Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Luiz Felipe Alcantara Ferreira - Medicina HABILIDADES MÉDICAS EXAME NEUROLÓGICO Tópicos ● Anamnese ● Exame Físico Introdução O exame neurológico começa com a observação cuidadosa do paciente que entra no ambiente de exame e durante a anamnese. O paciente deve ser assistido o mínimo possível, de tal modo que as dificuldades nas funções possam se tornar aparentes. A velocidade, simetria e coordenação do paciente ao mover-se para a mesa de exame são observadas, assim como a postura e marcha. As atitudes, roupas e respostas do paciente fornecem informações sobre o humor e a adaptação social. Fala anormal ou incomum, uso da linguagem ou práxis, negligência do espaço; postura incomum e outros distúrbios de movimento podem ser evidentes antes dos testes formais. Conforme a informação é obtida, um examinador experiente pode incluir certos componentes no exame e excluir outros, com base na hipótese preliminar sobre a anatomia e fisiopatologia do problema. Se o examinador não é tão experiente, deve realizar um exame neurológico completo. 1 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina Anamnese ➔ Data do início da doença O objetivo é estabelecer a duração da doença, se muito recente, aguda (horas ou dias); recente, subaguda (semanas ou poucos meses); ou de longa duração, crônica (muitos meses ou anos). ➔ Evolução cronológica dos sintomas Interessa saber quando e como os sintomas foram surgindo ou desaparecendo, pois isso reflete a história natural das doenças. ➔ Exames e tratamentos realizados com os resultados Sempre é útil saber acerca disso, sobretudo quando se trata de epilepsia, cefaléia e acidentes vasculares cerebrais. ➔ Estado atual do paciente Apura-se a situação em que se encontra o paciente no momento do exame, a fim de conhecer o ciclo evolutivo que a enfermidade vem apresentando até aquele momento. ➔ Antecedentes Nos antecedentes familiares, especial ênfase deve ser dada às doenças musculares e heredodegenerativas do sistema nervoso, ocorridas em pessoas da família. Indaga-se sobre consanguinidade dos pais, doenças contagiosas e incompatibilidade sanguínea maternofetal. Nos antecedentes pessoais investiga-se condições pré-natais, condições do nascimento, desenvolvimento psicomotor, vacinações, doenças anteriores e hábitos de vida. 2 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina Sinais e Sintomas ➔ Distúrbios da consciência A percepção consciente do mundo exterior de si mesmo caracteriza o estado de vigília, que é resultante da atividade de diversas áreas cerebrais coordenadas pelo sistema reticular ativador ascendente ➔ Cefaleia Significa dor de cabeça e é uma das queixas mais frequentes na prática médica. Pode ser motivada por causas diversas e apresentar-se sob diferentes tipos. ◆ Vascular: Existe uma série de cefaleias denominadas primárias – sem lesões estruturais claras que as determinem. As principais são as chamadas vasculares e a tensional. ◆ Hipertensão intracraniana: Quando aumenta a pressão no interior da caixa craniana, o sintoma principal é uma cefaléia pulsátil, que toma a cabeça toda. Geralmente, perdura dias ou meses, tornando-se cada vez mais intensa e, com o passar do tempo, resistente aos analgésicos. Quase sempre se exacerba pela manhã, quando passa a ser acompanhada de vômitos. ➔ Dor na face Podem ocorrer diversos tipos de dor facial, com variações de intensidade, caráter, irradiação e localização, conforme a etiologia ➔ Tontura e vertigem Tontura (“estonteamento”, “tonteira”, “tontice”, “zonzeira”, “zonzura”, “cabeça vazia”) é uma queixa comum, observada em quase todas as faixas etárias. ➔ Movimentos involuntários ou transtornos do movimento Alguns movimentos involuntários são constantes, enquanto outros ocorrem periodicamente ou em crises ➔ Amnésia Significa perda da memória, podendo ser não somente permanente, como nos idosos, mas também transitória, em crises, confundindo-se, às vezes, com alguns tipos de perda 3 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina da consciência. Bastante característica é a amnésia pós traumática, quando o paciente permanece por tempo indeterminado sem se lembrar de alguns fatos (amnésia parcial), ou mesmo de toda a sua vida pregressa (amnésia total). Ressalte-se que não há perda de consciência de forma global, mas, sim, perda seletiva de uma das funções superiores – a memória ➔ Distúrbios visuais (amaurose, ambliopia, hemianopsia, diplopia) A redução da acuidade visual denomina-se ambliopia, e a perda total da visão, amaurose. ➔ Disturbios auditivos (hipoacusia, acusia, zumbidos) Hipoacusia ou acusia são perturbações auditivodeficitárias, respectivamente parcial e total, podendo situar-se em um ou em ambos os lados. ➔ Náuseas e vômitos As náuseas, ou enjoo, correspondem a uma sensação de mal-estar, tanto na região epigástrica como na faríngea. São acompanhadas de palidez cutânea, bradicardia, sudorese, repulsa à ingestão de alimento e quase sempre precedem os vômitos. ➔ Disfagia Tratase da alteração do transporte do alimento da boca ao estômago, a qual pode ou não culminar na entrada de alimento na via respiratória ➔ Distúrbios da marcha (disbasia), da motricidade voluntária (paresias ou paralisias) e da sensibilidade ➔ Dores radiculares As raízes nervosas, dentro do canal raquidiano ou nas suas emergências, são muito sensíveis e desencadeiam dores quando submetidas a quaisquer fatores nocivos, especialmente a compressão e a inflamação ➔ Distúrbios esfincterianos. ➔ Distúrbios do sono O sono pode ser definido como um estado complexo de aparente repouso normal e periódico, qualitativa e quantitativamente variável, caracterizado pela suspensão parcial da percepção dos fatores ambientais e da motricidade voluntária. ➔ Distúrbios da comunicação 4 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Disfonia: voz bitonal; ◆ Disartria: alteração da articulação da palavra falada ou fala; ◆ Dislalia: perturbação da articulação da palavra falada, sem que as causas estejam localizadas no sistema nervoso; ◆ Disritmolalia: perturbação do ritmo da fala; ◆ Dislexia: dificuldade de capacitar-se para a leitura convencionalmente ensinada; ◆ Disgrafia: a grafia é basicamente irregular, fragmentada, a ponto de, muitas vezes, torna-se ilegível; ◆ Afasia: Melhor seria a denominação disfasia, mas a força do uso torna difícil restringir o vocábulo afasia apenas aos casos de perda total da linguagem. Assim, deve ser entendida como disfasia a maior parte das alterações rotuladas de afasia. ➔ Distúrbios das praxias Praxia significa atividade gestual consciente e intencional, e a dificuldade ou incapacidade dessa atividade denomina-se apraxia, sem que haja paralisias, ataxias ou hipercinesias. Exame Físico Pescoço e Coluna ➔ Coluna cervical ◆ Carótidas Procede-se à palpação e à ausculta de ambas as carótidas em separado, comparando-se a amplitude e averiguando se existe frêmito e/ou sopro. O exame é feito com suavidade, ao longo da borda interna do músculo esternocleidomastóideo, e tem por objetivo surpreender a existência de estenose ou oclusão da artéria, condições que determinam distúrbios vasculares encefálicos. ◆ Região supraclavicular A ausculta dessa região tem a mesma importância que a das carótidas, porque é nesse ponto que a artéria vertebral tem origem na subclávia. 5 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Limitação dos movimentos Pedese ao paciente que execute movimentos de extensão, flexão, rotação e lateralização da cabeça. Caso haja dificuldade ou limitação para a realização desses movimentos, isso deve ser assinalado com a respectiva graduação, de leve a grave. Eventual dificuldade ou limitação talvez esteja na dependência de doenças osteoarticulares, musculares, meningites, radiculopatias e hemorragia subaracnóidea. ◆ Rigidez da nuca (Sinal de Brudzinski) Estando o paciente em decúbito dorsal, o examinador coloca uma das mãos na região occipital e, suavemente, tenta fletir a cabeça do paciente. Se o movimento for fácil e amplo, não há rigidez nucal, ou seja, a nuca é livre. Caso contrário,fala-se em resistência, defesa ou simplesmente rigidez da nuca. Esta última situação é frequentemente encontrada na meningite e na hemorragia subaracnóidea. A prova é positiva quando o paciente flete os membros inferiores, mas há casos nos quais se observam flexão dos joelhos e expressão fisionômica de sensação dolorosa. ◆ Transição craniovertebral Tratase de uma região que oferece grande importância clínica em certas situações. Observe especialmente se existe o chamado “pescoço curto”, o qual pode denunciar deformidades ósseas, como redução numérica das vértebras cervicais, platibasia e impressão basilar, nitidamente visíveis ao exame radiológico. Essa deformidade existe, com alguma frequência, nos originários da região Nordeste do país, mas, nesses casos, nem sempre tem significado patológico. 6 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Coluna lombossacra ◆ Limitação dos movimentos Solicita-se ao paciente executar movimentos de flexão, extensão, rotação e lateralização da coluna e observa-se a eventual existência de limitação na amplitude dos movimentos e em que grau. ◆ Prova de Lasègue Com o paciente em decúbito dorsal e os membros inferiores estendidos, o examinador levanta um dos membros inferiores estendido. A prova é positiva quando o paciente reclama de dor na face posterior do membro examinado, logo no início da prova (cerca de 30° de elevação). ◆ Prova de Kernig Consiste na extensão da perna, estando a coxa fletida em ângulo reto sobre a bacia e a perna sobre a coxa. Considera-se a prova positiva quando o paciente sente dor ao longo do trajeto do nervo ciático e tenta impedir o movimento. Essas provas são utilizadas para o diagnóstico de meningite, hemorragia subaracnóidea e radiculopatia ciática. 7 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Manobra de Patrik Trata-se de uma prova que não faz parte da semiologia da coluna lombossacra, mas é importante fazê-la nesse ponto, já que pode dar informações importantes sobre o estado da articulação coxofemoral: o tornozelo é colocado ao lado medial do joelho contralateral, e o joelho ipsilateral é levemente deslocado em direção à mesa de exame. Isso força a articulação do quadril e, geralmente, não exacerba a compressão verdadeira das raízes nervosas. Em geral, o resultado é positivo na presença de doença da articulação do quadril. 8 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Nervos raquidianos Pelo menos quatro nervos devem ser examinados em seus trajetos periféricos pelo método palpatório ◆ Nervo cubital, no nível do cotovelo, na epitróclea ◆ Nervo radial, na goteira de torção no terço inferior da face externa do braço ◆ Nervo fibular, na parte posterior e inferior da cabeça da fíbula ◆ Nervo auricular, na face lateral da região cervical Marcha e Equilíbrio https://www.youtube.com/watch?v=1C3hvOyPB9A&list=PLB3D3067F13CED7AF ➔ Marcha helicópode, ceifante ou hemiplégica Ao andar, o paciente mantém o membro superior fletido em 90°C no cotovelo e em adução, e a mão fechada em leve pronação. O membro inferior do mesmo lado é espástico, e o joelho não flexiona. Devido a isso, a perna tem de se arrastar pelo chão, descrevendo um semicírculo quando o paciente troca o passo. Esse modo de caminhar lembra o movimento de uma foice em ação. Aparece nos pacientes que apresentam hemiplegia espástica, cuja causa mais comum é acidente vascular cerebral. ➔ Marcha anserina ou do pato O paciente para caminhar acentua a lordose lombar e vai inclinando o tronco ora para a direita, ora para a esquerda, alternadamente, lembrando o andar de um pato. É encontrada em doenças musculares e traduz diminuição da força dos músculos pélvicos e das coxas. ➔ Marcha parkinsoniana O doente anda como um bloco, enrijecido, sem o movimento automático dos braços. A cabeça permanece inclinada para a frente, e os passos são miúdos e rápidos, dando a impressão de que o paciente “corre atrás do seu centro de gravidade” e vai cair para a frente. Ocorre nos portadores da doença de Parkinson. ➔ Marcha cerebelar ou marcha do ébrio Ao caminhar, o doente ziguezagueia como um bêbado. Esse tipo de marcha traduz incoordenação de movimentos em decorrência de lesões do cerebelo. 9 https://www.youtube.com/watch?v=1C3hvOyPB9A&list=PLB3D3067F13CED7AF Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Marcha tabética Para se locomover, o paciente mantém o olhar fixo no chão; os membros inferiores são levantados abrupta e explosivamente, e, ao serem recolocados no chão, os calcanhares tocam o solo de modo bem pesado. Com os olhos fechados, a marcha apresenta acentuada piora, ou se torna impossível. Indica perda da sensibilidade proprioceptiva por lesão do cordão posterior da medula. ➔ Marcha vestibular O paciente com lesão vestibular (labirinto) apresenta lateropulsão quando anda; é como se fosse empurrado para o lado ao tentar mover-se em linha reta. Se o paciente for colocado em um ambiente amplo e lhe for solicitado ir de frente e voltar de costas, com os olhos fechados, ele descreverá uma figura semelhante a uma estrela, daí ser denominada também marcha em estrela. ➔ Marcha escarvante Quando o doente tem paralisia do movimento de flexão dorsal do pé, ao tentar caminhar, toca com a ponta do pé o solo e tropeça. Para evitar isso, levanta acentuadamente o membro inferior, o que lembra o “passo de ganso” dos soldados prussianos. ➔ Marcha claudicante Ao caminhar, o paciente manca em um dos lados. Ocorre na insuficiência arterial periférica, em lesões do aparelho locomotor e na estenose do canal vertebral lombar. ➔ Marcha em tesoura ou espástica Os dois membros inferiores enrijecidos e espásticos permanecem semifletidos, os pés se arrastam e as pernas se cruzam uma na frente da outra quando o paciente tenta caminhar. O movimento das pernas lembra uma tesoura em funcionamento. Esse tipo de marcha é bastante frequente nas manifestações espásticas da paralisia cerebral. ➔ Prova de Romberg (equilíbrio estático) Terminado o estudo da marcha, solicita-se ao paciente continuar na posição vertical, com os pés juntos, olhando para frente. Nessa postura, ele deve permanecer alguns segundos. Em seguida, ordena-se a ele que feche as pálpebras. A isso se denomina prova de Romberg. No indivíduo normal, nada se observa, ou apenas ligeiras oscilações do corpo são notadas (prova de Romberg negativa). Na vigência de determinadas alterações neurológicas, ao cerrar as pálpebras, o paciente apresenta oscilações do 10 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina corpo, com desequilíbrio e forte tendência à queda (prova de Romberg positiva). A tendência para a queda pode ser: (1) para qualquer lado e imediatamente após interromper a visão, indicando lesão das vias de sensibilidade proprioceptiva consciente; (2) sempre para o mesmo lado, após transcorrer pequeno período de latência, traduzindo lesão do aparelho vestibular. A prova de Romberg é positiva nas labirintopatias, na tabes dorsalis, na degeneração combinada subaguda e na polineuropatia periférica. Motricidade ➔ Motricidade ativa dos segmentos Pedir para o paciente movimentar todas as articulações. Por exemplo: fletir ou estender os dedos, aduzir e abduzir os dedos, fletir e estender o punho, braço, antebraço, etc. Os movimentos em determinado(s) segmento(s) pode(m) estar ausentes (plegia) ou 11 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina diminuídos (paresia). De acordo com a região comprometida, teremos os seguintes termos: monoparesia ou monoplegia (diminuição ou ausência de movimento num membro), paraparesia ou paraplegia (diminuição ou ausência de movimento em membros inferiores), diparesia ou diplegia (diminuição ou ausência de movimentos nos membros superiores ou da face), hemiparesia ou hemiplegia (diminuição ou ausência de movimentos na face, membro superior e membro inferior de um lado), hemiparesia desproporcionada (quando um dos três segmentos, citados acima, estiver mais comprometido), hemiparesia ou hemiplegia alterna (diminuição ou ausência de movimentos, envolvendo grupos musculares inervados porum nervo craniano de um lado com hemiparesia ou hemiplegia de membros do lado oposto), quadriparesia ou tetraparesia ou quadriplegia ou tetraplegia (diminuição ou ausência de movimentos dos quatro membros). ➔ Manobras resistivas (força muscular) ◆ Teste de flexão do antebraço: Pede-se para o paciente fletir o antebraço, com a mão próxima ao ombro. Apoia-se o cotovelo do paciente com a mão e segura-se o punho do paciente, pedindo para que ele faça força contra a mão colocada no punho. Repete-se no outro membro. ◆ Teste de extensão do antebraço: Com o paciente na mesma posição, apoia-se o braço do paciente posteriormente com a mão e coloca-se a outra contra a mão fechada em punho do paciente. Então, pede-se para que ele faça força contra a mão colocada como obstáculo. Repete-se no outro membro. 12 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Teste de extensão na altura do punho: Pede-se para o paciente fechar as mãos e colocar o punho para cima. Com uma das mãos apoiada no antebraço do paciente, testa-se a força muscular contra resistência com a outra mão. ◆ Teste de preensão palmar: Pede-se para o paciente deixar as mãos “em garra”, pedindo para ele puxar os dedos em sua direção enquanto é feita resistência com uma mão e com a outra, apoia-se o punho. Repete-se o movimento. 13 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Teste de flexão do quadril: Com o paciente sentado, pede-se para colocar a mão em uma das coxas do paciente e pede-se para que ele faça a flexão da coxa contra resistência. Repete-se o movimento no outro membro. ◆ Teste de extensão do joelho: Com uma mão apoiando o joelho do paciente, pede-se para que ele “chute para frente” contra resistência imposta pela outra mão no tornozelo. Repete-se a manobra no outro membro. 14 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Teste de flexão do joelho: Com uma mão apoiando o joelho do paciente, coloca-se a outra distalmente na parte posterior da perna do paciente e pede-se para que ele “puxe para trás”. ◆ Teste da dorsiflexão do pé: Apoiando o tornozelo do paciente com uma mão, pede-se para que ele faça a dorsiflexão do pé contra resistência imposta pela outra mão, colocada no dorso do pé. Repete-se a manobra no outro membro. ◆ Teste de flexão plantar: Com o mesmo apoio no tornozelo, coloca-se a outra mão como resistência na planta do pé do paciente e pede-se para que ele “pise” na mão colocada. Repete-se a manobra no outro membro. 15 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Manobras deficitárias (força muscular) ◆ Prova dos braços estendidos: Pede-se para o paciente estender os membros superiores para frente, com a mão supinada, pedindo para que ele permaneça assim por dez segundos. ◆ Prova de Mingazzini: Com o paciente em decúbito dorsal, pede-se para que ele flexione o quadril e o joelho. Auxilie-o para que mantenha os membros inferiores suspensos com as coxas e as pernas em um ângulo reto por cinco segundos. O paciente não pode juntar as pernas ou as coxas, nem apoiar uma sobre a outra. 16 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Prova de Barré: Colocando o paciente com os membros superiores estendidos com as palmas das mãos viradas uma para a outra e os polegares para cima ou com os membros inferiores (com o indivíduo em decúbito ventral) e a perna fletida em ângulo reto sobre a coxa. A prova é positiva quando o membro afetado não consegue manter-se nessas posições e cai, com maior ou menor rapidez. ➔ Força Muscular O resultado do exame da força pode ser registrado de duas maneiras: ◆ Literalmente, anotando-se a graduação e a sede, assim: ● Força normal nos quatro membros ● Força discretamente diminuída na extensão do antebraço direito ● Força moderadamente diminuída na flexão da perna esquerda 17 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ● Força muito reduzida na extensão do pé direito ● Força abolida na flexão da coxa esquerda ◆ Percentualmente, anotando-se também a graduação e a sede, ou seja: ● 100%: força normal ● 75%: movimento completo contra a força da gravidade e contra certa resistência aplicada pelo examinador ● 50%: movimento contra a força da gravidade ● 25%: movimento completo sem a força da gravidade ● 10%: discreta contração muscular ● 0%: nenhum movimento observável. ◆ Outra maneira de nomear os déficits de movimento é com o grau de força: ● Grau V: força normal ● Grau IV: movimento completo contra a força da gravidade e contra certa resistência aplicada pelo examinador ● Grau III: movimento contra a força da gravidade ● Grau II: movimento completo sem a força da gravidade ● Grau I: discreta contração muscular ● Grau 0: nenhum movimento. ➔ Trofismo e Tônus muscular Examina-se o trofismo muscular pela inspeção, olhar locais de maior comprometimento como os interósseos, adutor do polegar, deltóide, cintura escapular, panturrilhas, coxas, etc. Quando houver dúvidas quanto à presença de assimetria, podemos medir com fita métrica os perímetros das coxas, pernas, braços e antebraços em lugares, previamente, marcados e simétricos. O trofismo muscular poderá estar aumentado em algumas doenças raras. O aumento do volume do músculo, no entanto, pode se dar pelo aumento de tecido fibroso conjuntivo (pseudo-hipertrofia). O tônus muscular é verificado da seguinte maneira: examinam-se os membros superiores e inferiores do paciente, sendo que esses últimos devem ser examinados com o paciente em decúbito. Pede-se para que o paciente relaxe e examine as articulações, verificando a integridade do tônus, pelo estado de contração da musculatura, se há tremores, fasciculações, rigidez etc. A inspeção da musculatura com tônus diminuído pode revelar achatamento, situação essa na qual você observará o lugar 18 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina da musculatura e haverá uma sensação de que há mais pele do que músculo. Na palpação, você poderá sentir a consistência da contração muscular, lembrando que quando há lesões de etiologia central, o tônus tende a estar aumentado. Enquanto isso, lesões periféricas, o tônus tende a estar diminuído. Ao observamos hipertonia, quando essa é de origem piramidal, geralmente o paciente apresenta espasticidade, como na postura de Wernicke-Mann, comum em pacientes que sofreram AVC, gerando uma hipertonia eletiva de extensores nos membros inferiores e de flexores nos membros superiores. Ao mesmo tempo, essa hipertonia é elástica, sendo que ao vencer a rigidez do músculo com a força de terceiros, quando o estímulo cessa, o membro tende a voltar para a posição inicial. Coordenação Na execução dos movimentos, por mais simples que sejam, entram em jogo mecanismos reguladores de sua direção, velocidade e medida adequadas, que os tornam econômicos, precisos e harmônicos. Não basta, portanto, que exista força suficiente para a execução do movimento; é necessário que haja coordenação na atividade motora. Coordenação adequada traduz o bom funcionamento de, pelo menos, 2 setores do sistema nervoso: o cerebelo (centro coordenador) e a sensibilidade proprioceptiva. À sensibilidade proprioceptiva cabe informar continuamente ao centro coordenador as modificações de posição dos vários segmentos corporais. 19 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Prova dedo-nariz Com o membro superior estendido lateralmente, o paciente é solicitado a tocar a ponta do nariz com o indicador. Repete-se a prova algumas vezes: primeiro, com os olhos abertos e, depois, fechados. O paciente deve estar de preferência de pé ou sentado ➔ Prova calcanhar-joelho Na posição de decúbito dorsal, o paciente é solicitado a tocar o joelho oposto com o calcanhar do membro a ser examinado. A prova deve ser realizada várias vezes, de início com os olhos abertos; depois, fechados. Nos casos de discutível alteração, “sensibiliza-se” a prova mediante o deslizamento do calcanhar pela crista tibial, após tocar o joelho. Diz-se que há dismetria (distúrbio na medida do movimento) quando o paciente não consegue alcançar com precisão o alvo 20 LuizFelipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Diadocinesia Uma outra parte da coordenação consiste na capacidade de realização de movimentos rápidos, chamada de diadococinesia. Para testá-la, existem duas manobras mais consagradas para tal: você pode pedir para que o paciente repouse a palma das mãos sobre a coxa ou sobre uma mesa e que alterne a palma com o dorso repetidamente, o mais rápido que ele conseguir. Uma lentidão exacerbada ou incapacidade de realizar o movimento, bem como uma clara decomposição dos movimentos realizados, pode revelar o comprometimento dessa capacidade. Ela também pode ser testada ao pedir que o paciente realize o movimento de pinça do polegar com o indicador e alterne esse movimento de pinça com todos os dedos junto ao polegar, sendo que o comprometimento dessa habilidade revelará lentidão ou mesmo a incapacidade para a realização do movimento. Uma vez avaliada essa função, quando ela estiver preservada, classificamos como eudiadococinesia, enquanto que o comprometimento dessa se denomina disdiadococinesia. Quando essa capacidade não está apenas comprometida, mas completamente ausente, denominamos esse estado de adiadococinesia. Reflexos Os reflexos consistem em respostas musculares involuntárias desencadeadas por determinado estímulo de maneira estereotipada, de modo que o mesmo estímulo desencadeia sempre a mesma resposta. Os reflexos, às vezes, podem ser suprimidos por uma ação voluntária. Diante disso, deve-se estar atento aos seguintes fatores: ● Presença ou ausência do reflexo; ● Simetria entre os lados; ● Aumento da área reflexógena; 21 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ● Velocidade e amplitude da resposta. ➔ Superficiais ◆ Reflexo cutâneo plantar: No caso da estimulação do reflexo cutâneo plantar, deve-se estimular suavemente a borda lateral do pé com uma borda romba (geralmente com o fundo do próprio martelo), em direção à base dos dedos, especialmente para a base do hálux em um movimento contínuo sem, no entanto, tocá-lo. A resposta inicial deve ser valorizada, seja de flexão (fisiológica) ou de extensão (patológica) referente ao sinal de Babinski. ◆ Reflexo flexor dos dedos de Hoffman: Sinal de liberação piramidal desencadeado por pinçamento da falange distal do dedo médio, que é submetida à súbita flexão por pressão sobre a unha, levando à flexão dos dedos. 22 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Reflexo flexor dos dedos de Wartenberg: Pode ser observado em pessoas normais, mas é exacerbado na síndrome de liberação piramidal. É desencadeado pela percussão dos dedos da mão do observador sobre os dedos do paciente, com a mão em supinação, desencadeando a flexão dos dedos. ◆ O reflexo cutâneo abdominal: Pode ser avaliado utilizando-se a ponta romba do martelo, estimulando a região periférica do abdome até a linha média. Diante desse estímulo, espera-se que haja uma contração unilateral, no lado estimulado, havendo desvio da cicatriz umbilical para o hemicorpo estimulado. A ausência dessa reação pode ser oriunda de danos no arco reflexo ou em vias piramidais, mas deve-se tomar cuidado com fatores que podem comprometer esse teste, como no caso de pacientes obesos que podem ter perda da sensibilidade reflexiva dessa região. 23 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Profundos ◆ Bicipital (C5, C6 nervo musculocutâneo): coloca-se o polegar no tendão do bíceps e bate-se como o martelo neurológico sobre o polegar, sendo observada a contração do bíceps diante desse estímulo. ◆ Tricipital (C7 nervo radial): o martelo é batido no tendão do tríceps, com o membro superior sendo segurado pelo examinador pelo braço, deixando o membro todo relaxado. Quando estimulado, observa-se a extensão do cotovelo, com o antebraço realizando um movimento semelhante a um pêndulo. ◆ Braquiorradial (C5, C6 nervo radial): o martelo percute a região do músculo braquiorradial, sendo observada uma leve flexão do punho. 24 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Patelar (L3, L4 nervo femoral): percute-se a região patelar, podendo- se pedir para que o paciente flexione as falanges dos dedos da mão, encaixe uma na outra e puxe para distraí-lo, de modo a obter um resultado mais fidedigno. Quando do estímulo, o que ocorre é uma extensão da coxa. ◆ Aquiliano (S1 nervo isquiático): apoia-se a planta do pé com uma mão, garantindo uma leve dorsiflexão, e com a outra, percute- se com o martelo a região do tendão do tríceps sural (tendão de aquiles). 25 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ◆ Clônus: consiste na distensão passiva e brusca de um tendão provocando uma série de contrações clônicas, rítmicas e involuntárias no respectivo músculo, com duração variável e até inesgotáveis. Está mais relacionado à liberação piramidal, sendo o clônus do pé mais facilmente obtido. ◆ Flapping: consiste no desencadeamento de movimentos involuntários quando distensão brusca das mãos, sendo associado geralmente à encefalopatia hepática. 26 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina Sensibilidade ➔ Sensibilidade superficial ◆ Para a sensibilidade tátil, utiliza-se o pedaço de algodão ou o pequeno pincel macio, os quais são roçados de leve em várias partes do corpo. ◆ A sensibilidade térmica requer dois tubos de ensaio, um com água gelada e outro com água quente, com que se tocam pontos diversos do corpo, alternando se os tubos. ◆ A sensibilidade dolorosa é pesquisada com o estilete rombo, capaz de provocar dor sem ferir o paciente. A agulha hipodérmica é inadequada, sobretudo em mãos inábeis. A diminuição da sensibilidade tátil recebe o nome de hipoestesia; sua abolição, anestesia; e seu aumento, hiperestesia. Tais alterações estão na dependência da lesão das vias das várias modalidades sensitivas 27 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Sensibilidade profunda ◆ A sensibilidade vibratória (palestesia) é pesquisada com o diapasão de 128 vibrações por segundo, colocado em saliências ósseas. ◆ A sensibilidade à pressão (barestesia) é verificada mediante compressão digital ou manual em qualquer parte do corpo, especialmente de massas musculares. ◆ A cinéticopostural ou artrocinética (batiestesia) é explorada deslocando-se suavemente qualquer segmento do corpo em várias direções (flexão, extensão). Em dado momento, fixa-se o segmento em uma determinada posição, que deverá ser reconhecida pelo paciente. Para facilitar o exame, elegem-se algumas partes do corpo, como o hálux, o polegar, o pé ou a mão. ◆ A sensibilidade dolorosa profunda é avaliada mediante compressão moderada de massas musculares e tendões, o que, normalmente, não desperta dor. Se o paciente acusar dor, é sinal de que há neurites e miosites. De modo contrário, os pacientes com tabes dorsalis não sentem dor quando se faz compressão, mesmo forte, de órgãos habitualmente muito dolorosos, como é o caso dos testículos. 28 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ Estereognosia e Grafestesia O teste da estereognosia (capacidade de reconhecer objetos somente pelo tato) pode ser testada colocando um objeto facilmente reconhecível na mão do paciente com esse de olhos fechados, questionado se consegue identificar o objeto. Já a grafestesia (capacidade de reconhecer formas que são feitas por meio do tato) pode ser avaliada por meio de um desenho imaginário na superfície cutâneo do paciente (geralmente fazemos um número fácil, como 0 ou 8, de preferência na palma das mãos (sem riscar a pele do paciente, ok? e com ele de olhos fechados novamente. Após isso, questiona-se qual número foi feito em sua pele, mas deve-se atentar para a escolaridade do paciente também, adaptando o exame para a realidade de cada um. Nervos Cranianos ➔ 1º par craniano O olfato, função do I par craniano (olfatório), geralmente é avaliada apenas depois de trauma na cabeça ou quando houver suspeita de lesões na fossa anterior (meningioma) ou se pacientes relatarem odor ou paladar anormal. Pede-se ao paciente para identificar odores (p. ex., sabonete, café, cravos) colocados junto às narinas enquantoa outra narina é ocluída. Álcool, amônia e outros irritantes, submetidos aos nociceptores do V par craniano (trigêmeo), são usados apenas quando houver suspeita de simulação. 29 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ 2º par craniano Na avaliação do 2º par craniano (óptico), a acuidade visual é testada utilizando um quadro de Snellen para visão à distância ou um quadro manual para visão de perto; cada olho é avaliado individualmente, com o outro olho coberto. A percepção de cores é avaliada utilizando placas pseudoisocromáticas de Ishihara ou Hardy-Rand-Ritter que têm números ou figuras dentro de um campo de pontos especificamente coloridos. Os campos visuais são avaliados por confrontação direta nos 4 quadrantes visuais. As respostas pupilares diretas e consensuais são avaliadas. Também é realizado exame fundoscópico. ➔ 3º, 4º e 6º pares cranianos Na avaliação dos pares cranianos 3º (oculomotor), 4º (troclear) e 6º (abducente), os olhos são observados quanto a simetria de movimento, posição do globo ocular, assimetria ou queda das pálpebras (ptose) e espasmos ou tremulações dos globos ou das pálpebras. Os movimentos extraoculares controlados por esses nervos são testados pedindo-se ao paciente para acompanhar um alvo em movimento (p. ex., dedo do examinador, sinal luminoso) nos 4 quadrantes (inclusive através da linha mediana) e em direção à ponta do nariz; esse teste pode detectar nistagmo e paralisia de músculos oculares. O nistagmo de amplitude tênue breve do olhar na extremidade lateral é normal. Anisocoria ou diferenças nos tamanhos pupilares devem ser observadas em um quarto com luz fraca. O reflexo pupilar à luz é testado para simetria e rapidez. 30 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ 5º par craniano Para avaliação das 3 divisões sensoriais (oftálmica, maxilar e mandibular) do 5º nervo (trigêmeo), o examinador usa um clipe para testar a sensibilidade facial e passa uma mecha de algodão na parte inferior ou lateral da córnea para avaliar o reflexo da corneano. Quando há perda de sensibilidade facial, deve-se examinar o ângulo da mandíbula; a preservação dessa área (inervada pela raiz espinal C2) sugere um déficit trigeminal. Um piscar fraco, decorrente de fraqueza facial (p. ex., paralisia do VII par craniano), deve ser distinguido de um reflexo corneano diminuído ou ausente, comum em indivíduos que usam lentes de contato. Um paciente com fraqueza facial normalmente sente a mecha de algodão em ambos os lados, até mesmo com o piscar diminuído. A função motora do trigêmeo é testada palpando-se o músculo masseter, enquanto o paciente cerra firmemente os dentes, e pede-se para que abra a boca contra resistência. Quando o músculo pterigoideo está fraco, a mandíbula desvia-se para o lado desse músculo. 31 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ 7º par craniano O 7º par craniano (facial) é avaliado verificando a fraqueza hemifacial. Com frequência, a assimetria de movimentos faciais é mais evidente durante a conversação espontânea, em especial quando o paciente sorri ou, se estiver mentalmente confuso, fizer caretas perante um estímulo nocivo; no lado debilitado, o sulco nasolabial aprofunda-se e a rima das pálpebras amplia-se. Se o paciente apresentar apenas fraqueza facial inferior (i. e., o enrugamento da fronte e o fechamento das pálpebras são preservados), a fraqueza do VII nervo é central e não periférica. A sensibilidade gustativa nos dois terços anteriores da língua pode ser testada com soluções doces, azedas, salgadas e amargas colocadas em ambos os lados da língua. Hiperacusia, indicando fraqueza do músculo estapédio, pode ser detectada posicionando-se um diapasão em vibração próximo à orelha. ➔ 8º par craniano Como o 8º par craniano (vestibulococlear, acústico, auditivo) transmite entradas auditivas e vestibulares, a avaliação envolve audição e função vestibular A audição é testada primeiro em cada ouvido sussurrando algo e ocluindo a orelha oposta. Qualquer perda suspeita devem levar imediatamente a testes audiológicos para confirmar os resultados e ajudar a diferenciar perda auditiva condutiva de perda neurossensorial. Os testes de Weber e Rinne podem ser realizados no leito para tentar diferenciar os dois, mas eles são difíceis de fazer de modo eficaz, exceto em ambientes especializados. 32 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina Pode-se avaliar a função vestibular testando o nistagmo. A presença e características (p. ex., direção, duração, gatilhos) do nistagmo vestibular ajuda a identificar distúrbios vestibulares e, às vezes, diferenciar vertigem central de periférica. O nistagmo vestibular tem 2 componentes: ● Um componente lento causado pela entrada vestibular ● Um componente rápido corretivo que provoca o movimento no sentido oposto (chamado batimento) A direção do nistagmo é definida pela direção do componente rápido, pois é mais fácil de ver. O nistagmo pode ser rotatório, vertical ou horizontal e pode ocorrer espontaneamente, com o olhar, ou com o movimento da cabeça. Ao tentar diferenciar causas centrais de periféricas da vertigem, as seguintes diretrizes são confiáveis e devem ser consideradas no início: ● Não existem causas centrais da perda auditiva unilateral porque a entrada sensorial periférica das 2 orelhas é combinada quase que instantaneamente à medida que os nervos periféricos entram na ponte. ● Não existem causas periféricas de sinais do sistema nervoso central. Se um sinal do sistema nervoso central (p. ex., ataxia cerebelar) aparece ao mesmo tempo que a vertigem, é praticamente certo que a localização é central. A avaliação da vertigem usando testes de nistagmo é particularmente útil nas seguintes situações: ● Quando os pacientes têm vertigem durante o exame ● Quando os pacientes têm síndrome vestibular aguda ● Quando os pacientes têm vertigem posicional episódica Se os pacientes têm vertigem aguda durante o exame, nistagmo costuma ser aparente durante a inspeção. Mas a fixação visual pode suprimir o nistagmo. Nesses casos, o paciente é solicitado a usar um diopter de +30 ou lentes de Frenzel para evitar a fixação visual de modo que o nistagmo, se presente, pode ser observado. Pistas que ajudam a diferenciar vertigem central de periférica nestes pacientes incluem: 33 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ● Se o nistagmo está ausente com a fixação visual, mas presente com lentes de Frenzel, ele é provavelmente periférico. ● Se o nistagmo muda de direção (p. ex., de um lado para outro quando, p. ex., a direção do olhar muda), ele é provavelmente central. Entretanto, a ausência desse resultado não exclui causas centrais. Se o nistagmo é periférico, os olhos se afastam do lado disfuncional. Ao avaliar pacientes com síndrome vestibular aguda (início rápido da vertigem grave, náuseas e vômitos, nistagmo espontâneo e instabilidade postural), a manobra mais importante para ajudar a diferenciar vertigem central de vertigem periférica é a manobra de compressão da cabeça. Com o paciente sentado, o examinador segura a cabeça do paciente e pede que ele focalize um objeto, como o nariz do examinador. Então o examinador de repente e rapidamente vira a cabeça do paciente em cerca de 20° para a direita ou para a esquerda. Normalmente, os olhos continuam focalizando o objeto (por meio do reflexo vestíbulo-ocular). Outros resultados são interpretados como a seguir: ● Se os olhos se afastam temporariamente do objeto e então um movimento corretivo frontal retorna os olhos para o objeto, o nistagmo é provavelmente periférico (p. ex., neuronite vestibular). O aparelho vestibular em um dos lados é disfuncional. Quanto mais rápido a cabeça é girada, mais óbvio é o movimento corretivo. ● Se os olhos continuam focalizando o objeto e não há necessidade de um movimento corretivo, o nistagmo é provavelmente central (p. ex., infarto cerebelar). Quando a vertigem é episódica e provocada pela mudança de posição, a manobra de Dix-Hallpike (ou Barany) é feita para testar a obstrução do canal semicircular posterior comcristais otoconiais deslocados (para vertigem posicional paroxística benigna [VPPB]). Nessa manobra, o paciente senta ereto na mesa de exame. O paciente é rapidamente abaixado para trás em uma posição supina com a cabeça estendida em 45° abaixo do plano horizontal (ao longo da borda da mesa de exame) e girado em 45 ° para um dos lados (p. ex., para o lado direito). Observam-se a direção e duração do nistagmo, bem como a sensação de vertigem. Volta-se o paciente à posição vertical e a manobra é repetida com a rotação para o outro lado. Nistagmo secundário à VPPB tem as seguintes características quase patognomônicas: ● Um período de latência de 5 a 10 segundos 34 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ● Normalmente, o nistagmo vertical (olhar para cima) quando os olhos se afastam da orelha afetada e nistagmo rotativo quando os olhos se aproximam da orelha afetada ● Nistagmo que causa fadiga quando a manobra de Dix-Hallpike é repetida Em comparação, a vertigem posicional e nistagmo relacionado com a disfunção do sistema nervoso central não têm um período de latência e não causam fadiga. A manobra de reposição canalicular de Epley pode ser feita em ambos os lados para ajudar a confirmar o diagnóstico de VPPB. Se o paciente tem VPPB, há uma alta probabilidade (até 90%) de que os sintomas desaparecerão após a manobra de Epley, e os resultados de uma manobra repetida de Dix-Hallpike serão então negativos. ➔ 9º e 10º pares cranianos O IX par craniano (glossofaríngeo) e o X par craniano X (vago) geralmente são avaliados em conjunto. Observa-se se há elevação simétrica do palato quando o paciente diz "ah". Se um lado é parético, a úvula é levantada e separada do lado parético. A parte posterior de cada lado da faringe pode ser tocada com um abaixador de língua para checar o reflexo faríngeo (de ânsia), e a assimetria do reflexo faríngeo é observada; a ausência bilateral do reflexo faríngeo é comum em pessoas saudáveis e pode não ser importante. Em um paciente entubado, não responsivo, a sucção no tubo endotraqueal deflagra tosse. Quando há rouquidão, inspecionam-se as pregas vocais. A rouquidão isolada (com reflexo faríngeo e elevação do palato normais) deve motivar a busca por lesões (p. ex., linfoma mediastinal, aneurisma de aorta) que comprimam o nervo laríngeo recorrente. 35 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ 11º par craniano O XI par craniano (acessório espinal) é avaliado testando-se os músculos que inerva: ● No caso do esternocleidomastoideo, pede-se ao paciente para girar a cabeça contra a resistência imposta pela mão do examinador, enquanto este palpa o músculo ativo (oposto ao lado da rotação). ● Para a parte superior do trapézio, pede-se ao paciente para levantar os ombros contra a resistência imposta pelo examinador. 36 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina ➔ 12º par craniano O XII par craniano (hipoglosso) é avaliado pedindo-se ao paciente para estender a língua e verificando-se se há atrofia, fasciculações e fraqueza (ocorre desvio para o lado da lesão). 37 Luiz Felipe Alcântara Ferreira - Medicina 38
Compartilhar