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BREVES ANOTAÇÕES DE TEORIA GERAL E DIREITO SOCIETÁRIO I Autor: Tânia Carvalho Siqueira Profa. Direito Empresarial @prof.taniasiqueira O que é o Direito Societário? Resposta: O Direito Societário nada mais é do que o estudo das sociedades, que são pessoas jurídicas de direito privado resultantes da união de pessoas, constituídas com a finalidade de explorar uma atividade econômica e repartir lucros entre seus membros. Antes de iniciarmos o estudo do Direito Societário, vejamos alguns apontamentos sobre o direito empresarial, regime aplicável a todos os agentes que exercem atividades de produção e circulação de bens e serviços com escopo de lucro. EMPRESA 1. Conceito O Código Civil não trouxe o conceito de empresa, mas de empresário. A doutrina define empresa a partir do conceito extraído do Código Civil italiano. O jurista italiano Alberto Asquini desenvolveu a Teoria Poliédrica da Empresa explicando a empresa como um fenômeno econômico com 4 perfis distintos: a) perfil subjetivo: a empresa seria uma pessoa (física ou jurídica); b) perfil funcional: explica empresa como atividade econômica organizada; c) perfil objetivo: a empresa seria um conjunto de bens indispensáveis ou úteis ao empreendimento; d) corporativo: a empresa seria uma comunidade, isto é, uma instituição que reúne o empresário e seus colaboradores que bem entendem o negócio, já que todos estão organizados para atingimento de um fim econômico comum. Aqui está presente uma questão mais de ideologia. No meio jurídico utilizamos a expressão empresa com sentidos diversos. Todavia, a doutrina aponta que o sentido técnico-jurídico adequado seja empresa no seu sentido funcional: como atividade econômica organizada. EMPRESÁRIO 1. Definição (art. 966, caput, CC): “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços”. O Prof. Fabio Ulhoa Coelho explica que empresário pode ser tanto “pessoa física, que emprega seu dinheiro e organiza a empresa individualmente, como jurídica, nascida da união de esforços de seus integrantes”.1 A partir da definição do art. 966 do Código Civil, podemos então, concluir: a) empresário pode ser pessoa física ou jurídica. b) é aquele que exerce profissionalmente a atividade: isto é, aquele que exerce a atividade com habitualidade e escopo de lucro. c) a atividade deve ser organizada: significa que o empresário é aquele que articula os fatores de produção (capital, mão de obra, insumos, tecnologia) Portanto, o empresário pode ser um Empresário Individual (pessoa física que exerce profissionalmente atividade econômica organizada); a EIRELI – Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (pessoa jurídica que exerce profissionalmente atividade econômica organizada limitando sua responsabilidade, em princípio, ao capital investido no empreendimento); ou uma Sociedade (pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade tendo por objeto social a exploração de atividade econômica organizada). 1 Curso de Direito Comercial – Direito de Empresa. São Paulo:RT, 2017, p. 103 2. Profissionais excluídos do conceito de empresário (parágrafo único do art. 966, CC) Não são considerados empresários aqueles que exercem profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, a menos que o exercício da profissão constitua elemento de empresa. Logo, em princípio, os profissionais intelectuais (médicos, dentistas, contabilistas, veterinário) não são considerados empresários, a menos que o exercício dessa profissão dê lugar a uma atividade organizada. Exemplo: o veterinário não é empresário (enquanto estiver atuando sozinho, valendo-se somente da sua capacidade intelectual), mas quando o exercício da sua profissão se insere como elemento do pet shop, daí o regime jurídico já é o empresarial. A partir do momento que a profissão intelectual for exercida como parte de uma atividade empresarial, daí o regime a ser à ela aplicado será o empresarial. Há agentes econômicos (exercem atividade com escopo de lucro) que não se sujeitam ao regime empresarial porque se afastam da organização e se aproximam da pessoalidade. Empresário (sujeito de direito) Individual pessoa física Sociedade pessoa jurídica As sociedades de profissionais não empresários são chamadas de “Sociedade Simples” → sociedade não empresária registrada no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. ATENÇÃO: as Cooperativas e as sociedades de advogados sempre serão EMPRESÁRIO INDIVIDUAL 1. Definição É uma pessoa natural que exerce atividade econômica organizada, assumindo os riscos da atividade. O seu patrimônio pessoal se confunde com o patrimônio empresarial. O registro é obrigação, mas não é o registro que o caracteriza como empresário. Há a obrigação de antes de iniciar sua atividade de se registrar2. Mas se não fizer, será empresário da mesma forma. Portanto, o registro para o empresário individual é ato declaratório e não constitutivo, que informará se a atividade é regular ou não. O registro deve ser feito na Junta Comercial/Registro Público de Empresas Mercantis (esse nome foi extraído do art. 1.150, CC). A inscrição no registro não é requisito de existência. É com esse registro que adquire personalidade jurídica para empresa? Não, não adquire personalidade jurídica. Isto é, o empresário individual tem um único patrimônio, que incorpora bens pessoais e da empresa 2 Código Civil, Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. e todos respondem por dívidas pessoais e da empresa. Só ficam protegidos os bens absolutamente impenhoráveis. O E.I. não tem personalidade jurídica3. Porém, personalidade jurídica é diferente de CNPJ. O CNPJ serve para efeitos tributários. Assim, o empresário individual tem CNPJ, mas não tem personalidade jurídica. Quem pode exercer atividade empresarial? Todos que estiverem em pleno gozo da capacidade civil e não for legalmente impedido (art. 972, C.C.) I. capacidade: o incapaz não pode dar início à atividade empresarial. Para que o incapaz exerça atividade com empresário individual só é possível em continuação da atividade empresarial já iniciada quando ele detinha plena capacidade. Não pode iniciar a atividade, só continuar. Há duas situações: em caso de falecimento ou ausência dos pais (sucessão causa mortis) ou em caso de incapacidade superveniente (era capaz quando abriu a empresa, mas um acidente ou enfermidade trouxe uma limitação). Além disso, a continuação precisa de autorização judicial. É o juiz do processo de inventário ou do processo da interdição. A decisão não é pautada apenas no interesse do incapaz, mas também no princípio da preservação da empresa: pensar nos funcionários, fornecedores, importância da empresa para a comunidade. A autorização dada pelo juiz é revogável (art. 974, § 1º, CC). O juiz irá nomear representante (absolutamente incapaz) ou assistente (relativamente incapaz) que dará continuidade da empresa. O incapaz não sofre os mesmos riscos que o empresário individual comum, no qual todos os bens respondem. O incapaz tem proteção patrimonial. No 3 Tanto os bens do empresário individual estão sujeitos à penhora por dívidas da empresa, como os bens da empresa estão sujeitos à penhora por dívidas pessoais. Art. 978 do CC: O empresário casado pode, sem necessidade de outorgaconjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real. momento da interdição ou do inventário, o juiz tem uma lista de bens. Sobre os bens que o juiz entende não ser da empresa, o juiz protegerá. Assim, diz-se que foi criado um “patrimônio de afetação” (são bens mínimos do incapaz, que não podem se envolver com a empresa). Se a empresa der lucro, essa lista não aumentará, pois são os bens mínimos. Com a decisão do juiz, será expedido alvará que conterá: autorização judicial, nome do representante ou assistente e lista de bens e deverá ser registrado ou averbado na Junta Comercial. Assim, qualquer pessoa que contrate com o E.I. terá ciência da limitação da responsabilidade. II) Impedimentos – proibição legal para atuar com empresário ● O falido, do momento da decretação da falência – art. 102, da Lei n. 11.101/05, até a sentença que extingue as obrigações. ● Servidor Público: Conforme a Lei n. 8.112/90, em seu art. 117, o servidor público é impedido de ser empresário individual ou administrador de uma sociedade. Pode ser controlador, quotista e acionista majoritário. Só não pode ser administrador da sociedade. ● os militares (a não ser que tenham sido reformados), leiloeiros, corretores e despachantes aduaneiros também não podem ser empresários individuais. E se a pessoa impedida realizar atividade empresarial? Responde pelos atos praticados – art. 973, CC. Caso o Empresário Individual queira admitir sócio, ou mesmo constituir sociedade unipessoal, utilizando o acervo de empresário para a formação do capital social da sociedade, deverá requerer perante o Registro Público de Empresas Mercantis, a extinção da sua inscrição de empresário concomitantemente com o processo de arquivamento do ato de constituição da sociedade (IN DREI 81/2020) EIRELI 1. Previsão legal A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI- foi instituída pela Lei nº 12.441/2011 que introduziu o art. 980-A no Código Civil. Art. 980-A. A empresa individual de responsabilidade limitada ser constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado, que não será inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País. § 1º. O nome empresarial dever ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. § 2º. A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar em uma única empresa dessa modalidade. §3º. A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente das razões que motivaram tal concentração. § 4º (VETADO). § 5. Poderá ser atribuída à empresa individual de responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade profissional. § 6º. Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras previstas para as sociedades limitadas. 2. Patrimônio É preciso de um capital social mínimo, de 100 salários mínimos, que precisa estar integralizado no momento da constituição. Com o registro do ato constitutivo, a EIRELI adquire personalidade jurídica e, portanto, autonomia patrimonial (limitação de responsabilidade pelas obrigações sociais). 3. Aplicação Subsidiária das normas da sociedade limitada Aplicam-se de forma subsidiária as regras da Sociedade Limitada. Não são todas, mas aquelas que são compatíveis. Regras comuns: ● A prestação de serviços não pode compor o capital social – art. 1.055, CC. ● Administrador na EIRELI pode ser o próprio empresário ou terceiro e na LTDA pode ser um sócio ou terceiro – art. 1.060 e 1.061, do CC. Na EIRELI não tem sócio! ● Responsabilidade do Administrador: por perdas e danos – art. 1.010 e 1.028, do CC. REGISTRO 1. Importância do registro A existência da pessoa jurídica de direito privado começa com o registro de seus atos constitutivos em Cartório competente. As sociedades empresárias e a EIRELI quando se registram constituem personalidade jurídica e adquirem autonomia patrimonial. O registro assegura a personalidade jurídica e promove a separação patrimonial. Serve para dar regularidade para a atividade empresarial. Nesse sentido: “Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade”. IMPORTANTE: I - quem exerce atividade rural tem a faculdade e não a obrigação de se registrar no Registro Público de Empresas. Caso se registre, passa a se submeter ao regime empresarial – art. 971, C.C. II – o empresário é obrigado a inscrever-se no Registro Público de Empresas Mercantis. No entanto, a falta de inscrição não retira sua condição de empresário. III – a sociedade empresária não registrada será considerada sociedade em comum, respondendo os sócios solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. 2. A Lei de Registro Público de empresas mercantis – Lei nº 8.934/94 Nos termos do art. 1º da Lei nº 8.934/94, as finalidades do registro de empresa são: “I – dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis, submetidos a registro na forma desta lei; II – cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as informações pertinentes; III – proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento”. O art. 3º da referida lei cria o SINREM – Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis: SISTEMA NACIONAL DE REGISTRO DE EMPRESAS MERCANTIS Departamento de Registro Empresarial e de Integração - DREI Juntas Comerciais As Juntas Comerciais são órgãos estaduais e têm vinculação técnica com o DREI que tem por função normatizar e fiscalizar a atividade das Juntas. De acordo com o art. 32 da Lei 8.934/94 (Lei de Registro Público de Empresas Mercantis), o registro compreende: “I. a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-gerais; II. o arquivamento: a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e cooperativas; b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976; c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil; d) das declarações de microempresa; e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis; III. a autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma de lei própria”. Assim sendo, as Juntas praticam 3 atos de registro: Matrícula - inscrição de profissionais (leiloeiro, tradutor, intérprete) Arquivamento - inscrição de empresários individuais, EIRELI e sociedades empresárias Autenticação - registro de documentos de escrituração (livros empresariais) 3. Publicidade dos atos de registro Segundo dispõe o art. 29 da Lei nº 8.934/94: “Qualquer pessoa, sem necessidade de provar interesse, poderá consultar os assentamentos existentes nas juntas comerciais e obter certidões, mediante pagamentodo preço devido”. 4. Prazo para registro: os documentos necessários ao registro deverão ser apresentados para registro no prazo de 30 dias da sua lavratura. No momento da recepção do documento, será gerado o respectivo protocolo com data, hora e número de ordem. A partir de então, a Junta passará a deliberar e os efeitos da regularidade retroagem à data da assinatura do ato constitutivo do empresário. Se a inscrição do contrato social for requerida fora desse prazo, os efeitos decorrentes do registro somente terão início com a sua concessão pela Junta. A inscrição será registrada em livro próprio, obedecendo número de ordem contínuo para todos os empresários inscritos. Eventuais modificações no registro serão averbadas à margem da inscrição, com as mesmas formalidades. Até 29.03.2021, se o empresário deixasse de proceder a qualquer arquivamento no prazo de 10 anos consecutivos, deveria comunicar à Junta Comercial sua intenção de manter-se em atividade (art. 60 da Lei nº 8.934/94), sob pena de cancelamento do seu registro. Tal previsão foi revogada por Medida Provisória. SOCIEDADES NO CÓDIGO CIVIL O Código Civil define sociedade como um negócio jurídico (contrato), conforme enuncia o art. 981, orientado para a criação de um novo sujeito de direito, distinto das pessoas que o criaram, que exercerá atividade econômica. Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. A Sociedade Empresária é a pessoa jurídica, formada por uma (se constituída sob a forma de limitada) duas ou mais pessoas que exercem atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens e serviços. A Sociedade Simples é a pessoa jurídica, formada por duas ou mais pessoas que exercem atividade econômica não empresarial. O art. 982 do Código Civil define qual é o objeto da sociedade empresária e qual é o objeto da sociedade simples: SOCIEDADES SOCIEDADE SIMPLES Atividade econômica NÃO empresarial SOCIEDADE EMPRESÁRIA Atividade econômica empresarial “Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais”. 1. Características Gerais A) Número de sócios: mínimo de duas pessoas para quase todos os tipos societários. Seria possível a existência de sociedade composta por 1 pessoa? Sim, é possível nas seguintes situações: De acordo com o Código Civil (vale para todas as sociedades, exceto S.A): pode se manter com 1 sócio por até 180 dias – art. 1.033, do CC. A sociedade limitada pode ser constituída por 1 sócio (art. 1.052, § 1º, Código Civil) Para S.A., pode se manter com 1 sócio por até 1 ano, isto é, um exercício – art. 206, da LSA. Na LSA consta “um exercício”. Subsidiária Integral – art. 251, da LSA. É uma sociedade por ações cujo 100% do capital social pertence a uma pessoa jurídica (também sociedade por ações) brasileira4. B) Personificadas ou Não personificadas Personificada Não personificada Tem personalidade jurídica a partir do registro. Não é qualquer registro, é na Junta Comercial (sociedade empresária) ou no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (sociedade simples). Não tem personalidade jurídica e não tem registro. 4 Considera-se brasileira a sociedade que tem a sede de sua administração no Brasil – art. 1.126, C.C. C) Sociedade Simples e Sociedade Empresária Sociedade Simples Sociedade Empresária Objeto Social (ramo de atividade): composta por profissionais intelectuais (advogados, médicos, dentistas, arquitetos). . Objeto Social: atividade empresarial. Por lei: cooperativas são sempre sociedades simples Por lei: Sociedade por Ações é sempre Sociedade Empresária – art. 982, parágrafo único, do CC. Registro: no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Obs. Quanto às cooperativas: Junta Comercial Registro: na Junta Comercial D) Sociedades dependentes de autorização – art. 1.123 e 1.125, CC. sociedade que explore atividade de mineração – autorização da União – art. 176, CF. atividade jornalística – autorização da União – art. 223, CF. radiodifusão – autorização da União – art. 223, CF. Instituição Financeira – autorização do Banco Central. Operadoras de Planos de Seguro – SUSEPE. Operadoras de Planos de Saúde – ANS. Sociedade Estrangeira5 – autorização do representante do Poder Executivo Federal para abrir filial; deve ser publicada no DOU e a validade dessa autorização é de 12 meses (a partir da publicação a filial no Brasil deve iniciar as atividades, sob pena de a autorização caducar. E) Nome empresarial Conforme define o art. 1º da Instrução Normativa nº 15/2013 – DREI – nome empresarial “é aquele sob o qual o empresário individual, a empresa individual de responsabilidade limitada — EIRELI, as sociedades empresárias, as cooperativas exercem suas atividades e se obrigam nos atos a elas pertinentes”. 5 Sociedade estrangeira é aquela que tem sede no exterior (de onde provêm os atos de direção) Funções do nome empresarial: 1) identificar o empresário enquanto sujeito capaz de exerce direitos e contrair obrigações; 2) garantir ao empresário reputação, renome. O direito ao nome empresarial é personalíssimo, já que identifica o empresário em suas relações jurídicas. Recebe proteção de status constitucional (art. 5º, XXIX, C.F.). O sistema de proteção ao nome empresarial está pautado em 2 princípios: (i) a tutela da clientela (visa coibir concorrência desleal); (ii) a tutela do crédito do empresário (visa proteger a higidez do crédito do empresário na praça em que atua, já que nome idêntico ou semelhante que tivesse protestos ou pedido de falência poderia prejudica-lo)6. O registro do nome empresarial assegura exclusividade na circunscrição da unidade federativa da Junta Comercial que realizou o arquivamento – art. 1.166 do Código Civil: “A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo do nome nos limites do respectivo Estado”. NÃO CONFUNDIR NOME EMPRESARIAL COM OUTROS ELEMENTOS QUE TAMBÉM IDENTIFICAM O EMPRESÁRIO 6 Sérgio Campinho. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 328 ATENÇÃO Marca é o sinal distintivo que identifica produtos ou serviços prestados pelo empresário. O registro é perante o INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Título de estabelecimento ou nome fantasia é a expressão que o “empresário empresta ao local em que desenvolve sua atividade”. 7 Por exemplo; a expressão “Itaú” na fachada do banco. Não há proteção específica para o título de estabelecimento. Nome de domínio é o endereço eletrônico do empresário na internet. Sinais de propaganda não se destinam propriamente a identificar produtos ou serviços do empresário, mas têm forte impacto no mercado chamando a atenção dos consumidores para os produtos ou serviços. Espécies de nome empresarial: “Art. 1.155. Considera-se nome empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa”. 7 Fabio Ulhoa Coelho, ob. cit., p. 211 FIRMA DENOMINAÇÃO Formada por um nome civil (do próprio empresário em caso de E.I.) ou deum ou mais sócios (em caso de sociedade). O núcleo do nome empresarial sempre será um nome civil. Faculta-se indicar o ramo de atividade. Serve de assinatura do empresário. A firma pode ser individual (a ser utilizada pelo empresário individual) ou social (a ser utilizada pela sociedade) Formada por qualquer expressão linguística (elemento fantasia) e a indicação do ramo de atividade*. Pode adotar o nome civil dos sócios. Não serve como assinatura do empresário. *de acordo com a Instrução Normativa DREI 81/2020, é desnecessária a indicação do objeto social na denominação social, isto é, o objeto social poderá ou não compor o nome empresarial FIRMA E.I. Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita simples DENOMINAÇÃO sociedade anônima FIRMA OU DENOMINAÇÃO Sociedade limitada EIRELI Sociedade em comandita por ações NÃO TEM NOME EMPRESARIAL Sociedade em conta de participação SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS 1. Sociedade em comum – arts. 986 a 990 do C.C. O Código Civil trata das sociedades personificadas (com personalidade jurídica adquirida com o registro) e não personificadas. O legislador, quando trata das sociedades não personificadas, está na verdade disciplinando as relações jurídicas no âmbito das sociedades de fato, ou irregulares, dando-lhes algum grau de segurança. Embora a doutrina faça distinção entre sociedade de fato8 e sociedade irregular9, as normas do Código Civil se aplicam à ambas as situações indistintamente. De acordo com o art. 986 do Código Civil, sociedade em comum é aquela que não teve seus atos constitutivos inscritos no Registro Público de Empresas Mercantis. “Art. 986. Enquanto no inscritos os atos constitutivos, reger-se- a sociedade, exceto por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples”. A sociedade em comum, portanto, não tem personalidade jurídica, por isso é chamada de sociedade despersonificada. Não tem nome empresarial. Exemplo: uma padaria que passou a exercer atividades em maio de 2010, sendo que somente em fevereiro de 2011 os sócios levaram o ato constitutivo da sociedade para registro na Junta Comercial. Como ficam os negócios praticados antes do registro? Nesse intervalo, deve ser tratada como sociedade em comum. Não há efeito retroativo do registro. 8 Sociedade de fato seria aquela que não possui instrumento escrito de constituição (contrato social). 9 Sociedade irregular possui contrato social escrito, mas não foi levado para registro na Junta Comercial. Como provar a existência da sociedade? De acordo com o art. 987 do C.C., diante de eventuais demandas judiciais contra essas sociedades, os terceiros podem provar sua existência por qualquer meio. Se os próprios sócios precisarem provar a existência da sociedade (isso pode ser necessário para discutir eventual partilha dos investimentos, por exemplo), o legislador somente admitiu a prova por escrito. Deverá o sócio apresentar o contrato escrito ou, pelo menos, um documento que comprove que o terceiro sabia estar negociando com a sociedade, e não apenas com o sócio. E quanto a responsabilidade dos sócios? De acordo com o art. 990 do C.C., a responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade é ilimitada, mas subsidiária, isto é, primeiro são atingidos os bens da sociedade e, se esgotados, daí serão atingidos os bens pessoais dos sócios. No entanto, em relação ao sócio que contratou pela sociedade, sua responsabilidade é direta, sem esse benefício de ordem (isto é, a ordem de execução estabelecida pelo legislador). A sociedade comum pode ter sua falência decretada a pedido de algum credor. No polo passivo, estará a sociedade em comum e também os sócios (a responsabilidade dos sócios é ilimitada, razão pela qual estarão n polo passivo – art. 81, da Lei de Falências). 2. Sociedade em conta de participação – arts. 991 a 996, C.C. Também chamada pela doutrina de sociedade secreta, tratando-se mais de um contrato especial de investimento. Não tem personalidade jurídica, não tem registro e, assim, não tem nome empresarial. Ainda que os sócios levem o ato constitutivo a registro, a sociedade não terá personalidade jurídica (parte final do art. 993, C.C.). Há duas categorias de sócio: o sócio ostensivo e o sócio participante (antigo sócio oculto – a lei não usa essa denominação “oculto”). O sócio ostensivo realiza o objeto social e responde ilimitadamente perante terceiros. O sócio participante não realiza o objeto social e não responde perante terceiros que sequer sabem quem é o sócio participante. “Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes”. Se os sócios participantes aparecerem perante terceiros, ou seja, se atuarem em certo negócio juntamente com o sócio ostensivo, responderão solidariamente pelas obrigações decorrentes dessa negociação (parágrafo único, art. 993, CC) Esta sociedade pode falir? Não, quem pode sofrer falência é quem exerce atividade empresarial, aqui, somente o sócio ostensivo realiza atividade empresarial. A falência do sócio ostensivo implica liquidação da SCP e sua dissolução. A SCP só existe entre os sócios, seja por contrato escrito ou verbal Sócio Ostensivo - pode ser E.I. ou Sociedade empresária. Assume responsabilidade ilimitada. Sócio Participante - não aparece na relação com terceiros. Ele é o investidor. SOCIEDADES PERSONIFICADAS 1. SOCIEDADE SIMPLES A sociedade simples é aquela que tem por objetivo o exercício de atividade não empresarial. É o caso das sociedades compostas por profissionais intelectuais (parágrafo único do art. 966, CC) e da sociedade cujo objeto constitui o exercício de atividade econômica rural (quando os sócios optam pelo registro no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas). A sociedade simples tem um modelo de organização previsto nos arts. 991 a 1.038 do Código Civil = sociedade simples pura. Está a sociedade subordinada de modo direto às normas que lhe são próprias. Pode a sociedade simples adotar uma das formas destinadas às sociedades empresárias (com exceção apenas das normas aplicáveis às sociedades por ações). Embora sociedade simples (exploração de atividade econômica não So ci e d ad e S im p le s Sociedade Simples Pura Sociedade em nome coletivo Sociedade em comandita simples Sociedade Limitada empresarial) elas podem organizar-se de acordo com alguns tipos societários como: sociedade em nome coletivo; em comandita simples ou sociedade limitada. 1.1. Sociedade Simples Pura – art. 997 ao 1.038, C.C. A constituição da sociedade se dá por contrato escrito: art. 997, C.C, que deve ser levado para registro no Cartório de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Na sociedade simples, a alteração do contrato social depende da concordância unânime dos sócios (art. 999, CC). Prazo para registro: 30 dias subsequentes à constituição – art. 998, CC. Qualquer ato de modificação no contrato social também deverá ser levado para averbação no prazo de 30 dias. A não observância do prazo acarreta a produção dos efeitos decorrentes da aquisição de personalidade jurídica somente a partir da concessão efetiva do registro Contribuição dos sócios: os sócios deverão contribuir com bens ou serviços para a realização da finalidade da sociedade. Na sociedade simples é possível sócio que apenas contribua com serviços. A contraprestação da contribuição dossócios é a quota social, isto é, a participação no capital social. Com isso passa a ser titular de direitos perante a sociedade (direitos políticos e patrimoniais). A principal obrigação dos sócios é a de contribuir para a formação do capital social e, consequentemente, para o exercício da atividade econômica. O sócio que inadimplir esta obrigação deverá ser notificado pela sociedade para que satisfaça a obrigação no prazo de 30 dias – art. 1.004, CC. Caso não cumpra, poderá o sócio remisso ser excluído da sociedade por deliberação tomada pela maioria dos demais sócios. Os sócios podem também deliberar por mantê-lo na sociedade, mas com a redução da sua quota ao montante que tenha sido realizado (parágrafo único, art. 1.004, CC). É claro que o sócio remisso responde pelos efeitos da mora (correção monetária) além dos danos que a sociedade possa ser sofrido em razão do atraso no cumprimento da obrigação. Qual a quota do sócio que contribui apenas com serviços? O sócio que contribui com serviços não possui quotas. Se o contrato social nada dispuser, aplica-se a regra do art. 1.007, CC, segundo a qual este sócio participa na média das cotas dos demais sócios. Nas perdas, esse sócio não participa (art. 1.007, CC). Responsabilidade dos sócios quanto as dívidas da sociedade: é ilimitada e subsidiária – arts. 1.023 e 1.024, CC. Administração da sociedade simples: deve ser administrada por uma ou mais pessoas naturais, sejam ou não sócias. Art. 1.022. A sociedade adquire direitos, assume obrigações e procede judicialmente, por meio de administradores com poderes especiais, ou, no os havendo, por intermédio de qualquer administrador. O administrador será nomeado no contrato social ou em ato separado, devidamente registrado ou averbado no órgão competente. Na omissão do contrato social, a administração caberá a todos os sócios isoladamente, podendo cada sócio impugnar o ato de administração realizado pelo outro sócio (art. 1.013, CC). O administrador pode realizar todos os atos de gestão (aqueles necessários para a realização do objeto social), mas não podem onerar ou vender bens imóveis da sociedade se não houver a concordância da maioria dos sócios, a menos que a negociação dos bens esteja contemplada no objeto social (art. 1.015, CC). Como regra, a sociedade responde pelos atos praticados pelo administrador. Em situações excepcionais, a sociedade não responderá pelo ato praticado pelo administrador (parágrafo único, art. 1.015, CC). Isso ocorre se: (I) há limitação de poderes em documento registrado no órgão competente; (II) apesar de a limitação de poderes não ter sido levada a registro, o terceiro tinha como saber dessa limitação; (III) o administrador realiza ato, com excesso de poder, totalmente estranho ao objetivo da sociedade (ao seu objeto social). A doutrina aponta a positivação da teoria ultra vires no caso. Revogação dos poderes conferidos ao administrador: Administrador sócio nomeado no contrato social Só por decisão judicial ante o reconhecimento de justa causa em ação proposta por qualquer dos sócios Administrador sócio nomeado em ato em separado ou administrador não sócio Poderes revogáveis a qualquer tempo, mediante deliberação da maioria dos sócios O administrador não pode aplicar créditos ou bens da sociedade em proveito próprio ou de terceiros, sem o consentimento escrito dos sócios. Se o fizer, terá que restituir os bens à sociedade, ou pagar o equivalente, respondendo pelos prejuízos causados à sociedade (art. 1.017, CC) O administrador é obrigado a prestar contas aos sócios quanto aos atos de administração, apresentando anualmente um inventário, balanço patrimonial e o balanço de resultado econômico (art. 1.020, CC). Resolução da sociedade em relação a um sócio: pode decorrer da morte de algum sócio, da sua retirada ou de sua exclusão. a) Morte de sócio O art. 1.028 do CC define que, no caso de morte de sócio, liquida-se a sua quota, mantendo a sociedade suas atividades normais. Prevê, ainda, que os sócios remanescentes podem optar pela dissolução total da sociedade ou podem permitir a entrada do herdeiro do sócio falecido. A liquidação da quota do herdeiro falecido significa a apuração do seu valor, levantado em balanço especial, para entrega aos herdeiros. b) Retirada de sócio Prevista no art. 1.029, CC: “Além dos casos previstos na lei ou no contrato, qualquer sócio pode retirar-se da sociedade; se por prazo indeterminado, mediante notificação aos demais sócios, com antecedência mínima de sessenta dias; se por prazo determinado, provando judicialmente justa causa”. A retirada gera o pagamento dos haveres pela sociedade ao sócio retirante. O valor da sua quota será obtido a partir de balanço especial. c) Exclusão de sócio Além da hipótese de sócio remisso (art. 1.004, CC) há previsão de exclusão de sócio em virtude de falta grave (art. 1.030, CC). Também é possível a exclusão de sócio que seja declarado falido em outra atividade que exerça (no caso, empresarial) ou ainda em caso de incapacidade superveniente. Em todas as situações terá direito a apuração de seus haveres. O valor da quota será levantado em balanço especial, salvo disposição contratual em contrário (art. 1.031, CC) 2. SOCIEDADE LIMITADA A) Fonte legislativa As normas aplicáveis à sociedade limitada estão no Código Civil – arts. 1.052 a 1.087. Se houver omissão, serão utilizadas subsidiariamente as regras da Sociedade Simples. Podem ser aplicadas as normas da Lei nº 6.404/76 (sociedades por ações)? Sim, mas não basta a omissão, é necessária a previsão expressa no Contrato Social - art. 1.053, CC. B) Pode ser Sociedade Simples ou Sociedade Empresária Depende do objeto social: se não for atividade empresarial, considera-se sociedade simples; se atividade empresarial, considera-se sociedade empresária. O registro depende de a atividade ser empresária ou não: ou na Junta Comercial ou no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. O instrumento básico para a formação da sociedade é o contrato social. Os requisitos para o contrato social são os mesmos que constam no art. 997, CC. O prazo para registro do contato da sociedade limitada é o mesmo previsto para a sociedade simples pura: 30 dias. A alteração do contrato social da sociedade limitada exige o quórum mínimo de três quartos do capital social (art. 1.076, I, c/c art. 1.071, V, CC) A sociedade que adotar o tipo limitada poderá ser constituída por uma ou mais pessoas (art. 1.052, § 1º, CC), isto é, admite-se a sociedade limitada unipessoal. C) Nome empresarial Art. 1.158, CC: “Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final ‘limitada’ ou a sua abreviatura”. A falta da terminação Ltda. gera consequências? Sim, a responsabilidade ilimitada e solidária dos administradores (§ 3º, art. 1.058, CC). D) Capital Social É composto pela soma dos recursos trazidos pelos sócios para a sociedade, expresso em moeda nacional. Essa informação encontra-se no ato constitutivo. Na Limitada não tem valor mínimo. A contribuição pode ser em dinheiro ou por bens, suscetíveis de avaliação pecuniária, que passarão a compor o patrimônio da sociedade10. “Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio”. É possível que algum sócio contribua apenas com serviços? Não, essa situação é possível apenas na sociedade simples pura. A contribuição pode ser com dinheiro ou com bens (móveis, imóveis, materiais, imateriais, fungíveis ou não, etc). O legislador não diz como comprovar a estimativa dos bens que formam o capital social. Porém, aqui, o legislador traz consequências:os sócios são solidariamente responsáveis pela exata estimativa dos bens que formam o capital social, durante 5 anos. Exemplo: 2 sócios, X e Y. X contribuiu com R$ 10.000,00 e Y contribuiu com um carro. Y afirma que seu carro vale R$ 10.000,00. E se um credor descobre que esse carro vale R$ 2.000,00 e não R$ 10.000,00 (no momento da estimativa 10 O capital social é o patrimônio inicial, não se confundindo com o patrimônio da sociedade. Ao longo da vida social o patrimônio se modifica de acordo com a expansão dos negócios (a sociedade adquire bens) ou encolhimento. Portanto, não confundir capital social com patrimônio social. e não porque perdeu valor no curso do tempo)? Nesse caso, tanto X e Y são responsáveis solidariamente pela estimativa. Isso ocorre porque X assinou o contrato social onde constou essa estimativa (art. 1.055, § 1º, CC). As quotas conferem aos sócios direitos de natureza política (direito de voto; direito de participar das reuniões/assembleia;) com consequências patrimoniais (direito de participar dos lucros; direito de receber o valor de reembolso das quotas; direito de participar do patrimônio líquido em caso de dissolução da sociedade). E) Responsabilidade dos Sócios Conforme dispõe o art. 1.052 do Código Civil, a responsabilidade dos sócios é limitada ao valor de suas respectivas quotas, desde que integralizado o capital social subscrito. Até a integralização do capital social, respondem os sócios solidariamente no limite do que faltar para ser integralizado. SUBSCRIÇÃO Aquisição das quotas. Montante que o sócio se comprometeu a integralizar. INTEGRALIZAÇÃO Pagamento pelas quotas subscritas. Aporte do dinheiro ou dos bens. Quando o capital social estiver totalmente integralizado, os sócios não mais serão responsabilizados por quaisquer obrigações da sociedade. Exemplo: Capital social de R$ 100.000,00 Capital social de R$ 100.000,00 Sócio se comprometeu com (subscreveu) Resta para integralizar Sócio A R$ 90.000,00 R$ 40.000,00 Sócio B R$ 10.000,00 R$ 0,00 ● Cada sócio responde pela integralização das quotas subscritas. ● Todos os sócios respondem solidariamente até o limite do que falta a ser integralizado, isto é, os credores podem atingir o patrimônio de A e B, desde que atinjam primeiramente o patrimônio da sociedade, para só depois atingir os sócios. Somente atinge os sócios quando a sociedade não pagar. A sociedade pode contrair dívida de valor superior ao capital social, mas ultrapassando o capital social, fica sem lastro. Então, diante de uma dívida não paga, somente pode ser cobrado dos sócios R$ 40.000,00, que é valor ainda não integralizado. F) Sócio Remisso É o sócio que está em mora quanto a integralização das quotas (art. 1.004, CC). De acordo com o art. 1.058, CC, “não integralizada a quota de sócio remisso, os outros sócios podem, sem prejuízo do disposto no art. 1.004 e seu parágrafo único, tomá-la para si ou transferi-la a terceiros, excluindo o primitivo titular e devolvendo-lhe o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas”. O sócio remisso deverá ser notificado pela sociedade para pagar em 30 dias a contar do recebimento da notificação. Se esse prazo escoa e o sócio não paga, então esse sócio estará constituído em mora. Quando esse sócio está em mora, ou a sociedade aciona o sócio remisso em ação judicial ou a outra saída possível é excluir o sócio remisso. É a sociedade que escolhe. Para excluir esse sócio a sociedade promove a devolução do que ele já havia integralizado (caso tenha feito alguma integralização) – art. 1.058 e 1.004, CC. G) Cessão de Quotas Caberá aos sócios disciplinar a questão no contrato social, conforme seus interesses. Se o contrato social for omisso, aplica-se a regra do art. 1.057, CC: O sócio pode ceder a outro sócio independentemente da concordância dos demais; O sócio pode ceder para terceiros estranhos à sociedade, mas terá que contar com a concordância de sócios que representem 75% do capital social O sócio que ceder suas quotas continua responsável pelas obrigações sociais por até 2 anos contados da averbação, na Junta Comercial, da sua saída da sociedade (parágrafo único, art. 1.057, CC) H) Exclusão de Sócios A primeira forma é a exclusão do sócio remisso; Sócio remisso poderá ser excluído da sociedade com diminuição do capital social com aquisição das quotas pelos sócios, terceiros ou pela sociedade estará sujeito a cobrança judicial estará sujeito a indenizar a sociedade pelo atraso A segunda forma é a exclusão do sócio que tiver sua quota liquidada por penhora – art. 1.026, CC A terceira forma é a exclusão de sócio por falta grave no cumprimento de suas obrigações legais ou contratuais - art. 1.030, CC. Aqui a exclusão é judicial e depende de justa causa. Meros desentendimento entre sócios não é considerado falta grave, mas sim prática de algo contra a sociedade. Exemplo: sócio que divulgou segredo industrial ou desviou dinheiro da sociedade. Além da falta grave, há outras duas causas que possibilitam a exclusão judicial: falência de um dos sócios e incapacidade superveniente de um dos sócios. Em qualquer dos casos de exclusão, a sociedade deve ressarcir o sócio no valor patrimonial das suas quotas. Deve-se levantar um balanço especial (isto é, um balanço específico em virtude do evento) apurar o lucro líquido e descontar eventual prejuízo causado pelo sócio. Não é o valor do investimento, é o valor atualizado. É o que a sociedade representa naquele momento, levando em conta os resultados e as perdas ao longo do tempo. O contrato social poderá conter cláusula a respeito do assunto, o que afastaria a aplicação do critério legal. Por quanto tempo o ex-sócio é responsável pelas obrigações assumidas enquanto ele estava na sociedade? Por 2 anos, contados da averbação de sua saída, pelas obrigações existentes na sociedade – art. 1.032, CC. ● A quarta forma é a exclusão extrajudicial – art. 1.085 do C.C. Para essa exclusão, é necessária uma falta de inegável gravidade. Para que seja possível a exclusão extrajudicial é necessário que haja expressa previsão no contrato social. Não é indispensável que estejam previstas as faltas, mas a possibilidade de exclusão por falta grave. São requisitos para a exclusão extrajudicial: - Falta grave (a que o legislador dá o nome de ato de inegável gravidade verificado pelos sócios); - Previsão no contrato social sobre a exclusão por falta grave/ato de gravidade; - Deliberação de sócios que represente a maioria do capital social, tomada em reunião (ou assembleia) especialmente convocada para esse fim, com prévia comunicação do acusado que poderá exercer seu direito de defesa. IMPORTANTE: sociedade limitada em que haja apenas 2 sócios, a exclusão do sócio minoritário pelo majoritário (art. 1.085, CC) não exigirá reunião convocada especialmente para a deliberação. O sócio majoritário poderá alterar o contrato social, com a exclusão do minoritário, levando ao órgão competente para registro, bastando comprovar a previsão expressa no contrato social quanto a possibilidade de exclusão do sócio por falta grave. O sócio excluído tem direito ao valor patrimonial, obtido a partir de balanço atualizado) de suas quotas, conforme art. 1.031 do CC: Art. 1.031. Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verificada em balanço especialmente levantado. § 1o O capital social sofrerá a correspondenteredução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da quota. § 2o A quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de noventa dias, a partir da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário. I) RETIRADA “Art. 1.077. Quando houver modificação do contrato, fusão da sociedade, incorporação de outra, ou dela por outra, terá o sócio que dissentiu o direito de retirar-se da sociedade, nos trinta dias subsequentes à reunião, aplicando-se, no silêncio do contrato social antes vigente, o disposto no art. 1.031.” A retirada, também conhecida como recesso, é o direito de o sócio sair da sociedade mediante o recebimento dos seus direitos patrimoniais: suas quotas serão liquidadas, apurado o seu valor para pagamento pela sociedade. Isso se dá pelo fato de o sócio não concordar com as deliberações dos demais sócios em relação aos temas apontados no art. 1.077, CC (modificação do contrato social, fusão ou incorporação da sociedade). No caso do art. 1.077 pouco importa o prazo de vigência da sociedade (se por prazo determinado ou indeterminado). O que importa é o dissenso do sócio quanto àquelas deliberações. Importante: prevalece nos Tribunais o posicionamento no sentido de que “o direito de retirada imotivada de sócio de sociedade limitada por tempo indeterminado constitui direito potestativo à luz dos princípios da autonomia da vontade e da liberdade de associação “. (STJ, Recurso Especial 1.403.947), isto é, apesar do texto do ar. 1.077 do Código Civil, o Judiciário entende pela aplicação das regras dispostas no art. 1.029, pertinentes às sociedades simples, quais sejam: Sociedade de prazo indeterminado O sócio notifica os demais com prazo de 60 dias de antecedência, dispensando-se qualquer motivação. Sociedade de prazo determinado A retirada deverá ser motivada (causa justificadora para a retirada) e na esfera judicial. Aliás, ainda que o contrato social da limitada preveja a regência supletiva das normas da sociedade anônima, tem prevalecido no STJ o entendimento pelo direito de retirada imotivada do sócio, aplicando-se o disposto no art. 1.029, CC (Recurso Especial 1.839.078). A retirada não exonera o sócio retirante de responder pelas obrigações sociais anteriores ao ato, até dois anos após a averbação da alteração do contrato social (art. 1.032, CC). Diante da retirada, tem o sócio o direito aos seus haveres, calculados de acordo com o art. 1.031, CC (balanço especialmente realizado para apuração do valor das quotas), caso não haja previsão específica no contrato social. J) ADMINISTRAÇÃO “ Art. 1.060. A sociedade limitada é administrada por uma ou mais pessoas designadas no contrato social ou em ato separado. Parágrafo único. A administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade”. Administrador é pessoa natural que exerce os atos de gestão, tendo ampla liberdade para agir nos limites dos fins sociais, isto é, do objeto social. A gestão da sociedade pode ser realizada por um ou mais dirigentes atuando em conjunto ou isoladamente, de acordo com previsão do contrato social. Devem atuar sempre no interesse da sociedade e não no interesse individual. Tem que observar deveres como: - diligência; - lealdade; dever de prestar contas; - dever de prestar informações. O administrador de uma Sociedade Limitada pode ser um sócio ou um não sócio (terceiro designado como administrador). Não é obrigatória a nomeação no contrato social, podendo constar em documento separado, desde que, em ambos os casos, haja o registro, lembrando que a sociedade empresária é registrada na Junta Comercial. Além de individualizar o administrador, é necessário descrever os seus poderes. Caso o contrato social (ou o documento separado) não explicite os poderes, determina a lei que “os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir” – art. 1.015, CC. Assim, apesar de ser recomendável que os poderes constem expressamente no contrato social, se houver omissão determina a lei caber ao administrador: Praticar atos de gestão, que são aqueles diretamente relacionados ao objeto social. Ex.: se o ramo de atividade é mercearia, o ato de gestão tem relação com a compra e venda de mercadorias utilizadas na mercearia. Usar o nome empresarial (assinar pela empresa). Representa a sociedade ativa e passivamente. Quem pode assumir a administração? Qualquer pessoa natural que goze de idoneidade e não tenha impedimentos para o exercício da administração. Como causas de impedimento, podemos apontar: Menor de 18 anos (exceto se emancipado) Pessoa jurídica Condenado por crime falimentar, enquanto não reabilitado Condenado por pena que vede o acesso a cargos públicos (crimes contra a Administração Pública) Funcionário público federal, civil ou militar Chefe do Poder Executivo (federal, estadual ou municipal) Magistrados e membros do Ministério Público da União e dos Estados Leiloeiro O cônsul, no seu distrito, salvo o não remunerado Os impedidos por norma constitucional ou por lei especial: - brasileiro naturalizado há menos de 10 anos, em empresa jornalística e de radiodifusão sonora, de imagem e sons; - estrangeiro, sem visto permanente, em empresa jornalística. Quórum de nomeação de administrador SÓCIO NÃO SÓCIO Contrato Social ¾ do capital social Unanimidade (capital social não integralizado); 2/3 depois de integralizado Documento separado Maioria do capital social Unanimidade (capital social não integralizado); 2/3 depois de integralizado Quórum de destituição de administrador SÓCIO NÃO SÓCIO Contrato Social Maioria do capital social Maioria do capital social Documento separado Maioria do capital social Maioria do capital social Art. 1.061. A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação da unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a integralização. Art. 1.063. O exercício do cargo de administrador cessa pela destituição, em qualquer tempo, do titular, ou pelo término do prazo se, fixado no contrato ou em ato separado, não houver recondução. § 1o Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes, no mínimo, a maioria do capital social, salvo disposição contratual diversa. § 2o A cessação do exercício do cargo de administrador deve ser averbada no registro competente, mediante requerimento apresentado nos dez dias seguintes ao da ocorrência. § 3o A renúncia de administrador torna-se eficaz, em relação à sociedade, desde o momento em que esta toma conhecimento da comunicação escrita do renunciante; e, em relação a terceiros, após a averbação e publicação. Responsabilidade do Administrador perante a sociedade: os administradores respondem solidariamente perante a sociedade (arts. 1.012, 1.016 e 1.158, § 3º, CC) nas seguintes hipóteses: ● Quando agir com culpa; ● Quando deixar de averbar o documento que o qualifica; ● Quando faltar a terminação “Ltda.” no nome da sociedade. Art. 1.012. O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal e solidariamente com a sociedade. Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suasfunções. Art. 1.158. Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final "limitada" ou a sua abreviatura. § 1o A firma será composta com o nome de um ou mais sócios, desde que pessoas físicas, de modo indicativo da relação social. § 2o A denominação deve designar o objeto da sociedade, sendo permitido nela figurar o nome de um ou mais sócios. § 3o A omissão da palavra "limitada" determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. Também responde o administrador por perdas e danos em favor da sociedade, quando: ● usar bens da sociedade sem autorização; ● tomar alguma decisão com interesse conflitante ao da sociedade; ● agir contrariando a vontade da maioria dos sócios. Art. 1.010. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um. (...) § 3o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da deliberação que a aprove graças a seu voto. Art. 1.013. A administração da sociedade, nada dispondo o contrato social, compete separadamente a cada um dos sócios. (...) § 2o Responde por perdas e danos perante a sociedade o administrador que realizar operações, sabendo ou devendo saber que estava agindo em desacordo com a maioria. Art. 1.017. O administrador que, sem consentimento escrito dos sócios, aplicar créditos ou bens sociais em proveito próprio ou de terceiros, terá de restituí-los à sociedade, ou pagar o equivalente, com todos os lucros resultantes, e, se houver prejuízo, por ele também responderá. Parágrafo único. Fica sujeito às sanções o administrador que, tendo em qualquer operação interesse contrário ao da sociedade, tome parte na correspondente deliberação. Regra em relação a responsabilidade pelo cumprimento das obrigações assumidas, perante terceiros, pelo administrador como órgão da sociedade: a sociedade fica diretamente vinculada ao cumprimento dos atos praticados pelo administrador, ainda que ele haja com excesso de poderes. Exceções à regra: parágrafo único, art. 1.015, CC: os atos do administrador não obrigam a pessoa jurídica: Inciso I – se houver cláusula no contrato social, devidamente arquivado no registro próprio, contendo os limites das atribuições e poderes do administrador; Inciso II – se ficar comprovado que o terceiro conhecia a limitação de poderes do administrador, embora não arquivada no registro próprio; Inciso III – o administrador atuou fora do objeto social, praticou atos evidentemente estranhos aos negócios da sociedade (atos ultra vires). Art. 1.015. (...) Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; II - provando-se que era conhecida do terceiro; III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade. K) Conselho Fiscal (art. 1.066 do CC) É órgão facultativo nas sociedades limitadas. É composto de, no mínimo, 3 membros e respectivos suplentes, necessariamente físicas e domiciliadas no Brasil, sócias ou não sócias. Art. 1.066. Sem prejuízo dos poderes da assembleia dos sócios, pode o contrato instituir conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não, residentes no País, eleitos na assembleia anual prevista no art. 1.078. § 1o Não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis enumerados no § 1o do art. 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores, o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau. § 2o É assegurado aos sócios minoritários, que representarem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger, separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente. Dentre suas atribuições (art. 1.069, CC) destaca-se o exame dos livros e papéis da sociedade (documentos que retratam os atos realizados pela sociedade, através dos administradores), pelo menos trimestralmente. Os administradores, assim, ficam obrigados a prestar aos membros do Conselho Fiscal todas as informações que lhes forem solicitadas. Os Conselheiros examinam os balanços e emitem parecer sobre os negócios e operações, submetendo-o aos sócios. DISSOLUÇÃO DAS SOCIEDADES CONTRATUAIS A dissolução das sociedades contratuais pode ocorrer de forma total ou parcial, isto é, poderá implicar na extinção da personalidade jurídica da sociedade ou no rompimento do vínculo de um (ou mais) sócio (s), sem que a pessoa jurídica seja extinta. Tratemos, primeiramente, da hipótese de dissolução total, isto é, aquela que culminará com a extinção da pessoa jurídica. O Código Civil aponta os atos que, no âmbito judicial ou extrajudicial, desencadeiam o procedimento dissolutório. No art. 1.033, CC, encontramos os atos que levam a dissolução, de pleno direito, da sociedade. Assim prevê o citado dispositivo: Dissolução Extrajudicial Art. 1.033 Judicial Art. 1.034 Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I - o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II - o consenso unânime dos sócios; III - a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; IV - a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; V - a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar. Já o art. 1.034 estabelece que a sociedade pode ser dissolvida judicialmente, a requerimento de qualquer sócio, quando: “I – anulada a sua constituição; II – exaurido o fim social, ou verificada a sua inexequibilidade”. Importante lembrar que “o contrato pode prever outras causas de dissolução, a serem verificadas judicialmente quando contestadas” (Art. 1.035, CC). Vejamos as causas da dissolução extrajudicial (de pleno direito) previstas nos incisos do art. 1.033, CC: I – decurso do prazo de vigência da sociedade (sociedade contratada para exercer sua atividade durante determinado prazo). Observação: Se atingido o prazo sem que a sociedade entre em liquidação e desde que não haja oposição de qualquer dos sócios, considera-se a sociedade prorrogada por prazo indeterminado. II e III – dissolução decorrente da vontade dos sócios, seja sociedade por prazo determinado (inciso II) ou por prazo indeterminado (inciso III). IV – falta da pluralidade de sócios: a regra é a presença de, pelo menos, 2 sócios para a manutenção da sociedade. Se restar apenas 1 sócio (em virtude do falecimento ou retirada de outro) deverá a pluralidade ser restabelecida em até 180 dias seguintes ao evento que produziu a unipessoalidade. Se no prazo não houver ingresso de novo sócio ou se o único sócio não proceder a transformação de seu registro para Empresário Individual ou EIRELI, a sociedade entra em processo de dissolução. Importante lembrar que, tratando-se de sociedade limitada, tipo societário que admite a unipessoalidade, bastará a alteração do contrato social a ser levado para averbação na Junta Comercial. V – extinção da autorização de funcionamento, em se tratando de sociedade cujo objeto esteja sujeito a autorização governamental. Quanto às causas de dissolução judicial, além daquelas constantes no art. 1.034 do Código Civil, anote-se que a falência da sociedadeempresária também é causa de dissolução da sociedade. Quanto aos incisos do art. 1.034: I – quando anulado o ato constitutivo da sociedade (o contrato social). Exemplo: diante da ilicitude do objeto; incapacidade absoluta do sócio signatário do contrato sem estar representado. II – diante do exaurimento do fim social (foi atingido o fim específico para o qual a sociedade foi criada) ou diante da inviabilidade do objeto social (não há mais mercado suficiente para o produto que a sociedade está oferecendo) Ocorrido o ato de dissolução deverá ser este levado a registro na Junta Comercial11, iniciando-se a fase de liquidação. Será acrescida a expressão “em liquidação” ao nome empresarial da sociedade. Caberá aos administradores nomear o liquidante. 11 Tem que dar publicidade ao ato de dissolução da sociedade. O art. 1.036 do C.C. é claro: “Ocorrida a dissolução, cumpre aos administradores providenciar imediatamente a investidura do liquidante, e restringir a gestão própria aos negócios inadiáveis, vedadas novas operações, pelas quais responderão solidária e ilimitadamente”. Temos, portanto, que a sociedade em liquidação não perde sua personalidade jurídica, pois continua a existir para ultimar as obrigações. Constituem deveres do liquidante – art. 1.103, CC: a) averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade; b) arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam; c) proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência, sempre que possível, dos administradores, elaboração do inventário e do balanço geral do ativo e do passivo; d) ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o remanescente entre os sócios ou acionistas; e) exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização de suas quotas e, se for o caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de cada um e proporcionalmente à respectiva participação nas perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes e na mesma proporção, o devido pelo insolvente; f) convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e balanço do estado da liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o semestre, ou sempre que necessário; g) confessar a falência da sociedade, de acordo com as formalidades prescritas para o tipo de sociedade liquidanda; h) finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas finais; i) averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios, que considerar encerrada a liquidação. Objetivos do liquidante: realizar o ativo (venda dos bens da sociedade) para satisfazer o passivo (pagar os credores da sociedade). Realizado o ativo e satisfeito o passivo, o patrimônio líquido que remanescer será partilhado entre os sócios. Após, caberá ao liquidante convocar assembleia de sócios para prestar contas – art. 1.109, CC. Aprovadas as contas, encerra-se a liquidação e a sociedade é considerada extinta com a averbação da ata da assembleia no registro pelo órgão competente (Junta Comercial). Averbação na Junta do ato dissolutório Nomeação do liquidante Arrecadação de bens Pagamento dos credores e rateio das sobras entre os sócios Se o passivo for superior ao ativo: falência DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE Trata-se da dissolução de parte dos vínculos contratuais existentes entre os sócios, preservando-se a manutenção da sociedade. O Código Civil disciplina a questão sob o conceito de “Resolução da Sociedade em Relação a um Sócio”. Diante da instabilidade que se estabelece nas relações internas, o caminho será o rompimento do vínculo entre os sócios. 1. Causas de dissolução parcial a) Exercício do direito de retirada por algum sócio = opera-se a dissolução parcial, devendo a sociedade reembolsar o retirante do valor de sua participação. Deverá ser liquidada a quota do sócio retirante com base no valor dos direitos patrimoniais que lhe são assegurados na sociedade. b) Exclusão de sócio, seja judicial (art. 1.030, CC) ou extrajudicial (art. 1.085, CC), inclusive no caso de sócio remisso (art. 1.004, C.C.) c) Falecimento de sócio, com apuração de seus haveres para entrega aos herdeiros, caso estes não vejam a suceder o sócio falecido. d) Liquidação da quota a pedido de credor do sócio = a sociedade deverá promover a apuração de haveres, através de balanço especial, para pagamento nos autos da execução judicial proposta em face do sócio (que será excluído da sociedade) 2. Procedimento para apuração dos haveres – art. 1.031, C.C. Na apuração de haveres procede-se a um levantamento contábil que reavalia, a valor de mercado, os bens que compõem o patrimônio social da sociedade (bens imóveis, móveis, corpóreos ou incorpóreos). Entram na avaliação todos os bens, apurando-se o ativo, e também é levado em consideração o passivo (compromissos financeiros, encargos trabalhistas, obrigações decorrentes de ações judiciais em curso, dívidas, etc). Assim, chegando ao patrimônio líquido, apura-se o valor dos haveres a serem pagos ao sócio excluído, retirante ou aos herdeiros do sócio falecido. A doutrina explica que “definido o patrimônio líquido da limitada, na data da dissolução parcial, o reembolso será a parcela deste, proporcional à quota do capital social do sócio desligado ou falecido”.12 Vale lembrar que o contrato social pode dispor acerca do critério para quantificação dos haveres. Aplicar-se-á o critério do art. 1.031 do Código Civil na hipótese de omissão do contrato social. 3. Ação judicial de dissolução parcial da sociedade Caso as partes (sócio retirante, excluído, herdeiros do falecido) não cheguem ao consenso quanto ao valor dos haveres ou mesmo quanto a causa de sua saída da sociedade13, a dissolução parcial será levada para a esfera judicial. Se a questão não for resolvida no plano amigável, o sócio ou a sociedade poderá submeter o conflito ao Judiciário. O Código de Processo Civil disciplina a dissolução parcial da sociedade nos arts. 599 a 609, distinguindo, no plano processual, a discussão acerca do desfazimento do vínculo societário (isto é, se o sócio tem, ou não, direito de retirada; se ele poderia ter sido expulso pela maioria; ou se a morte autorizava a apuração dos haveres do falecido), da relacionada à simples mensuração do valor da restituição ou reembolso”. Assim dispõe o art. 599 do CPC: 12 Fabio Ulhoa Coelho. Curso de Direito Comercial, vol. 2, p. 451 13 Por exemplo: o sócio excluído não aceita a motivação da sua exclusão extrajudicial. “Art. 599. A ação de dissolução parcial de sociedade pode ter por objeto: I – a resolução da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e II – a apuração dos haveres do sócio falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou III – somente a resolução ou a apuração de haveres. O pedido, portanto, a ser formulado tanto pode envolver a dissolução propriamente dita cumulada com a apuração de haveres, como pode a pretensão envolver somente a apuração dos haveres, quando não houver conflito entre as partes quanto a dissolução (retirada ou exclusão do sócio). Resolvida a questão da dissolução, isto é, decretada pelo juiz a dissolução parcial da sociedade, o processo passa para a fase de apuração dos haveres que é uma etapa operacional. Nos termos do art. 604 do Código de Processo Civil: “Art. 604. Para apuração dos haveres, o juiz: I – fixará a data da resolução dasociedade; II – definirá o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; III – nomeará o perito”. Na apuração do valor da participação societária do sócio que se retira, que é excluído ou que falece, será aplicado o critério previsto no contrato social. Caso seja omisso, “o juiz definirá como critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço de determinação, tomando-se por referência a data da resolução e avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma”. (art. 606, CPC). Apurados os haveres cabíveis ao sócio, o pagamento será feito no prazo e forma previsto no contrato social. Caso o contrato seja omisso, o pagamento deverá ocorrer no prazo de 90 dias, a contar da data em que a decisão proferida pelo juiz se tornar definitiva, isto é, não mais passível de recurso. 3. SOCIEDADE EM NOME COLETIVO 1. Características - sociedade empresária contratual, personificada - sociedade que só admite sócios pessoas naturais - não se admite a participação de incapazes (em razão da responsabilidade ilimitada dos sócios) - a administração incumbe somente aos sócios (art. 1.042, C.C.) - só pode usar a firma como nome empresarial 2. Responsabilidade dos sócios Externamente (perante os credores) é sempre ilimitada e solidária – art. 1.039, C.C. Internamente: pode ser convencionada limitação (efeitos somente entre os sócios) – parágrafo único, art. 1.039, C.C. Responsabilidade subsidiária (primeiro esgotam- se os bens da sociedade) Responsabilidade solidária e ilimitada perante credores Os sócios podem limitar a responsabilidade de cada um, entre si 3. Dissolução da sociedade De acordo com o art. 1.044, C.C., a sociedade em nome coletivo se dissolve por qualquer das causas enumeradas no art. 1.03314 e, se empresária, também pela declaração de falência. 4. Liquidação de quota por credor do sócio O art. 1.043 prevê que “o credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquidação da quota do devedor”. Essa regra se aplica a sociedade em nome coletivo com prazo determinado. O credor de sócio não poderá pedir a penhora da quota de participação do devedor na sociedade enquanto esta não entrar em dissolução. A única hipótese cabível ao credor para promover a liquidação da quota do sócio devedor será diante da hipótese de prorrogação tácita15 da sociedade, ou mesmo prorrogação por alteração contratual. 4. SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES É uma sociedade personificada, sociedade de pessoas, regida pelo Código Civil – arts. 1.045 a 1.051. Segundo o art. 1.046 aplicam-se as normas da sociedade em nome coletivo à sociedade em comandita simples, no que forem compatíveis. 14 “Art. 1.033. Dissolve-se a sociedade quando ocorrer: I – o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; II- o consenso unânime dos sócios; III – a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade por prazo indeterminado; IV – a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; V – a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar”. 15 Prorrogação tácita ocorre quando é atingido o prazo de vigência da sociedade, mas ela prossegue com suas atividades normais, sem entrar em liquidação e sem oposição dos sócios. Passa a ter prazo indeterminado, portanto. Composta necessariamente por sócios de 2 categorias: os sócios comanditados e os sócios comanditários. O contrato social deve discriminar16 os sócios de cada categoria (parágrafo único, art. 1.045, CC). Os sócios comanditados assumem o risco da atividade, já que respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais. Portanto, uma vez esgotados os bens da sociedade em comandita simples (pessoa jurídica), os bens dos sócios comanditados poderão ser atingidos para responder pelas obrigações da sociedade. A administração cabe aos sócios comanditados que são os únicos que emprestam o seu nome pessoal para a razão social (firma social). Exemplo: há 4 sócios, sendo 2 deles comanditados – João Alves e Carlos Soares (sócios comanditados), Antônio e José (comanditários). A sociedade deverá adotar como 16 Não é possível ajustar em documento separado quem é sócio comanditado e quem é sócio comanditário. O contrato social arquivado na Junta Comercial dá ampla publicidade às condições (responsabilidade perante terceiros) de cada sócio. Sócio comanditado pessoa física responsabilidade ilimitada Sócio comanditário pessoa física ou jurídica responsabilidade limitada ao valor das suas quotas nome empresarial a firma social composta pelo nome de pelo menos 1 comanditado: Alves, Soares & Cia. ou João Alves & Cia. IMPORTANTE: o sócio comanditário não pode administrar a sociedade, nem ter o nome na firma social. Ele não pode praticar atos de gestão. Se ele agir como gestor estará sujeito às responsabilidades do sócio comanditado (responsabilidade ilimitada) – art. 1.047, C.C. 5. SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES O Código Civil dispõe quanto aos elementos característicos da sociedade em comandita por ações que é espécie do gênero Sociedade por Ações (sociedades que têm seu capital social dividido em ações). A disciplina da sociedade em comandita por ações está nos artigos 1090 a 1092 do Código Civil e, em caso de omissão, aplicam-se os dispositivos da Lei 6.404/76. Caracteriza-se (assim como a comandita simples) pelo modelo de responsabilidade mista: tem 2 espécies de sócio, o comanditado e o comanditário. Sociedade por Ações Sociedade em comandita por ações Sociedade anônima Sócio comanditado Sócio comanditário É o que administra a sociedade e responde ilimitadamente Tem sua responsabilidade limitada ao preço de emissão das ações que subscrever Na sociedade em comandita por ações, o sócio diretor, ou seja, o acionista que exerce função de administração da sociedade, responde ilimitadamente pelas obrigações sociais (os diretores devem ser acionistas). Se houver mais de um diretor, a responsabilidade ser solidária entre eles. Um aspecto importante é que os diretores na sociedade em comandita por ações não são eleitos pela Assembleia-Geral, mas simplesmente nomeados no ato constitutivo, não havendo mandato. Os poderes da Assembleia, portanto, são mais limitados do que na sociedade anônima. Art. 1.092. A assembleia geral não pode, sem o consentimento dos diretores, mudar o objeto essencial da sociedade, prorrogar lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital social, criar debêntures, ou partes beneficiárias. A destituição dos diretores, porém, é possível, desde que haja deliberação de acionistas que representem dois terços do capital social. Quanto ao nome empresarial: opera sob firma social (patronímico dos comanditados) ou denominação (indicação do objeto da atividade exercida) acrescida da expressão “em comandita por ações” (art. 1.161, C.C.) 6. COOPERATIVAS Art. 982, parágrafo único: “Independentemente de seu objeto, considera- se empresária a sociedade por ações, e simples a cooperativa.” As cooperativas são sociedades simples, mas os seus atos encontram-se sujeitos à formalização no Registro Público de Empresas Mercantis (Junta Comercial), conforme deixa claro o § 6º do art. 18 da Lei nº 5.764/71: “Arquivados os documentos na Junta Comercial e feita a respectiva publicação, a cooperativa adquire personalidade jurídica, tornando-se apta a funcionar.”
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