pano de prate. ligeira- mente enfarinhados. e cu bra com outro pano de prate. como feito anteriormente. Leve a geladei- ra por 12 horas ou por toda a noite. reservando uma hora a ma1s para que a massa retorne a temperatura amb1ente antes de ir para o forno. PREPARAR A CASCA Uma 6tima casca, saborosa e crocante, resulta de diversos fatores: uma massa bem trabalhada, homogenea e aerada que tenha crescido o suficiente. sem ressecar ou formar uma pelfcula na superffcie. uma boa vaporiza<;ao em um forno quente o suficiente e um carte cuidadoso na parte superior do pao. Saborear um born alimento comec;a muito antes de co- loca-lo na boca. E algo ligado tambem ao seu aroma e aparencia. Um pao rustico com uma casca maravilhosa e muito convidat1vo. E uma parte importante do processo de conseguir uma 6tima casca e riscar um corte na super- ffcie da massa para que o gas possa expandir enquanto assa e tenha por onde sair. A forma como voce risca com um corte a superffcie da massa controla onde ele ira acontecer, assim como que aparencia tera o pao depois de assado. Paes sourdough sao. pro- vavelmente. mais famosos por seu visual - em geral, os desenhos feitos na su- perfrcie da massa tornam o resultado mais incrfvel por causa da farinha de trigo comum que e trad icionalmente polvilhada sobre sua casca escura. Na Franc;a. a hist6ria por tras da marcac;ao do sour- dough e, na verdade. uma questao pratica, que remonta aos dias em que poucas famflias possufam fornos. 0 povo costumava preparar suas massas e leva-las para assar na padaria local. Para que fosse possfvel reconhe- cer seus paes ao safrem do forno. as pessoas riscavam a parte de cima da massa com as iniciais da famflia, uma coroa ou alguma outra marca de identificac;ao. Nas paginas seguintes voce pode ver algumas fotos do an- tes e depois da decorac;ao classica do sourdough. Ou voce pode criar sua pr6pria assinatura. Padeiros tradicionais usam uma lamina de barbear com cabo adaptado (veja p. 13) para riscar os cortes na massa. mas voce pode usar uma faca ou tesoura afiada. 0 importante e cortar de forma rapida e limpa, com a ponta da lamina. para nao repuxar ou prender qual- quer parte. Para riscar cortes em baguetes. use sua lamina fa- zendo marcas diagonais na superffcie. Na Fran9a, uma baguete de padaria deve pesar 320 g e ter 7 cortes. Entretanto. voce pode preparar a sua com o compri- mento que desejar. e fazer 5 ou 6 talhos. se preferir - ou talvez menos, para paes menores. EQUIPAMENTOS E TECNICAS 37 E SOBRE O CLIMA? Ao fazer paes regularmente. voce percebera que. as vezes. algumas massas respondem melhor que outras. Em geral. isso esta relacionado ao clima. se oar esta frio ou quente. umido ou seco. Entretanto. com alguns ajustes. e possfvel preparar um pao de boa consistencia todos os dias. Pade,ros sempre conversam sobre o cl1ma. a mane1ra como ele pode afetar a massa. e como 1sso pode ser compensado. E um assunto sobre o qual as pessoas se informam mu1to pouco, e costumam ficar confusas. Por isso. em meu pnme1ro l1vro. Paes - Oelic1osos. simples e contempora- neos. nM fa<;:o qualquer referencia ao clima. pois todas as massas que prepare e as tecnicas que uso sao bastante adaptaveis para resultar em um born pao. 1ndependentemente das condi<;:oes em sua cozinha. Com as receitas deste livro voce fara exce- lentes paes. mas e precise lembrar que as cozinhas das outras pessoas sao lige1ramente diferentes. ass,m como seus fornos. Alem do mais, ao fazer paes com ma1s frequencia, voce come- <;:ara a notar que em um dia quente. por exemplo. a massa pode se desenvolver ma1s rap1damente do que o esperado, ou se estiver umido ela pode parecer excepc1onalmente "suada" e pegaJosa. e ma,s d1ffcil de manusear. Talvez. em alguns dias. voce fique mais sat,sfeito com os resul- 40 0 LIVRO DO P.A.O tados do que em outros. Por ,sso. parte do sent1mento de confian<;:a ao preparar paes esta em se acostumar a fazer pequenos ajustes - a maioria deles apenas com o uso de born sense - a fim de obter sempre bons resultados. Na Bretanha. e costume dizer que. ant1gamente. quando o tempo esfriava. para que o pao crescesse. as pessoas colocavam os grandes cestos de Junco che1os de massa sob a manta conJugal! Nao estou sugerindo algo tao exagerado. mas voce vai notar que com pratica e expe- rienc,a, sera capaz de solucionar problemas fac,lmente. Frequentementesugiro as pes- soas que mantenham um pequeno diario quando come<;:am a fazer paes. anotando o cl,ma. o resultado e o comportamento da massa. Se necessario. voce pode usar os aius- tes da pag,na ao lado para compensar qualquer problema relacionado ao clima. Os sfmbolos se referem a sua coz1nha em temperatura ambiente ( ou seja, sem ar condi- cionado e sem o forno l1gado para aquecer o local). '()' Quente, sol forte ',,,' Se sua cozinha f1car quente e seca e a massa nao tiver agua suf1ciente. o resultado sera um pao pesado. denso. mais fermentado. que nao crescera como de costume. E preciso retardar o processo. ~~Quente, umido, nublado , ,' Se ha muita umidade no ar. a massa pode se tornar "suada" e nao se unir bem com a agua. f1cando mais pegajosa e diffcil de ser moldada. +o I/ c::5f Quente e chuvoso ,,,, , , ,,, 0 ~ Frio e seco A nao ser que voce aque<;a um pouco a agua. a massa ira selar e levar um longo tempo para ativar - em temperaturas extremas ela ficara inerte e o pao pode ficar duro. 0 ~~ Frio externo , com aquecimento central interno +o Se a cozinha est1ver a 22-24°C. s1ga a receita como de costume. ~ ,,,, ,-,, Frio e chuvoso Neve e gelo • Use agua fria Ad1cione 20-30 g de agua a mais para amolecer a massa • Reduza pela metade a quantidade de fermento Enquanto a massa cresce. borrife com agua o pano que a cobre para evitar que ela resseque e forme uma pelfcula na superffcie Reduza o tempo de forno (2-3 minutos a menos). ou o pao ira ressecar Reduza 15-20 g da agua Reduza pela metade a quantidade de fermento Aumente o tempo de forno (cerca de 2-3 minutos a ma1s) 0 mesmo da anterior Use agua morna Certifique-se de ter um local morno para colocar a massa para crescer Cubra bem a massa com varios panos de prato enquanto ela cresce 0 mesmo da anterior Fique na carnal EQUIPAMENTOS E TECNICAS 41 ,' / / I J I •• '"t t ., \ I • A seguir, apresento alguns tipos de massas de fermenta~ao lenta e tecnicas baseadas em principios tao antigos com01-a pr6pria panifica~ao. Estas receitas mostram como e possivel tnelhorar e fortalecer a sua .. ' massa com diversos tipos de "pre-fermento", que permitem que ela cres~a vagarosam ente, adquirindo ' ._!.Im sabor maravilhoso e proporciqnando ae pao uma 6tima textura e ~uma bela c;sca . .. ' I SOURDOUGH (LEVAIN) E OUTROS TIPOS Um "pre-fe rmento" pode ser usado coma base para que a massa cres~a mais vagarosamente. dando um sabor mais intenso e elaborado ao pao depois de assado. Ha certos tipos de pre-fermento que podem ser bem simples de se obter. por exemplo. reservar um pouco da massa ao preparar um pao. deixar descansar por 4-6 horas em temperatura ambiente ou por uma noite na geladeira para fermentar. e depo1s misturar com fa- nnha. agua e sal para usar em sua pr6xima fornada de paes (veJa p. 52). Ou podem ser ma1s complexos. como no caso do "Santo Graal" da panif1cagao. o sourdough. Nao e estranho que o sourdough tenha se tornado tao popular sendo uma das tecnicas de preparo de paes mais anti- gas do mundo? Mas. na culinaria mun- d1al. ha um desejo de voltar as ongens. de redescobrir como cultivar e preparar nossos alimentos de forma natural. de apreciar sabores que nao sejam adul- terados por processos industriais. E o fato do sourdough usar uma levedura selvagem. em vez de industnallzada. o coloca em um pedestal. como um exemplo de alimentagao natural e saborosa. Em termos de sabor. o que torna o sourdough incom- paravelmente especial e o fato de ser um pao notavel. todos os sabores e texturas se unem. mas. ainda assim. cada mordida pode trazer uma experiencia diferente, da casca crocante caramelada aos toques salgados e doces. alem das caracterfsticas notas ac1das. Outra qual1dade e que ele e de mais facil digestao do que mu1tos outros tipos de paes. Sua casca. naturalmen- 44 0 LIVRO DO PAO te grossa. forga a mastigagao e provoca a produgao de saliva. que inicia a quebra dos carboidratos. um processo aux1liado pelo componente acido/azedo. Ao serem que- brados. os carboidratos e protefnas produzem bacterias ativas "beneficas". ajudando a manter o equilfbrio da flo- ra do trato gastrintestinal. da qual depende uma boa di- gestao. Essas bacterias sao semelhantes as encontradas no iogurte natural - aquelas que as grandes empresas alimentfcias exclufram por anos atraves de processos termicos (destinados a prolongar o perfodo de validade do pro- duto). mas que agora estao sendo colo- cadas novamente. chamadas de prob1- 6ticos. e pelas quais valores extras sao cobrados. Parece que sempre soubemos. ins- tintivamente. que precisamos de um componente acido para fornecer equi- lfbrio a nossa dieta. Observe os pratos tradicionais na maioria das culturas. antes da atual fast food. e voce podera notar combi- nagoes tfp1cas como o picles adicionado ao que1jo no Ploughman's (veja p. 150) e o suco de limao regado so- bre o peixe com fritas no Reino Unido. o vinho tinto que acompanha varias massas. na Italia. ou os cornichons com charcuterie (frios com picles) e pate na Franga. Apesar do modismo envolvendo o sourdough. ha muita confusao sobre o que ele realmente seJa. A simples men- gao do nome e como abrir a Caixa de Pandora - tantas sac as questOes. Quanto mais pessoas me perguntam a respeito. mais me dou conta de que mu1tos pensam que sourdough e o nome de um determ1nado pao. quando na verdade e apenas uma mane1ra de descrever um pro- cesso de panifica<;ao que usa a fermenta<;ao de levedu- ras biol6gicas selvagens. presentes em ingredientes que utilizamos no dia a dia. em vez de usar fermentos bio- 16gicos industrializados. As leveduras sac estimuladas a crescer e fermentar por alguns dias. desenvolvendo seu sabor "azedo". Pense nesse processo como algo seme- lhante ao que acontece durante a produ<;ao de queijos. Essa utiliza<;ao de fermentos biol6gicos naturais e uma ma- neira antiga de fermentar o pao. A hist6ria teve origem por volta de 2.000 a.C .. quando uma mu- lher preparava uma massa pri- mitiva para paes chatos junto ao Nilo. Ela assou quase toda a quantidade preparada . prova- velmente em algum tipo de pe- dra. mas deixou sobrar um pou- co. No dia seguinte. ela voltou e misturou a sobra a nova massa que estava fazendo. Depois de assado. o pao estava maior e mais leve do que o usual. e foi assim que nasceu o sourdough. T anto ja foi escrito a respeito de sourdough e fermenta- <;ao natural em livros de receitas. revistas e biogs. que imagino as pessoas lendo com os olhos vidrados. como se fossem as instru<;Oes de uma declara<;ao de imposto de renda. Com isso nao estou dizendo que ele nao preci- sa de um pouco de entendimento e pratica. mas prepa- ra-lo nao tern que ser algo assustador e a recompensa por um pouco de paciencia e notavel. Posso dizer. ho- nestamente. que depois de mais de 30 anos de panifi- ca<;ao. eu nunca retirei um sourdough do forno sem me sentir verdadeiramente realizado. Qualquer tipo de tra- balho envolvendo paes me da uma imensa satisfa<;ao. 46 0 LIVRO DO PAO mas a natureza do preparo do sourdough mais parece um m1lagre. 0 que quero fazer aqui e lhe mostrar como preparo o meu sourdough. pois cada um tern a sua pr6pria versao. Voce poderia dar um quilo da mesma farinha e a mesma receita para 10 padeiros e eles fariam 10 paes diferen- tes. cada um com sua caracterfstica pessoal. Algumas vezes me perguntam como e preparado o sourdough de Sao Francisco. que tern a fama de ser o melhor do mundo gra<;as a natureza especial da levedura selva- gem local (sua cultura ja esta sendo espalhada em outros pafses por varias empresas). Entretanto . acredito firme- mente que o sourdough sem- pre vai refletir o ambiente em que e preparado. S6 posso lhe dizer como eu o preparo atual- mente - chame-o de Sourdough deBath. se desejar - pots ele e ligeiramente diferente do que eu costumava fazer. segu1ndo a mesma tecnica. quando morava em Londres ou na Fran<;a. Pense no seguinte - a pr6pna natureza do uso de fermentos biol6gicos naturais depende da especifi- cidade dos ingredientes e da peculiaridade do ambiente. Por isso. seu sourdough sera sempre verdadeiramente par- ticular. representando voce e o local onde vive. 0 meu e tao caracterfstico que estou certo de que poderia reconhece-lo em um teste com os olhos vendados. Em minha receita de sourdough, descrita a segu1r. eu irei conduz1-lo passo a passo. sem complica<;Oes. como se voce estivesse na cozinha comigo. Nao posso pro- meter que sua primeira tentativa sera perfeita. Leva um pouco de tempo e paciencia - mas. tao certo como ninguem pode garantir nada no mundo da panifica<;ao. posso lhe dizer que. com um pouco de pratica. o resul- tado sera um lindo pao. que o deixara muito orgulhoso. PREPARANDO O SOURDOUGH Ha muitos nomes diferentes para o pre-fermento que esta no cora<;ao do pao sourdough - levain. biga. massa-mae - . mas vou cha ma-lo apenas de "pre-fermento". 0 pre-fermento Voce pode fazer um pre-fermento simples e bas1co mis- turando um pouco de agua morna e farinha de trigo especial para paes. de boa qualidade. e mantendo em local aquecido por 36 horas. ate comer;ar a fermentar. Qualquer outra substancia que for adic1onada. alem de farinha e agua. desde que seja um elemento vivo. como 1ogurte. ou entao doce e ar;ucarado. como mel ou frutas. ira al1mentar a levedura selvagem. aumentar a fermentar;ao. e reforr;ar ainda mais o sabor. Todo pa- deiro possui sua pr6pria receita especial - geralmente "secreta" - e. algumas vezes. um ingred1ente especffico esta na moda. Se alguem d1sser que o 1ogurte e fantas- t ico. ou uvas. ou passas maceradas em suco de laranja. logo todos estarao usando. Eu gosto de adic1onar ao pre-fermento um pouco de mel organico local. de boa qualidade. Outro fator importante e o quao "azedo" voce prefere o seu sourdough. Alguns acreditam que ele deve ser ex- tremamente azedo e acido. mas. pessoalmente. eu pre- firo a massa com um leve toque adocicado. por isso nao deixo que meu pre-fermento amadurer;a demais - ou seja. eu nao o deixo fermentar demasiadamente antes de usar. Como eu ja disse. e importante ter um born volume de pre-fermento. pois quanto maior o volume. mais im- pulse voce pode dar a fermentar;ao. Por isso. a receita da pag1na segu1nte faz uma quantidade suf1ciente para 2 paes grandes e voce ainda tera uma sobra para man- ter na geladeira e usar em um pr6ximo prepare (veja Renovando o pre-fermento. na p. 52). Outro ponto 1mportante e nao limpar as bancadas da cozinha com bactericidas antes de come~ar. E claro que uma boa higiene e sempre importan te ao preparar alimentos. mas para fazer um pre-fermento sourdough voce precisara das leveduras selvagens que estao no ar ao seu redor. Se fizer uma faxina nas superffcies de trabalho (ja vi pessoas fazendo isso) usando algo que garanta matar prat1camente todos os germes existentes e. em seguida. iniciar a sua fermentar;ao. as leveduras selvagens nao sobreviverao. E. finalmente. lembre-se de que para fazer o seu pri- me1ro sourdough voce prec1sara de bastante tempo. pois o processo complete leva varios dias. Em com- pensar;ao. depo1s de ter feito sua primeira porr;ao de pre-fermento. ela podera ser mantida 1ndefinidamente. e usada para fazer pao a cada 2-3 dias. se quiser. FERMENTACAo LENTA 47 48 0 LIVRO DO PAo Estagio 1 Voce vai precisar 50 g de fannha de espelta 150 g de farinha de tngo especial para paes 20 g de mel puro. de preferenc,a organico ( caso esteia cnstallzado. m,sture com um pouco de agua morna) 150 g de agua morna (veja p. 18) Para fazer • Coloque todos os ingred,entes numa t,gela grande (1) e m,sture bem ate obter uma massa mole (2). Cubra com fllme plast,co. • Mantenha em um local morno (cerca de 30°C) por aprox,mada- mente 36-48 horas. ate que a "mas- sa" tenha se soltado e exale um forte cheiro alco6l1co. Evite a tentac;:ao de mexer. Depois desse tempo. ela tera escurec,do um pouco na superffc,e e bolhas comec;:arao a aparecer. es- tourando lentamente (3). E s1nal de que a fermentac;:ao comec;:ou - isso s1gn1f1ca que voce comec;:ou a prepa- rar seu pr6pno pre-fermento b1ol6gi- co - e esta pronto para seguir para o Estag,o 2. que envolve "al,mentar" a mistura para aJudar as celulas a se multiplicarem e expandirem. Estagio 2 Voce vai precisar toda a m1stura do Estag10 1 30 g de farinha de espelta 280 g de farinha de trigo especial para paes 150 g de agua morna Para fazer • Combine as farinhas e ad1c1one. junto com a agua. a mistura fer- mentada na tigela (4). Mexa bem (5). Cubra com filme plast1co. • Deixe descansar por 24 horas. no mesmo local morno (cert1f1que-se de que a temperatura nao seJa in- ferior a 24°C ou voce pode atrasar a fermentai;ao). ate que a mistura tenha desenvolv1do e expand1do um pouco. e comece a exalar um che1ro adoc1cado e levemente fer- mentado. Agora. voce esta pronto para o Estag10 3. No pr6x1mo estag10. voce tra- balhara com apenas 200 g da mistura. Mas nao descarte o restante. que pode ser des1dratado. mofdo e ar- mazenado em um v1dro para ser usado em outra ocasiao (veJa Pre- parando pre-fermento des1dratado. nap. 51). FERMENTACAO LENTA 49 Estagio 3 Voce vai precisar 200 g da mistura do Estag10 2 (reserve o restante. veja na pagina ao lado) 400 g de farinha de trigo espe- cial para paes 200 g de agua morna Para fazer • Mantenha 200 g da mistura na mesma tigela (6). adicione os de- mais ingredientes e mexa (7) ate obter uma massa espessa (8). Cubra com filme plastico. como antes. e de1xe por 12 horas em um ambiente com no mfnimo 24°C de temperatura. Ao termino desse tempo, a massa tera comei;ado a crescer e voce pode passar para o Estagio 4. 50 0 LIVRO DO PAO Estagio 4 Agora que a massa comei;ou a crescer. desacelere um pouco a fermentai;ao para que ela possa amadurecer suavemente. Para isso . coloque-a na parte de bai- xo da geladeira por mais 2 dias. Se preferir que seu sourdough fique mais azedo do que adoci- cado (o que nao e o meu caso) mantenha ali por 4 a 5 dias. 0 pre-fermento estara pronto para ser usado quando. ao pu- xar um pouco da pelfcula que se formou na superffcie. ele estiver com uma colorai;ao amanteiga- da e replete de bolhas. como um favo de mel (9). Deve pa- recer vivo e bastante grudento. e ter um cheiro caracterfstico. ligeiramente acido e alco61ico. Se provar um pouco. ele sera agradavelmente acido, mas nao muito forte. Voce devera ter agora 800 g de pre-fermento. Separe 400 g para usar no prepare dos paes (veja p. 54 ). e mantenha 400 g na tigela. Leve de volta a gela- deira e lembre-se de renova-lo a cada 2-3 dias. para mante-lo adequado para o uso (veja p. 52). Preparando pre-fermento desidratado Se desejar. no final do Estagio 2. separe cerca de 600 g da mistura que sobrar (veja p. 49) e desidrate para usar em outra oportunidade. Misture com 500 g de farinha de trigo especial para paes - sera bem firme e diffcil de m,sturar. mas mantenha assim. Deixe uma assadeira pronta. forra- da com papel-manteiga . e preaquec;a o forno a 30-40°C ou na menor tempe- ratura possfvel. Esfarele ou pique bem a mistura. e espalhe sobre a assadeira. Leve ao for- no por 2-3 horas ate que os pedac;os estejam secos. Deixe esfriar. Depois de fnos. coloque em um pro- cessador e bata ate moer. 0 fermento seco pode ser armazenado em rec1p1en- te hermet,co e usado em outra ocas,ao. Para reativa-lo , coloque em outro re- c1p1ente e adicione a mesma quantidade de agua morna - por exemplo. a cada 100 g de fermento desidratado junte 100 g de agua morna -
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