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Capítulo 2'1 ;;r/ Ciência antiga e medieva $ ~ ü (/) w ;i o ~ (!) w o w o "' o üi a: w > z :::J "' o "' ü w o :J "' iii (/) w ~ ~ § ~ a: "' a: "' :J 1- ~ ~ ::;; w 8 ii' "' w J: 1- Detalhe de iluminura medieval (1385) que mostra Boécio ensinando seus disclpulos. Como senador romano, Boécio foi preso e condenado à morte sob a acusação de traição. Enquanto estava na prisão escreveu A consolação da filosofia . A propósito da conquista da Grécia pelos romanos no século li a.C., o poeta Horácio comentou que "a Grécia conquistada conquistou o feroz vencedor". Ou seja, a cultura grega foi apropriada pelos latinos. No século V d.C., inicio da Idade Média, viveu o erudito Severino Boécio (LJB0-52l.J), considerado "o último dos romanos e o primeiro dos escolásticos". Conhecedor de grego e latim, era leitor dos clássicos gregos, principalmente de filosofia. Divulgou a obra de Platão e traduziu textos de lógica de Aristóteles. Por sua vez, os cristãos adaptavam à fé a herança greco-romana pagã. Veremos neste capitulo como a filosofia grega expandiu-se, assumindo contornos diferentes no decorrer do tempo. ~ 292 Unidade 6 ·Filosofia das ciências ~ .IJ e ·~ ~ .IJ ~ .IJ o "i "' ·~ -J c ~ 0.. o .<? ~ .g ~ ~ ~ ·~ i 1 {i D Filosofia e ciência A filosofia surgiu na Grécia por volta dos séculos VII e VI a.C., mais propriamente nas colônias gregas da Jônia e da Magna Grécia. Conhecida como filosofia pré-socrática, representou um esforço de raciona- lização para desvincular-se do pensamento mítico. Caracterizou-se pelas questões cosmológicas, por especular a respeito da natureza do mundo físico e de sua origem (a arkhé), o princípio de todas as coisas. Naquele período, filosofia e ciência estavam vin- culadas: era o "filósofo natural" que se debruçava sobre questões científicas porque a ciência grega ainda não tinha um método próprio. D Geometria e medicina Nas civilizações mais antigas do Egito, da Índia e da China, já havia referências a diversas propriedades geométricas, sempre visando à aplicação prática. Foram os gregos pré-socráticos que, por meio de demonstrações racionais, desenvolveram a geome- tria de forma abstrata. Tales de Mileto (c.620-c.546 a.C.), matemático e astrônomo, é considerado o mais antigo filósofo. A artista norte-americana Marion Orennem prestou uma homenagem a Pitágoras. Na obra, sem título, há a inscrição "O número regula o Universo". Pitágoras demonstrou o teorema que leva seu nome e generaliza a seguinte relação, válida para todo triângulo retângulo: "O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos catetos". Tales teria também calculado a altura de uma pirâmide comparan- do a sombra dela com a sombra de uma estaca de madeira. Como não deixou nada escrito, o que conhecemos dele são relatos de outros autores, havendo muita discrepância e lendas em torno de suas teorias e atuação. É atribuída a ele a demonstração dos triân- gulos semelhantes: dois triângulos são congruentes quando as medidas de dois ângulos e do lado com- preendido entre eles são exatamente as mesmas. Como astrônomo, teria previsto um eclipse solar. Outro filósofo pioneiro da geometria foi Pitágoras de Sarnas (c.570-c.495 a.C.), para quem o número é a arkhé de todas as coisas, o princípio de onde deriva a harmonia da natureza. Demonstrou vários teore- mas e estudou as relações proporcionais entre os diferentes comprimentos de uma corda, bem como as alterações de tensão ou espessura que mudam os sons emitidos pela lira. Com a medicina ocorreu semelhante processo de racionalização da prática, ao desvincular-se tanto quanto possível das superstições e da magia, a partir da atuação de Hipócrates de Cós (século V a.C.), conhecido como o "pai da medicina". Com seus colegas e discípulos, elaborou o Corpus Hipocraticum (Coleção Hipocrática), título latino da obra que contém a identificação de várias doenças e formas de trata- mento, além da orientação para uma vida saudável. Hipócrates observou os efeitos do clima e do meio ambiente na saúde e desenvolveu a doutrina dos humores (ou líquidos corporais), que foi aceita até o século XVII. Ainda hoje ele é lembrado no tradicional "juramento hipocrático", o comprometimento ético dos profissionais da saúde no exercício de sua atividade. Platão Mais explicações sobre a teoria das ideias de Platão poderão ser encontradas no capítulo 10, "A busca da verdade". A concepção científica de Platão (428-347 a.C.) baseia-se na teoria das ideias. Para ele, a razão tem dificuldade em atingir o verdadeiro conhecimento por causa da deformação que os sentidos inevitavelmen- te provocam. Por esse motivo, cabe à razão depurar os enganos, para que se possa ter a verdadeira con- templação das ideias. O propósito de Platão é elevar o conhecimento da simples opinião até a ciência, o conhecimento do ser verdadeiro. No pórtico da Academia de Platão existia os seguintes dizeres: "Não entre aqui quem não sou- ber geometria". Para o filósofo a matemática era fundamental para tornar possível o conhecimento. A matemática descreve as realidades não sensíveis e é capaz de se dissociar dos sentidos e da prática. E, na geometria, a figura sobre a qual raciocinamos não depende da figura sensível que representa. Por exemplo, uma bola real é sempre imperfeita, enquan- to a ideia de esfera é abstrata e perfeita. Ciência antiga e medieval · Capitulo 2~ 293 C ) O Timeu As teorias cosmológicas, físicas e fisiológicas de Platão encontram-se sobretudo no diálogo Timeu, que provavelmente não se destinava ao público leigo, mas a iniciados, daí as inúmeras interpretações a que deu margem, no decorrer do tempo, inclusive a elocubrações astrológicas. Para os gregos antigos a matéria é eterna, não criada, e Platão atribui a um .OemLurgp, princípio di- vino que organiza a matéria preexistente, a função de pôr ordem no caos inicial. Em algumas passagens, esse princípio é associado à ideia do bem e, como tal, é o fim último para onde tendem todas as coisas na busca da perfeição. Para transformar o caos em cosmo o Demiurgo contempla os modelos do mundo das ide ias para criar a Alma do Mundo. Isso significa que, para Platão, o mundo sensível é uma cópia im- perfeita do mundo inteligível. Demiurgo. Do grego demiourgós, "artista", "arte- são". Para Platão, trata-se do "artesão do mundo". Cosmo. Do grego kósmos, "ordem", "harmonia", "beleza". Na síntese científica levada a efeito no Tímeu, Pia- tão incorpora observações pessoais e conhecimentos recolhidos de seus contemporâneos e também de anteriores, sobretudo de Empédocles e dos pitagó- ricos. O professor Marco Zingano realça o fascínio do esforço intelectual de Platão no período em que a reflexão sobre a ciência se iniciava. Mas completa: ~ <( º ~ 8 w o <( o ti 6 ::: ü ;:: <( > 8 <( ü w >-o :J "' ãi (..- ,.._.., .. ·, I - kotU"~- ... ~ ........ -'~-~--·~~·--Ao:,..,..,,,.,..,.... ~~~~7~.,:;~;:..-:: ...., --r•-,..:--'~.......,., ..... ~---V.I-~~ -.....w-~-~..;...~~.-..:,_......._.l.,;,,..,._, ~~.t..r--.....-.~·"-"-,_ ... ~.J..tL,..;.... l.,..ó.. . ~ ..... 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Seu legado é, assim, duplo. De um lado, a aventura da ciência teve nele um momento extraordinário, que a marcou, aliás, por vários séculos. A razão tem nele seu primeiro e infatigável elogio. Por outro lado, Platão foi longe demais, exigindo de si e de seus discípulos um certo desprezo do mundo da experiência que terminou por impedir um maior desenvolvimento." ZINGANO, Marco. Platão e Aristóteles: o fascfnio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2002. p. 58. I) Aristóteles Aristóteles (384-322 a.C.), discípulo de Platão, recusou o mundo separado das ideias platônicas, voltando-se para a realidade concreta. Tampouco deu continuidade à valorização da matemática como instrumento indispensável para alcançar a ciência, porque a matemática só nos diz sobre a quantidade, ~ mas não explica a natureza das coisas. Valorizou a observação, habilidade por ele desenvolvida nos es- tudos de zoologia, e aperfeiçoou a lógica, instrumento intelectual para garantir o rigor de sua argumentação. Sobre lógica, consulte o capítulo 9, "A lógica". ) A física aristotélica O termo grego physis, que traduzimos por "física", significa propriamente "natureza", por isso não deve ser confundido com o que hoje entendemos pela ciên- cia de mesmo nome. Refere-se a tudo o que atualmen- te denominamos física, biologia, química, geologia etc., ou todos os seres da natureza em movimento. Manuscrito medieval de uma tradução para o latim do diálogo Timeu, de Platão, escrito por volta de 360 a.C. Participam desse diálogo Sócrates, Crftias, Timeu e Hermócrates, embora seja Ti meu quem discorre sobre o "mito verossfmil" do cosmo, desde a gênese do Universo até a descrição da natureza humana do ponto de vista ffsico e moral. ) A teoria do lugar natural Segundo Aristóteles, o movimento é a transição do corpo que busca o estado de repouso, no seu lugar natural. Recorre à teoria dos quatro elementos de Empédocles (terra, água, ar e fogo) para explicar como os corpos se encontram em constante movi- mento retilíneo em direção ao centro da Terra ou em sentido contrário a ele. Ou seja: • os corpos pesados (graves), como a terra e a água, tendem para baixo, pois esse é o seu lugar natural; • os corpos leves, como o ar e o fogo, tendem para cima. Com base nessa teoria, Aristóteles explica a queda dos corpos: um corpo cai porque sua essência é ten- der para baixo e seu movimento só é interrompido se algo impedir seu deslocamento. Pa ra os gregos, não havia necessidade de explicar o repouso , pois a própria natureza do corpo o justifica. O que para eles precisa ser explicado é o movimento violento (ou forçado), porque, nesse caso, a ordem natural - de tudo tender ao repouso- é alterada pela aplicação de uma força exterior. Enquanto o movimento natural é o da pedra que cai , do fogo que sobe, o movimento violento é o da pedra lançada para cima, da flecha arremessada pelo arco. Esse movimento necessita, durante toda sua duração, de um motor unido ao móvel, já que, suprimido o motor, o movimento cessará. No detalhe de A escola de Atenas (1509-151Dl, afresco de Rafael Sanzio, vemos Platão apontando para o alto - o mundo das ideias- e Arist óteles indica ndo a rea lidade concreta. ) A biologia Embora a ciência de Aristóteles tenha sido mais valorizada pelas suas contribuições no campo da física e da astronomia, é preciso fazer justiça aos cuidadosos estudos de zoologia, resultado de via- gens em que observou atentamente um número grande de animais. As descrições dos animais decorreram não só da observação, mas também de práticas de disse- cação para estudar suas estruturas anatômicas. Classificou cerca de 540 espécies de animais e estabeleceu relações entre elas. Devemos a Aristóteles a descrição da evolução embrionária do pinto, os costumes das abelhas, o acasalamento dos insetos. Ele reali zou inúmeras observações sobre a vida marinha e concluiu que a baleia é um mamífero. Ao interpretar a ordem da natureza, Aristóte- les desenvolveu uma concepção te I ' i a. Ou seja, na natureza, todos os seres têm um fim, um desígnio. Por exemplo, os seres vivos tendem a atingir a forma que lhes é própr ia e o fim a que se destinam. Do mesmo modo, a semente tem em po- tência a árvore que virá a ser, as raízes adentram no solo com o fim de nutrir a planta, os patos têm pés com membranas porque têm como fim nadar. A concepção teleológica foi aceita até as des- cobertas da ciência moderna, sobretudo com Charles Darwin. ft ETIMOLOGIA Teleologia. Do grego télos, "fim". No contexto, expl icação pelos f ins. Não confundir com teolo- gia, "estudo de Deus". ) A astronomia: o cosmo hierarquizado A observação do movimento dos astros é muito antiga. Povos como os babilônios já manifestavam esse interesse dois ou três mil anos antes de Cristo. Foram os gregos que, pela primeira vez, explicaram racionalmente o movimento dos astros e procura- ram entender a natureza do cosmo. Apesar da ênfase grega na razão , persistia ainda certa mística nessas explicações, porque, ao associar a perfeição ao repouso, a cosmologia grega desenvolveu uma concepção estática do mundo. Diferentemente da física , na qual prevalecia a noção de movimento como imperfeição, os corpos celestes são considerados perfeitos. Ciência antiga e medieval· Capitulo 2q 295 C Os gregos privilegiavam o círculo como forma perfeita, diferente do movimento retilíneo dos imperfeitos corpos terrestres. O movimento circular não tem início nem fim porque volta sobre si mesmo e continua sempre, é movimento sem mudança. Acrescente-se a isso a concepção do Universo fini- to, limitado pela esfera do Céu, fora do qual não há lugar nem vácuo e nem tempo. Contudo, de onde viria o movimento inicial? Se- gundo Aristóte les, Deus é o Primeiro Motor Imóvel que determina o movimento da última esfera, a esfera das estrelas fixas, transmitido por atrito às esferas contíguas, até a Lua, na última esfera interna. No centro encontra-se a Terra, imóvel. O modelo geocêntrico e a hierarquização do cosmo Na astronomia da Antiguidade e da Idade Média prevaleceu o modelo geocêntrico, da Terra imóvel no centro do Universo. Essa tradição começou com Eu- doxo (século IV a.C.), um dos discípulos de Platão. Foi confirmada por Aristóteles e mais tarde por Cláudio Ptolomeu (século IIJ. Mapa celeste (l660-l66ll, de Andreas Cellarius, publicado por Johannes Janssonius, em Amsterdã. O modelo geocêntrico de Ptolomeu: esférico, finito , contornado pela esfera das estrelas fixas. Outra característica importante na cosmologia aristotélica é a hierarquização do cosmo: o Céu tem uma natureza superior à da Terra. Sob essa perspec- tiva, o Universo está dividido em: • mundo supralunar- constituído pelos Céus, que incluem, na ordem, a Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter, Saturno e, finalmente, a esfera das estrelas fixas; os corpos celestes são constituí- dos pelo éter (que não se confunde com a subs- tância química hoje conhecida); sua natureza é 296 Unidade 6 ·Filosofia das ciências cristalina, inalterável, imperecível, transparente e imponderável ; o éter é também chamado de quinta-essência, em contraposição aos quatro elementos; os corpos celestes são incorruptíveis, perfeitos, não sujeitos a transformações; o movi- mento das esferas é circular, que é o movimento perfeito; • mundo sublunar- corresponde à região da Terra que, embora imóvel, é o local dos corpos em cons- tante mudança, portanto perecíveis, corruptíveis, sujeitos a movimentos imperfeitos, como o retilí- neo para baixo e para cima; os elementos consti- tutivos são os quatro elementos (terra, água,ar e fogo). ) Considerações sobre Aristóteles A física aristotélica é qualitativa, porque construí- da sobre os princípios que definem as coisas, a partir dos quais são deduzidas as consequências. Trata-se da valorização do método dedutiva, cujo modelo de rigor encontra-se na matemática. Apesar disso, os gregos não matematizaram a física, com exceção de Arquimedes, como veremos. Embora tenha feito observações pertinentes, Aristóteles não recorreu à experimentação, fato que pode ser entendido pela resistência dos gregos em utilizar as técnicas ma- nuais em áreas de investigação para ele restritas ao saber puramente teórico. Ao enveredar pela procura das causas, a ciência antiga desembocou na discussão metafísica da essência dos corpos. Por isso, essa ciência é propria- mente filosófica, baseada em princípios metafísicos e centrada na argumentação. D Alexandria e a escola helenística Quando a Grécia foi conquistada pelos macedô- nios, em 338 a.C., teve início um processo de inte- ração cultural denominado helenismo. Ao expandir as fronteiras do império, Alexandre Magno levou a cultura grega para pontos distantes, ao mesmo tempo que possibilitou as influências orientais no Ocidente. Após a divisão do império de Alexandre, foi funda- do em Alexandria, na foz do Nilo, um avançado centro de estudos. Constituído por escolas de diversas ciências, um museu e a famosa biblioteca, que por muitos séculos atraiu intelectuais proeminentes de vários locais do mundo antigo. A biblioteca de Alexan- dria, centro cultural do helenismo, sofreu diversos danos, desde um incêndio no século I a.C. a saques ao longo dos tempos, até ser totalmente destruída no século VII. ) Euclides e Arquimedes: geometria e mecânica Logo de início destacou-se a contribuição de Eucli- des, que, de 320 a 260 a.C., fundou e dirigiu a escola de matemática em Alexandria. Com a obra Elementos, sistematizou o conhecimento teórico. dando-lhe os fundamentos ao estabelecer os princípios da geometria, os conceitos primitivos e os postulados. Os conceitos primitivos são o ponto, a reta e o pla- no, que não se definem, enquanto os postulados são enunciados que devem ser aceitos sem demonstra- ção, por exemplo: "uma linha reta pode ser traçada de um para outro ponto qualquer". Tais princípios constituem o ponto de partida sobre o qual se cons- trói o edifício teórico de qualquer demonstração. ~ PARA SABER MAIS No século XIX alguns matemáticos construíram as chamadas geometrias não euclidianas, cujos princípios contradizem os postulados da geome- tria plana de Euclides. Leia mais no capitulo 25, "A revolução científica: as ciências da natureza". A mecânica foi outra ciência que se desenvol- veu no centro cultural de Alexandria. Suas bases foram estabelecidas por Arquimedes (287-212 a.C.), nascido na Sicília, e que teria passado um tempo em Alexandria. A fama de Arquimedes nos remete a acontecimentos interessantes, embora muitos deles envoltos em lendas. Para defender Siracusa, quando assediada pelos romanos, Arquimedes teria construído engenhos mecânicos (catapultas) para lançar pedras e teria também incendiado navios por meio de um sistema de lentes de grande alcance. Os artefatos de Arquimedes passaram da dimen- são puramente técnica ou prática para a especulação teórica e científica ao ser descoberto o princípio da hidrostática (lei do empuxo), um dos princípios funda- mentais da mecânica. Além disso, redigiu um tratado de estática, formulou a lei de equilíbrio das alavancas e fez estudos sobre o centro de gravidade dos corpos. ~ PARA SABER MAIS Se você quiser conhecer o relato provável da maneira pela qual Arquimedes teria descoberto o princípio da hidrostática, consulte o capítulo 7, "O que podemos conhecer?". Galileu viu em Arquimedes o único cientista verda- deiro da Grécia, por ter revelado aspectos fundamen- tais da experimentação moderna: realizou medidas sistemáticas, determinou a influência de cada fator que atua no fenômeno e enunciou o resultado sob a forma de lei geral. No entanto, não podemos esquecer que a utilização de instrumentos na fase de investigação e a aplicação prática das ciências, levadas a efeito por Arquimedes e outros sábios atuantes em Alexandria, constituem exce- ção na produção científica grega, que era mais voltada para a especulação racional e desvinculada da técnica. ) Ptolomeu e o geocentrismo O matemático, geômetra e astrônomo Cláudio Ptolomeu foi uma das últimas grandes personali- dades de Alexand r ia, já no século li da era cristã. Sua obra Almagesto representa o mais importante referencial da astronomia geocêntrica da Antigui- dade, que exerceria influência durante toda a Idade Média até ser contestada por Copérnico e Galileu. Os modelos astronômicos dos gregos eram geocêntricos, exceto o de Aristarco de Samos [310-230 a.C.), que propusera um revolucionário modelo heliocêntrico, nunca aceito e até conside- rado subversivo. D A ciência na Idade Média Com a queda do Império Romano do Ocidente (q76) e a implantação do modo de produção feudal, a cultura greco-romana quase desapareceu. Essa herança cultu- ral foi preservada nos mosteiros pelos monges, únicos letrados em um mundo onde a maioria não sabia ler. A religião cristã impôs-se como elemento agregador dos inúmeros reinos bárbaros formados após sucessivas invasões. Seus chefes pouco a pouco se converteram ao cristianismo, e a Igreja tornou-se soberana abso- luta da vida espiritual do mundo ocidental. Nesse panorama, conforme as obras de Platão e Aristóteles iam sendo traduzidas, preservava-se a concepção de ciência greco-latina. No período medieval, entretanto, o saber se vinculou aos inte- resses religiosos e se subordinou aos critérios da revelação, já que a razão humana devia se submeter ao testemunho da fé. A filosofia expressou-se no pensamento de teólogos que adaptaram o pensamento antigo à fé. Pode-se destacar dois períodos importantes: a patrística, com Agostinho de Hipona (século Vl. e a escolástica, com Tomás de Aquino (século XIII). Na patrística predominou a influência do neopla- tonismo e a de Aristóteles na escolástica. Ciência antiga e medieval ·Capítulo 214 297 C ) A herança grega A ciência medieval, influenciada pelo cristianis- mo, desprezou a herança helenística de Alexandria, bem como as pesquisas dos árabes, a que iremos nos referir adiante. Valorizando o conhecimento teórico em detrimento das atividades práticas, a ciência medieval continuou voltada para a discussão racional e permaneceu desligada da técnica e da pesquisa empírica. Gravura de Strasbourg (1516), mostrando o ábaco. Uma prancheta provida de bolas ou argolas usada para operações de cálculo, o ábaco é um instrumento que surgiu entre as mais antigas civilizações e que existe até hoje, com pequenas variações. Os instrumentos disponíveis eram rudimentares. Não havia sido inventado qualquer aparato para me- dir a temperatura ou para ampliar a visibilidade, e os dispositivos utilizados para medir o tempo não eram rigorosos, restringindo-se a ampulhetas, clepsidras (relógios de água) e relógios de Sol. ~ PARA SABER MAIS Na Idade Média, questões aparentemente simples, como a notação dos números, feita com os algaris- mos romanos, dificultava os cálculos. Por exemplo, a divisão de MDCXXXII por IV é impossível de ser resolvida sem o auxílio do ábaco. Já os algarismos arábicos, apesar de conhecidos desde o século X, só tiveram seu uso general izado após o Renascimento. Qual era o lugar da ciência no mundo medieval? Pelo que pudemos observar até aqui, houve relu- tância ou impossibilidade em incorporar a experimen- • 298 Unidade 6 ·Filosofia das ciências tação e a matematização das ciências da natureza, mesmo porque os recursos disponíveis da matemática ainda eram incipientes para que se procedesse à matematização do mundo físico. A retomada do pen- samento aristotélico reforçou a concepção qualitativada física, e a astronomia geocêntrica permaneceu como a última palavra até o século XVI. D Exceções à tradição As questões religiosas afastavam os filósofos das discussões referentes à natureza, mas algumas posições divergentes indicam pontos de ruptura que prepararam de certo modo a crise do modelo cientí- fico da tradição greco-medieval. Essas divergências podem ser compreendidas pela revitalização dos centros urbanos e pela expansão do comércio: a economia capitalista emergente iria necessitar de um outro saber, mais prático e menos contemplativo. Nesse processo destacaram-se o trabalho dos alquimistas e a atuação de frades franciscanos na Inglaterra. ) Os alquimistas A alquimia surgiu de especulações de artesãos metalúrgicos. Apesar da intolerância religiosa, essa prática era conhecida entre os árabes e no Ocidente cristão, tornando-se muito conhecida no século XIII. A alquimia foi responsável pelo desenvolvimento de noções sobre ácidos e seus derivados, pela desco- berta de novas substâncias químicas, pelo processo para a extração de mercúrio e pelas fórmulas para preparar vidro e esmalte, procedimentos que cons- tituíram o prelúdio da química. O saber oficial, contudo, sempre desdenhou essa atividade, por estar vinculada às práticas ma- nuais. Mesmo assim, as técnicas descobertas eram guardadas em segredo, e os documentos, de difícil leitura, estavam envoltos em uma aura mística. Mui- tas vezes as explicações teóricas .wJ.tÇ.O P...Q.!Jló[ficas conferiam às substâncias inorgânicas característi- cas de seres vivos, como se fossem compostos de corpo e alma. Jl ETIMOLOGIA Antropomórfico. Do grego ánthropos, "homem" e morphé, "forma", ou seja, o que toma forma e/ou assume atributos humanos. Os alquimistas acreditavam na transmutação, isto é, na transferência do espírito de um metal nobre para a matéria de metais comuns. Surgiu daí a busca da "pedra filosofai", que permitiria transformar qual- quer substância em ouro. A procura do "elixir da longa vida" foi outro projeto da alquimia medieval. Para a Igreja, essas práticas tinham um caráter herético e foram proibidas pelo Papa em 1317. A Inquisição perseguia os infratores com rigor e muitas vezes condenava-os à fogueira sob acusação de bruxaria. ~ ,~·~ ~::: Objeto educacional digital Orientações para o professor no livro digital ~~,,. A alquimia A Escola de Oxford Na Inglaterra, a Escola de Oxford representou a renovação da filosofia e das ciências medievais. Segundo alguns autores, a reintrodução das obras de Aristóteles, traduzidas pelos árabes, e de muitas outras no Ocidente deveu-se a Robert Grosseteste e aos seus seguidores franciscanos. Grosseteste (c.ll75-1253) viveu na Inglaterra e estimulou a mentalidade científica experimental na primeira metade do século XIII. Foi professor em diversas universidades, ensinando matemática e ciência natural, e escreveu textos sobre astronomia, som e óptica, campo em que desenvolveu uma teoria original sobre a luz. Estimulou a pesquisa, fez uma classificação das ciências e esboçou os passos do procedimento científico, como a observação, o levan- tamento de hipóteses e sua confirmação. ~) QUEMÉ? Roger Bacon (1214-1283), f iló- sofo inglês, estudou em Oxford sob a orientação de Robert Grosseteste e depois ensinou em Paris por dez anos. Conhecido como Ooctor Mirabi/is (Doutor Admirável), escreveu Opus Majus (Obra Maior), de caráter enci- clopédico, em que expõe suas ideias, aprofundadas em outros Roger Bacon dois livros. Retornando a Oxford (1650), gravura em 1275, ingressou na ordem de autor franciscana. Apesar de argumen- desconhecido. tar que "ver com seus próprios olhos" não é incompatível com a fé, não conseguiu demover os medievais da desconfiança gerada por qualquer tipo de experimentação. Como se interes- sava por astrologia e alquimia, sofreu várias per- seguições, tendo sido acusado de introduzir "novi- dades perigosas", nada enquadradas ao mundo escolástico, motivo pelo qual foi levado à prisão. Em Oxford, onde lecionou para frades francisca- nos, Roger Bacon foi o principal discípulo de Gros- seteste. Seguidor entusiasmado do mestre, Bacon aplicou o método matemático à ciência da natureza e fez diversas tentativas para torná-la experimental, sobretudo no campo da óptica. Embora sem compro- vação, parece que tanto Grosseteste como Roger Bacon utilizaram lentes de aumento e de diminuição para ajudar a vista fraca. D A contribuição árabe Os árabes exerceram longa e fecunda influência no continente europeu, cuja herança cultural até hoje pode ser constatada, sobretudo na bela região de Andaluzia, sul da Espanha. A expansão árabe na Europa teve início no sécu- lo VII, marcada pela religião islâmica, fundada por Maomé. Ocupou diversas regiões do Oriente Médio e, depois, todo o norte da África, alcançando o sul de Portugal e da Espanha no início do século VIII. Trouxeram a tradição do cultivo de estudos de óptica, geografia, geologia e meteorologia; criaram observatórios astronômicos, já conheciam a álgebra e faziam uso de algarismos, a nova notação de nú- meros assimilada dos indianos. Também traduziram obras de Platão, Aristóteles e Platina. Do século XI ao XV, os reis cristãos do norte da península hispânica pressionaram pouco a pouco os invasores até expulsá-los de seu último reduto, o reino de Granada, em 1L.t92. ) A filosofia árabe: Averróis Na península hispânica, foi notável a atuação de Averróis (século XII). Nascido em Córdoba, viveu em Sevilha e no Marrocos, foi médico, astrônomo e filósofo. Na discussão dos embates entre fé e razão conservou a mente aberta, defendendo uma ciên- cia laica e uma sociedade civil separada da Igreja. Respeitado comentarista de Aristóteles, Averróis foi responsável pela retomada do pensamento aristoté- lico no Ocidente cristão. Tomás de Aquino, o principal representante cris- tão da escolástica, deve a Averróis o primeiro contato com Aristóteles, cujas obras só então foram traduzi- das para o latim. No entanto, o chamado averroísmo foi motivo de perseguição pela Igreja, temerosa da influência de interpretações feitas pela versão árabe. A cultura árabe exerceu indiscutível influência no desenvolvimento da ciência, inclusive no Ocidente, no período do século VIII ao XII. Depois disso, a tensão que existia no islamismo entre pensamento racional e fé religiosa acabou pendendo para esta última. Pelo menos no período medieval, a pesquisa científica in- dependente ficou prejudicada, provocando a retração temporária da valiosa contribuição árabe. Ciência antiga e medieval· Capitulo 2q 299 C A mesquita de Córdoba deslumbra pela arquitetura e beleza de ornamentos. É tão grande que, no século XIII, após a reconquista cristã, uma pequena parte de suas colunas foi demolida para a construção de uma catedral gótica em seu interior. Foto de 2007. D A decadência da escolástica No final da Idade Média, a escolástica padecia com o autoritarismo de seus seguidores, o que pro- vocou nefastas consequências no pensamento filo- sófico e científico. Posturas dogmáticas, contrárias à reflexão, obstruíam as pesquisas e a livre investi- gação. O princípio da autoridade, ou seja, a aceitação cega das afirmações contidas nos textos bíblicos e nos livros dos grandes pensadores, sobretudo Aris- tóteles, impedia qualquer inovação. O rigor do controle da Igreja era exercido nos julgamentos do Santo Ofício (Inquisição), órgão que julgava as doutrinas consideradas heréticas e punia os transgressores. Foi trágico o desfecho do proces- so contra Giordano Bruno (sécu lo XVI), acusado de panteísmo, foi queimado vivo por defender com exal- tação poética a doutrina da infinitude do Universo e por concebê-lo como um conjunto que se transforma continuamente. A lembrança ainda recente desse acontecimento ta lvez tenha levado Galileu, no sécu- lo seguinte, a abjurar suas convicções, por temer o mesmo destino de Bruno. As estruturasrígidas defendidas na Idade Média podem ser comparadas à organização da Igreja, constituída por papa, cardeais, bispos etc. que, por sua vez, refletia-se na divisão da sociedade em reis, suseranos, vassalos e servos. Encontramos seme- lhanças desse modelo na astronomia medieval, que reproduz o desejo de permanência de uma ordem estabelecida: a hierarquia existiria na superiorida- de dos Céus sobre a Terra, o que nos leva a pensar como a ciência é uma construção histórica. A resistência dos inte lectuais que se opunham às mudanças seria rompida com o crescimento do poder econômico e político da burguesia e, concomi- tantemente, com o desenvolvimento do capitalismo comercial. No Renascimento, os escolásticos eram acusados de privilegiar o magister dixit, que em latim sig- nifica "o mestre disse". Discuta com seu colega como ainda hoje o princípio da autoridade é um risco que ameaça a autonomia do pensar. • • Discussão livre. O impulso para obedecer a uma autoridade de maneira dogmática, ou seja, sem crítica nenhuma, costuma reaparecer em situa- ções diferentes. Por exemplo, na aceitação de certezas do senso comum quando se diz "sempre foi assim" ... De maneira mais radical, o espírito da 3 O O . . . . _ . obediência cega reaparece nos governos autoritários e, de maneira mais sutil, na exaltação de uma Umdade 6 • Filosofia das c1enc1as corrente de pensamento a que se adere sem crítica, seja na política, seja na vida moral ou religiosa. LEITURA COMPLEMENTAR Um método para chegar a uma verdade provável No romance O nome da rosa, ambientado na Idade Média, mais precisamente em 1327, Umberto Eco conta a história de um franciscano inglês, Guilherme de Baskerville, e seu discfpulo, o noviço Adso, que chegam a um mosteiro dominicano na Itália a fim de inves- tigar o assassinato de vários frades. Guilherme é um filósofo e foi esta uma das inúme- ras conversas entre ele e seu discípulo. ,(J''Diante de alguns fatos inexplicáveis deves tentar imaginar muitas leis gerais, em que não vês ainda a cone- xão com os fatos de que estás te ocupando: e de repente, na conexão imprevista de um resultado, um caso e uma lei, esboça-se um raciocínio que te parece mais convin- cente do que os outros. Experimentas aplicá-lo em todos os casos similares, usá-lo para daí obter previsões, e des- cobres que adivinhaste. Mas até o fim não ficarás nunca sabendo quais predicados introduzir no teu raciocínio e quais deixar de fora. E assim faço eu agora. Alinho mui- tos elementos desconexos e imagino as hipóteses. Mas preciso imaginar muitas delas, e numerosas delas são tão absurdas que me envergonharia de contá-las. Vê, no caso do cavalo Brunello, quando vi as pegadas, eu imaginei mui- tas hipóteses complementares e contraditórias: podia ser um cavalo em fuga, podia ser que montado naquele belo cavalo o Abade tivesse descido pelo declive, podia ser que um cavalo Brunello tivesse deixado os sinais sobre a neve e um outro cavalo Favello, no dia anterior, as crinas na moita, e que os ramos tivessem sido partidos por homens. Eu não sabia qual era a hipótese correta até que vi o despenseiro e os servos que procuravam ansiosamente. Então compreendi que a hipótese de Brunello era a única boa, e tentei provar se era verdadeira, apostrofando os monges como fiz. Venci, mas também poderia ter perdido. Os outros consideraram-me sábio porque venci, mas não conheciam os muitos casos em que fui tolo porque perdi, e não sabiam que poucos segundos antes de vencer, eu não estava certo de não ter perdido. Agora, nos casos da aba- dia, tenho muitas belas hipóteses, mas não há nenhum fato evidente que me permita dizer qual seja a melhor. E então, para não parecer tolo mais tarde, renuncio a ser astuto agora. Deixa-me pensar mais, até amanhã, pelo menos.' Entendi naquele momento qual era o modo de racio- cinar do meu mestre, e pareceu-me demasiado diferente daquele do filósofo que raciocina sobre os princípios pri- meiros, tanto que o seu intelecto assume quase os modos do intelecto divino. Compreendi que, quando não tinha uma resposta, Guilherme se propunha muitas delas e muito diferentes entre si. Fiquei perplexo. 'Mas então', ousei comentar, 'estais ainda longe da solução .. . ' 'Estou pertíssimo', disse Guilherme, 'mas não sei de qual.' 'Então não tendes uma única resposta para vossas perguntas?' 'Adso, se a tivesse ensinaria teologia em Paris.' 'Em Paris eles têm sempre a resposta verdadeira?' 'Nunca', disse Guilherme, 'mas são muito seguros de seus erros.' 'E vós', disse eu com impertinência infantil, 'nunca cometeis erros?' 'Frequentemente', respondeu. 'Mas ao invés de conce- ber um único erro imagino muitos, assim não me torno escravo de nenhum.' " ECO, Umberto. O nome da rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1883. p. 350-351. Despenseiro. Encarregado da despensa, onde são guarda- dos os mantimentos. Apostrofar. No contexto, " interpelar", "interrogar". Outro trecho do romance foi citado no capítulo 1 O, "A busca da verdade". 11 Na obra ficcional do escritor italiano Umberto Eco, Guilherme é um frade franciscano . Tendo em vista o que lemos no capí- tulo, qual seria a orientação de Guilherme no que diz respeito à ciência? lEI Quando Guilherme responde que, se tivesse certezas, lecionaria teologia em Paris, está fazendo uma crítica ao modo pelo qual a ciência era encarada no seu tempo. Explique por quê. E1 Em que sentido o pensar do frade está mais próximo do que hoje se entende por ciência? Ciência antiga e medieval· Capitulo 2q 301 (C li~ ._. Revendo o capítulo .. Em que consiste para Aristóteles a teoria do lugar natu- ral? Que tipo de ciência decorre dessas explicações? lEI Com base na concepção grega da hierarquia do mundo sublunar e supralunar, explique por que a física e a astronomia aristotélicas constituem ciên- cias absolutamente diversas. IIJ Explique por que Arquimedes representa uma exce- ção na mentalidade científica antiga. IIIJ Sob que aspectos a ciência medieval identifica-se com as concepções gregas e em que medida delas se distancia? liJ Quais foram, na Idade Média, as exceções à tradição da ciência grega? Como a Igreja reagia a elas? ._. Aplicando os conceitos 11!1 Com base na citação, responda às questões. "Tal como em relação ao Egito, uma visão da me- dicina nos auxiliará a avaliar o conhecimento biológico dos mesopotâmios. Ela também empregava a magia e a adivinhação, pois os meios mágicos, assim como os científicos, eram usados no tratamento de moléstias ou na cura de doenças, enquanto, ao aplicar seus re- médios, um médico procuraria o auxílio da adivinhação para prever o possível sucesso de suas poções. Como em todas as civilizações primitivas, os mesopotâmios empregaram largamente as drogas produzidas a partir de ervas. [ ... ] não há dúvida de que eles reconheceram a hidropisia, a febre, a hérnia, a sarna e a lepra, bem como vários problemas de pele e outras afecções que atingiam oca belo, a garganta, os pulmões e o estômago, e tinham remédios para o tratamento desses distúrbios." RONAN, Co !in A. História ilustrada da ciência. Das origens à Grécia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. p. 35. v. l. a) Sob que aspectos a medicina dos egípcios e mesopotâmios, bem como a de todos os povos da Antiguidade remota, distingue-se da medicina grega? b) Explique em que sentido também a matemática, a física e a astronomia mereceram dos gregos um tratamento diferente do concedido por outros povos antigos. • O "juramento hipocrático" era uma espécie de código ético dos médicos. A essência desse documento per- siste até hoje, só que as normas variam conforme as descobertas da ciência e o avanço da tecnologia, como também dependem dos costumes regionais. Por exemplo, até o século XVI era proibido dissecar seres humanos; atualmente, o aborto é proibido ou permitido dependendo da legislação de cada país. Você saberia citar outrostemas controversos sobre normas médicas? ~) 302 Unidade 6 ·Filosofia das ciências 11!1 Considerando a pergunta "Por que os animais têm olhos?", observe as duas explicações a seguir e iden- tifique a que obedece à perspectiva teleológica. Justifique sua resposta. a) Os animais que têm olhos os têm porque a sensação é um dos fins para os quais existem esses animais, um dos caracteres essenciais do animal. b) Como os animais têm olhos, eles veem. lliJ Leia a citação e a seguir responda às questões. "Ernst Renan, filósofo francês do século XIX, foi quem primeiro detectou a influência de Averróis em Santo Tomás, afirmando: 'Santo Tomás é, ao mesmo tempo, o maior adversário e- pode-se afirmar sem paradoxo- o primeiro discípulo do grande comentado r. Santo Alberto Magno deve tudo a Avicena; Santo Tomás, como filóso- fo, deve quase tudo a Averróis' ." COSTA, José Silveira da. Averróis: o aristotelismo radical. São Paulo: Moderna, l99Ll. p. 57. a) Por que Tomás de Aquino é considerado o maior adversário e, ao mesmo tempo, discípulo de Averróis? b) Qual foi a importância dos árabes para a ciência ocidental? lllJ Leia a citação de Giordano Bruno extraída de um diá- logo por meio do qual ele expõe suas ideias e res- ponda às questões. "Continue a fazer-nos conhecer o que é verdadeira- mente o céu, os planetas e todos os astros; como são distintos, uns dos outros, os infinitos mundos; como um espaço infinito não é impossível, mas necessário; como um tal efeito infinito se ajusta a uma causa in- finita. [ ... ] Ridicularize as diversas esferas móveis e as estrelas fixas. [ ... ] Destrone-se a ideia de esta terra ser única e propriamente centro do universo. Desterre a fé ignóbil na existência de uma quinta-essência. Dê-n os a demonstração da igual composição deste nosso astro e mundo à de quantos astros e mundos podemos ver. [ ... ] Aniquile os motores extrínsecos juntamente com os limites destes céus. [ ... ]Torne evidente que o movi- mento de todos provém da alma interior, a fim de que, com a luz de semelhante contemplação, a passos mais seguros, possamos proceder rumo ao conhecimento da natureza. " BRUNO, Giordano. Sobre o infinito, o Universo e os mundos. São Paulo: Abril Cultural, 1973. p. 96-97. a) Bruno foi julgado e morto pela Inquisição. Iden- tifique no texto os elementos considerados heré- ticos pelos inquisidores. b) Analise a interferência religiosa (ou política) à livre expressão do pensamento e quais os seus efeitos.
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