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@resumosdamed_ 1 AMENORREIA SECUNDÁRIA FALÊNCIA OVARIANA PREMATURA, SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP), HIPERPROLACTINEMIA E HIPOTIREIDISMO. o Uma boa anamnese e exame físico são fundamentais para o correto rastreio e identificação de uma causa coerente para a queixa da paciente, podendo apontar o diagnóstico etiológico na maioria das vezes. o Antes de tudo, é fundamental reiterar que, nos casos de pacientes que já menstruaram antes (amenorreia secundária), a principal causa da ausência de sangramento uterino é a gestação. Portanto, ao conversar com a paciente, deve-se ter em mente que é importante investigar questões relacionadas à gestação, como data da última menstruação (DUM), atividade sexual e contracepção. o Além disso, se observarmos as etiologias mais frequentes, conseguimos inferir que a anamnese deve obter dados fundamentais que podem estar relacionados às doenças, bem como podem tê-las causado. o Sendo assim, existem informações indispensáveis a serem questionadas, além das já citadas, como: idade, histórico menstrual (questionar sobre regularidade nos ciclos prévios), antecedentes obstétricos, partos, aleitamento, curetagem prévia, dieta seguida, nível de atividade física praticada, estresse, saúde psicológica, cirurgias prévias (especialmente pélvicas), químio ou radioterapia prévias, medicações (com ênfase em drogas psicotrópicas e aquelas que atuam na fisiologia da dopamina), galactorreia (aumento da secreção láctea), hiperandrogenismo (relacionado à SOP), hipoestrogenismo e a presença de caracteres sexuais secundários presentes ou não. o Dito isso, a anamnese deve ser iniciada por meio da observação e investigação sobre o desenvolvimento puberal, avaliando a presença dos caracteres sexuais secundários e ciclagem menstrual, especificando o intervalo e a duração do ciclo, assim como a quantidade de fluxo menstrual. o Partindo do fato de que a paciente já menstrua, deve-se investigar quando ocorreu a alteração, se foi abrupta ou gradual, bem como se ocorreu após algum evento, como cirurgia, infecção, radioterapia, quimioterapia etc. o Em relação aos antecedentes familiares, deve-se perguntar quanto a possíveis causas de cessação precoce de menstruação, assim como histórico de doenças autoimunes. Quanto à história social, deve ser questionado sobre a exposição a toxinas ambientais, até mesmo cigarro, sendo observados aqueles que atuam nos circuitos da dopamina, como os antipsicóticos. ESQUEMATIZAR O FLUXOGRAMA DE INVESTIGAÇÃO DA AMENORRÉIA SECUNDARIA ANAMNESE @resumosdamed_ 2 TESTE DA PROGESTERONA: o O exame físico da paciente começa quando a olhamos desde que entra em nosso consultório, uma vez que a aparência geral da paciente pode ser útil para indicar possíveis causas, como um IMC baixo, além da observação de desgaste do esmalte dos dentes, que podem ser oriundos de transtornos alimentares. o Apesar de não ser muito realizado no cotidiano, o exame dermatológico pode ser valioso nesse caso, uma vez que por meio dele podemos observar a presença de hirsutismo, acantose nigricans ou acne, que são indicativos de SOP. o O exame das mamas pode elucidar a presença de galactorreia, o que poderia sugerir níveis elevados de prolactina, a qual influenciaria nos níveis de dopamina o Quanto ao exame da genitália, a inspeção já nos revelaria o padrão de distribuição dos pelos pubianos (a não ser que a paciente seja tricotomizada), mostrando se a paciente possui um padrão tipicamente feminino ou masculinizado (indicativo de hiperandrogenismo), assim como essa tipo de distribuição pode se apresentar com clitoromegalia, engrossamento da voz e padrão de calvície masculino. o Pacientes com produção estrogênica normal possuirão vagina úmida de cor rosada com muco cervical ao exame especular. O toque vaginal pode auxiliar na identificação da presença de útero, a fim de identificar possíveis causas de amenorreia primária. o De acordo com as observações do exame físico, podem ser solicitados exames complementares direcionados aos achados clínicos. o No caso de queixas compatíveis com amenorreia secundária, a abordagem investigativa é seguida inicialmente pelo teste de gravidez. o Afastada a hipótese de gestação, podem ser feitas dosagens de prolactina e de TSH, a fim de averiguar possíveis etiologias centrais e metabólicas. Nesse cenário, são utilizados dois testes que podem nos ajudar a levantar as hipóteses mais plausíveis para a ausência de sangramento menstrual, que são os testes da progesterona e o teste do estrogênio + progesterona. o Nesse teste, a progesterona é administrada à paciente por 7 a 10 dias, simulando a segunda fase do ciclo menstrual, aguardando um possível sangramento endometrial. De acordo com o que já foi elucidado sobre ciclo menstrual e compartimentos: • Caso a paciente relate fluxo menstrual, concluímos que há estrogênio circulante, bem como que a paciente não estava ovulando e que o seu trato genital é pérvio. Nesse cenário, uma das hipóteses diagnóstica é um quadro de anovulação crônica. • No caso de a paciente não menstruar, levantamos hipóteses relacionadas à ausência dos caracteres mencionados anteriormente, como ausência de estrogênio circulante (nesse caso, o endométrio não é estimulado previamente) ou por um trato genital impérvio. Porém, para termos EXAME FÍSICO TESTES LABORATORIAIS E RADIOLÓGICOS @resumosdamed_ 3 TESTE DO ESTROGÊNIO + PROGESTERONA: AVALIAÇÃO RADIOLÓGICA: certeza quanto ao mecanismo, deve ser realizado um segundo teste, que comprovará a teoria da ausência do estrogênio. Sendo assim, realiza-se o teste do estrogênio + progesterona. o Nesse teste, o estrogênio é administrado, simulando a primeira fase do ciclo e após isso, é administrada a progesterona, de modo a simular a segunda fase, do mesmo modo que o teste anterior. Diante disso: • Se a paciente apresentar sangramento menstrual, constata-se que havia pouco estrogênio circulante, bem como que a sua cavidade endometrial é normal. Logo, suspeita-se de acometimentos no compartimento III ou IV, os quais não estão sendo capazes de estimular o ovário de forma adequada, ou ainda no próprio compartimento II, que não está sendo capaz de produzir os seus hormônios corretamente. • No caso de haver a ausência de menstruarão após o teste, pode-se inferir uma cavidade endometrial comprometida, como nos casos de sinéquia intrauterina, correspondente à Síndrome de Asherman. o De acordo com os resultados de cada um dos testes, devem ser solicitados exames de acordo com as possibilidades levantadas e compartimentos provavelmente acometidos, a fim de nos guiar para um diagnóstico e tratamento corretos. o Qualquer paciente com hipogonadismo hipogonadotrofico deve ser considerada portadora de anormalidade anatômica até prova contraria por meio de exame de imagem do cérebro e da glândula hipófise com RM ou TC. o Portanto, a amenorreia hipotalâmica funcional causada por estresse, exercícios ou transtornos alimentares é um diagnostico de exclusão @resumosdamed_ 4 DIAGNÓSTICO o As imagens obtidas são altamente sensíveis para identificação de distúrbios destrutivos, como tumores ou doenças infiltrativas no hipotálamo ou na hipófise. o Em geral, pacientes portadoras da síndrome de Kallmann apresentam falhas no desenvolvimento dos bulbos olfativos e dos sulcos rinencefálicos o A maioria das pacientes com síndrome de Asherman têm fluxo menstrual escasso ou ausente (amenorréia), mas algumas têm períodos normais. o Algumas pacientes não menstruam, mas sentem dor no momento em que deveriam menstruar. Esta dor pode indicar que o sangue não pode sair do útero, porque o colo do útero está bloqueado por aderências. o Abortos recorrentes e infertilidade tambémpodem ser sintomas. o Síndrome de Asherman, aderências/cicatrizes uterinas ou sinéquias, é uma condição uterina adquirida, caracterizada pela formação de aderências (tecido cicatricial) dentro do útero ou do colo do útero. o Em muitos casos, as paredes anterior e posterior grudam-se entre si. Em outros, as aderências se formam em uma pequena parte do útero. A proporção de aderências define se o caso é leve, moderado ou severo. o As aderências podem ser finas ou espessas, espalhadas ou concentradas. Normalmente não são tecidos vascularizados, sendo este um importante atributo que ajuda no tratamento o A Síndrome de Asherman ocorre quando um trauma no revestimento do endométrio desencadeia o processo normal de cicatrização, fundindo as áreas danificadas. Mais comumente, as aderências intra-uterinas ocorrem após uma dilatação e curetagem devido a um aborto espontâneo ou retido, retenção de placenta, com ou sem hemorragia após um parto ou aborto eletivo o Às vezes as aderências também ocorrem após outras cirurgias pélvicas, como a cesariana, a cirurgia para remover miomas ou pólipos, ou como resultado de infecções, como a tuberculose genital e a esquistossomose. o O melhor método para diagnosticar é através da Histeroscopia (visualização direta da parte interna do útero). o Outros métodos são a Histerossonografia e a Histerossalpingografia. SINTOMAS CAUSAS CONHECER A FISIOPATOLOGIA DAS SÍNDROMES ASHERMAN E SHEEHAN. SÍNDROME DE ASHERMAN @resumosdamed_ 5 FISIOPATOLOGIA o As consequências da Síndrome de Asherman na reprodução incluem infertilidade, abortos recorrentes, crescimento restrito do útero, retenção de placenta, entre outras. Porém, há outras preocupações para todas as mulheres com aderências intra-uterinas e amenorréia, incluindo as que atingiram a menopausa. o Ainda que a falta de períodos menstruais possa estar relacionada a um desequilíbrio hormonal, é mais provável que tal falta seja conseqüência da destruição da camada do endométrio ou da obstrução do colo do útero, impedindo a saída da menstruação e causando dores pélvicas, podendo ainda levar a uma condição de endometriose. o Mulheres com Síndrome de Asherman podem desenvolver câncer no útero, antes ou depois da menopausa. Este não é um fator de aumento de risco e pode até ser menor que na população geral. Porém, o alerta é válido para casos de sangramento excessivo durante a menstruação e muitas podem não perceber este sintoma devido à obstrução do colo do útero. o Além disso, ultrasom pélvico deve fazer parte do exame ginecológico de rotina anual. A incidência da síndrome de Sheehan tem diminuído, principalmente, em países e regiões mais desenvolvidas em razão da melhora nos cuidados obstétricos, contudo, ela permanece sendo causa comum de deficiência de hormônio de crescimento em muitos pacientes e ainda é frequente em regiões pobres ao redor do mundo onde os cuidados periparto são mais precários. Seu diagnóstico pode ser ignorado por anos, o que agrava a morbimortalidade entre as pacientes, devendo o clínico estar atento aos sinais de deficiência pituitária após o parto, principalmente em mulheres com história de hemorragia ou parto complicado. o A Síndrome de Sheehan é decorrente do infarto da glândula hipofisária, principalmente do lobo anterior, em virtude de baixo fluxo sanguíneo, que pode ser secundário a vasoespasmo, trombose ou compressão vascular. o Sabe-se que durante a gestação ocorre aumento progressivo da glândula hipofisária de 30% a 100% do seu peso, porém acredita-se que o seu suprimento de sangue se mantenha inalterado em relação ao estado pré-gestacional, sendo tal situação responsável por tornar a glândula mais suscetível à necrose por causa da hipotensão ou do choque pós-parto. A síndrome de Sheehan classicamente trata-se de hipopituitarismo pós-parto secundário à necrose hipofisária decorrente de hipotensão ou choque por causa de hemorragia maciça durante ou após o parto. CONSEQUÊNCIAS DA SÍNDROME DE ASHERMAN NA REPRODUÇÃO SÍNDROME DE SHEEHAM @resumosdamed_ 6 DIAGNÓSTICO COMPREENDER A ETIOPATOGENIA DA SÍNDROME DOS OVÁRIOS POLICÍSTICOS (SOP) o A apresentação do quadro clínico pode ser dividida em forma aguda e crônica. A primeira conta com sintomas e sinais de insuficiência adrenal aguda, sendo a agalactia o sinal mais precoce, acompanhada de rápida involução da mama e o não retorno aos ciclos menstruais regulares. o Já a segunda engloba características dos diversos déficits hipofisários, como astenia, fadiga e confusão mental, além de pele hipopigmentada e rarefação dos pelos axilares e pubianos, tendo a hiponatremia como distúrbio eletrolítico mais comum, o qual pode estar presente por mais de 30 anos após o início da doença. o O diagnóstico deve ser feito através de uma história obstétrica apurada. A história clínica clássica da síndrome de Sheehan é de trabalho de parto complicado, cursando com hemorragia volumosa durante ou após o parto, evoluindo posteriormente com agalactia e amenorreia secundária. o Podem estar presentes sinais clínicos agudos ou crônicos da redução dos níveis de hormônios hipofisários e o achado radiológico característico da síndrome de Sheehan é a imagem de sela vazia, presente em cerca de 70% dos casos, ou parcialmente vazia, presente em 30% dos pacientes, sendo a presença de remanescentes hipofisários inversamente relacionada com a duração da doença e com o grau de hipopituitarismo. o Nos pacientes com história e quadro clínico compatíveis, a realização da avalição dos níveis dos hormônios: prolactina; T4 livre; TSH; ACTH; cortisol; FSH; LH; estradiol; e IGF-1, podem ser suficientes para o diagnóstico. Entretanto, pode ser necessária a realização de testes dinâmicos da função hipofisária, os quais consistem na administração de hormônios que estimulam a glândula hipófise, para assim avaliar a sua capacidade de produzir e secretar hormônios. o Vários fatores têm sido implicados na etiopatogenia da SOP, havendo componentes genéticos envolvidos, fatores metabólicos pré e pós-natais, QUADRO CLÍNICO @resumosdamed_ 7 distúrbios endócrinos hereditários, como a resistência à insulina e o diabetes mellitus tipo II (DMII), e fatores ambientais (dieta e atividade física). o Dentre os mecanismos endócrinos envolvidos na etiopatogênese da SOP está o padrão de secreção de gonadotrofinas, com hipersercreção característica de LH, evento patognomônico desta síndrome, com aumento na amplitude dos pulsos e com secreção de FSH baixa ou no limite inferior da normalidade o Esta secreção aumentada de LH leva à uma hiperatividade das células da teca que produzirão quantidades aumentadas de androgênios, predominantemente testosterona, sem a conversão proporcional deste androgênio em estradiol, dado o desbalanço entre as secreções de LH e FSH, o que explica o hiperandrogenismo característico da doença. o Têm sido repetidamente demonstrado que a exposição intrauterina a elevadas concentrações de androgênios promove alterações na programação central da regulação do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano (HHO). o Em humanos, já foi demonstrado que mulheres portadoras de SOP têm menor sensibilidade hipotalâmica ao retrocontrole feitos pelos estrogênios e progesterona de origem ovariana, com marcada resistência dos neurônios secretores de hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) à regulação inibitória feita pela progesterona, o que prologariam os pulsos de GnRH e LH. Há indícios de que esta redução do efeito inibitório da progesterona sobre os neurônios hipotalâmicos seja resultado de uma menor expressão dos receptores de progesterona locais, em consequência aos elevados níveis de testosterona. o Considerando que o desenvolvimento folicular normal depende de uma sincroniaentre gonadotrofinas (LH e FSH), insulina, fator de crescimento insulina-símile 1 (IGF-1), hormônio anti-mulleriano (AMH), enzimas ligadas à esteroidogênese e outros fatores de crescimento, pode-se compreender o impacto que estas mudanças regulatórias causam sobre a foliculogênese ovariana. No caso de mulheres com SOP o recrutamento e ativação folicular ocorrem de maneira bastante intensa, porém com menor atresia dos folículos em estágios iniciais, por isso, apesar do recrutamento mais proeminente não há depleção precoce da população de folículos nestes indivíduos. Os menores níveis de FSH produzidos nestas pacientes dificulta o completo crescimento do folículo até estágios maduros, os quais acabam estacionados em estágios intermediários. Isso confere ao ovário a morfologia policística. o Além das alterações relativas às gonadotrofinas, parece haver um papel significativo da insulina e do IGF-1 na produção anômala de androgênios nestas mulheres. Portadoras de SOP apresentam mais frequentemente resistência à insulina e hiperinsulinemia compensatória independente da presença ou não de obesidade,sendo a resistência tanto para a ação da insulina no músculo estriado, quanto no tecido adiposo. o O aumento da insulina circulante tem efeito direto na produção de androgênios ovarianos, uma vez que esta possui ação sinérgica ao LH nas células da teca, estimulando a produção de androgênios. FATORES ENDÓCRINOS: @resumosdamed_ 8 o Além disso, a insulina também está envolvida na redução da produção da proteína carreadora de androgênios (SHBG) pelo fígado; estes dois efeitos somados aumentam a concentração de testosterona livre, ou seja, da fração ativa do hormônio. o O IGF-1, assim como a insulina, tem papel na produção de androgênios ovarianos, sendo um dos mecanismos a estimulação de proliferação de células da teca o Embora inicialmente se acreditasse num padrão de herança monossômica dominante, hoje já há evidências de um padrão mais complexo de hereditariedade, envolvendo múltiplos genes. Estudos empregando técnicas de amplo estudo genômico têm possibilitado a identificação de alterações em múltiplos loci associados à síndrome dos ovários policísticos, o que faz crer tratar-se de doença oligo ou poligênica. o A existência de penetrância gênica incompleta, modificações epigenéticas e a influência de fatores ambientais tornam bastante complicada a elucidação e identificação do padrão de hereditariedade envolvido nesta doença. o A comparação na expressão de genes no tecido ovariano de mulheres portadoras de SOP em comparação a mulheres normovulatórias tem demonstrado a existência de padrões distintos entre estes dois grupos, com desregulação na expressão de genes ligados a diversos processos biológicos distintos o O protocolo que é mais amplamente utilizado e que abrangerá maior número de pacientes é o critério de Rotterdam. Portanto, levaremos em consideração, a presença de ao menos dois dos três critérios diagnósticos: 1. oligomenorreia 2. hiperandrogenismo clínico e/ou laboratorial 3. morfologia ultrassonográfica de policistose ovariana. o Além disso, a exclusão de outras doenças que também cursam com hiperandrogenismo constitui-se no quarto, e obrigatório, critério diagnóstico. o Embora ao se adotar os critérios de Rotterdam possamos nos deparar com pacientes sem sinais clássicos de hiperandrogenismo, as manifestações clínicas mais características da doença são quase todas decorrentes do excesso de androgênios circulantes. o Como anteriormente descrito, o hiperandrogenismo está implicado em alterações na programação da regulação do eixo HHO, com interferências na sensibilidade do hipotálamo ao feedback exercido pelo estrogênio e pela progesterona de origem ovariana. Desta maneira, ocorre uma secreção atípica de GnRH, que determina a secreção de pulsos anárquicos de gonadotrofinas, caracterizado pela hipersecreção de LH, levando a ciclos anovulatórios, com o recrutamento inicial de múltiplos folículos, porém sem a maturação completa de nenhum, mantendo-os retidos em estágio intermediário de desenvolvimento (morfologia policística dos ovários). FATORES GENÉTICOS: CARACTERIZAR O DIAGNÓSTICO CLÍNICO, LABORATORIAL E DE IMAGEM DA SOP. @resumosdamed_ 9 o A anovulação secundária a este processo gera atraso menstrual com ciclos longos, porém normoestrogênicos, já que o crescimento folicular ocorre parcialmente, por isso há oligo-amenorreia e infertilidade. E por fim, o efeito direto dos androgênios sobre os folículos pilosos e sebáceos leva aos sinais e sintomas clínicos do hiperandrogenismo, como hirsutismo, acne, pele oleosa, queda de cabelo e nos casos mais graves, sinais de virilização com clitoromegalia e alopecia androgênica o De acordo com o exposto acima, se pode definir que o diagnóstico da SOP é quase sempre clínico, principalmente levando-se em consideração que grande parte das portadoras de SOP apresentará irregularidade menstrual e hiperandrogenismo clínico. o O histórico menstrual de oligo-amenorreia será caracterizado como a ausência de menstruação por 90 dias ou mais, ou a ocorrência de menos de 9 ciclos menstruais em um ano, sendo portanto um critério bastante objetivo. Já o diagnóstico dos sinais e sintomas de hiperandrogenismo é mais subjetivo. Entretanto, alguns parâmetros podem nortear esta avaliação como, por exemplo, o Índice de Ferriman-Galleway; trata-se de uma escala para quantificação de pelos em áreas androgênios dependentes, com nove áreas avaliadas, sendo que cada localização pode somar 0 a 4 pontos, aonde 0 corresponde à ausência completa de pelos e 4 ao crescimento acentuado de pelos terminais. É considerado o hirsutismo valores entre 4-6, sendo mais baixo para orientais e mais alto para mulheres do Oriente Médio, hispânicas e de outras regiões do Mediterrâneo. Um bom parâmetro para esta análise é a observação dos pelos em áreas não androgênio dependentes, como antebraço; a quantidade de pelo presente nestas áreas deve refletir o que deve ser considerado esperado para dada paciente e o objetivo do tratamento deve ser guiado por esta meta. o Independente do escore, se os pelos têm localização em áreas mais expostas que incomodam a paciente, como a face, deve-se realizar o tratamento ainda que conceitualmente não tenhamos hirsutismo. @resumosdamed_ 10 o Além do hirsutismo, o aumento da oleosidade da pele, a presença de acne, queda de cabelos e, em alguns casos mais graves, sinais de virilização com clitoromegalia e alopecia hiperandrogênica, compõe as manifestações clínicas do hiperandrogenismo. o Nos casos em que as manifestações clínicas não forem tão exuberantes, deve- se avaliar a característica morfológica dos ovários. A maneira mais simples e de baixo custo para esta avaliação é a ultrassonografia pélvica bidimensional, preferencialmente transvaginal. Os critérios ultrassonográficos padronizados, segundo as novas recomendações da ASRM/ESHRE de 2018, são: 1. a presença de 20 ou mais folículos com diâmetro médio de 2 a 9 mm e/ou 2. volume ovariano total maior ou igual 10cm3 (exceto se houver cisto funcional, neste caso deve-se repetir o exame no ciclo seguinte), em um ou ambos os ovários. o A melhoria dos equipamentos de ultrassom e melhora na qualidade da imagem, permitiu que folículos anteriormente não visíveis fossem visualizados, o que trouxe a necessidade de se aumentar os padrões de normalidade como referência para a contagem de folículos antrais iniciais, que anteriormente era de doze folículos. o Também nos casos em que o fenótipo não é claramente hiperandrogênico, deve-se realizar o diagnóstico diferencial com outras causas de anovulação crônica, sendo as principais a hiperprolactinemia, as anovulações de origem hipotalâmica e a insuficiência ovariana prematura. Paraisso, a solicitação de dosagens hormonais de prolactina e FSH são suficientes, havendo casos em que a dosagem de Hormônio Tireo Estimulante (TSH) poderá também ser útil nesta avaliação. • Na SOP espera-se que os valores de prolactina estejam normais, entretanto, em cerca de 10% dos casos a prolactina encontra-se elevada. Os mecanismos p los quais isso ocorre ainda não são muito claros, mas parece haver uma maior sensibilidade ao estímulo do Hormônio Liberador de Tireotrofina (TRH) à produção de prolactina, especialmente nas portadoras de SOP com níveis elevados de LH. • Já os valores de FSH nas pacientes com SOP estarão provavelmente próximos ao limite inferior da normalidade, em resposta à alta pro- dução de Inibina pela população de folículos antrais em crescimento, característicos da doença. • Apesar da característica hormonal da SOP estar centrada na hipersecreção de LH, não há necessidade de dosar este hormônio, uma vez que este exame @resumosdamed_ 11 tem baixo valor preditivo, aonde menos de 50% das mulheres portadoras de SOP apresentam níveis elevados em uma dosagem isolada. • A dosagem de TSH pode ser complementar na avaliação das pacientes SOP, pois 14 a 20% delas apresentam valores aumentados deste hormônio e parece que esta alteração está relacionada à pior perfil metabólico nestas pacientes o Havendo a presença dos dois critérios, oligo-amenorreia e sinais clínicos de hiperandrogenismo, pode-se concluir pelo diagnóstico de SOP após descartar as outras causas de hiperandrogenismo (quarto critério de Rotterdam). Dentre as doenças mais prevalentes e que justificam pesquisa ativa de rotina para diagnóstico diferencial estão: os tumores produtores de androgênios (ovariano e adrenal), hiperprolactinemia, disfunções tireoidianas e a hiperplasia adrenal congênita, mais especificamente a forma não clássica, já que a forma clássica se manifesta com a presença de genitália ambígua por virilização intrauterina e provavelmente será diagnosticada antes da puberdade. O quadro ilustra os principais diagnósticos diferenciais e qual a propedêutica que melhor se aplica para investigá-los: o Caso sejam descartadas outras doenças de base que justifiquem o hiperandrogenismo, confirma-se a SOP. o Além dos fatores metabólicos já imputados à própria síndrome, como a resistência insulínica e risco de diabetes tipo 2, há outra associação, já bem documentada na literatura médica, entre a SOP e obesidade. Sendo assim, faz parte da propedêutica diagnóstica desta síndrome a investigação metabólica e bioquímica, na busca de fatores de risco para doença cardiovascular, tais como avaliação do metabolismo glicídico e lipídico. Esta propedêutica é mais relevante em pacientes SOP com sobrepeso e obesas, porém, pacientes SOP com peso adequado também devem ser avaliadas, uma vez que a própria síndrome predispõe a várias destas alterações, principalmente aquelas com fenótipo hiperandrogênico proeminente. @resumosdamed_ 12 CONTRACEPTIVOS HORMONAIS o As alternativas medicamentosas ao tratamento das manifestações hiperandrogênicas estão em dois principais grupos: contraceptivos hormonais e antiandrogênicos. o O tratamento do hiperandrogenismo clínico tem como objetivo reduzir a produção de androgênios e reduzir sua ação na unidade pilossebácea. o A escolha do tratamento segue alguns critérios relacionados à idade da mulher, à fase da vida reprodutiva, peso, desejo de gestação, associação com distúrbio do metabolismo glicídico. Além disso, a seleção da droga antiandrogênica é feita ainda pela associação destas características com critérios como severidade do hirsutismo, custo e efetividade da droga, efeitos colaterais. o Os contraceptivos hormonais combinados orais representam uma escolha geralmente bem aceita e com bom custo-efetividade no tratamento das manifestações androgênicas. O mecanismo de ação destes medicamentos se dá por: • Bloqueio do eixo hipotálamo-hipófise-ovariano pelo progestagênio, com redução das gonadotrofinas em especial com redução do LH e, portanto, do estímulo dos ovários, resultando em menor produção de androgênios; • Aumento de SHBG em decorrência da ação do estrogênio oral sobre o fígado. Considerando este mecanismo, contraceptivos com etinil estradiol (EE) acarretam maior elevação da SHBG do que contraceptivos contendo 17-beta- -estradiol (E2), ação dose-dependente; • Progestagênios com propriedades antiandrogênicas, por bloqueio do receptor androgênico ou inibição da enzima 5 alfa redutase ( • Provável interação dos COC na síntese adrenal, reduzindo a produção de androgênios desta fonte. RESUMO DA PROPEDÊUTICA PARA O DIAGNÓSTICO DA SÍNDROME COMPREENDER O TRATAMENTO DA SOP: AS BASES NÃO MEDICAMENTOSAS E MEDICAMENTOSAS QUE ATUAM NO ÂMBITO DO CONTROLE DA IRREGULARIDADE MENSTRUAL, DO HIPERANDROGENISMO E NO DESEJO DE GESTAÇÃO. @resumosdamed_ 13 ACETATO DE CIPROTERONA ESPIRONOLACTONA: FLUTAMIDA FINASTERIDA: o Os principais antiandrogênios disponíveis de forma isolada são o acetato de ciproterona, espironolactona, finasterida e flutamida. o É um 17-hidroxiprogesterona derivado, ou seja, um antiandrogênico esteroidal, que age bloqueando a secreção de gonadotrofinas (com redução do LH e da produção androgênica) e ocupando e bloqueando o receptor androgênico, além de inibir enzimas envolvidas na síntese do androgênio. o Dose recomendada para tratamento do hirsutismo: 50 a 100 mg por dia por 10 dias do ciclo, sendo geralmente utilizado em associação a um COC, e administrado concomitantemente aos 10 primeiros comprimidos do COC. o Efeitos colaterais: cefaleia, ganho de peso, mastalgia, redução da libido, edema e distúrbio de humor, em especial depressão, toxicidade hepática. o Efeito teratogênico: feminização de fetos masculinos. o Tem estrutura semelhante à dos progestagênios, atua como um antagonista do receptor androgênico, ligando-se a estes receptores, além de inibir a enzima 5 alfa redutase, envolvida na biossíntese androgênica. o Dose recomendada: 50 a 200 mg ao dia, sendo geralmente utilizado na dose de 100 mg/dia. o Efeitos colaterais: mastalgia, distúrbios menstruais (há estudos em ratos mostrando piora da anovulação e redução das taxas de concepção), cefaleia, poliúria, tontura, geralmente associados a doses altas. o Efeito teratogênico: a espironolactona e seus metabólitos podem atravessar a barreira placentária. Não há estudos suficientes quanto ao seu uso em gravidez, é um medicamento classificado na categoria C de risco de gravidez o É uma droga antiandrogênica não esteroidal, que age por bloqueio do receptor androgênico. Devido ao seu efeito hepatotóxico, em nosso país foi proibida para uso no tratamento do hirsutismo. o Dose: 250 a 500 mg/dia. o Age como um inibidor da enzima 5-ἀ-redutase, atuando como um inibidor da conversão da testosterona em dihidrotestosterona (DHT), com redução das concentrações séricas e teciduais deste hormônio. o A finasterida não tem afinidade pelo receptor de androgênio e não possui efeitos diretos sobre a secreção dos hormônios esteroides sexuais. o Dose recomendada: 5 mg/dia. o Efeitos colaterais: redução da libido. DROGAS ANTIANDROGÊNICAS @resumosdamed_ 14 o Efeito teratogênico: categoria de risco: X, sendo contraindicada a mulheres grávidas ou que possam engravidar, podendo causar alterações na genitália externa de fetos do sexo masculino. o Alguns autores sugerem iniciar o tratamento com COC e reavaliar a melhora do hirsutismo após 6 meses de uso. Quando o resultado não for satisfatório, associar com antiandrogênio. Para outros autores, para melhor eficácia e em tempo menor, podem ser indicadas combinações dos contraceptivos combinados estroprogestativos com antiandrogênios isolados. As medidas acimatêm repercussões não só no hirsutismo, mas também promovem melhora das demais manifestações hiperandrogênicas. Para a acne, medidas específicas são frequentemente associadas. o Medidas cosméticas podem ser adicionadas ao tratamento, em especial para controle de hirsutismo localizado, mas também como terapêutica complementar ao tratamento medicamentoso em casos de hirsutismo moderado ou severo. Embora existam estudos com eletrólise, os métodos que utilizam laser são os que podem acrescentar resultados mais rápidos e mais duradouros. Outras medidas cosméticas imediatas também podem ser utilizadas, tais como depilação mecânica, descoloração. Para situações de hirsutismo localizado especialmente em face, a eflornitine tópica teria indicação, mas não está disponível em nosso país. o A obesidade está associada a redução dos níveis de SHBG, com consequente elevação da testosterona livre circulante. Este estado de hiperandrogenismo relativo, associado a piora do estado de resistência insulínica, pode piorar as manifestações androgênicas. Assim, mudanças no estilo de vida, em especial com o objetivo de redução do peso, podem beneficiar o tratamento do hirsutismo o Todos os tratamentos sistêmicos reduzem a fase anágena do folículo piloso, o que significa que todos os folículos terão que passar por esta fase para que os efeitos do tratamento possam começar a ser evidenciados. Na prática, isto significa que os tratamentos são prolongados e que as mulheres devem ser advertidas de que necessitam aderir ao tratamento por longos períodos. Um outro ponto importante é que os resultados são melhores e talvez perceptíveis em prazos menores quando se optar por tratamentos associados, isto é, combinação de diferentes drogas e/ou tratamentos cosméticos. Nas mulheres obesas, a melhora do tratamento pode ser mais limitada. o Duração da terapia: a reavaliação da terapia não deve ser feita antes de ao menos 6 meses, em especial para a queixa de hirsutismo. Na SOP, o tratamento farmacológico geralmente deve ser mantido durante a vida reprodutiva, uma vez que pode haver recorrência do crescimento dos pelos se o tratamento é descontinuado. Quando há desejo de gravidez, o tratamento farmacológico deve ser retirado. CONCLUSÕES @resumosdamed_ 15 FISIOLOGIA o Proteína carreadora de androgênios (SHBG) tem o papel de reduzir a concentração de testosterona livre, ou seja, da fração ativa do hormônio. Se a SHBG estiver baixa, as concentrações de androgenios livres será maior, provocando um hiperandrogenismo. o O hiperandrogenismo laboratorial ocorre quando há elevação de pelo menos um androgênio, que pode ser testosterona total, androstenediona e/ou sulfato de desidroepiandrosterona sérica (SDHEA). Com isso, conclui-se que os altos niveis de SDHEA levam a hiperandrogenia. o A prolactina (PRL) é um hormônio polipeptídeo segregado pela adeno-hipófise. o A PRL é responsável pela produção do leite, tendo ainda efeitos na inibição da reprodução pela supressão do funcionamento do ovário, impedindo nova gestação durante o período de amamentação. Um efeito residual dessa atividade é o aparecimento de impotência e diminuição da libido nos homens com hiperprolactinemia. Portanto, a PRL pode ser considerada o hormônio da descendência, pois garante à prole o cuidado dos progenitores. o A PRL é produzida por células da adeno-hipófise, está sob o controle do hipotálamo por meio de hormónios controladores que chegam à hipófise pelo sistema porta hipotalâmico-hipofisário. o A PRL é controlada principalmente por um hormônio inibidor, a PIF (Prolactin Inhibiling Factor), que é a dopamina, sintetizada nos neurónios tuberoinfundibulares do hipotálamo. Portanto, com a perda desse controle do hipotálamo sobre a hipófise, que pode ocorrer até mesmo por uma patologia na haste hipofisária, impedindo a passagem dos hormônios, haverá diminuição de todos os hormônios produzidos pela adeno-hipófise, exceto a PRL, que sofrerá elevação de sua produção. o Existe um hormônio hipotalâmico com ação estimuladora sobre a produção da PRL agindo como um fator liberador e identificado como o TRH, o hormónio liberador da tireotrofina, o que explica os casos de hiperprolactinemia associados ao hipotireoidismo quando há elevação do TRH. o Ou seja, no hipertireoidismo o TRH elevado, estimula a produção de PRL levando assim também a um quadro de hiperprolactinemia. o Algumas substâncias podem estimular a síntese e a liberação da PRL: o VIP (peptídeo vasoativo intestinal), o GnRH (horrnônio liberador das gonadotrofinas) e o GABA (ácido gama-aminobutírico). DEFINIR SHBG E SUA RELAÇÃO COM A HIPERANDROGENIA RELACIONAR AS ALTERAÇÕES DOS NÍVEIS DE SDHEA COM HIPERANDROGENIA CARACTERIZAR A FISIOLOGIA DA PRODUÇÃO DE PROLACTINA INTRODUÇÃO @resumosdamed_ 16 CORRELACIONAR A HIPERPROLACTINEMIA COM AMENORREIA E INFERTILIDADE o Outras substâncias podem influenciar a secreção da PRL, como o estrogénio, a progesterona, a serotonina, os opioides, a histamina, a vasopressina, a neuritensina, a substância P e o peptícleo histidina-metionin. o A secreção da PRL pela adeno-hipófise acontece de maneira pulsátil, ocorrendo variações de seu nível circulante no decorrer do dia. A PRL aumenta durante o sono, diminuindo gradualmente no decorrer da manha. o Durante a gravidez ocorre elevação constante dos padrões de PRL em função dos níveis crescentes de estrogênio e progesterona produzidos pela placenta, atingindo o máximo no termo da gestação. No entanto, durante esse período não ocorre a lactação, em virtude da ação do próprio estrogênio diretamente na mama, inibindo localmente a PRL. Quando ocorre a dequitação da placenta, os níveis de estrogénio e de progesterona caem, liberando a ação da PRL, o que desencadeia a apojadura do leite. A manutenção dos níveis altos de PRL e, portanto, da lactação, a partir desse momento passa a depender de novo mecanismo de inibição do PIF, que é o reflexo neuroendócrino da estimulação do mamiIo pela sucção, conhecido como reflexo de Fergunson, que induz a cada mamada o aparecimento de um pico de PRL. A frequência constante das mamadas causa então um nível elevado da PRL, mantendo a lactação e inibindo a ovulação. o A ação da PRL sobre a ovulação se dá pela sua interferência na secreção hipotalâmica pulsátil do GnRH e a consequente alteração dos níveis do hormônio folículo-estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH). Essa interferência está na dependência direta dos níveis circulantes de PRL, variando desde uma fase lútea inadequada, passando por uma anovulação intermitente, o que acarreta oligomenorreia, até anovulação total seguida de amenorreia, dependendo dos níveis sanguíneos de PRL. o A função ovariana estará reduzida em razão da interferência da PRL nos pulsos de GnRH com consequente diminuição da secreção de FSH e LH. o As manifestações clínicas variam na dependência do nivel sérico da PRL circulante e também entre o encurtamento da fase lútea, a oligomenorreia, até a amenorreia, podendo ocorrer graus menores de inibição ovariana que justificam o aparecimento de infertilidade relacionada com hiperprolactinemia sem amenorreia. o Elevação discreta (<30ng/mL) pode ser causa de infertilidade por ocasionar fase lútea curta ou ciclos anovulatórios. @resumosdamed_ 17 o Casos mais avançados podem apresentar redução dos níveis de produção de estrogénio (amenorreia central), acarretando atrofia genital e outras consequências do hipoestrogenismo, como a osteoporose. • Resumidamente: O aumento da prolactina circulante resulta em aumento compensatório da dopamina central, o principal inibidor da secreção de prolactina. O aumento nos níveis centrais de dopamina altera a secreção de GnRH, rompendo, consequentemente, a secreção gonadotróficacíclica normal e impedindo a ovulação. • Farmacológicas: causadas por medicamentos que atuam inibindo o PIF (dopamina) ou com ação direta sobre a produção da PRL. Muitos medicamentos utilizados na prática clínica por diferentes especialidades podem ser responsáveis pela hiperprolactinemia (p. ex., verapamil e morfina inibem a produção central de dopamina; reserpina e alfametildopa provocam depleção dos estoques cerebrais de dopamina; metroclopramida e sulpirida bloqueiam a ligação da dopamina com seu receptor; inibidores da monoaminoxidase e antidepressivos tricíclicos inibem a recaptação de dopamina).Outros medicamentos atuam inibindo a recaptação da serotonina, como a fluoxetina e os opiáceos. A cimetidina e a ranitidina agem por antagonizar os receptores H2 da histamina. Os estrogênios causam hiperprolactimemia por ação direta na hipófise, estimulando a transcrição genica e a atividade mitótica dos lactotrofos. • Fisiológicas: relacionadas com as variações de sua produção (sono, coito, exercícios) ou sobre seu controle natural (estímulo mamilar). A possibilidade de gravidez deve ser sempre considerada na mulher em período fértil. CAUSAS ENTENDER AS PRINCIPAIS CAUSAS DE HIPERPROLACTINEMIA E ABORDAR A INVESTIGAÇÃO Sono Refeições Estresse Coito Exercícios físicos Gravidez e lactação Manipulação mamária Um terço das pacientes com amenorreia tem hiperprolactinemia Um terço das pacientes com hiperprolactinemia tem galactorreia Um terço das pacientes com galactorreia tem ciclos regulares Um terço das pacientes com hiperprolactinemia tem infertilidade Um terço das pacientes com amenorreia secundária tem adenoma de hipófise @resumosdamed_ 18 o Patológicas: desencadeadas por doenças sistêmicas ou hipotalâmico- hipofisárias, como o adenoma hipofisário produtor de PRL. o A causa endócrina mais comum é o hipotireoidismo primário que, em razão da queda dos hormônios tireoidianos, induz aumento do TRH que, por sua ação estimulatória sobre a produção da PRL, pode causar a hiperprolactinemia. • Antagonistas dopaminérgicos Fenotiazinas (clorpromazina, lorpramazina) Butirofenonas (haloperidol) Benzamidas (metoclopramida, sulpirida, veraliprida) • Agentes depletores da dopamina Alfametildopa Reserpina • Fármacos que atuam mediante mecanismos não dopaminérgicos Estrogênios Progestogênios Antidepressivos tricíclicos (inibidores da MAO) Opiáceos Cocaína TRH • Tumores hipofisários Prolactinomas Acromegalia Síndrome da sela vazia Secção da haste hipofisária Tumores não secretores Angiossarcoma • Lesões hipotalâmicas Histiocitose Sarcoidose Granuloma eosinófilo Tumores — craniofaringiomas, meningiomas, disgerminomas Radioterapia • Produção ectópica por tumores Carcinoma broncogênico Hipernefroma • Doenças endocrinometabólicas Hipotireoidismo Doença de Addison Hiperplasia da suprarrenal Insuficiência renal cronica Síndrome de Nelson Hepatopatia crónica • Doenças e lesões irritativas da parede torácica Herpes-zóster Mastectomias Toracotomias Mastoplastias Dermatite atópica Queimaduras @resumosdamed_ 19 CORRELACIONAR FISIOPATOLÓGICAMENTE E CLINICAMENTE COMO AS ALTERAÇÕES DE HORMÔNIOS TIREOIDIANOS PODEM INFLUENCIAR NA PRODUÇÃO DOS HORMÔNIOS SEXUAIS o A base do diagnóstico é a dosagem da PRL basal. Sua pesquisa na ginecologia está sempre indicada nos casos de galactorreia, amenorreia com ou sem galactorreia e na infertilidade. o Os dados clínicos e a investigação inicial devem afastar outras causas de elevação da PRL, como gravidez, uso de drogas, hipotireoidismo e insuficiência renal crónica. o Os exames complementares relacionados com a causa-base da hiperprolactinemia devem ser realizados visando à identificação da patologia subjacente (p. ex., afastar adenoma de hipófise) para instituição do tratamento adequado. Diante de uma paciente com quadro clínico compatível com possível elevação da PRL, a primeira conduta será a dosagem da PRL, sempre associada à dosagem do TSH para afastar o hipotireoidismo (subclínico) como causador da hiperprolactinemia. o A coleta do sangue deve ser feita pela manhã, após período de repouso, e evitando-se o "estresse" da punção venosa. Níveis entre 5 e 25ng/mL são considerados normais. O encontro de níveis >100ng/mL é sugestivo de tumores e de níveis >200ng/mL, de macroprolactinomas. o A radiografia de crânio para avaliação da sela túrcica está indicada nas pacientes com galactorreia isolada ou associada aos outros sintomas e na hiperprolactinemia comprovada pelo exame laboratorial. o Os métodos de imagem, como a tomografia computadorizada (TC) e a ressonância magnética (RM), apresentam grande sensibilidade, sendo de maior valor nos casos com níveis altos de PRL ou com aparecimento de imagem suspeita à radiografia de crânio. o A campimetria visual e o exame do fundo de olho são métodos de acompanhamento dos grandes tumores, até mesmo durante a gravidez. DIAGNÓSTICO E INVESTIGAÇÃO @resumosdamed_ 20 Ginecologia de Williams. 2a edição. Manual SOGIMIG de ginecologia e obstetricia
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