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Giardíase · O gênero Giardia inclui protozoários flagelados parasitos do intestino delgado de mamíferos, aves, répteis e anfíbios, sendo responsável pela infecção chamada de giardíase; · Uma das principais causas de diarreia infecciosas nos países em desenvolvimento, sobretudo em crianças (impedindo o desenvolvimento físico satisfatório); · Em países desenvolvidos é o principal parasito encontrado na população, sendo causa mais frequente de surtos epidêmicos de diarreia associado ao consumo de água; · Foi inserida no grupo de doenças negligenciadas nos países em desenvolvimento;] · Associada à pobreza, falta de saneamento básico e pouca qualidade da água para consumo; · A G. lamblia é a única espécie que infecta humanos, além de outros mamíferos. Essa espécie é um dos parasitas intestinais mais frequentes em animais domésticos; · G. duodenalis é um complexo que incluem isolados morfologicamente indistinguíveis, porém geneticamente distintos isolados em 7 grupos genéticos; · Humanos e outras espécies de mamíferos podem se infectar pelos genótipos A e B; Morfologia · Giardia é um organismo simples, com características básicas de células eucariotas, como presença de carioteca ligada ao reticulo endoplasmático, citoesqueleto complexo e composto por microtúbulos e a presença de estruturas semelhantes a vacúolos lisossômicos; · Não possui algumas organelas típicas eucariotas, como mitocôndria, peroxissomos e complexo de Golgi característico; · Apresenta duas formas evolutivas, que diferem na organização estrutural e bioquímica. O trofozoíto e o cisto; Trofozoíto · Encontrado no intestino delgado, sendo responsável pelas manifestações clínicas da infecção; · Formato piriforme, simetria bilateral, mede 20 micrômetros de comprimento por 10 de largura; · Apresenta 4 pares de flagelos: um par anterior, um par ventral, um par posterior e um par caudal; · Face dorsal é lisa e convexa, já a face ventral é côncava e possui uma estrutura semelhante a uma ventosa (conhecida como disco ventral, adesivo ou suctorial); · O disco adesivo é composto por microtúbulos e microfilamentos de alfa e beta-tubulinas e proteínas chamadas giardinas, permitindo a adesão à mucosa intestinal; · Na face ventral, abaixo do disco adesivo, há uma ou duas estruturas em forma de vírgula, chamada corpos medianos; · Os corpos medianos participam da divisão nuclear e da formação do disco adesivo; · Possuem dois núcleos idênticos morfologicamente e geneticamente; Cisto · Forma responsável pela transmissão do parasito; · É oval ou elipsoide, medindo aprox. 12 micrômetros de comp. por 8 de largura; · Apresenta uma parede externa glicoproteica (polímeros de N-aceilgalactosamina), chamada parede cística, que confere resistência a variações de temperatura e umidade e à ação de produtos químicos, como desinfetante; · No citoplasma podem ser vistos 2 ou 4 núcleos, um número variável de fibrilas longitudinais (axonemas de flagelos) e, no polo oposto aos núcleos, os corpos escuros com forma de meia-lua; · Os corpos escuros (ou corpos em crescentes) são confundido com os corpos medianos presentes nos trofozoítos; · Fibrilas longitudinais e os corpos em crescente originarão os flagelos e disco adesivos nos trofozoítos; Ciclo biológico · Giardia é um parasito monóxeno de ciclo biológico direto; · Poucos cistos são necessários para infectar o hospedeiro (10 a 100 formas); · Após a ingestão, o cisto passa por um processo de desencistamento, que se inicia no meio ácido do estomago e completa-se no duodeno e jejuno; · Cada cisto maduro libera uma forma oval, tetranucleada, com oito flagelos e denominada excitozoíto; · Cada excitozoíto faz duas divisões nucleares sem replicação genética, e em seguida se divide e origina quatro trofozoítos binucleados. · Os trofozoítos se multiplicam por divisão binária longitudinal, e colonizam o intestino, onde permanecem aderidos à mucosa por meio do disco adesivo; · O ciclo completa-se pelo encistamento do parasito e sua eliminação para o meio exterior; · Encistamento pode ocorrer no baixo íleo, mas é no ceco o principal sítio de encistamento; · Estímulos como a influência do pH intestinal, concentração de sais biliares e o destacamento do trofozoíto da mucosa são estímulos para que ocorra o encistamento; · Esses estímulos levarão à expressão de genes específicos, responsáveis pela codificação de moléculas da parede cística e pela biogênese de organelas secretoras envolvidas no transporte, secreção e organização de constituintes deste envoltório; · Assim, é secretado pelo trofozoíto uma membrana cística resistente, com quitina na sua composição; · Pode ocorrer nucleotomia no interior do cisto, podendo este apresentar 4 núcleos; · Os cistos são excretados junto com as fezes, podendo permanecer viáveis no meio ambiente por meses, se em condições de temperatura e umidade favoráveis. Transmissão · Cistos são a forma infectante para humanos e animais; · Transmissão ocorre por via fecal-oral; · Maioria das contaminações ocorre por ingestão de cistos presentes na água, nos alimentos ou no ambiente contaminado com fezes; · Água é um importante veículo para a transmissão, seja pela ingestão direta ou indireta, pelo consumo de alimentos e bebidas preparados por água contaminada. Além de acidentalmente em atividades recreativas; · Em países em desenvolvimento, sem saneamento básico e tratamento adequado da água, Giardia é um dos principais agentes associados à veiculação hídrica; · Transmissão direta de pessoa para pessoa, por meio de mão contaminadas, é comum em lugares de aglomeração humana; · Nas escolas, as crianças parasitadas são fontes de infecção, transmitindo o parasito a outras crianças e aos seus familiares, além de contaminar o ambiente; · Pode ocorrem transmissão em relações sexuais que envolvem contato oral-anal; · A habilidade da Giardia em contaminar humanos e outros animais domésticos e silvestres levanta discussão sobre o papel da transmissão zoonótica na disseminação do parasito. Imunidade · Apesar de uma imunidade protetora ainda não ter sido demonstrada de forma conclusiva nas infecções humanas, o desenvolvimento de resposta imune tem sido sugerido por: 1. Natureza autolimitante da infecção; 2. Detecção de anticorpos específicos anti-Giardia no soro de indivíduos infectados; 3. Participação de monócitos citotóxicos na modulação da resposta imune; 4. Maior susceptibilidade de indivíduos imunocomprometidos à infecção, principalmente aqueles com hipogamaglobulinemia; 5. Menor susceptibilidade de indivíduos de áreas endêmicas à infecção (comparado com visitantes) 6. Infecção crônica em animais atímicos ou tratados com drogas que deprimem resposta humoral; · Mecanismos humorais e celulares atuam diretamente no controle da infecção; · IgG, IgM e IgA anti-Giardia são destacados no soro de indivíduos com giardíase, mas o papel deles não foi totalmente elucidado; · IgA secretora é induzido na mucosa intestinal, este anticorpo reconhece proteínas do disco adesivo dos trofozoítos, impedindo sua aderência à superfície das células do epitélio intestinal; · Indivíduos deficientes na produção de IgA secretora podem seguir para cronificação da infecção; · Depleção de células CD4+ é capaz de causar persistência da infecção e aumento da excreção de cistos nas fezes; · Monócitos, macrófagos e granulócitos participam na destruição dos trofozoítos, por meio de reações de citotoxidade anticorpo-dependentes (ADCC); · Mastócitos também atuam no controle de infecção, influenciando o desenvolvimento, a intensidade e a duração da resposta imune específica; · A camada de muco que protege o epitélio de enzimas digestivas dificulta a adesão dos trofozoítos à mucosa; · Recorrência de giardíase e as infecções crônicas podem estar associadas à variação antigênica do parasito; · Há a eliminação e troca de antígeno de superfície (VSPs), seja por uma resposta imune adaptativa ou espontaneamente (ocorre a cada 6-13 gerações), sendo uma forma de escape à resposta imune; Sintomatologia · A giardíase pode variar desde assintomática até sintomáticacom quadro de diarreia aguda e autolimitante, ou diarreia persistente, com evidência de má-absorção e perda de peso, que muitas vezes não responde ao tratamento (mesmo em imunocompetentes); · Maioria das infecções são assintomáticas: · 50% dos indivíduos a infeção é resolvida de forma espontânea; · 5%-15% é assintomática com eliminação de cistos por até 6 meses; · Grupo pequeno apresenta sintomas da infeção aguda ou crônica; · Geralmente sintomática nas primo-infecções, com diarreia aquosa, explosiva, odor fétido, com gases e distensão e dores abdominais; · Muco e sangue raramente acompanham as fezes; · Forma aguda dura poucos dias, e pode ser confundida com diarreias por causas bacterianas ou virais; · Nas infecções crônicas os sintomas podem durar anos, com diarreias contínuas, intermitentes ou esporádicas; · Diarreia crônica em crianças pode ser acompanhada de esteatorreia, perda de peso e má-absorção de gorduras e de nutrientes, principalmente vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), vitamina B12, ferro, xilose e lactose - (raramente produz dano sério em adultos, mas em crianças compromete desenvolvimento físico e cognitivo); Patogenia · Mecanismos etiopatogênicos na giardíase são multifatoriais, determinados pelo parasito (cepa, carga infectante) e hospedeiro (deita, associação à microflora intestinal, pH do suco gástrico, concentração dos sais biliares, resposta imune e estado nutricional); · A colonização do intestino por Giardia leva a alterações morfológicas e fisiológicas do epitélio intestinal – sem que haja invasão tecidual e celular; · As alterações variam desde achatamento até a atrofia das microvilosidades; · As alterações estruturais na mucosa, juntamente com outros mecanismos patológicos são a causa dos distúrbios intestinais associados à giardíase; · O processo de resposta imune desencadeia o processo inflamatório, diretamente ligado à má absorção associados aos casos de diarreia; · O aumento de linfócitos intraepitelial pode induzir a retração das vilosidades, diminuindo a absorção intestinal; · Existem algumas substâncias potencialmente tóxicas eliminadas pelo patógeno, que levam a alterações nas vilosidades, inibindo a absorção e atividade enzimática e que podem gerar uma reação imune, acarretando em alterações na mucosa; Diagnóstico · É importante não só a detecção de casos sintomáticos, mas os assintomáticos também, que correspondem a cerca de 90% dos casos, incluindo os indivíduos excretores de cistos - importantes fontes de infecção; Clínico · Em crianças de oito meses a 10-12 anos, diarreia com esteatorreia, irritabilidade, insônia, náuseas, vômitos, perda de apetite (com ou sem emagrecimento) e dor abdominal são característicos de giardíase; · Conveniente a comprovação laboratorial; Laboratorial · O exame coproparasitológico é tradicionalmente feito. Baseia-se na identificação de trofozoítos e/ou cistos nas fezes; · Em fezes formadas predominam cistos (achados na maioria de indivíduos infectados) e em diarreicas, trofozoítos (sendo achado mais em infecções sintomáticas); · Os trofozoítos morrem após 15-20 minutos, portanto indivíduos com diarreia devem coletar as amostras em recipientes com substâncias fixadoras – 10% mertiolato-iodo-formol ou acetato de sódio-ácido acético-formaldeído); · Os cistos são mais resistentes, mas se a analise demorar mais de 48 horas após a coleta a amostra deve ser mantida a 4oC, por no máx. 1 semana, ou preservada em substâncias fixadoras; · A liberação de cistos não é contínua. Ela é intermitente com “períodos negativos”, que podem durar em média 10 dias. · O período negativo varia de indivíduo para indivíduo, podendo permanecer negativo por 20 dias consecutivos; · Recomenda-se o exame de pelo menos 3 amostras fecais obtidas em dias alternados – diminuindo resultados falso-negativos (85% de positividade); · Em pacientes com diarreia crônica, o exame de fezes pode manter-se negativo, apesar da presença de trofozoítos no duodeno; · A pesquisa do parasito em fluido duodenal ou fragmento de biopsia jejunal pode ser feito; · Quando a dificuldade na demonstração de parasitos nas fezes, há também dificuldade para demonstrá-los nos outros dois exames; Imunológico · Imunofluorescência indireta e o método ELISA; · Problemas relacionados com a ocorrência de falso-positivos e baixa sensibilidade e especificidade; · IgG permanece elevado por longos períodos, impossibilitando a distinção entre infecções recentes ou passadas - dificultando diagnósticos em áreas endêmicas; · A detecção de antígenos nas fezes (coproantígenos) empregando a técnica ELISA possui resultados satisfatórios, com sensibilidade de 85-95% e especificidade de 90-100%; · O PCR é extremamente sensível e específico, porém seu uso é limitado; Epidemiologia · Segundo OMS, 200 milhões de pessoas com giardíase sintomática no mundo e incidência de 500 mil casos por ano em populações da Ásia, África e América Latina; · Infeção por Giardia possui ampla distribuição mundial, com prevalência variando de 2-5% em países desenvolvidos e de 20%-30% em países em desenvolvimento; · 40% dos casos de surtos associados à veiculação hídrica e parasitos intestinais são causados por Giardia; · Os cistos são resistentes aos desinfetantes usados no tratamento de água, sendo uma preocupação para os centros de abastecimento de água; · A G. lamblia é a única espécie que infecta humanos, além de outros mamíferos. Essa espécie é um dos parasitas intestinais mais frequentes em animais domésticos; Profilaxia · Medidas de higiene pessoal (lavar as mãos); · Destino correto das fezes (fossa ou esgoto); · Proteção dos alimentos; · Tratamento da água; · Filtros de areia e de terra de diatomáceas são capazes de remover os cistos de G. lamblia; · Cisto podem resistir a cloração da água, mas são destruídos em água fervente; · Como pode ser que haja a transmissão do parasita de animais domésticos, é necessário que se verifique o parasitismo nesses animais a fim de trata-los; · É importante o tratamento precoce do doente e diagnosticar a fonte de infecção para trata-la. Tratamento · Compostos derivados dos: · 5-Nitroimidazóis - metronidazol, tinidazol, ornidazol e secnidazol · Nitrofurados – furazolidona · Corantes de acridina · Benzamidazóis- albendazol · 5-Nitrotiazóis · Apesar de possuir alta taxa de cura, possuem inconveniências, como a alta incidência de efeitos colaterais, sobretudo em crianças pelas reinfecções, precisando ser tratadas várias vezes; · Metronidazol é o medicamento de escolha, eliminando o patógeno em 80-95% dos indivíduos tratados. Possui efeito na alteração do DNA do parasito; · Metronidazol possui efeitos carcinogênicos e mutagênicos, além de uma gama de efeitos adversos. Tem sido associado à resistência de cepas, com relatos de prevalência na resistência clínica superior a 20% e com taxas de recorrência superiores a 90%; · O albendazol (anti-helmíntico) tem sido frequentemente prescrito; · A nitazoxanida, é indicada para o tratamento de infecções por helmintos e protozoários intestinais, incluindo a Giardia. · Avaliação de outros quimioterápicos tem revelado novas alternativas para o tratamento da giardíase, mas persistem a ocorrência de efeitos adversos e possibilidade de ineficácia dos esquemas terapêuticos instituídos. Amebíase: Entamoeba histolytica e Entamoeba dispar · A E. histolytica é o agente etiológico da amebíase, que leva a óbito cerca de 100 mil pessoas por ano (a 2ª causa de morte por parasitos); · Muitos casos de infecções assintomáticas; · Estimava-se que cerca de 12% da população mundial portava o parasito do TI – só 10% eram sintomáticos (início do século XX); · Após a descoberta da E. dispar, foi atribuído a ela a maioria dos casos assintomáticos antes ditos provocados pela E. histolytica; · Mesmo com o surgimento da E. dispar, a amebíase continua a ser definida como infecção assintomática ou sintomática causada por E. histolytica. Classificação · Reino: Protozoa, Filo: Sarcomastigophora, Superclasse: Sardocina; Classe: Lobosea; Ordem: Amoebida; Família: Entamoebidae; · Gêneros:Entamoeba, Iodamoeba e Endolimax. · Todas as espécies do gênero Entamoeba vivem no intestino grosso de humanos ou animais (exceto E. moshkoviskii – vida livre); · Esse gênero possui núcleo esférico ou arredondado e vesiculoso; · A cromatina periférica é formada por grânulos justapostos e distribuídos regularmente na parte interna da membrana nuclear; · Cariossoma pequeno, central ou excêntrico; · De acordo com a quantidade de núcleos do cisto maduros, são divididas em grupos: 1. Grupo coli: Entamoeba com cistos de 8 núcleos – E. coli 2. Grupo hystolytica: Entamoeba de cisto com 4 núcleos – E. hystolytica, E. dispar e E. moshkoviskii 3. Entamoeba cujos cistos não são conhecidos ou não possuem cistos: E. gengivalis 4. Entamoeba com cistos de um núcleo – E. polecki · Várias espécies de ameba podem ser encontradas em humanos, a maioria no intestino grosso (E. gengivalis na cavidade bucal), sendo a E. histolytica a única que, em determinadas situações, pode ser patogênica; Morfologia · As amebas se distinguem pelo 1. Tamanho do trofozoíto e do cisto 2. Estrutura 3. Número e formas das inclusões citoplasmáticas (vacúolos no trofozoítos e corpos cromatoides nos cistos); · A distinção estre espécies é difícil pois não diferenciam se facilmente das demais, principalmente trofozoítos à fresco; · Diagnóstico seguro requer análise de várias estruturas de mais de um exemplar; · Encontra-se trofozoítos no intestino, úlceras, fezes diarreicas; · Cistos imaturos ou maduros (bi ou tetranucleados) estão presentes em fezes normais; E. histolytica Trofozoíto · Mede de 20 até 40 micrômetros, podendo chegar a 60 nas formas invasivas (em lesões); · Possuem apenas um núcleo, esférico, nítido quando corado e pouco visível nas formas vivas; · Pleomórfico, ativo, alongado, com emissão contínua e rápida de pseudópodes (grosso se hialinos); · Possui movimento direcional (semelhante a uma lesma); · Ausência de mitocôndria, aparelho de Golgi, reticulo endoplasmático, centríolo e microtúbulos; · Quando proveniente de casos de desinteria, é comum encontrar eritrócitos no citoplasma; · Trofozoítos não invasivos ou virulentos apresentam bactérias, grãos de amido ou outros detritos no seu citoplasma (mas nunca eritrócitos); · O citoplasma se divide em ectoplasma e endoplasma; · O ectoplasma é claro e hialino, o endoplasma é granuloso com vacúolos, núcleos e restos de substâncias alimentares; · Carioteca é delgada e a cromatina justaposta internamente a ela é formada por pequenos grânulos, uniforme no tamanho e na distribuição, dando um aspecto de anel ao núcleo; · No centro do núcleo se encontra o cariossoma, pequeno e com constituição semelhante à cromatina periférica, dando ao núcleo um aspecto de roda de carroça; Pré-cisto · Fase intermediaria entre trofozoíto e o cisto; · Oval ou ligeiramente arredondado (menor que o trofozoíto); · Núcleo semelhante ao trofozoíto; · Corpos cromatoides no citoplasma (forma de bastonetes com pontas arredondadas). Metacisto · Forma multinucleada que emerge do cisto no intestino delgado; · Divide-se e origina os trofozoítos; Cistos · Esféricos ou ovais (8 a 20 micrometros de diâmetro); · Corpúsculos hialinos, claros e às vezes com coloração palha; · Núcleos são pouco visíveis- mas quando corados ficam visíveis; · De uma a quatro núcleos; · Possui vacúolos de glicogênio; Biologia e Ciclo Biológico · Os trofozoítos da E. histolytica normalmente vivem na luz do intestino grosso, podendo penetrar na mucosa e provocar ulcerações intestinais ou em regiões como fígado, pulmão, rim e raramente no cérebro; · Componentes básicos da membrana plasmática como carboidratos, lipídios e proteínas são encontrados. Glicose e seus polímeros fazem parte do metabolismo do parasito; · Os trofozoítos da E. histolytica são essencialmente anaeróbios, contudo amebas são hábeis para consumir oxigênio, podendo crescer em atmosferas contendo até 5% de O2. · Catabolismo da glicose difere da maioria das células eucariotas, pois não possuem mitocôndria, citocromos e ciclo do ácido cítrico; · Na glicólise anaeróbicas são usadas enzimas não usuais, sendo produzido etanol, CO2 e ATP; · A locomoção se dá por pseudópodes e ingesta de alimentos por fagocitose (sólidos: hemácias, bactérias e restos celulares) e pinocitose (líquidos); · Multiplicação se dá por divisão binária dos trofozoítos. Ciclo biológico · É monoxênico; · O ciclo inicia pela ingestão dos cistos maduros, junto de alimentos e água contaminados; · Cistos passam pelo suco gástrico e chegam ao final do intestino delgado ou início do intestino grosso, onde ocorre o desencistamento; · No desencistamento, há a saída de metacisto, por uma fenda na parede cística; · Metacisto sofre sucessivas divisões nucleares e citoplasmáticas, dando origem a quatro e depois oito trofozoítos; · Os trofozoítos migram para o intestino grosso, onde se colonizam, vivendo como um comensal, alimentando de bactérias e detritos; · Podem se desprender da parede e sofrer ação da desidratação, eliminar substâncias nutritivas presentes no citoplasma, transformando-se em pré-cistos; · Os pré-cistos secretam uma membrana cística e se transforma em cistos, inicialmente mononucleares; · Através de sucessivas divisões nucleares, transformam-se em cistos tetranucleados, que são eliminados com as fezes; · Geralmente não são encontrados em fezes liquefeitas ou disentéricas; Ciclo Patogênico · Equilíbrio parasito-hospedeiro pode ser rompido e os trofozoítos invadem a submucosa intestinal, multiplicando-se ativamente no interior das úlceras; · Através da circulação porta podem atingir outros órgãos, como fígado, pulmão, rim, cérebro ou pele, causando amebíase extraintestinal; · Trofozoítos presentes nestas ulceras são chamados de forma invasiva ou virulenta; · No tecido, não formam cistos, são hematófagos e muito ativos. Transmissão · Ocorre através da ingestão de cistos maduros, com alimentos (sólidos e líquidos); · Uso de água sem tratamento, contaminada por dejetos humanos; · Alimentos podem ser contaminados pela pata de insetos- baratas e moscas são capazes de regurgitar cistos anteriormente ingeridos; · Portadores assintomáticos que manipulam alimentos são os principais disseminadores. Patogenia e virulência · Amebíase é a infecção do homem causada pela E. histolytica, com ou sem manifestação clínica; · Possui muita variabilidade quanto ao potencial patogênico e diferença de virulência; · O início da invasão amebiana se dá pela ruptura do equilíbrio hospedeiro-patógeno, em favor do patógeno; · Ligados ao hospedeiro: idade, sexo, localização geográfica, resposta imune, estado nutricional, dieta alcoolismo, clima e hábitos sexuais; · Certas bactérias anaeróbicas são capazes de potencializar a virulência de cepas de E. histolytica; · Outros fatores podem aumentar sua virulência, como colesterol, passagem por muitos hospedeiros ou reinfecções recorrentes; · O patógeno possui efeito letal direto sobre o epitélio, necessitando que haja inicialmente uma forte adesão entre a ameba e a célula que será lesada; · Essa adesão é medida por lectina contidas na superfície das amebas, sendo auxiliadas por formações filopódicas que ampliam a adesão, seguida pela fagocitose; · Após vencer a barreira epitelial, os movimentos ameboides e a liberação de enzimas proteolíticas favorecem a progressão e destruição dos tecidos; · A ameba tem dificuldades de invadir tecidos intactos, portanto, incialmente penetram nas regiões intraglandulares; · Trofozoítos se multiplicam e prosseguem penetrando através de microulcerações em direção à muscular da mucosa, com escassa reação inflamatória; · Na submucosa as amebas podem progredir em todas as direções, determinando a ulceração típica, chamada “colo de garrafa” ou “botão de camisa”; · Essa ulcera é causada por lesão liquefativa, produzida inicialmente por amebas, mas que podem ser invadidas por bactérias, agravando a lesão; · As lesões amebianas são mais comuns no ceco e região retossigmoidiana; · Úlceras variam de tamanho e forma e podem estender-se a grandes proporções do intestino– causando até perfuração levando a peritonite fecal; · Ocasionalmente, os trofozoítos podem levar a formação de um ameboma (resposta inflamatória proliferativa que forma uma massa granulomatosa) – não é comum na amebíase; · Através da circulação porta atinge outros órgãos, principalmente o fígado; · No fígado formam abscessos (necrose coliquativa ou liquefativa); · Podem atingir o pulmão, e mais raramente o cérebro. Podem atingir a pele, e as regiões anal ou vaginal; · Induz resposta celular e humoral, mas não é indicativo de imunidade efetiva após a infecção. Porém, há uma exacerbação da doença pela imunossupressão; · Anticorpos locais e circulantes são produzidos regularmente durante a amebíase invasiva; · Apesar dos anticorpos serem próprios para os trofozoítos, a baixa correlação desses anticorpos e a resistência contradiz sua capacidade protetora; · A intradermorreação e a elevação dos títulos de IgE específicas antiamebianas sugerem a ocorrência de anafilaxia. Também há hipersensibilidade do tipo retardada, paralelamente com a amebíase hepática; · A reação antiamebiana é complicada pelo grande número de componentes antigênicos existentes na E. histolytica, que podem induzir repostas diretas; Manifestações Clínicas · Classificação das manifestações clínicas da amebíase são difíceis e arbitrárias: · Formas assintomáticas; · Formas sintomáticas; · Amebíase intestinal: Disentérica; Colites não disentéricas; Amebomas; Apendicite amebiana; · Complicações e sequelas da amebíase intestinal: perfurações, peritonites, hemorragias, invaginação, colites pós-disentéricas e estenoses; · Amebíase extraintestinal; · Amebíase hepática: aguda não supurativa; abscesso hepático ou necrose coliquativa; · Complicação do abscesso hepático: ruptura, infecção bacteriana e propagação para outros órgãos. · Amebíase cutânea; · Amebíase em outros órgãos: pulmão, baço, rim, cérebro... Período de Incubação · Muito variável (7 dias até anos); · Comumente entre 2 a 4 semanas. Amebíase Intestinal Formas assintomáticas · Maioria das infeções humanas por E. histolytica/dispar: 80 a 90% - infecção detectada pelo encontro de cistos nas fezes; · Forma mais encontrada no centro-sul do Brasil; · Estima-se que apenas 10% das infecções assintomáticas sejam produzidas pela E. histolytica. Formas Sintomáticas Colites não disentéricas · Uma das formas clínicas mais frequentes; · Manifesta-se por 2 a 4 evacuações, diarreicas ou não, por dia, com fezes moles ou pastosas – às vezes contendo muco; · Pode ocorrer desconforto abdominal ou cólico; · Raramente ocorre febre; · Alternância entre manifestações clínicas e períodos com funcionamento normal do intestino; · Maioria das amebas deste quadro é E. dispar; · Exame físico inespecífico, geralmente com dor no hipocôndrio direito e peristaltismo aumentado. Forma Disentérica – Colites Amebianas · Aparece frequentemente de modo agudo, acompanhado de sangue ou de muco, cólicas intensas, tenesmo, náuseas, vômitos, podendo haver calafrios e febre; · Usualmente ocorrem 8, 10 ou mais evacuações/dia; · Nos casos graves ocorrem inúmeras evacuações mucossanguinolentas, febre alta e persistente, prostração, dor abdominal e grave desidratação; · Ao exame físico pode se encontram distensão abdominal e hepatomegalia – também abdômen agudo devido a perfuração intestinal; · Pacientes podem estar em quadro de sepse; · Crianças de baixa idade, gestantes, indivíduos com terapia de corticoides e desnutridos são vulneráveis a formas graves; · Complicações da amebíase intestinal são variadas e podem atingir até 40% dos casos – perfurações e peritonite, hemorragias, colites pós-disentéricas e raramente estenose, apendicite e ameboma; Amebíase Extraintestinal · São raros os casos, com exceção da região amazônica, onde muitos relatos são registados; · Abcesso amebiano no fígado é a forma mais comum, sendo presente em todas as faixas etárias (predomínio entre 20-60 anos), e é mais frequente em homens; · Sintomas associados ao abcesso amebiano podem iniciar de modo agudo ou gradual, com piora progressiva. · Tríade – dor, febre e hepatomegalia; · Dor no quadrante superior direito do abdômen, com febre intermitente ou irregular (38-40oC), com calafrios ou não, além de anorexia e perda de peso; · Cerca de 8% dos abcessos amebianos se rompem, geralmente na cavidade abdominal – raramente dentro dos espaços pleural e pericárdico, casos estes fatais; Diagnostico Clínico · Usualmente é feito com fezes, soros e exsudato; · Exames de vezes são os mais utilizados, com o objetivo de identificar trofozoítos ou cistos; · Deve ser coletada sem urina, sem contaminação com outros materiais ou chão, pois pode ser contaminada com amebas de vida livre; · Fezes devem ser coletadas com conservadores, caso não seja feito o exame a fresco; · É importante a avaliação da consistência das vezes – se contem muco ou sangue; · O uso de fezes liquefeitas após a utilização de purgativos é frequente, e em muitos casos aumenta a positividade dos exames; · Nas fezes formadas o diagnostico laboratorial é feito através do encontro de cistos; · Como a eliminação dos cistos é intermitente e irregular, recomenda-se coletar as fezes em dias alternados e coloca-las em conservantes; · Mede-se o tamanho dos cistos ou trofozoítos. Formas menores de 10 micrômetros são geralmente E. hartmanni e maiores, E. histolytica; Imunológico · ELISA, imunofluorescência indireta, hemaglutinação indireta, contraimunoeletroforese, imunodifusão em gel de ágar e o radioimunoensaio; · Com a obtenção de antígenos mais puros e sensíveis esses métodos têm sido muito promissores e cada vez mais utilizados; · Nos casos de abcesso hepático onde o exame de fezes deu negativo, em 95% dos casos os exames sorológicos podem ser positivos – método de escolha em caso de abscesso. · Pode haver dificuldades ao preparo e obtenção dos antígenos; · Os títulos podem permanecer por meses ou anos, após o tratamento; · A pesquisa por coproantígenos pelo ELISA pode diagnosticar com segurança, tanto cisto como trofozoítos nas fezes, mesmo em quantidades pequenas que não seriam identificados em exames de fezes comuns. Outros Exames · Retossigmoidoscopia é um método que pode ser utilizado para ver as ulcerações, e colhendo material para a busca do agente etiológico; · Exames de imagem podem ajudar na localização, número e o tamanho dos abscessos ou distingui-los de outras etiopatogenias; · Punção do abcesso hepático pode ajudar a esclarecer a etiologia da doença. Diferenciação entre E. distolytica e dispar · Na maioria dos laboratórios não é possível diferenciar os trofozoítos e cistos, pois são iguais morfologicamente; · A PCR identifica sequencias de ácidos nucleicos específicos de E. hystolytica diferenciando-a de outras amebas – melhor sensibilidade e especificidade; · O ELISA (coproantígenos específicos) têm tido resultados promissores, apesar de ser rápido, fácil e sensível é pouco utilizado pelos alto custo e baixa especificidade; Epidemiologia · Cerca de 650 milhões de pessoas infectadas por E. hystolytica e dispar no mundo, das quais 10% possuem a forma invasora – alterações intestinais e extraintestinais. · E. dispar é 10 vezes mais frequente em portadores assintomáticos em países em desenvolvimento; · No Brasil, a infecção apresenta variedade no numero de infectados ou com sintomatologia, variando de região para região. Sul e Sudeste – 2,5-11%, Região Amazônica – 19%, demais regiões em torno de 10%; · No brasil predomina as formas de colite não disentéricas, não causando surtos graves como em outros países, exceto na região amazônica, que além de ser mais prevalente manifesta-se com mais gravidade (frequente formas disentéricas e abcessos); · E. hystolytica endêmica em todas as áreas de sua distribuição, não causando epidemias; · Apesar te atingir todas as idades, é mais comum em adultos; · Algumas profissões são mais atingidas – trabalhadores de esgoto... · Coelhos, gatos, porcos, cães e macacos são sensíveis a E. hystolytica, e foram encontrados infectados com amebas semelhantes a E.hystolytica; · Pessoas assintomáticas são as principais disseminadoras de cistos; · Os cistos permanecem viáveis (abrigo do sol e com condições de umidade) por 20 dias. Profilaxia · Exame frequente de manipuladores de alimentos, para identificar se é um portador assintomático e possível disseminador de cistos; · Combate às moscas M. domestica e Chrysomya sp., que frequenta lixos, dejetos humanos e também alimentos dentro de casa; · Lavar bem alimentos - verduras devem ser mergulhadas por 15 min em solução de permanganato de potássio para 10 litros de água ou 3 gotas de iodo por litro de água; · Vacinas em testes; Tratamento · Divididos em 3 grupos: Amebicidas que atuam diretamente na luz intestinal · Tem ação direta e por contato com o patógeno aderido à parede ou na luz do intestino; · Derivados da quinoleína, diiodo-hidroxiquinoleína, iodocloro-hidroxiquinoleína e cloridroxiquinoleína; · Antibióticos: paramomicina e eritromicina; · Outros derivados: furoato de diloxamina, clorobetamida e clorofenoxamida; · 1,5g de Teclosan e 1 g de Etofamida ao dia · Tratamento de indivíduos assintomáticos deve ser feito com Amebicidas de ação direta na luz intestinal, como teclosan e etofamida; · E. dispar não necessita ser tratada, mas como há dificuldades em distinguir as duas espécies, recomenda-se o tratamento com fármacos de ação luminar. Amebicidas tissulares · Atuam na submucosa do intestino e fígado; · Compostos de cloridrato de emetina, cloridrato de diidroemetina e cloroquina (só no fígado) · Diidroemetina e cloroquina são por via intramuscular, muito tóxicas e só devem ser utilizadas quando os outros medicamentos são fizerem efeito; · Emetina usada em dose de 1 mg/kg de peso por 7 dias; · Diidroemetina na dose de 1,5 mg/kg de peso por 7 dias; Amebicidas que atuam tanto na luz intestinal quanto nos tecidos; · Antibióticos são utilizados isolados ou em combinação com outros Amebicidas: tetraciclinas e seus derivados, clorotetraciclina e oxitetraciclinas; eritromina; espiramicina e paramomicina; · Derivados imidazólicos: estão nesse grupo os amebicidas mais efetivos e mais usados: Metranidazol, Ornidazol, Secnidazol e Tinidazol – via oral ou injetável; · Metranidazol é uma das mais utilizadas, muito bem tolerada, sendo a dorga de escolha amebíase intestinal e hepática- dose de 500-800 mg, 3 vezes ao dia durante 7 dias, nos casos graves pode ser injetável; · Em caso de falha terapêutica, usar metranidazol com diidroemetina ou emetina e antibióticos; · Secnidazol tem sido usado em dose única de 30mg/kg de peso para adultos;