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@medsurtoo NIvya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 1 tutoria SOP INTRODUÇÃO A síndrome dos ovários policísticos (SOP) é uma doença complexa caracterizada por hiperandrogenismo e anovulação crônica. FISIOPATOLOGIA A produção excessiva de androgênios e sua subsequente conversão em estrogênios constituem o substrato fisiopatológico da anovulação crônica. Haveria, pois, retroalimentação acíclica, com secreção inadequada de LH e FSH pelo sistema hipotálamo-hipofisário. Forma-se, assim, verdadeiro ciclo vicioso em que a disfunção central condiciona alterações morfológicas e funcionais nos ovários. A insulina é considerada um fator fundamental na fisiopatologia da doença. Grande parte das pacientes (obesas e não-obesas) apresenta resistência periférica a insulina, o que leva a um quadro de hiperinsulinismo relativo. O mecanismo exato da resistência à insulina ainda é desconhecido, porém parece se tratar de defeito pós-receptor de insulina. Estudos sugerem que haveria uma fosforilação excessiva em resíduos de serina do receptor de insulina ou de proteínas dessa via de sinalização. A insulina age diretamente e, também, através de ação sinérgica com o LH, na produção androgênica das células da teca interna do ovário. Além disso, diminui a produção hepática da globulina carreadora de esteroides sexuais (SHBG), permitindo que maior fração de androgênios circule em sua forma ativa. Por fim, estudos têm indicado que poderia estimular a atividade enzimática do citocromo P450, que é essencial para a produção de androgênios. Estudos mostram, também, que essa enzima tem comportamento anômalo em mulheres com SOP e que o fator de crescimento insulinóide (IGF-1) parece ter papel na SOP. Existem mutações em genes isolados que estão altamente associadas ao hiperandrogenismo e às irregularidades menstruais. Exemplificando, mulheres com mutações funcionais no gene codificador das subunidades alfa ou beta do receptor da insulina tendem a desenvolver uma severa resistência à insulina, acantose nigricante, hiperandrogenismo e oligovulação. Dados preliminares indicam que o ambiente in utero de um feto, especialmente um ambiente que restrinja o desenvolvimento intrauterino fetal ou promova hiperandrogenemia, pode aumentar a probabilidade de um recém-nascido desenvolver hiperandrogenismo e resistência à insulina durante a infância ou na fase adulta. EPIDEMIOLOGIA A SOP é um dos distúrbios endócrinos mais comuns entre as mulheres. Em estudos populacionais, foi relatada uma média da prevalência da SOP entre mulheres em idade reprodutiva de aproximadamente 6%. Entre as mulheres anovulatórias, a prevalência da SOP é de cerca de 30%. É comum a irregularidade menstrual associada à SOP surgir antes dos 18 anos de idade. Os sinais de excesso de androgênios clinicamente significativo costumam se manifestar em seguida, contudo podem se sobrepor ao aparecimento da irregularidade menstrual. As adolescentes que apresentam menstruação irregular aos 16 anos de idade estão sujeitas a um risco aumentado de desenvolvimento de SOP, em especial quando são obesas ou apresentam níveis elevados de hormônio luteinizante (LH). O pico da incidência de SOP ocorre entre 18 e 30 anos de idade. Fatores étnicos e raciais, entre outros fatores populacionais, podem influenciar o fenótipo e a prevalência da SOP. A história familiar constitui um fator de risco forte para o desenvolvimento de SOP. Além disso, entre as mulheres com esta condição, a existência de uma história familiar de diabetes representa um forte fator de risco para o desenvolvimento de comprometimento da tolerância à glicose e diabetes. O impacto da história familiar sobre o risco sugere que fatores genéticos exercem um papel importante na etiologia da SOP QUADRO CLÍNICO E FATORES DE RISCO Tipicamente, a SOP manifesta-se com um quadro de irregularidade menstrual do tipo espaniomenorréia, iniciada à época da menarca, associado a hiperandro-genismo clínico (hirsutismo e acne) e/ou laboratorial (hiperandrogenemia). O quadro clínico da síndrome pode variar em razão da heterogeneidade da doença, e muitas vezes estão presentes fatores correlacionados tais como obesidade, infertilidade, sinais de resistência à insulina (acantosis nigricans), entre outros. Embora a espaniomenorréia seja mais comum, observa-se amenorréia em cerca de 55% dos casos, e sangramento anormal em 28%. Hirsutismo está presente em quase 50% das pacientes. Tanto o hirsutismo quanto as alterações @medsurtoo NIvya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 2 menstruais iniciam-se na fase peripubertária, geralmente acompanhadas de aumento de peso. A oligomenorreia é definida por ciclos menstruais com duração superior a 35 dias. A maioria das mulheres com SOP apresenta menos de 9 ciclos/ano. A acantose nigricante manifesta-se como uma alteração cutânea de aspecto aveludado, musgoso, verrucoso e hiperpigmentado, que habitualmente se desenvolve na porção de trás do pescoço, nas axilas, embaixo dos seios e ao longo da região interna das coxas. A histologia da acantose nigricante inclui papilomatose, hiperceratose e hiperpigmentação. A acantose nigricante é frequentemente encontrada em mulheres de pele escura que apresentam resistência à insulina. Esta condição também pode ser uma manifestação cutânea de malignidade, como tumores gastrintestinais e câncer de pulmão. Algumas medicações parecem aumentar a secreção de LH e a produção ovariana de androgênios. Estas medicações podem promover o desenvolvimento de SOP. Em particular, o uso prolongado do anticonvulsivo valproato está fortemente associado ao aparecimento da SOP. Mulheres fumantes apresentam concentrações mais altas de androstenediona e testosterona do que as mulheres não fumantes. Desta forma, o tabagismo pode contribuir para o desenvolvimento de hiperandrogenismo. conforme o IMC aumenta, a faixa normal de LH diminui. Muitas mulheres com SOP apresentam uma proporção LH:FSH maior que 2. Esta proporção pode ser melhor como teste para SOP do que uma única quantificação de LH. CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS O consenso do NIH de 1990 sugere que o diagnóstico seja baseado na presença de hiperandrogenismo e anovulação crônica – nessa ordem, além da exclusão de outras causas de hiperandrogenismo e anovulação. O consenso de Rotterdam adicionou a aparência ultrassonográfica de ovários policísticos nos critérios diagnósticos. Segundo esse consenso, SOP seria identificada na presença de dois dos três seguintes achados: anovulação crônica, sinais clínicos ou bioquímicos de hiperandrogenismo e ovários policísticos. Também esse consenso recomenda a exclusão de outras causas de hiperandrogenismo e anovulação. Assinalam-se, entre os exames complementares, as determinações séricas de LH e FSH. Valores elevados de LH e índices baixos ou no limite inferior da normalidade de FSH auxiliam no diagnóstico. Além disso, a maioria das mulheres com SOP apresenta resistência à insulina e hiperinsulinemia compensatória. Contudo, não existe método satisfatório para o diagnóstico da resistência periférica à insulina. A análise de imagens pélvicas é clinicamente indicada para os casos em que os ovários são apalpáveis ou estão aumentados ao exame físico, ou diante de uma concentração de testosterona total maior que 2 ng/mL. A ultrassonografia revela, geralmente, ovários de volume aumentado, com aspecto micropolicístico. @medsurtoo NIvya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 3TRATAMENTO A terapêutica baseia-se na atuação nos seguintes eixos principais: irregularidade menstrual, sinais e sintomas dovhiperandrogenismo, infertilidade, alterações metabólicas e prevenção de consequências em longo prazo. A mudança de hábitos de vida, com prescrição de dieta e exercício físico, consiste no tratamento de primeira linha para prevenção das repercussões da doença em longo prazo. A perda de peso favorece a redução dos níveis androgênicos, melhora o perfil lipídico e diminui a resistência periférica à insulina, contribuindo assim para o retorno dos ciclos ovulatórios e para a prevenção de diabetes e doenças cardiovasculares. A metformina tem sido indicada em razão dos benefícios de longo termo, porém, ainda hoje, faltam estudos que comprovem sua eficácia. O tratamento deve ser individualizado, de acordo com a apresentação clínica, com o desejo reprodutivo da paciente e com o risco de complicações em longo prazo. O tratamento da SOP no caso de mulheres fumantes inclui o abandonar o tabagismo. A interrupção do hábito de fumar cigarros pode resultar na diminuição dos níveis de androgênios na circulação. Do mesmo modo, o tabagismo constitui uma contraindicação ao uso de anticoncepcionais orais, que muitas vezes são prescritos às pacientes com SOP. TRATAMENTO DAS IRREGULARIDADES MENSTRUAIS ANTICONCEPCIONAIS ORAIS COMBINADOS Os anticoncepcionais orais combinados, estroprogestativos, são empregados em pacientes anovuladoras com hiperandrogenismo sem desejo de gravidez iminente. A droga reduz os níveis circulantes de androgênio, combate o hirsutismo e o hiperandrogenismo, regulariza os ciclos, protege o endométrio e promove contracepção quando esta é desejada. No entanto, não promove melhora da resistência à insulina, normalmente associada à síndrome, e pode, eventualmente, até piorá-la. Os contraceptivos orais também devem ser prescritos com maior critério em pacientes hipertensas ou com dislipidemia. Mecanisticamente, os contraceptivos orais combinados diminuem os níveis androgênicos circulantes por meio de inibição da secreção adequada de gonadotrofinas e pelo aumento dos níveis de SHBG hepático que auxilia na redução dos androgênios circulantes. O esquema terapêutico é o mesmo utilizado na contracepção. PROGESTAGÊNIOS Em pacientes sem atividade sexual ou na impossibilidade de uso de contraceptivos orais combinados, pode-se fazer uso intermitente de progestagênios, visando a regularização do ciclo menstrual e a proteção endometrial. Procura-se prescrever agentes progestacionais com baixo potencial androgênico, e o mais usado é o acetato de medroxiprogesterona, 5-10 mg/dia por 7 a 10 dias. TRATAMENTO DO HIPERANDROGENISMO Os anticoncepcionais orais também têm papel importante no controle do hiperandrogenismo, porém, em casos mais intensos, devem-se adicionar agentes antiandrogênicos. O tratamento do excesso de androgênios pode ser conseguido por meio dos seguintes procedimentos: Supressão a produção ovariana. Aumento das concentrações de SHBG e diminuição de sua fração livre (bioativa). Inibição da conversão periférica de testosterona em seu metabólito mais ativo, a diidrotestosterona. @medsurtoo NIvya Moraes P4/UC11 UNIT – AL 4 Inibição da ação androgênica em nível tecidual. ACETATO DE CIPROTERONA Possui ação central, anti-gonadotrófica e periférica. Diminui a síntese de androgênios por bloquear a liberação de gonadotrofinas hipofisárias. Perifericamente, atua na unidade pilossebácea, impedindo a ligação da DHT aos receptores citosólicos ou, na pele, inibindo a enzima 5-alfa-redutase. ESPIRONOLACTONA A espironolactona, antagonista da aldosterona, também possui ação antiandrogênica. Inibe a síntese de testosterona nas células produtoras de esteróides tanto na gônada quanto na supra-renal, além de competir perifericamente com os androgênios que ocupam os mesmos receptores. Adotam-se ainda, para combater o hirsutismo, medidas de ordem geral, como a depila ção, a descoloração com água oxigenada e a eletrocoagulação do folículo piloso. Em pacientes obesas, a perda de peso, isoladamente, é capaz de reverter os sinais e sintomas advindos do hiperandrogenismo. METFORMINA É uma biguanida utilizada no trata- mento de diabetes, eficaz na diminuição dos níveis de androgênio nessas pacientes e na melhora dos sintomas. Também parece ter algum efeito positivo na indução de ovulação, porém seus efeitos benéficos são moderados. TRATAMENTO DE INFERTILIDADE Para o restabelecimento da fertilidade, utilizam-se drogas indutoras da ovulação, como citrato de clomifeno, citrato de tamoxifeno, gonadotrofinas de mulheres menopausadas ou de gestantes. Modernamente, tem-se ensaiado o FSH humano purificado e os análogos do GnRH. O clomifeno (CC), modulador seletivo do receptor de estrogênio (SERM), induz a expressão de receptores de FSH e LH, maturação folicular, níveis elevados de estradiol, postura ovular e normalização da retroalimentação acíclica. A droga mais utilizada e que apresenta maior segurança é a metformina. As pacientes candidatas à utilização da metformina devem apresentar funções hepática e renal normais. Com o objetivo de evitar os efeitos colaterais gastrintestinais, a droga deve ser administrada às refeições e deve-se iniciar o tratamento com dose mais baixa (500 mg/dia) e ir aumentando progressivamente (até 2.000 mg/dia). A utilização isolada da metformina (de 1.500 a 2.000 mg/dia) promove a ovulação em 78 a 96% das pacientes. Quando associada ao CC, aumenta as taxas de ovulação e de gravidez em pacientes previamente resistentes a CC. Para alguns autores, a metformina deve ser mantida na gravidez, pois previne aborto e diabetes gestacional, e não há evidências de que cause malformações. A terapêutica cirúrgica, ressecção cuneiforme, parcial, de ambas as gônadas (operação de Thaler), é cada vez menos indicada. Está reservada aos casos em que falham as tentativas clínicas para o restabelecimento da fertilidade (indução da ovulação). Pode ocasionar aderências pós- operatórias, transformando uma esterilização de causa endócrina em outra, de etiologia mecânica (aderências obstrutivas da tuba). Ultimamente, tem-se empregado a terapêutica videolaparoscópica. COMPLICAÇÕES PRECOCES E TARDIAS As pacientes com SOP possuem múltiplos fatores que contribuem para o risco aumentado para diabetes: resistência à insulina, intolerância à glicose, disfunção de células pancreáticas beta, obesidade (principalmente central) e história familiar de diabetes a SOP sempre foi associada a risco aumentado para carcinoma de endométrio, o que é decorrente de anovulação crônica, produção deficiente de progesterona e conseqüente estímulo estrogênico sem oposição. No entanto, dados epidemiológicos dessa associação são conflitantes. Estudos controlados e recentes têm demonstrado que o risco aumentado para essa neoplasia ocorre apenas durante os anos da menacme. As mulheres anovulatórias, especialmente aquelas que apresentam obesidade e resistência à insulina, estão sujeitas a um risco aumentado de desenvolvimento de hiperplasia e câncer do endométrio. Para estas mulheres, o tratamento com progestina cíclica, seja na forma de anticoncepcional de estrogênio-progestina ou como ciclos regulares de terapia apenas com progestina, pode diminuir o risco de hiperplasia e câncer endometrial. Nos casos de mulheres com SOP e menorragia, é necessário realizar o exame de uma biópsia endometrial para avaliar a condição do endométrio. Sinais e sintomas da SOP (em conjunto ou isoladamente) foram usados para inferir sobre o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, calculado em cerca de 7 vezes maiorque o da população geral. Referências: Clínica médica – USP (volume 1) https://www.medicinanet.com.br/conteudos/acp- medicine/5139/sindrome_dos_ovarios_policisticos_%E2%80%93_robert_l _barbieri.htm