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Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda 1. Conhecer a SOP e sua fisiopatologia. • A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é o distúrbio endócrino mais comum nas mulheres em idade reprodutiva, variando de 4 a 16% entre os estudos. Sua primeira descrição data de 1935 quando Stein e Leventhal descreveram o quadro clínico típico dessa doença. Sua etiologia é multifatorial e ainda não está totalmente esclarecida, envolvendo a predisposição genética e a sua interação ambiental. Atualmente a SOP é considerada uma doença metabólica, pois além das manifestações ginecológicas, essa patologia pode cursar com alterações lipídicas, diabetes mellitus (DM), obesidade, hipertensão arterial sistêmica (HAS), aumento do risco cardiovascular, entre outros fatores. O principal achado clínico nas pacientes com SOP é a associação hiperandrogenismo e da anovulação, porém as manifestações clínicas são bastante variadas, incluindo hirsutismo, infertilidade, acne, obesidade, entre outras manifestações. Sendo assim, para o diagnóstico da SOP é necessário a investigação e exclusão de outras patologias que cursam com sinais e sintomas semelhantes, como tumores produtores de androgênios, hiperplasia de adrenal e hiperprolactinemia. Isso é importante visto que terá impacto na instituição da terápêutica adequada, que inclui regularização dos ciclos menstruais, controle do hiperandrogenismo e distúrbios metabólicos e melhora da qualidade de vida das pacientes. • A Síndrome dos ovários policísticos (SOP) é a uma das condições clínicas mais comuns dentre as disfunções endócrinas que afetam mulheres em idade reprodutiva, tendo sua prevalência variando de 6 a 16% dependendo da população estudada e do critério diagnóstico empregado. As principais características clínicas desta síndrome são a presença de hiperandrogenismo, com diferentes graus de manifestação clínica e a anovulação crônica. • Os achados fundamentais para o diagnóstico da SOP são: hiperandrogenismo, anovulação crônica e ovários policísticos à ultrassonografia. Porém, outras condições podem apresentar essas manifestações fazendo-se necessário o diagnóstico diferencial. • Apenas um terço das pacientes apresenta a forma clássica da síndrome descrita por Stein e Leventhal, definida pela presença de amenorréia, hirsutismo e aumento bilateral dos ovários. Sendo assim, em 1990, Síndrome dos óvários policísticos Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda a conferência do National Institutes of Health (NIH) propôs novo critério diagnóstico representado por evidências clínicas e/ou bioquímicas de hiperandrogenismo associado à oligoamenorréia, com exclusão de outras causas de hiperandrogenismo. Em 2003, novo consenso foi estabelecido pela European Society for Human Reproduction and Embryology e pela American Society for Reproductive Medicine, em Rotterdan - Holanda, que definiu a síndrome como presença de duas ou mais manifestações que incluíam, além dos definidos pelo NIH, a presença de ovários policísticos à ultrassonografia. 2 Em 2006, a Androgen Excess Society destacou o hiperandrogenismo, sugerindo que este seria um critério obrigatório para o diagnóstico da síndrome. 3 • A SOP acomete mulheres em idade fértil, sem predileção por raças, mas os sinais e sintomas podem diferir nas variadas etnias. A prevalência varia de 4- 10%, dependendo do critério diagnóstico utilizado. 4, 5 Utilizando os critérios de Rotterdan, a prevalência é até cinco vezes maior do que quando definida pelos critérios do NIH. • A etiologia da SOP ainda é desconhecida, porém acredita-se que sua origem é muitifatorial e envolvem alterações genéticas poligênicas e suas interações com condições ambientais. Em vários estudos encontra- se uma maior incidência de casos dentro das famílias, sugerindo a transmissão da alteração genética • A etiologia da SOP ainda não está completamente elucidada; no entanto, várias hipóteses são aventadas, como alterações na liberação pulsátil de gonadotrofinas (GnRH); na liberação hipofisária dos hormônios luteinizante (LH) e folículo-estimulante (FSH); nas funções ovariana e supra-renal, e mais recentemente a resistência insulínica. Em revisão da literatura, Legro et al. (2004)5 relataram que aproximadamente 50 a 70% das mulheres com síndrome dos ovários policísticos (SOP) tinham resistência periférica à insulina, que agravava o quadro de hiperandrogenismo. Entre os mecanismos envolvidos, salienta-se o estímulo direto pela insulina na síntese de androgênios nos ovários e nas supra-renais.. • Vários fatores têm sido implicados na etiopatogenia da SOP, havendo componentes genéticos envolvidos,fatores metabólicos pré e pós-natais, distúrbios endócrinos hereditários, como a resistência à insulina e o diabetes mellitus tipo II (DMII), e fatores ambientais (dieta e atividade física). A figura 1 representa resumidamente os possíveis fatores envolvidos na gênese desta síndrome. 2. Correlacionar SOP e Síndrome metabólica (Resistência insulínica). • Na última década, tem-se observado que a maioria das mulheres com SOP apresenta algum grau de resistência insulínica, mesmo as não obesas. Estudos sugerem a existência de predisposição genética, a qual acaba se manifestando em decorrência do estilo de vida e obesidade. A hiperinsulinemia resultante da resistência insulínica determina um aumento tanto na produção dos andrógenos como no de sua porção biológica mente ativa. O mecanismo comum proposto para tal estaria relacionado a alterações nos receptores insulínicos e na enzima que regula a produção adrenal e ovariana de andrógenos.10 Os efeitos sistêmicos da hiperinsulinemia estão citados no quadro a seguir: • A resistência insulínica caracteriza-se pela diminuição da sensibilidade dos tecidos à ação da insulina, gerando importantes implicações metabólicas. Na SOP, a resistência à insulina provoca deterioração da função das células beta do pâncreas, redundando em intolerância à glicose. • Em recente revisão1, os autores relatam que aproximadamente 50% a 70% das mulheres apresentam a síndrome dos ovários policísticos (SOP) e muitas dessas exibem resistência à insulina (RI). A RI Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda justifica a piora do quadro de hiperandrogenismo e, entre os mecanismos envolvidos, destacam-se o estímulo direto da síntese de androgênios pelos ovários e adrenais, a redução das concentrações séricas de SHBG e um possível efeito direto sobre o hipotálamo-hipófise, decorrente do aumento da secreção do LH. Por isso, os autores alertam para a importância do diagnóstico da resistência insulínica, bem como fazem uma análise crítica dos métodos diagnósticos. • É importante lembrar que mulheres com SOP e resistência periférica à insulina podem apresentar-se com peso normal. Evidências demonstraram a ação da insulina e dos fatores insulinóides de crescimento (IGF I e II) sobre o desenvolvimento do folículo ovariano6- 8 e sobre a estimulação da síntese de androgênios nas células da teca interna in vitro. Assim, a insulina poderia ter papel relevante na patogenia da afecção. Além disso, a hiperinsulinemia está relacionada com a redução da síntese de SHBG no fígado, bem como das proteínas carreadoras dos fatores insulinóides6. • A resistência insulínica caracteriza-se pela diminuição da sensibilidade dos tecidos à ação da insulina, gerando importantes implicações metabólicas. Nas mulheres com SOP, provocaria deterioração da função das células beta do pâncreas, levando a intolerância à glicose. Contudo, nem sempre é fácil identificar a paciente com resistência insulínica9. • As mulheres obesas com SOP devem ser avaliadas quanto à presença de resistência à insulina. Deve-se ainda pesquisar a ocorrência de outros agravos como hipertensão arterial, dislipidemia,obesidade central e intolerância à glicose, como também o desenvolvimento da síndrome metabólica10. • As mudanças no estilo de vida observadas a partir da segunda metade do século XX, que incluíram alterações nos hábitos alimentares e a adoção de estilo de vida sedentário, contribuíram para o aumento da freqüência de dislipidemia, obesidade, diabete melito e hipertensão. A ocorrência concomitante de todas estas alterações, associada a um quadro de resistência insulínica, compõe a chamada síndrome metabólica, que cursa com importante aumento do risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares severas11. • A exata natureza dos mecanismos implicados nas alterações lipoprotéicas da síndrome de resistência insulínica não se encontra totalmente esclarecida, porém, a hiperinsulinemia tem papel central neste processo, visto que está implicada na modulação de enzimas-chave do metabolismo lipídico12. Os agonistas de receptores nucleares ativados pelos proliferadores do peroxisina (PPAR) são capazes de induzir a melhora na resistência insulínica e na dislipidemia associada12. Esse achado evidencia o papel relevante destes receptores na regulação de diversas vias metabólicas relacionadas com a homeostase glicídica, a pressão arterial, a adipogênese e o metabolismo lipídico. • As condições que cursam com hiperinsulinemia, em geral, estão associadas à chamada tríade lipídica: aumento moderado de triglicerídeos, redução do HDL- colesterol e presença de níveis aumentados de LDL. No adipócito, a resistência insulínica causa aumento na liberação de ácidos graxos livres, enquanto no fígado determina menor supressão na síntese de VLDL. O resultado desse processo é a liberação de um excesso de partículas de VLDL grandes, ricas em triglicerídeos, que, por sua vez, geram uma cascata de eventos de troca que culminam com a redução nos níveis de HDL. Outras alterações, tais como a redução da ação da lipoproteíno-lipase e o aumento da ação da lipase hepática, são também necessárias para a completa expressão fenotípica da tríade lipídica, contribuindo para a transformação de LDL em partículas de menor diâmetro e maior densidade, e ainda para a manutenção de um estado de lipemia pós-prandial, com a circulação de lipoproteínas remanescentes ricas em colesterol10. Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda • O conceito de síndrome metabólica engloba, pois, um estado de anormalidades clínicas e laboratoriais associado a maior risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. O perfil lipídico clássico dessa síndrome se caracteriza por elevação dos triglicerídeos e elevação dos níveis de LDL, bem como redução do HDL-colesterol. Essas condições somam-se aos demais componentes para determinar elevação do risco cardiovascular e morte prematura, que podem ocorrer nas mulheres com síndrome de ovários policísticos, obesidade, resistência insulínica e síndrome metabólica13. 3. Entender os fatores de risco para SOP. • Fatores endócrinos: o Dentre os mecanismos endócrinos envolvidos na etiopatogênese da SOP está o padrão de secreção de gonadotrofinas, com hipersercreção característica de Hormônio Luteinizante (Lutheinizing Hormone – LH), evento patognomônico desta síndrome, com aumento na amplitude dos pulsos e com secreção de Hormônio Folículo Estimulante (Follicle Stimulating Hormone – FSH) baixa ou no limite inferior da normalidade. Esta secreção aumentada de LH leva à uma hiperatividade das células da teca que produzirão quantidades aumentadas de androgênios, predominantemente testosterona, sem a conversão proporcional deste androgênio em estradiol, dado o desbalanço entre as secreções de LH e FSH, o que explica o hiperandrogenismo característico da doença. o Têm sido repetidamente demonstrado que a exposição intrauterina a elevadas concentrações de androgênios promove alterações na programação central da regulação do eixo hipotálamo-hipófise- ovariano (HHO), com tendência à hipersecreção de LH em roedores,(20) ovelhas(21) e primatas não humanos.(22) Em humanos, já foi demonstrado que mulheres portadoras de SOP têm menor sensibilidade hipotalâmica ao retrocontrole feitos pelos estrogênios e progesterona de origem ovariana,(23,24) com marcada resistência dos neurônios secretores de hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) à regulação inibitória feita pela progesterona, o que prologariam os pulsos de GnRH e LH. Há indícios de que esta redução do efeito inibitório da progesterona sobre os neurônios hipotalâmicos seja resultado de uma menor expressão dos receptores de progesterona locais, em consequência aos elevados níveis de testosterona. o Considerando que o desenvolvimento folicular normal depende de uma sincronia entre gonadotrofinas (LH e FSH), insulina, fator de crescimento insulina-símile 1 (Insulin-like growth fator 1- IGF-1), hormônio anti- mulleriano (Anti-Mullerian Hormone - AMH), enzimas ligadas à esteroidogênese e outros fatores de crescimento, pode-se compreender o impacto que estas mudanças regulatórias causam sobre a foliculogênese ovariana. No aso de mulheres com SOP o recrutamento e ativação folicular ocorrem de maneira bastante intensa, porém com menor atresia dos folículos em estágios iniciais,(26) por isso, apesar do recrutamento mais proeminente não há depleção precoce da população de folículos nestes indivíduos.(19) Os menores níveis de FSH produzidos nestas pacientes dificulta o completo crescimento do folículo até estágios maduros, os quais acabam estacionados em estágios intermediários.(27) Isso confere ao ovário a morfologia policística. Além das alterações relativas às gonadotrofinas, parece haver um papel significativo da insulina e do IGF- Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda 1 na produção anômala de androgênios nestas mulheres. Portadoras de SOP apresentam mais frequentemente resistência à insulina e hiperinsulinemia compensatória independente da presença ou não de obesidade, (28) sendo a resistência tanto para a ação da insulina no músculo estriado, quanto no tecido adiposo. O aumento da insulina circulante tem efeito direto na produção de androgênios ovarianos, uma vez que esta possui ação sinérgica ao LH nas células da teca, estimulando a produção de androgênios.(29- 31) o Além disso, a insulina também está envolvida na redução da produção da proteína carreadora de androgênios (Steroid Hormone Binding Globulin – SHBG) pelo fígado;(32) estes dois efeitos somados aumentam a concentração de testosterona livre, ou seja, da fração ativa do hormônio. Estudos mostram que o uso de sensibilizadores periféricos à ação da insulina, como a metformina, por exemplo, reduz os níveis de testosterona circulante em mulheres com SOP, na presença ou não de obesidade (Poretsky et al, 1999). O IGF-1, assim como a insulina, tem papel na produção de androgênios ovarianos, sendo um dos mecanismos a estimulação de proliferação de células da teca. • Fatores genéticos: o Além das disfunções endócrinas descritas, há evidências na literatura médica da existência de um componente genético na SOP. Embora inicialmente se acreditas- se num padrão de herança monossômica dominante, hoje já há evidências de um padrão mais complexo de hereditariedade, envolvendo múltiplos genes Estudos empregando técnicas de amplo estudo genômico- genome wide association studies –GWAS- têm possibilitado a identificação de alterações em múltiplos loci associados à síndrome dos ovários policísticos, o que faz crer tratar- se de doença oligo ou poligênica. A existência de penetrância gênica incompleta, modificações epigenéticas e a influência de fatores ambientais tornam bastante complicada a elucidação e identificação do padrão de hereditariedade envolvido nesta doença o A comparação na expressãode genes no tecido ovariano de mulheres portadoras de SOP em comparação a mulheres normovulatórias tem demonstrado a existência de padrões distintos entre estes dois grupos, com desregulação na expressão de genes ligados a diversos processos biológicos distintos.(38) Sugerindo um papel importante dos androgênios nestas expressões diferenciais, o estudo de tecido ovariano de homens transgênero, submetidos à androgenioterapia por longo período, apresentou padrões de expressão gênica semelhante à de mulheres com SOP o Parece haver também diferenças nos padrões gênicos entre pacientes portadoras de SOP obesas e não obesas. Segundo estudo publicado por Jones et al, em 2015, em mulheres SOP não obesas ocorrem alterações significativas na expressão de receptores de LH, as quais levam ao padrão de hipersecreção de androgênios característico da síndrome. Já em mulheres SOP obesas estas alterações não se confirmaram, o que se encontrou foi uma alteração nos receptores de insulina, sendo que há sub expressão destes receptores em tecidos metabólicos (como o tecido adiposo) e um aumento da expressão no tecido ovariano, o que explicaria a resistência periférica à insulina e a hipersecreção de androgênios em resposta à ação direta da insulina nas Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda células teca.(40) Vários outros genes reguladores de vias biológicas de transporte de substância transmembrana(38,39) regulação de endocitose e reciclagem de receptores(38) também têm sido implicados na fisiopatologia da doença. o Os diferentes genes envolvidos na gênese da SOP propiciam uma ampla variedade de possíveis genótipos, o que explica os diferentes fenótipos encontrados na síndrome e a dificuldade em se estabelecer consenso em relação aos critérios diagnósticos. 4. Explicar o quadro clínico da SOP. • Disfunção menstrual: em mulheres com sop as principais disfunções sexuais apresentadas são a oligomenorreia, amenorreia secundaria e/ou sangramento uterino normal. o Amenorreia/ oligomenorreia: A amenorreia e a oligomenorreia são consequências do estado de anovulação que não forma corpo lúteo e por isso não produz progesterona. Em algumas pacientes com SOP, a amenorreia pode ser explicada pelos níveis elevados de androgênios. o Sangramento uterino anormal: Na SOP também pode ocorrer sangramentos uterinos que variam de intensidade e duração e aparecem de maneira imprevisível. Esses sangramentos se devem a estimulação do endométrio pelos estrogênios, sem contraposição da progesterona, levando a surgimento de um endométrio espesso e instável, resultando em sangramentos. • HIPERANDROGENISMO – A manifestações do hiperandrogenismo na SOP são principalmente a acne, hirsutismo e/ou alopecia androgênica. o Acne: A acne se deve ao bloqueio da abertura folicular por hiperceratose, produção excessiva de sebo, proliferação de Propionibacterium acnes comensal e inflamação por ação androgênica. o Alopecia: A alopecia ocorre devido a ação da 5-alfa-redutase no folículo piloso, gerando queda do cabelo. A manifestação mais comum do hiperandrogenismo é o hirsutismo que é definido como a presença de pelos mais escuros e ásperos em padrão de distribuição tipicamente masculino. o Hirsutismo: Dentro do folículo piloso a testosterona é convertida em di- hidrotestosterona (DTH) pela enzima5- alfa-redutase. A testosterona e principalmente a DTH são os responsáveis por engrossar e enegrecer os pelos de áreas sensíveis a androgênios. A quantificação da distribuição de pelos pode ser feita utilizando a Escala de Ferriman-Gallwey que possui 9 imagens com diferentes padrões de hirsutismo, sendo que o seu grau é pontuado de 0 a 4. De acordo com as novas recomendações da ASRM e ESHRE, a pontuação para considerar o hirsutismo varia de acordo com a etnia da paciente, sendo considerados o valor de 4 para orientais ou 6 para outras etnias. Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda • Disfunções endócrinas: Mesmo em pacientes com índice de massa corporal (IMC) ideal, é comum na SOP a ocorrência de resistência insulínica, intolerância a glicose e DM2. o Resistência insulínica: Um dos marcadores da resistência insulínica é o aparecimento de acantose nigricans que é a consequência do estímulo insulínico no desenvolvimento de queratinocitos e fibroblastos da pele, levando ao espessamento e escurecimento em áreas de flexão da pele, principalmente nas axilas e na nuca. o Dm2/intolerância a glicose: mulheres com SOP apresentam risco elevado de desenvolver DM tipo 2 e intolerância a glicose devido a disfunção das células beta pancreáticas presentes nessa patologia. • Dislipidemia: A dislipidemia tem alta prevalência na SOP e se caracteriza por níveis elevados de lipoproteína de baixa densidade (LDL), triglicerídeos e colesterol, além níveis reduzidos de lipoproteína de alta densidade (HDL). Sendo assim, a Síndrome Metabólica é uma entidade frequente naa mulheres com SOP. • Obesidade: Cerca de metade das pacientes com SOP são obesas, ou seja, tem IMC maior que 30. O padrão típico é andrógeno, com aumento da relação cintura/quadril. Esse aspecto contribui para o desenvolvimento de dislipidemia e aumento o risco cardiovascular presentes em mulheres com SOP. • Apneia obstrutiva do sono: Tem alta prevalência e mulheres com SOP e está relacionada com obesidade central, resistência insulínica e alterações metabólicas e hormonais presentes na SOP. • Neoplasia endometrial: Mulheres com SOP tem três veze mais chance de desenvolver neoplasias endometriais devido ao quadro de anovulação crônica, associada a estimulação estrogênica sem oposição progestágena. Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda • Infertilidade: Como descrito acima, devido ao processo de alteração do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, ocorre anovulação, visto que o desenvolvimento folicular não é completado. Dessa forma, a SOP é responsável por cerca de 80% dos casos de infertilidade anovulatória. • Hipertensão arterial: A hipertensão arterial tem risco aumentado de ocorrer em pacientes com SOP. Ela ocorre sobretudo no final da idade reprodutiva. 5. Compreender o diagnóstico da SOP. • AVALIAÇÃO: O diagnóstico clínico da SOP é baseado em critérios diagnósticos definidos (Quadro 4), mas devido à sintomatologia variável é necessária muita atenção aos sinais e sintomas • Avaliação clínica: o A avaliação deve incluir história menstrual detalhada, informações sobre início e duração dos sintomas sugestivos de hiperandrogenismo e história familiar de doenças metabólicas e SOP8-10, 28. Alterações abruptas no padrão menstrual ou nos sintomas de hiperandrogenismo devem nos alertar para outras etiologias. o O quadro clínico mais freqüente inclui irregularidade menstrual ou amenorréia, que pode ser mascarada pelo uso de anticoncepcionais orais (ACO). Contudo, algumas mulheres com SOP apresentam ciclos ovulatórios regulares. o O exame da região genital pode ser realizado utilizando a escala de Tanner, que analisa o desenvolvimento das características sexuais primárias e secundárias, e deve identificar sinais de virilização. A clitoriomegalia e alterações na voz são achados raros e sugestivos de tumores adrenais. • Avaliação laboratorial: o A principal característica para a confirmação da SOP é a detecção do excesso de andrógenos através de exames laboratoriais, embora o consenso permita apenas evidências clínicas de hiperandrogenismo17, 29. A recomendação da Sociedade de Endocrinologia em 2008 para avaliação dos níveis séricos de andrógenos em pacientes com hirsutismo estão listados abaixo (Quadro 5). o Dentre os andrógenos, a testosterona é o principal na avaliação do hirsutismo e SOP. No entanto, a maioria dos métodos disponíveis não tem boa acurácia,e, portanto, sua análise deve ser cautelosa17, 29. Os métodos mais sensíveis e precisos são radioimunoensaios e espectrometria de massa tandem. o A testosterona livre é o exame mais sensível para a detecção do hiperandrogenismo10, 29. Isto porque a Globulina Ligadora dos Hormônios Sexuais (SHBG), que é a principal determinante da porção bioativa da testosterona plasmática (testosterona livre ou biodisponível), está reduzida nas pacientes com hiperandrogenismo. Não estão disponíveis ensaios para a dosagem direta deste hormônio, o melhor Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda método é calcular é através do produto da testosterona total e função da SHBG (por exemplo, Testosterona livre = testosterona total x percentagem da testosterona livre)29, 30. Estes exames devem ser realizados no início da manhã, entre o 4-10o dia do ciclo menstrual (mulheres com ciclos regulares) ou em mulheres amenorréicas. Pacientes com sintomas consistentes de SOP mas com dosagem de testosterona sem alterações devem repetir novamente o exame. o A dosagem de outros andrógenos na maioria das vezes é de pouca utilidade. No entanto, é necessário a exclusão de outras condições relativamente comuns e que apresentem tratamento específico. Os exames geralmente solicitados e suas principais indicações estão enumerados na tabela abaixo. o Se a avaliação para as desordens que mais comumente mimetizam SOP é negativa, a associação dos níveis elevados de testosterona e sintomas anovulatórios preenchem os critérios para esta síndrome. No entanto, outras raras desordens associadas ao hiperandrogenismo não podem ser excluída e uma avaliação especializada deve ser realizada para determinar a origem do excesso de andrógenos nestes casos. o A relação LH/FSH não é mais recomendada na rotina para diagnostico de SOP2 . Isto porque existem diferenças entre os dados fornecidos pelos diversos ensaios (radioimunoensaio com anticorpos policlonais, radioimunoensaio com anticorpos monoclonais, ensaios imunométricos), índice de massa corporal da paciente e dia do ciclo em que é realizado, além de não estar comprovado a sua relação na etiopatogenia da SOP. No entanto, o FSH é importante no diagnóstico de falência ovariana primaria, quando os níveis estão elevados em relação ao LH e ao estrógeno31. o Dentre os outros exames laboratoriais, é importante lembrar-se das possíveis alterações metabólicas que podem estar relacionadas a SOP, uma vez que estão associados a alta morbidade. O teste de tolerância a glicose deve ser solicitado em mulheres obesas e fatores de risco para diabetes tipo 2, como história familiar positiva10. A avaliação periódica do perfil lipídico é recomendada, assim como a função hepática deve ser avaliada quando há fatores de risco para esteatose hepática (doença hepática gordurosa não alcoólica) • Avaliação radiológica: o A indicação da ultrassonografia pélvica ainda é controversa. A apresentação clássica da SOP caracteriza-se por ovários com aparência policística, com mais de oito cistos subcorticais menores que 10 mm e/ou aumento do volume ovariano (>10ml)2 . O exame deve ser realizado no inicio da fase folicular do ciclo (terceiro ao quinto dia). Nas pacientes oligo/amenorréicas, pode ser realizado ao acaso ou após 3-5 dias do sangramento induzido por prostógenos. No entanto, 20% das pacientes não apresentam alterações na ultrassonografia. Além disto, muitas mulheres saudáveis ou com outros distúrbios relacionado ao excesso de Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda andrógenos podem apresentar ovários policísticos ao exame, sem, no entanto, apresentarem os demais achados da síndrome 6. Identificar o tratamento da SOP (Roacutan?) • O tratamento da SOP visa reduzir os sinais do hiperandrogenismo, restaurar os ciclos ovulatórios regulares e controlar traços da síndrome metabólica. A escolha do tratamento dependerá da gravidade dos sintomas e dos objetivos específicos, considerando sempre as possíveis consequências em longo prazo • Alterações no estilo de vida: o É a abordagem mais efetiva, barata e sem efeitos colaterais. Consiste na prática de atividades físicas regulares e dieta balanceada. A perda de apenas 2-7% do peso melhora praticamente todos os parâmetros da SOP, reduzindo os níveis de andrógenos e melhorando a função ovariana10. Estes efeitos são relacionados à redução nos níveis de insulina e melhora da resistência insulínica • Tratamento hormonal: o A terapia combinada estrógeno- progesterona continua sendo a principal opção para o tratamento do hiperandrogenismo para as mulheres que não desejam engravidar. Pode ser efetivo para o hirsutismo, acne e alopecia androgenética, além de prevenir a hiperplasia endometrial e suas complicações14. o Os anticoncepcionais orais (ACO) são compostos por etinil-estradiol e um progestágeno. O estrógeno suprime o LH, diminuindo a produção dos andrógenos pelos ovários e aumenta a produção da SHBG, reduzindo a testosterona livre o A maioria dos progestágenos são derivados da testosterona e possuem atividade androgênica o A drospirenona e o acetato de ciproterona (ACP) não são estruturalmente relacionados à testosterona e funcionam como antagonistas do receptor de andrógenos17. O ACP além de agir nos receptores androgênicos, tem pequeno efeito inibitório sobre a 5a-redutase e diminui a secreção de andrógeno através de ação anti-gonadotrofina17, 34. Pode ser usado como monoterapia em alguns casos. o A drospirenona é um análogo da espironolactona, com efeito equivalente à dose de 25mg. Atua como anti- mineralocorticóide, mas tem ação anti- androgênica mais fraca o O principal ACO usado para o tratamento do hirsutismo contém ACP associado ao estrógeno33. Alguns estudos comprovam sua eficácia, com redução mais rápida no crescimento dos pelos quando comparado com outros anti-andrógenos. Eficácia semelhante tem sido observada com os ACO compostos por drospirenona o O uso do ACO deve ser mantido até a maturidade reprodutiva, aproximadamente 5 anos após a menarca ou até que seja alcançado o peso ideal. A normalização dos ciclos menstruais, a melhora da acne e do hirsutismo ocorrem, em geral, 3 meses após do inicio do tratamento. Alguns estudos demonstraram que a supressão dos andrógenos séricos permanece por pelo menos 2 anos após a suspensão do ACO, Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda embora a maioria das pacientes apresente piora 3 meses após o final do tratamento10. o Tem sido relatada piora da resistência insulínica e aumento nos níveis de triglicérides e colesterol associados ao uso de ACO33. Outros efeitos colaterais incluem: hipercoagulabilidade, trombogenia (principalmente com ACP) e reatividade vascular, exigindo cautela em pacientes com história de doenças vasculares como migrânia o As drogas anti-androgênicasbloqueiam a ligação dos andrógenos a seus receptores teciduais ou inibem a enzima 5α-redutase. Todos os anti-andrógenos devem ser prescritos em conjunto com contraceptivos orais devido às irregularidades menstruais e risco de virilização incompleta de embrião masculino em caso de gravidez35. No tratamento do hirsutismo, revertem a transformação induzida pelos andrógenos do pêlo vellus em pêlo terminal. Devido ao ciclo longo do pêlo terminal, o efeito só é observado 9-12 meses após o início do tratamento o A espironolactona, antagonista da aldosterona, tem ação dose-dependente, bloqueando a ligação da 5-alfa- dihidrotestosterona aos receptores androgênicos da pele, elevando a SHBG, diminuindo a atividade da 5α-redutase e a produção de andrógenos. É efetiva no tratamento do hirsutismo e acredita-se que também possa melhorar a acne e alopecia. Geralmente é bemtolerada, embora sejam relatados hipotensão, poliúria, náuseas, cefaléia, fadiga e irregularidade menstrual10, 17, 33. O esquema terapêutico para hirsutismo é 25 a 100mg, duas vezes ao dia e para acne 100mg, uma vez ao dia15. A dose inicial deve ser de 25mg/dia e aumentada progressivamente ao longo de semanas10. A hipercalemia só foi relatada em portadoras de alguma disfunção renal ou em uso de outras medicações poupadoras de potássio. o A flutamida, um potente anti-andrógeno não esteroidal, bloqueia a ação dos andrógenos pela inibição competitiva dos receptores, além de reduzir a síntese de andrógenos ou aumentar sua inativação35. A dose preconizada é 250 a 750mg/dia, mas doses menores (62,5 a 250mg/dia) também parecem ser efetiva. É muito eficaz no tratamento do hirsutismo, acne e alopecia, mas possui alto custo e risco de hepatotoxicidade que é dose dependente e, embora rara, é potencialmente fatal17. O efeito colateral mais comum é pele seca devido a redução da produção de sebo33, 34. Seu uso não é liberado no Brasil. o A finasterida, inibidor do tipo 2 da 5a- redutase, bloqueia a conversão da testosterona em DHT15, 17. Apesar da unidade pilo-sebácea possuir predominantemente a enzima tipo 1, estudos demonstram efeito benéfico no tratamento do hirsutismo, assim como da alopecia androgenética em mulheres, com poucos efeitos colaterais10. No entanto, parece não ser efetiva no tratamento da acne. A dose utilizada é de 1mg/dia, embora segurança com doses maiores tenha sido descrita o A dutasterida, possui ação sobre as duas isoenzimas 5a-redutase e induz redução ainda maior nos níveis séricos de DTH, Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda com evidências de beneficio no tratamento da alopecia androgenética feminina, na dose 0,5mg/dia23, 36. o Cremes com anti-andrógenos tem eficácia limitada. Nenhum benefício foi comprovado com o uso de canrenone 5%, metabolito ativo da espironolactona. Estudos demonstram resultados controversos com finasterida tópica. • Sensibilizadores de insulina: o Estas drogas diminuem tanto a hiperinsulinemia como a hiperandrogenemia, além de apresentar benefícios sobre o perfil lipídico, pressão arterial e ovulação33, 38, 39. A redução dos andrógenos ocorre pela influência direta na esteroidogênese nos ovários pela diminuição dos níveis de insulina e aumento da SHBG15. O tratamento do hirsutismo com estas drogas ainda é controverso, embora estudos demonstrem redução no crescimento e espessura dos pêlos, além de melhora da acne e acantose nigricante. o A metformina tem sido sugerida como primeira escolha no tratamento do hirsutismo em mulheres com SOP, distúrbios metabólicos e reprodutivos10, 15, 34. A dose inicial é de 500mg no jantar, que poderá ser aumentada a cada semana até dose máxima de 2000mg/dia, dividida em duas doses10. O efeito desaparece 3 meses após a suspensão da droga. Os efeitos colaterais mais freqüentes são dose dependente, ocorrendo náuseas e diarréia. A acidose lática é rara, sendo desprezível quando avaliada a população jovem com SOP 10, 27. o Estes efeitos também podem ser obtidos com a pioglitazona e rosiglitazona, podendo ser superiores com a associação de ACO ou flutamida40, 42. Contudo, a segurança do tratamento com estas drogas ainda necessita ser melhor avaliada. Deve-se orientar as pacientes que há chance de ovulação espontânea. • Tratamento estético: o Os procedimentos estéticos têm papel importante no tratamento do hirsutismo, podendo ser suficientes para o controle de grau leve de excesso de pêlos ou como adjuvante nos casos mais severos. Podem ser realizadas depilação, epilação ou destruição da papila dérmica pela eletrólise ou laser. A depilação utilizando cera é desencorajada para pacientes com hirsutismo mais grave. Esta técnica pode ser efetiva, mas existe o risco de irritação cutânea, foliculite e de pêlos encravados. A epilação a laser é o método mais efetivo e, apesar do custo elevado, requer menos sessões e os resultados são melhores. o O hidrocloreto de efornitina é um inibidor irreversível da ornitina- descarboxilase que foi recentemente liberado para uso tópico no tratamento do hirsutismo facial. Esta enzima é modulada pelos andrógenos e regula a proliferação celular na matriz do folículo. Estudos demonstraram redução significativa na quantidade de pêlos, mas o efeito é rapidamente revertido após a suspensão da droga. Os retinóides tópicos, calcipotrieno e ceratolíticos, como lactato de amônio, podem ser úteis no tratamento da acantose nigricante, desde que a hiperinsulinemia seja controlada15, 43. Tutoria 1 – Módulo 2 – P4 – Eduarda Miranda o Além do tratamento sistêmico, a alopecia pode ser controlada com minoxidil tópico 2 ou 5% e se necessário, com transplante capilar • Cirurgia bariátrica: o Pacientes com SOP que tenham dificuldade de perda de peso, sobretudo com obesidade grave, podem utilizar a cirurgia bariátrica como opção de tratamento. Essa cirurgia, independente da técnica empregada, está relacionada à redução ponderal, regularização hormonal e metabólicos, além de melhoria no hirsutismo, irregularidade menstrual e fertilidade.
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