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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI ESCOLA DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS CURSO DE DIREITO – CAMPUS KOBRASOL DISCIPLINA DE PSICOLOGIA PROFESSORA: FERNANDA P. LABIAK ACADÊMICOS: ANDRÉ LUIZ DA SILVA CRISTIANO PORTO A. ZEILMANN NILVO AIRTON RODRIGUES JÚNIOR VANESSA RODRIGUES GUIMARÃES. ABUSO EMOCIONAL 1. Introdução O presente texto tem por objetivo apresentar um tema pouco conhecido do público em geral, Gaslighting. Teremos o cuidado de expor seu conceito, como identificá-lo, suas consequências que podemos observar e qual o objetivo de quem o pratica, e já podemos deixar claro que as pessoas mais acometidas são as mulheres. E juntamente com o Gaslighting diferenciando com outros termos o Manterrupting, o Bropriating e Mansplaining. Mas o que faz reflexionar qual impacto que isso causa no âmbito jurídico e qual é relevância da sociedade nessa temática. Para ilustrar esse tema abordaremos o filme “À Meia Luz” (tradução de Gaslight) com direção de George Cukor que foi lançado 1944, a história ambientada em Londres, ano 1870, que mostra claramente todos os aspectos mencionados acima, onde atriz interpreta uma personagem que passa por uma série de mentiras e manipulações do marido, no qual fica se questionando se está louca. Tem-se por objetivo compreender o que vem a ser o Gaslighting e porque a predominância de vítimas dessa violência que recai sob o gênero feminino, desta forma contribuindo na prevenção de tal violência. 2. Gaslighting, é melhor saber do que ficar à mercê A presente pesquisa teve como pauta principal uma obra cinematográfica do ano de 1944, no qual tem como trama central o controle psicológico do homem sobre a mulher. E para uma melhor compreensão do assunto fez-se uma sinopse da história relatada. 2.1 Breviário da referência Na 2ª metade do século XIX, em Londres, numa mansão da Thornton Square, a famosa cantora de ópera, Alice Alquist, é misteriosamente assassinada, sendo o corpo encontrado pela sua jovem sobrinha, Paula. Esta é, então, incentivada a passar algum tempo na Itália, na casa do melhor amigo de sua tia, o maestro Mário Guardi, um professor de canto. Dez anos depois, Paula estuda canto com Guardi, enquanto é acompanhada pelo pianista francês, Gregory Anton. Este, após cortejá-la por apenas duas semanas, lhe propõe casamento. Não se sentindo segura em relação aos seus sentimentos, ela resolve se afastar por uma semana, tomando um trem para o Lago Como, onde pretende melhor pensar sobre a proposta. Durante a viagem, senta-se ao lado da Srta. Thwaites, uma inglesa que adora romances e histórias de assassinatos misteriosos e que, por coincidência, mora na Thornton Square. Na oportunidade, a Srta. Thwaites comenta o caso nunca desvendado da morte de Alice Alquist, tia de Paula. Quando o trem chega a Lago Como, Paula é surpreendida com a presença de Gregory, que se antecipou e a aguarda na plataforma de desembarque. Eles logo se casam e passam a lua-de-mel no Hotel del Lago. A seguir, eles embarcam para Londres, onde se instalam na mansão da Thornton Square, que ela herdara da tia. Entre os criados, acham-se Elizabeth Tompkins, que cozinhou para a família durante anos, e Nancy Oliver, uma jovem empregada que se insinuou para Gregory no minuto em que ele entrou na mansão. Gregory logo ordena que a parte superior da mansão, onde se encontra o sótão, seja lacrada e explica à Paula, que esse ato é para o próprio bem dela, pois foi lá que sua tia foi assassinada. A partir de então, Paula começa a perder coisas, ao mesmo tempo em que Gregory lhe diz que seus lapsos de memória estão começando a perturbar a vida social deles. Certa noite, quando se presume que Gregory esteja ao piano, num apartamento vizinho, Paula insiste junto à Nancy que a luz a gás de seu quarto está bastante fraca, ao que a empregada responde que, ao contrário, está tudo normal. Seus medos aumentam quando ela passa a ouvir estranhos ruídos, como se fossem passos, vindos do sótão. Na Thornton Square, 4 a 5 meses depois que os Anton foram morar lá, a Srta. Thwaites conversa com o detetive Cameron, interessado em obter informações sobre o casal de hábitos estranhos. Ela comenta que eles nunca recebem visitas e que não saem, pelo menos ela, aumentando as suspeitas de Cameron em relação a Gregory. Cameron, um grande admirador de Alice Alquist, resolvera reabrir o caso não solucionado de seu assassinato, ao observar a semelhança entre a tia e a sobrinha. Durante um concerto na casa do Lord e da Lady Dalroy, entre os convidados encontram- se os Anton e o detetive Cameron. Na ocasião, Gregory recrimina sua esposa ao alegar que ela roubou seu relógio (anexo 1) e o colocou em sua bolsa. Tal fato faz com que Paula se torne histérica, o que é observado por Cameron. Já em casa, Gregory mostra-se impaciente e humilha a esposa (anexo 2) por seu comportamento doentio em público. Revela, ainda, que sua mãe morreu num manicômio, depois de apresentar uma série de sintomas de insanidade semelhantes ao que vem observando nela. Cameron planta um policial, Williams, na Thornton Square, para observar tudo o que se passa na mansão dos Anton. Em pouco tempo, Williams inicia um relacionamento com Nancy, numa tentativa de obter melhores informações sobre o que ocorre lá dentro. Um dia, ao tomar café com ela, Williams toma conhecimento dos próximos passos de Gregory. Com base em suas informações, Cameron planeja entrar na mansão à noite, quando Gregory deverá estar fora e Williams tentará manter Nancy afastada. Conforme planejado, o detetive entra na mansão e encontra Paula à beira de um colapso nervoso. Na oportunidade, ela lhe conta que a luz a gás de seu quarto torna-se diminuta, mas que ninguém nota isso, o que a faz pensar que está tendo alucinações. Enquanto falam, a luz escurece, o que faz com que Cameron perceba que, provavelmente, estão procurando fazer com que ela se sinta à beira da loucura. O detetive consegue abrir a escrivaninha de Gregory, onde encontra os objetos considerados perdidos por ela, bem como, uma carta escrita pelo assassino de sua tia, dois dias antes da mesma ser assassinada. Quando Gregory retorna à mansão, é enfrentado por Cameron que, com a ajuda de Williams, termina dominando-o. Antes de ser levado preso, Gregory confessa que nunca teve interesse em Paula e sim nas valiosas joias deixadas por sua tia, que ele as procurava no sótão, onde todos os móveis dela eram mantidos trancados. Paula é então consolada por Cameron, que lhe promete ajuda, amizade e um futuro promissor. 2.2 Elucidações preliminares Termos novos estão sendo discutidos e evidenciados dentro da psicologia para compreender os comportamentos abusivos, e assim os operadores do direito podem de forma mais elucidativa determinar as causas de certos litígios, consequentemente soluções mais justas. Gaslighting: Gaslighting (derivado do termo inglês Gaslight, ‘a luz [inconstante] do candeeiro a gás’) é um dos tipos de abuso psicológico que leva a mulher a achar que enlouqueceu ou está equivocada sobre um assunto, sendo que está originalmente certa. É um jeito de fazer a mulher duvidar do seu senso de percepção, raciocínio, memórias e sanidade. No dia a dia, algumas frases são características deste tipo de comportamento: “Você está exagerando”; “Pare de surtar”; “Não aceita nem uma brincadeira?”; “Você está louca”; entre outras. É um comportamento que afeta homens e mulheres, mas as mulheres são vítimas culturalmente mais fáceis. Manterrupting: Quando um homem interrompe constantemente uma mulher, de maneira desnecessária, não permitindo que ela consiga concluir sua frase. A palavra é uma junção de “man” (homem) e “interrupting” (interrupção) e, em tradução livre, quer dizer “homens que interrompem”. Esse comportamento é muito comum em reuniões e palestras mistas, quando uma mulher não consegueconcluir sua frase por ser constantemente interrompida pelos homens ao redor. Bropriating: Quando um homem se apropria da mesma ideia já expressa por uma mulher, levando os créditos por ela. O termo é uma junção de “bro” (de brother, irmão, mano) e “appropriating” (apropriação). É algo que acontece muito em reuniões. Segundo a Think Olga, o bropriating ajuda a explicar por que existem tão poucas mulheres nas lideranças das empresas. “Além das supostas desvantagens mercadológicas e o preconceito de gênero, ainda servimos de plataforma para o crescimento de colegas homens, pelo simples fato de sermos menos ouvidas e levadas a sério.” Mansplaining: Quando um homem dedica seu tempo para explicar algo óbvio a uma mulher, de forma didática, como se ela não fosse capaz de entender. O termo é uma junção de “man” (homem) é “explaining” (explicar). Em atos de mansplaining, um homem acha que sabe mais sobre um tópico do que uma mulher. Muitas vezes, essa expressão está ligada ao manterrupting – nesses casos, o homem interrompe a mulher para mostrar que sabe mais do que ela. 2.3 Evidências do filme Uma obra para gerar um termo novo na comunidade científica precisa ser de grande influência. Gaslight, que a princípio indica uma forma de iluminação antes da eletricidade nas cidades (mesmo princípio do fogão). Surgiu como uma forma dos homens controlarem as mulheres por manipulação dos seus sentidos, pois no ano de 1938 foi lançada uma peça teatral, do escritor inglês Patrick Hamilton, que tinha como enredo o domínio psicológico do marido sobre sua esposa, e uma das maneiras era pelo manuseio da intensidade na iluminação dos ambientes através da válvula de gás. Por meio do êxito do espetáculo, o termo Gaslighting ficou associado a forma de controle psíquico do homem sobre a mulher fazendo com que venha se questionar sua memória, percepção e sanidade por todas as manipulações e mentiras criadas para a envolver. Foi um impacto tão forte no meio científico que se difundiu a usar o termo para comportamentos narcisistas e sociopatas, por exemplo. Há muito trazemos a ideia de que a violência está restrita aos casos que atingem a integridade física da mulher, como os crimes de lesão corporal ou homicídio, no entanto, a violência psicológica está inserida na Lei Maria da Penha (11.340/2006) como sendo uma das formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, conforme prescreve o art. 7º, inciso II, da referida lei. CAPÍTULO II. DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER. Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras: (...) II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação(...). O termo inglês Gaslighting advém do filme À Meia Luz (Gaslight-1944), significa um tipo de violência, de modo que esse tipo de agressão não é necessariamente física, ou seja, tipo de manipulação psicológica sistemática (processo de mentir conscientemente), que pode ser compreendido em vários contextos, tal como, na família, no trabalho, acadêmico, entre outros diferentes ambientes. O conceito de Gaslighting é um tipo de violência emocional realizada através de manipulação psicológica, na qual vítima chega ao ponto de duvidar de sua sanidade mental e sua incapacidade de discernimento. Muitas pessoas passam ou passarão por esse tipo de situação de um mal terrível, principalmente depois de um estresse pós-traumático. O narcisista tem esse elemento do Gaslighting, a pessoa que sofre esse tipo de violência perde o eixo de quem ela é, e começa a aceitar e introspectar aquelas mentiras que lhe estão dizendo, e vão evoluindo de forma perversa, onde destrói sua autoestima (mentiras conscientes) na pior das situações perde sua atitude e adquire essa nova realidade. No entanto como identificar essa violência, o agressor mente copiosamente, pois é algo natural, para influenciar e deixar a pessoa submissa com intenção de destruir sua imagem perante aos outros, perder noção de selfie, a autoestima baixa entre outros. Diante destas circunstâncias podemos, com propriedade, citar Nietzsche, “Uma alma que se sabe amada, mas que por sua vez não ama, denuncia o seu fundo: - Vem à superfície o que nela há de mais baixo”. (Friedrich Nietzsche). Resulta do relacionamento entre duas pessoas: um Gaslighter (o que pratica o gaslighting), o qual necessita preservar o seu ego (narcisista) e seu senso de poder; e o gaslightee (o que sofre o gaslighting), aquele que permite que o outro determine o seu juízo de realidade. Podem ser de ambos os gêneros podendo acontecer em qualquer tipo de relacionamento. O reconhecimento e o entendimento desse tipo de violência, o Gaslighting, no âmbito jurídico é de relevância primordial, pois o jurista com noções nesta área consegue adentrar profundamente, tais situações de violência psicológicas, e assim ter uma compreensão mais aguçada dos casos em questão. Embora a mulher esteja amparada pela Lei Maria da Penha, torna-se necessário um grande empenho da área jurídica e psicológica. Buscando, desta forma, métodos e mecanismos de refreamento para uma maior amplitude e divulgação desse mal devastador ao ser humano, para que não fiquemos a mercê. Contudo, com toda explanação produzida ao tema Gaslighting, como podemos se recuperar e lidar com esses efeitos desse mal perverso e sistêmico. Primeiramente reconstruir sua autoestima, ganhar sua confiança de volta e estabelecer uma rede de apoio. Outra questão, como lidar com efeito, afasta-se desse tipo de manipulação emocional abusiva; diminua seu estresse, esse elemento causa um desgaste mental, onde fica mais suscetível ao abuso; cuidar de sua ansiedade, também resultado do Gaslighting; outro fator, a depressão, uma consequência resultante do abuso emocional, no entanto tente combatê-lo e reconquiste sua confiança em si mesmo e nos outros. Com a ajuda profissional, a recuperação se torna efetiva, tanto na área da saúde e jurídica, pois impedir esse tipo de violência é crucial para sociedade num todo. 3. Considerações finais Em suma, nosso estudo permitiu a oportunidade de entendimento de uma grave ameaça que se mostra de forma “velada” no dia a dia das pessoas. Vemos que um tema abordado em meados do século passado encontra-se cada vez mais atual. Percebemos o quanto as mulheres, em sua maioria, estão vulneráveis a indivíduos extremamente desequilibrados que, de forma egocêntrica e doentia, manipulam sonhos e sentimentos. No entanto, a compreensão e reconhecimento desse tipo de violência foi fundamental para entender a temática, do filme “A Meia Luz - Gaslight”, e analisar na área jurídica elencando com a Psicologia. Para se recuperar do Gaslighting e lidar com seus efeitos, você deve reconstruir sua autoestima, ganhar sua confiança de volta e estabelecer uma rede de apoio. Ainda assim, esperamos que os exemplos da corajosa Maria da Penha venham a esclarecer mentes usurpadas pelo medo e que, permaneçam sempre vivos em nossos corações e em nossa futura profissão. 4. Referência Bibliográfica: À MEIA LUZ. Direção: George Cukor. Produção: Arthur Hornblow Jr. Edição: Ralph E. Winters. Direção de Arte: Cedric Gibbons. Direção de fotografia: Joseph Ruttenberg. Intérpretes: Charles Boyer, Ingrid Bergman, Joseph Cotten, Dame May Whitty, Angela Lansbury, Barbara Everest e outros. Roteiro: Walter Reisch, John Van Druten, John L. Balderston.Trilha sonora: Bronislau Kaper. Estados Unidos da América – EUA. 1944. 114 min. BRASIL. Lei Maria da Penha (2006). Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. Legislação federal. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- 2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 03/10/2018. WikiHow. Como Se Recuperar do ''Gaslighting''. Disponível em: < https://pt.wikihow.com/Se-Recuperar-do-%27%27Gaslighting%27%27> Acesso em: 02/10/2018 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm https://pt.wikihow.com/Se-Recuperar-do-%27%27Gaslighting%27%27 https://pt.wikihow.com/Se-Recuperar-do-%27%27Gaslighting%27%27 ANEXOS Anexo 1 Anexo 2
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