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Fotografia Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Claudemir Nunes Ferreira Revisão Textual: Profa. Ms. Fátima Furlan O Olhar • O Olhar • O Instante Decisivo • O Rigor Técnico • Para Além da Técnica • O Olhar Estrangeiro • O Outro • A Condição Humana • Fotografia artística e colorida, por que não? • Poesia Visual • Crônicas Sociais · Apresentar fotógrafos e imagens inseridas em diferentes contextos históricos e culturais, com abordagens temáticas, técnicas e estéticas; apreciar, analisar significativamente, ler e criticar manifestações históricas e estéticas da fotografia; conhecer de forma sintética alguns gêneros fotográficos e suas principais características; realizar pesquisas para atualização e autoformação. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta Unidade, vamos conhecer algumas possibilidades estéticas da fotografia. Fotógrafos que diferem-se entre si e que são reconhecidos por suas opções estéticas, abordagens temáticas, olhares específicos e diferentes formas de usar a fotografia. Leia o conteúdo do material com atenção e não deixe de ampliar seus estudos consultando os materiais complementares e pesquisando outras imagens dos fotógrafos apresentados, conheça um pouco mais sobre cada um deles para enriquecer seu repertório. Registre suas dúvidas, converse com seu professor-tutor, assista à videoaula e não deixe de acessar a pasta de atividades onde encontrará as Atividades de Sistematização e Aprofundamento. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma Bom Estudo!!! ORIENTAÇÕES O Olhar UNIDADE O Olhar Contextualização O documentário A Janela da Alma, cujo título é uma alusão à célebre frase de Leonardo Da Vinci “Os olhos são a Janela da alma, o espelho do mundo“, dirigido por João Jardim e Walter Carvalho apresenta entrevistas com dezenove personalidades, entre atores, artistas, políticos, escritores e fotógrafos portadores de diferentes graus de deficiência visual, da miopia à cegueira. O documentário concentra-se na sensibilidade da visão e do olhar, procurando, ainda que de maneira subjetiva, desvendar o ato de ver de José Saramago, Wim Wenders, Hermeto Pascoal e Manoel de Barros, entre outras personalidades que falam sobre como percebem o mundo através de suas limitações visuais. Assista ao documentário e reflita sobre o significado do Olhar. Indubitavelmente, nossos estudos irão orientá-lo a observar melhor as imagens que, aparentemente muito simples, podem trazem informações significativas quando apresentadas em seus contextos. Documentário Janela da Alma http://goo.gl/jyLHwyEx pl or 6 7 O Olhar “A cada segundo, em algum lugar do mundo, alguém abre um obturador apreendendo algo porque ele (ou ela) é fascinado por uma certa LUZ ou ROSTO ou GESTO ou PAISAGEM ou ESTADO DE ÂNIMO ou simplesmente porque uma SITUAÇÃO quer ser apreendida. Os objetos da fotografia, obviamente, são incontáveis, multiplicados ao infinito a cada segundo que passa. Ainda assim, cada momento em que uma foto é batida, em qualquer lugar do mundo em que ele ocorra, é um evento único, sua singularidade garantida pelo incessante progresso do tempo. O que é espantoso em toda fotografia não é tanto que ela “congela o tempo” - como as pessoas geralmente acham -, mas sim que, ao contrário, o tempo prove de novo, a cada foto, O QUANTO é irrefreável e perpétuo” (Wim Wenders, 2001). A prática fotográfica envolve pelo menos três ações fundamentais. Olhar, disparar e conferir. Munidos de uma câmera podemos olhar para uma imagem que nos interessa, selecionar o que consideramos ser o melhor enquadramento, apertar o botão de disparo e, em seguida conferir o resultado. Essas ações, aparentemente muito simples, são repetidas por todos aqueles que de uma forma profissional ou amadora obtêm uma imagem. Entretanto, mesmo seguindo esses passos, a maneira como cada um escolhe seu tema e realiza o registro de uma determinada cena, pessoa ou objeto será sempre diferente. Como descreve Wim Wenders “(...) é um evento único, sua singularidade garantida pelo incessante progresso do tempo”. Esse caráter único e singular proporcionado pela fotografia é o que nos mostra ao longo da história, que cada fotógrafo tem um interesse particular pelo mundo e produz imagens únicas observando aspectos distintos. Para exemplificar como os olhares sobre o mundo podem ser diferentes, apresentaremos aqui alguns dos mais influentes fotógrafos que, partindo de perspectivas e contextos distinto, exploraram um caráter singular na fotografia. Henri Cartier-Bresson teoriza sobre o instante decisivo, Ansel Adams prima pela técnica, Robert Capa registra acontecimentos únicos e imprevisíveis, Robert Frank observa sob um ponto de vista estrangeiro o que existe em outro território, Diane Arbus escolhe e acolhe aqueles que vivem à margem, Sebastião Salgado nos apresenta em imagens únicas a condição humana, William Eggleston rompe com os conceitos preexistentes e quebra o paradigma da prática do preto e branco, Saul Leiter aproxima a fotografia da pintura e nos presenteia com verdadeiras poesias visuais e Martin Parr amplia nosso olhar observando e registrando o cotidiano de forma ímpar. 7 UNIDADE O Olhar O Instante Decisivo “Há uma fração de segundo criativa quando você está fazendo uma foto. Seu olho deve enxergar uma composição ou uma expressão que a própria vida oferece a você, e você deve saber, através da intuição, quando clicar. Esse é o momento em que o fotografo é criativo.” (Henri Cartier-Bresson) Henri Cartier-Bresson, um dos gran- des mestres da fotografia do século XX, após ter estudado pintura em Paris e, em seguida, literatura e arte na Universi- dade de Cambridge, iniciou sua carreira fotográfica em 1932, ao ver uma ima- gem do fotojornalista húngaro Martin Munkácsi (Fig. 01). “Quando eu vi a fotografia dos meninos negros correndo em direção à onda, eu não pude acreditar que tal coisa poderia ser captada por uma câmera. Peguei a câmera e fui para as ruas. (...) Aquela fotografia me inspirou a parar de pintar e a levar a fotografia a sério. (...) De repente eu entendi que a fotografia poderia captar a eternidade instantaneamente.” (Henri Cartier-Bresson) Figura 01 - Martin Munkácsi. Líberia, 1930 Fonte: metmuseum.org Como fotojornalista, Cartier-Bresson percorreu diversos países da Europa, Ásia e Américas, registrando importantes acontecimentos mundiais, como a Guerra Civil Espanhola, a Segunda Guerra Mundial, o funeral de Gandhi e o último estágio da Guerra Civil Chinesa, além de momentos cotidianos. Suas imagens transcendem o caráter documental do registro fotográfico e constituem uma obra pessoal, com características formais e poética próprias, que contam de maneira intensa histórias humanas. Na série de fotografias de crianças produzida enquanto cobria a Guerra Civil Espanhola, Cartier-Bresson utilizou efeitos de luz e sombra, ângulos inusitados, enquadramentos excêntricos e movimento congelado para capturar o que considerava como o “instante decisivo”. O momento exato em que se deve apertar o disparador da câmera ou o momento em que se alinham “cabeça, câmera e coração”, nas palavras de Bresson. Nesta série, a espontaneidade e alegria das crianças que, indiferentes à presença da câmera, demonstram que a vida continua mesmo em regiões devastadas pela guerra. 8 9 Figura 02 - Henri Cartier-Bresson. SPAIN. Madrid, 1933 Fonte: magnumphotos.com Figura 03 - Henri Cartier-Bresson. SPAIN. Andalucia. Seville, 1933 Fonte: magnumphotos.com “A história de uma foto envolve uma operação conjunta do cérebro, olhos e coração. O objetivo desta operação é representar o conteúdo de algum fato que está em processo de desenvolvimento e, portanto comunicar uma impressão. Às vezes, um único evento pode ser tão rico em si mesmo e suas facetas, que é necessário dar voltas, girar a o seu redor em busca de uma solução para os problemas que planejou, pois o mundo está em movimento, e não podemos teruma atitude estática em direção a algo que está em movimento.” (Henri Cartier Bresson – El instante Decisivo) Estar no lugar certo e na hora certa, associado a um atributo instintivo, sensível e de expressão única e efêmera sem, necessariamente conferir a imagem uma composição regrada é o conceito desenvolvido em seu livro “O instante decisivo”, de 1952, uma obra ímpar que ainda serve como referência a um grande número de fotógrafos. 9 UNIDADE O Olhar Figura 04 - Henri Cartier-Bresson. The Var department. Hyères, 1932 Fonte: magnumphotos.com Figura 05 - Henri Cartier-Bresson. Gondon. Hyde Park in the grey drizzle, 1932 Fonte: magnumphotos.com Figura 06 - Henri Cartier-Bresson. Paris. Place de l’Europe. Gare Saint Lazare, 1932. Fonte: magnumphotos.com Figura 07 - Henri Cartier-Bresson. USA. New York City. Manhattan. Downtown, 1947. Fonte: magnumphotos.com 10 11 Fotojornalismo: gênero fotográfi co que nasceu com a imprensa ilustrada e busca descrever um acontecimento signifi cativo de forma clara e concisa. O registro fotográfi co deve sintetizar, na maioria das vezes, toda informação em apenas uma imagem. Fotografi a Documental: gênero fotográfi co cujo propósito é retratar um tema de forma fi dedigna e objetiva que engloba uma grande variedade de vertentes, como a fotografi a social de Jacob Riis e do FSA, que estudamos em uma unidade anterior, e o cotidiano de Cartier-Bresson. Muitas vezes estes gêneros se misturam e torna-se um tanto difícil delimitar a transição entre eles, quando a fotografi a documental passa a ser propriamente jornalística ou vice- versa. A questão é distinguir uma obra pessoal, que pode produzir efeitos perceptivos que transcendem o que é mostrado na imagem e confi gura-se como um registro cultural de um momento, de um registro essencialmente informativo e instantâneo de assuntos de interesse jornalístico e ligado a projetos editoriais. Ex pl or O Rigor Técnico “Existe gente demais fazendo somente o que lhes disseram para fazer. A maior satisfação que podemos obter da fotografia está na realização de nosso potencial individual, na percepção única de algo e em sua expressão por meio da compreensão dos instrumentos. Tire proveito de tudo: não se deixe dominar por nada, a não ser por suas próprias convicções. Jamais perca de vista a importância essencial do ofício. Qualquer esforço humano que valha a pena depende de muita concentração e grande domínio dos instrumentos básicos.” (Ansel Adams) O norte-americano Ansel Adams, reconhecido por suas primorosas fotografias de paisagens, é um dos mais consumados técnicos da história da fotografia e um dos responsáveis pela consolidação desta linguagem como forma de arte. Trabalhando com câmeras de grande formato, buscava a máxima nitidez e a captura da ampla variedade de luzes e texturas presentes na natureza. Para aprimorar sua técnica desenvolveu o que ele chamou de sistema de zonas, método para predeterminar com precisão como o tom de cada parte de uma cena fotografada seria reproduzido na cópia final. O Sistema de Zonas caracteriza-se como a codifi cação dos princípios da sensiometria, ou seja, a medida da intensidade da luz. Seu esquema classifi ca os tons numa escala de 11 partes, do preto ao branco puros, intermediados por 9 cinzas. O esquema a seguir demonstra como funciona sua classifi cação. Ex pl or 11 UNIDADE O Olhar Figura 08 – Sistema de Zonas Fonte: diariodeolhares.blogspot.com.br O rigor técnico na produção fotográfica de Adams foi detalhado em sua série de três livros – A Câmera, O Negativo e a Cópia. Para ele, a técnica não deve ser considerada apenas como um conjunto de procedimentos precisos sobre a manipulação do equipamento, dos negativos e das cópias a serem passivamente seguidos, e sim, uma ferramenta variável e controlável utilizada a favor da criatividade, expectativas estéticas e sensibilidade do fotógrafo capaz de flexibilizar o olhar. A perfeição técnica aplicada ao processo fotográfico de Adams buscava a produção da imagem apreendida pelo seu olhar e visualizada em sua mente a partir de uma cena, e não a reprodução fiel da cena em questão. Na década de 40, Adams ajudou a fundar o acervo de fotografias do Museu de Arte Moderna de Nova York, o primeiro acervo museológico de fotografia no mundo, e criou o primeiro curso universitário de fotografia na Escola de Belas-Artes de San Francisco. Muitos de seus livros, como Making a Photograph (1935), My Camera in the National Parks (1950), This Is the American Earth (1960) e Photographs of the Southwest (1976) estão ligados à proteção ambiental. Fotografia de Paisagem: a paisagem sempre interessou aos artistas em todos os períodos da história da arte e, quando a fotografia surgiu, o seu registro evoluiu permitindo um maior número de possibilidades para o tema. A fotografia de paisagem corresponde a representação de imagens da natureza ou paisagem natural, tomadas de locais externos, espaços abertos, que podem invocar dois aspectos distintos, a força ou a fragilidade da natureza. Ex pl or 12 13 Figura 09 - Ansel Adams. Half Dome, Merced River, Winter, Yosemite Valey, 1938 Fonte: ansel-adams.org Figura 10 - Ansel Adams. Mt. Williamson, Sierra Nevada, from Manzanar, California, 1944 Fonte: ansel-adams.org Figura 11 - Ansel Adams. Maroon Bells, Near Aspen, Colorado, 1951 Fonte: metmuseum.org 13 UNIDADE O Olhar Figura 12 - Ansel Adams. Snow In Orchard, Yosemite Valley, 1948 Fonte: metmuseum.org Para Além da Técnica “Se suas fotos não são boas o suficiente, então você não esta perto o suficiente”. (Robert Capa) Figura 13 - Robert Capa. Death of a loyalist militiaman, 1936. Fonte: magnumphotos.com O húngaro Robert Capa, um dos mais célebres fotógrafos de guerra, registrou os mais importantes conflitos da primeira metade do século XX, entre eles, a Guerra Civil Espanhola onde capturou a sua mais famosa fotografia, Morte de um Miliciano ou O Soldado Caído (Fig. 13), ao registrar o exato momento em que um homem foi atingido na cabeça por um disparo. Sua série de fotografias do desembarque das tropas americanas na praia de Omaha, na Normandia em 6 de junho de 1944, o chamado Dia D, é uma sequência mal composta, tremida e desfocada, e são exatamente as falhas técnicas que tornam estas imagens tão poderosas. O registro de Capa, que viveu toda a intensidade do momento junto às tropas, vai além da fotografia documental, captura e transmite a sensação de quem vivenciou o evento. Estas imagens tão expressivas inspiraram a sequência inquietante da introdução do filme O resgate do Soldado Ryan, dirigido por Steven Spielberg em 1998. 14 15 Capa também documentou a Guerra Sino-Japonesa, a Guerra Árabe-Israelense e a Primeira Guerra da Indochina, onde faleceu ao pisar em uma mina na cidade de Thai-Binh, em 1954, deixando um registro significativo e visceral de momentos impares da história mundial. Figura 14 - Robert Capa. Normandy. June 6th, 1944 Fonte: magnumphotos.com Figura 15 - Robert Capa. Normandy. June 6th, 1944 Fonte: magnumphotos.com Fotografi a de Guerra: vertente da fotografi a documental que registra confl itos armados e a vida cotidiana em regiões em situação de guerra.Ex pl or O Olhar Estrangeiro “O Olho deve aprender a ouvir antes que algo apareça” (Robert Frank) Robert Frank nasceu em Zurique, na Suíça, e migrou para os Estados Unidos, na década de 40, para trabalhar com fotografia publicitária e de moda. Quando foi premiado com uma bolsa da Fundação Guggenheim, o que lhe deu independência financeira, partiu em viagem pelas estradas americanas fotografando os lugares, a vida cotidiana e cultural de uma América ainda desconhecida. Entre 1955 e 1956, 15 UNIDADE O Olhar com uma máquina leve de pequeno formato (Leica) e sem restrições temáticas, utilizou mais de 500 rolos de filmes para registrar com um olhar ímpar a sociedade americana. Sob novas perspectivas, com enquadramentos inusitados e casuais, e um olhar subjetivo e intenso,Frank ultrapassou a fotografia documental, libertando-a de suas regras. Para ROUILLE (2009): “Frank libera a fotografia não só do documento, mas de suas regras, e mostra com eloquência que essas não são só obrigatórias nem invariáveis, mas facultativas, em permanente variação”. Seu livro The Americans (1958), com introdução de Jack Kerouac, foi o resultado de sua “aventura beatnik” e apresenta 83 imagens (das mais de 25 mil captadas no período). Cada uma dessas imagens, que quebram as convenções, mas não apresentam uma excelência compositiva e podem até ser consideradas um tanto “grosseiras” isoladamente, juntas, ganham força e sentido, contando uma história ou transmitindo uma mensagem que nenhuma delas poderia expressar sozinha. A visão cética e estrangeira de Frank revelou um país de diversidade cultural e segregação racial que a própria sociedade americana desconhecida. O livro, sucesso na Europa, foi mal aceito pelos próprios americanos puristas. “Se as fotos de Frank rompem com a estética documental é porque elas não representam (alguma coisa que foi), mas apresentam (alguma coisa que aconteceu); é porque não remetem as coisas, mas aos acontecimentos; é porque elas quebram a lógica binária da aderência direta com as coisas pela afirmação de uma individualidade. Da nitidez ao desfocado, da distância à proximidade, da objetiva normal à grande angular, da geometria ao acaso, da transparência à enunciação: aí se opõe dois regimes de enunciados fotográficos, duas práticas da fotografia, e duas concepções filosóficas.” (ROUILLE, 2009:, pag. 173). Figura 16 - Robert Frank. Trolley, New Orleans, 1955 Fonte: artblart.com 16 17 Figura 17 - Robert Frank. Parade, Hoboken, New Jersey, 1955 Fonte: artblart.com Figura 18 - Robert Frank. Political rally Chicago, 1956 Fonte: metmuseum.org Figura 19 - Robert Frank. Charleston, South Carolina, 1955 Fonte: metmuseum.org Fotografi a de Rua: gênero fotográfi co onde o sujeito principal é a presença humana, direta ou indireta, em situações espontâneas e em lugares públicos como parques, praias, grandes centros comerciais, manifestações, eventos culturais entre outros. A fotografi a de rua capta basicamente o que há de mais comum: os pequenos momentos e os pormenores do cotidiano. Ex pl or 17 UNIDADE O Olhar O Outro “Eu acredito que fotografo coisas que ninguém veria caso eu não as mostrasse.” (Diane Arbus) A americana Diane Arbus, uma das mais controversas e interessantes fotógrafas da década de 50, iniciou aos 18 anos de idade sua carreira ao lado do marido Allan Arbus, com quem aprendeu a fotografar, trabalhando para diversas revistas de moda como a Vogue e Haper`s Bazzar. Embora não sentisse qualquer paixão por essa temática, suas fotografias do período já trazem características estéticas que seriam marcantes em seu trabalho posterior, como o corpo humano sempre em evidência e o desvio da simetria e das proporções clássicas da composição fotográfica, o que confere um ar de estranheza a suas imagens, mesmo em temas banais. A aversão de Arbus ao trabalho para o mundo da moda foi agravada pelas suas crises de depressão, levando-a a abandonar esta carreira para dar início a outra independente. Aos 33 anos, Arbus passou a fotografar pessoas marginalizadas em Nova York, diferentes tipos à margem da sociedade que não eram percebidos ou, se percebidos, evitados pela sociedade. Arbus chegava a passar meses convivendo com famílias da classe proletária, moradores de rua, portadores de deficiências, transsexuais, travestis e integrantes de circos de bizarrice para retratá-los da maneira mais direta possível, buscando revelar a beleza real dessas pessoas nos momentos em que estavam protegidas do espaço público. Seu trabalho colocou em xeque os padrões de beleza da época e, até hoje, causam um misto de estranheza e admiração. Arbus suicidou-se em 1971, aos 48 anos de idade. Figura 20 - Diane Arbus. Tattoed Man at Carnival, 1970 Fonte: tate.org.uk Figura 21 - Diane Arbus. A Young Man in Curlers at Home on West 20th Street, N.Y.C, 1966 Fote: artblart.com 18 19 Figura 22 - Diane Arbus. Patriotic Young Man with Flag, NYC, 1967 Fonte: artnet.com Figura 23 - Diane Arbus. Jewish Giant With His Parents in the Bronx, 1971 Fonte: artblart.com Figura 24 - Diane Arbus. Mexican Dwarf in his hotel Room, NYC, 1970 Fonte: artblart.com Figura 25 - Diane Arbus. Child with a toy hand grenade in Central Park, 1962 Fonte: metmuseum.org Retrato: o retrato nasceu com o daguerreotipo, atraindo um grande número de pessoas interessadas em serem fotografadas e, por consequência, de fotógrafos. O frontal, enquadrado na altura do busto e olhando para o espectador, era a pose mais frequente. Entretanto, com o desenvolvimento da linguagem fotográfi ca, o retrato evoluiu dos estúdios com fundos pintados para outros espaços e as mais variadas formas de captar alguém. O retrato pode captar a personalidade ou singularidades de uma pessoa por meio de iluminação, poses e enquadramentos diferenciados. Pode caracterizar-se pelo momento e ser realista ou, ainda, pode ser encenado. Ex pl or 19 UNIDADE O Olhar A Condição Humana “Mais do que nunca, sinto que a raça humana é somente uma. Há diferenças de cores, línguas, culturas e oportunidades, mas os sentimentos e reações das pessoas são semelhantes. Pessoas fogem das guerras para escapar da morte, migram para melhorar sua sorte, constroem novas vidas em terras estrangeiras, adaptam-se a situações extremas…” (Sebastião Salgado) O brasileiro Sebastião Salgado é um dos fotógrafos documentais mais respeitados do mundo. Na década de 70, durante uma viagem a Angola, descobriu a fotografia e, em 1973, tornou-se fotojornalista. Em 1981, época em que era integrante da Agência Magnum, documentou o atentado contra o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e foi com a venda destas fotografias para jornais de todo o mundo que financiou seu primeiro projeto pessoal. Envolvido com projetos humanitários, Salgado utiliza a fotografia como uma fer- ramenta de denúncia da condição huma- na, documentando situações extremas de pobreza, violência, guerra, fome e migra- ção. São dezenas de projetos realizados em mais de 100 países que encantam e ao mesmo tempo nos faz refletir sobre o mundo em que vivemos. Agência Magnum: Em 1947, Bresson e três amigos - Robert Capa, George Rodger e David Symour, fundaram uma das agên- cias mais famosas do mundo, a Magnum Photos, uma cooperativa de fotógrafos independentes que tinha como principal objetivo de- fender os interesses e os direitos autorais dos fotógrafos. Além de serem amplamente veiculadas na imprensa internacional, muitas dessas imagens foram publicadas em livros. Entre eles, Outras Américas (1986), um documentário sobre as comunidades agrárias latino-americanas; Sahel: O Homem em Pânico (1986), um projeto conjunto com a ONG Médicos sem Fronteiras, que registrou a devastação causada pela seca na região de Sahel, no norte da África; Trabalhadores (1996), documentário sobre as condições dos trabalhadores braçais em mais de vinte países; O fim do Pólio (2003), um projeto conjunto com a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em que Salgado documentou uma campanha mundial para a erradicação da poliomielite; e os aclamados Êxodos (2000) e Retratos de Crianças do Êxodo (2000), um projeto realizado durante seis anos sobre populações migrantes em 40 países, que documenta o fenômeno global de desalojamento em massa, retratando histórias de pessoas refugiadas ou exiliadas, suas lutas, esperanças e a fragilidade humana. 20 21 Figura 26 - Sebastião Salgado. Brazil, 1983. (Latin America) Fonte: amazonasimages.com Figura 27 - Sebastião Salgado. Korem camp. Ethiopia, 1984. (Sahel) Fonte: amazonasimages.com Figura 28 - Sebastião Salgado. Termoelétrica movida a carvão, 1989. (Workers) Fonte: amazonasimages.com 21 UNIDADE O Olhar Figura 29 -Sebastião Salgado. National Immunization Days. Moradabad, Uttar Pradesh, India, 2001. (Pólio) Fonte: amazonasimages.com Figura 30 - Sebastião Salgado. Tanzânia, 1994. (Exodos) Fonte: amazonasimages.com Figura 31 - Sebastião Salgado. Kamaz camp for displaced Afghans. Mazar-e- Sharif, Afghanistan, 1996. (Portrait) Fonte: amazonasimages.com Fotografia Humanitária: vertente da fotografia documental que registra as vítimas da exclusão social globalizada e seus problemas clichês como moradia, território, catástrofes naturais, guerras, fome, doença etc, em síntese, a condição humana de grupos excluídos de seu contexto social e desconectados do mundo. Ex pl or 22 23 Fotografi a artística e colorida, por que não? “Estou em guerra contra o óbvio”. (William Eggleston) O americano William Eggleston foi um dos pioneiro da fotografia artística colorida. Em 1976, quando vigorava a ideia de que a fotografia colorida era inapropriada para manifestações artísticas e seu uso só se justificava no gênero publicitário e na fotografia amadora, Eggleston expôs sua série Chromes no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA), libertando a fotografia artística do domínio do preto e branco. A mostra causou escândalo e foi intensamente criticada pela comunidade fotográfica. As famosas fotografias de Eggleston retratam o cotidiano e a paisagem das pequenas cidades e subúrbios do sul dos Estados Unidos que, durante as décadas de 60 e 70, ainda viviam reflexos do passado escravocrata - conflitos raciais e uma classe média aderindo aos novos padrões de consumo. Com grande liberdade compositiva e cores vibrantes, as cenas prosaicas de Eggleston influenciadas pelo fotorrealismo e pela pop art apresentam os símbolos da modernização americana - outdoors, supermercados, shopping centers, motéis, estacionamentos, estradas e carros. Figura 32 - William Eggleston. Tennessee, 1972 Fonte: moma.org Figura 33 - William Eggleston. Sem título. Da série “Los Alamos”, 1965-1968 Fonte: artecapital.net 23 UNIDADE O Olhar Figura 34 - William Eggleston. Sumner, Mississippi, Cassidy Bayou in Background, 1969 Fonte: moma.org Figura 35 - William Eggleston. Memphis, 1969 Fonte: moma.org Fotorrealismo ou Hiperrealismo é um segmento da pintura que utiliza como referência uma imagem fotográfica. O resultado pictórico é muito próximo ou quase idêntico à fotografia original. Stece Mills, Richard Estes e Chuck Close são alguns exemplos. Ex pl or Poesia Visual “Gosto quando não sabemos por que o fotógrafo fez determinada foto; e quando de repente, sem sequer saber a razão de estar olhando para determinada imagem, descobrimos algo nela, só então começamos a ver. Gosto dessa confusão.” (Saul Leiter) Duas décadas antes da histórica mostra de Eggleston colocar em xeque a ilegitimidade artística da fotografia colorida, quando o cotidiano da vida americana na década de 50 estava sendo imortalizado nas fotografias em preto e branco de Robert Frank e Diane Arbus, o pintor expressionista abstrato e fotógrafo nova- iorquino Saul Leiter já estava registrando o cotidiano de Manhatan em cores. Muito diferente da produção dos demais grandes fotógrafos do período e com um olhar mais intimista, curioso e aparentemente descompromissado, seu trabalho não apresenta tensão ou a urgência de retratar alguém ou algo específico. Os 24 25 fragmentos corriqueiros e universais do cotidiano capturado por Leiter (muito cuidadoso com a geometria e a cor de suas composições) transformam-se em arte quase abstrata ou, o contrário, ilusões passageiras são capturadas com precisão. A figura humana no trabalho de Leiter é frequentemente captada através de frestas, janelas, cortinas, reflexos, chuva e complementadas pela imaginação do observador, em imagens contemplativas que buscam evocar uma atmosfera e traduzir sensações. Exceto por raras aparições, o trabalho de Leiter foi negligenciado pelo mercado e ficou longe da vista do público durante cinco décadas, apenas em 2006, quando foi publicada a monografia Saul Leiter: Early Color, viria o reconhecimento e sua primeira mostra individual. Figura 36 - Saul Leiter. Shopper, 1953 Fonte: artblart.com Figura 37 - Saul Leiter. Walking, 1956 Fonte: artnet.com Figura 38 - Saul Leiter. Through Boards, 1957 Fonte: artnet.com Figura 39 - Saul Leiter. Cap, 1960 Fonte: artnet.com 25 UNIDADE O Olhar Crônicas Sociais “Com a fotografia, gosto de criar ficção a partir da realidade. Eu tento fazer isso tirando o preconceito natural da sociedade e acrescentando um toque especial”. (Martin Parr) O inglês Martin Parr, um dos grandes nomes da fotografia contemporânea, é conhecido por suas séries antropológicas que retratam de maneira crítica, irônica e bem humorada, os hábitos de lazer e consumo da sociedade moderna. Com mais de 76 livros publicados, suas fotografias coloridas e saturadas transcendem a fotografia tradicional e documental e criam narrativas únicas sobre o cotidiano, como comenta o curador e crítico alemão Thomas Weski: “Parr nos permite ver coisas que pareciam familiares de uma maneira completamente nova. Desta forma, ele cria sua própria imagem da sociedade, o que nos permite combinar uma análise dos sinais visíveis da globalização com experiências visuais incomuns. Em suas fotos, Parr justapõe imagens específicas com universais sem resolver as contradições. As características individuais são aceitas e as excentricidades são apreciadas.” (WESKI, Thomas. Martin Parr.) Entre seus principais projetos, destacam-se a famosa série de fotografias de pessoas à beira mar, captadas durante décadas em praias de diversos países e copiladas no livro Life’s a Beach (2013), uma crônica de costumes dos banhistas de diversas partes do mundo, com suas peculiaridades, rituais e excentricidades; The Last Resort (1983-1985), imagens captadas no balneário de New Brighton, no subúrbio de Liverpool, que narram a decadência econômica vivida pela classe operária britânica durante o período; e Common Sense (1995-1999), 350 imagens em close-ups de vestuários excêntricos, joias, fast-foods e uma enorme gama de produtos industrializados que retratam a cultura de consumo globalizada e as maneiras pelas quais as pessoas comuns se divertem. Figura 40 - Martin Parr. Italy. Lake Garda. Riva del Garda, 1999 Fonte: magnumphotos.com 26 27 Figura 41 - Martin Parr. Belgium. Knokke. 2001 Fonte: magnumphotos.com Figura 42 - Martin Parr. GB. England. New Brighton, 1985. (The Last Resort) Fonte: magnumphotos.com Figura 43 - Martin Parr. GB. England. New Brighton, 1985. (The Last Resort) Fonte: magnumphotos.com 27 UNIDADE O Olhar Figura 44 - Martin Parr. JAPAN. Tokyo. Disneyland, 1998. (Common Sense) Fonte: magnumphotos.com Figura 45 - Martin Parr. GB. England, 1998. (Common Sense) Fonte: magnumphotos.com Série Fotográfica: uma série fotográfica compreende um conjunto de imagens que dialogam umas com as outras a partir de uma temática única e uma estética planejada.Ex pl or 28 29 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros ADAMS, Anselm. A câmera. São Paulo: Senac, 2015. ADAMS, Anselm. A copia. São Paulo: Senac, 2015. ADAMS, Anselm. O negativo. São Paulo: Senac, 2015. Vídeos Ansel Adams A Documentary http://goo.gl/Zsrthz Henri Cartier-Bresson - “O Olho do Século” http://goo.gl/SoZnJ4 Close UP Photographers at Work 2of2 http://goo.gl/qJ2NvJ Caçadores da Alma - Ep 1 - Nas Trilhas da Natureza http://goo.gl/FiM1M6 Caçadores da Alma - Ep 2 - A Árvore da Fotografia http://goo.gl/ersKs9 Caçadores da Alma - Ep 3 - Fotojornalismo, A Ética e a Caça http://goo.gl/uiHvAA Caçadores da Alma - Ep 4 - Fotojornalismo, O Risco da Profissão http://goo.gl/x1qV4M Caçadores da Alma - Ep 5 - Paisagens Humanas http://goo.gl/k21JVW Caçadores da Alma - Ep 6 - Ensaios Fotográficos http://goo.gl/o82V0Y Caçadores da Alma - Ep 7 - Fotografia e Outras Artes http://goo.gl/0RXZHU Caçadores da Alma - Ep 8 - Vida http://goo.gl/20Vfq2Caçadores da Alma - Ep 9 - Cidade e Campo http://goo.gl/sNXIIh Caçadores da Alma - Ep 10 - Fotografia e História http://goo.gl/hIuUrq Caçadores da Alma - Ep 11 - Fotografia e Emoção http://goo.gl/sj6RJb Caçadores da Alma - Ep 12 - Fronteiras da Fotografia http://goo.gl/c2lKgR Caçadores da Alma - Ep 13 - Balanço Final http://goo.gl/tK4JCw Filmes A Pele Fur, an imaginary Portrait of Diane Arbus, EUA, 2006. Steven Shainberg. O sal da terra The Salt of the Earth, Brasil/França, 2014. Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado. O Resgat e do Soldado Ryan Saving Private Ryan, EUA, 1998. Steven Spielberg 29 UNIDADE O Olhar Referências AMAR, P. História da fotografia. 2. ed. ,v. ,Lisboa: Edições 70, 2011. BAURET, G. A Fotografia: História, Estilos, Tendências, Aplicações. Lisboa: Edições 70, 2006. COTTON, C. A Fotografia Como Arte Contemporânea. São Paulo 2006: Martins Fontes, 2010. FELICI, J. M. Como se Lee Una fotografia: Interpretaciones de La Miranda. 2. ed. ,v. ,Madrid: Catedra, 2009. HACKING, J. Tudo Sobre Fotografia. São Paulo: Sextante, 2013. PRAKELL, P. Composição. Bookman. São Paulo, 2011 ROUILLE, A. A Fotografia: Entre Documento e a Arte Contemporânea. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2009. Sites Consultados www.https://dpcafam.wikispaces.com//>. Acesso em: 01 abril 2016. www.martinparr.com/introduction/>. Acesso em: 01 abril 2016. 30
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