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INTRODUÇÃO O herpes-vírus simples (herpes-vírus humanos tipos 1 e 2) geralmente provoca infecção recorrente que afeta a pele, a cavidade oral, os lábios, os olhos e os órgãos genitais. Infecções graves geralmente incluem encefalites, meningites, herpes neonatal e, em pacientes imunocomprometidos, infecção disseminada. Infecções mucocutâneas produzem agrupamentos de vesículas pequenas e dolorosas em uma base eritematosa. ETIOLOGIA Herpes é uma infecção causada por dois vírus da família Herpesviridae (herpes simples tipos 1 e 2). A família Herpesviridae abrange oito espécies passíveis de infectar seres humanos, que compartilham as seguintes características: • vírion apresentando um padrão arquitetural similar, composto de quatro partes: (a) núcleo eletrodenso, (b) capsídeo icosapentaédrico, (c) tegumento e (d) envelope; • são capazes de produzir várias espécies de enzimas, capazes de agir sobre o metabolismo dos ácidos nucleicos e proteínas da célula infectada (timidina quinase, DNA polimerase, helicase); • são capazes de assumir estado de latência infecciosa, e de se reativar periodicamente; • possuem genoma grande, com mais de 200 genes. O vírus herpes simples ou herpes simples vírus (HSV), possuem diferenças antigênicas e biológicas bem definidas que foram demonstradas entre HSV tipo 1 (HSV-1) e HSV tipo 2 (HSV-2). O HSV contém DNA bifilamentar no seu núcleo central. ➔ O envelope consiste em poliaminas, lipídios e glicoproteínas. Estas glicoproteínas conferem propriedades características ao vírus e fornecem antígenos exclusivos aos quais o hospedeiro é capaz de responder. De maneira notável, a glicoproteína G (gG) fornece especificidade antigênica para o HSV e, portanto, resulta em uma resposta de anticorpos que permite distinção entre HSV-1 (gG-1) e HSV-2 (gG-2). NOEMI ANDRADE 2 CICLO REPLICATIVO Uma das características bastante particulares de todos os herpes-vírus é a capacidade de estabelecerem latências vitalícias dentro de células específicas. O ciclo replicativo inicia-se com a ligação do vírion ao receptor de superfície celular (heparansulfato), por meio das glicoproteínas do envelope externo. Após penetrar no núcleo celular, a VP16 (uma proteína regulatória viral) ativa a DNA-polimerase-2 celular, levando a uma tradução dos genes-α do HSV para proteínas-α e, consequentemente, facilitando a tradução de genes-β. As proteínas-beta incluem a timidina-cinase viral (vTK) e a DNA-polimerase viral (vPol), responsáveis pela produção de múltiplas cópias do DNAHSV de novos vírions e também pela tradução dos genes-g remanescentes. A célula hospedeira transforma-se em uma verdadeira “fábrica” de HSV, tendo todas as funções celulares completamente subordinadas aos processos replicativos virais. A menos que a latência seja estabelecida, ocorre uma parada imediata na produção proteica celular, além de haver uma degradação do RNAm celular, sobrevindo, então, a morte da célula infectada. LATÊNCIA O HSV torna-se latente nos gânglios (raízes) nervosos sensitivos, preferencialmente nas raízes dorsossacrais para o HSV-2 e no nervo trigêmeo para o HSV-1. Nesse estado, os antígenos virais não são representados na superfície celular, no entanto determinados genes regulatórios são expressos com o fim de manter o estado de latência. Algumas transcrições são associadas à latência (filamentos de RNA circular epissomal) funcionando como seus marcadores, mas não sendo essenciais para sua ocorrência. Sua função precisa ainda é desconhecida. ➔ Os vírus vai se incorporar em alguns reservatórios e nesses reservatórios, ele assume uma característica de latência principalmente terminais nervosos, glanglios nervosos. ➔ Então, ele permanece “quietinho” dentro de um material genético e depois de um longo período o material genético pode ser estimulado a se replicar. ➔ Ou seja, depois de um longo período ele pode vir a ser reativado e isso pode acontecer por diversas causas como: 1. gatilho ganglionar, em que uma mudança no ambiente imune, hormonal ou físico do gânglio leva à reativação (p. ex.: a imunodeficiência); 2. gatilho cutâneo, em que mudanças no microambiente cutâneo permitem que a replicação se inicie (p. ex.: exposição a raios ultravioleta). OBS: Principal característica do vírus da Herpes é a reativação, que pode ocorrer por: stress, imunodepressão, corticoides, raios UV. PATOGENESE NOEMI ANDRADE 3 Após a penetração, o vírus rapidamente sofre replicação em células da epiderme e da derme, causando necrose e ulceração. A disseminação da doença é limitada, principalmente em função da imunidade mediada por células (IMC); com atuação inicial neutrofílica e, posteriormente, com infiltrado linfocítico. O influxo macrofágico inicia o processo de debridamento e de cura com reepitelização. O vírion perde o seu envoltório, penetrando nas terminações nervosas cutâneas; depois, o nucleocapsídeo migra centralmente para o gânglio nervoso sensitivo, onde estabelece latência. A replicação no núcleo e a migração periférica dos vírions levam ao surgimento de novas lesões, podendo ser distantes do sítio inicial de inoculação, geralmente na segunda semana após o episódio primário. O HSV pode infectar diversos tipos celulares (fígado, pulmão, retina etc.), todavia a infecção primária tende a ser limitada à pele em volta do sítio de inoculação e aos gânglios nervosos sensitivos relevantes. Isso provavelmente resulta da ação da IMC, uma vez que doenças disseminadas ocorrem em adultos com comprometimento da imunidade celular. Certamente, a imunidade humoral parece ter um papel limitado na prevenção da reativação; entretanto, ao contrário do que se pode esperar, os indivíduos com recorrências frequentes apresentam títulos de anticorpos mais altos do que aqueles com menos recorrências. Os epítopos virais responsáveis por gerar a resposta imune ainda não estão bem definidos. Enquanto os anticorpos contra as glicoproteínas virais são comuns, outras proteínas, inclusive nucleoproteínas, podem ser de importantes pois, apenas aquelas submetidas a processamento nas células apresentadoras de antígeno e expressas com as moléculas da classe II do complexo de histocompatibilidade principal são reconhecidas pelo sistema imune. TRANSMISSÃO O contágio geralmente ocorre por contato íntimo com uma pessoa transmissora viral a partir de superfície mucosa ou de lesão infectante. O HSV é rapidamente inativado em temperatura ambiente e após secagem; logo, a disseminação por aerossóis ou fômites é rara. O vírus ganha acesso por escoriações na pele ou contato direto com cérvix uterina, uretra, orofaringe ou conjuntivas. É possível que a infecção seja transmitida por autoinoculação a partir de uma lesão primária para um sítio distante, podendo também ser transmitido da mãe para o filho durante o parto. Em muitos casos, a fonte de contaminação não é definida. O contato com lesões ulceradas ou vesiculadas é a via mais comum, mas a transmissão também pode ocorrer através do paciente assintomático. Pode também haver ainda a autoinoculação. A ocorrência de transmissão em períodos assintomáticos é inegável, sendo mais comum nos 3 primeiros meses após a doença primária por HSV-2, na ausência de anticorpos contra o HSV-1. Reinfecção por diferentes cepas é incomum. Além disso, o herpes genital está associado a um risco duas a três vezes maior de aquisição do HIV, podendo ser responsável por 40 a 60% das novas infecções pelo HIV em uma população com alta prevalência pelo HSV-2. MANIFESTAÇÕES CLINICAS As manifestações clinicas elas irão variar conforme o tipo de vírus que foi transmitido, por exemplo o vírus do tipo 1 (HSV-1) ele evolui com lesões orais e o vírus do tipo 2 ( HSV-2) geralmente causa lesões genitais. NOEMI ANDRADE 4 QUADROCLINICO CAUSADO POR HERPES DO TIPO 1 (HSV-1) HERPES OROFACIAL Na manifestação do herpes simples labial em pacientes imunocompetentes podem ser distinguidos os 3 períodos clínicos da doença: (1) prodrômico, (2) clínico ativo e (3) reparatório 1-Prodrômico: O Período Prodrômico do herpes simples recorrente peribucal ocorre até 24 horas antes da doença se manifestar explicitamente e se caracteriza pela sutileza. A identificação desse período permite antecipar-se à manifestação clínica exuberante, prevenindo-se de lesões maiores e desconfortáveis. – Caracteristicas dos pródromos: • Formigamento, calor, parestesia geralmente antecede a recorrência • Evolui com vermelhidão, pápula e vesículas 2- Período Clínico Ativo: sucede o período prodrômico na pele peribucal e semimucosa labial eritematosa e hipertérmica com o aparecimento das primeiras pápulas, que evoluem rapidamente para vesículas e bolhas cheias de líquido citrino, que representa um exsudato inflamatório seroso. O período clínico ativo dura entre 2 e 4 dias e as lesões recorrentes peribucais e labiais são predominantemente constituídas por vesículas agrupadas em forma de cachos ou ramalhetes, especialmente nas comissuras. No conteúdo das vesículas têm-se numerosos leucócitos polimorfonucleares e milhões de partículas virais, além de células epiteliais individualizadas ou em grupos sinciciais, como células gigantes multinucleadas ou células de Tzanck. Figura 1 - Prodrômico Figura 2-Período ativo NOEMI ANDRADE 5 3-Período Reparatório: estabelece-se quando as vesículas e bolhas reduzem, gradativamente, de volume e o exsudato seroso é reabsorvido, desde que não tenham sido rompidas anteriormente. O local, agora seco, apresenta-se recoberto por escamas e crostas amareladas e/ou escuras que duram, em média, de 2 a 4 dias e caracterizam o período reparatório. Nessa fase, as lesões apresentam um número muito reduzido de vírus, mas podem ser ainda contagiosas, especialmente porque aproximadamente 10% das pessoas ainda continuam liberando partículas virais mesmo depois das lesões resolvidas. Muito embora o risco de contaminação seja mais reduzido no período reparatório. CERATOCONJUNTIVITE Manifesta-se por dor ocular, quemose, fotofobia e produção abundante de lágrimas. Pode-se detectar vesículas nas pálpebras, e a coloração com fluoresceína pode revelar úlceras dendríticas. Quando não tratada ou após o uso inapropriado de colírio com corticosteroides, pode se desenvolver uma ceratite grave e profunda que, eventualmente, cura com cicatrização e perda visual. O tratamento com aciclovir tópico e sistêmico é eficaz. Os sintomas de infecções oculares primárias (primeira vez) por herpes simples costumam lembrar os da conjuntivite comum, e assim, não há diagnóstico de infecção por herpes simples. Os sintomas de uma reativação incluem lacrimejamento, vermelhidão, sensação de corpo estranho dentro do olho e sensibilidade à luz intensa. Raramente, a infecção piora e a córnea inflama, provocando visão embaçada. Quanto mais frequente for a reincidência da infecção, maior a probabilidade de uma lesão futura na superfície da córnea. Várias reincidências podem originar úlceras profundas, cicatrizes permanentes, vasos sanguíneos crescendo sobre a córnea e dormência da superfície do olho. ENCEFALITES Pode manifestar-se inicialmente com mudanças comportamentais súbitas, progredindo insidiosamente para alterações de consciência, sinais neurológicos e convulsões. O LCR apresenta-se com pleocitose e hiperproteinorraquia, ao passo que as alterações frontotemporais na eletroencefalografia, na tomografia axial computadorizada (TAC) e na ressonância magnética (RM) são clássicas e a ausência delas não exclui o diagnóstico. A encefalite herpética é raramente associada ao HSV-2 no adulto, a maioria sendo causada pelo HSV-1. A patogenia real da encefalite do herpes simples carece de esclarecimento mais profundo, embora se especule que o vírus primário ou recorrente pode alcançar o lobo temporal por vias neurais ascendentes, como os tratos trigeminais ou os nervos olfatórios. QUADRO CLINICO CAUSADO POR HERPES DO TIPO 2 (HSV-2) Figura 3-Período Reparatório NOEMI ANDRADE 6 HERPES GENITAL Devemos lembrar que a Herpes é considerada uma IST, então possui transmissão sexual através do contato sexual e pode aparecer uma lesão vesico- bulhosa, com dor e pode aparecer em qualquer topografia do genital masculino ou feminino. O período de incubação ocorre de 2 - 26 dias (média de 7 dias). O quadro clínico clássico inicia com o aparecimento de pequenas e múltiplas vesículas sobre áreas eritematosas, acompanhadas por ardor persistente, 3 -7 dias após o contato, as quais rapidamente se rompem (em torno de 24 -48 horas) formando pequenas úlceras dolorosas e que cicatrizam em 2 ou 3 semanas, com ou sem tratamento O primeiro episódio de infecção (primo infecção) é assintomático em 75% dos casos. Nos 25% restantes, sua sintomatologia é mais severa durando em média 2 semanas sendo que o hospedeiro permanece infectante por 14 dias. A infecção cursa ainda com dor em queimação, eritema, disúria e secreção vaginal profusa ou uretral que comumente se associam com infecções bacterianas. Pode ainda cursar com sintomas sistêmicos como mialgia, febre e 1 linfadenopatia inguinal em 50% dos casos. A reativação do processo (herpes recorrente) frequentemente apresenta sintomas mais brandos ou não tem nenhuma sintomatologia, já que os anticorpos pré-formados atenuam a gravidade da doença. Constitue-se fonte importante de contaminação para parceiros não infectados. DIAGNOSTICO O diagnóstico é clinico, através da história, exame físico e as apresentações das lesões. Porém pode-se confirmar a suspeita com exames laboratoriais como cultura viral, PCR, anticorpo direto ou teste sorológico específico. • Detecção direta do vírus – Microscopia eletrônica do fluido da lesão (HS = VZ) – Imunofluorêscencia das lesões de pele (HS ≠ VZ) – Citologia esfoliativa – PCR (útil para confirmar encefalite herpética) – Pesquisa de antígenos virais – Cultivo e isolamento Viral • HSV – 1 e HSV – 2 são cultiváveis, resultados em 1 a 5 dias Swab com estudo citológico (método de Tzanck): técnica citológica que consiste no raspado da base da lesão vesiculosa da pele e coloração pela HE, para pesquisa de células gigantes multinucleadas com corpos de inclusão (vírions). Trata-se de um método com baixa especificidade, pois não distingue o HSV de outras espécies de herpesvírus. Reservado para casos atípicos e em pacientes imunocomprometidos. Cultura viral: o material é coletado com um swab a partir de raspado de vesículas dérmicas e semeado em meio de cultura, preferencialmente humano (fibroblastos pulmonares embrionários). As alterações citopáticas são visualizáveis com 24 a 48 horas de incubação, através de microscopia de fase. Este exame NOEMI ANDRADE 7 é mais sensível para o HSV, em relação à cultura de células para outras espécies [VZV (varicella zoster virus), CMV (citomegalovírus)], e proporciona tipagem da cepa. Sorologia: técnica especialmente indicada quando houver queixas de desconforto genital ou labial recorrente, porém sem presença de lesões. PCR: trata-se de uma técnica molecular baseada no conhecimento prévio de uma sequência de DNA, característica da espécie que se deseja detectar, e no uso de um oligonucleotídeo artificial complementar a esta sequência, denominado primer (iniciador). O primer deverá se parear com o segmento correspondente de uma das hastes do DNA estudado – se o mesmo efetivamente existir na amostra –, possibilitando a sua detecção. TRATAMENTO CUIDADOS LOCAIS Produtos de venda livre, gelo, álcool ou éter são utilizados como terapia paliativa local. Devem ser aplicados com cotonetes, para evitar a autocontaminação ou a contaminaçãodo cuidador. FARMACOLOGIA DOS ANTIVIRAIS INDICADOS NO HERPES SIMPLES OROFACIAL Valaciclovir, aciclovir e famciclovir são classificados como antivirais análogos sintéticos dos nucleosídeos purínicos (guanosina), tendo mecanismo de ação semelhante: após penetração celular, os antivirais são sequenciamente fosforilados pela timidina-quinase viral e por mais duas quinases até a sua forma nucleotídica trifosfato [GTP (guanosine triphosphate)]. A GTP medicamentosa irá competir com o nucleotídeo natural pela DNA polimerase viral. Entretanto, por não possuir o grupamento hidroxila da GTP natural, a GTP medicamentosa não poderá ser polimerizada, sendo assim interrompida a síntese do DNA viral. Os antivirais no HSO são indicados principalmente em indivíduos que experimentam surtos frequentes e em pacientes imunocomprometidos. Se levar em consideração a extensão de replicação viral nos primeiros 2 dias de recorrência, conclui-se que a intervenção precoce é essencial, pelo menos em adultos. Todos têm perfil de segurança semelhante. ACICLOVIR pode ser usado por via oral a 200mg, 5 vezes ao dia ou 400 mg a cada 8 horas. VALACICLOVIR pode ser usado a 1g 2 vezes ao dia FAMCICLOVIR pode ser usado 250mg, 3 vezes ao dia. Com duração de 7 a 10 dias ACICLOVIR Tornou-se a terapia padrão-ouro tanto para a forma mucocutânea quanto para outras formas da doença causada pelo VHS. Pode ser administrado por via tópica, oral ou intravenosa. É um análogo nucleosídeo que penetra em todas as células humanas, infectadas ou não. Mecanismo de ação O ACV, para agir, requer a conversão em três etapas até tornar-se trifosfato (ACV-TP), sendo a primeira delas (para aciclovir monofosfato) catalisada pela timidina quinase (TK). A timidina quinase do HSV (HSV- TK) apresenta uma afinidade ao aciclovir muito maior do que sua correlata celular; logo, apenas as células NOEMI ANDRADE 8 infectadas pelo HSV acumulam a droga ativa. As quinases celulares completam a fosforilação e o ACV-TP é, então, incorporado, por meio de uma DNA-polimerase, a uma cadeia de DNA viral em replicação. Uma vez faltando um grupo hidroxila terminal, torna-se impossível para o nucleotídeo seguinte se juntar à cadeia (término ou limite obrigatório de cadeia). Dessa forma, a replicação viral é, especificamente, interrompida.
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