Pedagogia - Metodologia e Prática de Historia e Geografia - Aula 1

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BRUNA C. GONÇALVES 
CONTEÚDO E 
METODOLOGIA DE 
HISTÓRIA E GEOGRAFIA 
AULA 1 
Conceitos de História e 
Geografia 
A HISTÓRIA 
A História estuda o passado, mas essa é uma definição muito simplista da 
disciplina. O passado é fonte de estudo histórico, mas está longe de se 
resumir a isso, mesmo porque história e passado são duas coisas distintas. 
O historiador só consegue recuperar fragmentos do passado, mas nunca 
alcança a sua totalidade. No entanto, o historiador pode ir além na 
compreensão do passado do que qualquer pessoa que tenha nele vivido, 
visto que possui novos conhecimentos trazidos pela modernidade para a sua 
pesquisa e compreensão. 
O que nos traz para uma outra reflexão que nem sempre fazemos: a História 
é construída por narrativas feitas no presente sobre os acontecimentos do 
passado. A cada perspectiva nova que temos, novas questões aparecem sobre 
as relações humanas nos seus diferente tempos. 
 
Leandro Karnal, na introdução do livro História na sala de aula, afirma que 
a “História está envolvida em um fazer orgânico: é viva e mutável”, para ele 
isso se dá porque “a representação do passado e do que consideramos 
importantes representar é um processo constante de mudança” (2016, p. 8). 
Os apontamentos do historiador nos levam a pensar que o estudo histórico 
envolve mais do que simplesmente uma reconfiguração do passado. 
A História traz em si sua própria história, uma vez que nem sempre 
apresentou as características, nem os métodos que utilizamos hoje, mas em 
todos os momentos buscou preservar, estudar e difundir a ação do homem 
ao longo do tempo e do espaço. 
A princípio, buscou se desvencilhar da narrativa mítica e com o tempo foi 
ganhando novos formatos, inclusive novas análises críticas. 
Heródoto (século V a.C.), 
um dos primeiros historiadores cuja obra 
sobreviveu até os dias de hoje. 
A História, com o status de ciência, conta com uma metodologia própria, sua 
base de estudos são os próprios documentos, que passam por criteriosas 
análises críticas. Mas, para além, do rigor proposto pelos positivistas, a 
História hoje tem um dinamismo e uma liberdade maiores, desde a escolha 
de seus objetos a como eles serão trabalhados. No entanto, há parâmetros 
que devem ser respeitados. 
 
ESPECIFICIDADES DO ESTUDO HISTÓRICO 
Todo estudo histórico parte da documentação, de onde é possível a história 
interagir com o passado. 
 
• E o que seria essa documentação? 
 
Todo vestígio humano deixado ao longo do tempo no espaço pode ser 
considerado documentação. 
Hoje existem diferentes abordagens da História, assim como as 
documentações históricas são múltiplas e diversas. Elas podem ser desde 
escritos a diferentes materiais, além dos próprios elementos culturais e 
artísticos. Logo, toda expressão humana que foi registrada no tempo e no 
espaço é base para o estudo histórico. 
Vejamos um pouco dessas documentações e das suas abordagens na 
História. 
No início da História as comprovações dos fatos se davam pela autoridade 
do autor da obra, mas com o tempo outros elementos apareceram, e no 
século XIX a documentação foi colocada como base dos fatos históricos. 
Para os positivistas do século XIX, a única documentação que poderia ser 
usada eram os documentos oficiais, assim, só aqueles que eram produzidos 
pelo Estado, pela Igreja, etc. 
 
A Escola dos Annales no século XX mudou esse panorama, e ampliou o 
estudo histórico e consequentemente sua documentação, que agora passa a 
ser tudo que foi produzido pelo homem, seja escrito, material, visual, 
iconográfico, sonoro ou oral. Passamos a ver o estudo de história social, 
história cultural, história econômica, para além da história política. 
 
 
Documentação escrita é todo documento que foi escrito pelo homem. 
• Além dos documentos oficiais, podemos encontrar outros que podem 
nos ajudar a entender alguns acontecimentos do passado, entre eles: 
diários, jornais, atas, inventários, poesia, música, literatura, biografia, 
entre muitos outros. 
Documentação material é todo vestígio material humano. 
• Como roupas, brinquedos, acessórios de beleza, domésticos, de guerra, 
casas, edifícios, monumentos e móveis, entre tantos outros objetos que 
podem ser encontrados em sítios arqueológicos. 
Documentação visual e iconográfica são documentos que utilização da 
imagem como documento. 
• As documentações visuais são os filmes, desenhos, documentários que 
foram produzidos em determinados períodos por sujeitos históricos. 
• Os iconográficos, que são as imagens, pinturas, fotografias, desenhos, 
gravuras, ilustrações, etc. Retratam a concepção artística e imagética de 
uma sociedade. 
 
 
Documentação sonoro e oral são as documentações oriundas da oralidade. 
• A documentação sonora é composta por músicas, hinos, sinfonias, 
orquestras, entre tantas outras expressões sonoras que marcaram o tempo 
e o espaço. 
• Já a documentação oral parte dos relatos das pessoas que vivenciaram 
esses acontecimentos. Essa fonte tem suas limitações temporais, mas não 
deixa de ter sua importância pois coloca as pessoas no centro da história. 
Todos os documentos devem passar por uma análise crítica, respeitando suas 
características próprias. 
Todas essas documentações podem e devem ser utilizadas em sala de aula, 
sempre com os devidos cuidados e críticas a serem feitas. A aula pode se 
tornar mais dinâmica ao utilizarmos a própria documentação, aumentando a 
curiosidade e dessa maneira ampliando o interesse do aluno pelas questões 
históricas. 
 
 
PARA SABER MAIS: 
• Pedro Paulo Abreu Funari, em a Antiguidade clássica: a história e a 
cultura a partir dos documentos, traz um estudo sobre como devemos 
tratar os documentos; 
• Keith Jenkins em A História Repensada, aponta outras questões 
pertinentes ao estudo das documentação; 
• Lenadro Karnal, em sua obra organizada Históra na sala de aula: 
conceitos, práticas e propostas, traz uma gama de especialistas 
discutindo o estudo da História dentro das salas de aula, apontando 
soluções. 
A GEOGRAFIA 
Geografia é uma palavra que deriva de duas palavras gregas: geo de mundo 
e grafia de descrição, ou seja, descrição do mundo. O princípio da geografia 
foi mesmo uma descrição dos locais, das paisagens, das regiões em que 
passavam os viajantes e filósofos. Antes dos equipamentos e computadores 
modernos, era dessa maneira que se conhecia e registrava o espaço. 
 
 
A Geografia, assim como toda disciplina, será reformulada com o passar do 
tempo, ganhando novas perspectivas, novos elementos, novos conceitos, de 
acordo com as mudanças vividas pelo homem. 
Hoje, a geografia é considerada uma ciência, alcunha que vai receber dos 
positivistas do século XIX, responsável por compreender o espaço e a 
relação dele com o ser humano em sua múltiplas facetas. 
Portanto, como ciência a Geografia possui suas próprias perspectivas 
metodológicas e o seu próprio objeto de estudo. Abrange uma grande área 
do conhecimento e está sempre em diálogo com outras áreas do 
conhecimento, tanto para ampliar seu estudo quanto para embasar estudos 
de outras disciplinas. 
O objeto de estudo da geografia é o espaço 
geográfico, ou seja, todo o espaço terrestre 
que possua relação direta ou indireta com o 
homem, seja habitado, transformado ou 
utilizado. Sendo assim, o estudo das 
sociedades urbana e rural, o uso e 
apropriação dos recursos naturais e as 
dinâmicas naturais fazem parte dos estudos 
geográficos. 
Segundo Celso Antunes (2010, p.37), “ensina-se Geografia para que os 
alunos possam construir e desenvolver uma compreensão do espaço e do 
tempo, fazer uma leitura coerente do mundo e dos intercâmbios que o 
sustentam”, ampliando o conhecimento do seu entorno e das realidades. 
 
Veremos adiante as ramificações do estudo geográfico que hoje abrange não 
só o espaço físico, mas também o espaço cultural e social. 
 
 
AS ESPECIFICIDADES DO ESTUDO GEOGRÁFICO 
A geografia tem muitasramificações e muitos caminhos de estudos, 
podendo ser dividida em geografia geral, regional, física, humana, entre 
outras. 
 
Veremos agora os ramos da geografia e quais são seus principais pontos de 
estudo. 
 
- Geografia Física: 
Trata-se da geografia das ciências da Terra, com o objetivo de compreender 
a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera, e a biosfera, como os padrões da fauna 
e da flora global. Pode ser dividida em algumas categorias: 
Biogeografia; Climatologia; Ambiental; Topografia; Geomorfologia; 
Hidrologia; Ecologia; Paleografia; Oceanografia; entre outras. 
- Geografia Humana: 
Estuda os padrões e processos que formam a interação humana com os 
diferentes ambientes, envolvendo os aspectos humanos, políticos, culturais, 
sociais e econômicos. Ressaltando, ainda, a interferência dessas relações na 
paisagem física da Terra. Dentre as muitas categorias da geografia humana, 
podemos citar: 
Geografia cultural; do desenvolvimento; econômica; histórica; política; 
populacional; da religião; social; turística; urbana; rural; entre outros. 
- Geografia Ambiental: 
Ramo que descreve os aspectos espaciais da interação entre humanos e o 
mundo natural, interligando a geografia física e a humana. Surge num 
momento em que a relação do homem com o ambiente tem sofrido grandes 
mudanças devido aos anos de exploração. Um dos objetivos da disciplina é 
estudar maneiras de unir a preservação ambiental ao desenvolvimento 
tecnológico. 
- Geografia matemática: 
Com foco na superfície da Terra, estudando sua representação matemática e 
sua relação com a lua e o sol, busca compreender os fenômenos da 
superfície que interagem com os dois astros, mapeando as linhas do 
Equador, os trópicos, as linhas polares, as coordenadas geográficas e o 
tamanho da Terra. Abrange uma vasta área de estudos: 
Análise espacial; cartografia; geomática; fotogrametria; geoestatística; 
Sistema de informação geográfica (SIG); Sensoriamento remoto; Sistema de 
posicionamento Global (GPS), Geografia Astronômica; Topografia; entre 
outros. 
- Geografia Regional: 
Ramo que estuda as regiões da Terra. O principal objetivo é entender ou 
definir as particularidades de uma determinada região, que consiste de 
elementos naturais e humanos. 
 
Há, portanto, muitos ramos da geografia que podem ser estudados, 
ampliando nosso conhecimento do ambiente que nos cerca a partir do estudo 
de suas diferentes faces, sejam físicas, humanas, ambientais, matemáticas e 
regionais. 
REFLEXÕES FINAIS 
 
Assim, vemos que tanto a História quanto a Geografia têm seus métodos e 
especificidades de estudo, no qual a pesquisa se desenvolve. Ao estudarmos 
as bases de cada disciplina, podemos ampliar nosso campo de trabalho 
utilizando desse conhecimento para dinamizar e trazer elementos históricos 
e geográficos para dentro da sala de aula. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
FUNARI, P. P. A. Antiguidade clássica: a história e a cultura a partir dos 
documentos. Campinas: Ed. Da Unicamp, 1995. 
PINSKY, C. (Org.) Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2008. 
KARNAL, Leandro (Org.) História na sala de aula: conceito, práticas e 
propostas. São Paulo: Contexto, 2016. 
JENKINS, K. A História Repensada. São Paulo: Contexto, 2004. 
MORAES, A. C. R. de. Geografia: Pequena História Crítica. São Paulo: 
Annablume, 2007. 
ANTUNES, C. (Org.). Geografia e Didática. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.