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Viroses Dermotrópicas Possuem afinidade seletiva para a pele e membranas mucosas. HERPESVÍRUS Grupo de vírus muito prevalente. 80-90% das pessoas já tiveram contato, mas só 40% vão apresentar lesão. São vírus que no primeiro contato, a depender dos fatores virais e do hospedeiro, causam infecções persistentes, o vírus pode ficar latente, mas ter uma ativação periódica. Apesar de fazerem parte da mesma família, possuem propriedades biológicas diferentes e por isso são divididos ainda em subfamílias. Essas subdivisões estão relacionadas principalmente à estrutura do genoma, ao tropismo tecidual, ao efeito citopatológico, ao sítio de infecção latente, à patogênese e às manifestações da doença. ➢ Propriedades gerais dos Herpesvírus - São vírus grandes e não distinguíveis à microscopia eletrônica (não dá para diferenciar de Varicela, por exemplo). - DNA de fita dupla protegido por capsídeo icosaédrico, formado por 162 capsômeros. É envolto por um envelope que contém glicoproteínas: a principal função é atuar na adsorção reconhecendo os receptores celulares. - São vírus sensíveis a ácidos, solventes, detergentes e ressecamento. - Genoma: DNA linear de dupla-fita. A depender do Herpesvírus, vai ter tamanho e orientação dos genes diferentes. - A capacidade de recombinação do genoma facilita a replicação. Forma genomas isoméricos. ➢ Replicação - Semelhante a todos da família. Esse ciclo replicativo demora de 18-70h. Os HSV-1 e HSV-2 possuem o ciclo mais rápido, enquanto os citomegalovírus possuem um ciclo mais demorado. - Adsorção: uma vez tendo o reconhecimento das glicoproteínas com os receptores celulares, o vírus vai adentrar o citoplasma da célula. - Desnudamento: libera o genoma viral para o núcleo da célula do hospedeiro. Uma vez que o genoma entra no núcleo, vai adotar uma conformação circular. Com isso, há o processo de transcrição e tradução de maneira regulada. - Transcrição: o DNA circular vai ser transcrito em RNAm e enzima envolvida é a RNA polimerase II celular. Uma vez formado o RNAm, vai ter a síntese protéica (processo de tradução) que vai dar origem às α-proteínas - as proteínas precoces imediatas - que vão participar do processo da transcrição gênica e também do controle da célula. Em seguida, outro RNAm vai ser formado, e este, por sua vez, vai produzir β-proteínas - proteínas precoces - que vão estar relacionadas com fatores de transcrição e enzimas, incluindo a DNA polimerase (alvo da terapia antiviral). - Por fim, terá a produção das γ-proteínas - proteínas tardias - que vão produzir proteínas estruturais relacionadas à formação do capsídeo. Uma vez formado o DNA viral, este vai ser inserido em nucleocapsídeos que até então estavam vazios e vai proceder à montagem viral, que vai passar por algumas vesículas (formando o envelope) e vai sair da célula por exocitose. Herpesvírus Simples 1 E 2 - Foi o 1º tipo de herpes vírus humano a ser reconhecido (HSV-1 e HSV-2). Crescem rapidamente e são altamente citolíticos.Toda célula infectada por herpesvírus, invariavelmente vai ser destruída. Possuem um ciclo de replicação de 8-18h. - Os dois não têm muitas diferenças bioquímicas. - Já em relação à epidemiologia: - HSV-1: acomete principalmente crianças de 3-5 anos, devido à forma de transmissão via saliva. - HSV-2: acomete adultos por via sexual. ➢ Patogênese e Imunidade - Ambos os vírus vão inicialmente infectar e se replicar em células mucoepiteliais, causarão doença no sítio de infecção e então vão estabelecer uma infecção latente do neurônio que inerva a área. - HSV-1: maioria das infecções acometem da “cintura para cima”, mas também podem acometer os órgãos genitais e falanges terminais. - HSV-2: maioria das infecções acometem da “cintura para baixo”, mas não impede de causar encefalite, lesão oral, faringite, etc. - Ambos causam infecções líticas na maioria das células: - Inibição da síntese celular de macromoléculas; - Degradação do DNA da célula hospedeira; - Permeação da membrana; - Ruptura do citoesqueleto; - Senescência da célula. - Quando se faz estudos citológicos, se visualiza corpos de inclusão intranucleares do tipo Cowdry A, que são uma característica citopatológica de vírus que causam os efeitos acima. Entretanto, não é um sinal característico de herpesvírus. - Se houver corpos de inclusão intracitoplasmático, é um sinal característico do vírus da raiva. - Os herpesvírus também ficam de maneira latente nos neurônios. ➢ Replicação - Ocorre inicialmente no local da infecção e então o vírus segue para as terminações nervosas locais e consequentemente vai se manter nos gânglios das raízes dorsais, que é onde vai ficar de forma latente. Porém, a latência do HSV-1 vai ser no gânglio do trigêmeo, enquanto o HSV-2 vai ser nos gânglios sacrais. Esse vírus permanece latente com interferência das células TCD8 e γ-interferon, mas pode sofrer um processo de reativação e consequentemente produzir uma infecção inaparente ou lesões vesiculares. Essas infecções causadas a partir da reativação geralmente são menos graves, com manifestações brandas e possuem um período mais curto. Existem alguns fatores que são desencadeadores de recorrência por HSV: - Imunossupressão; - Radiação UV; - Febre; - Estresse emocional (avaliação final); - Estresse físico (irritação); - Menstruação; - Alimentos picantes, ácidos ou que causam alergia. - Proteções inatas: limitam a progressão inicial da infecção (interferon e células NK). - Respostas associadas: destroem as células infectadas e promovem a regressão da doença instalada (células T helper e TCD8). - Os principais sinais clínicos são decorrentes dos efeitos imunopatológicos tanto da resposta celular, como inflamatória. ➢ Epidemiologia - Uma pessoa infectada é uma fonte vitalícia de contágio. - É uma doença exclusivamente humana. - É transmitida pelo líquido das vesículas, da saliva e secreções vaginais. - Pessoas infectadas podem liberar o vírus de forma assintomática. - Ambos os tipos de HSV podem causar lesões orais e genitais. - A nível mundial é a IST mais frequente, em cerca de 80% dos adultos. ➢ Síndromes Clínicas - Em sua maioria apresenta lesões dolorosas, porém benignas, mas que provocam uma doença recorrente. - As manifestações características são lesões que começam na forma de vesícula, por volta do primeiro ou segundo após o contato com o vírus, posteriormente evolui para pápula e então forma lesões crostosas que perduram por até 15 dias. O HSV-2 tem um período de incubação de 5 dias, e as lesões podem aparecer após 7-8 dias da relação sexual e apresentar sintomas sistêmicos como febre. - A infecção primária por herpes oral tende a tomar toda a região dos lábios, enquanto que a infecção recorrente (reativação), que é menos grave, mais localizada e de menor duração. Muitas vezes é confundido com sapinho, que é causada por Candida. - Ceratite herpética: geralmente acomete somente um olho, mas causa lesão de córnea irreversível que pode até evoluir para cegueira. - Paroníquia herpética: acontece nas falanges terminais e vai acometer principalmente profissionais de saúde que atendem paciente com HSV, além de crianças que chupam dedo e pacientes com infecções genitais. - Herpes gladiatorum: quando o vírus se espalha por todo o corpo, acomete principalmente lutadores. - Herpes genital: no homem as principais lesões são na glande peniana, enquanto na mulher as lesões são na vagina, vulva e região perianal. São lesões dolorosas, e na infecção primária podem ser acompanhadas de febre, mal estar e mialgia. Na infecção recorrente pode haver um pródromo, que é uma sensação que antecede as lesões como formigamento e queimação. - Encefalite herpética: em sua maioria causada por HSV-1, limitado aos lobos temporais, e em decorrência aparecem convulsões e anormalidades neurológicasfocais, acometendo todas as idades. - Infecção no neonato: causada principalmente por HSV-2, é uma doença devastadora e muitas vezes fatal, uma vez que o neonato não vai apresentar uma resposta imune eficiente para regredir as lesões. Com isso o vírus pode se disseminar para outros órgãos como fígado e pulmões. ➢ Diagnóstico Laboratorial - Análise direta de uma amostra clínica (presuntiva): - esfregaço de Tzanck (raspagem da base da lesão); - exame de Papanicolau; - amostras de biópsias: se observa efeitos citopatológicos, os corpúsculos intranucleares do tipo Cowdry A. - Pesquisa de antígenos por imunofluorescência ou método da imunoperoxidase, ou pesquisa do DNA viral por PCR ou hibridização in situ dão diagnóstico definitivo. - A sorologia só é utilizada para diagnóstico de infecção primária e para estudos epidemiológicos. ➢ Tratamento - Análogos de nucleosídeos atuam na DNA polimerase viral: aciclovir, penciclovir, valaciclovir, fanciclovir. - É feito de forma profilática ou para diminuir o curso da doença primária ou recorrente, mas não elimina a infecção latente. Não há vacinas disponíveis. VARICELA-ZOSTER Causa duas doenças: catapora (varicela) e em uma infecção recorrente causa a herpes-zóster (cobreiro). Apresenta algumas características comuns aos Hepervírus. - Capacidade de estabelecer infecção latente em neurônios e doença recorrente; - A importância da imunidade celular no controle e na prevenção da doença grave; - Lesões bolhosas características. ➢ Patogênese - A transmissão ocorre por gotículas respiratórias. O vírus inalado infecta as células da mucosa nasal e orofaringe, infectando os linfonodos, onde pode haver a replicação e então se dissemina pela circulação sanguínea (viremia primária). - A viremia primária acontece no 5º dia após o contato. - Quando apresenta lesões vesiculares no corpo já está em uma viremia secundária, que se desenvolve por volta de 10-11 dias. Essas lesões evoluem para bolhosas e depois crostosas. - O sistema imunológico vai controlar o processo infeccioso, o vírus vai entrar em latências nas células ganglionares e caso haja algum tipo de queda na imunidade pode levar a uma nova infecção cutânea e então o herpes-zoster. - A resposta imune é semelhante à do HSV, onde se tem a participação de α-interferon, células T e células NK limitando a progressão do vírus nos tecidos e antígenos limitando a disseminação virêmica do VZV. - O vírus causa doença mais disseminada e mais grave na ausência de imunidade celular. ➢ Epidemiologia - O vírus é encontrado em todo o mundo e vai causar doença por toda a vida. - Não há incidência sazonal. - É extremamente contagioso, com taxas de infecção superiores a 90%. - Em crianças de 5-9 anos causa uma doença mais branda, e mais grave em adolescentes e adultos, podendo ter até pneumonia. Em pessoas imunocomprometidas e neonatos pode ter a varicela progressiva fatal (raro) e em idosos e imunocomprometidos vai ter essa doença recorrente, o cobreiro. ➢ Síndromes Clínicas - Doença branda da infância. Os principais sintomas são febre e lesões maculopapular, que podem evoluir para formação de vesículas, pústula e até lesões crostosas. - Pneumonia intersticial: pode ocorrer em 20-30% dos pacientes adultos, podendo ser fatal. - Herpes-zoster: causado pela recorrência de infecção latente. O paciente vai ter uma dor forte na área de inervação e o exantema se limita à região onde está o nervo acometido. A maior problemática é a neuralgia pós-herpética, que é crônica e pode acometer cerca de 30% dos pacientes que desenvolvem cobreiro. ➢ Diagnóstico Laboratorial - Detecção de proteínas virais com anticorpos mono ou policlonais marcados com fluoresceína ou peroxidase. - Isolamento em cultura de células, mas não é de rotina. - Detecção do ácido nucleico viral através de PCR é o mais utilizado, principalmente em pacientes com doenças recorrentes. - Sorologia: detecção de IgG em quem já entrou em contato com o vírus. ➢ Tratamento - Análogos de nucleosídeos são utilizados em pacientes adultos e imunocomprometidos. - Analgésicos, anestésicos e creme de capsaicina para neuralgia pós-herpética. - Imunoglobulina contra VZV para pacientes imunossuprimidos suscetíveis a doenças graves. - Há 3 vacinas: - Herpes zoster: para infecções recorrentes dose única aplicada em pessoas acima de 50 anos . - Varicela: 2 doses. - Tetravacinal: 2 doses que também contemplam sarampo, rubéola e caxumba.
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