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Apresentação Prezados (as) acadêmicos (as): Para o Estudo da disciplina “GESTÃO DOS PROCESSOS FORMATIVOS EM ESPAÇOS ESCO- LARES“ utilizaremos o caderno didático elaborado para a primeira oferta do Curso de Pedagogia oferecido pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes em parceria com a Universi- dade Aberta do Brasil – UAB. Este caderno será disponibilizado na sala virtual da disciplina com os seguintes recortes: Na unidade I “Gestão da educação: aproximação as origens e fundamentos da gestão e dos processos formativos” discutiremos alguns conceitos já trabalhados na disciplina Gestão de Sis- temas e Instituição de Ensino, porém com enfoque na gestão dos processos formativos na edu- cação Básica . Na unidade II “Os profissionais da educação e os processos formativos: como são formados? Quem e como irão formar?” discutiremos sobre a formação dos profissionais da educação à luz da legislação vigente e a formação inicial e continuada dos profissionais da educação. Na unidade III “Organização do trabalho pedagógico e a responsabilidade pela formação para a Cidadania” destacaremos a discussão sobre os profissionais da educação e suas atribui- ções. Na unidade IV “A sala de aula como processo de gestão formativa” destacaremos as discus- sões sobre: Gestão da sala de aula - espaço privilegiado para os processos formativos; Estratégias eficazes de gestão da sala de aula e Avaliação da gestão dos processos formativos. Para continuidade do estudo da disciplina abordaremos ainda as seguintes temáticas: 1. Análise da problemática da escola pública no contexto socioeconômico e político atual: acesso, permanência, exclusão, socialização do saber, preparação para a cidadania e o trabalho. 2. Ação do pedagogo na organização e funcionamento dos espaços educativos. 3. Da sala de aula à gestão escolar: a ação coletiva, a participação, a autonomia e o compro- misso social como princípios da gestão do trabalho pedagógico. Para estas discussões recorreremos a artigos e livros sugeridos na biblioteca virtual desta disciplina. Bons estudos! Att Profª Ms Maria Nadurce da Silva Coordenadora do Curso de Pedagogia UAB/Unimontes Montes Claros/MG - 2011 Liliane Campos Machado Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica 2011 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Maria Ivete Soares de Almeida DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Huagner Cardoso da Silva CONSELHO EDITORIAL Maria Cleonice Souto de Freitas Rosivaldo Antônio Gonçalves Sílvio Fernando Guimarães de Carvalho Wanderlino Arruda REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Ângela Heloiza Buxton Arlete Ribeiro Nepomuceno Aurinete Barbosa Tiago Carla Roselma Athayde Moraes Luci Kikuchi Veloso Maria Cristina Ruas de Abreu Maia Maria Lêda Clementino Marques Ubiratan da Silva Meireles REVISÃO TÉCNICA Admilson Eustáquio Prates Cláudia de Jesus Maia Josiane Santos Brant Karen Tôrres Corrêa Lafetá de Almeida Káthia Silva Gomes Marcos Henrique de Oliveira DESIGN EDITORIAL E CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Clésio Robert Almeida Caldeira Fernando Guilherme Veloso Queiroz Francielly Sousa e Silva Hugo Daniel Duarte Silva Marcos Aurélio de Almeida e Maia Patrícia Fernanda Heliodoro dos Santos Sanzio Mendonça Henriques Tatiane Fernandes Pinheiro Tátylla Ap. Pimenta Faria Vinícius Antônio Alencar Batista Wendell Brito Mineiro Zilmar Santos Cardoso Chefe do Departamento de Ciências Biológicas Guilherme Victor Nippes Pereira Chefe do Departamento de Ciências Sociais Maria da Luz Alves Ferreira Chefe do Departamento de Geociências Guilherme Augusto Guimarães Oliveira Chefe do Departamento de História Donizette Lima do Nascimento Chefe do Departamento de Comunicação e Letras Ana Cristina Santos Peixoto Chefe do Departamento de Educação Andréa Lafetá de Melo Franco Coordenadora do Curso a Distância de Artes Visuais Maria Elvira Curty Romero Christoff Coordenador do Curso a Distância de Ciências Biológicas Afrânio Farias de Melo Junior Coordenadora do Curso a Distância de Ciências Sociais Cláudia Regina Santos de Almeida Coordenadora do Curso a Distância de Geografia Janete Aparecida Gomes Zuba Coordenadora do Curso a Distância de História Jonice dos Reis Procópio Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Espanhol Orlanda Miranda Santos Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Inglês Hejaine de Oliveira Fonseca Coordenadora do Curso a Distância de Letras/Português Ana Cristina Santos Peixoto Coordenadora do Curso a Distância de Pedagogia Maria Narduce da Silva Ministro da Educação Fernando Haddad Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES João Carlos Teatini de Souza Clímaco Governador do Estado de Minas Gerais Antônio Augusto Junho Anastasia Vice-Governador do Estado de Minas Gerais Alberto Pinto Coelho Júnior Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Nárcio Rodrigues Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitora da Unimontes Maria Ivete Soares de Almeida Pró-Reitora de Ensino Anete Marília Pereira Diretor do Centro de Educação a Distância Jânio Marques Dias Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Diretor do Centro de Ciências Humanas - CCH Antônio Wagner Veloso Rocha Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Artes Maristela Cardoso Freitas Autora Liliane Campos Machado Professora adjunta, efetiva por concurso público da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes, lotada no Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais. Licenciada em Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. É especialista em Especialização do Pedagogo, em Psicopedagogia ambas pela Universidade Estadual de Montes Claros e em Educação Continuada a Distância pela Universidade de Brasília – UnB. Mestre em Tecnologia, área de concentração: Educação Tecnológica, pelo Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais –CEFET-MG. Doutora em Educação pela Universidade Federal de Uberlândia. Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 UNIDADE 1 Gestão da educação: aproximação as origens e fundamentos da gestão e dos processos formativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Conceituando educação escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 Gestão/Gestão Escolar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 UNIDADE 2 Os profissionais da educação e os processos formativos: como são formados? Queme como irão formar? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.1 Um pouco da história da formação de formadores no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .17 2.2 Profissionais do magistério versus outros profissionais da educação . . . . . . . . . . . . . .20 2.3 A formação dos profissionais da educação à luz da legislação vigente (LDB e DCN) 21 2.4 Formação inicial e continuada dos profissionais da educação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 UNIDADE 3 Organização do trabalho pedagógico e a responsabilidade pela formação para a cidadania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.1 Os profissionais da educação: quem são? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 3.2 Os profissionais da educação e suas atribuições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .26 3.3 Formação discente e participação da família e comunidade escolar. . . . . . . . . . . . . . .37 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 UNIDADE 4 A sala de aula como processo de gestão formativa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .41 4.1 Gestão da sala de aula - espaço privilegiado para os processos formativos . . . . . . . .41 4.2 Estratégias eficazes de gestão da sala de aula . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .42 4.3 Avaliação da gestão dos processos formativos - avaliação institucional . . . . . . . . . . 44 4.4 Como pensar a avaliação do projeto político da escola? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46 Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .47 Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .49 Referências básicas e complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Atividades de Aprendizagem – AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 Anexo I. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .59 9 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica Apresentação Mire veja: o mais importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não es- tão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mu- dando. Afinam, desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso me alegra, montão. (Guimarães Rosa) É muito bom encontrar novamente com você no curso de Pedagogia UAB/Unimontes. Agora que você já está mais maduro nas leituras específicas da Pedagogia gostaria de para- benizá-lo por ter escolhido essa belíssima profissão e esse curso! Parabéns por se comprometer com a futura formação de cidadãos conscientes e responsáveis. Acredite firmemente que só pela Educação é possível revolucionar as mentes e os corações em busca de um mundo mais huma- no. Este com certeza deve ser o compromisso e o trabalho da Educação. Para que você atinja o seu intuito e seja capaz de exercer a docência e/ou a gestão após a conclusão desse curso, faz-se necessário a discussão em torno da gestão enquanto processos formativos na Educação Básica. A disciplina Gestão educacional e processos formativos na Educação Básica possui, em si, uma importância para a Educação, pois dependendo das finalidades e da forma pela qual se organi- za e se conduz a escola, o ensino e a aprendizagem, se estará formando cada cidadão que tiver passado por esta escola, pelas mãos de um educador. Se essa condução for rica em conteúdos compromissados com a solidariedade e a emancipação humana de toda a humanidade, segura e firme nas metodologias que possibilitem a aquisição desses conhecimentos e empenhada na construção de um mundo mais justo e humano, estará possibilitando um novo tipo de homem e de mulher. Se tal não for, será outro tipo, indefinido, que reforçará a concepção desagregadora e individualista de mundo que, hoje, impera na sociedade globalizada (CARAPETO, 2006). Acredito que essa disciplina viabilizará reflexões gerais e específicas em torno da educação e a sua gestão a você que será em breve um responsável pela condução desse processo, sendo assim, faz-se necessário construir ideais comprometidos com a formação humana e profissional dos profissionais da Educação. Um bom trabalho nesse módulo A autora. Gestão dos processos formativos na educação básica proposta de trabalho Ementa: Gestão e organização do trabalho pedagógico escolar na Educação Básica. Objetivo geral da disciplina Discutir a formação do docente e dos profissionais da educação para participação na orga- nização e gestão de sistemas e instituições de ensino, englobando: • planejamento, execução, coordenação, acompanhamento e avaliação de tarefas próprias do setor da Educação e avaliação de projetos e experiências educativas escolares. Conhecen- do e compreendendo o processo formativo dos profissionais para o exercício da docência e gestão dos processos educativos escolares Objetivos Específicos • Formar profissionais especialistas da educação por meio do desenvolvimento de conheci- mentos, métodos, atitudes e valores pertinentes à atividade da docência; • Contribuir para a implementação democrática, participativa e socialmente responsável de programas e projetos educacionais, bem como identificar na gestão democrática ferramen- tas que possibilitem o desenvolvimento de estratégias, controle e organização da Educação Básica; 10 UAB/Unimontes - 6º Período • Compreender princípios e fundamentos teórico-metodológicos da gestão e dos processos formativos da Educação Básica; • Participar ativa e criticamente dos processos de gestão educacional; • Estabelecer relações entre os processos de gestão da educação, as políticas publicas da educação e de outros setores; • Participar dos processos de organização e gestão educacional de forma ética e responsável. 11 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica UNIDADE 1 Gestão da educação: aproximação as origens e fundamentos da gestão e dos processos formativos Nessa unidade conversaremos sobre a gestão da educação procuramos trabalhar alguns conceitos/definições que nos auxiliarão a compreender o processo de gestão da educação bem como os processos formativos. Vejamos a seguir alguns conceitos. 1.1 Conceituando educação escolar Pensando em um sentido mais amplo, educação pode ser entendida como um processo de atuação de uma comunidade sobre o desenvolvimento do indivíduo a fim de que ele possa atu- ar em uma sociedade pronta para a busca da aceitação dos objetivos coletivos. Segundo o dicionário Aurélio (2001) educação é o processo de desenvolvimento da capaci- dade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor inte- gração individual e social. Paulo Freire nos diz que a educação tem caráter permanente. A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação, mas estes não são absolutos (FREIRE, 1983:28). Considerando a afirmação de Freire (1983), entendemos o processo educativocontí- nuo, como base de uma constante busca pela melhoria da qualidade da formação docente e discente. A ação educativa implica um conceito de homem e de mundo concomitantes, é preciso não apenas estar no mundo e, sim, estar aberto ao mundo. Captar e compreender as finalidades deste a fim de transformá-lo, responder não só aos estímulos, mas também aos desafios que este nos propõe. Não podemos querer transmitir conhecimento, pois este já existe, podemos orientar tal indivíduo a buscar esse conhecimento existente, estimular a descobrir suas afinidades em determinadas áreas (FREIRE, 1983). A educação é um processo contínuo que orienta e conduz o indivíduo a novas desco- bertas a fim de tomar suas próprias decisões, dentro de suas capacidades. A Educação engloba ainda os processos de ensinar e aprender, de ajuste e adaptação. É um fenômeno observado em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da transposição às gerações que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade. A prática educativa formal – que ocorre em instituições específicas - se dá de forma intencional e com objetivos determinados, como no caso das escolas e essa é definida como Educação Escolar. GLOSSáRIO Concomitantes: que se manifesta ao mesmo tempo que outro. (Dicionário Miniaurélio, 2001) 12 UAB/Unimontes - 6º Período 1.2 Gestão/Gestão Escolar 1.2.1 Gestão O termo gestão vem do latim (gestione) significa ato de gerir, gerência, administração (FER- REIRA, 1999, p. 985). Podemos então entender que a gestão está relacionada à atuação que objeti- va promover a organização, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e huma- nas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos estabelecimentos de ensino, órgãos do Sistema de Ensino além de orientar para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos bem como a promoção da Educação como um todo (MENEZES, 2002). Libâneo concebe a gestão como sendo (...) o conjunto de todas as atividades de coordenação e de acompanhamento do trabalho dos cumprimento das atribuições de cada membro da equipe, a realização do trabalho em equipe, a manutenção do clima de trabalho, a ava- liação de desempenho”. Como nos explica o autor, Essa definição se aplica aos dirigentes escolares, mas é igualmente aplicável aos professores, seja em seu trabalho na sala de aula, seja quando são investidos de responsabilidades no âmbito da organização escolar (LIBÂNEO, 2001 :349). Com o objetivo de viabilizar a gestão democrática e participativa a legislação educacional brasileira tem defendido a ideia da autonomia administrativa, financeira e pedagógica das es- colas, e, para que isso se efetive, alguns mecanismos são estabelecidos, tais como eleição para escolha dos dirigentes, constituição e tomadas de decisões através dos órgãos colegiados dentre outros. Libâneo (2001) afirma que isso só pode ocorrer quando a escola permite a participação de todos, pois não há significatividade se não há também participação, e esta só é possível ple- namente na gestão democrática. Para a significatividade ocorrer no espaço escola, é preciso que ocorra, antes, no espaço administrativo. É preciso que pais, alunos, funcionários e comunidade participem das tomadas de decisões, do planejamento escolar, da avaliação institucional e da execução das atividades da escola. Gestão Escolar Rememorando o que foi discutido no material de Gestão dos Sistemas e Instituições de En- sino do 5º Período, o conceito de gestão escolar foi criado para superar um possível enfoque li- mitado do termo administração escolar. Ela se constituiu a partir dos movimentos de abertura política do país (no final da década de 1970 e início de 1980) que começaram a debater novos conceitos e valores, associados à ideia de autonomia escolar, à participação da sociedade e da comunidade, à criação de escolas comunitárias, cooperativas e associativas e ao fomento às asso- ciações de pais. Assim sendo, no âmbito da gestão escolar, a escola passou a ser entendida como um sistema aberto, com cultura e identidade próprias, e capaz de reagir com eficácia às solicita- ções dos contextos locais em que se insere. Podemos inferir que o conceito de Gestão Escolar é relativamente recente, embora seja de ex- trema importância, na medida em que desejamos uma escola que atenda às atuais exigências da vida social, ou seja, uma escola que se proponha a formar cidadãos, oferecendo, ainda, a possibi- lidade de apreensão de competências e habilidades necessárias e facilitadoras da inserção social. Para Lück, a gestão da escola constitui: [...] uma dimensão e um enfoque de atuação que objetiva promover a organi- zação, a mobilização e a articulação de todas as condições materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioeducacionais dos esta- belecimentos de ensino orientadas para a promoção efetiva da aprendizagem pelos alunos, de modo a torná-los capazes de enfrentar adequadamente os desafios da sociedade globalizada e da economia centrada no conhecimento (LÜCK, 2000, p.11). DICA Se precisar volte ao material de Gestão do 5º período e faça uma leitura.Porque esta- mos pressupondo que você já tem a noção sobre a gesta, uma vez que todo o contexto histórico, classificação e formas de organiza- ção da gestão foram discutidos no material do 5º período. 13 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9.394/96), ao abordar a forma de organização da unidade escolar, toca na questão da autonomia ao explicitar, no art. 12, II, que os estabelecimentos de ensino terão a incumbência de administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros. Assim com o objetivo de melhor compreender o contexto da gestão escolar, alguns autores da área já ci- tados anteriormente geralmente a classificam em três áreas. No entanto, é bom que fique claro que apesar dessa classificação elas só funcionam se interligadas. São elas: • Gestão Pedagógica: essa cuida de gerir a área educativa, da educação escolar no que se refere aos objetivos gerais e espe- cíficos para o ensino; as linhas de atuação, em função dos objetivos e do perfil da comunidade e dos alunos; as metas a se- rem atingidas. Ela ainda preocupa-se com os conteúdos curriculares; acompanha e avalia o rendimento das propostas peda- gógicas, dos objetivos e o cumprimento de metas; avalia o desempenho dos alu- nos, do corpo docente e da equipe esco- lar como um todo. Suas especificidades devem estar enunciadas no Regimento Escolar e no Projeto Pedagógico (também denominado Proposta Pedagógica) da es- cola e como parte integrante desse temos o Plano Curricular. Tem-se uma expectati- va que o Diretor seja o grande articulador da Gestão Pedagógica e o primeiro res- ponsável pelo seu sucesso sempre auxi- liado nessa tarefa pela Equipe Pedagógi- ca (Supervisor, Orientador). • Gestão de Recursos Humanos: essa se encarrega de cuidar dos alunos, equipe escolar, comunidade, constitui a parte mais sensível de toda a gestão, pois lidar com pessoas, mantê-las trabalhando sa- tisfeitas, rendendo o máximo em suas atividades, contornar problemas e ques- tões de relacionamento humano fazem da gestão de recursos humanos a grande responsável pelo fracasso ou sucesso - de todos os processos da escola. Ela tem que se preocupar e manter a consecução na escola de direitos, deveres, atribuições - de professores, corpo técnico, pessoal ad- ministrativo, alunos, pais e comunidades, e tudo isso deve estar previstos no Regi- mento Escolar. • Gestão Administrativa: essa cuida da parte física (oprédio e os equipamentos materiais que a escola possui) e da parte institucional (a legislação escolar, direitos e deveres, atividades de secretaria). Suas especificidades estão enunciadas no Pla- no Escolar (também denominado Plano Político Pedagógico de Gestão Escolar, ou Projeto Pedagógico), no Regimento. Es- cola e no Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE). Não discutiremos a gestão financeira por- que essa já foi abordada no material de Gestão do 5º período. Após apresentar as três áreas em que a ges- tão está classificada, e por ser o nosso foco nesse material os processos formativos, sentimos a ne- cessidade de fazermos uma breve discussão so- bre a gestão de currículo, mas é preciso que fique claro para você, acadêmico, que esse tópico é um desdobramento da gestão pedagógica. Então vamos lá, o que é gestão de currículo? O conceito de gestão curricular, ou o de fle- xibilização, traz em si a ideia de que o currículo prescrito a nível nacional (PCN) tem mais proba- bilidades de se adequar às especificidades de situações diversas vivenciadas pela população escolar se nele (no currículo) intervierem os ato- res educativos locais (professores, especialistas, gestores, alunos e família). No entanto, a flexibili- zação do currículo enquanto conceito não é, por vezes, completamente clara, tanto no que ela sig- nifica como no que implica. Concordamos com Roldão (2000) quando ela afirma que Flexibilizar o currículo signi- fica “deslocar e diversificar os centros de de- cisão curricular, e por isso viabilizar níveis de gestão que até aqui tinham pouca relevância neste campo” (Roldão, M. do Céu, 2000: 86). Em síntese flexibilizar o currículo significa, compreender o currículo prescrito a nível na- cional como uma proposta que tem de ganhar sentido nos processos de ação e de interação que ocorrem nas escolas. Ou seja, precisamos ter clareza e reconhecermos que cabe às esco- las e aos professores tomarem as decisões, po- dendo, assim, conceber e desenvolver um currí- culo rigoroso (por que não?). O reconhecimento das escolas e dos professores como os sujeitos responsáveis pelas decisões tem como inten- ção conceber e desenvolver um currículo mais rigoroso (no sentido de ter rigor, mesmo sendo construído na e a partir da realidade aonde irá se inserir), mais reflexivo e relacional. Diante do que já expusemos podemos afirmar que a gestão de currículo pressu- põe a administração, a tomada de decisão, a organização do conhecimento escolar, das habilidades, das atitudes e dos valores que orientam a prática pedagógica de todos os sujeitos envolvidos no processo educati- vo. Essa objetiva estabelecer relações mais amplas com o conhecimento escolar para superar a rigidez e hierarquização dos currí- culos disciplinares. PARA REFLETIR Pense na sua condição de aluno na educação básica (ou como era definido na legislação anterior 1º e 2º graus) e tente rememorar se no contexto da sua for- mação você consegue identificar momentos em que você tenha vivenciado os três ou algum dos tipos de gestão. GLOSSáRIO Currículo prescrito: é um conjunto de decisões normativas que são produzidas nos gabinetes das secreta- rias federais, estaduais e municipais de edu- cação. Ou seja, é tudo aquilo que é imposto pelo sistema de ensino, como as LDB, PCN, Proposta pedagógicas. (SACRISTAN, 2000) Currículos discipli- nares: busca garantir a especificidade do conhecimento, a partir de cada disciplina, com o cuidado em trabalhá- -lo em suas múltiplas determinações e relações que são histó- ricas, sociais, culturais e políticas. O currículo disciplinar naturaliza os interesses sociais mais amplos os quais deter- minam as relações que conferem estabilidade ao sistema. Assim, não se questiona a seleção de certos conteúdos a despeito de outros nem a hierarquia das disciplinas, a hierar- quia das disciplinas são determinadas por princípios de poder e controle construí- dos socialmente, os quais naturalizam e garantem uma certa estabilidade ao sistema escolar. (LOPES e MACEDO, 2002) 14 UAB/Unimontes - 6º Período Cabe aos professores fazer assegurar a apropriação de conhecimentos, valores, habili- dades, e atitudes que garantam a formação de um cidadão, que seja livre e autônomo; para que isso aconteça, o coletivo da escola tam- bém precisa tomar a decisão de formar alunos capazes de aprender a aprender. Para garantir o aprender a aprender, faz-se necessário uma gestão do conheci- mento na escola e essa é mediada pela ges- tão do currículo que deve trabalhar em prol da inclusão e de uma educação que promo- va o desenvolvimento humano. Concordamos com Ribeiro (2011) quan- do ela afirma que a gestão do currículo na escola básica representa o direcionamento, a tomada de decisões, na prática educativa, por diferentes conhecimentos, tradições e linguagens de diferentes grupos sociais e culturais que se entrelaçam na trama tecida na sociedade e na escola, em cada época e espaço de seu desenvolvimento. Veja a figura a seguir que ilustra o que acabamos de discutir: Em relação à gestão de currículo po- demos concluir que é um espaço onde se pode disponibilizar as informações e o apoio às necessidades dos professores no planejamento curricular, nas inovações e no desenvolvimento. Mais ainda, onde se trabalha para garantir o bom ajuste entre os objetivos curriculares e os testes de re- alizações. Onde se busca aumentar o co- nhecimento e o da equipe sobre métodos pedagógicos, de tal forma que possa tornar válidas e úteis as sugestões e as críticas so- bre o trabalho dos professores e funcioná- rios (LÜCK, et al., 2000). Como você já pode observar nesse mate- rial, o nosso foco volta-se mais para a gestão de recursos humanos e para a gestão pedagó- gica, porque essas duas são essenciais para a gestão como processo formativo. Figura 1: Fluxo do Sistema de Educação à Gestão do Currículo Fonte: a autora (2011) ► 15 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica 1.2.2 Processos Formativos Precisamos entender os processos formativos como algo que se desenvolve na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos so- ciais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais, como dispõe o artigo 1º da Lei nº 9.394, de 20.dez.96, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), disciplinadora da educação escolar. Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas ma- nifestações culturais (BRASIL/LDB, 1996). A educação, de acordo com a Lei 9394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional [LDB 1996], abrange processos formativos desenvolvidos na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da so- ciedade civil e nas manifestações culturais. Por se tratar de um processo de aquisição e aprimo- ramento contínuo da soma de conhecimentos que foram adquiridos de forma cumulativa pela humanidade, a educação deve formar pessoas com autonomia de pensamento, capacidade de reflexão, construção de críticas e interação com indivíduos que apresentam outros valores, com- portamentos e culturas distintas, ou seja, na construção de cidadãos que possam contribuir para o desenvolvimento da sociedade. Como a educação deve formar pessoas, e essa educação no contexto escolar se consolida nas 03 (três) áreas da gestão podemos dizer a gestão pedagógica e de recursos humanos são as responsáveis pelos processos formativos, seja de alunos, professores, funcionários,gestores, equipe pedagógica e comunidade. Porque a gestão escolar consiste no processo de mobilização e orientação do talento e esforço coletivo presente na escola, em associação com a organiza- ção de recursos e processos para que esta instituição desempenhe de forma efetiva seu papel social e realize seus objetivos educacionais de formação dos seus alunos e promoção de aprendizagens significativas (LÜCK, 2008, p. 2). Portanto, optar por uma gestão colegiada e participativa irá criar laços de responsabilização entre todos os envolvidos quer sejam professores, alunos, familiares, funcionários, uma vez que uma gestão centralizadora não é favorável a uma formação para a autonomia e para a cidadania. Assim concordando com Bolzan (2010, p. 5) quando ela afirma que existe uma necessária re- lação de interdependência nos processos formativos, entendida como um movimento de cons- trução compartilhada de conhecimento, no qual o intercâmbio de ideias e concepções são as ba- ses desse processo. O contrato didático estabelecido entre ensinantes e aprendentes pressupõe trocas e apoio para os avanços de cada sujeito no processo de conhecer. Bem, agora que já fizemos um passeio pelos conceitos e definições básicas para a discussão da Gestão como Processo Formativo na Educação Básica conversaremos a seguir na Unidade II sobre os profissionais da educação e o seu processo formativo. Referências BOLZAN Dóris Pires Vargas. Processos Formativos e Docência: tecendo redes de formação na educação superior. ANAIS DO XV ENDIPE – ENCONTRO NACIONAL DE DIDÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO: Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente: políticas e prá- ticas educacionais, Belo Horizonte, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 9394 de dezembro de 1996. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ LEIS/ l9394.htm>. Acesso em dezembro de 2007 16 UAB/Unimontes - 6º Período FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 9. ed.. Rio de Janeiro; Paz e Terra. 1983 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI: o minidicionário da língua por- tuguesa. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001 LIBÂNEO, José Carlos. O sistema de organização e de gestão da escola: teoria e prática. Goiâ- nia: Alternativa, 2001. LOPES,A.R.C. e MACEDO, E. A estabilidade do currículo disciplinar: o caso das ciências. In: LOPES,A.C.,MACEDO,E.(orgs). Disciplinas e integração curricular: Histórias e políticas. Rio de Ja- neiro: DP&A, 2002. LUCK, H.(et al) A escola participativa: o trabalho do gestor escolar: 4.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. LÜCK, H. Gestão Educacional: uma questão paradigmática. São Paulo:Vozes, 2008. GESTÃO Escolar: introdução. Conteúdo Escola – o Portal do Educador. 21 de julho de 2004. Dis- ponível em http://www.conteudoescola.com.br/site/content/view/42/45/. Acesso em 02/01/2011 GIMENO SACRISTÁN, J O currículo:uma reflexão sobre a prática 3.ed. Porto Alegre: Artemed, 2000. MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos.”Gestão escolar” (verbete). Dicioná- rio Interativo da Educação Brasileira - EducaBrasil. São Paulo: Midiamix, 2002. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=37>. Acesso em 14/3/2011. RIBEIRO, Márcia Maria Gurgel .A Gestão do Conhecimento Escolar e o Currículo em Rede. DEPED/PPGEd/UFRN. Diapositivos col. 2011. Disponível em http://www.ppged.ufrn.br/a_ges- tao_%20do_%20conhecimento_%20escolar_e_o_%20curriculo.pdf. Acesso em 10/05/2011 17 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica UNIDADE 2 Os profissionais da educação e os processos formativos: como são formados? Quem e como irão formar? Você deve estar se perguntando por que em um material sobre gestão insistimos em falar de profissionais, recursos humanos e processo formativo. Insistimos nessa temática porque não é possível consolidar uma gestão sem pessoas como já evidenciamos na Unidade I. Nessa Unidade II pretendemos discutir com você como se dão os processos formativos dos profissionais da educação. Estamos denominando de profissionais da Educação os professores, os supervisores, os orientadores, os diretores e demais funcionários de apoio técnico administra- tivo e operacional. Como vocês estão em um processo de formação em um curso de Licenciatura em Pedago- gia e ao final do curso será um professor ou um gestor (supervisor, orientador, diretor ou inspe- tor), nessa unidade vamos falar desses profissionais formados pelos cursos de Pedagogia. Vamos iniciar a nossa conversa fazendo uma viagem pela História da Educação Brasileira para conhecer como se deu a formação de professores no contexto da educação brasileira 2.1 Um pouco da história da formação de formadores no Brasil Voltemos ao período colonial, os colégios jesuítas passando pelas aulas régias implantadas pelas reformas pombalinas até os cursos superiores criados a partir da vinda de D. João VI em 1808, não se existia uma preocupação com a questão da formação de professores. Foi a partir da Lei das escolas de primeiras letras, promulgada em 15 de outubro de 1927, que essa preocupação apareceu pela primeira vez, quando ficou determinado na Lei que o ensino, nas escolas, deveria ser desenvolvido pelo método mútuo. E no artigo 4º a lei estipula que “os profes- sores” deverão ser treinados nesse método, às próprias custas, nas capitais das respectivas provín- cias. Com essa exigência percebemos a cobrança de um preparo didático do professor. Continuando o nosso passeio pela História, chegamos a 1834, quando foi promulgado o Ato Adicional de 1834, que passa a instrução primária (formação primária) para responsabilidade das províncias. Sabe-se que estas tendiam a adotar, para a formação dos professores, o modelo de forma- ção dos países europeus, com esse modelo começou a criação de escolas normais. Foi na Pro- víncia do Rio de Janeiro, em 1835, por intermédio da Lei n° 10, que ocorreu a criação da primeira escola normal do Brasil. Com o aumento do número de escolas, foi preciso ampliar o quadro de professores e foram criadas as escolas normais para a formação profissional desses professores e instituindo-se as for- mas burocráticas de ingresso e pagamento, sobre as quais assim se refere Azevedo (1996, p. 570): O pessoal docente, quase todo constituído de mestres improvisados, sem ne- nhuma preparação específica, não melhora sensivelmente com as primeiras es- colas normais que se criaram no país: a de Niterói, em 1835, a da Bahia, em 1836, a do Ceará, em 1845, que não foram por diante, a de São Paulo, em 1846, e a do Rio de Janeiro, em 1880, todas com uma organização rudimentar, à maneira de GLOSSáRIO Método Mútuo: é con- sensual entre os histo- riadores da educação que a utilização desse método, no Brasil, foi recomendado para a Instrução Pública, por meio da Lei de 1827, não consistia uma novidade pedagógica. Reconhece-se que seu uso vem de longa duração e que em diferentes períodos já se praticava essa modalidade de ensino. Nomes como Comê- nius (1592/1670) e La Salle (1651/1718), tam- bém, o empregavam ou o aconselhavam. O principal elemento que definia e caracterizava o Método Mútuo era o uso de monitores no ensino. Em sua Didática Magna, Comênius ensina como um único professor pode ser suficiente para qualquer número de alunos fazendo uso de monitores. Os moni- tores eram alunos em estágios mais “avança- dos” de aprendizagem que ensinavam outros alunos mais novos ou em estágios menos “avançados”. Os moni- tores, escolhidos pelos mestres, recebiam instrução à parte. Na prática, os monitores eram responsáveis pela instrução de uma decú- ria, ou um grupo de 10 alunos. Em Comênius, a principal função do monitor era auxiliar o mestre no ensino, a fimde amparar seu ideal pedagógico, que estava centrado no interesse do aluno tendo a observação e o julgamento como base. (NEVES, 2003) 18 UAB/Unimontes - 6º Período ensaios, como a de São Paulo que se fundou, com um só professor, em 1846, de- sapareceu em 1867, para ressurgir novamente em 77 e restabelecer-se afinal em 1880, e só então com um curso mais completo. (AZEVEDO,1996, p. 570) Segundo os historiadores da educação esse caminho de criação das escolas normais foi seguido pela maioria das províncias, ainda no século XIX, na seguinte ordem: Bahia, 1936; Mato Grosso, 1842; São Paulo, 1846; Piauí, 1864; Rio Grande do Sul, 1869; Paraná e Sergi- pe, 1870; Espírito Santo e Rio Grande do Norte, 1873; Paraíba, 1879; Rio de Janeiro (DF) e Santa Catarina, 1880; Goiás, 1884; Ceará, 1885; Mara- nhão, 1890. Essas escolas, entretanto, tiveram existência intermitente sendo fechadas e rea- bertas periodicamente. O objetivo dessas escolas era a prepara- ção de professores para atuar nas escolas pri- márias, sendo assim elas priorizavam uma for- mação específica, o que se pressupunha que os professores deveriam ter o domínio daque- les conteúdos que lhes caberiam transmitir às crianças excluindo-se, ou pelo menos secun- darizando, o preparo didático-pedagógico sob forma intencional e sistemática. Esse modelo de escola normal, embora adotado em 1835, só adquiriu alguma estabi- lidade após 1870. Algumas escolas adotavam o modelo de Internatos. E, em 1890, o Estado de São Paulo fixa uma reforma para a “instru- ção” pública no estado (SÃO PAULO, DECRETO, 1890). Para os reformadores: a) A instrução pública bem dirigida é o mais forte e eficaz elemento do progresso; b) De todos os fatores da instrução popular, o mais vital, poderoso e indispensá- vel é a instrução primária, largamente difundida e convenientemente ensinada; c) Sem professores bem preparados, praticamente instruídos nos modernos pro- cessos pedagógicos e com cabedal científico adequado às necessidades da vida atual, o ensino não pode ser regenerador e eficaz. (REIS FILHO apud SAVIANI, 2004, p. 24) Vale aqui registrar a preocupação dos reformadores ainda no século XIX com a questão da qualidade para a formação dos professores, tendo em vista a formação dos educandos. Essa reforma da escola normal da capi- tal paulista se estendeu para as principais cidades do interior do estado e se tornou referência para outros estados do país que enviavam seus educadores para observar e estagiar em São Paulo ou recebiam “mis- sões” de professores paulistas. Dessa forma, o padrão da escola normal centrado no mo- delo pedagógico-didático de formação do- cente tendeu a se firmar e se expandir por todo o país. Passamos ao período republicano e ainda eram mantidas as escolas normais. No início da década de 1930 começa- ram as discussões em torno da criação dos Institutos de Educação. Esses foram pensa- dos como espaços de cultivo da educação encarada não apenas como objeto do ensi- no, mas também da pesquisa. Nesse âmbito, as duas principais iniciativas foram o Insti- tuto de Educação do Distrito Federal conce- bido, estruturado e implantado por Anísio Teixeira, em 1932, e dirigido por Lourenço Filho; e o Instituto de Educação de São Pau- lo implantado, em 1933, por Fernando de Azevedo. Ambos sob a inspiração do ideário da Escola Nova. Em 1932 foi proposta uma reforma edu- cacional pelo Decreto 3.810 de 19 de março de 1932. A partir desse Decreto, Anísio Tei- xeira propôs transformar as escolas normais em Escola de Professores, cujo currículo in- cluía, já no primeiro ano, as seguintes disci- plinas: • Biologia educacional; • Sociologia educacional; • Psicologia educacional; • História da educação; Introdução ao ensino, contemplando três aspectos: a. princípios e técnicas; b. matérias de ensino abrangendo cálcu- lo, leitura e linguagem, literatura infan- til, estudos sociais e ciências naturais; c. prática de ensino, realizada mediante a observação, a experimentação e a par- ticipação. Essa escola ainda contava com uma estru- tura de apoio que envolvia: a. Jardim de Infância, Escola Primária e Escola Secundária, que funcionavam como campo de experimentação, de- monstração e prática de ensino; b. Instituto de Pesquisas Educacionais; c. Biblioteca Central de Educação; d. Bibliotecas escolares; e. Filmoteca; f. Museus Escolares; g. Radiodifusão. DICA Ilustra isso a posição de Couto Ferraz que con- siderava as escolas nor- mais muito onerosas, ineficientes qualitativa- mente e insignificantes quantitativamente, pois muito pequeno era o número de alunos formados. Por isso Couto Ferraz, quando presidente da provín- cia do Rio de Janeiro, fechou a Escola Normal de Niterói em 1949, substituindo-a pelos professores adjuntos, regime que adotou no Regulamento de 1854, ao exercer o cargo de ministro do Império. Os adjuntos atuariam nas escolas como ajudantes do regente de classe, aperfeiçoando-se nas matérias e práticas do ensino. Por esse meio seriam preparados os novos professores, dispensando-se a instalação de escolas normais. Mas esse caminho não prospe- rou. Os cursos normais continuaram a ser instalados e a pioneira escola de Niterói foi reaberta em 1859. GLOSSáRIO Modelo pedagógico- -didático: este modelo considera que a forma- ção propriamente dita dos professores só se completa com o efetivo preparo pedagógico- -didático. Considera- -se que a formação pedagógico-didática virá em decorrência do domínio dos conteú- dos do conhecimento logicamente organiza- do, sendo adquirida na própria prática docente ou mediante mecanis- mos do tipo “treina- mento em serviço” (SAVIANI, 2006, p.2) 19 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica O Instituto de Educação de São Paulo seguiu, sob a gestão de Fernando de Azeve- do, um caminho semelhante com a criação, também da Escola de Professores (MONAR- CHA, 1999, p. 324-336). Pelo exposto, percebe-se que os Insti- tutos de Educação foram pensados e orga- nizados de maneira a incorporar as exigên- cias da pedagogia que buscava se firmar como um conhecimento de caráter cien- tífico. Caminhava-se, pois, decisivamente, rumo à consolidação do modelo pedagógi- co-didático de formação docente (TANURI, 2000, p.72). E foi sob essa base que se organizaram os Cursos de Formação de Professores para as escolas secundárias, generalizados para todo o país a partir do Decreto-Lei n. l.190, de 04 de abril de 1939 que deu organização definitiva à Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil. Sendo esta ins- tituição considerada referência para as de- mais escolas de nível superior, o paradigma resultante do Decreto-Lei 1.190 se estendeu para todo o país compondo o modelo que ficou conhecido como “esquema 3+1” ado- tado na organização dos Cursos de Licencia- tura e de Pedagogia. Os cursos de licenciatura formavam os professores para ministrar as várias discipli- nas que compunham os currículos das esco- las secundárias. Os cursos de Pedagogia formavam os professores para exercer a docência nas es- colas normais. Em ambos os casos vigorava o mesmo esquema, isto é, três anos para o estudo das disciplinas específicas da área de formação do curso e um ano para a for- mação didática, ou seja, as disciplinas de di- dática, metodologias, legislação, psicologias e outras. Continuando o nosso passeio pela his- tória deparamos com o golpe militar de 1964 que obrigou muitas mudanças no campo edu- cacional e na legislação do ensino. Com a implantação da Lei n. 5.692/71 (BRASIL, 1971), modificou-se o ensino pri- mário e médio, alterando sua denominação respectivamentepara primeiro grau e se- gundo grau. Nessa nova estrutura desapareceram as Escolas Normais. Em seu lugar foi institu- ída a habilitação específica de 2º grau para o exercício do magistério de 1º grau (HEM). Pelo Parecer n. 349/72 (BRASIL-MEC-CFE, 1972), aprovado em 6 de abril de 1972, a Ha- bilitação Específica do Magistério foi orga- nizada em duas modalidades básicas: uma com a duração de três anos (2.200 horas), que habilitaria a lecionar até a 4ª série; e ou- tra com a duração de quatro anos (2.900 ho- ras), habilitando ao magistério até a 6ª série do 1º grau. Para atuar nas quatro últimas séries do ensino de 1º grau (5ª a 8ª séries) e para o ensino de 2º grau, a Lei n. 5.692/71 previu a formação de professores em nível superior, em cursos de licenciatura curta (3 anos de duração) ou plena (4 anos de duração). O curso de Pedagogia, além da forma- ção de professores para Habilitação Espe- cífica de Magistério (HEM), também deve- ria formar os especialistas em educação, aí compreendidos os diretores de escola, orientadores educacionais, supervisores es- colares e inspetores de ensino. Com o fim da ditadura militar e a rede- mocratização do país, em 1996 ganhamos a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educa- ção Nacional – LDB 9394/96 que introduziu, como alternativa aos cursos de pedagogia e licenciatura, os Institutos Superiores de Educação e as Escolas Normais Superiores. A LDB sinalizou para uma política edu- cacional tendente a efetuar um nivelamento por baixo: os Institutos Superiores de Edu- cação emergem como instituições de nível superior de segunda categoria, provendo uma formação mais aligeirada, mais bara- ta, por meio de cursos de curta duração. A essas características não ficaram imunes às novas diretrizes curriculares do Curso de Pe- dagogia homologadas em maio deste ano de 1996 (SAVIANI, 2006). Com essa nossa viagem pela história da educação brasileira percebemos clara- mente que ao longo dos últimos dois sé- culos, as sucessivas mudanças introduzidas no processo de formação docente revelam um quadro de descontinuidades e muitas mudanças. O que se revela permanente no decorrer dos períodos analisados é a preca- riedade das políticas formativas, cujas su- cessivas mudanças não estabeleceram um padrão minimamente consistente de pre- paração docente para fazer face aos proble- mas enfrentados pela educação escolar em nosso país. DICA Para rememorar sobre a Escola Nova - volte ao material de Didática e veja o conteúdo sobre a escola nova ou esco- lanovismo. Não discutimos nesse recorte histórico sobre a Lei 4.024/61 uma vez que ela foi “abortada” pela Ditadura. Essa lei foi estudada no Material de Didático de Estrutura. DICA Fizemos uma longa exposição sobre a formação de professo- res e você deve estar se perguntando e os demais profissionais do magistério? Precisamos entender que diretores, supervisores, orienta- dores, inspetores, antes de assumirem essas funções são formados em cursos de licen- ciatura, ou seja, são professores. 20 UAB/Unimontes - 6º Período 2.2 Profissionais do magistério versus outros profissionais da educação Muito encontramos na literatura sobre a formação dos profissionais do Magistério, os pro- fessores, e pouco se fala da formação dos funcionários. A nossa tentativa será a de tentar resgatar a história da formação do funcionário que com- põe o quadro dos profissionais da educação. Os professores, desde o império, contam com cursos de formação, denominados normais, e, desde o início da década de 1930, com cursos de pedagogia e licenciaturas de nível superior. Os funcionários não docentes desde tempos remotos eram recrutados sem exigência de formação inicial, muitas vezes por critérios clientelísticos, e, quando concursados, era exigido o certificado de alguma escolaridade julgada compatível com as tarefas que lhes eram afetas: ensi- no fundamental completo ou incompleto e, mais recentemente, ensino médio. Segundo dado do Portal do MEC existe um abismo entre a formação do professor e a ofere- cida aos demais funcionários da escola, (...) as conseqüências desse abismo entre as categorias do magistério – hoje formada, na maioria, em cursos superiores – e dos funcionários, têm sido mui- to sérias: além de reproduzir, no interior da escola, desigualdades econômicas, sociais e culturais da sociedade – algumas delas já superadas – ele funciona como inibidor do processo de formação democrática da cidadania e das po- tencialidades de aportes educativos e técnicos dos funcionários e funcionárias. As merendeiras, em geral, continuam preparando e distribuindo alimentos para matar a fome das crianças, como se não fossem responsáveis também pela educação alimentar dos estudantes; o pessoal da secretaria manipula os registros de avaliação e se relaciona com pais e alunos de forma burocrática, como se não Tivesse compromisso com o projeto pedagógico; os que atendem em bibliotecas, laboratórios e informática costumam estar mais atentos a equi- pamentos e tecnologias do que à inclusão dos alunos na cultura e na comuni- cação; os que trabalham na conservação e limpeza das escolas mais parecem sucessores dos escravos e escravas das casas grandes do que responsáveis pela transformação das escolas e de seus entornos em espaços educativos. Fi- nalmente, a operação da gestão democrática, por meio de conselhos escolares, fica às vezes comprometida pelo despreparo dos funcionários em relação aos representantes dos outros segmentos, que se traduz em subserviência e imobi- lismo. (BRASIL,texto do PORTAL DO MEC, 2011) O Ministério da Educação, com o objetivo de atender as demandas sociais e de órgãos sin- dical e atento aos problemas das escolas, construiu em conjunto com funcionários e sindicatos filiados a CNTE uma proposta de trabalho para oferecer formação aos funcionários das escolas. A proposta é em um primeiro momento oferecer aos próprios funcionários em exercício nas escolas públicas, e, depois, a toda a demanda social – cursos de profissionalização em nível médio. Essa tarefa, à semelhança da formação dos professores, pela legislação atual se limitada ao ensino médio profissional, compete aos Estados e ao Distrito Federal, embora possa ser também assumida pela rede de educação profissional da União. Esse programa de formação oferecido pelo MEC recebe o nome de “Profuncionário”. E pro- põe oferecer o projeto pedagógico e os materiais de ensino para que um maior número possível de funcionários, com escolaridade mínima de ensino fundamental, possa, ao fim de no mínimo quinze meses, se habilitar profissionalmente. São cursos com duração de 1.100 a 1.400 horas, semipresenciais, com certificação dada por escolas federais, estaduais ou municipais de nível médio. Seus diplomas, como técnicos, depen- derão, entretanto, da conclusão concomitante ou posterior, à conclusão do ensino médio (em cursos ou exames). Para o Ministério da Educação, embora os cursos sejam formatados e dirigidos para os fun- cionários em exercício em escolas ou órgãos dos sistemas de ensino federal, estaduais e muni- cipais, com o ensino fundamental completo, poder-se-á admitir a inscrição de adolescentes e GLOSSáRIO CNTE: Confederação Nacional dos Trabalha- dores em Educação DICA Conheça a adesão ao Profuncionário através do Módulo PAR – no SITE MEC 21 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica jovens destinados a acessar essas carreiras, principalmente em processos articulados com con- cursos públicos. Agora que contextualizamos historicamente a formação dos profissionais da educação não podemos deixar de lembrar a você que tudo isso que você está estudando do contexto histórico e legal é para que seja parte integrante da discussão sobre a gestão dos processosformativos. 2.3 A formação dos profissionais da educação à luz da legislação vigente (LDB e DCN) A Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 foi aprovada e implantada no contexto das refor- mas dos anos 1996 e 1997. Para a formação de professores, ela determina que a formação de profissio- nais da Educação Básica far-se-á em nível superior em cursos de licenciatura, de graduação plena: A formação de docentes, para atuar na Educação Básica, far-se-á em nível superior, em cursos de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil e nas quatro séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na mo- dalidade normal (BRASIL, LDB, Art. 62, 1996). O artigo 62 da LDB (1996) afirma que os tradicionais cursos de nível médio (antigos cursos de Magistério) foram admitidos como formação mínima até o final da “Década da Educação”, ou seja, até o de 2007. O Conselho Nacional de Educação nor- matizou a formação de professores por meio da Resolução CNE/CP 1/2002, que prevê, no seu artigo 7°, inciso I, que “a formação deve- rá ser realizada em processo autônomo, em cursos de licenciatura plena, numa estrutura com identidade própria;” Fica explícito na Re- solução 1/2002 que os cursos de formação de professores em nível superior teriam a sua du- ração estabelecida pelo Conselho Pleno, em parecer e resolução específica sobre sua carga horária (MACHADO, 2009). Foram aprovadas ainda, pelo Conselho Nacional de Educação, as Diretrizes Curricula- res Nacionais - DCN para a Formação de Pro- fessores para a Educação Básica. A partir disso, as instituições formadoras têm buscado alter- nativas curriculares para atender à formação de professores. Houve ampla discussão dessas Diretrizes, no meio acadêmico em busca de melhor com- preensão da proposta de formação, expressa em seus códigos, tanto explícitos quanto im- plícitos. A questão é como construir currículos que atendam não só às exigências legais, mas também às demandas por uma formação que atenda às realidades do país. No intuito de colaborar com o proces- so de discussão, procede-se aqui uma análise ainda inicial, tomando por base as Resoluções CNE/CP 1, de 18 de Fevereiro de 2002, e a CNE/ CP2, de 19 de Fevereiro de 2002 que, respecti- vamente, instituíram as diretrizes e a carga ho- rária dos cursos de forqmação de professores para a Educação Básica em nível superior. Com a reforma de ensino pós LDB nº 9394/96, a formação dos profissionais da edu- cação introduziu no cenário brasileiro uma nova compreensão do professor e da sua for- mação, determinando para isto, entre outras medidas, a criação de novas instâncias para a formação (como o Instituto Superior de Educa- ção e o Curso Normal Superior) e o desenvol- vimento de competências profissionais como conteúdo (FRIGOTTO, 2001, p. 1). Com a criação dos Institutos Superiores de Educação (ISE), o Estado, de certo modo, tira a responsabilidade das instituições universitárias pela formação de professores. No interior de uma política que diferenciou e hierarquizou o Ensino Superior, os ISEs foram instituídos como local preferencial para a formação desses pro- fissionais. De acordo com a LDB: Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: I cursos formadores de profissionais para a Educação Básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a Educação Infantil e para as primeiras séries do Ensino Fundamental; II programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de Educa- dica Já regulados pela Resolução 01/99 do Conselho Nacional de Educação (CNE), os Institutos Superiores de Educação foram defini- dos no contexto de um conjunto significativo de alterações no Ensino Superior brasileiro, for- muladas no âmbito do governo, como a que decorreu do Decreto 2.306 de 1997, que regulamentou a exis- tência de uma tipologia inédita para o sistema quanto à sua organi- zação acadêmica. As instituições de Ensino Superior passaram, então, a ser classifica- das em: Universidades, Centros Universitários, Faculdades Integradas, Faculdades e Institutos Superiores ou Escolas Superiores, instau- rando-se indesejável distinção não apenas entre universidades de pesquisa e univer- sidades de ensino, mas entre Ensino Superior universitário e não universitário. Certamente não por acaso, estabeleceu-se como local privilegiado para a formação dos docentes o nível mais baixo dessa hierarquia, uma solução que, in- dependentemente do setor ao qual se vincula (pública, particular, co- munitária), deverá ser a mais barata em todos os sentidos. 22 UAB/Unimontes - 6º Período ção Superior que queiram se dedicar à Educação Básica; III programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis. (BRASIL, LDB, 9394/96) Quando se discute a formação docente em todos os níveis de ensino, não se deve dei- xar de questionar o que significa ser professor em tempos marcados pela transitoriedade dos discursos e pela desconstrução de uma imagem social de escola, sobretudo, a partir do momen- to em que se deslegitima a educação como um direito sócio-cultural. Não podemos esquecer que no contexto de competição, a escola passa a ser uma alavanca para entrar numa economia do conhecimento competitiva e dinâmica, tornando o magistério uma profissão que requer maior controle técnico. De acordo com Gatti (2000, p. 1), [...] os administradores públicos, em diferentes níveis, não tem contemplado a educação e a careira dos professores com políticas coerentes com as necessi- dades de um país que se quer socialmente avançado. Ainda é baixa a consci- ência política em relação à importância social dos professores no quadro do desenvolvimento do país e de seu enquadramento na conjuntura mundial. Embora em nosso país já exista Fundo para o Desenvolvimento da Educação Básica – FUN- DEB (Lei 11.194 de 20/06/2007), Lei de Piso Salarial Nacional (Lei 11.738 de 16/07/2008) para os professores, e observando ainda, que as Diretrizes apontam como desafio tornar a formação de professores uma formação de alto nível, quando busca proporcionar “atendimento as demandas de um exercício profissional específico que não seja uma formação apenas acadêmica, devendo possuir mais que conhecimentos sobre seu trabalho” (DCN, 2001, p. 28), ou seja, deve dominar competências. 2.4 Formação inicial e continuada dos profissionais da educação Estamos chamando de formação inicial a que o professor recebe na graduação (forma- ção mínima exigida para o ingresso na carrei- ra), uma vez que a LDB em seu artigo 62 afirma que a formação dos docentes para aturarem na Educação Básica far-se-á em cursos de su- periores de licenciatura. Existem alguns autores que entendem que a formação inicial é a que o sujeito recebe desde que ingressa no processo de formação, ou seja, desde que ingressa na escola. Nessa nossa discussão consideraremos como a for- mação recebida nos cursos de graduação. Na formação inicial, os educadores adqui- rem competências para desempenhar a ativi- dade profissional, e a dinâmica da formação destes articula-se na dialética entre formação básica ou inicial e formação continuada ou permanente. Em suma a formação inicial confere quali- ficação profissional para a docência, dentre os seus objetivos podemos citar: • A formação pessoal, social e cultural; • A formação científica na especialidade; • A formação científica no domínio da pe- dagogia-didática; • O desenvolvimento de capacidades e ati- tudes de análise crítica, de investigação e inovação pedagógica; • O desenvolvimento de competências no exercício da prática pedagógica.Entendemos a formação continuada como um processo que se desenvolve ao lon- go da carreira profissional, pode se prolongar por toda uma vida, portanto, não se evidencia a dicotomia formação inicial e formação conti- nuada, aplicada de diferentes formas. A formação continuada é também com- preendida como formação permanente, pessoal e profissional, pois cria espaços de discussões, e investigação das questões edu- cacionais experimentadas, abre um canal de diálogo com as dificuldades de ser educador num contexto social em transformação. Esta formação, na maioria das vezes, ocorre por meio de cursos de pós-graduação (lacto-sensu, strictu-sensu), cursos de sensibili- zação, de extensão e ou aperfeiçoamento. Pode-se desenvolver na em universidades, centros ou núcleos de formação e apresentam carga horária diferenciada presencial ou a dis- tância e podem ocorrer momentos distinto. DICAS - FUNDEB acesse: www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ ato2007.../L11494.htm - PISO SALARIAL NA- CIONAL Acesse www.planalto. gov.br/ccivil_03/_ ato2007.../lei/l11738. htm 23 Pedagogia - Gestão dos Processos Formativos na Educação Básica A formação continuada pode ser enten- dida também como um processo de aprendi- zagem e de reflexão, ela é importante para se construir e manter uma educação de qualidade. Considerando as transformações constan- tes da sociedade contemporânea, a formação continuada adquiriu maior importância, uma vez que a escola e os seus profissionais não podem ficar aquém a essas transformações. A formação continuada pode ser vivi- da através de cursos de atualização ou de capacitação, estes são importantes para a formação do professor, embora o docente e a escola não possam restringir a formação continuada a tais cursos ou à participação em eventos da área, porque precisamos enten- der que essa formação significa um processo contínuo, onde os profissionais da educação devem encontrar-se em formação no e fora do seu espaço de trabalho, e isso é parte inerente das práticas escolares, propiciando ações reflexivas e críticas. Não podemos compreender a formação continuada desvinculada da formação inicial, tan- to no que se refere à formação para a docência como para a gestão. E em ambas o docente pre- cisa da atitude reflexiva para se formar. Assim sendo, a prática desenvolvida no decorrer do processo de formação deve possi- bilitar não só o contato com a realidade esco- lar e a aquisição de habilidades, mas a reflexão sobre as práticas desenvolvidas, em articula- ção com as concepções teóricas, discutidas nos cursos de formação de professores. Considerando a escola como um espa- ço educativo e na medida em que desenvol- ve uma gestão democrática e participativa, compromissada com um processo educativo volta-se para a emancipação do ser humano. Não podemos desconsiderar a importância da participação de toda a comunidade escolar no planejamento das atividades, a relação com a comunidade externa, na construção do proje- to pedagógico da escola, oportunizando um constante aprendizado e o compromisso com o trabalho como um todo, indo além da do- cência em sala de aula e participando da cons- trução de um espaço que propicia a reflexão, a investigação e a construção de uma escola de- mocrática, assim reafirmando a lógica de uma gestão participativa, tão necessária à gestão dos processos formativos. Na escola, é recomendável que o proces- so de formação continuada seja desenvolvido envolvendo todos os profissionais, inseridos no mesmo contexto escolar, possibilitando a execução na prática do que foi refletido e es- tudado teoricamente. A reflexão crítica sobre a prática docente, tão importante para a escola, leva os professores a se envolverem num processo de aperfeiçoamento coletivo para uma atuação docente também coletiva, capaz de contribuir com o desenvol- vimento e a transformação da escola e da sociedade. A reflexão que se dá no processo de formação continuada dos profissionais da educação promove o desenvolvimento de conhecimentos que se integram no contexto escolar, oportunizando a construção de novos saberes e competências essenciais para o desenvolvimento da prática docente. Em virtude das conexões estabelecidas entre formação e atuação profissional,apresenta-se a necessidade de elevar o nível e a sintonia entre educação,trabalho e cidadania em um processo de for- mação que se estende por toda a vida, ou seja, de educação continuada capaz de viabilizar a construção coletiva e progressiva de uma sociedade mais huma- na, mais justa e igualitária, ou seja, mais democrática, mais inclusiva e mais éti- ca. (GISI E EYNG, 2006 p. 42-43) Para Nóvoa (1995, p. 28), o “desenvolvimento profissional dos professores tem de estar arti- culado com as escolas e seus projetos”. Entendemos com isso que a formação continuada, con- cebida como protagonista das transformações nesse espaço educativo, precisa interagir cons- tantemente com as mudanças dos processos pedagógicos em que o projeto da escola precisa expressar as necessidades do contexto no qual está inserido. Em suma a formação continuada deve ter em vista: • Promover a atualização e aperfeiçoamento da atividade profissional; • A investigação aplicada e a divulgação da inovação educacional; • Adquirir novas competências, como a especialização nos diferentes domínios que o sistema educativo prevê; • Desenvolver a autoaprendizagem. Finalizando esse tópico de discussão percebemos que a formação continuada no interior das instituições ainda é uma conquista para alternativas cada vez mais qualificadas do trabalho do professor. A constituição desses espaços demonstra a complexidade desse processo e a im- portância que tem no crescimento profissional dos professores em que as políticas de formação continuada devem cada vez mais incentivar e qualificar essas experiências. 24 UAB/Unimontes - 6º Período Referências AZEVEDO, J. M. L. A educação como política pública. 2. ed. Campinas: Autores Associados, 1996. BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394/96. Brasília. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. Acesso em 03/04/2011 BRASIL, Ministério da Educação. Portal do MEC. Brasília, 2011. Disponível em <Http://www.mev. gov.br> Acesso em 03/06/2011. BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes Cur- riculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Brasília, DF: MEC/CNE, 2001. BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CP/CNE 02/2002b. Institui a duração e a carga ho- rária dos cursos de licenciatura, de graduação plena, de formação de professores da Educação Básica em nível superior. Brasília. Disponível em: <http://www.mec.gov.br>. BRASIL Ministério da Educação. Parecer CP/CNE 009/2001.Brasília. Disponível em: <http://www. mec.gov.br>. BRASIL. Decreto-lei n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946. Disponível em <HTTP:// www.soleis.adv.br> BRASIL. Lei n. 5.692/71, de 11 de agosto de 1971. Brasília, Diário Oficial de 12/08/1971. 1971 BRASIL-MEC-CFE “Parecer n. 349/72”. Documenta, n. 137, abril de 1972, p. 155-173. FRIGOTTO, G. Educação e trabalho: bases para debater a educação profissional emancipadora. Perspectiva, Florianópolis: CED/UFSC, v. 19, n. 1, p. 71-87, 2001. GATTI, Bernardete Angelina. Formação de professores e carreira: problemas e movimentos de renovação. 2. ed.Campinas, SP: Autores Associados, 2000. GISI, Maria Lourdes ; EYNG ,Ana Maria. 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E, nesta unidade III, a nossa proposta é chamar a atenção para os perfis profissionais, papéis e atri- buições dos diversos segmentos que compõem a unidade escolar, bem como o compromisso do coletivo da escola com a formação para a cidadania. A LDB 9394/96 em seu artigo 61 menciona os profissionais da educação. Em 2009 com Lei Nº 12.014, de 6 de agosto de 2009 foi sancionada pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva com a finalidade de discriminar as categorias de trabalhadores que devem ser considera- dos profissionais da educação: LEI Nº 12.014, DE 6 DE AGOSTO DE 2009. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º. O art. 61 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: “Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar básica os que, nela es- tando em efetivo exercício e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência na educa- ção infantil e nos ensinos fundamental e médio; II – trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia, com habi- litação em administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação edu- cacional, bem como com títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de curso técnico ou su- perior em área pedagógica ou afim. Parágrafo único. A formação dos profissionais da educação, de modo a atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica, terá como fundamentos: I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento dos fun- damentos científicos e sociais de suas competências de trabalho; II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios supervisionados e ca- pacitação em serviço; III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.” (NR) Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 6 de agosto de 2009; 188º da Independência e 121º da República. LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Fernando Haddad. (BRASIL, 2009) Considerando as preocupações das políticas públicas educativas e dos atores educativos envolvidos, acreditamos que as organizações escolares aproveitem os conhecimentos da realida- 26 UAB/Unimontes - 6º Período de prática. De acordo com Miguel Russo (2004), criarem seus processos administrativos pedagó- gicos, considerando seus próprios processos pedagógicos e remetendo assim a uma escola refle- xiva que transforma sua prática em práxis através da criação e da reflexão. Essa práxis contribui para configurar uma visão de sociedade, de educação, de formação e de políticas educacionais. 3.2 Os profissionais da educação e suas atribuições Como já dissemos pensar a gestão dos processos formativos é também pensar que essa só se efetiva com a ação comprometida/competente dos profissionais da educação. Nesse item vamos apresentar as atribuições de cada uma das categorias de profissio- nais da educação. 3.2.1 Diretor ou gestor escolar Discutir a administração da escola em um contexto de gestão democrática e participativa exige um Diretor (gestor escolar) com postura fle- xível e não autoritária. O gestor para esse contexto deve aliar co- nhecimento, habilidade, jogo de cintura e até ousadia. Não deve se intimidar em inovar, em arriscar-se para obter sucesso em seus empreen- dimentos. O Gestor Escolar tem diversas atribuições: administrativas, pedagógicas e sociais como afir- ma Lück(1985). A seguir, as principais atribuições do dire- tor escolar são: • Cumprir e fazer cumprir a legislação em vigor; • Responsabilizar-se pelo patrimônio público escolar recebido no ato da posse; • Coordenar a elaboração e acompanhar a im- plementação do Projeto Político Pedagógico da escola, construído coletivamente e apro- vado pelo Conselho Escolar; • Coordenar e incentivar a qualificação perma- nente dos profissionais da educação; • Implementar a proposta pedagógica do es- tabelecimento de ensino, em observância às Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais; • Coordenar a elaboração do Plano de De- senvolvimento da Escola (PDE) e do Pla- no de Ação e submetê-lo à aprovação do Conselho Escolar; • Convocar e presidir as reuniões do Con- selho Escolar, dando encaminhamento às decisões tomadas coletivamente; • Elaborar os planos de aplicação financeira sob sua responsabilidade, consultando a comunidade escolar e colocando-os em edital público; • Prestar contas dos recursos recebidos, sub- metendo-os à aprovação do Conselho Esco- lar e fixando-os em edital público; • Coordenar a construção coletiva do Re- gimento Escolar, em consonância com a legislação em vigor, submetendo-o à pre- cisão do conselho escolar e, após, enca- minhá-lo aos órgãos competentes para a devida aprovação; • Garantir o fluxo de informações no esta- belecimento de ensino e deste com os ór- gãos da administração estadual; • Encaminhar aos órgãos competentes as propostas de modificações no ambiente escolar, quando necessário, aprovadas pelo Conselho Escolar; • Deferir os requerimentos de matrícula; • Elaborar, juntamente com a equipe pedagó- gica, o calendário escolar, de acordo com as orientações da Secretaria de Estado da Edu- cação, submetê-lo à apreciação do Conselho Escolar e encaminhá-lo ao órgão competen- te para homologação; • Acompanhar, juntamente com a equipe pe- dagógica, o trabalho docente e o cumpri- mento das reposições de dias letivos, carga horária e de conteúdo aos discentes; • Assegurar os cumprimento dos dias letivos, horas-aula e horas-atividades estabelecidos; • Promover grupos de trabalho e estudos ou comissões encarregadas de estudar e propor alternativas para atender aos pro- blemas de natureza pedagógico-adminis- trativa no âmbito escolar; • Propor à Secretaria de Estado da Educa- ção, Superintendências Regionais de En- sino após aprovação