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biopalentologia 3

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GEOLOGIA E BIOPALEONTOLOGIA
UNIDADE 3 - AMBIENTES DE FORMAÇÃO E 
REGISTROS FÓSSEIS
Autoria: Marcos Antonio de Melo - Revisão técnica: Diego Ferreira Ramos 
Machado
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Introdução
Você sabia que o estudo dos fósseis, como os processos da fossilização, toma importância no sentido de auxiliar
no entendimento da escala do tempo geológico? É algo que vai além do arcabouço conceitual das ciências da
natureza, pois abarca os conhecimentos da evolução das formas de vida no Planeta. Isso porque os registros
fósseis, diante de suas características morfológicas e ecológicas pretéritas, são estudadas pela Paleontologia. Eles
seriam, então, verdadeiros “testemunhos” da vida na jornada terrestre?
Além disso, sabia que se tem nesses registros marcos na transição de etapas e fases da história evolutiva das
espécies e das transformações ambientais que andam de forma concomitante? Os estudos paleontológicos
evidenciam os eventos que sucedem desde a morte de um organismo, passando pelo soterramento e chegando a
transformações físicas e químicas.
Nesse contexto, também vale descobrir os curiosos ambientes de sedimentação, como planícies, lagos e praias. A
respeito disso, sabia que eles são parte integrante da dinâmica da construção do relevo terrestre? Este, inclusive,
corresponde à exposição do trabalho das forças internas do Planeta, em parceria com as forças externas,
resultando nas paisagens terrestres, palco da vida na biosfera. Um passado que nos é revelado pela presença das
formações geológicas, dos recursos minerais e, sobretudo, dos registros fósseis.
Portanto, os conhecimentos sobre ambientes de sedimentação, fósseis e rochas seriam o caminho para se
entender o passado, compreender o presente e pensar e agir sobre o futuro da Terra e das formas de vida?
Vamos nos aprofundar nisso!
Bons estudos!
3.1 Ambientes de sedimentação
Na formação das rochas sedimentares, o material originado advém da “destruição” erosiva de qualquer outro
tipo de rocha, em processo semelhante. O material transportado será depositado em um novo sítio, ou seja, um
novo “ambiente”, criado pelo material e pela ação de fatores químicos e biológicos.
De acordo com Grotzinger e Jordan (2013), um ambiente de sedimentação corresponde a um lugar geográfico
caracterizado pela combinação particular de processos geológicos e condições ambientais. Ele é frequentemente
agrupado por sua localização, seja nos continentes, seja em regiões costeiras ou, ainda, nos oceanos.
Esses ambientes de sedimentação podem ser classificadas de acordo com o conjunto particular de condições
ambientais, fisionomias e origem dos sedimentos. Assim temos os ambientes continentais (fluvial, aluvial,
lacustre, desértico e glacial), marinhos (margem continental, plataforma continental, recifes orgânicos e mar
profundo ou abissal) e costeiros (praia, delta e planície de maré).
Tais ambientes estão condicionados pela localização geográfica e pelo enquadramento tectônico. Isso envolve
quais estruturas litológicas e a posição no relevo que os sedimentos terão que “percorrer”, bem como sobre qual
tipo de estrutura o intemperismo terá de agir.
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Grotzinger e Jordan (2013) complementam que os agentes e a forma de transporte também possuem relevância,
uma vez que velocidade e intensidade terão influência no tamanho e na forma dos sedimentos, assim como no
tempo em que o sedimento vai percorrer seu caminho da origem até o ambiente.
Os processos físicos e químicos modificam o sedimento durante o intemperismo, sendo que o mesmo ocorre
para os processos orgânicos e organismos, todos com constante influência de fatores climáticos.
Na figura a seguir, podemos observar os ambientes de sedimentação com os resultados das interações de
múltiplos fatores que os constituem.
Figura 1 - Ambientes de sedimentação
VOCÊ QUER LER?
Dean (1997), no livro “A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira”,
nos traz que a Mata Atlântica teve sua gênese após a separação de tamanha massa continental,
conhecida como Pangeia. Depois, a evolução de vegetais locais e sua interação com animais
nativos resultaram no surgimento de inúmeras espécies. O autor ainda discorre sobre a
formação das escarpas cristalinas batizadas como serra desde a chegada dos colonizadores
europeus. Vale a leitura da obra para se aprofundar!
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Figura 1 - Ambientes de sedimentação
Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em GROTZINGER; JORDAN, 2013.
#PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração dos ambientes de sedimentação: continentais, costeiros e
marinhos. Também há as interações dos fatores que formam esses ambientes.
Entre os sedimentos inseridos nesses ambientes, alguns podem ser classificados como clásticos, químicos e
orgânicos. Os são fragmentos de variadas rochas, que, ao serem transportadas, são depositados eclásticos
estratificados. Os , por sua vez, são originados da precipitação de solutos devido à diminuição daquímicos
solubilidade ou evaporação da água — o mais comum é a precipitação de carbonatos. Por fim, os sãoorgânicos
oriundos de restos de organismos, vegetais e animais.
3.1.1 Ambientes de sedimentação continentais
Grotzinger e Jordan (2013) citam que os rios diminuem de velocidade por conta de menores declividades, em
seus médios e baixos cursos (foz). Como consequência, acabam por também diminuir a capacidade
transportadora, iniciando a sedimentação dos materiais transportados.
Segundo a Escala de Wentworth (sedimentos clásticos), detritos grosseiros, seixos (entre 4 mm e 60 mm) e
partículas menores que areias (inferior aos 2 mm) são os materiais mais transportados.
Os leques aluviais correspondem aos primeiros sedimentos fluviais a se formarem no sopé de vertentes. Eles
também se encontram nas margens dos canais fluviais e sofrem frequentes inundações quando os rios
transbordam. Os organismos são abundantes nos depósitos de inundação lamacentos, responsáveis pelos
sedimentos orgânicos (GROTZINGER; JORDAN, 2013).
Os lagos, ambientes lacustres ou lagunares são controlados pelas ondas de baixas energias dos corpos de águas
inferiores. Os sedimentos são detríticos, acumulações de partículas clásticas, ou seja, fragmentos de rochas pré-
existentes nas superfícies atacadas pelo intemperismo.
Os processos bioquímicos são potencializados pela presença de matéria orgânica. Em lagos considerados
detríticos, em suas margens e ao centro da lâmina d’água, podem ocorrer acumulação de sedimentos e formação
de deltas.
O Mar Morto é um exemplo de ambiente sedimentar continental. Situado sobre uma falha geológica entre as
placas Africana e Arábica, o lago está em uma depressão absoluta de mais de 400 metros, evidenciando o
ambiente de movimentação tectônica.
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Figura 2 - Mar Morto: ambiente lacustre com alta concentração de sais
Fonte: Olesya Baron, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia do Mar Morto, localizado na divisa entre Jordânia e Israel. Há
amostras de cristais de sal por cima da água.
Em um ambiente desértico, os sedimentos dependem da velocidade do vento para a eficácia da sedimentação. Os
grãos quartzosos maiores vão gradativamente perdendo massa e ganhando maior “mobilidade”. Porém, com a
diminuição da velocidade do vento provocada por obstáculos (vegetais, blocos etc.), a sedimentação passa a
ocorrer com grãos de areia com diâmetros entre 0,1 a 1,0 mm. Além disso, partículas inferiores aos 50µ (mícron)
são transportadas para longe pelo vento (GROTZINGER; JORDAN, 2013).
Já em ambiente glacial, a dinâmica das massas de gelo predomina. Inexiste alteração química pelo intemperismo,
e os materiais finos presentes são produtos da pulverização mecânica de rochas. Por outro lado, os materiais
maiores são fragmentos lapidados pelo intemperismo físico.
Em lagos de ambientes glaciais, os depósitos de sedimentos formam camadas diferenciadas ao longo do tempo.
Assim são formadas as rochas com aspecto laminar, como o varvito.
3.1.2 Ambientes de sedimentação costeiros
A dinâmica costeira das ondas, marés e correntes em praias arenosas,domina os ambientes costeiros. Nesse
caso, organismos podem ser abundantes, mas não influenciam muito na sedimentação, exceto onde os
sedimentos carbonáticos também sejam facilmente encontrados (GROTZINGER; JORDAN, 2013).
De maneira geral, ambientes deltaicos correspondem a depósitos sedimentares contíguos, em parte subaéreos e
parcialmente submersos, depositados sobre corpos d’água (rios que desembocam nos mares ou lagos).
São ambientes extremamente dinâmicos. Assim, os deltas estão associados a eventos de regressão ou
estabilização marinha, em que estuários são assoreados progressivamente, evoluindo para deltas (GROTZINGER;
JORDAN, 2013).
Nas planícies de maré, extensas áreas são expostas em maré baixa, nos trópicos, e tendem a abrigar manguezais.
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Nas planícies de maré, extensas áreas são expostas em maré baixa, nos trópicos, e tendem a abrigar manguezais.
Tratam-se de ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes marinho e continental, típicos de regiões
estuarinas, submersas em um período e emersas em outro.
O delta do Rio Amazonas é um grande exemplo, cuja foz possui mais de 300 km entre os estados do Amapá e do
Pará, transportando todo o aporte de sedimentos da bacia amazônica.
Figura 3 - Delta do Rio Amazonas
Fonte: lavizzara, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia do delta do Rio Amazonas, demonstrando o aporte de sedimentos
em suspensão nas águas.
Em ambientes de praiais, as ondas que se aproximam e se espalham pela orla realizam a distribuição aleatória
dos sedimentos, depositando-os em longitudinais faixas de areia e cascalhos. Nesses depósitos de sedimentos, os
mais comuns são os arenosos, que, por apresentarem alta mobilidade, ajustam-se às condições de ondas e marés,
atuando como importantes elementos de proteção das costas.
3.1.3 Ambientes de sedimentação marinhos
A divisão em “zonas” do ambiente marinho se baseia em critérios de profundidade, declividade, tipos de
correntes oceânicas e distanciamento da costa.
Grotzinger e Jordan (2013) nos trazem que a plataforma continental, conhecida como região nerítica, ocupa
águas rasas e distantes das praias continentais, onde a sedimentação é controlada majoritariamente pelas
correntes oceânicas. A sedimentação da plataforma pode se dar pelos fragmentos de rochas ou por ação química,
dependendo da origem dos sedimentos. A delimitação espacial é feita com base na profundidade, em média 200
metros.
Por sua vez, nas margens continentais depositam sedimentos em zonas mais profundas, pelas correntes de
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Por sua vez, nas margens continentais depositam sedimentos em zonas mais profundas, pelas correntes de
turbidez, as quais correspondem ao repentino movimento de sedimentos para a zona submarina, tornando-a
turbulenta em sua extensão (GROTZINGER; JORDAN, 2013).
Os ambientes profundos estão relacionados a zonas da região batial, delimitada comumente pela profundidade
além dos 200 metros, indo até os 2 km a partir da plataforma continental. É uma região cujas formas de vida já se
encontram bem reduzidas.
Seguindo para a zona mais profunda, ultrapassando os 2 km de distância da costa, a zona abissal apresenta
ambiente marinho mais profundo, sendo uma região totalmente afótica (sem luz), onde habitam poucas formas
de vida.
A região abissal possui profundidades superiores aos 1.000 metros, com formas de vida adaptadas ao hostil
ambiente. A sedimentação principal se constitui de fragmentos de exoesqueletos, com argila continental de
granulação fina.
Temos, ainda, que os recifes orgânicos — mais conhecidos como “barreiras de corais” — são compostos por
estruturas carbonáticas formadas por material secretado por organismos, construídos a partir da deposição de
carbonato de cálcio, como algas calcárias e moluscos. Eles possuem aparência de estruturas rochosas, mas
correspondem a estruturas vivas formadas por espécies de exoesqueletos de carbonato de cálcio (GROTZINGER;
JORDAN, 2013).
Interessante entender sobre esses ambientes, não é? Agora, podemos passar ao estudo dos agentes modeladores
e das formas de classificação do relevo. No entanto, antes, vamos colocar em prática uma experiência relacionada
à sedimentação, a fim de compreendermos melhor quanto à temática.
3.2 Agentes modeladores e formas de classificação do 
relevo
Os agentes modeladores do relevo são acionados diante das forças que atuam juntamente no processo de
formação e modelagem das estruturas e formas do modelado terrestre. Tais forças são classificadas, em um
primeiro momento, como endógenas ou exógenas.
Assim, a Geomorfologia, segundo Winge . (2020), é umet al
[…] ramo da Geologia que estuda as formas de relevo e das drenagens associadas estabelecendo a
VAMOS PRATICAR?
Vamos simular um ambiente de sedimentação? Para tanto, tenha em mãos uma vasilha
transparente, água — em quantidade suficiente para encher o recipiente —, areia, cal e solo
(terra).
Misture na água os materiais sólidos, dissolvendo-os. Depois, coloque a água turva no
recipiente para iniciar o processo de sedimentação.
Observe que, de imediato, os grãos mais grosseiros e pesados de areia irão para o fundo.
Gradativamente, os outros materiais (cal, terra e grãos menores de areia) irão formar camadas
sucessivas até a água evaporar totalmente.
Sem a água, temos um ambiente solidificado e estratificado, que é o princípio da formação de
uma nova superfície em pequena escala.
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[…] ramo da Geologia que estuda as formas de relevo e das drenagens associadas estabelecendo a
definição de padrões morfológicos descritivos, buscando a interpretação da origem e evolução
desses padrões principalmente face a controles lito-estruturais e climáticos.
Em outras palavras, pode-se dizer que a Geomorfologia corresponde à ciência que estuda a gênese e as formas
do relevo.
No quadro a seguir, temos as relações escalares temporais e espaciais do relevo, que denota as ações dos agentes
modeladores em relação ao tempo.
Quadro 1 - Relações escalares temporais e espaciais do relevo
Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em AHNERT, 1998.
#PraCegoVer: no quadro, temos as ações dos agentes modeladores em relação ao tempo. Há a dimensão
territorial, exemplos geomorfológicos e o intervalo de tempo de duração das formas em anos.
A evolução do modelado terrestre é resultado de um verdadeiro “jogo de forças” contrárias e complementares.
Os são comandados pelas forças interiores do Planeta, considerando oagentes endógenos ou internos
comportamento da litosfera e suas estruturas, além das implicações dos fenômenos de ordem tectônica. O
tectonismo se refere ao movimento das placas, gerando o “enrugamento”, a formação de cadeias montanhosas
(orogênese) ou o soerguimento de superfícies (epirogênese).
Já os estão relacionados à denudação e ao intemperismo, ou seja, à remoção eagentes exógenos ou externos
transformações de materiais. As fontes de energia que atuam para propagar esses processos são a radiação solar,
a gravidade, a água, o vento e os organismos vivos. Tais agentes atuam sobre as rochas, por meio do
intemperismo.
Dessa forma, o relevo é a expressão das variações do “equilíbrio” das forças internas e externas que se
apresentam sobre a superfície. Assim, para melhor compreensão acerca das formas e dinâmicas envolvidas,
alguns métodos para classificação das formas do relevo foram criados.
Vale mencionar, inclusive, que certas denominações possuem caráter abrangente e de aceitação ampla, como é
caso de planaltos, serras e montanhas, planícies, depressões absolutas ou negativas, chapadas e tabuleiros.
VOCÊ O CONHECE?
A primeira classificação do relevo brasileiro foi proposta pelo geógrafo Aroldo Azevedo. No
ano de 1949, baseado na altimetria do território — crença de que as planícies alcançariam os
200 metros de altitude, e os planaltos acima dessa altitude —, Azevedo dividiu o relevo em
planícies e planaltos. Essa classificação é formada por oito unidades. Ademais, o geógrafo
elaborou os primeiros livros didáticos de Geografia no país. Vale conhecer!
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3.2.1 Classificaçãodo relevo
De forma isolada, as são caracterizadas pela elevada altitude e de acordo com sua formação. Podemmontanhas
ser de origem vulcânica, formadas a partir do extravasamento de lavas em cones ou fissuras vulcânicas; de
ambientes erosivos, a partir da erosão do relevo ao redor (escala de milhões de anos); pela ocorrência de
falhamentos, originados a partir de movimentos verticais na crosta, os quais geram rupturas entre blocos
(movimentos epirogenéticos); e por dobras litológicas, a partir de movimentos orogenéticos (GROTZINGER;
JORDAN, 2013).
No entanto, as montanhas quase sempre estão associadas a um “conjunto” de escala territorial mais abrangente,
como as serras e cordilheiras.
Serra
A serra pode ser considerada um conjunto de montanhas em formações extensas, cuja
altitude varia entre 400 a 3.000 metros. Alguns exemplos são a Serra da Mantiqueira e a
Serra dos Órgãos, no sudeste do Brasil.
Cordilheira
As cordilheiras, assim como as serras, também representam cadeias de montanhas, mas
sua área e suas altitudes são bem mais extensas. Normalmente, têm origem relacionada a
choques entre placas tectônicas, como os Andes, o Himalaia, os Montes Apalaches e os
Pirineus.
Florenzano (2008) nos explica que, em feições em dimensões menores, têm-se os , que são médiasmorros
elevações do terreno com domínio de topos arredondados, amplitudes de 100 a 200 metro e declividades altas;
além das , ainda mais baixas, com topos quase planos, amplitudes entre 20 e 60 metros e declividadescolinas
baixas.
Os , por sua vez, correspondem a superfícies irregulares com altitudes acima dos 300 metros. Ocorremplanaltos
sobre estruturas cristalinas e porções residuais de montanhas erodidas em eventos geológicos pretéritos, bem
como em áreas basálticas originadas de extintas atividades vulcânicas. Os platôs — outra denominação utilizada
para os planaltos — ainda podem ter origem sedimentar, ou seja, ser formados por rochas que se encontravam
em patamares menos elevados e, posteriormente, foram soerguidas por movimentos crustrais.
Vale mencionar, também, que os planaltos abrigam morros, serras ou elevações íngremes de topo plano
(chapadas). No Brasil, alguns exemplos são o planalto Central, na região centro-oeste; o planalto das Guianas, no
norte; e a chapada do Araripe, no nordeste.
Temos, ainda, as , que são superfícies planas com baixas altitudes, formadas pelo acúmulo e pelaplanícies
sedimentação de materiais movimentados pelas águas do mar, rios ou lagos. Estão nas proximidades dos
planaltos, formando vales fluviais ou constituindo áreas litorâneas (FLORENZANO, 2008).
Segundo Ross (1985), exemplos clássicos de planícies são a do Rio Amazonas, do Rio Araguaia, planície e
pantanal do Rio Guaporé, planície e pantanal do Rio Paraguai ou mato-grossense, das lagoas dos Patos e Mirim,
assim como planícies e tabuleiros litorâneos.
As regiões de topografia baixa em relação ao entorno são consideradas . Elas podem ser do tipodepressões
absoluta (abaixo do nível do mar) ou relativa (acima do nível do mar). Temos como exemplos o Mar Morto, no
Oriente Médio, e as maiores depressões absolutas do mundo, como o Mar Cáspio, na Ásia Ocidental.
Por fim, as e os são formações aplainadas. O tabuleiro é formado de pequenos platôs dechapadas tabuleiros
modestas altitudes, limitados por escarpas abruptas, chamadas barreiras. Já as chapadas são planaltos mais
elevados e de maior extensão territorial, cujo topo é aplainado e as encostas são escarpadas.
Na figura a seguir, podemos observar as grandes unidades do relevo, que busca ilustrar essas feições que
acabamos de estudar.
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Figura 4 - Grandes unidades de relevo
Fonte: FLORENZANO, 2008. p. 14.
#PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração com a representação de um perfil do relevo, mostrando suas
unidades, como planícies, planaltos, depressão, morros, colinas e montanhas.
Outras formas de relevo também estão presentes no território, porém podem ser específicas em determinadas
localidades, como as escarpas, que são bordas de planaltos com declives acentuados, formadas por
movimentação epirogênica e modelada por agentes do intemperismo; e as cuestas, que têm um lado escarpado e
abrupto, enquanto o outro lado possui declives suaves, geralmente encontradas em terrenos de origem vulcânica.
Entendido a respeito da classificação do relevo, vamos nos aprofundar, com os próximos itens, nas dinâmicas
interna e externa do Planeta.
3.2.2 Dinâmica interna, sismos, vulcanismo e orogênese
O Planeta Terra está em constante transformação, modificando as estruturas das rochas e as características
fisiográficas superficiais. Tais feições estruturais têm origem no manto superior e envolvem a transferência de
matéria e calor para os níveis mais altos da litosfera, a qual é submetida constantemente a esforços (TEIXEIRA et
., 2009).al
A dinâmica do manto, responsável pelos deslocamentos das placas tectônicas, é também motriz das estruturas
rochosas do Planeta. As correntes de convecção representam os movimentos do ambiente “fluído” do manto
superior, mais precisamente da astenosfera. Correspondem às forças responsáveis pelos processos de
movimentação da crosta (horizontal) e, consequentemente, das transformações do relevo. Eles originam, por
exemplo, os terremotos, os processos vulcânicos, a orogênese, a epirogênese e, sobretudo, a tectônica de placas.
Winge . (2020) trazem que o termo “orogênese” advém do grego “ ” (montanha) e “ ” (geraçãoet al oros genus
/origem). Com a mesma raiz etimológica, temos “epirogênese”, do grego “ ” (continente) e “ ”epeiros genus
(geração/origem).
A , portanto, corresponde ao conjunto de forças internas do Planeta, causadas por pressões e altasorogenia
temperaturas das camadas inferiores. Por vezes, essas manifestações são violentas e rápidas, como os
terremotos e vulcões. Outrora, são lentas e graduais, como na formação dos dobramentos modernos (TEIXEIRA 
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terremotos e vulcões. Outrora, são lentas e graduais, como na formação dos dobramentos modernos (TEIXEIRA 
., 2009).et al
A consiste no deslocamento vertical de áreas continentais. Dá-se em função de acomodaçõesepirogênese
isostáticas entre crosta e astenosfera. A movimentação verticalizada pode ser positiva ou negativa, lenta e por
ampla região, em decorrência de reações isostáticas atuantes. Ela se desenvolve por áreas com soerguimento ou
subsidência da crosta, decorrente dos ajustes isostáticos.
A ocorre de forma linear, devido ao encontro de placas, e resulta em esforços horizontalizados.orogênese
As paisagens de origem vulcânica correspondem àquelas formadas pelo acúmulo de material — magma, que se
transforma em lava — proveniente de partes profundas. A “expulsão” desse material pode se dar por erupções
em formato de “cone” ou fissuras na litosfera.
Além de lava que “escorre” pela superfície ou pelo fundo oceânico, existem materiais “piroclásticos”, ou seja,
materiais lançados por ocasião das erupções, como cinzas, fragmentos (bombas vulcânicas) e gases.
Figura 5 - Paisagem vulcânica no norte da Islândia
Fonte: Joaquin Corbalan P, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia de pequenas montanhas originadas por derrames vulcânicos,
localizadas no norte da Islândia.
As superfícies produzidas por falhamentos e dissecações erosivas correspondem, comumente, a regiões
aplainadas. Elas podem sofrer ação das forças epirogênicas, em que há movimentos de “subida e descida” de
grandes áreas da crosta terrestre devido ao deslocamento vertical de porções continentais.
Quando os deslocamentos são para “cima”, denomina-se soerguimento, enquanto que, para “baixo”, temos
subsidência.
Existem algumas possibilidades da formação de montanhas oriundas do processo de falhamento. Em alguns
casos, verifica-se a elevação de blocos litológicos de uma região rebaixada ou o abatimento em áreas elevadas,
formando fossas tectônicas (TEIXEIRA ., 2009).et al
Em geral, as falhas e fraturas são formadas em regiões que abrigam rochas cristalinas ou metamórficas, rígidas
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Em geral, as falhase fraturas são formadas em regiões que abrigam rochas cristalinas ou metamórficas, rígidas
fisicamente, em que as forças epirogênicas tendem a “quebrar” (fraturar, falhar) as estruturas, em vez de
“dobrar”. Por sua vez, os dobramentos podem ser por estriamento (extensão) ou cisalhamento, dinamizados
pelas forças orogênicas.
Predominam forças compressionais em limites convergentes de placas tectônicas, e forças extensionais em
limites divergentes. As forças por cisalhamento ocorrem nos limites de placas transformantes. Tanto as falhas
quanto os dobramentos são oriundos dessas forças empregadas.
Na figura a seguir, temos uma demonstração das forças compreensivas, extensionais e de cisalhamento, que
atuam em ações orogenéticas e epirogenéticas da crosta terrestre.
Figura 6 - Deformação por forças compreensivas, extensionais e de cisalhamento
Fonte: GROTZINGER; JORDAN, 2013, p. 275.
#PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração com os tipos de forças de alterações de placas tectônicas e
superfícies.
As superfícies dobradas podem ter forma convexa ou côncava. A disposição que se apresentam são sinclinal,
côncava com dobras para baixo; ou anticlinal, convexa, com dobras com convexidade para cima.
3.2.3 Dinâmica externa e mecanismos morfogenéticos
Os processos morfogenéticos são responsáveis pela esculturação das formas do relevo, atuando, principalmente,
com a movimentação de massas e o escoamento superficial.
Entende-se por morfogênese a relação entre o intemperismo e as formas do relevo, as quais podem variar tanto
no tempo como no espaço, provocando maior ou menor associação na relação de processos e formas.
De acordo com Teixeira . (2009), na dinâmica externa, a formação e esculturação das formas de relevo vãoet al
além do intemperismo, visto que existem forças atuantes também dos processos, as quais representam a ação da
dinâmica exógena dos agentes de formação do relevo.
Contudo, para a compreensão dos mecanismos de transformação da superfície terrestre, é imprescindível
entender o processo evolutivo, considerando a ação diferencial dos processos morfogenéticos, como as
mudanças climáticas no tempo geológico, os componentes tectônicos e as propriedades mineralógicas das
rochas que respondem de diferentes maneiras às desagregações mecânica e química, provenientes do
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rochas que respondem de diferentes maneiras às desagregações mecânica e química, provenientes do
intemperismo.
Alguns dos processos morfogenéticos relacionados são:
• rastejamento de materiais;
• solifluxão, quando há sobrecarga com ruptura do solo em um movimento maciço, em que sedimentos 
encharcados (solo e lama) descem encostas sobre o material impermeável (rocha);
• solifluxão, que são os deslizamentos, escorregamentos e movimentos de massa em geral.
O escoamento superficial ajuda no transporte de materiais por meio da ação da água, seja pela ação mecânica, do
impacto das gotas de chuva sobre o solo ou rochas (saltitação); seja no processo de erosão laminar ou linear, que
correspondem ao escoamento difuso das águas e ao escoamento linear concentrado, respectivamente.
Na figura na sequência, podemos observar uma encosta sob efeito de movimentação de massa e processos
erosivos por efeito das erosões laminar e linear, alterando a configuração da vertente.
Figura 7 - Encosta sob efeito de movimentos de massa e processos erosivos
Fonte: Svet7lana, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia com a paisagem de uma encosta com movimento de massa em
forma de erosões linear e laminar.
Além dos eventos de movimentação de massa — os quais ocorrem em pouco intervalo de tempo —, os processos
morfogenéticos também são responsáveis, por exemplo, pelos aplainamentos associados aos climas secos,
originados em eventos geológicos pretéritos.
A seguir, temos uma experiência prática para colocar a mão na massa e visualizar a construção do relevo. Depois,
iremos iniciar nossos estudos sobre a Paleontologia com o próximo tópico. Acompanhe!
•
•
•
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3.3 Introdução ao estudo da Paleontologia
Winge . (2020) citam que o termo “paleontologia” advém das palavras gregas “ ” (antigo), “ ”et al palaios ontos
(ser) e “ ” (estudo). De maneira geral, a Paleontologia corresponde à ciência que estuda a evolução dos sereslogos
vivos ao longo dos tempos geológicos, por meio de registros fósseis e seus posicionamentos estratigráficos.
A Paleontologia tem por objetivo o estudo dos fósseis, cuja dinâmica e peculiaridade perfazem datar o período
de vida do organismo analisado, bem como, a partir de sua morte, pode-se estudar as transformações no
organismo e no ambiente. Todos os organismos ou vestígios encontrados no registro litológico estão
posicionados em uma distribuição horizontal (geográfica) ou vertical (estratigráfica). 
Os primeiros estudos em Paleontologia advêm de Georges Cuvier, naturalista francês que seguramente
influenciou metodologias e práticas em várias áreas, além da instauração da Paleontologia como disciplina
científica e do grande desenvolvimento proporcionado à Geologia (FARIA, 2010). Cabe ressaltar que, desde o
século XVI, outros filósofos e naturalistas possuíam coleções de fósseis, contribuindo para o desenvolvimento
dessa área.
Estima-se que, durante os primeiros 3,5 bilhões de anos iniciais do Planeta, não houve a existência de seres
vivos. Quando da existência e expansão dos organismos vivos, pode-se considerar a presença de remanescentes
fósseis.
As rochas sedimentares — aquelas formadas por estratos de composição e cores distintas —
também sofrem deformações por conta das forças internas do Planeta. Tais deformações
afetam a morfologia de toda uma região e algumas causam o “enrugamento” da crosta, sendo
que, na parte superficial, formam-se montanhas do tipo serras ou cordilheiras.
Simular esse processo é uma tarefa simples. Para isso, pegue massinhas de modelar em
diversas cores. Abra-as em retângulos, com espessuras variáveis. Coloque uma camada sobre a
outra, simulando uma zona de deposição sem alterações. Porém, imagine um movimento
convectivo, pressionando lateralmente cada borda.
Observe que a estrutura como um todo vai se deformar e “subir” em algum ponto, como se
fosse uma montanha. Lateralmente, as dobras ficam evidentes. No topo da montanha, fazendo
um corte, pode-se “aplainar” a superfície, dando a ideia de um processo erosivo.
VAMOS PRATICAR?
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Figura 8 - Rocha com a presença de fósseis na Nova Escócia, no Canadá
Fonte: karenfoleyphotography, Shutterstock, 2020.
: na figura, temos uma fotografia com fragmentos de rocha com intrusão de fósseis, os quais foram#PraCegoVer
encontrados na Nova Escócia, no Canadá.
Tradicionalmente, a Paleontologia pode ser dividida em algumas subdisciplinas:
• : fósseis microscópicos, independentemente do grupo a que pertencem;Micropaleontologia
• Paleobotânica: plantas fósseis, incluindo o estudo de fósseis de algas e fungos, além de plantas 
terrestres;
• Palinologia: pólens e esporos produzidos por plantas terrestres e protistas;
• Paleozoologia: fósseis de animais invertebrados e vertebrados;
• Paleoantropologia: ser humano pré-histórico e proto-humanos fósseis;
• Paleoecologia: ecossistemas, estruturas e funcionamento, recolocando os organismos fósseis nos 
contextos físico e biológico de sua época;
• Bioestratigrafia: posiciona cronologicamente registros litológicos nos diferentes estratos sedimentares, 
características da fauna e flora fósseis;
• Paleogeografia: distribuições espacial e geográfica de populações pretéritas;
• Paleoclimatologia: indícios das variações climáticas ocorridas ao longo do tempo geológico;
• Paleoicnologia: traços fósseis, assim considerados os rastros, as pegadas, as marcas e os ninhos 
deixados e construídos por organismos pretéritos.
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CASO
Em julho de 2019, foi noticiado que um menino havia encontrado um fóssil de réptil gigante de
8 milhões de anos no Acre. De acordo com Cury (2019), a criança pescava com o pai quando
percebeu algo enterrado às margens do Rio Acre. Tratava-sede um fragmento do crânio de um
jacaré Purussauro. 
Nesse sentido, fica a dúvida: o menino e o pai, como encontraram o fóssil, podem ficar com ele
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Outro importante ramo de estudos corresponde à Tafonomia, que abarca os processos de deterioração,
preservação e formação de fósseis. Há, também, a Bioestratinomia, cujos estudos se relacionam a processos
posteriores à morte de um organismo, mas antes do seu soterramento final. Posteriormente, ocorre a diagênese,
que corresponde a alterações no meio após o soterramento.
3.3.1 Processo de fossilização
Todas as espécies do Planeta — sejam atuais, sejam extintas — não evoluíram de forma isolada. Elas fazem ou
fizeram parte de uma “biocenose”, que corresponde à associação de espécies de organismos vivos que vivem em
equilíbrio ecológico no mesmo habitat. Para a Paleontologia, a biocenose permite que se identifique o ambiente,
relacionando-o com o desenvolvimento das camadas sedimentares (WINGE ., 2020).et al
Assim, quando um ser vivo morre, ocorre o processo de , denominação que se dá para o conjuntonecrocenose
de mortos de um mesmo local. Diante dela, inicia-se a , que é uma associação de restos orgânicos.tanatocenose
Além disso, de acordo com Zabini (2011), o conjunto de organismos cobertos por sedimentos ou enterrados
equivale à , uma assembleia autóctone que sofreu transporte, sem sair do habitat.tafocenose
Seguindo o processo, o conjunto de organismos afetados pela diagênese converte sedimentos em rocha
consolidada (litificação). Assim, a fossilização ocorre somente em condições ambientais ideais, em relação à
umidade, temperatura e outros fatores que auxiliam na conservação dos organismos.
Dessa forma, todo o processo de fossilização tende a se desenvolver em diferentes modos. Dos materiais que se
depositam sobre os organismos, os mais comuns são a calcita, a pirita e sílica.
Segundo Carvalho (2010, p. 4), os famosos peixes fósseis da Chapada do Araripe parecem ter se formado assim:
morto o animal, ele foi para o “[…] fundo do mar e, ao começar a se decompor, passou a liberar amônia. Esta
gerou um ambiente alcalino em torno dos restos, promovendo a precipitação de bicarbonato de cálcio”.
Carvalho (2010) ainda menciona que, no processo de fossilização, quando os depósitos minerais criam
arquétipos de organismos, preenchendo espaços no interior do tecido orgânico, ocorre a permineralização.
Outro importante processo condiz na recristalização, corresponde ao rearranjo de estruturas de um mineral. Em
jacaré Purussauro. 
Nesse sentido, fica a dúvida: o menino e o pai, como encontraram o fóssil, podem ficar com ele
para lembranças? Pela legislação brasileira, não. Desde 1942, o Decreto n. 4.146 define que
“[…] depósitos fossilíferos são propriedade da Nação, e, como tais, a extração de espécimes
fosseis depende de autorização prévia […]” (BRASIL, 1942).
Assim, o menino acreano teve que encaminhar seu achado para uma instituição de pesquisa, a
qual incorporou o fóssil ao patrimônio cultural e natural do Brasil.
VOCÊ SABIA?
Os fósseis vivos são organismos do passado geológico da Terra, mas que ainda estão presentes.
Bomfleur,McLoughlin eVajda (2014) nos trazem que cientistas encontraram evidências de que
as samambaias são fósseis vivos. É o que indica um exemplar da planta de 180 milhões de anos
encontrado no sul da Suécia. Os pesquisadores analisaram o fóssil e descobriram que o
genoma da planta não mudou. Você pode saber mais a respeito no link: https://science.
.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf
https://science.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf
https://science.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf
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Outro importante processo condiz na recristalização, corresponde ao rearranjo de estruturas de um mineral. Em
especial, dá-se em sítios secos e áridos, onde a acelerada desidratação dos organismos leva à conservação de
estruturas e, por fim, à mumificação (CARVALHO, 2010).
3.3.2 Estratigrafia
Os princípios da Estratigrafia são compartilhados com as primeiras acepções acerca da Geologia enquanto
ciência, que datam do século XVII, com Nicolau Steno (1669), com o “Princípio da Superposição das Camadas”.
De acordo com Grotzinger e Jordan (2013), esse princípio afirma que, em um conjunto de estratos sedimentares,
as unidades superficiais são mais recentes que as mais profundas.
Mis tarde, James Hutton (1785) postulou o Princípio do Uniformitarismo, cuja ideia defende que os eventos
geológicos pretéritos ocorreram por meio dos mesmos processos naturais de hoje (GROTZINGER; JORDAN,
2013).
O conceito de estratigrafia corresponde à gênese da sucessão, no tempo e espaço das camadas e sequências de
rochas de uma região, buscando-se determinar os eventos, processos e ambientes geológicos associados. Isso
considerando um conjunto diferenciado de sedimentos com características que os distinguem (WINGE .,et al
2020).
No âmbito da Paleontologia, a Estratigrafia não está apenas relacionada à posição ou sucessão de camadas
rochosas, tampouco à sua datação. Ela estuda as formas e os arranjos internos, a distribuição territorial e a
composição da litologia do material de origem, bem como das propriedades químicas dos sedimentos.
Carvalho (2010) nos alerta que a Estratigrafia possui subdivisões em seu arcabouço metodológico, com destaque
para três grandes categorias de unidade estratigráficas: litoestratigráfica, cronoestratigráfica e bioestratigráfica.
• Litoestratigráfica
Baseada na litologia, independentemente do tempo de deposição ou formação, define características
como a composição mineralógica, a granulometria e a cor. Corresponde a corpos de rochas de espessura
e extensão variáveis, obedecendo uma ordem hierárquica iniciada pela formação.
• Cronoestratigráfica
Estabelece uma idade relativa das camadas, levando-se em consideração determinados parâmetros
geocronológicos.
• Bioestratigráfica
Diz respeito a sucessões de fósseis existentes e suas correlações espaciais. Definem-se de acordo com a
distribuição espacial de táxons e suas peculiaridades morfológicas.
Desse modo, o entendimento do arcabouço conceitual da estratigrafia permeia os estudos das relações no espaço
e no tempo das feições rochosas e das ocorrências ambientais neles registados. Assim, usando como parâmetro
sucessões faunísticas, William Smith (1793) correlacionou formações de idades similares encontradas em
diferentes afloramentos (GROTZINGER; JORDAN, 2013).
Pela observação da ordem vertical em que as formações foram encontradas, William compilou uma sucessão
estratigráfica composta para uma região, revelando que essa correlação definiu que existe correspondência
entre a estratificação de diferentes locais nos aspectos do conteúdo fossilífero, das litologias e dos tipos de solos
(GROTZINGER; JORDAN, 2013).
Na figura a seguir, temos as assertivas de Smith, com a composição de camadas sucessivas de diferentes idades e
conteúdos fossilíferos pela correlação de afloramentos.
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Figura 9 - Composição de camadas sucessivas de diferentes idades e conteúdos
Fonte: GROTZINGER; JORDAN, 2013, p. 252.
#PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração demonstrando a composição de camadas sedimentares de
diferentes idades e conteúdos (minerais e fósseis).
Observe que, em 1, há fósseis encontrados em algumas camadas rochosas no afloramento A, que são os mesmos
daqueles encontrados em camadas do afloramento B. Em 2, temos as camadas com os mesmos fósseis, que são
de mesma idade. Já em 3, há a composição dos dois afloramentos, que mostra as formações I e II se sobrepondo à
formação III, e, por isso, sendo mais novas.
3.3.3 Princípios de Tafonomia
A Tafonomia se dedica ao estudo dos processos de preservação dos restos orgânicos no meio sedimentar, e em
como os processos relacionados afetam os fósseis. É, portanto, um estudo sistemático da evolução de fósseis,
desde a morte dos indivíduos até a sua final incorporação — e transformações — dentro da rocha que os contêm
(WINGE ., 2020).et al
A formação dos fósseis, então, está associada a uma sériede acontecimentos biológicos e geológicos iniciados
com a morte do organismo. Com esse advento, o ambiente onde ele foi “depositado” será analisado pela
bioestratonomia, ou seja, anteriormente ao soterramento.
A bioestratonomia diz respeito à causalidade da morte do fóssil e forma de decomposição e preservação de suas
partes (duras ou moles). Isto é, um verdadeiro “sepultamento em sedimentos”.
VOCÊ QUER VER?
A série de reportagens produzidas pela TV Brasil, intitulada “Pré-história brasileira: um tempo
a ser descoberto”, remonta ao período pré-histórico no Brasil, visitando localidades,
entrevistando pesquisadores e mostrando o quão rico e diversificado é o território brasileiro.
Você pode assistir a série pelo link: https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem
./episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto
https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto
https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto
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A Tafonomia também trata de um segundo momento desse processo, este relacionado à diagênese: incorporação
e transformações do ser “soterrado” com transformações químicas e físicas, como silicificação, piritização,
carbonatação ou achatamentos e quebras de pedaços. Tal processo pode ser influenciado por pressões e
temperaturas mais elevadas na litosfera, as quais resultam na litificação de remanescentes orgânicos (SIMÕES;
HOLZ, 2000).
Quando da fase de bioestratonomia, qualifica-se um organismo como quando ele foi transportado oualóctone
removido do respectivo habitat, seja por movimentações tectônicas, seja por enxurradas ou outras
possibilidades de alteração de sítio. Em contrapartida, o organismo encontrado em seu próprio habitat ( ) éin situ
considerado .autóctone
Na diagênese, as rochas construídas recebem denominações específicas, como o biólito, uma rocha
integralmente constituída por sedimentos biogênicos.
3.3.4 Bioestratinomia
O processo de bioestratinomia trata dos eventos que sucedem a morte de um organismo, até o soterramento
final. Na natureza, são conhecidos dois tipos de mortalidade: a natural e a catastrófica.
A é causada por envelhecimento, enfermidades e predação. Pode afetar os indivíduos mais jovensmorte natural
e mais velhos de uma população, sendo os dois grupos mais suscetíveis a fatores de risco (indivíduos mais fracos
e inexperientes).
O segundo tipo, a , corresponde a uma mortalidade em massa, em eventos que duram certomorte catastrófica
intervalo de tempo — curto, como uma erupção vulcânica; ou longo, como uma era glacial. As causas podem ser
desde enchentes, tempestades, terremotos e vulcões até mudanças climáticas.
Fundamentalmente, a bioestratinomia corresponde ao estudo do processo de soterramento do material
biológico e, em particular, ao seu comportamento como partícula sedimentar (ZABINI, 2011). É fundamental
para o entendimento dos eventos sucessivos do pós-morte do indivíduo: necrólise, destruição, desarticulação,
transporte e soterramento.
Figura 10 - Bioestratinomia: morte, necrólise, desarticulação, transporte e soterramento
Fonte: stihii, Shutterstock, 2020.
#PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração sequencial mostrando o processo de bioestratinomia, desde a
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#PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração sequencial mostrando o processo de bioestratinomia, desde a
morte à fossilificação de um animal (dinossauro).
A diz respeito ao processo de decomposição dos tecidos de conexão após a morte de um organismo.necrólise
Zabini (2011) define que cada organismo morto corresponde à uma fonte de energia em qualquer ambiente, se
ela for utilizada por fungos e bactérias. Assim, a necrólise se trata dos processos químicos que têm origem tanto
nas bactérias exógenas como nas bactérias endógenas.
Após a morte de um animal, por exemplo, o processo de necrólise termina em um espaço curto de tempo,
durando dias ou semanas, deixando o esqueleto mineralizado exposto à ação de agentes exógenos. No entanto,
caso o soterramento do organismo ocorra antes do processo de necrólise total, o esqueleto e as articulações
serão, de alguma forma, preservadas.
A durabilidade dos restos esqueléticos está ligada à resistência apresentada diante dos processos de destruição
acometidos. Tais processos podem ser divididos em cinco categorias, que se sucedem de acordo com a exposição
dos restos aos diferentes ambientes. Segundo Brett e Baird (1986 ZABINI, 2011), temos a desarticulação, aapud
fragmentação, a abrasão, a bioerosão e a dissolução. Dependendo das características físicas do ambiente
sedimentar, um ou vários desses processos podem ser mais ativos.
A e fragmentação têm início pelas articulações móveis, porém a desarticulação depende dadesarticulação
anatomia básica do organismo, que tende a influenciar todo o processo. Desse modo, caso não ocorra o
soterramento em um curto intervalo de tempo após a morte, os organismos tendem a ser desarticulados por
completo, e seus elementos esqueléticos ficam sujeitos ao retrabalhamento, em especial pela água.
As etapas de abrasão, bioerosão e dissolução ocorrem, primeiramente, nos restos esqueléticos que permanecem
expostos na interface água e sedimentos por prolongados períodos. Esse mesmo vetor de carrega, detransporte
forma simultânea, partículas sedimentares e restos orgânicos. Além da água, os organismos podem ser
transportados por meio do vento, do gelo e da gravidade.
Para finalizar, temos que a etapa do corresponde à fase final do registro fossilífero, podendo sersoterramento
considerada o maior evento da área de estudo no tempo considerado (SIMÕES; HOLZ, 2002 ZABINI, 2011).apud
O registro sedimentar tende a marcar apenas os eventos de maior magnitude. Em sistemas fluviais, por exemplo,
quando o curso d’água aumenta sua capacidade e carga, maior quantidade de sedimentos é transportada,
ocorrendo rompimentos de diques marginais e inundações de planícies adjacentes. Esses eventos ficarão
registrados na forma de sedimentação nas planícies de inundação. Assim, restos de organismos podem ser
soterrados entre outros preservados.
3.3.5 Diagênese dos fósseis
A diagênese tem relação com as modificações químicas e físicas sofridas pelos sedimentos após sua deposição ao
longo do tempo. Sob o espectro da Tafonomia, a diagênese dos fósseis corresponde, também, aos processos
físico-químicos, porém atuando sobre os organismos no pós-morte, após o soterramento.
O processo diagenético pode ser dividido em algumas fases, as quais conheceremos a seguir.
Eodiagênese
Ocorre na superfície ou em níveis pouco profundos.
Metadiagênese
Dá-se em altas profundidades, chegando em km, em ambientes de alta pressão e temperatura.
Telodiagênese
Ocasião do retorno da camada que sofreu o processo de diagênese à superfície.
Os processos físicos e químicos que integram a Tafonomia, em específico a diagênese dos fósseis, ao agir sobre
camadas sedimentares, acabam por afetar os restos orgânicos. Estes sofrem processo de transformação,
denominado fossilização. Eles possuem três grandes categorias quanto à forma de preservação, de acordo com
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denominado fossilização. Eles possuem três grandes categorias quanto à forma de preservação, de acordo com
as feições dos organismos: por preservação total (incluindo os tecidos moles), por congelamento e por
mumificação ou trapeamento em resinas.
A preservação ocorre sem ou com alteração dos restos esqueléticos pela dissolução e formação de moldes, no
processo de carbonificação.
Durante a ocorrência da diagênese, podem ocorrer, ainda, alterações nas características morfológicas do fóssil.
Devido ao sobrepeso da compactação das camadas sedimentares, alguns exemplares de fósseis podem ficar
distorcidos ou “achatados”.
Além de alterações físicas, as condições ambientais tendem a fomentar mudanças na composição química dos
organismos. Em suma, um fóssil, ao ser “exposto” em superfície, pode se apresentar, muitas vezes, com feições
adquiridas durante o processode diagênese, diferente de suas características morfológicas e químicas originais
de quando foi soterrado.
Conclusão
Chegamos ao final de mais uma unidade. Aqui, você pôde estabelecer correlações sobre os processos de
intemperismo e sedimentação com as formas de modelagem do relevo terrestre, originalmente criadas por
processos orogênicos e epirogênicos. Ademais, envolvidos com essa dinâmica da gênese das formas de relevo, os
registros fósseis aparecem como verdadeiros testemunhos da história geológica do Planeta.
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:
• aprender que os ambientes de sedimentação correspondem a lugares característicos, abrigando 
processos geológicos e condições ambientais;
• entender a respeito da evolução do modelado terrestre, cujas particularidades são decorrentes de um 
“jogo de forças” internas e externas;
• conhecer a Paleontologia, ciência que combina métodos e conceitos das ciências geológicas e biológicas, 
objetivando o estudo dos fósseis;
• descobrir a Geomorfologia, a qual corresponde à ciência que estuda a gênese e as formas do relevo;
VAMOS PRATICAR?
Vamos fabricar um fóssil? Procure ossos (coxa ou asinha de frango, por exemplo), folhas e
insetos mortos (com carapaça). Além disso, tenha em mãos um recipiente plástico, argila seca
e molhada.
Dentro do recipiente, coloque um punhado de argila seca. Sobre essa primeira camada de
argila, ponha aproximados 4 cm de argila molhada. Depois, deposite sobre a argila molhada os
objetos coletados, os quais se transformarão em fósseis (folhas, ossos e insetos). Sobre os
objetos, salpique argila seca, protegendo os itens. Novamente, cubra os objetos com 4 cm de
argila molhada.
Deixe secar ao sol por cinco dias. Após esse tempo, retire o material do recipiente plástico,
separando as partes argilosas dos objetos.
Observe que, na argila, ficarão as marcas dos objetos (icnofóssil, marca deixada por um
organismo). Para registrar, pode-se fazer um decalque com papel e grafite no que ficou
“impresso” na argila.
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objetivando o estudo dos fósseis;
• descobrir a Geomorfologia, a qual corresponde à ciência que estuda a gênese e as formas do relevo;
• refletir sobre a importância de conhecer os eventos dos passados geológico e biológico das formas de 
vida, a fim de atuar em favor do desenvolvimento sustentável.
Bibliografia
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https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto
http://sigep.cprm.gov.br/gloss�rio/
	Introdução
	3.1 Ambientes de sedimentação
	3.1.1 Ambientes de sedimentação continentais
	3.1.2 Ambientes de sedimentação costeiros
	3.1.3 Ambientes de sedimentação marinhos
	3.2 Agentes modeladores e formas de classificação do relevo
	3.2.1 Classificação do relevo
	3.2.2 Dinâmica interna, sismos, vulcanismo e orogênese
	3.2.3 Dinâmica externa e mecanismos morfogenéticos
	3.3 Introdução ao estudo da Paleontologia
	3.3.1 Processo de fossilização
	3.3.2 Estratigrafia
	Litoestratigráfica
	Cronoestratigráfica
	Bioestratigráfica
	3.3.3 Princípios de Tafonomia
	3.3.4 Bioestratinomia
	3.3.5 Diagênese dos fósseis
	Conclusão
	Bibliografia

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