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Autoras: Profa. Deborah Gomes de Paula Profa. Silvana Nogueira da Rocha Colaboradoras: Profa. Penha Maria Mendes Terra Profa. Tânia Sandroni Redação Empresarial Professoras conteudistas: Deborah Gomes de Paula / Silvana Nogueira da Rocha Deborah Gomes de Paula Possui graduação em Letras em Língua Portuguesa, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004), mestrado em Língua Portuguesa, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2008), doutorado em Língua Portuguesa, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2017) e pós-doutorado em Língua Portuguesa, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2019). Atualmente é professora da UNIP e membro do Grupo de Pesquisa Núcleo de Pesquisa e Ensino de Português como Língua Estrangeira (Nupple) do Instituto de Pesquisa “Sedes Sapientiae” (IP) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2004). Atua no Ensino a Distância da UNIP, desde 2009, como professora conteudista, elaborando livros para o curso de Letras, bem como os materiais necessários para gravação de aulas. Tem experiência na área de linguística, com ênfase em linguística textual, atuando principalmente nos seguintes temas: análise crítica do discurso; argumentação; ensino-aprendizagem; inclusão social; representação social; discurso jornalístico e crônica do cotidiano. Silvana Nogueira da Rocha Professora de língua inglesa, tradutora e revisora de textos há 25 anos. Graduada em Letras com habilitação em Tradução Inglês/ Português, pela Faculdade Capital (atual Unicapital) e mestre em Tradução Inglês/Português pela extinta Unibero (atual Centro Educacional Anhanguera). Atualmente, ministra disciplinas de língua inglesa para o curso de Licenciatura em Letras e algumas relacionadas à tradução técnica e literária para o bacharelado em Tradução, no campus Vergueiro, onde participa ativamente das atividades voltadas para o tradutor, em laboratórios específicos, como os de CAT tools, legendagem, portfólio online, revisão e tradução de abstracts, juntamente com os alunos e monitores. Tem atuado no Ensino a Distância da UNIP, desde 2011, como professora conteudista, elaborando livros das disciplinas de língua inglesa para o curso de Letras, bem como os materiais necessários para gravação de aulas. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) P314r Paula, Deborah Gomes de. Redação Empresarial / Deborah Gomes de Paula, Silvana Nogueira da Rocha. – São Paulo: Editora Sol, 2020. 148 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Gêneros textuais. 2. Comunicação interna e externa. 3. Correspondências. I. Rocha, Silvana Nogueira da. II. Título. CDU 651.74 U505.71 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vera Saad Talita Lo Ré Sumário Redação Empresarial APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 ESTILO E QUALIDADE DE TEXTO ................................................................................................................. 11 1.1 Estilo do texto ........................................................................................................................................ 12 1.1.1 Prolixidade ................................................................................................................................................. 13 1.1.2 Rebuscamento ......................................................................................................................................... 14 1.1.3 Frases e parágrafos demasiadamente longos ............................................................................. 15 1.1.4 Construções frasais intercaladas ou invertidas .......................................................................... 17 1.1.5 Chavões ....................................................................................................................................................... 18 1.1.6 Pleonasmo vicioso ................................................................................................................................. 19 1.1.7 Abuso de jargão técnico ..................................................................................................................... 21 1.1.8 Coloquialismo excessivo ...................................................................................................................... 22 1.2 Qualidade do texto .............................................................................................................................. 23 1.3 O texto técnico ...................................................................................................................................... 25 2 INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E ATUAÇÃO PROFISSIONAL ................................................................. 27 2.1 Os tipos de inteligência .................................................................................................................... 28 2.2 As inteligências múltiplas e o mundo do trabalho ................................................................. 29 2.2.1 Inteligência lógico-matemática ...................................................................................................... 29 2.2.2 Inteligência espacial ............................................................................................................................. 29 2.2.3 Inteligência linguística ........................................................................................................................ 30 2.2.4 Inteligência musical .............................................................................................................................. 30 2.2.5 Inteligência corporal/cinestésica ...................................................................................................... 31 2.2.6 Inteligência intrapessoal ..................................................................................................................... 31 2.2.7 Inteligência interpessoal ..................................................................................................................... 32 2.2.8 Inteligência naturalista ....................................................................................................................... 32 Unidade II 3 PLANEJAMENTO, REDAÇÃO E REVISÃO DE TEXTO PROFISSIONAL .............................................. 36 3.1 Planejar com cuidado ......................................................................................................................... 38 3.2 Setorizar o texto ...................................................................................................................................38 3.3 Elaborar frases curtas e claras ......................................................................................................... 38 3.4 Usar vírgulas ........................................................................................................................................... 38 3.5 Separar ideias por parágrafos ......................................................................................................... 39 3.6 Eliminar maneirismos ......................................................................................................................... 42 3.7 Fugir do uso excessivo do “inglês corporativo”� ...................................................................... 43 3.8 Pesquisar .................................................................................................................................................. 43 3.9 Enumerar itens ...................................................................................................................................... 45 3.10 Ler o texto em voz alta .................................................................................................................... 46 4 REDAÇÃO EMPRESARIAL E GÊNEROS TEXTUAIS EMPRESARIAIS ................................................ 47 4.1 Estudo de caso 1: não tenha medo de compartilhar ............................................................ 48 4.2 Estudo de caso 2: estude a boa escrita ....................................................................................... 50 4.3 Pensar antes de escrever ................................................................................................................... 51 4.4 Ser direto ................................................................................................................................................. 52 4.5 Cortar o excesso e evitar jargões ................................................................................................... 52 4.6 Ler o que está escrito e guiar os leitores por meio da sua escrita ................................... 53 4.7 Praticar todos os dias e escolher um estilo adequado .......................................................... 53 4.8 Usar verbos na voz passiva de forma apropriada ................................................................... 54 4.9 Gêneros textuais empresariais ........................................................................................................ 54 Unidade III 5 COMUNICAÇÃO PARA RELACIONAMENTO E LIDERANÇA ............................................................. 59 5.1 Atendimento e liderança ................................................................................................................... 59 5.2 Feedback ................................................................................................................................................... 62 5.3 Relacionamento interpessoal .......................................................................................................... 64 5.4 Técnicas de argumentação ............................................................................................................... 67 5.4.1 O texto dissertativo ................................................................................................................................ 68 5.4.2 Os procedimentos de argumentação .............................................................................................. 69 6 COMUNICAÇÃO INTERNA E EXTERNA ................................................................................................... 72 6.1 A comunicação eletrônica no trabalho ....................................................................................... 73 6.1.1 E-mail .......................................................................................................................................................... 74 6.1.2 Ferramentas digitais .............................................................................................................................. 76 6.1.3 O uso das redes sociais no trabalho ................................................................................................ 77 Unidade IV 7 CORRESPONDÊNCIAS COMERCIAIS: CARTA, RELATÓRIO, ATA, MEMORANDO, CIRCULAR E E-MAIL .................................................................................................. 84 7.1 Carta comercial ..................................................................................................................................... 88 7.1.1 Carta informativa ................................................................................................................................... 92 7.1.2 Carta descritiva ........................................................................................................................................ 94 7.1.3 Carta dissertativa ..................................................................................................................................101 7.2 Relatório .................................................................................................................................................107 7.2.1 Modelo de relatório administrativo ..............................................................................................109 7.3 Ata ............................................................................................................................................................111 7.3.1 Modelo de ata ........................................................................................................................................112 7.4 Memorando ..........................................................................................................................................114 7.4.1 Modelo de memorando ...................................................................................................................... 115 7.5 Circular ...................................................................................................................................................116 7.5.1 Modelo de circular ............................................................................................................................... 116 7.6 E-mail ......................................................................................................................................................117 7.6.1 Modelo de e-mail ................................................................................................................................119 8 CORRESPONDÊNCIAS OFICIAIS: ATESTADO, DECLARAÇÃO, OFÍCIO, PROCURAÇÃO E REQUERIMENTO...............................................................................................125 8.1 Atestado .................................................................................................................................................126 8.2 Declaração .............................................................................................................................................127 8.3 Ofício .......................................................................................................................................................128 8.4 Procuração ............................................................................................................................................130 8.5 Requerimento ......................................................................................................................................132 9 APRESENTAÇÃO O objetivo geral desta disciplina é capacitar o aluno para a elaboração de textos técnicos e/ou profissionais, explorando o campo teórico e reflexivo da comunicação, permitindo a análise e o desenvolvimento dos tipos de textos mais frequentes no âmbito profissional. Nos conteúdos e exercícios que se encontram distribuídos nos itens e subitens nolivro-texto da disciplina, discutiremos os diferentes gêneros textuais que fazem parte da redação empresarial, pontuando seu planejamento, organização, qualidade, estilo e hierarquia; as inteligências múltiplas e o mundo do trabalho; a comunicação interna, externa e eletrônica no trabalho. Através da leitura dos conteúdos e resolução consistente dos exercícios, esperamos que você não apenas compreenda a importância da comunicação na organização, mas que tenha maior domínio da expressão escrita, de modo a evitar equívocos e ambiguidades que influenciem a imagem corporativa. Ao relacionar os aspectos da comunicação e os recursos que qualificam o texto técnico/profissional, temos os objetivos específicos: • Conhecer e trabalhar com os mecanismos linguísticos e discursivos da expressão da escrita. • Ter maior domínio da expressão escrita, de modo a evitar equívocos e ambiguidades que comprometam a imagem corporativa. • Conhecer e compreender a importância da comunicação na organização. • Conhecer os principais aspectos e veículos da comunicação interna e externa na empresa. INTRODUÇÃO O livro-texto contempla todos os assuntos mencionados na apresentação. Primeiro, classificaremos o texto técnico, assim como o estilo e qualidade de texto no ambiente corporativo. Para tanto, abordaremos fatores linguísticos e extralinguísticos que interferem na construção textual. Em seguida, trataremos da relação entre a Teoria das Inteligências Múltiplas e a atuação profissional. Para tanto, classificaremos os tipos de inteligências e a construção das competências, na medida em que os textos elaborados no ambiente corporativo decorrem de processos de aquisição de conhecimento e sua aplicação. Posteriormente, trataremos do planejamento, redação e revisão de texto profissional de modo a priorizar a construção dos sentidos, por meio das etapas para estruturar os textos buscando elaborar textos mais adequados e eficientes que refletem a imagem corporativa. No tópico redação empresarial e gêneros textuais empresarias, mencionaremos os tipos de textos que circulam no ambiente corporativo, bem como as técnicas e vocabulários utilizados na área de especialidade. 10 Discutiremos, ainda, a importância da comunicação para relacionamento e liderança, bem como a comunicação interna e externa nas empresas. A comunicação empresarial é a maneira com que a empresa estabelece comunicação com o público interno (funcionários) e externo (fornecedores e clientes). Assim, é fundamental para a organização construir um relacionamento com diferentes públicos por meio de um processo de interação de modo a alcançar os objetivos propostos. Por fim, estudaremos os tipos de textos técnicos/profissionais que circulam no ambiente corporativo, especificamente as correspondências comerciais: carta, relatório, ata, memorando, circular e e-mail, além das correspondências oficiais: atestado, declaração, ofício, procuração e requerimento. Lembre-se de que, em adição ao conteúdo proposto, é importante fazer a leitura da bibliografia indicada. 11 REDAÇÃO EMPRESARIAL Unidade I 1 ESTILO E QUALIDADE DE TEXTO O bom domínio das habilidades linguísticas é fundamental para que os profissionais da área empresarial obtenham sucesso. Uma pesquisa entre os assinantes da Harvard Business Review colocou a capacidade de comunicar como o principal requisito a ser examinado para se promover um executivo. Um artigo da revista apontava que o maior problema enfrentado pelos homens de negócio atualmente é a dificuldade na produção de texto escrito. Consequentemente, são recorrentes os questionamentos sobre o que, afinal, eles aprendem nas escolas atualmente. Figura 1 Hoje o processo de ensino de língua portuguesa está pautado no domínio do código linguístico e sabe-se que um trabalho voltado exclusivamente para o sistema e suas regras não é capaz de formar indivíduos competentes em termos de produção e recepção de textos. O domínio de outros conhecimentos e habilidades é imprescindível nesse processo. Entre eles, está o conhecimento do contexto comunicativo em suas diversas formas de interação. Além de conhecer a língua, é necessário entender o texto e o contexto, entender a perspectiva de gênero em que linguagem e atividade são realidades imbricadas, em que saber uma língua significa saber agir naquela língua. É de extrema importância que a perspectiva de gênero faça parte da realidade do profissional para que resultados significativos sejam alcançados. Ainda em relação à linguagem, especialistas da área empresarial advertem sobre a importância de profissionais da área dominarem os termos específicos da profissão, os jargões, os quais concedem precisão e economia na linguagem. Para os autores Lacombe e Heilborn: 12 Unidade I Embora maus profissionais escondam suas fraquezas atrás de linguagens herméticas e, às vezes, sem sentido, a necessidade de palavras específicas e bem definidas, para cada profissão, é amplamente reconhecida como instrumento poderoso de comunicação, pela precisão e capacidade de síntese que proporcionam (LACOMBE; HEILBORN, 2015, p. 212). Para os autores, “o domínio dos termos técnicos da especialidade é indispensável a qualquer profissional de bom nível” (LACOMBE; HEILBORN, 2015, p. 212). Cabe ressaltar que é frequente, na literatura da área, menção às características da boa comunicação no ambiente empresarial, principalmente referente à produção de textos escritos, como objetividade, clareza, simplicidade, precisão, correção e concisão. Algumas dicas relativas devem ser seguidas pelo produtor do texto, como revisar o texto, colocar-se no lugar do receptor e submeter o texto à leitura de outras pessoas, antes da emissão. É preciso levar em conta o perfil do interlocutor e as condições de produção de modo geral. A comunicação é influenciada, sobretudo, pela oportunidade, pelo momento (quando) em que dizemos algo. O sucesso da comunicação depende de adaptar as tentativas de intercomunicação à ocasião/situação, ao tema, às pessoas envolvidas e a um tom previamente escolhido. Lembrete Os textos elaborados, de modo geral, em especial no âmbito empresarial, possuem finalidades específicas de forma que o uso criativo reflete uma possibilidade já inscrita no próprio funcionamento do gênero empresarial, envolvendo diferentes perspectivas, como: gestão, administração e empreendedorismo. Além disso, as interpretações dos textos estão vinculadas à subjetividade, de forma que outros aspectos se destacam, além do linguístico, como responsáveis por problemas comunicacionais. 1.1 Estilo do texto Há a percepção de que se comunicar de forma eficiente envolve uma série de fatores, como psíquicos, sociais e ideológicos. De acordo com Silveira e Murashima (2011), os principais empecilhos que comprometem o estilo textual contemporâneo são: prolixidade, rebuscamento, frases e parágrafos demasiadamente longos, construções frasais intercaladas ou invertidas, chavões, pleonasmo vicioso, abuso de jargão técnico e coloquialismo excessivo. 13 REDAÇÃO EMPRESARIAL 1.1.1 Prolixidade Ser prolixo é dizer de forma excessivamente detalhada ou cheia de circunlóquios o que pode ser expresso de modo direto. A prolixidade é um problema que compromete a escrita, pois a tendência é prorrogar desnecessariamente o discurso e exagerar no número de argumentos e palavras. Isso não é bom, pois o texto fica confuso, monótono, entediante. O escritor não sabe a hora de parar, de pontuar, tampouco consegue organizar as ideias de maneira concisa e clara. É óbvio que não devemos omitir informações importantes ao leitor, que sejam fundamentais para a compreensão do assunto abordado, mas a falta de objetividade ocasiona repetição de vocábulos e de ideias que, consequentemente, originam o texto prolixo. Na verdade, a qualidade do texto não está relacionada à quantidade de material linguístico. Para identificar se seu texto está prolixo, procure verificar se há: pequenas orações ou expressõesque podem ser retiradas sem qualquer dano ao significado; explicações genéricas; repetição de termos, de conteúdo ou do pronome relativo “que”. Leia o texto a seguir: A vida na Terra poderia ser uma vida mais tranquila, uma vida mais pacífica e sossegada. Observe a reprodução dispensável da palavra “vida”, bem como das informações “tranquila”, “pacífica” e “sossegada”, que têm o mesmo sentido. Seria melhor escrever: “A vida na Terra poderia ser mais tranquila”. Vejamos outro exemplo: A importância da Mata Atlântica é inquestionável, precisamos dela para vivermos melhor, para respirarmos melhor, para nos alimentarmos melhor, afinal, ela é um dos pulmões da Terra e, portanto, é fundamental para a nossa sobrevivência. Perceba quantas informações repetidas. As frases “precisamos dela para vivermos melhor, para respirarmos melhor, para nos alimentarmos melhor” e “ela é um dos pulmões da Terra e, portanto, é fundamental para nossa sobrevivência” têm o mesmo sentido. Além disso, é redundante dizer “vivermos melhor” junto a “para respirarmos melhor”, pois quem vive também respira. O ideal seria escrever “A importância da Mata Atlântica é inquestionável, afinal, ela é um dos pulmões da Terra e, portanto, é fundamental para nossa sobrevivência”. Leia outro exemplo de prolixidade. Este é o menino que sugeriu que seria melhor que fizéssemos um mutirão que abrangesse todo o setor, para que todos tivessem a oportunidade de contribuir. 14 Unidade I O “que” não é o único pronome relativo que existe e estabelece coesão a um texto. Prefira fazer substituições ou excluir o pronome quando possível. Uma boa sugestão para reescrever a frase é “Este menino é quem sugeriu que o mutirão fosse realizado em todo o setor, pois, dessa maneira, todos teriam a oportunidade de contribuir”. 1.1.2 Rebuscamento Ser rebuscado é dizer de forma complexa o que pode ser dito de modo simples, principalmente pelo vocabulário sofisticado. Quando você usa linguagem rebuscada, está passando o seguinte recado para o leitor: “Eu não me importo a mínima com você. Estou apenas mostrando que sou muito letrado, enquanto você é apenas um reles mortal”. Ou seja, escrever com rebuscamento significa complicar demais o que é simples e se colocar num pedestal onde ninguém poderá lhe alcançar. Se, quando escrevemos, a objetividade deve prevalecer no texto, usar e abusar de linguagem rebuscada não é o melhor caminho. Portanto, quando pensar em usar um termo complexo, substitua-o por algo mais simples. É muito comum observarmos o excesso de rebuscamento na linguagem jurídica e, muitas vezes, não compreendermos a mensagem que se pretende passar. Márcio Maturana, autor de um artigo publicado no site JusBrasil, diz que termos rebuscados atrapalham a compreensão de sentenças judiciais e textos do direito. Em vez de “cadeia”, “ergástulo público”; no lugar de “viúvo”, “consorte supérstite”; em vez de “cheque”, “cártula chéquica”. Palavras estranhas e desconhecidas no nosso idioma, entrecortadas por expressões e citações em latim, uma língua morta, tornam incompreensíveis muitas sentenças judiciais e outros textos do direito. No entanto, é importante observar que algumas palavras e expressões em latim já não criam tanta dificuldade de comunicação entre a Justiça e o público leigo, como o termo habeas corpus, de conhecimento da maioria e presente dessa forma, sem explicação ou tradução, na Constituição Federal. O costume de inviabilizar a comunicação existe não só entre juízes, mas também entre advogados e outros profissionais da área. A orientação é pela informação clara e compreensível, porém os próprios magistrados lançam mão do rebuscamento. A Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) já fez uma intensa campanha a favor da simplificação da linguagem jurídica. A partir de 2005, foram feitos concursos para estudantes e magistrados e distribuição de uma cartilha com glossário de expressões jurídicas. A iniciativa foi motivada depois que uma pesquisa do Ibope encomendada pela própria AMB revelou que a população brasileira se incomodava não só com a lentidão dos processos na Justiça como também com a linguagem hermética e pedante. No entanto, deve-se ressaltar que, apesar de haver defensores de textos jurídicos mais claros e diretos, o objetivo não é chegar a algo próximo do coloquialismo, da forma que acontece nos textos jornalísticos. A linguagem técnica faz parte do diálogo até de outras categorias profissionais, como de médicos ou de engenheiros. 15 REDAÇÃO EMPRESARIAL Observe o parágrafo a seguir: O vetusto vernáculo manejado no âmbito dos excelsos pretórios, inaugurado a partir da peça ab ovo, contaminando as súplicas do petitório, não repercute na cognoscência dos frequentadores do átrio forense. Ad excepcionem o instrumento do remédio heroico e o jus laboralis, onde o jus postulandi sobeja em beneplácito do paciente (impetrante) e do obreiro. Hodiernamente, no mesmo diapasão, elencam-se os empreendimentos in judicium specialis, curiosamente primando pelo rebuscamento, ao revés do perseguido em sua prima gênese. Defensores de linguagem clara nos tribunais frequentemente lembram uma história que teria acontecido num tribunal de Santa Catarina. “Encaminhe o acusado ao ergástulo público”, disse o juiz. Dois dias depois, a ordem ainda não havia sido cumprida porque ninguém sabia o significado de “ergástulo” — palavra arcaica usada como sinônimo de cadeia. Nascedouro das leis que fundamentarão as decisões dos juízes, o Senado já se preocupa com a clareza logo na apresentação dos projetos que estão tramitando. Quando o cidadão faz uma pesquisa sobre qualquer projeto na página do Senado (www.senado.gov.br/atividade), encontra na aba “Identificação da matéria” o nome do autor do projeto, depois a ementa apresentada no texto parlamentar e, logo abaixo, o item “Explicação da ementa” – um serviço criado para facilitar e agilizar o entendimento de todas as proposições e que se antecipou às exigências da Lei de Acesso à Informação, a qual obriga órgãos e entidades da administração federal a divulgarem uma série de informações em suas páginas na internet, além de abrirem espaço para a solicitação de acesso a informações. Uma equipe na Secretaria-Geral da Mesa, com formação em Direito, trabalha na explicação das ementas logo que os documentos são apresentados para exibição no site, facilitando o entendimento dos termos originais dos projetos de lei. 1.1.3 Frases e parágrafos demasiadamente longos A origem da palavra “parágrafo” é grega e significa “escrever ao lado” ou “escrito ao lado”, sendo seu símbolo (§) ainda muito utilizado nos artigos legislativos. Curioso notar que o símbolo do parágrafo equivale a dois “S” envolvidos, que representam as iniciais das palavras latinas signum sectionis (sinal de secção, de corte). O parágrafo corresponde a uma estrutura textual na qual estão contidas informações de um texto, sendo caracterizado por um recuo em relação à margem esquerda do texto. Lembre-se de que o texto constitui um todo coeso, composto de diversos parágrafos, os quais, por sua vez, são constituídos por diversas frases, que apresentam uma determinada coerência e coesão entre si, ou seja, uma ideia central mediante pontuação e uso de elementos coesivos adequados à semântica do texto. A passagem de um parágrafo ao outro dependerá do conteúdo e da finalidade do emissor de construí-lo. A partir disso, lembre-se de que a eficácia de um texto e o sucesso para a abordagem de um tema se formam mediante o discurso e a concatenação das ideias apresentadas pelo locutor, de forma a permitir o entendimento do interlocutor. 16 Unidade I Observação Importante destacar que a composição do parágrafo interfere não só na construção da superfície do texto como também em sua coerência e coesão, outros dois elementos imprescindíveis, de que iremos tratar nesta disciplina. Dependendo da dimensão e do tipo de texto, os parágrafos são classificados em: longos, médios, curtos,narrativos, descritivos e dissertativos. Vamos observar as características de cada um deles. • Longos: muito utilizados em textos acadêmicos, monografias, teses e artigos visto que apresentam conceituações, definições e exemplificações. • Médios: normalmente encontrados nos meios de comunicação, como as revistas e os jornais. Eles prendem a atenção do leitor, uma vez que suas ideias são apresentadas de maneira menos prolixa. • Curtos: encontrados nos textos infantis ou propagandas de publicidades. Constituídos por poucas palavras, e, no caso das propagandas, há uso de frases de destaque. • Narrativos: utilizam dos recursos de textos narrativos para a construção do parágrafo, como o predomínio dos verbos de ação. Nesse caso, se o discurso utilizado for o direto, pode haver travessões para indicar as falas das personagens. • Descritivos: repletos de adjetivos, verbos de ligação e orações coordenadas. Apresentam uma descrição e/ou apreciação de objeto, pessoa, lugar, acontecimento, entre outros. • Dissertativos: apresentam uma ideia e a defendem por meio de argumentação. A constituição de um parágrafo envolve três partes fundamentais: introdução, desenvolvimento e conclusão. A introdução é chamada de “tópico frasal” e define toda a ideia do parágrafo. Alguns recursos que auxiliam na estruturação de um tópico frasal são: uma alusão histórica, declaração inicial, interrogação etc. O desenvolvimento é o momento de explicação do tópico inicial. Algumas maneiras para o desenvolvimento do texto são: desenvolvimento por definição, fundamentação, exemplos, detalhes, comparação. A conclusão é a parte em que ocorre o arremate e a retomada para encerrar a ideia inicial. Como o objetivo do tópico é alertar o escritor para evitar parágrafos demasiadamente longos, segue um exemplo do que é considerado um “parágrafo longo”: 17 REDAÇÃO EMPRESARIAL Interessante notar que o sucesso da obra não fora passageiro e seu reconhecimento implicou o aumento considerável do número de vendas e edições ao longo desses anos, sobretudo do conhecimento e reconhecimento do público; e, se pensarmos assim, já temos certeza de que esse “personagem lendário” adquiriu uma posição de destaque, já que é considerada uma das maiores obras infanto-juvenis do Brasil, de modo que atualmente é utilizada nas escolas como ferramenta de acesso e, consequentemente, para disseminar o gosto pela leitura. Além disso, foi adaptada para cinema, série televisiva e desenho animado, expandindo ainda mais os corriqueiros momentos de travessuras desse menino tão maluquinho. 1.1.4 Construções frasais intercaladas ou invertidas Frases invertidas, muitas vezes, causam dificuldade para serem entendidas. Vamos observar um exemplo bastante simples na construção das frases “De você eu gosto” e “Eu gosto de você”. As palavras são as mesmas, mas a ordem se altera. Será que a primeira frase tem exatamente o mesmo sentido da segunda? Podemos convir em que o sentido seja o mesmo, mas sabemos que ninguém coloca as palavras numa certa ordem por acaso. Quando alguém diz “De você eu gosto”, a ênfase recai no sintagma “de você”. Essa inversão da ordem gera mudança de foco. Note que “de você eu gosto” é diferente de “eu gosto de você” no que diz respeito àquilo que está sendo destacado: “de você eu gosto, dela não”. No português a ordem das palavras numa frase é relativamente flexível. A alteração da ordem tem normalmente algum efeito estilístico. Vamos ver um exemplo, extraído da canção “Zé Ninguém”, gravada pelo Biquíni Cavadão: [...] Quem foi que disse que a justiça tarda, mas não falha? Que, se eu não for um bom menino, Deus vai castigar! Os dias passam lentos aos meses seguem os aumentos cada dia eu levo um tiro que sai pela culatra eu não sou ministro, eu não sou magnata eu sou do povo, eu sou um Zé Ninguém aqui embaixo, as leis são diferentes [...] 18 Unidade I Note que, na frase “aos meses seguem os aumentos”, o autor faz uso de uma inversão e é possível rastrear a intenção que a gerou. Observe, porém, que, para que não houvesse ambiguidade, o letrista preposicionou o objeto direto “os meses”. Do contrário, ele poderia passar como sujeito da oração. O objeto direto preposicionado é um recurso para destacar o sujeito da oração, sem margem a dúvidas. Mas qual teria sido a intenção de inverter a ordem dos termos na oração? Na ordem direta seria “os aumentos seguem os meses”, ou seja, “os meses vão correndo e, com eles, os aumentos”. Nessa sequência, não haveria rima entre os termos “lentos” e “aumentos”. Alterando a ordem das palavras, o compositor obteve um efeito de rima. Trata-se de um recurso estilístico perfeitamente possível. É a estrutura frasal se flexibilizando para atender àquilo que efetivamente se quer dizer. No entanto, o exemplo diz respeito à linguagem poética, em que o estilo do autor conta muito e há toda essa liberdade de criação. Quando o assunto é texto técnico ou profissional, as inversões devem ser evitadas a fim de facilitar o entendimento do leitor e evitar ambiguidades ou más interpretações. 1.1.5 Chavões Chavão é um substantivo masculino da língua portuguesa que significa uma ideia, frase ou pensamento já desgastado, pois já foi muito utilizado e é considerado “lugar-comum”, um clichê. No sentido linguístico da palavra, o chavão possui uma característica vulgar, sendo desprezado o seu uso em textos técnicos, científicos ou jornalísticos, sempre que possível. Vamos observar alguns exemplos de chavões: Abrir com chave de ouro. Agradar a gregos e troianos. Antes de mais nada. Caixinha de surpresas. Calorosos aplausos. Colocar o dedo na ferida. Do Oiapoque ao Chuí. Fechar com chave de ouro. Inserido no contexto. Joia da coroa. 19 REDAÇÃO EMPRESARIAL Os quatro cantos do mundo. Rota de colisão. Uma luz no fim do túnel. Vitória esmagadora. Como são expressões antigas e desgastadas, é possível observar certos chavões em introduções ou conclusões de carta comerciais, que são de conhecimento de todos, como: Vimos através desta solicitar... Venho pela presente solicitar... Reiteramos os protestos de elevada estima e consideração. Vamos analisar um parágrafo de redação escrito com chavões. Você certamente vai perceber que já leu algo parecido e que também já escreveu algum texto com um conteúdo semelhante. São “frases prontas”, tomadas como “verdades universais”, muito repetidas ao longo dos anos, que acabam se tornando vícios de linguagem. Às vezes, usamos sem perceber, mas eles enfraquecem o texto. Um verdadeiro vírus da redação. Nos dias de hoje, o problema da saúde é uma das questões mais importantes para o povo brasileiro. A população precisa se conscientizar de seu papel na busca por um futuro melhor para as próximas gerações. Apesar do estado precário dos hospitais do país, os governantes corruptos não se mobilizam e só o que se vê é descaso. Mas deve se pensar positivo, porque a esperança é a última que morre. Notou algo familiar? Se sim, fuja dos chavões caso seu intuito seja escrever textos mais elaborados. 1.1.6 Pleonasmo vicioso De fato, não é difícil encontrar várias ocorrências desse vício de linguagem no dia a dia e em vários textos que lemos. De acordo com o artigo “O Pleonasmo”, de Lúcia Vaz Pedro (2014), o próximo texto é repleto de pleonasmo. Vamos observar. De chapéu na cabeça, o homem desceu para baixo e fez-lhe uma surpresa inesperada. Encarou-a de frente e gritou-lhe alto que tinha a certeza absoluta de que ela era uma pessoa humana e nunca decapitaria a cabeça a ninguém. A multidão de pessoas que estava a assistir à estreia pela primeira vez da peça de teatro bateu palmas com as mãos. Fonte: Pedro (2014). 20 Unidade I O pleonasmo é uma figura de estilo que consiste numa redundância, numa expressão. Essa figura de estilo é usada por grandes escritores com o objetivo de enfatizar algo nos seus textos. É o caso de Fernando Pessoa em Mensagem, quando diz “ó mar salgado, quanto do teu sal/São lágrimas dePortugal”. Nesse caso, pretendeu-se realçar o sal do mar e o das lágrimas. Trata-se, pois, de um pleonasmo literário. Porém, no dia a dia, verifica-se o uso de outros que são repetições desnecessárias de algum termo ou ideia na frase, ou seja, não são figuras de linguagem, mas um vício de linguagem. Adiar para depois (quando se adia, ficará para depois). Almirante da Marinha (só existe essa patente na Marinha). Bater palmas com as mãos (quando se bate palmas, é sempre com as mãos). Cego dos olhos (quando se diz “cego”, não é necessário se referir aos olhos). Certeza absoluta (se uma pessoa tem a certeza, ela só pode ser absoluta). Cheirar com o nariz (apenas o nariz pode cheirar). Conclusão final (se é uma conclusão, é a parte final). Criar novas (quando se cria, é alguma coisa nova). De chapéu na cabeça (o chapéu é sempre colocado na cabeça). Decapitar a cabeça (só a cabeça pode ser decapitada). Demente mental (a demência é uma doença mental). Descer para baixo (descer implica que seja para baixo). Dupla de dois (a dupla é sempre formada por dois elementos). Elo de ligação (se é um elo, só pode ser de ligação). Encarar de frente (quando se encara, é sempre de frente). Entrar para dentro (o ato de entrar é sempre para dentro). Estreia pela primeira vez (se se trata de uma estreia, então é a primeira vez). Expressamente proibido (não há como proibir algo sem dizê-lo). Fato real (quando se trata de um fato, é sempre real). Gritar alto (quando se grita, só pode ser alto). 21 REDAÇÃO EMPRESARIAL Há dois anos atrás (se foi há dois anos, foi no passado). Hemorragia de sangue (a hemorragia é um derramamento de sangue). Mais melhor (se algo é melhor, obviamente será mais conveniente). Maluco da cabeça (se está maluco, só pode ser da cabeça). Multidão de pessoas (multidão é um grupo de pessoas). Países do mundo (os países estão localizados no mundo). Panorama geral (quando é um panorama, é uma abordagem geral). Pessoa humana (se se trata de uma pessoa, só pode ser humana). Prefiro mais (preferir implica gostar mais de alguma coisa). Sair para fora (o ato de sair é sempre para fora). Sintomas indicativos (sintomas sempre indicam algo). Subir para cima (subir implica que seja para cima). Surpresa inesperada (se se trata de uma surpresa, é sempre inesperada). Unanimidade de todos (a unanimidade implica que seja de todos). Verdade verdadeira (se é verdade, é verdadeira). Vereador da cidade (não há vereadores sem ser da cidade). Fonte: Pedro (2014). Essas expressões devem ser evitadas, pois são pleonasmos viciosos; não pretendem reforçar uma noção já implicada no texto. São fruto do desconhecimento do sentido das palavras por parte do falante. O pleonasmo vicioso é muito utilizado na modalidade oral, o que acaba por influenciar a modalidade escrita. 1.1.7 Abuso de jargão técnico A palavra “jargão” significa uma linguagem pouco compreensível. Seu uso provoca uma comunicação viciada e corrompida, demonstrando pouco conhecimento de uma língua ou a intencionalidade de que a conversa não seja compreendida por quem não pertença ao círculo. O jargão profissional representa um discurso de difícil compreensão para quem não faz parte do meio em que é falado. É o caso das áreas ligadas ao direito (jargão jurídico ou juridiquês), à economia (economês), à medicina, às TI (Tecnologias de Informação), às Forças Armadas (jargão militar), ao esporte etc. 22 Unidade I A introdução de palavras desconhecidas no discurso dificulta seu entendimento e pode afugentar o interlocutor, por isso, deve ser evitada. Em alguns casos, o jargão pode ser sinônimo de calão, indicando algumas palavras usadas na linguagem informal. Vamos observar alguns exemplos: Apresenta uma massa cística indeterminada e septos espessos irregulares, mas com realce mensurável. O tweak pode ser feito no BIOS da motherboard. A mochila vem com um mouse ótico USB com scrolling de quatro direções e conexão Plug&Play. Os exemplos anteriores estão relacionados aos jargões da área médica e da informática. 1.1.8 Coloquialismo excessivo A linguagem coloquial é uma variação de linguagem popular utilizada em situações cotidianas mais informais. A coloquialidade encontra fluidez na oralidade e, assim, não requer adequação às normas da gramática tradicional (norma culta da língua portuguesa). É na linguagem coloquial que encontramos as gírias, os estrangeirismos, os neologismos e as abreviações, isto é, palavras e expressões que não se relacionam à norma culta da língua portuguesa. É importante destacar que todos os estilos de linguagem têm sua relevância para os falantes da língua e podem e devem ser eleitos dependendo do contexto em que ocorre a situação comunicativa. A linguagem coloquial é empregada em situações informais, entre amigos, familiares e em ambientes em que o uso da norma culta da língua possa ser dispensado. O fato de não seguir as regras gramaticais não faz a linguagem coloquial ser menos importante do que a linguagem culta. Se considerarmos a frequência de uso de ambos os estilos de linguagem, é possível observar que a linguagem coloquial é mais frequentemente utilizada pelos falantes do que a culta. Outra questão importante a ser destacada é que o estilo de linguagem coloquial não deve ser confundido com a diversidade de dialetos existentes no português do Brasil. Os dialetos estão muito mais relacionados à língua, sociedade e cultura do que ao estilo e escolha de registro. Ela nem se tocou que o garoto tava babando nela. Pô, cara, demorô cum isso. A mina foi sem noção na festa. Demos um rolê pela city essa tarde. A gente passô lá de tarde e tava rolando uma festa. Mano, cê tá loco? Manoela pegô as flor do cemitério. 23 REDAÇÃO EMPRESARIAL Vamos analisar as frases anteriores, entendendo que os seus coloquialismos devem ser evitados na redação de textos profissionais. 1 – “Se tocar” é uma expressão muito utilizada na linguagem coloquial e indica “perceber”. Na frase, também há o uso abreviado do verbo “estava” (“tava”) e a expressão “babando”, no sentido figurado denotativo, que aponta para a admiração excessiva da pessoa. 2 – A palavra “Pô” corresponde a uma interjeição de alerta ou mesmo uma abreviação do palavrão “porra”. A palavra “cara” é muito utilizada na linguagem informal para indicar “rapaz”, “homem”. Na frase, ela não está relacionada ao seu sentido denotativo “rosto”. O verbo “demorou” é expresso de modo abreviado (“demorô”); e, por fim, a preposição “com”, que indica “companhia”, é escrita com interferência da pronúncia, trocando-se a vogal “o” por “u” (“cum”). 3 – Há o uso de “mina”, abreviação de “menina”, e a expressão “sem noção”, que significa “falta de discernimento”. 4 – O termo “rolê” é muito utilizado pelos adolescentes para indicar “passeio”, “caminhada”. Além disso, nota-se o uso do estrangeirismo “city”, que significa cidade. 5 – A expressão “a gente” é muito utilizada na linguagem coloquial, no lugar do pronome “nós”. Além disso, na frase o verbo “estava” está abreviado (“tava”), acrescido à expressão “rolando”, que indica “acontecendo”. 6 – “Mano” é uma gíria muito utilizada para “irmão” e denota proximidade entre os falantes. No exemplo, há ainda as abreviações de “você” (“cê”), do verbo “estar” (“tá”) e de “louco” (“loco”). 7 – O exemplo traz a interferência na escrita da pronúncia do verbo “pegou” (“pegô”) e a falta de concordância entre artigo e substantivo “as flor”, no lugar de “as flores”. Saiba mais Para saber mais sobre coloquialismo excessivo em redação empresarial, leia: GOLD, M. Redação empresarial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. 1.2 Qualidade do texto Para Sautchuk (2011), uma das caraterísticas mais importantes da comunicação escrita é o fato de ela ser elaborada sem a presença do leitor, o receptor da mensagem, e essa comunicação é recebida pelo receptor na ausência de quem elaborou o texto. Assim, é necessário considerar as possíveis consequências ligadas à organização do texto, umavez que, no processo de comunicação, o texto escrito é resultado de um processo linguístico entre duas pessoas que não estão presentes no momento da interação. 24 Unidade I Desse modo, o emissor deve produzir um texto de acordo com as regras de construção da organização textual, ou seja, considerar regras gramaticais, semânticas e interacionais. Durante a interação comunicativa ocorrem vários fatores de caráter cognitivo, pragmático, cultural e interacional, responsáveis pela construção da textualidade. O conceito de textualidade refere-se à qualidade dos enunciados que compõem o texto e que incorporam aspectos extralinguísticos, como o contexto de comunicação no qual o indivíduo está inserido. O termo “textualidade” foi definido pelos pesquisadores Robert-Alain de Beaugrande e Wolfgang Dressler, nos anos de 1980, para classificar quando um texto é considerado um texto. Beaugrande e Dressler (1981) apontaram sete fatores responsáveis pela textualidade de um texto qualquer: coerência, coesão, intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade. A coerência é responsável pelo sentido do texto e envolve as informações do texto e o repertório do leitor. O sentido do texto não é construído somente pelo autor, mas também pelo leitor. A coesão é a manifestação linguística da coerência, ou seja, os sentidos são atribuídos a partir das palavras no texto. Desse modo, as ideias devem estar bem organizadas e as palavras bem encadeadas para que o leitor possa dar sentido ao que o autor escreveu. A intencionalidade refere-se à intenção de quem fala, ou seja, à intenção de quem elaborou o texto. A intenção pode ser informar, impressionar, alertar, convencer, pedir ou, ainda, ofender. A aceitabilidade está ligada à expectativa do leitor, ou seja, o texto deve ser útil e relevante. A situacionalidade é responsável pela construção do contexto, ou seja, estabelece a situação retratada no texto. A informatividade diz respeito à recepção das informações na medida da necessidade do leitor, ou seja, as informações devem ser apresentadas na medida certa. O texto não deve ter muitas informações porque pode ser considerado prolixo e também não pode deixar de informar o que é importante. O texto com informatividade precisa ainda atender a outro requisito: a suficiência de dados. No ambiente de trabalho, é necessário considerar os tipos de comunicação, por exemplo, e-mail, WhatsApp, informes internos da empresa, além de se respeitarem os objetivos comunicativos, de modo que cada texto informe na medida certa. A intertextualidade refere-se à utilização de um texto dependente do conhecimento de outro(s) texto(s), ou seja, ocorre um diálogo entre textos, uma mistura de informações de textos diferentes. 25 REDAÇÃO EMPRESARIAL Saiba mais Para ser mais eficiente na elaboração dos textos, leia sobre os fatores de textualidade em: COSTA VAL, M. G. Redação e textualidade. São Paulo: Martins Fontes, 1991. 1.3 O texto técnico A eficácia de um texto técnico decorre de um processo de comunicação que privilegia os sentidos, construídos a partir da relação entre os níveis morfológico, sintático e semântico. Assim, no processo da comunicação, a gramática é considerada para além da frase, incorporando processos de leitura e interpretação textual que caracterizam a interação com o outro e com suas práticas comunicativas. Segundo Silveira e Murashima (2011), quando falamos ou ouvimos, lemos ou escrevemos, fazemos muito mais do que decifrar e transcrever um código da língua. O profissional, ao utilizar a palavra, mobiliza estratégias linguísticas e sociocognitivas que visam concretizar os sentidos projetados pelos interlocutores. Desse modo, os autores destacam o poder da palavra cujo objetivo não é de apenas veicular informações, mas de estabelecer controle, negociação e compreensão nos processos comunicativos. O código de uma língua refere-se a sistemas convencionados utilizados por membros de uma mesma comunidade. Assim, a língua é um conjunto de signos utilizados por seus usuários. A língua decorre de um contrato social, de um acordo entre seus membros e, desse modo, busca uma unidade na diversidade. Por meio das escolhas linguísticas, vamos permeando nossa individualidade na elaboração dos diversos textos sociais. De acordo com as novas exigências do mercado, o secretariado teve que ser exercido com muito mais responsabilidade, buscando maior aprimoramento, conscientização profissional, formação técnica e aperfeiçoamento cultural. Para Portela e Schumacher (2009), na obra Gestão secretarial: o desafio da visão holística, a representação do papel do secretário mudou. Atualmente passou a ser assistente (staff), a ponto de conseguir assumir com credibilidade algumas responsabilidades da alta direção da organização. O novo perfil do secretariado deve: 26 Unidade I [...] ter preocupação com o todo empresarial, com a produtividade, com o lucro da empresa, ser polivalente, negociador, um programador de soluções, ter iniciativa, ser participativo, estabelecer limites, ser conhecedor dos problemas do seu país e do mundo, moldando as expectativas das empresas aos objetivos a serem atingidos pelas pessoas e por toda a organização, prestar assessoria de forma proativa, ser conhecedor de tecnologia, um profissional que se preocupa com competitividade, trabalhar com estratégia gerencial, dentro de uma visão generalista, conhecedor das Teorias das Organizações e que sabe “ler” o ambiente de trabalho, com finalidade de entender as mudanças e os conflitos, procurando transformar o ambiente e as situações criadas por ele, conhecedor de técnicas secretariais com excelência (PORTELA; SCHUMACHER, 2006, p. 36). A comunicação escrita é uma necessidade no mundo atual e tecnológico e é fundamental no processo de textualização, ou seja, a capacidade que o indivíduo tem de ler e construir sentidos através dos textos, encadeando ideias por meio das palavras. A comunicação por meio dos textos técnicos privilegia a escrita técnica, que, por sua vez, visa às informações técnicas, ou seja, a um alto grau de objetividade. Para Silveira e Murashima (2011), entre os textos produzidos temos: os administrativos, textos que registram e divulgam informações relacionadas ao negócio da empresa; os didáticos, textos que disponibilizam conhecimento legitimado socialmente; os manuais, textos que descrevem funcionalidades e procedimentos. Essa competência escritora ligada à redação empresarial não se resume somente a documentos do âmbito formal, mas também aos informais. Os textos técnicos podem apresentar algumas diferenças, distorções, devido à fonte do conhecimento, compreendida na fonte (autor do conhecimento técnico) e no escritor (aquele que elabora o texto técnico). Nos casos em que a fonte e o autor são os mesmos, a tendência é a ocorrência de uma distorção menor entre o fluxo das informações, da mesma forma que se espera uma maior distorção quando a fonte e o autor são diferentes. Lembrete Uma das principais características de um texto técnico é a utilização de linguagem de especialista, ou seja, a linguagem utilizada de acordo com uma área específica que incorpora tanto a terminologia quanto as formas de expressão específicas da área em questão, neste caso, a redação empresarial pela perspectiva do profissional de secretariado. De modo geral, os tipos de textos técnicos priorizam a informação. 27 REDAÇÃO EMPRESARIAL 2 INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS E ATUAÇÃO PROFISSIONAL É comum percebermos no nosso círculo de amizades como algumas pessoas se destacam mais do que as outras, por causa de certas habilidades. Segundo Peter Senge, especialista em pensamento organizacional e pensamento sistêmico pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), há três conjuntos de habilidades para nos orientar neste mundo acelerado e com as relações interpessoais comprometidas devido às crescentes distrações trazidas pelas novas tecnologias.Figura 2 Pensando em conjunto de habilidades, temos um foco interno, em nós mesmos, aquilo que nos conecta com os nossos objetivos, aspirações e nos permite buscar empreender ações, ignorando distrações e administrando nossas emoções com o propósito de construir uma vida significativa. O segundo tipo de foco é o da sintonia com as outras pessoas. Assim, é possível exercitar a empatia, a capacidade de compreender a realidade do outro, e não apenas a própria. Essa habilidade leva à compaixão e à capacidade de trabalhar em grupo, construindo conexões e relacionamentos eficazes. O terceiro tipo de foco é externo, ou seja, voltado para o mundo mais abrangente, no modo de interação e redes de relações que são interdependentes, como as relações familiares ou em organizações. A compreensão dessas relações exige um pensamento sistêmico, ou seja, um pensar o mundo como um todo. Para a prática da cidadania, precisamos compreender o eu, o outro e os sistemas mais amplos nos quais estamos inseridos. De acordo com o cientista norte-americano Howard Gardner (1995), a manifestação das habilidades é reflexo dos tipos de inteligência que temos mais desenvolvidas em nós. Elas se manifestam em diversas maneiras, e não apenas por meio do raciocínio lógico. Para explicar os diferentes tipos de inteligência que desenvolvemos, Gardner criou, em 1994, a Teoria das Inteligências Múltiplas. 28 Unidade I A Teoria das Inteligências Múltiplas propõe a ideia de inteligências como áreas autônomas, mas que funcionam de modo interdependente. Em muitos casos, as pessoas desenvolvem tipos de habilidades para realizar um trabalho. Como exemplo, podemos citar o caso de alguém que queira ser um corredor de maratonas. Para atingir seus objetivos, é necessário unir a inteligência espacial à destreza corporal. A Teoria das Inteligências Múltiplas implica a capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos e/ou serviços que são importantes num determinado ambiente ou comunidade organizacional. A capacidade de resolver problemas permite ao indivíduo abordar uma situação em que um objetivo deve ser atingido e encontrar a forma adequada para cumprir esse objetivo. A criação de um produto cultural é fundamental na função profissional, na medida em que capta e transmite o conhecimento ou expressa as opiniões ou os sentimentos dos indivíduos. Os problemas a serem resolvidos variam de acordo com os desafios propostos, compreendidos como: a organização da agenda, de um evento, de uma viagem, de uma reunião etc. 2.1 Os tipos de inteligência As características dos tipos de inteligência, segundo a Teoria das Inteligências Múltiplas, são: • Lógico-matemática: essa habilidade está ligada ao pensamento estruturado, ou seja, à capacidade de estabelecer ordem, prioridades e sistematização para resolver problemas complexos que envolvem números de maneira rápida e objetiva. • Espacial: trata-se da habilidade de criar e visualizar objetos e espaços mentalmente, de modo abstrato, ou seja, projeção mental para a otimização da ocupação dos espaços. • Linguística: é a habilidade de dominar o código linguístico bem como a comunicação com outros, ou seja, de desenvolver a competência linguística adequada a cada situação de interação para que haja eficiência na comunicação. • Musical: é a capacidade de reconhecer e reproduzir diferentes tipos de sons. O indivíduo tem uma percepção sonora apurada, que permite decorar músicas e melodias, e também é sensível a ruídos. • Corporal/cinestésica: habilidade que incorpora um conjunto de sentidos – auditivo, visual, olfativo e palpável – para se relacionar com o mundo. • Intrapessoal: é a habilidade de identificar, reconhecer e compreender as próprias emoções e sentimentos para resolver conflitos, considerando os pontos positivos e negativos, construindo o autoconhecimento. • Interpessoal: habilidade da empatia, de modo a interpretar gestos, sentimentos e palavras que são subentendidas nas interações sociais. • Naturalista: capacidade de se relacionar com o meio ambiente de modo integrado ao cotidiano, preocupando-se com questões ambientais. 29 REDAÇÃO EMPRESARIAL 2.2 As inteligências múltiplas e o mundo do trabalho Com base no desenvolvimento das inteligências múltiplas, é possível identificar características de personalidade e potenciais competências traçando o perfil comportamental dos indivíduos nas organizações. De acordo com Gardner (1995), todos os indivíduos têm a habilidade de questionar e de procurar respostas usando todos os tipos de inteligências. Assim, é importante adequar os profissionais nas áreas certas para que exerçam, de modo eficiente, essas funções. Observação As noções de inteligência e de competência estão relacionadas, pois são saberes, informações, habilidades operatórias que propiciam enfrentar uma série de situações ou problemas com eficiência. Assim, pode-se entender que um indivíduo com competência enfrenta os desafios do tempo que vive, usando os saberes que adquiriu e empregando-os a todo o momento na sua atuação no mundo com as habilidades aprendidas por meio das experiências vivenciadas, profissionalmente ou não. 2.2.1 Inteligência lógico-matemática As habilidades matemáticas e de raciocínio lógico tradicionalmente foram consideradas o eixo principal da inteligência. Assim, surgiram os testes de QI para determinar se uma pessoa é inteligente ou não. Considerando as áreas de atuação profissional, os indivíduos com essas habilidades têm um desempenho mais eficiente nas áreas voltadas para engenharia, estatística etc. A inteligência lógico-matemática trata da capacidade de usar os números de forma prática e objetiva, e isso inclui uma percepção de padrões e raciocínio lógico, por meio das afirmações e proposições, funções e outras abstrações relacionadas às ações do cotidiano. Entre os processos utilizados por essa inteligência estão: a capacidade de classificar, categorizar, inferir, generalizar, calcular e verificar hipóteses. Esse tipo de inteligência mostra a capacidade mental do ser humano em arquivar na memória as informações de representações de quantidade e de aplicar essas informações no cotidiano, resolvendo problemas. Na elaboração dos textos técnicos/profissionais, para atingir os indivíduos com esse perfil, é necessário considerar um conteúdo analítico, com dados estatísticos que comprovem as vantagens do seu produto ou serviço. 2.2.2 Inteligência espacial Essa habilidade propicia diferentes perspectivas, uma vez que está relacionada à capacidade de lidar com objetos, sua localização e visão na ocupação dos espaços. Os indivíduos com essas habilidades têm 30 Unidade I um desempenho mais eficiente nas áreas voltadas para arquitetura, design, engenharia e até mesmo direção de veículos (piloto de avião ou carro, por exemplo) etc. A inteligência espacial é responsável pela capacidade de perceber com precisão o mundo visual e espacial e de transformar essas percepções em soluções práticas no cotidiano. Por isso ela envolve a sensibilidade às cores, linhas, formas, configurações e espaços, e as relações existentes entre esses elementos. Assim, por meio dessa inteligência, os indivíduos são capazes de executar modificações sobre percepções iniciais de espaço, recriando aspectos, mesmo na ausência do contato material, e por isso habilita os indivíduos a desenharem, mapearem e visualizarem objetos em várias dimensões. De acordo com Gardner (1995), a inteligência espacial se caracteriza pela solução de problemas e decorre da capacidade do hemisfério direito, responsável pelo uso do sistema de mapeamento e visualização e do hemisfério esquerdo, responsável pelo processamento da linguagem. Na elaboração dos textos técnicos/profissionais, para os indivíduos com esse perfil, é importante considerar a criação de conteúdo visual, usando infográficos e imagens que mostrem o seu produto ou serviço dentro de uma perspectiva maior. 2.2.3 Inteligência linguística Essahabilidade, juntamente com a habilidade lógico-matemática, sempre foi valorizada pela educação formal. A inteligência linguística pressupõe o domínio da língua, ou seja, a habilidade de escrita, leitura e aprendizado de vários idiomas. Os indivíduos com essas habilidades têm um desempenho mais eficiente como jornalistas, diplomatas, escritores, tradutores e, de modo geral, todos os executivos e diretores. A inteligência linguística decorre da capacidade de usar as palavras de forma efetiva, seja oralmente, seja por escrito. Isso significa dizer que é como um potencial que mostra a capacidade do indivíduo de aprender noções dos códigos linguísticos (da língua materna ou de línguas estrangeiras), gravá-los na memória e aplicá-los de modo adequado ao contexto. Esse tipo de inteligência incorpora a capacidade de organizar a sintaxe (estrutura), a semântica (significado) e as dimensões pragmáticas. Refere-se, portanto, ao uso da linguagem para convencer e/ou persuadir por meio do discurso, da explicação, da metalinguagem (uso da linguagem para falar dela mesma) e da cognição (ativação da memória pelo uso da linguagem para se lembrar de informações). Na elaboração dos textos técnicos/profissionais, para os indivíduos que possuem esse perfil, é importante lembrar que eles conseguem entender melhor quando o interlocutor é mais assertivo e cuidadoso na escrita, pois tendem a desqualificar os textos com erros de português. 2.2.4 Inteligência musical Essa inteligência está ligada aos cantores, compositores, atores etc. Envolve a capacidade de perceber, discriminar, transformar e expressar formas musicais. Nesse tipo de inteligência inclui-se a sensibilidade 31 REDAÇÃO EMPRESARIAL ao ritmo, ao tom ou melodia e ao timbre de uma peça musical. Pode-se ter um entendimento geral da música (global, intuitivo). Desse modo, pressupõe um entendimento formal ou detalhado (analítico, técnico), incorporando um potencial que propicia ao indivíduo a capacidade de interpretar e de reconstruir aspectos de um processo organizacional. Na elaboração dos textos técnicos/profissionais, para esses indivíduos, o melhor conteúdo deve ser apresentado em vídeo, de preferência com atenção para a trilha sonora. 2.2.5 Inteligência corporal/cinestésica Esse tipo de inteligência não tem sido o foco entre os profissionais das organizações, pois está mais voltado para outras carreiras, como as de: atletas, dançarinos, profissionais do esporte e também fisioterapeutas. A inteligência corporal/cinestésica consiste na habilidade do uso do corpo para expressar ideias e sentimentos, bem como na destreza no uso das mãos para produzir ou transformar coisas. Essa inteligência refere-se ao controle dos movimentos corporais, criando representações possíveis de serem executadas pelo corpo, em espaços e situações diversas. Segundo Gardner (1995), o conhecimento corporal/cinestésico atende os critérios de uma inteligência na medida em que executar uma sequência mímica ou bater numa bola de tênis não é resolver uma equação matemática. Mas a capacidade de usar o próprio corpo para expressar uma emoção, jogar um jogo ou criar um novo produto é uma evidência dos aspectos cognitivos do uso do corpo. 2.2.6 Inteligência intrapessoal Esse tipo de inteligência se encaixa em qualquer área profissional, uma vez que está voltada para o autoconhecimento, ou seja, para a capacidade de enxergar suas potencialidades e fragilidades de modo a assimilar e se adequar rapidamente às mudanças das rotinas de trabalho. Para Armstrong (2001), a inteligência intrapessoal visa ao autoconhecimento e à capacidade de agir de modo a se adaptar a mudanças. Assim, esse conhecimento ocorre a partir de uma imagem de si mesmo. Ciente de suas potencialidades e fragilidades, a pessoa pressupõe uma consciência dos estados de humor, intenções, motivações, temperamento e desejos e a capacidade de autodisciplina, autoentendimento e autoestima. Segundo Gardner (1995), o indivíduo com inteligência intrapessoal possui um parâmetro adaptável e acessível de si mesmo, pois essa inteligência é a mais particular e requer a evidência a partir da linguagem ou de alguma forma mais expressiva de modo que o observador a perceba funcionando. Para Brennand e Vasconcelos (2005), essa inteligência desenvolvida é percebida em seus comportamentos, no desejo de conhecer a si próprio, de refletir sobre seus erros e de aprender com eles, mudando até seu comportamento em benefício das pessoas com as quais convive ou se relaciona. 32 Unidade I Na elaboração dos textos técnicos/profissionais, para os indivíduos com esse perfil, é importante considerar que eles tendem a compreender as razões sobre o porquê de uma pessoa ser do jeito que é, o que os torna excelentes estrategistas e por que se destacam em profissões e/ou cargos que exigem empatia e entendimento dos seres humanos e seus sentimentos, o que possibilita estabelecer processos de liderança. 2.2.7 Inteligência interpessoal Essa inteligência vem sendo gradativamente valorizada no ambiente de trabalho, devido à importância da comunicação no meio organizacional. Os indivíduos com essas habilidades têm um desempenho mais eficiente nas áreas de vendas, psicologia, relações públicas, direito etc. Segundo Armstrong (2001), esse tipo de inteligência envolve a capacidade de perceber e fazer distinções no humor, intenções, motivações e sentimentos das outras pessoas. Desse modo, pode incluir sensibilidade a expressões faciais, voz e gestos; a capacidade de discriminar muitos tipos diferentes de sinais interpessoais e a capacidade de responder efetivamente a esses sinais de uma maneira pragmática, ou seja, influenciando pessoas a seguirem determinada linha de pensamento e de ação. Para Gardner (1995), a inteligência interpessoal está baseada numa capacidade central de perceber distinções entre os outros; em especial, contrastes em seus estados de ânimo, temperamentos, motivações e intenções. Em formas mais avançadas, essa inteligência permite que um adulto experiente perceba as intenções e desejos de outras pessoas, mesmo que elas os escondam. Essa capacidade aparece numa forma altamente sofisticada em líderes e políticos. Para Brennand e Vasconcelos (2005), a inteligência interpessoal é valorizada nas relações sociais, pois exige cooperação na interação com os outros, valoriza a organização em grupo, desperta o espírito de liderança e seu desenvolvimento ocorre por meio dos contextos sociais nos quais está inserido. Na elaboração dos textos técnicos/profissionais, para atingir os indivíduos que possuem esse perfil, é necessário considerar conteúdos que destacam a responsabilidade social da empresa e que demonstrem objetivamente como os produtos e serviços podem tornar o mundo melhor. 2.2.8 Inteligência naturalista Essa inteligência está ligada à compreensão da natureza e de seus ciclos. Os indivíduos com essas habilidades têm um desempenho mais eficiente nas áreas de biologia, engenharia ambiental, agronomia etc. Os tipos de inteligência se entrelaçam no desenvolvimento profissional, acadêmico, pessoal e demais relacionamentos. Sendo assim, são fundamentais as capacidades de autoavaliação e de autocrítica, para verificar se se está seguindo o caminho certo. 33 REDAÇÃO EMPRESARIAL Segundo Armstrong (2001), esse tipo de inteligência possibilita o reconhecimento e classificação das inúmeras espécies (a flora e a fauna) do meio ambiente e abrange sensibilidade aos fenômenos naturais. Brennand e Vasconcelos (2005) entendem que o potencial dessa inteligência é demonstrado pelo comportamento criativo, que associa saberes adquiridos no cotidiano do senso comum a conhecimentos adquiridos por meio de pesquisas relacionados não só à vida social, mas também ao ambiente natural. Na elaboração dos textos técnicos/profissionais, para atingir os indivíduos que possuem esse perfil, é necessário considerar conteúdos que destacam a responsabilidade ambiental da empresa.Resumo A unidade enfatizou, de modo geral, que não existe uma receita para produzir um texto com qualidade, mas é importante valorizar algumas estratégias na hora de produzir um texto (profissional ou não), como a coerência e a coesão, considerados fatores fundamentais de textualidade. Enquanto a coerência diz respeito ao contexto, estabelecendo uma relação entre os sentidos e as experiências de mundo, a coesão está relacionada à estruturação do texto, levando-se em consideração o uso correto das regras gramaticais, como concordâncias nominais e verbais, e das classes gramaticais, como substantivos, pronomes, adjetivos, conjunções, advérbios, preposições etc. Mas, para que um texto seja considerado bom, é importante que o escritor/autor apresente ideias baseadas na realidade social, ou seja, que conheça o assunto tratado no texto, não perca o propósito comunicativo e, principalmente, que saiba utilizar as regras gramaticais na construção textual. A unidade também ressaltou o interesse cada vez maior da área empresarial em potencializar as inteligências múltiplas da estrutura e, estrategicamente, buscar identificar os pontos fortes dos funcionários e das equipes para maximizá-los, incentivando o desenvolvimento das pessoas e a produtividade da empresa. Destacou-se, portanto, que os tipos de inteligências, uma vez entrelaçados ao desenvolvimento profissional, acadêmico, pessoal e demais relacionamentos, são fundamentais para promover a capacidade de autoavaliação e de autocrítica para verificar se se está seguindo o caminho certo. 34 Unidade I Exercícios Questão 1. A secretária de um executivo redigiu o seguinte parágrafo em uma mensagem de e-mail: Venho por meio desta informar, uma vez que não nos encontramos pessoalmente naquela tarde da ultima terça-feira que, a reunião que o senhor tinha solicitado com o gerente de vendas da empresa KLX, não pôde ser confirmada pois o mesmo estará fora do país para se encontrar com o filho que estuda no Canadá desde o ano passado. Com relação ao escrito, analise as afirmativas. I – O trecho apresenta problemas de acentuação e pontuação. II – O trecho vale-se do chavão “venho por meio desta”, o que é bastante adequado ao estilo próprio de redação empresarial, pois confere autoria e impessoalidade. III – O trecho é conciso e cumpre sua função comunicativa. É correto o que se afirma em: A) I, apenas. B) I e II, apenas. C) II e III, apenas. D) I e III, apenas. E) I, II e III. Resposta correta: alternativa A. Análise da questão Justificativa: “ultima” está sem acento e há vários problemas de pontuação. O uso de chavão não é adequado ao bom estilo redacional. O trecho apresentado é prolixo: apresenta várias intercalações e informações desnecessárias. 35 REDAÇÃO EMPRESARIAL Questão 2. O gerente de um restaurante, preocupado com o fato de muitas pessoas compartilharem o mesmo prato, redigiu o seguinte aviso. Figura 3 Disponível em: https://pt.dopl3r.com/memes/engra%C3%A7ado/atencao-nao-e-permitido -comer-duas-pessoas-no-mesmo-prato-a-direcao/11318. Acesso em: 10 set. 2019. Com base na leitura, analise as afirmativas: I – Essa formulação admite a interpretação de que duas pessoas não podem ser comidas no mesmo prato. PORQUE II – A ambiguidade na construção da mensagem é causada apenas pelo verbo “comer”, que tem mais de um sentido. Assinale a alternativa correta: A) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda justifica a primeira. B) As duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda não justifica a primeira. C) A primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa. D) A primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira. E) As duas afirmativas são falsas. Resposta correta: alternativa C. Análise da questão Justificativa: a interpretação equivocada não é causada apenas pelos possíveis sentidos do verbo “comer”. A estrutura sintática do período também tem influência, pois “duas pessoas” aparecem como objeto do verbo.
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