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- -1 GEOLOGIA E BIOPALEONTOLOGIA UNIDADE 3 - AMBIENTES DE FORMAÇÃO E REGISTROS FÓSSEIS Autoria: Marcos Antonio de Melo - Revisão técnica: Diego Ferreira Ramos Machado - -2 Introdução Você sabia que o estudo dos fósseis, como os processos da fossilização, toma importância no sentido de auxiliar no entendimento da escala do tempo geológico? É algo que vai além do arcabouço conceitual das ciências da natureza, pois abarca os conhecimentos da evolução das formas de vida no Planeta. Isso porque os registros fósseis, diante de suas características morfológicas e ecológicas pretéritas, são estudadas pela Paleontologia. Eles seriam, então, verdadeiros “testemunhos” da vida na jornada terrestre? Além disso, sabia que se tem nesses registros marcos na transição de etapas e fases da história evolutiva das espécies e das transformações ambientais que andam de forma concomitante? Os estudos paleontológicos evidenciam os eventos que sucedem desde a morte de um organismo, passando pelo soterramento e chegando a transformações físicas e químicas. Nesse contexto, também vale descobrir os curiosos ambientes de sedimentação, como planícies, lagos e praias. A respeito disso, sabia que eles são parte integrante da dinâmica da construção do relevo terrestre? Este, inclusive, corresponde à exposição do trabalho das forças internas do Planeta, em parceria com as forças externas, resultando nas paisagens terrestres, palco da vida na biosfera. Um passado que nos é revelado pela presença das formações geológicas, dos recursos minerais e, sobretudo, dos registros fósseis. Portanto, os conhecimentos sobre ambientes de sedimentação, fósseis e rochas seriam o caminho para se entender o passado, compreender o presente e pensar e agir sobre o futuro da Terra e das formas de vida? Vamos nos aprofundar nisso! Bons estudos! 3.1 Ambientes de sedimentação Na formação das rochas sedimentares, o material originado advém da “destruição” erosiva de qualquer outro tipo de rocha, em processo semelhante. O material transportado será depositado em um novo sítio, ou seja, um novo “ambiente”, criado pelo material e pela ação de fatores químicos e biológicos. De acordo com Grotzinger e Jordan (2013), um ambiente de sedimentação corresponde a um lugar geográfico caracterizado pela combinação particular de processos geológicos e condições ambientais. Ele é frequentemente agrupado por sua localização, seja nos continentes, seja em regiões costeiras ou, ainda, nos oceanos. Esses ambientes de sedimentação podem ser classificadas de acordo com o conjunto particular de condições ambientais, fisionomias e origem dos sedimentos. Assim temos os ambientes continentais (fluvial, aluvial, lacustre, desértico e glacial), marinhos (margem continental, plataforma continental, recifes orgânicos e mar profundo ou abissal) e costeiros (praia, delta e planície de maré). Tais ambientes estão condicionados pela localização geográfica e pelo enquadramento tectônico. Isso envolve quais estruturas litológicas e a posição no relevo que os sedimentos terão que “percorrer”, bem como sobre qual tipo de estrutura o intemperismo terá de agir. - -3 Grotzinger e Jordan (2013) complementam que os agentes e a forma de transporte também possuem relevância, uma vez que velocidade e intensidade terão influência no tamanho e na forma dos sedimentos, assim como no tempo em que o sedimento vai percorrer seu caminho da origem até o ambiente. Os processos físicos e químicos modificam o sedimento durante o intemperismo, sendo que o mesmo ocorre para os processos orgânicos e organismos, todos com constante influência de fatores climáticos. Na figura a seguir, podemos observar os ambientes de sedimentação com os resultados das interações de múltiplos fatores que os constituem. Figura 1 - Ambientes de sedimentação VOCÊ QUER LER? Dean (1997), no livro “A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira”, nos traz que a Mata Atlântica teve sua gênese após a separação de tamanha massa continental, conhecida como Pangeia. Depois, a evolução de vegetais locais e sua interação com animais nativos resultaram no surgimento de inúmeras espécies. O autor ainda discorre sobre a formação das escarpas cristalinas batizadas como serra desde a chegada dos colonizadores europeus. Vale a leitura da obra para se aprofundar! - -4 Figura 1 - Ambientes de sedimentação Fonte: Elaborada pelo autor, baseada em GROTZINGER; JORDAN, 2013. #PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração dos ambientes de sedimentação: continentais, costeiros e marinhos. Também há as interações dos fatores que formam esses ambientes. Entre os sedimentos inseridos nesses ambientes, alguns podem ser classificados como clásticos, químicos e orgânicos. Os são fragmentos de variadas rochas, que, ao serem transportadas, são depositados eclásticos estratificados. Os , por sua vez, são originados da precipitação de solutos devido à diminuição daquímicos solubilidade ou evaporação da água — o mais comum é a precipitação de carbonatos. Por fim, os sãoorgânicos oriundos de restos de organismos, vegetais e animais. 3.1.1 Ambientes de sedimentação continentais Grotzinger e Jordan (2013) citam que os rios diminuem de velocidade por conta de menores declividades, em seus médios e baixos cursos (foz). Como consequência, acabam por também diminuir a capacidade transportadora, iniciando a sedimentação dos materiais transportados. Segundo a Escala de Wentworth (sedimentos clásticos), detritos grosseiros, seixos (entre 4 mm e 60 mm) e partículas menores que areias (inferior aos 2 mm) são os materiais mais transportados. Os leques aluviais correspondem aos primeiros sedimentos fluviais a se formarem no sopé de vertentes. Eles também se encontram nas margens dos canais fluviais e sofrem frequentes inundações quando os rios transbordam. Os organismos são abundantes nos depósitos de inundação lamacentos, responsáveis pelos sedimentos orgânicos (GROTZINGER; JORDAN, 2013). Os lagos, ambientes lacustres ou lagunares são controlados pelas ondas de baixas energias dos corpos de águas inferiores. Os sedimentos são detríticos, acumulações de partículas clásticas, ou seja, fragmentos de rochas pré- existentes nas superfícies atacadas pelo intemperismo. Os processos bioquímicos são potencializados pela presença de matéria orgânica. Em lagos considerados detríticos, em suas margens e ao centro da lâmina d’água, podem ocorrer acumulação de sedimentos e formação de deltas. O Mar Morto é um exemplo de ambiente sedimentar continental. Situado sobre uma falha geológica entre as placas Africana e Arábica, o lago está em uma depressão absoluta de mais de 400 metros, evidenciando o ambiente de movimentação tectônica. - -5 Figura 2 - Mar Morto: ambiente lacustre com alta concentração de sais Fonte: Olesya Baron, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia do Mar Morto, localizado na divisa entre Jordânia e Israel. Há amostras de cristais de sal por cima da água. Em um ambiente desértico, os sedimentos dependem da velocidade do vento para a eficácia da sedimentação. Os grãos quartzosos maiores vão gradativamente perdendo massa e ganhando maior “mobilidade”. Porém, com a diminuição da velocidade do vento provocada por obstáculos (vegetais, blocos etc.), a sedimentação passa a ocorrer com grãos de areia com diâmetros entre 0,1 a 1,0 mm. Além disso, partículas inferiores aos 50µ (mícron) são transportadas para longe pelo vento (GROTZINGER; JORDAN, 2013). Já em ambiente glacial, a dinâmica das massas de gelo predomina. Inexiste alteração química pelo intemperismo, e os materiais finos presentes são produtos da pulverização mecânica de rochas. Por outro lado, os materiais maiores são fragmentos lapidados pelo intemperismo físico. Em lagos de ambientes glaciais, os depósitos de sedimentos formam camadas diferenciadas ao longo do tempo. Assim são formadas as rochas com aspecto laminar, como o varvito. 3.1.2 Ambientes de sedimentação costeiros A dinâmica costeira das ondas, marés e correntes em praias arenosas,domina os ambientes costeiros. Nesse caso, organismos podem ser abundantes, mas não influenciam muito na sedimentação, exceto onde os sedimentos carbonáticos também sejam facilmente encontrados (GROTZINGER; JORDAN, 2013). De maneira geral, ambientes deltaicos correspondem a depósitos sedimentares contíguos, em parte subaéreos e parcialmente submersos, depositados sobre corpos d’água (rios que desembocam nos mares ou lagos). São ambientes extremamente dinâmicos. Assim, os deltas estão associados a eventos de regressão ou estabilização marinha, em que estuários são assoreados progressivamente, evoluindo para deltas (GROTZINGER; JORDAN, 2013). Nas planícies de maré, extensas áreas são expostas em maré baixa, nos trópicos, e tendem a abrigar manguezais. - -6 Nas planícies de maré, extensas áreas são expostas em maré baixa, nos trópicos, e tendem a abrigar manguezais. Tratam-se de ecossistemas costeiros de transição entre os ambientes marinho e continental, típicos de regiões estuarinas, submersas em um período e emersas em outro. O delta do Rio Amazonas é um grande exemplo, cuja foz possui mais de 300 km entre os estados do Amapá e do Pará, transportando todo o aporte de sedimentos da bacia amazônica. Figura 3 - Delta do Rio Amazonas Fonte: lavizzara, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia do delta do Rio Amazonas, demonstrando o aporte de sedimentos em suspensão nas águas. Em ambientes de praiais, as ondas que se aproximam e se espalham pela orla realizam a distribuição aleatória dos sedimentos, depositando-os em longitudinais faixas de areia e cascalhos. Nesses depósitos de sedimentos, os mais comuns são os arenosos, que, por apresentarem alta mobilidade, ajustam-se às condições de ondas e marés, atuando como importantes elementos de proteção das costas. 3.1.3 Ambientes de sedimentação marinhos A divisão em “zonas” do ambiente marinho se baseia em critérios de profundidade, declividade, tipos de correntes oceânicas e distanciamento da costa. Grotzinger e Jordan (2013) nos trazem que a plataforma continental, conhecida como região nerítica, ocupa águas rasas e distantes das praias continentais, onde a sedimentação é controlada majoritariamente pelas correntes oceânicas. A sedimentação da plataforma pode se dar pelos fragmentos de rochas ou por ação química, dependendo da origem dos sedimentos. A delimitação espacial é feita com base na profundidade, em média 200 metros. Por sua vez, nas margens continentais depositam sedimentos em zonas mais profundas, pelas correntes de - -7 Por sua vez, nas margens continentais depositam sedimentos em zonas mais profundas, pelas correntes de turbidez, as quais correspondem ao repentino movimento de sedimentos para a zona submarina, tornando-a turbulenta em sua extensão (GROTZINGER; JORDAN, 2013). Os ambientes profundos estão relacionados a zonas da região batial, delimitada comumente pela profundidade além dos 200 metros, indo até os 2 km a partir da plataforma continental. É uma região cujas formas de vida já se encontram bem reduzidas. Seguindo para a zona mais profunda, ultrapassando os 2 km de distância da costa, a zona abissal apresenta ambiente marinho mais profundo, sendo uma região totalmente afótica (sem luz), onde habitam poucas formas de vida. A região abissal possui profundidades superiores aos 1.000 metros, com formas de vida adaptadas ao hostil ambiente. A sedimentação principal se constitui de fragmentos de exoesqueletos, com argila continental de granulação fina. Temos, ainda, que os recifes orgânicos — mais conhecidos como “barreiras de corais” — são compostos por estruturas carbonáticas formadas por material secretado por organismos, construídos a partir da deposição de carbonato de cálcio, como algas calcárias e moluscos. Eles possuem aparência de estruturas rochosas, mas correspondem a estruturas vivas formadas por espécies de exoesqueletos de carbonato de cálcio (GROTZINGER; JORDAN, 2013). Interessante entender sobre esses ambientes, não é? Agora, podemos passar ao estudo dos agentes modeladores e das formas de classificação do relevo. No entanto, antes, vamos colocar em prática uma experiência relacionada à sedimentação, a fim de compreendermos melhor quanto à temática. 3.2 Agentes modeladores e formas de classificação do relevo Os agentes modeladores do relevo são acionados diante das forças que atuam juntamente no processo de formação e modelagem das estruturas e formas do modelado terrestre. Tais forças são classificadas, em um primeiro momento, como endógenas ou exógenas. Assim, a Geomorfologia, segundo Winge . (2020), é umet al […] ramo da Geologia que estuda as formas de relevo e das drenagens associadas estabelecendo a VAMOS PRATICAR? Vamos simular um ambiente de sedimentação? Para tanto, tenha em mãos uma vasilha transparente, água — em quantidade suficiente para encher o recipiente —, areia, cal e solo (terra). Misture na água os materiais sólidos, dissolvendo-os. Depois, coloque a água turva no recipiente para iniciar o processo de sedimentação. Observe que, de imediato, os grãos mais grosseiros e pesados de areia irão para o fundo. Gradativamente, os outros materiais (cal, terra e grãos menores de areia) irão formar camadas sucessivas até a água evaporar totalmente. Sem a água, temos um ambiente solidificado e estratificado, que é o princípio da formação de uma nova superfície em pequena escala. - -8 […] ramo da Geologia que estuda as formas de relevo e das drenagens associadas estabelecendo a definição de padrões morfológicos descritivos, buscando a interpretação da origem e evolução desses padrões principalmente face a controles lito-estruturais e climáticos. Em outras palavras, pode-se dizer que a Geomorfologia corresponde à ciência que estuda a gênese e as formas do relevo. No quadro a seguir, temos as relações escalares temporais e espaciais do relevo, que denota as ações dos agentes modeladores em relação ao tempo. Quadro 1 - Relações escalares temporais e espaciais do relevo Fonte: Elaborado pelo autor, baseado em AHNERT, 1998. #PraCegoVer: no quadro, temos as ações dos agentes modeladores em relação ao tempo. Há a dimensão territorial, exemplos geomorfológicos e o intervalo de tempo de duração das formas em anos. A evolução do modelado terrestre é resultado de um verdadeiro “jogo de forças” contrárias e complementares. Os são comandados pelas forças interiores do Planeta, considerando oagentes endógenos ou internos comportamento da litosfera e suas estruturas, além das implicações dos fenômenos de ordem tectônica. O tectonismo se refere ao movimento das placas, gerando o “enrugamento”, a formação de cadeias montanhosas (orogênese) ou o soerguimento de superfícies (epirogênese). Já os estão relacionados à denudação e ao intemperismo, ou seja, à remoção eagentes exógenos ou externos transformações de materiais. As fontes de energia que atuam para propagar esses processos são a radiação solar, a gravidade, a água, o vento e os organismos vivos. Tais agentes atuam sobre as rochas, por meio do intemperismo. Dessa forma, o relevo é a expressão das variações do “equilíbrio” das forças internas e externas que se apresentam sobre a superfície. Assim, para melhor compreensão acerca das formas e dinâmicas envolvidas, alguns métodos para classificação das formas do relevo foram criados. Vale mencionar, inclusive, que certas denominações possuem caráter abrangente e de aceitação ampla, como é caso de planaltos, serras e montanhas, planícies, depressões absolutas ou negativas, chapadas e tabuleiros. VOCÊ O CONHECE? A primeira classificação do relevo brasileiro foi proposta pelo geógrafo Aroldo Azevedo. No ano de 1949, baseado na altimetria do território — crença de que as planícies alcançariam os 200 metros de altitude, e os planaltos acima dessa altitude —, Azevedo dividiu o relevo em planícies e planaltos. Essa classificação é formada por oito unidades. Ademais, o geógrafo elaborou os primeiros livros didáticos de Geografia no país. Vale conhecer! - -9 3.2.1 Classificaçãodo relevo De forma isolada, as são caracterizadas pela elevada altitude e de acordo com sua formação. Podemmontanhas ser de origem vulcânica, formadas a partir do extravasamento de lavas em cones ou fissuras vulcânicas; de ambientes erosivos, a partir da erosão do relevo ao redor (escala de milhões de anos); pela ocorrência de falhamentos, originados a partir de movimentos verticais na crosta, os quais geram rupturas entre blocos (movimentos epirogenéticos); e por dobras litológicas, a partir de movimentos orogenéticos (GROTZINGER; JORDAN, 2013). No entanto, as montanhas quase sempre estão associadas a um “conjunto” de escala territorial mais abrangente, como as serras e cordilheiras. Serra A serra pode ser considerada um conjunto de montanhas em formações extensas, cuja altitude varia entre 400 a 3.000 metros. Alguns exemplos são a Serra da Mantiqueira e a Serra dos Órgãos, no sudeste do Brasil. Cordilheira As cordilheiras, assim como as serras, também representam cadeias de montanhas, mas sua área e suas altitudes são bem mais extensas. Normalmente, têm origem relacionada a choques entre placas tectônicas, como os Andes, o Himalaia, os Montes Apalaches e os Pirineus. Florenzano (2008) nos explica que, em feições em dimensões menores, têm-se os , que são médiasmorros elevações do terreno com domínio de topos arredondados, amplitudes de 100 a 200 metro e declividades altas; além das , ainda mais baixas, com topos quase planos, amplitudes entre 20 e 60 metros e declividadescolinas baixas. Os , por sua vez, correspondem a superfícies irregulares com altitudes acima dos 300 metros. Ocorremplanaltos sobre estruturas cristalinas e porções residuais de montanhas erodidas em eventos geológicos pretéritos, bem como em áreas basálticas originadas de extintas atividades vulcânicas. Os platôs — outra denominação utilizada para os planaltos — ainda podem ter origem sedimentar, ou seja, ser formados por rochas que se encontravam em patamares menos elevados e, posteriormente, foram soerguidas por movimentos crustrais. Vale mencionar, também, que os planaltos abrigam morros, serras ou elevações íngremes de topo plano (chapadas). No Brasil, alguns exemplos são o planalto Central, na região centro-oeste; o planalto das Guianas, no norte; e a chapada do Araripe, no nordeste. Temos, ainda, as , que são superfícies planas com baixas altitudes, formadas pelo acúmulo e pelaplanícies sedimentação de materiais movimentados pelas águas do mar, rios ou lagos. Estão nas proximidades dos planaltos, formando vales fluviais ou constituindo áreas litorâneas (FLORENZANO, 2008). Segundo Ross (1985), exemplos clássicos de planícies são a do Rio Amazonas, do Rio Araguaia, planície e pantanal do Rio Guaporé, planície e pantanal do Rio Paraguai ou mato-grossense, das lagoas dos Patos e Mirim, assim como planícies e tabuleiros litorâneos. As regiões de topografia baixa em relação ao entorno são consideradas . Elas podem ser do tipodepressões absoluta (abaixo do nível do mar) ou relativa (acima do nível do mar). Temos como exemplos o Mar Morto, no Oriente Médio, e as maiores depressões absolutas do mundo, como o Mar Cáspio, na Ásia Ocidental. Por fim, as e os são formações aplainadas. O tabuleiro é formado de pequenos platôs dechapadas tabuleiros modestas altitudes, limitados por escarpas abruptas, chamadas barreiras. Já as chapadas são planaltos mais elevados e de maior extensão territorial, cujo topo é aplainado e as encostas são escarpadas. Na figura a seguir, podemos observar as grandes unidades do relevo, que busca ilustrar essas feições que acabamos de estudar. - -10 Figura 4 - Grandes unidades de relevo Fonte: FLORENZANO, 2008. p. 14. #PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração com a representação de um perfil do relevo, mostrando suas unidades, como planícies, planaltos, depressão, morros, colinas e montanhas. Outras formas de relevo também estão presentes no território, porém podem ser específicas em determinadas localidades, como as escarpas, que são bordas de planaltos com declives acentuados, formadas por movimentação epirogênica e modelada por agentes do intemperismo; e as cuestas, que têm um lado escarpado e abrupto, enquanto o outro lado possui declives suaves, geralmente encontradas em terrenos de origem vulcânica. Entendido a respeito da classificação do relevo, vamos nos aprofundar, com os próximos itens, nas dinâmicas interna e externa do Planeta. 3.2.2 Dinâmica interna, sismos, vulcanismo e orogênese O Planeta Terra está em constante transformação, modificando as estruturas das rochas e as características fisiográficas superficiais. Tais feições estruturais têm origem no manto superior e envolvem a transferência de matéria e calor para os níveis mais altos da litosfera, a qual é submetida constantemente a esforços (TEIXEIRA et ., 2009).al A dinâmica do manto, responsável pelos deslocamentos das placas tectônicas, é também motriz das estruturas rochosas do Planeta. As correntes de convecção representam os movimentos do ambiente “fluído” do manto superior, mais precisamente da astenosfera. Correspondem às forças responsáveis pelos processos de movimentação da crosta (horizontal) e, consequentemente, das transformações do relevo. Eles originam, por exemplo, os terremotos, os processos vulcânicos, a orogênese, a epirogênese e, sobretudo, a tectônica de placas. Winge . (2020) trazem que o termo “orogênese” advém do grego “ ” (montanha) e “ ” (geraçãoet al oros genus /origem). Com a mesma raiz etimológica, temos “epirogênese”, do grego “ ” (continente) e “ ”epeiros genus (geração/origem). A , portanto, corresponde ao conjunto de forças internas do Planeta, causadas por pressões e altasorogenia temperaturas das camadas inferiores. Por vezes, essas manifestações são violentas e rápidas, como os terremotos e vulcões. Outrora, são lentas e graduais, como na formação dos dobramentos modernos (TEIXEIRA - -11 terremotos e vulcões. Outrora, são lentas e graduais, como na formação dos dobramentos modernos (TEIXEIRA ., 2009).et al A consiste no deslocamento vertical de áreas continentais. Dá-se em função de acomodaçõesepirogênese isostáticas entre crosta e astenosfera. A movimentação verticalizada pode ser positiva ou negativa, lenta e por ampla região, em decorrência de reações isostáticas atuantes. Ela se desenvolve por áreas com soerguimento ou subsidência da crosta, decorrente dos ajustes isostáticos. A ocorre de forma linear, devido ao encontro de placas, e resulta em esforços horizontalizados.orogênese As paisagens de origem vulcânica correspondem àquelas formadas pelo acúmulo de material — magma, que se transforma em lava — proveniente de partes profundas. A “expulsão” desse material pode se dar por erupções em formato de “cone” ou fissuras na litosfera. Além de lava que “escorre” pela superfície ou pelo fundo oceânico, existem materiais “piroclásticos”, ou seja, materiais lançados por ocasião das erupções, como cinzas, fragmentos (bombas vulcânicas) e gases. Figura 5 - Paisagem vulcânica no norte da Islândia Fonte: Joaquin Corbalan P, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia de pequenas montanhas originadas por derrames vulcânicos, localizadas no norte da Islândia. As superfícies produzidas por falhamentos e dissecações erosivas correspondem, comumente, a regiões aplainadas. Elas podem sofrer ação das forças epirogênicas, em que há movimentos de “subida e descida” de grandes áreas da crosta terrestre devido ao deslocamento vertical de porções continentais. Quando os deslocamentos são para “cima”, denomina-se soerguimento, enquanto que, para “baixo”, temos subsidência. Existem algumas possibilidades da formação de montanhas oriundas do processo de falhamento. Em alguns casos, verifica-se a elevação de blocos litológicos de uma região rebaixada ou o abatimento em áreas elevadas, formando fossas tectônicas (TEIXEIRA ., 2009).et al Em geral, as falhas e fraturas são formadas em regiões que abrigam rochas cristalinas ou metamórficas, rígidas - -12 Em geral, as falhase fraturas são formadas em regiões que abrigam rochas cristalinas ou metamórficas, rígidas fisicamente, em que as forças epirogênicas tendem a “quebrar” (fraturar, falhar) as estruturas, em vez de “dobrar”. Por sua vez, os dobramentos podem ser por estriamento (extensão) ou cisalhamento, dinamizados pelas forças orogênicas. Predominam forças compressionais em limites convergentes de placas tectônicas, e forças extensionais em limites divergentes. As forças por cisalhamento ocorrem nos limites de placas transformantes. Tanto as falhas quanto os dobramentos são oriundos dessas forças empregadas. Na figura a seguir, temos uma demonstração das forças compreensivas, extensionais e de cisalhamento, que atuam em ações orogenéticas e epirogenéticas da crosta terrestre. Figura 6 - Deformação por forças compreensivas, extensionais e de cisalhamento Fonte: GROTZINGER; JORDAN, 2013, p. 275. #PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração com os tipos de forças de alterações de placas tectônicas e superfícies. As superfícies dobradas podem ter forma convexa ou côncava. A disposição que se apresentam são sinclinal, côncava com dobras para baixo; ou anticlinal, convexa, com dobras com convexidade para cima. 3.2.3 Dinâmica externa e mecanismos morfogenéticos Os processos morfogenéticos são responsáveis pela esculturação das formas do relevo, atuando, principalmente, com a movimentação de massas e o escoamento superficial. Entende-se por morfogênese a relação entre o intemperismo e as formas do relevo, as quais podem variar tanto no tempo como no espaço, provocando maior ou menor associação na relação de processos e formas. De acordo com Teixeira . (2009), na dinâmica externa, a formação e esculturação das formas de relevo vãoet al além do intemperismo, visto que existem forças atuantes também dos processos, as quais representam a ação da dinâmica exógena dos agentes de formação do relevo. Contudo, para a compreensão dos mecanismos de transformação da superfície terrestre, é imprescindível entender o processo evolutivo, considerando a ação diferencial dos processos morfogenéticos, como as mudanças climáticas no tempo geológico, os componentes tectônicos e as propriedades mineralógicas das rochas que respondem de diferentes maneiras às desagregações mecânica e química, provenientes do - -13 rochas que respondem de diferentes maneiras às desagregações mecânica e química, provenientes do intemperismo. Alguns dos processos morfogenéticos relacionados são: • rastejamento de materiais; • solifluxão, quando há sobrecarga com ruptura do solo em um movimento maciço, em que sedimentos encharcados (solo e lama) descem encostas sobre o material impermeável (rocha); • solifluxão, que são os deslizamentos, escorregamentos e movimentos de massa em geral. O escoamento superficial ajuda no transporte de materiais por meio da ação da água, seja pela ação mecânica, do impacto das gotas de chuva sobre o solo ou rochas (saltitação); seja no processo de erosão laminar ou linear, que correspondem ao escoamento difuso das águas e ao escoamento linear concentrado, respectivamente. Na figura na sequência, podemos observar uma encosta sob efeito de movimentação de massa e processos erosivos por efeito das erosões laminar e linear, alterando a configuração da vertente. Figura 7 - Encosta sob efeito de movimentos de massa e processos erosivos Fonte: Svet7lana, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: na figura, temos uma fotografia com a paisagem de uma encosta com movimento de massa em forma de erosões linear e laminar. Além dos eventos de movimentação de massa — os quais ocorrem em pouco intervalo de tempo —, os processos morfogenéticos também são responsáveis, por exemplo, pelos aplainamentos associados aos climas secos, originados em eventos geológicos pretéritos. A seguir, temos uma experiência prática para colocar a mão na massa e visualizar a construção do relevo. Depois, iremos iniciar nossos estudos sobre a Paleontologia com o próximo tópico. Acompanhe! • • • - -14 3.3 Introdução ao estudo da Paleontologia Winge . (2020) citam que o termo “paleontologia” advém das palavras gregas “ ” (antigo), “ ”et al palaios ontos (ser) e “ ” (estudo). De maneira geral, a Paleontologia corresponde à ciência que estuda a evolução dos sereslogos vivos ao longo dos tempos geológicos, por meio de registros fósseis e seus posicionamentos estratigráficos. A Paleontologia tem por objetivo o estudo dos fósseis, cuja dinâmica e peculiaridade perfazem datar o período de vida do organismo analisado, bem como, a partir de sua morte, pode-se estudar as transformações no organismo e no ambiente. Todos os organismos ou vestígios encontrados no registro litológico estão posicionados em uma distribuição horizontal (geográfica) ou vertical (estratigráfica). Os primeiros estudos em Paleontologia advêm de Georges Cuvier, naturalista francês que seguramente influenciou metodologias e práticas em várias áreas, além da instauração da Paleontologia como disciplina científica e do grande desenvolvimento proporcionado à Geologia (FARIA, 2010). Cabe ressaltar que, desde o século XVI, outros filósofos e naturalistas possuíam coleções de fósseis, contribuindo para o desenvolvimento dessa área. Estima-se que, durante os primeiros 3,5 bilhões de anos iniciais do Planeta, não houve a existência de seres vivos. Quando da existência e expansão dos organismos vivos, pode-se considerar a presença de remanescentes fósseis. As rochas sedimentares — aquelas formadas por estratos de composição e cores distintas — também sofrem deformações por conta das forças internas do Planeta. Tais deformações afetam a morfologia de toda uma região e algumas causam o “enrugamento” da crosta, sendo que, na parte superficial, formam-se montanhas do tipo serras ou cordilheiras. Simular esse processo é uma tarefa simples. Para isso, pegue massinhas de modelar em diversas cores. Abra-as em retângulos, com espessuras variáveis. Coloque uma camada sobre a outra, simulando uma zona de deposição sem alterações. Porém, imagine um movimento convectivo, pressionando lateralmente cada borda. Observe que a estrutura como um todo vai se deformar e “subir” em algum ponto, como se fosse uma montanha. Lateralmente, as dobras ficam evidentes. No topo da montanha, fazendo um corte, pode-se “aplainar” a superfície, dando a ideia de um processo erosivo. VAMOS PRATICAR? - -15 Figura 8 - Rocha com a presença de fósseis na Nova Escócia, no Canadá Fonte: karenfoleyphotography, Shutterstock, 2020. : na figura, temos uma fotografia com fragmentos de rocha com intrusão de fósseis, os quais foram#PraCegoVer encontrados na Nova Escócia, no Canadá. Tradicionalmente, a Paleontologia pode ser dividida em algumas subdisciplinas: • : fósseis microscópicos, independentemente do grupo a que pertencem;Micropaleontologia • Paleobotânica: plantas fósseis, incluindo o estudo de fósseis de algas e fungos, além de plantas terrestres; • Palinologia: pólens e esporos produzidos por plantas terrestres e protistas; • Paleozoologia: fósseis de animais invertebrados e vertebrados; • Paleoantropologia: ser humano pré-histórico e proto-humanos fósseis; • Paleoecologia: ecossistemas, estruturas e funcionamento, recolocando os organismos fósseis nos contextos físico e biológico de sua época; • Bioestratigrafia: posiciona cronologicamente registros litológicos nos diferentes estratos sedimentares, características da fauna e flora fósseis; • Paleogeografia: distribuições espacial e geográfica de populações pretéritas; • Paleoclimatologia: indícios das variações climáticas ocorridas ao longo do tempo geológico; • Paleoicnologia: traços fósseis, assim considerados os rastros, as pegadas, as marcas e os ninhos deixados e construídos por organismos pretéritos. • • • • • • • • • • CASO Em julho de 2019, foi noticiado que um menino havia encontrado um fóssil de réptil gigante de 8 milhões de anos no Acre. De acordo com Cury (2019), a criança pescava com o pai quando percebeu algo enterrado às margens do Rio Acre. Tratava-sede um fragmento do crânio de um jacaré Purussauro. Nesse sentido, fica a dúvida: o menino e o pai, como encontraram o fóssil, podem ficar com ele - -16 Outro importante ramo de estudos corresponde à Tafonomia, que abarca os processos de deterioração, preservação e formação de fósseis. Há, também, a Bioestratinomia, cujos estudos se relacionam a processos posteriores à morte de um organismo, mas antes do seu soterramento final. Posteriormente, ocorre a diagênese, que corresponde a alterações no meio após o soterramento. 3.3.1 Processo de fossilização Todas as espécies do Planeta — sejam atuais, sejam extintas — não evoluíram de forma isolada. Elas fazem ou fizeram parte de uma “biocenose”, que corresponde à associação de espécies de organismos vivos que vivem em equilíbrio ecológico no mesmo habitat. Para a Paleontologia, a biocenose permite que se identifique o ambiente, relacionando-o com o desenvolvimento das camadas sedimentares (WINGE ., 2020).et al Assim, quando um ser vivo morre, ocorre o processo de , denominação que se dá para o conjuntonecrocenose de mortos de um mesmo local. Diante dela, inicia-se a , que é uma associação de restos orgânicos.tanatocenose Além disso, de acordo com Zabini (2011), o conjunto de organismos cobertos por sedimentos ou enterrados equivale à , uma assembleia autóctone que sofreu transporte, sem sair do habitat.tafocenose Seguindo o processo, o conjunto de organismos afetados pela diagênese converte sedimentos em rocha consolidada (litificação). Assim, a fossilização ocorre somente em condições ambientais ideais, em relação à umidade, temperatura e outros fatores que auxiliam na conservação dos organismos. Dessa forma, todo o processo de fossilização tende a se desenvolver em diferentes modos. Dos materiais que se depositam sobre os organismos, os mais comuns são a calcita, a pirita e sílica. Segundo Carvalho (2010, p. 4), os famosos peixes fósseis da Chapada do Araripe parecem ter se formado assim: morto o animal, ele foi para o “[…] fundo do mar e, ao começar a se decompor, passou a liberar amônia. Esta gerou um ambiente alcalino em torno dos restos, promovendo a precipitação de bicarbonato de cálcio”. Carvalho (2010) ainda menciona que, no processo de fossilização, quando os depósitos minerais criam arquétipos de organismos, preenchendo espaços no interior do tecido orgânico, ocorre a permineralização. Outro importante processo condiz na recristalização, corresponde ao rearranjo de estruturas de um mineral. Em jacaré Purussauro. Nesse sentido, fica a dúvida: o menino e o pai, como encontraram o fóssil, podem ficar com ele para lembranças? Pela legislação brasileira, não. Desde 1942, o Decreto n. 4.146 define que “[…] depósitos fossilíferos são propriedade da Nação, e, como tais, a extração de espécimes fosseis depende de autorização prévia […]” (BRASIL, 1942). Assim, o menino acreano teve que encaminhar seu achado para uma instituição de pesquisa, a qual incorporou o fóssil ao patrimônio cultural e natural do Brasil. VOCÊ SABIA? Os fósseis vivos são organismos do passado geológico da Terra, mas que ainda estão presentes. Bomfleur,McLoughlin eVajda (2014) nos trazem que cientistas encontraram evidências de que as samambaias são fósseis vivos. É o que indica um exemplar da planta de 180 milhões de anos encontrado no sul da Suécia. Os pesquisadores analisaram o fóssil e descobriram que o genoma da planta não mudou. Você pode saber mais a respeito no link: https://science. .sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf https://science.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf https://science.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf - -17 Outro importante processo condiz na recristalização, corresponde ao rearranjo de estruturas de um mineral. Em especial, dá-se em sítios secos e áridos, onde a acelerada desidratação dos organismos leva à conservação de estruturas e, por fim, à mumificação (CARVALHO, 2010). 3.3.2 Estratigrafia Os princípios da Estratigrafia são compartilhados com as primeiras acepções acerca da Geologia enquanto ciência, que datam do século XVII, com Nicolau Steno (1669), com o “Princípio da Superposição das Camadas”. De acordo com Grotzinger e Jordan (2013), esse princípio afirma que, em um conjunto de estratos sedimentares, as unidades superficiais são mais recentes que as mais profundas. Mis tarde, James Hutton (1785) postulou o Princípio do Uniformitarismo, cuja ideia defende que os eventos geológicos pretéritos ocorreram por meio dos mesmos processos naturais de hoje (GROTZINGER; JORDAN, 2013). O conceito de estratigrafia corresponde à gênese da sucessão, no tempo e espaço das camadas e sequências de rochas de uma região, buscando-se determinar os eventos, processos e ambientes geológicos associados. Isso considerando um conjunto diferenciado de sedimentos com características que os distinguem (WINGE .,et al 2020). No âmbito da Paleontologia, a Estratigrafia não está apenas relacionada à posição ou sucessão de camadas rochosas, tampouco à sua datação. Ela estuda as formas e os arranjos internos, a distribuição territorial e a composição da litologia do material de origem, bem como das propriedades químicas dos sedimentos. Carvalho (2010) nos alerta que a Estratigrafia possui subdivisões em seu arcabouço metodológico, com destaque para três grandes categorias de unidade estratigráficas: litoestratigráfica, cronoestratigráfica e bioestratigráfica. • Litoestratigráfica Baseada na litologia, independentemente do tempo de deposição ou formação, define características como a composição mineralógica, a granulometria e a cor. Corresponde a corpos de rochas de espessura e extensão variáveis, obedecendo uma ordem hierárquica iniciada pela formação. • Cronoestratigráfica Estabelece uma idade relativa das camadas, levando-se em consideração determinados parâmetros geocronológicos. • Bioestratigráfica Diz respeito a sucessões de fósseis existentes e suas correlações espaciais. Definem-se de acordo com a distribuição espacial de táxons e suas peculiaridades morfológicas. Desse modo, o entendimento do arcabouço conceitual da estratigrafia permeia os estudos das relações no espaço e no tempo das feições rochosas e das ocorrências ambientais neles registados. Assim, usando como parâmetro sucessões faunísticas, William Smith (1793) correlacionou formações de idades similares encontradas em diferentes afloramentos (GROTZINGER; JORDAN, 2013). Pela observação da ordem vertical em que as formações foram encontradas, William compilou uma sucessão estratigráfica composta para uma região, revelando que essa correlação definiu que existe correspondência entre a estratificação de diferentes locais nos aspectos do conteúdo fossilífero, das litologias e dos tipos de solos (GROTZINGER; JORDAN, 2013). Na figura a seguir, temos as assertivas de Smith, com a composição de camadas sucessivas de diferentes idades e conteúdos fossilíferos pela correlação de afloramentos. • • • - -18 Figura 9 - Composição de camadas sucessivas de diferentes idades e conteúdos Fonte: GROTZINGER; JORDAN, 2013, p. 252. #PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração demonstrando a composição de camadas sedimentares de diferentes idades e conteúdos (minerais e fósseis). Observe que, em 1, há fósseis encontrados em algumas camadas rochosas no afloramento A, que são os mesmos daqueles encontrados em camadas do afloramento B. Em 2, temos as camadas com os mesmos fósseis, que são de mesma idade. Já em 3, há a composição dos dois afloramentos, que mostra as formações I e II se sobrepondo à formação III, e, por isso, sendo mais novas. 3.3.3 Princípios de Tafonomia A Tafonomia se dedica ao estudo dos processos de preservação dos restos orgânicos no meio sedimentar, e em como os processos relacionados afetam os fósseis. É, portanto, um estudo sistemático da evolução de fósseis, desde a morte dos indivíduos até a sua final incorporação — e transformações — dentro da rocha que os contêm (WINGE ., 2020).et al A formação dos fósseis, então, está associada a uma sériede acontecimentos biológicos e geológicos iniciados com a morte do organismo. Com esse advento, o ambiente onde ele foi “depositado” será analisado pela bioestratonomia, ou seja, anteriormente ao soterramento. A bioestratonomia diz respeito à causalidade da morte do fóssil e forma de decomposição e preservação de suas partes (duras ou moles). Isto é, um verdadeiro “sepultamento em sedimentos”. VOCÊ QUER VER? A série de reportagens produzidas pela TV Brasil, intitulada “Pré-história brasileira: um tempo a ser descoberto”, remonta ao período pré-histórico no Brasil, visitando localidades, entrevistando pesquisadores e mostrando o quão rico e diversificado é o território brasileiro. Você pode assistir a série pelo link: https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem ./episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto - -19 A Tafonomia também trata de um segundo momento desse processo, este relacionado à diagênese: incorporação e transformações do ser “soterrado” com transformações químicas e físicas, como silicificação, piritização, carbonatação ou achatamentos e quebras de pedaços. Tal processo pode ser influenciado por pressões e temperaturas mais elevadas na litosfera, as quais resultam na litificação de remanescentes orgânicos (SIMÕES; HOLZ, 2000). Quando da fase de bioestratonomia, qualifica-se um organismo como quando ele foi transportado oualóctone removido do respectivo habitat, seja por movimentações tectônicas, seja por enxurradas ou outras possibilidades de alteração de sítio. Em contrapartida, o organismo encontrado em seu próprio habitat ( ) éin situ considerado .autóctone Na diagênese, as rochas construídas recebem denominações específicas, como o biólito, uma rocha integralmente constituída por sedimentos biogênicos. 3.3.4 Bioestratinomia O processo de bioestratinomia trata dos eventos que sucedem a morte de um organismo, até o soterramento final. Na natureza, são conhecidos dois tipos de mortalidade: a natural e a catastrófica. A é causada por envelhecimento, enfermidades e predação. Pode afetar os indivíduos mais jovensmorte natural e mais velhos de uma população, sendo os dois grupos mais suscetíveis a fatores de risco (indivíduos mais fracos e inexperientes). O segundo tipo, a , corresponde a uma mortalidade em massa, em eventos que duram certomorte catastrófica intervalo de tempo — curto, como uma erupção vulcânica; ou longo, como uma era glacial. As causas podem ser desde enchentes, tempestades, terremotos e vulcões até mudanças climáticas. Fundamentalmente, a bioestratinomia corresponde ao estudo do processo de soterramento do material biológico e, em particular, ao seu comportamento como partícula sedimentar (ZABINI, 2011). É fundamental para o entendimento dos eventos sucessivos do pós-morte do indivíduo: necrólise, destruição, desarticulação, transporte e soterramento. Figura 10 - Bioestratinomia: morte, necrólise, desarticulação, transporte e soterramento Fonte: stihii, Shutterstock, 2020. #PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração sequencial mostrando o processo de bioestratinomia, desde a - -20 #PraCegoVer: na figura, temos uma ilustração sequencial mostrando o processo de bioestratinomia, desde a morte à fossilificação de um animal (dinossauro). A diz respeito ao processo de decomposição dos tecidos de conexão após a morte de um organismo.necrólise Zabini (2011) define que cada organismo morto corresponde à uma fonte de energia em qualquer ambiente, se ela for utilizada por fungos e bactérias. Assim, a necrólise se trata dos processos químicos que têm origem tanto nas bactérias exógenas como nas bactérias endógenas. Após a morte de um animal, por exemplo, o processo de necrólise termina em um espaço curto de tempo, durando dias ou semanas, deixando o esqueleto mineralizado exposto à ação de agentes exógenos. No entanto, caso o soterramento do organismo ocorra antes do processo de necrólise total, o esqueleto e as articulações serão, de alguma forma, preservadas. A durabilidade dos restos esqueléticos está ligada à resistência apresentada diante dos processos de destruição acometidos. Tais processos podem ser divididos em cinco categorias, que se sucedem de acordo com a exposição dos restos aos diferentes ambientes. Segundo Brett e Baird (1986 ZABINI, 2011), temos a desarticulação, aapud fragmentação, a abrasão, a bioerosão e a dissolução. Dependendo das características físicas do ambiente sedimentar, um ou vários desses processos podem ser mais ativos. A e fragmentação têm início pelas articulações móveis, porém a desarticulação depende dadesarticulação anatomia básica do organismo, que tende a influenciar todo o processo. Desse modo, caso não ocorra o soterramento em um curto intervalo de tempo após a morte, os organismos tendem a ser desarticulados por completo, e seus elementos esqueléticos ficam sujeitos ao retrabalhamento, em especial pela água. As etapas de abrasão, bioerosão e dissolução ocorrem, primeiramente, nos restos esqueléticos que permanecem expostos na interface água e sedimentos por prolongados períodos. Esse mesmo vetor de carrega, detransporte forma simultânea, partículas sedimentares e restos orgânicos. Além da água, os organismos podem ser transportados por meio do vento, do gelo e da gravidade. Para finalizar, temos que a etapa do corresponde à fase final do registro fossilífero, podendo sersoterramento considerada o maior evento da área de estudo no tempo considerado (SIMÕES; HOLZ, 2002 ZABINI, 2011).apud O registro sedimentar tende a marcar apenas os eventos de maior magnitude. Em sistemas fluviais, por exemplo, quando o curso d’água aumenta sua capacidade e carga, maior quantidade de sedimentos é transportada, ocorrendo rompimentos de diques marginais e inundações de planícies adjacentes. Esses eventos ficarão registrados na forma de sedimentação nas planícies de inundação. Assim, restos de organismos podem ser soterrados entre outros preservados. 3.3.5 Diagênese dos fósseis A diagênese tem relação com as modificações químicas e físicas sofridas pelos sedimentos após sua deposição ao longo do tempo. Sob o espectro da Tafonomia, a diagênese dos fósseis corresponde, também, aos processos físico-químicos, porém atuando sobre os organismos no pós-morte, após o soterramento. O processo diagenético pode ser dividido em algumas fases, as quais conheceremos a seguir. Eodiagênese Ocorre na superfície ou em níveis pouco profundos. Metadiagênese Dá-se em altas profundidades, chegando em km, em ambientes de alta pressão e temperatura. Telodiagênese Ocasião do retorno da camada que sofreu o processo de diagênese à superfície. Os processos físicos e químicos que integram a Tafonomia, em específico a diagênese dos fósseis, ao agir sobre camadas sedimentares, acabam por afetar os restos orgânicos. Estes sofrem processo de transformação, denominado fossilização. Eles possuem três grandes categorias quanto à forma de preservação, de acordo com - -21 denominado fossilização. Eles possuem três grandes categorias quanto à forma de preservação, de acordo com as feições dos organismos: por preservação total (incluindo os tecidos moles), por congelamento e por mumificação ou trapeamento em resinas. A preservação ocorre sem ou com alteração dos restos esqueléticos pela dissolução e formação de moldes, no processo de carbonificação. Durante a ocorrência da diagênese, podem ocorrer, ainda, alterações nas características morfológicas do fóssil. Devido ao sobrepeso da compactação das camadas sedimentares, alguns exemplares de fósseis podem ficar distorcidos ou “achatados”. Além de alterações físicas, as condições ambientais tendem a fomentar mudanças na composição química dos organismos. Em suma, um fóssil, ao ser “exposto” em superfície, pode se apresentar, muitas vezes, com feições adquiridas durante o processode diagênese, diferente de suas características morfológicas e químicas originais de quando foi soterrado. Conclusão Chegamos ao final de mais uma unidade. Aqui, você pôde estabelecer correlações sobre os processos de intemperismo e sedimentação com as formas de modelagem do relevo terrestre, originalmente criadas por processos orogênicos e epirogênicos. Ademais, envolvidos com essa dinâmica da gênese das formas de relevo, os registros fósseis aparecem como verdadeiros testemunhos da história geológica do Planeta. Nesta unidade, você teve a oportunidade de: • aprender que os ambientes de sedimentação correspondem a lugares característicos, abrigando processos geológicos e condições ambientais; • entender a respeito da evolução do modelado terrestre, cujas particularidades são decorrentes de um “jogo de forças” internas e externas; • conhecer a Paleontologia, ciência que combina métodos e conceitos das ciências geológicas e biológicas, objetivando o estudo dos fósseis; • descobrir a Geomorfologia, a qual corresponde à ciência que estuda a gênese e as formas do relevo; VAMOS PRATICAR? Vamos fabricar um fóssil? Procure ossos (coxa ou asinha de frango, por exemplo), folhas e insetos mortos (com carapaça). Além disso, tenha em mãos um recipiente plástico, argila seca e molhada. Dentro do recipiente, coloque um punhado de argila seca. Sobre essa primeira camada de argila, ponha aproximados 4 cm de argila molhada. Depois, deposite sobre a argila molhada os objetos coletados, os quais se transformarão em fósseis (folhas, ossos e insetos). Sobre os objetos, salpique argila seca, protegendo os itens. Novamente, cubra os objetos com 4 cm de argila molhada. Deixe secar ao sol por cinco dias. Após esse tempo, retire o material do recipiente plástico, separando as partes argilosas dos objetos. Observe que, na argila, ficarão as marcas dos objetos (icnofóssil, marca deixada por um organismo). Para registrar, pode-se fazer um decalque com papel e grafite no que ficou “impresso” na argila. • • • • - -22 objetivando o estudo dos fósseis; • descobrir a Geomorfologia, a qual corresponde à ciência que estuda a gênese e as formas do relevo; • refletir sobre a importância de conhecer os eventos dos passados geológico e biológico das formas de vida, a fim de atuar em favor do desenvolvimento sustentável. Bibliografia AHNERT, F. . Londres: Arnold, 1998.Introduction to Geomorphology BOMFLEUR, B.; MCLOUGHLIN, S.; VAJDA, V. Fossilized nuclei and chromosomes reveal 180 million years of genomic stasis in royal ferns. Science, [ .], v. 343, p. 1.376-1.377, mar. 2014. Disponível em: s. l https://science. . Acesso em: 11 jun. 2020.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf BRASIL. . Dispõe sobre a proteção dos depósitos fossilíferos. Brasília,Decreto n. 4.146, de 4 de março de 1942 DF: Presidência da República, 1942. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937- 1946/Del4146.htm. Acesso em: 11 jun. 2020. CARVALHO, I. S. Paleontologia: conceitos e métodos. : CASSAB, R. C. T. . 3. ed. Rio deIn Objetivos e princípios Janeiro: Interciência, 2010. CURY, M. E. Menino encontra fóssil de 8 milhões de anos no Acre. , [ .], 18 jul. 2019. Disponível em: Exame s. l https://exame.com/ciencia/menino-encontra-fossil-de-8-milhoes-de-anos-no-acre. Acesso em: 11 jun. 2020. 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Tese (Pós-Graduação em Geociências) – Universidade Federal do Riodevoniana da bacia do Paraná Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. • • https://science.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf https://science.sciencemag.org/content/343/6177/1376/tab-pdf http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del4146.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del4146.htm https://exame.com/ciencia/menino-encontra-fossil-de-8-milhoes-de-anos-no-acre https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto https://tvbrasil.ebc.com.br/caminhosdareportagem/episodio/pre-historia-brasileira-um-tempo-a-ser-descoberto http://sigep.cprm.gov.br/gloss�rio/ Introdução 3.1 Ambientes de sedimentação 3.1.1 Ambientes de sedimentação continentais 3.1.2 Ambientes de sedimentação costeiros 3.1.3 Ambientes de sedimentação marinhos 3.2 Agentes modeladores e formas de classificação do relevo 3.2.1 Classificação do relevo 3.2.2 Dinâmica interna, sismos, vulcanismo e orogênese 3.2.3 Dinâmica externa e mecanismos morfogenéticos 3.3 Introdução ao estudo da Paleontologia 3.3.1 Processo de fossilização 3.3.2 Estratigrafia Litoestratigráfica Cronoestratigráfica Bioestratigráfica 3.3.3 Princípios de Tafonomia 3.3.4 Bioestratinomia 3.3.5 Diagênese dos fósseis Conclusão Bibliografia
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