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Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE ENTEROBACTÉRIAS: As enterobactérias são um grupo de bacilos gram-negativos que, mesmo sendo encontrados amplamente na natureza, infestam majoritariamente os intestinos de seres humanos e outros animais, seja como membros normais da microbiota ou como fontes de infecção. A identificação de uma enterobactéria é normalmente feita por meio de provas bioquímicas, seguidas ou não de provas sorológicas. Em se tratando de enterobactérias enteropatogênicas, as provas bioquímicas são sempre acompanhadas de provas sorológicas, seja para confirmar a identificação bioquímica ou para diferenciar os sorogrupos e sorotipos. Quando a infecção é causada por uma enterobactéria não patogênica, sua identificação é feita apenas por meio de provas bioquímicas, exceto quando se isolam as salmonellas, tíficas e paratíficas. Atualmente, as enterobactérias são os germes mais frequentemente identificados em processos infecciosos, representando em torno de 70 a 80% das amostras de germes gram-negativos isolados em rotina de laboratório. A prevalência dos diferentes gêneros e espécies é fortemente influenciada pelo local onde a infecção foi adquirida, isto é, se na comunidade ou no hospital. Dentre as características comuns a esse tipo de bactérias, sabe-se que a maioria dos membros do grupo entérico pode utilizar um grande número de compostos orgânicos simples como substratos para o metabolismo respiratório: ácidos orgânicos, aminoácidos, carboidratos. Em condições aeróbicas, todas as bactérias crescem em meio bacteriológico complexo convencional, sendo que os constituintes nitrogenados fornecem substratos oxidáveis. Sob condições anaeróbias, entretanto, o crescimento bacteriano é dependente da presença de um carboidrato fermentável: alguns monossacarídeos, dissacarídeos e poliálcoois são fermentados por todos os membros do grupo entérico. A fermentação realizada por estes seres vivos se dá pela via Embden-Meyerhof, com produtos variados em tipo e quantidade. Estas fermentações apresentam uma característica bioquímica singular, que não é encontrada em outras fermentações bacterianas: um modo especial de clivar o ácido pirúvico para produzir ácido fórmico: CH3COCOO + CoA ---- CH3COCoA + HCOO. Esse ácido é, portanto, frequentemente o produto final nos processos fermentativos. Mas nem sempre este ácido é acumulado, pois algumas bactérias entéricas possuem o sistema enzimático formiase, que oxida o ácido fórmico a C02 e H2: HC00- ---- CO2 + H2. A fermentação de açúcares mais comum no grupo entérico é a fermentação ácido-mista, que produz principalmente ácido lático, ácido acético, ácido succínico, ácido fórmico (ou CO2 e H2), e etanol. Esta fermentação é característica dos gêneros Escherichia, Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE Salmonella, Shigella, Proteus, Yersinia, Photobacterium e Vibrio e em algumas espécies de Aeromonas. A formação de gás como um resultado da fermentação de açúcares é uma característica de valor diferencial no grupo entérico, que se divide em formadores de gás como os gêneros Escherichia, e os que fermentam açúcares sem produzir gás como os gêneros Shigella e Salmonella typhi. Outra característica de considerável importância para diagnóstico de bactérias do grupo entérico é a capacidade para fermentar o dissacarídeo lactose, que depende da síntese das enzimas galactosídeo permease e b-galactosidase. As linhagens que não possuem a permease, mas, sintetizam b-galactosidase não podem utilizar a lactose à uma taxa suficiente para produzir uma fermentação vigorosa e normalmente devem ser classificadas como não fermentadores deste açúcar. O metabolismo da lactose é característica da Escherichia e Enterobacter e é ausente nos gêneros Salmonella, Shigella e Proteus. ESTRUTURA ANTIGÊNICA: As estruturas bacterianas são compostas por segmentos antigênicos que permitem a diferenciação sorológica de gêneros e espécies, baseando-se nos componentes somáticos O, flagelares H, capsulares K e fimbriais F, classificados sob a forma de números, permitindo diversas combinações (O e K nunca podem ser acompanhados por zero) O antígeno somático O corresponde ao lipopolissacarídeo (LPS), elemento termorresistente que se projeta da membrana externa para o ambiente extracelular. O lipídeo A (endotoxina), componente do LPS, é liberado durante a multiplicação ou após a morte da bactéria, atua na ativação de macrófagos e de mediadores da inflamação. O comprimento da cadeia lateral na unidade de repetição do antígeno somático O impedem a ligação do complexo de ataque a membrana do sistema complemento. Os antígenos capsulares K são polissacarídeos capsulares relacionados à resistência bacteriana perante o sistema complemento. A cápsula é um dos componentes bacterianos de menor patogenicidade, sendo removida quando submetida a temperatura de 100°C por uma hora. Antígenos flagelares H são compostos proteicos indicadores de estruturas móveis, mas não são associados frequentemente à patogenicidade bacterana. Os antígenos fimbriais F, também chamados de adesinas, pili ou fímbrias, são moléculas proteicas que recobrem a superfície bacteriana, capazes de reconhecer receptores específicos na superfície de células eucarióticas. A expressão de adesinas é considerada um gene de virulência fundamental para aderência e colonização dos tecidos do hospedeiro. Elas também conferem especificidade de aderência da bactéria em relação a determinados tecidos e órgãos do hospedeiro. Embora essas adesinas apresentem poucas diferenças morfológicas, existem características antigênicas e hemaglutinantes distintas. Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE FATORES DE VIRULÊNCIA COMUNS À FAMÍLIA ENTEROBACTERIACEAE: Endotoxina: a é um fator de virulência encontrado em bactérias Gram-negativas aeróbias e algumas anaeróbias. A atividade dessa toxina depende do lipídio A, componente do LPS, que é liberado na lise celular. Muitas manifestações sistêmicas das infecções por bactérias Gram-negativas são iniciadas pela endotoxina que ativa o complemento, causando liberação de citocinas, leucocitose, trombocitopenia, coagulação intravascular disseminada, febre, diminuição da circulação periférica, choque e morte; Presença de cápsula: enterobactérias encapsuladas são protegidas da fagocitose pelos antígenos capsulares hidrofílicos, que repelem a superfície hidrofóbica da célula fagocítica. Esses antígenos interferem na ligação dos anticorpos à bactéria, são pouco imunogênicos e incapazes de ativar o complemento; Variação de fase antigênica: as expressões dos antígenos somático O, capsular K e flagelar H estão sob controle genético do microrganismo. Cada um desses antígenos pode ser alternadamente expresso ou não (variação de fase), uma característica que protege a bactéria da morte mediada por anticorpo; Sistemas de secreção tipo III: esse mecanismo pode ser imaginado como uma seringa molecular com aproximadamente 20 proteínas que facilitam a transferência de fatores de virulência bacterianos para as células-alvo do hospedeiro. Embora os fatores de virulência e seus efeitos sejam diferentes entre os vários bacilos Gram-negativos, o mecanismo pelo qual os fatores de virulência são introduzidos é o mesmo. Na ausência do sistema secretório tipo III, a bactéria tem sua virulência diminuída; Sequestro de fatores de crescimento: para se replicar adequadamente e promover a colonização do hospedeiro, a bactéria deve manifestar caráter predador, produzindo substâncias competidoras por fatores de crescimento (ex.: ferro),apresentando maior afinidade com esses compostos que os produtos gerados pelo parasitado, ou desenvolvendo enzimas capazes de lisar as proteínas carreadoras de tais fatores; Resistência ao efeito bactericida do soro; Resistência aos antimicrobianos. PRINCIPAIS GÊNEROS E ESPÉCIES: E. COLI: A Escherichia coli é uma bactéria em forma de bastonete com comportamento anaeróbio facultativo. Seu hábitat primário é o TGI do homem e de outros animais endotérmicos (capazes de manter a própria temperatura corporal), local onde não causa, normalmente, danos à saúde do hospedeiro, o que pode ocorrer ao atingir a circulação sanguínea. Devido à proximidade entre ânus e vagina, a E. coli, quando em suas cepas nocivas, pode causar várias doenças, como gastroenterite, Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE infecção urinária, pielonefrite, apendicite e meningite. FATORES DE VIRULÊNCIA E PATOGENICIDADE: A e. Coli apresenta diversos fatores de virulência, alguns que se repetem para outros membros da família Enterobacteriaceae e outros específicos que são associados às diversas cepas da bactéria e suas múltiplas manifestações clínicas, esses últimos descritos principalmente por adesinas e exotoxinas. PATOGENIA: As diversas cepas de e. Coli são responsáveis por múltiplos quadros clínicos distintos, a saber: Gastrenterite: As cepas de E. coli que causam gastrenterite são subdivididas em cinco grupos principais: enterotoxigênica, enteropatogênica, enteroagregativa, enterohemorrágica e enteroinvasiva. Os três primeiros grupos causam uma diarreia secretora envolvendo o intestino delgado, enquanto nos dois últimos grupos a infecção geralmente envolve o intestino grosso. Manifestações extraintestinais: o Infecções do Trato Urinário: a maioria dos bacilos Gram-negativos que produz essas manifestações é proveniente do cólon, contamina a uretra, ascende até a bexiga e pode migrar até o rim ou a próstata. A maioria das cepas de E. coli pode causar tais infecções, entretanto a doença é mais comum em alguns sorogrupos específicos. Essas bactérias são particularmente virulentas, pois possuem a capacidade de produzir adesinas que se ligam às células que revestem a bexiga e o trato urinário superior (a aderência impede a eliminação da bactéria durante a micção) e produzem a hemolisina HlyA, que lisa os eritrócitos e outros tipos celulares (levando à liberação de citocinas e estimulando uma resposta inflamatória); Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE o Meningite neonatal: as cepas de E. coli e estreptococos do grupo B causam a maioria das infecções do sistema nervoso central em crianças com menos de um mês de idade. Esse sorogrupo também está presente no trato gastrointestinal de mulheres grávidas e crianças recém-nascidas; O Septicemia: o quadro causado pelos bacilos Gram-negativos tem como origem as infecções dos tratos urinário e gastrointestinal (a perfuração do intestino leva a uma infecção intra-abdominal). A mortalidade associada à septicemia causada por E. coli é alta em pacientes cuja imunidade está comprometida ou quando a infecção primária está no abdome ou no sistema nervoso central. TRANSMISSÃO: Alguns tipos nocivos de e. Coli (E. coli enterotoxigênica, enteroinvasiva, enteropatogênica e enterohemorrágica) podem penetrar o organismo por meio do contato com fezes de portadores, e da ingestão de água e alimentos contaminados, ao passo que as formas comensais são encontradas naturalmente no trato intestinal do homem. Quando a infecção por Escherichia coli não é devidamente tratada, é possível que essa bactéria atinja a corrente sanguínea, causando septicemia, que é uma situação grave normalmente tratada em ambiente hospitalar. PROVAS BIOQUÍMICAS DE IDENTIFICAÇÃO: A identificação de amostras contendo escherichia coli é realizada por meio da cultura de fezes, urina ou do sangue do paciente, material que é posteriormente analisado por métodos de detecção proteica (elisa e imunofluorescência) ou genômica (pcr). ANTIBOTICOTERAPIA: A E.coli pode ser resistente a um número crescente de antibióticos, mas uma cepa raramente é a mais de dois ou três fármacos. A Escherichia coli é mais vulnerável à amicacina, gentamicina, nitrofurantoína, e às quinolonas e norfloxacina, sendo mais resistente à sulfametoxazol-trimetoprima A escolha do antibiótico é feita por testes in vitro de susceptibilidade. É recomendado também repouso e beber muita água potável para repor os líquidos perdidos por diarreia, suor e vômito. SALMONELLA: A Salmonella é um gênero de enterobactérias composto por bacilos Gram- negativos fermentadores oxidase-negativos e anaeróbios facultativos. Esses seres vivos são encontrados principalmente no trato gastrointestinal do ser humano e de outros animais, mas também observado em alimentos processados ou armazenados em condições precárias de higiene. FATORES DE VIRULÊNCIA: Além dos demais fatores comuns a outras enterobactérias, os componentes do gênero salmonella apresentam como mecanismos colonizadores no hospedeiro: Tolerância aos ácidos presentes em vesículas fagocitárias; Capacidade de sobrevivência em macrófagos; Resistência à ação do complemento; Mobilidade (se dispersa facilmente para outros sítios do corpo humano) PATOGÊNESE: Após a ingestão e passagem pelo estômago, a Salmonella adere à mucosa do intestino Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE delgado e invade as células M (microvilosidades) localizadas nas placas de Peyer, bem como os enterócitos. As bactérias permanecem em um vacúolo endocítico, onde se multiplicam e podem ser transportadas através do citoplasma, sendo liberadas na circulação sanguínea ou linfática. A regulação da aderência, engolfamento pela membrana e multiplicação são controlados basicamente por dois grandes grupos de genes (ilhas de patogenicidade I e II) no cromossomo bacteriano. A ilha de patogenicidade I codifica as proteínas de invasão secretadas por Salmonella (Ssps) e um sistema de secreção tipo III que injeta as proteínas na célula hospedeira. A ilha de patogenicidade II contém os genes que permitem que a bactéria escape da resposta imune do hospedeiro e um segundo sistema de secreção tipo III para esta função. A resposta inflamatória restringe a infecção ao TGI, media a liberação de prostaglandinas, estimula o AMPc e ativa a secreção de fluidos. PATOGENIA: Existem quatro formas de infecção por Salmonella: gastrenterite, septicemia, febre entérica e colonização assintomática, a saber: Gastrenterite: é a forma mais comum de salmonelose. Os sintomas geralmente aparecem de 6 a 48h após o consumo de alimento ou água contaminados. A apresentação inicial consiste em náusea, vômito e diarreia sem sangue. Também são comuns febre, cólica abdominal, mialgia e dor de cabeça. O envolvimento do cólon pode ser demonstrado na forma aguda da doença. Os sintomas podem persistir por dois a sete dias antes da resolução espontânea; Septicemia: infecções causadas por Salmonella Typhi, Salmonella Paratyphi e Salmonella Choleraesuis geralmente levam a uma fase de bacteremia. O risco de bacteremia por Salmonella é elevado em pacientes pediátricos, geriátricos e em imunocomprometidos; Febre entérica: Salmonella Typhi produz uma doença febril chamada febre tifoide, doença manifestada de forma mais branda pelas espécies S. Paratyphi A, Schomuelleri e Hirschfeldii. As bactérias responsáveis pela febre entérica atravessam as células que revestem o intestino e são engolfadas pelos macrófagos. Elas se multiplicam depois de transportadas para o fígado, baçoe para a medula óssea. Dez a 14 dias após a ingestão das bactérias, os pacientes gradualmente experimentam febre crescente com complicações não específicas de dores de cabeça, mialgias, mal-estar e anorexia. Esses sintomas persistem por uma semana ou mais e são acompanhados de sintomas de gastrenterite. Este ciclo corresponde a uma fase inicial de bacteremia que é acompanhada pela colonização da vesícula biliar e reinfecção dos intestinos; Colonização assintomática: as cepas de Salmonella responsáveis pela febre tifoide e paratifoide são mantidas por colonização em humanos. A colonização crônica por mais de um ano após a doença sintomática ocorre em 1% a 5% dos pacientes e a vesícula biliar é o principal reservatório na maioria dos casos. TRANSMISSÃO: A maioria das infecções é adquirida pelo consumo de alimentos contaminados (aves, ovos e laticínios são as fontes mais comuns de infecção), mas pode ocorrer também a transmissão direta por via orofecal em crianças. Salmonella Typhi e Salmonella Paratyphi são patógenos humanos estritos (nenhum outro reservatório), o que faz com Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE que estas infecções sejam unicamente transmitidas de pessoa a pessoa PROVAS BIOQUÍMICAS DE IDENTIFICAÇÃO: Em casos de febre tifoide ou paratifoide, o hemocultivo se torna um método de bastante relevância, porém seus percentuais de positividade diminuem constantemente num curto período de tempo, reduzindo a aplicabilidade desse exame. Um mecanismo mais eficaz é o isolamento da bactéria nas fezes ou vômito de um indivíduo contaminado, o que deve ocorrer ainda durante a fase aguda, sem que tenha sido iniciada a antibioticoterapia. Em pacientes com suspeita de febre tifoide, a pesquisa de Salmonella Typhi nas fezes é indicada a partir da segunda semana da doença, assim como na fase de convalescença e na detecção de portadores. ANTIBIOTICOTERAPIA: Em geral, a infecção causada pela Salmonella (salmonelose não tifoide) não precisa de internação ou de outras intervenções médicas. Nestes casos, o tratamento é feito em casa, por meio de repouso, ingestão de bastante água para manter hidratação e controlar os sintomas. Em casos graves, a reposição eletrolítica e reidratação são indicados. O tratamento com antibióticos não é recomendado para casos leves ou moderados em indivíduos saudáveis, pois esses medicamentos podem não eliminar completamente as bactérias e selecionar cepas resistentes, tornando o tratamento ineficaz. Essa recomendação não se aplica a grupos de risco para tais infecções, como neonatos, idosos e pacientes imunocomprometidos, que devem receber a medicação de modo a evitar ou controlar a disseminação do agente pelo organismo. As medicações mais comumente prescritas em casos de infecções não-tifoides são SMX-TMP, Ciprofloxacino, Azitromicina e Ceftriaxona, mantidos por 3 a 5 dias. SHIGELLA: O gênero Shigella comporta quatro espécies (S. dysenteriae, Shigella flexneri, Shigella boydii e Shigella sonnei) e é um conjunto de bacilos Gram-negativos fermentadores oxidase-negativos e anaeróbios facultativos. São extremamente adaptadas ao TGI humano, correspondente a seu principal reservatório natural, também podendo ser encontradas em águas poluídas e fezes humanas de portadores. FATORES DE VIRULÊNCIA: Além dos demais mecanismos de virulência semelhantes aos das demais enterobactérias, os espécimes pertencentes ao gênero Shigella Dysenteriae apresentam como mecanismo de auxílio à colonização a produção de uma exotoxina (shiga) capaz de inibir a síntese proteica e gerar danos ao endotélio do trato gastrointestinal. PATOGÊNESE: As bactérias pertencentes ao gênero Shigella causam doenças invadindo e se multiplicando nas células que revestem o cólon. Os genes estruturais codificam proteínas envolvidas na aderência dos microrganismos às células hospedeiras, bem como na invasão, multiplicação intracelular e transmissão célula a célula. Esses genes são encontrados em um grande plasmídeo de virulência, mas são regulados por genes cromossômicos. Assim, a presença do plasmídeo não assegura atividade do gene funcional. As espécies de Shigella parecem incapazes de se ligar às células diferenciadas da mucosa; em vez disso, elas inicialmente Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE aderem e invadem as células M localizadas nas placas de Peyer. O sistema secretório tipo III secreta quatro proteínas dentro das células epiteliais e dos macrófagosinduzido ondulações da membrana das células-alvo, levando ao engolfamento da bactéria. Shigella lisa o vacúolo do fagócito e se multiplica no citoplasma da célula hospedeira (diferindo de Salmonella, que se multiplica no vacúolo). Com o rearranjo dos filamentos de actina na célula hospedeira, as bactérias são impulsionadas do citoplasma para as células adjacentes, ocorrendo a passagem de uma célula para outra. Deste modo, a bactéria é protegida da remoção mediada pelo sistema imune, sobrevivendo à fagocitose pela indução de morte programada da célula (apoptose). Esse processo também leva à liberação da IL-1β, resultando na atração dos leucócitos polimorfonucleares pelos tecidos infectados. Esse processo desestabiliza a integridade da parede intestinal e permite que a bactéria alcance as células epiteliais mais profundas. PATOGENIA: A shigelose é caracterizada por dores abdominais, diarreia, febre e fezes sanguinolentas. Os sinais clínicos e os sintomas da doença aparecem entre um e três dias após ingestão da bactéria. Shigella inicialmente coloniza o intestino delgado e começa a se multiplicar dentro das primeiras 12 horas. O primeiro sinal da infecção (diarreia aquosa profusa, sem evidência histológica de invasão da mucosa) é mediado por uma enterotoxina. Contudo, uma característica importante da shigelose é a cólica abdominal baixa e o tenesmo (esforço para defecar), com pus e sangue em abundância nas fezes, como resultado da invasão da mucosa do cólon pela bactéria. Grande quantidade de neutrófilos, eritrócitos e muco é encontrada nas fezes. A infecção geralmente é autolimitada, embora o tratamento com antibiótico seja recomendado para reduzir o risco de transmissão secundária aos membros da família e outros contatos. A colonização assintomática dos microrganismos no cólon, que ocorre em um pequeno número de pacientes, representa um reservatório persistente para a infecção. TRANSMISSÃO: A transmissão de bactérias do gênero shigella ocorre principalmente pela ingestão de água contaminada ou alimentos que entraram em contato com essa substância, mas também pode ocorrer por meio de contato pessoal (via fecal-oral). PROVAS BIOQUÍMICAS DE IDENTIFICAÇÃO: O diagnóstico de shigelose é clínico (baseado na manifestação sintomática), epidemiológico (considera os padrões de prevalência da doença e as condições sanitárias locais) e laboratorial, usando para tanto a semeadura de fezes coletadas do paciente em meios de cultura, com posterior identificação das colônias suspeitas por meio de provas bioquímicas e sorológicas, destacando-se a excelência dos métodos imunoenzimáticos e o PCR para realização de exame radiológico. ANTIBIOTICOTERAPIA: Os esquemas de terapia com antibióticos são recomendados para impedir o contágio de outras pessoas do mesmo núcleo familiar, fazendo uso de fluoroquinolonas, Azitromicina ou Ceftriaxona, além das propedêuticas comuns a toda doença de caráter diarreico, como reposição de líquidos e eletrólitos e uso de medicações antidiarreicas. PROTEUS: Proteus mirabilis é uma bactéria Gram- negativa, anaeróbia facultativa, em forma de bastonete, com motilidade e capaz de JúliaFigueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE produzir grandes quantidades de uréase, sendo encontrada tanto como membro da flora comensal do TGI humano quanto no ambiente (solo, água e matéria orgânica). FATORES DE VIRULÊNCIA: As bactérias presentes nesse gênero possuem todos os mecanismos comuns às enterobactérias, mas também apresentam como instrumento distinto para a colonização a formação de um biofilme resistente nas vias urinárias, impedindo a eliminação de espécimes na micção. PATOGENICIDADE: As infecções do trato urinário causadas por Proteus mirabilis são doenças muito comuns do gênero (ex: infecção da bexiga ou cistite, infecção renal ou pielonefrite). Essa bactéria produz grande quantidade de urease, que quebra a ureia em dióxido de carbono e amônia. Esse processo aumenta o pH da urina, precipitando o magnésio e o cálcio na forma de cristais de estruvita e apatita, respectivamente, resultando na formação de cálculos renais. O aumento da alcalinidade da urina também é tóxico para o uroepitélio. TRANSMISSÃO: A infecção por esse parasita pode ocorrer por mudança de sítio de coloninzação, ou seja, se há migração de indivíduos do tgi para os canais do sistema urinário, locais nos quais tais bactérias se fixam, desencadeando as manifestações clínicas. PROVAS BIOQUÍMICAS DE IDENTIFICAÇÃO: A constatação de bacteriúria é fundamental para o diagnóstico. O método de escolha é a urocultura. O teste do nitrito é outra forma de demonstrar bacteriúria. Este teste é altamente específico, porém com baixa sensibilidade (apenas bactérias Gram- negativas produzem nitrito via metabolização bacteriana do nitrato). ANTIBIOTICOTERAPIA: Pacientes sem complicações podem ser tratados em ambulatório com uma quinolona oral por 3 dias ou trimetoprim/sulfametoxazol (TMP/SMZ) por 3 dias. Para os pacientes hospitalizados, a terapia é parenteral e consiste em ceftriaxona, quinolona, gentamicina (mais ampicilina) ou aztreonam até passar a febre. Em seguida, uma quinolona oral, cefalosporina ou TMP / SMZ durante 14 dias para completar o tratamento e evitar resistências. KLEBSIELLA: Os membros do gênero Klebsiella têm uma cápsula proeminente que é responsável pela aparência mucoide das colônias isoladas e pelo aumento da virulência dos microrganismos in vivo. K. pneumoniae e a K. oxytoca são frequentemente isoladas e podem causar pneumonia lobar adquirida na comunidade ou no hospital, mas também podem ser encontradas na microbiota normal do ser humano. A pneumonia causada pelas espécies de Klebsiella frequentemente envolve a destruição necrótica dos espaços alveolares, a formação de cavidades e a produção de escarro com sangue. Essa bactéria também causa feridas, infecções dos tecidos moles e infecções do trato urinário. PATOGENIA: Em humanos a espécie mais patológica é Klebsiella pneumoniae, seguida da K. oxytoca, que podem causar: Pneumonia; Infecção do trato urinário; Gastroenterite; Meningite; Espondilite. Frequentemente causam infecções nos serviços de cuidados intensivos, geriátricos e infecções neonatais. Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE TRANSMISSÃO: A transmissão da bactéria Klebsiella pneumoniae pode ser feita através do contato direto com saliva e outras secreções do paciente infectado ou através da partilha de objetos contaminados. Esta bactéria já foi encontrada em terminais rodoviários e banheiros públicos, e como pode facilmente se espalhar através do contato com a pele ou pelo ar, qualquer pessoa pode ser contaminada. PROVAS BIOQUÍMICAS DE IDENTIFICAÇÃO: Para realizar o diagnóstico de infecções por klebsiella é necessário realizar culturas de amostras de escarro, secreções pulmonares, sangue, urina ou do tecido infectado, sento tais amostras tingidas em coloração de gram e examinadas ao microscópio. Outros testes dependem do tipo de infecção. Eles podem incluir exames de diagnóstico por imagem, como ultrassonografia, radiografias e tomografias computadorizadas. As bactérias identificadas nas amostras são testadas para determinar quais antibióticos são provavelmente eficazes (um processo chamado teste de suscetibilidade). ANTIBIOTICOTERAPIA: Se a pneumonia por Klebsiella for adquirida na comunidade, geralmente antibióticos como uma cefalosporina (como ceftriaxona) ou fluoroquinolona (como levofloxacino), dados por via intravenosa, podem curá-la. Se uma infecção com alguma dessas bactérias for adquirida em um estabelecimento de saúde, a infecção é difícil de tratar porque as bactérias adquiridas em tais estabelecimentos são geralmente resistentes a muitos antibióticos. FUNGOS: Os fungos representam um diverso grupo de organismos que tem como principal objetivo degradar a matéria orgânica. Todos os fungos podem existir como heterotróficos ou saprófitas (organismos que se nutrem de materiais mortos ou em decomposição), simbiontes (organismos que vivem em conjunto com benefício mútuo), comensais (quando vivem em estreita relação em que apenas um organismo é beneficiado e o outro não é prejudicado) ou como parasitas (organismos que vivem à custa de outro e esta relação é prejudicial ao hospedeiro). MORFOLOGIA: A taxonomia clássica dos fungos se baseia fundamentalmente na morfologia e na formação dos esporos. No entanto, cada vez mais as características estruturais, bioquímicas e moleculares são consideradas na classificação, resultando em mudanças na denominação taxonômica original. Os fungos podem ser uni ou multicelulares. O agrupamento mais simples baseado em sua morfologia são leveduras e fungos filamentosos. A levedura pode ser definida morfologicamente como uma célula que se Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE reproduz por brotamento ou fissão, em que a célula progenitora ou “célula-mãe” se modifica e dá origem a uma descendência ou “célula-filha”. As células-filhas podem alongar-se e formar estruturas com formato de salsicha chamadas pseudo-hifas. As leveduras são geralmente unicelulares e produzem colônias redondas, pastosas ou mucoides em ágar. Os fungos filamentosos, por outro lado, são organismos multicelulares constituídos de estruturas tubulares, chamadas de hifas, que se alongam na extremidade em um processo conhecido como extensão apical. As hifas podem ser cenocíticas (asseptadas ou com poucos septos) ou septadas (divididas por paredes transversais. As hifas se mantêm unidas para produzir uma estrutura semelhante a um tapete chamada de micélio. As colônias dos fungos filamentosos são frequentemente descritas como filamentosas, aveludadas ou algodonosas. REPRODUÇÃO: Os fungos reproduzem-se pela formação de esporos, que podem ser sexuados (envolvendo meiose, precedida por fusão do protoplasma e fusão dos dois núcleos compatíveis) ou assexuados (envolvendo somente mitose). Em alguns fungos, a fase assexuada, ou anamorfa, apresenta uma alta capacidade de rápida dispersão e adaptação a novos habitats em relação ao estágio sexual, ou teleomorfo. Independentemente da capacidade de um fungo produzir esporos sexuais, na prática clínica é comum referir-se aos fungos pela designação de sua forma assexuada, ou seja, seu estado (assexuado). Em amostras clínicas, o estado sexual ocorre apenas em situações especiais no laboratório. HABITAT: Os fungos são considerados seres cosmopolitas, pois estão presentes em qualquer parte do planeta. Sendo amplamente distribuídos pela natureza, são encontrados na água, no ar atmosférico, no solo, sobre os animais e vegetais vivos, na matéria orgânica em decomposição, nos produtos alimentícios e industriais. Muitas espécies não necessitam de luz para seudesenvolvimento, já outras utilizam esse recurso para formar suas estruturas de reprodução, podendo ser consideradas fototróficas (que buscam a luz). A temperatura ideal para o crescimento dos fungos fica entre 0 a 35ºC, mas o ótimo para a maioria fica entre 20 a 30ºC e a umidade ideal fica em torno da saturação, favorecendo a colonização da pele humana FORMA DE INFECÇÃO NO SER HUMANO: O homem contrai infecções fúngicas principalmente pela manutenção de espaços adequados à colonização por esse ser vivo, com muita umidade e temperaturas amenas. A patogênese fúngica ainda não é tão conhecida como os mecanismos bacterianos e virais. São poucos os fungos virulentos a Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE ponto de serem classificados como patógenos primários, ou seja, capazes de iniciar infecções em indivíduos saudáveis e imunocompetentes, podendo penetrar as defesas orgânicas, encontrar um sítio adequado com substratos para seu crescimento e desenvolver uma colônia nesse microambiente. Em geral, indivíduos saudáveis e imunocompetentes apresentam alta resistência inata à infecção fúngica, apesar de serem constantemente expostos às formas infecciosas de diversos fungos presentes como parte da microbiota normal (endógenos) ou no ambiente (exógenos). Os patógenos oportunistas só são infectantes em caso de violação das barreiras de proteção de mucosas e epitélios ou quando o sistema imune hospedeiro apresenta falhas que permitam tal instalação infecciosa, sendo os fatores que desencadeiam os sintomas referentes aos microrganismos, não ao corpo do indivíduo parasitado. ANIMAIS PEÇONHENTOS: Animais peçonhentos são todos aqueles que possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes ocos, ferrões ou agulhões, estruturas que permitam a passagem ativa das secreções venenosas. Animais venenosos, por sua vez, são aqueles que apresentam produção de substâncias tóxicas, mas não possuem mecanismos inoculadores, realizando envenenamento passivo por contato, compressão ou ingestão. PRINCIPAIS ANIMAIS PEÇONHENTOS DE IMPORTÂNCIA MÉDICA: COBRAS: As serpentes são animais vertebrados, aminiotas e tetrápodos (descendem de animais que possuíam quatro membros locomotores) que apresentam, como características gerais um corpo muito alongado, sem presença de apêndices locomotores e cintura escapular, perda da sínfise mandibular (não há sutura das hemimandíbulas no mento, sendo substituída por um ligamento elástico), fechamento lateral da parede craniana e ausência de pálpebras móveis, dentre outras. Em relação às presas, as serpentes dividem- se em categorias distintas, a saber: Áglifa: maxilar sem dentes sulcados para inoculação de veneno, podendo ou não apresentar glândulas de veneno (glândula de Duvernoy). O maxilar é grande e pouco móvel; Opistóglifa: possuem colmilhos (dentes ocos para inoculação) na parte posterior da boca, com dentes não sulcados na porção anterior. Possuem glândula de Duvernoy e seu maxilar é grande e pouco móvel; Proteróglifa: apresenta colmilho profundamente sulcado na região anterior sem dentes não sulcados na porção anterior da boca, mas possíveis de estar localizados posteriormente aos inoculadores. Seu maxilar é pequeno e móvel, apresentando glândula de veneno; Solenóglifa: colmilhos muito desenvolvidos na porção anterior do maxilar e perfeitamente canaliculados, apresentando glândulas de veneno. O maxilar é extremamente reduzido e móvel, não apresentando dentes anteriores ou posteriores aos inoculadores (com exceção das presas de reposição). Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE A maioria das formas viventes e a totalidade das espécies de interesse médico estão presentes na superfamília Colubroidea, que engloba as serpentes de evolução mais recente. Ainda nessa classificação, destacam-se as famílias Elapidae e Viperidae, as duas verdadeiramente peçonhentas, ainda que as cobras pertencentes à família Colubridae possam desencadear reações tóxicas em seres humanos, mesmo desprovidas de glândulas de veneno propriamente ditas. A maioria das formas viventes e a totalidade das espécies de interesse médico estão presentes na superfamília Colubroidea, que engloba as serpentes de evolução mais recente. Ainda nessa classificação, destacam-se as famílias Elapidae e Viperidae, as duas verdadeiramente peçonhentas, ainda que as cobras pertencentes à família Colubridae possam desencadear reações tóxicas em seres humanos, mesmo desprovidas de glândulas de veneno propriamente ditas. 1. Família Viperidae: As serpentes que são incluídas nessa categoria apresentam aparelho inoculador solenóglifo, identificadas facilmente por sua cabeça triangular recoberta por pequenas escamas análogas às do corpo. Dentro desse grande grupo ainda é válido ressaltar, para os animais da subfamília Crotalinae, a presença da fosseta loreal. Quanto ao comportamento reprodutivo são majoritariamente vivíparas, com a única exceção recaindo sobre a surucucu, que é ovípara. Os viperídeos são os principais e mais graves causadores de acidentes com ofídicos no Brasil, sedo observados no país 5 gêneros e 30 espécies desses répteis. Gênero Bothrops: comporta as serpentes responsáveis por 90% dos incidentes com cobras peçonhentas, com espécies distribuindo-se geograficamente das mais diversas formas, desde regiões bem delimitadas até amplas aparições pelo território nacional. Uma característica capaz de identificar os animais pertencentes a esse grupo é a cauda com placas duplas e normais. As principais serpentes pertencentes a esse gênero que habitam a Bahia são: o Bothrops leucurus (jararaca): viperídeos mais comum na Zona da Mata do Nordeste, abrangendo áreas desde a Paraíba até o Espírito Santo. Por habitar as áreas mais densamente povoadas pelo homem (urbanas, periurbanas e rurais) é considerada como a espécie mais importante para o Nordeste. É bastante avantajada, medindo 1,7m de comprimento, e prolífera, com partos de até 42 filhotes, que ocorrem entre fevereiro e maio. Sua coloração tende ao castanho claro entremeado por manchas mais escuras, numa padronagem triangular; Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE o Bothrops neuwiedi (jararaca-pintada, jararaca-de-rabo-branco): complexo de 12 espécies de características semelhantes que são presentes por todo o Brasil (cobrem todo o estado da Bahia, com exceção para o litoral). Possuem pequeno a médio porte, raramente ultrapassando 1m de comprimento. São nervosas e bastante ágeis, causando um grande número de acidentes. O veneno botrópico apresenta três efeitos fisiopatológicos complexos, cuja causa pode ser atribuída a toxinas específicas, mas também podem ser fruto de interações entre elas ou da ampla ação de um de seus princípios ativos. 1. Ação proteolítica ou inflamatória aguda: A atividade inflamatória aguda é causada por um conjunto de frações biologicamente heterogêneas do veneno dessas serpentes, sendo os principais expoentes as aminas pré- formadas tipo histamina, fosfolipases A2, esterases e lectinas. As frações desse veneno agem muitas vezes de forma indireta, liberando potentes autacóides como bradicininas, prostaglandinas, leucotrienos e prostaciclinas, que interagem de maneira complexa e inter- relacionada. Não é raro que uma fração do veneno libere um conjunto de fatores pró-inflamatórios. O envolvimento de citocinas no processo de envenenamento abriu um novo caminho para o esclarecimento das ações flogísticas promovidas pelo veneno ofídico capaz de gerar quadros de inflamação local. Nesse processo há a ação de enzimas coagulantes,contribuindo para a formação de trombos e o consequente agravamento do edema e necrose tecidual, e que a atividade das hemorraginas estimula o avanço inflamatório pelo estímulo ao fator de necrose tumoral (TNF) pré-formado, um potente agente para deflagração dessas reações. 2. Ação coagulante: O veneno botrópico ativa fatores da coagulação, principalmente o fator X e a protrombina, induzindo a conversão de fibrinogênio em fibrina, formando assim coágulos intravasculares disseminados. Ainda por ação desse veneno pode haver a geração de metabólitos de fibrina no leito dos vasos. A trombocitopenia/plaquetopenia pode ocorrer nas primeiras horas após a inoculação de veneno, persistindo por dias. 3. Ação hemorrágica: Atribuída à presença de hemorraginas, metaloproteínas ricas em zinco e capazes de romper a integridade do endotélio vascular, agindo como desentegrinas. Além de degradar colágeno tipo IV e fibronectina, essas substâncias também são potentes inibidoras da agregação plaquetária. Seus possíveis mecanismos de ação são a digestão da membrana basal da microvasculatura e a ruptura completa ou formação de gaps endoteliais. O quadro clínico dos acidentes botrópicos divide-se em local e sistêmico, cada um Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE contendo reações específicas que auxiliam na identificação do envenenamento. Manifestações locais: A picada geralmente inocula veneno nas camadas subcutânea ou intramuscular, sendo possível observar as marcas das presas na pele, que podem ou não apresentar sangramentos. Caracterizadas principalmente pela dor e edema tenso, de intensidade variável e início precoce e progressivo. A equimose (coloração violeta da pele) no local indica a presença de sangramentos abaixo da pele, sendo capaz de se estender amplamente pelo membro. Em poucas horas desenvolvem-se linfadenomegalia regional com gânglios inchados e doloridos, podendo ocorrer equimose no trajeto dos vasos que drenam a região. O aparecimento de bolhas pela região afetada também é possível, sendo sua proporção e intensidade variáveis, mas repletas de líquido seroso, hemorrágico ou necrótico. Manifestações sistêmicas: Em quadros leves a moderados podem ocorrer sangramentos que não afetam a hemodinâmica, seno comum a gengivorragia, hematúria microscópica, púrpura (equimoses em locais distantes do sítio de inoculação) e sangramentos em feridas recentes. Menos comuns, mais ainda passíveis de ocorrência são a hematúria macroscópica, sangramento conjuntival, hematêmese, hemoptise, epistaxe e hipermenorragia. Em casos graves é possível observar hemorragias intensas em áreas vitais, choque e insuficiência renal. Quadros crônicos de insuficiência hipofisária sugerem que a hipófise também sofra com os sangramentos, o que pode ser uma justificativa para a hemorragia do SNC como um dos causadores de óbito em acidentes com jararacas. Ainda que ocorram impactos na atividade de coagulação e na indução de hemorragias esses dois componentes não apresentam relação de causa e consequência, pois muitas vezes os sangramentos ocorrem antes que seja possível perceber alterações nos exames de análise da hemostasia. A demora na reversão do envenenamento, seja por demora no atendimento médico ou pela não administração de tratamentos adequados, pode levar a complicações que, da mesma forma que os sintomas iniciais, dividem-se em locais e sistêmicos. 1. Complicações locais: As principais complicações que afetam o local da picada são abcessos, necrose e síndrome compartimental. A ação proteolítica do veneno botrópico favorece o aparecimento de infecções locais. Os germes patogênicos podem provir da boca do animal, da pele do acidentado ou do uso de contaminantes sobre o ferimento. As bactérias isoladas desses abscessos são bacilos Gram- negativos, anaeróbios e, mais raramente, cocos Gram-positivos. A presença desses contaminantes induz a formação de secreções purulentas que infiltram a pele, formando abaulamentos sensíveis. Esses sinais podem confundir-se com os indícios flogísticos do início do envenenamento, mas se esses sintomas se manifestarem após a estabilização local ou se há picos de Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE febre alta é certa a presença de contaminantes e de uma nova inflamação. A necrose é devida principalmente à atuação inflamatória do veneno, associada à isquemia local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial, síndrome compartimental ou uso indevido de torniquetes, além da demora em buscar atendimento médico. O risco é maior nas picadas em extremidades (dedos) podendo evoluir para gangrena e amputação do membro. A presença de síndrome compartimental: é rara, caracterizando casos graves de difícil manejo. Decorre da compressão (aumento da pressão) do feixe de vasos e nervos consequente ao grande edema que se desenvolve no membro atingido, produzindo isquemia de extremidades. As manifestações mais importantes são a dor intensa, parestesia (perda de sensibilidade), diminuição da temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor. As complicações locais podem ser estimuladas pela aplicação de métodos muito difundidos, mas de ação extremamente prejudicial como torniquetes, incisões, sucção e presença de substâncias no local da picada. 2. Complicações sistêmicas: A insuficiência renal aguda é uma complicação que ocorre em 0,5 a 13,8% dos pacientes, possuindo patogênese multifatorial, que pode decorrer da ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque. O choque é uma evolução rara, mas de início precoce, que se relaciona a liberação rápida de fatores inflamatórios e início abrupto da liberação de substâncias vasoativas. Gênero Lachesis: facilmente identificado pelas peculiaridades de sua cauda, que apresenta escamas quilhadas e eriçadas, com um espinho na ponta. o Lachesis muta rhombeata (surucucu, pico-de-jaca, surucutinga): exclusiva do Brasil e presente nas listas nacionais de animais em extinção, habita os espaços remanescentes da Mata Atlântica. É um dos maiores representantes da família Viperidae, com 3,5m de comprimento, mas não apresenta comportamento agressivo como padrão. Essa espécie é bastante ágil, deslocando-se facilmente principalmente nas horas de crepúsculo, e, durante situações de estresse, se aloca numa posição enrodilhada com forma de dois “s”, permitindo assim um maior impulso para dar o bote, alcançando até 50% de seu comprimento e, portanto, conseguindo atingir regiões mais elevadas do corpo de sua presa. Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE Acidentes com essas serpentes não são tão comuns, uma vez que elas residem principalmente em áreas florestais. Essa distância em relação aos centros de tratamento e notificação também dificultam a coleta de dados epidemiológicos. Acidentes com esses animais devem ser sempre considerados graves, mesmo que a inoculação de veneno tenha ocorrido com uma só presa ou por meio de arranhadura, uma vez que os sintomas podem ter efeitos sistêmicos independente do peso do paciente afetado. Os mecanismos de ação dessa peçonha envolvem: 1. Ação proteolítica: A presença de proteases causa efeito semelhante ao do veneno botrópico, com proteases destruindo fatores de coagulação e promovendo repercussão de inflamações locais, essas que ocorrem devido a presença de histaminas, trombinas e fosfolipases A2, estimulando o aumento da permeabilidade vascular ea migração leucocitária. 2. Ação coagulante: Enzimas do tipo thrombin-like (TLE) agem na clivagem de moléculas de fibrinogênio para formação de fibrina, compondo assim microcoágulos capazes de se depositar nos órgãos (principalmente nos rins e pulmões), causando obstrução no fluxo sanguíneo. Essa ação promove coagulopatia de consumo dos fatores com contagem plaquetária normal e incoagulabilidade. 3. Ação hemorrágica: As metaloproteínas e hemorraginas danificam lentamente o endotélio vascular fazendo com que ações hemorrágicas e coagulantes se sobreponham e ocorram não só sangramentos locais, mas sim hemorragias sistêmicas tardias 4. Ação neurotóxica: As fosfolipases A2 podem se ligar a outras articulações enzimáticas antes da junção neuromuscular, criando assim um bloqueio no impulso nervoso e a consequente paralisia, além de reações vagomiméticas como a disfagia, e da ativação do SNA parassimpático. Toda essa interação nervosa resulta na expressão sintomática de bradicardia, hipotensão, diarreia, vômitos e disfagia. As manifestações clínicas de uma picada laquética dividem-se em quadros de acometimento local e sistêmico: Manifestações locais: Semelhantes àquelas descritas para acidentes botrópicos, predominando a dor e edema, que podem progredir para todo o membro. Podem surgir vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero- hemorrágico nas primeiras horas após o acidente. As manifestações hemorrágicas, no entanto, geralmente se limitam ao local da picada, não excluindo a possibilidade de evento necróticos na pele. Manifestações sistêmicas: São relatados hipotensão arterial, tonturas, escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais e diarreia, que se relacionam às ações Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE neurotóxica e a estimulação vagal. As complicações mais evidentes em acidentes botrópicos se repetem para intercorrências com serpentes laquéticas, sendo possível a ocorrência de necrose, síndrome compartimental, infecções secundárias e abcessos, além de déficit funcional. Por apresentarem sintomas muito semelhantes, é necessário que ocorra uma investigação acertada para diferenciação entre acidentes mediados por botrópicos (jararacas) e laquéticos (surucucus), seja ela por meio de ensaios enzimáticos, pela observação clínicas de sintomas da síndrome vagal ou por identificação morfológica da serpente. Gênero Crotalus: apresenta espécies de serpentes terrestres, robustas e pouco ágeis. Esses animais têm por principal característica a presença de um chocalho/guizo no final da cauda, formado por uma modificação da coluna vertebral e recoberto por anéis de pele residuais de mudas passadas. A linha vertebral é bem pronunciada nesse grupo, que também apresenta coloração castanho-claro sobre a qual se destacam manchas marrons em forma de losango que são contornadas por linhas brancas ou amarelas. o Crotalus durissus (cascavel): possui ampla distribuição geográfica, habitando o Cerrado, regiões áridas e semiáridas nordestinas e os campos abertos do Sul, Sudeste e Norte. A subespécie endêmica no Nordeste é a Crotalus durissus cascavella, residente na Caatinga e que possui porte avantajado, com cerca de 1,6m de comprimento. O veneno das cascavéis apresenta três mecanismos de ação distintos, a saber: 1. Ação neurotóxica: Produzida principalmente pela crotoxina, componente responsável pela elevada toxicidade do veneno. Toxina pré-sináptica, age nas terminações nervosas motoras inibindo a liberação de ACh pelos impulsos nervosos, principal causa de bloqueio neuromuscular e, consequentemente, das paralisias motoras e respiratórias observadas nas vítimas. 2. Ação miotóxica: A capacidade de produzir lesões nas fibras de músculos esqueléticos (rabdomiólise) é atribuída a crotoxina e crotamina de forma sistêmica, uma vez que as biópsias para análise desses fenômenos são realizadas num local afastado do sítio de inoculação. 3. Ação coagulante: Atribuída à presença de componentes tipo trombina, com propriedades semelhantes às encontradas no veneno das serpentes do gênero Bothrops, capazes de prolongar o tempo de coagulação ou causar incoagulabilidade sanguínea. A degradação constante de fibrinogênio em fibrina pode causar o esgotamento das reservas dessa proteína (afibrinogenemia). Geralmente não há redução do número de plaquetas. As Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas. As manifestações clínicas desses acidentes, assim como é observado em outras serpentes, divide-se em local e sistêmica: Manifestações locais: As marcas das presas podem ser encontradas tanto com edema e eritema discretos como também sem qualquer um desses indícios. Não há dor, ou se existe, manifesta-se em baixa intensidade. Queixas de parestesia (perda de sensibilidade) podem ser observadas, restritas ou não ao local de inoculação. Manifestações sistêmicas: o Gerais: mal-estar, prostração, sudorese, náuseas, vômitos, sonolência ou inquietação e secura da boca podem aparecer precocemente e estar relacionadas a estímulos de origem diversas, nos quais devem atuar o medo e a tensão emocional desencadeados pelo acidente; o Neurológicas: decorrem da ação neurotóxica do veneno, surgem nas primeiras 3 a 6 horas após a picada, e caracterizam o fácies miastênica (fácies neurotóxica de Rosenfeld) evidenciadas por ptose (rebaixamento) palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face, alteração do diâmetro pupilar, incapacidade de movimentação do globo ocular (oftalmoplegia), podendo existir dificuldade de acomodação (visão turva) e/ou visão dupla (diplopia). A manutenção da boca em posição semiaberta e a dificuldade em abrir os olhos deixam a feição do paciente semelhante àquela de um indivíduo alcoolizado, o que pode auxiliar no diagnóstico. Como manifestações menos frequentes, pode-se encontrar dificuldade à deglutição, diminuição do reflexo do vômito, alterações do paladar e olfato. A regressão desses sintomas ocorre de 3 a 4 dias após o tratamento; o Musculares: a ação miotóxica provoca dores musculares generalizadas (mialgias) que podem aparecer precocemente ou serem referidas durante compressão do músculo. A fibra esquelética lesada libera quantidades variáveis de mioglobina que é excretada pela urina (mioglobinúria), conferindo-lhe uma cor avermelhada ou de tonalidade mais escura, até o marrom. A mioglobinúria constitui a manifestação clínica mais evidente da necrose da musculatura esquelética (rabdomiólise); o Distúrbios da Coagulação: pode haver incoagulabilidade sanguínea ou aumento do tempo de coagulação, observando-se raramente sangramentos restritos às gengivas. Manifestações clínicas pouco frequentes: Insuficiência respiratória aguda, fasciculações e paralisia de grupos Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE musculares podem ser relatadas. Tais fenômenos são interpretados como decorrentes da atividade neurotóxica e/ou da ação miotóxica do veneno. Com base nas manifestações clínicas, o envenenamento crotálico pode ser classificado em: Leve: caracteriza-se pela presença de sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de aparecimento tardio, sem mialgia ou alteração da cor da urina ou mialgia discreta; Moderado: caracteriza-se pela presença de sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de instalação precoce, mialgia discreta e a urina pode apresentar coloração alterada; Grave: os sinais e sintomas neurotóxicos são evidentes e intensos(fácies miastênica, fraqueza muscular), a mialgia é intensa e generalizada, a urina é escura, podendo haver oligúria ou anúria. Complicações podem ocorrer em pacientes, sendo mais prevalentes naqueles com casos graves ou que obtiveram ajuda médica tardia. As evoluções mais comuns são a insuficiência renal aguda promovida pela manutenção da rabdomiólise, necessitando de rápida intervenção para manutenção da qualidade de vida, e a insuficiência respiratória aguda, secundária a paralisia muscular e de caráter transitório. 3. Família Elapidae: As serpentes que são englobadas por essa categoria apresentam aparelho inoculador do tipo proteróglifo, e são amplamente dispersas pelo mundo. No Brasil, as principais representantes dessa família são as cobras corais, porém najas e mambas africanas também são expoentes desse grupo. Essas serpentes apresentam cabeça oval, recoberta por grandes placas simétricas (condição que é associada a cobras não venenosas), não possuem fossetas loreais e os olhos são pequenos e pretos, com pupila elíptica e vertical, geralmente inseridos numa listra preta na cabeça. O corpo desses animais é recoberto por escamas lisas e a cauda é curta e roliça, estruturas que, junto ao desenvolvimento de musculatura cervical forte e ao forte arcabouço ósseo da cabeça da cobra, remetem a sua habilidade de escavar tocas na região superficial do solo. A coloração dessa família é característica, marcada por cores vivas e anéis completos de cor vermelha, amarela/branca e preta, com essas últimas porções dispostas de forma isolada ou em tríades. Seu mecanismo de reprodução baseia-se na postura de ovos em formigueiros, buracos no solo ou em troncos em decomposição. A pequena abertura mandibular e o comprimento reduzido das presas inoculadoras tornam difícil e superficial a injeção de veneno, o que é compensado pelo hábito de mordida sem soltar, aumentando o tempo de inoculação. As limitações anatômicas e a baixa agressividade dessas cobras explicam o baixo índice de acidentes com seres humanos, mais frequentes em indivíduos que manipulam constantemente o animal. Além da coloração vívida de caráter aposemático (cor de advertência), as cobras corais apresentam um Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE interessante mecanismo de defesa que consiste em contorcer o corpo e esconder a cabeça, erguendo a cauda enrolada, comportamento mimetizado pela Família Colubridae, compostas pelas corais falsas. Gênero Micurus: o Micurus corallinus: possuem anéis pretos simples entre dois brancos, encontrada principalmente na faixa litorânea, desde Ilhéus até o noroeste do Rio Grande do Sul. Aparecem depois das chuvas, adentrando as casas em busca de locais secos, uma vez que suas tocas no solo se tornam inviáveis. Têm comprimento médio de 50cm para machos, que possuem cauda larga, e 60cm para fêmeas, com cauda mais estreita. O veneno desse gênero de serpentes possui neurotoxinas (NTX) com dois mecanismos de ação: 1. NTX de ação pré-sináptica: Estão presentes em algumas corais (M. coralliunus) e também em alguns viperídeos, como a cascavel sul- americana. Atuam na junção neuromuscular, bloqueando a liberação de ACh pelos impulsos nervosos, impedindo a deflagração do potencial de ação. Esse mecanismo não é antagonizado pelas substâncias anticolinesterásicas. 2. NTX de ação pós-sináptica: Podem ser rapidamente absorvidas para a circulação sistêmica, difundidas para os tecidos, explicando a precocidade dos sintomas de envenenamento. As NTXs competem com a acetilcolina (ACh) pelos receptores colinérgicos da junção neuromuscular, atuando de modo semelhante ao curare. Nos envenenamentos onde predomina essa ação, o uso de substâncias anticolinesterásticas (edrofônio e neostigmina) pode prolongar a vida média do neurotransmissor, levando a uma rápida melhora da sintomatologia. A ação miotóxica pode ser mascarada ou induzida pelo padrão tóxico das frações desse veneno, que induzem a mionecrose por meio do influxo excessivo de cálcio para o citoplasma celular, que promove a hipercontração dos microfilamentos e danos mitocondriais, culminando na degradação celular. Em relação ao quadro clínico, os sintomas podem surgir precocemente, em menos de uma hora após a picada. Recomenda-se a observação clínica do acidentado por 24 horas, pois há relatos de aparecimento tardio dos sintomas e sinais. Manifestações locais: A presença de marcas das presas inoculadoras é variável, podendo aparecer totalmente, evidenciar apenas um colmilho ou não indicar a perfuração, situação esta que não pode descartar a ocorrência de envenenamento. Há discreta dor local, geralmente acompanhada de parestesia com tendência a progressão proximal. Manifestações sistêmicas: A ocorrência desses sintomas tem ponto de partida variável, entre minutos a horas após a picada e, quando iniciada, tende a progredir até que se deflagre o tratamento correto. Inicialmente, o Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE paciente pode apresentar vômitos. Posteriormente, pode surgir um quadro de fraqueza muscular progressiva, ocorrendo ptose palpebral, oftalmoplegia e a presença de fácies miastênica ou “neurotóxica” (semelhante às feições de alguém embriagado). Associadas a estas manifestações, podem surgir dificuldades para manutenção da posição ereta, mialgia localizada ou generalizada e dificuldade para deglutir em virtude da paralisia do véu palatino. A paralisia flácida da musculatura respiratória compromete a ventilação, podendo haver evolução para insuficiência respiratória aguda e apneia. O prognóstico é favorável mesmo nos casos graves, desde que haja atendimento adequado quanto à soroterapia e assistência ventilatória. ARANHAS: As aranhas pertencem ao filo dos artrópodes que tem como característica exclusiva a presença de um exoesqueleto de quitina, que fornece sustentação e impede a perda de água para o meio externo. Esses animais habitam todos os continentes, com exceção da Antártica, sendo encontrados tanto em ambientes aquáticos quanto terrestres. Esse grupo de aracnídeos é encontrado em teias geométricas ou irregulares, buracos no solo, fendas de barrancos, em árvores ou arbustos, mas pode viver nas moradias humanas, em depósitos e garagens escuras. O hábito alimentar de todas as aranhas é carnívoro, sendo suas principais presas os insetos, mas também sendo capaz de predar outras aranhas e animais maiores, como lagartas, rãs e roedores. Sua vida é geralmente solitária, porem algumas espécies podem contar com hábitos sociais mais ou menos desenvolvidos. O corpo das aranhas se divide em prossoma (cefalotórax) e opistossoma (abdome), unidos por um pedicelo, segmento estreito que permite a passagem do intestino, nervos e hemolinfa. No cefalotórax são articulados eis apêndices, sendo duas quelíceras com dois segmentos (basal e ferrão para inoculação de veneno e apreensão de alimento), um par de pedipalpos com seis segmentos que age como órgão sensorial (o último segmento age, nos machos, como bulbo copulador) e quatro pares de apêndices locomotores com sete segmentos. No cefalotórax estão situados os olhos, normalmente em número de 8, dispostos em duas ou três filas, organização esta que auxilia na diferenciação entre gêneros e espécies. A visão desses animais é quase sempre pouco desenvolvida, permitindo a diferenciação entre luz e sombra, o que é corrigido pela capacidade de orientação por meio de cerdas sensitivas (tricobótrias), espalhadas por todo o corpo e mais adensadas nos palpos. No abdome, em sua porção posterior, estão localizadas as fiandeiras, dispostasem até 3 pares, possuindo aberturas por onde a seda é secretada, substância essa que auxilia as aranhas durante toda a sua vida, seja para a captura de alimento, para fins reprodutivos (teia espermática) ou para movimentação (balonismo). Ainda que a presença de glândulas de veneno nas quelíceras seja uma característica presente em quase todas as espécies é notável que nem todas são capazes de provocar acidentes com seres humanos, seja pela toxicidade baixa da substância, inoculação em quantidade insuficiente, quelíceras pouco perfurantes ou pelo fato de viverem em ambientes afastados em relação ao homem. Dos quatro gêneros associados pela OMS a interações Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE prejudiciais com seres humanos, três estão presentes no Brasil, a saber: 1. Gênero Phoneutria – Aranha- armadeira: A espécie mais prevalente na Bahia é a P. bahiensis. Possuem 8 olhos dispostos em três fileiras 2-4-2 e uma escova de pelos curtos e densos na ponta dos palpos, características essas observáveis com uma lupa, uma vez que o tamanho médio desse animal é de 15cm (incluindo as pernas). O corpo é coberto por pelos curtos de tonalidade marrom acinzentada ou amarelada, podendo apresentar no dorso do abdome um desenho formado por manchas longitudinais e filas oblíquas de tom claro. O ventre pode ser negro, alaranjado ou marrom. Seus hábitos são noturnos, caçando e imobilizando suas presas por meio do veneno. Não vivem em teias, passando o dia escondidas sob troncos, bananeiras, bromélias e palmeiras, além de habitarem residências humanas, fixando-se em locais escuros e úmidos como sapatos, atrás de móveis e cortinas. A atividade desses animais é maior no período de acasalamento, que ocorre entre março e abril. Todas as espécies desse gênero são agressivas e, quando ameaçadas, apoiam- se nas pernas traseiras, erguendo seus palpos e as pernas dianteiras, podendo pular em direção ao inimigo e picá-lo com rapidez. Os acidentes ocorrem em áreas urbanas, no intra e peridomicílio, atingindo principalmente os adultos de ambos os sexos. As picadas ocorrem preferencialmente em mãos e pés. Estudos experimentais demonstram que o veneno bruto e a fração purificada PhTx2 da peçonha causam ativação e retardo da inativação dos canais neuronais de sódio. Este efeito pode provocar despolarização das fibras musculares e terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo, favorecendo a liberação de neurotransmissores, principalmente acetilcolina e catecolaminas. Recentemente, também foram isolados peptídeos do veneno que podem induzir tanto a contração da musculatura lisa vascular quanto o aumento da permeabilidade dos vasos, por ativação do sistema calicreína-cininas e de óxido nítrico, independentemente da ação dos canais de sódio. O conhecimento destas ações pode auxiliar na compreensão da fisiopatologia do envenenamento, principalmente em relação à presença da dor local, priapismo, choque e edema pulmonar. Em relação ao quadro clínico, predominam os sintomas locais. A dor imediata é o sintoma mais frequente, sendo raros os casos de pacientes assintomáticos após a picada. Sua intensidade é variável, podendo se irradiar até a raiz do membro acometido. Outras manifestações são vômitos, edema, eritema, parestesia e sudorese no local da picada, onde podem ser visualizadas as marcas de dois pontos de inoculação, todas essas manifestações de início rápido e progressão rápida. Conforme a presença de sintomas e agravos sistêmicos, os casos de acidentes com aranhas-armadeiras podem se diferenciar em: Leves: são os mais frequentes. Os pacientes apresentam predominantemente sintomatologia local. A taquicardia e agitação, eventualmente presentes, podem ser secundárias à dor; Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE Moderados: associadas às manifestações locais, aparecem alterações sistêmicas, como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese discreta, agitação psicomotora, visão “turva” e vômitos ocasionais; Graves: são raros, praticamente restritos às crianças. Além das alterações citadas nas fornias leves e moderadas, há a presença de uma ou mais das seguintes manifestações clínicas: sudorese profusa, sialorreia, vômitos frequentes, diarreia, priapismo, hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e edema pulmonar agudo. O prognóstico para esse tipo de acidentes é bom. Lactantes e crianças em idade pré-escolar, assim como os idosos, devem ser mantidos em observação por pelo menos seis horas para garantir a reversão do quadro de envenenamento. 2. Gênero Loxosceles – Aranha-marrom: Na região Nordeste, a aranha mais expressiva pertencente a esse gênero é a L. amazonica. Apresentam seis olhos de cor branca dispostos em pares. O cefalotórax é baixo, não superando em altura o abdome, as quelíceras são soldadas na base, movendo-se em conjunto, características visíveis com lupa, uma vez que o tamanho total dessa aranha é de 3cm. A tonalidade mais frequente nesses animais é um marrom acinzentado, podendo haver no cefalotórax o desenho de uma estrela. A diferenciação entre as múltiplas espécies se dá por alterações morfológicas no bulbo copulador e na proporção dos segmentos articulares das pernas. Seus hábitos são noturnos, vivendo em teias irregulares que cobrem fendas em barrancos, sob e junto a raízes de árvores e folhagens, bambuzais e cavernas. Nas residências, principalmente em locais de clima frio, podem se esconder atrás de móveis, em garagens, junto a entulhos de telhas ou madeira, às vezes se acomodando em peças de roupa. São pouco agressivas, picando somente quando pressionadas contra o corpo. A maioria dos acidentes por Loxosceles notificados se concentra nos estados do Sul, particularmente no Paraná e Santa Catarina. O acidente atinge mais comumente adultos, com discreto predomínio em mulheres, ocorrendo no intradomicílio. Observa-se uma distribuição centrípeta das picadas, acometendo coxa, tronco ou braço. O veneno desse gênero de aranhas é responsável pela dermonecrose no local da picada, marcadamente a principal característica do envenenamento, progredindo para hemólise intravascular. Esses efeitos advêm de ações diretas e Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE indiretas do veneno sobre o organismo, sendo a manifestação cutânea um exemplo da ocorrência de lesões, inicialmente influenciada pela presença de tóxicos no meio intravascular e intracelular, sendo amplificada posteriormente pelas respostas imunes do organismo. Há indicações de que o componente mais importante do veneno loxoscélico é a enzima esfingomielinase-D que atua sobre os constituintes das membranas das células, principalmente do endotélio vascular e hemácias. Em virtude desta ação, são ativadas as cascatas do sistema complemento, da coagulação e das plaquetas, desencadeando intenso processo inflamatório no local da picada, acompanhado de obstrução de pequenos vasos, edema, hemorragia e necrose focal. A picada é quase sempre imperceptível, e, como as manifestações necróticas se desenvolvem num amplo espaço de tempo, a maioria dos casos é atendida por um profissional de saúde entre 12 a 48 horas após a inoculação, sendo necessário admitir o paciente por no mínimo 36 horas para que o diagnóstico possa ser feito de maneira acertada. As manifestações clínicas dos acidentes loxoscélicos dividem-se em: Forma cutânea: É a manifestação mais comumente descrita. De instalação lenta e progressiva, é caracterizada por dor, edema endurado e eritema no local da picada que são pouco valorizados pelo paciente, geralmente surgindo 6 horasapós a picada. Há uma acentuação nos sintomas após 24 a 36 horas do acidente, com evolução da lesão para áreas equimóticas mescladas com palidez (placa marmórea) circundada por eritema, que podem disseminar-se e atingir o dobro do tamanho da lesão inicial. Esse movimento progressivo pode causar empastamento doloroso da região, aumentando conforme o quadro se instala. Devido à presença da hialuronidase as lesões tentem a se agravar gravitacionalmente (de cima para baixo). A dor se intensifica e passa a ser referida como queimadura. Após cerca de 5 a 7 dias a lesão passa a se delimitar até formar uma crosta necrótica seca, sendo incomum a presença de infecções secundárias. Após mais duas ou três semanas essa crosta se desprende, formando uma úlcera que, sem a realização de cirurgias reparadoras, apresenta-se como de difícil cicatrização, cujo tempo relaciona-se à perda tecidual, não sendo possível atribuir a velocidade de cicatrização a efeitos prolongados da toxina. Acompanhando o quadro local, alterações do estado geral têm sido descritas, sendo as mais comumente referidas: astenia, febre alta nas primeiras 24 horas, cefaleia, exantema morbiliforme, prurido generalizado, petéquias, mialgia, náusea, vômito, visão turva, diarreia, sonolência, obnubilação, irritabilidade, coma. Picadas em regiões de acúmulo de tecido adiposo tentem a evoluir com lesões mais profundas e extensas, corroborando a presença de fatores anatômicos como determinantes para a evolução do quadro. Em picadas na face pode ocorrer a “forma edematosa da face”, na qual edema acentuado e eritema são as únicas manifestações. Forma cutânea-visceral (hemolítica): Forma mais grave de acidente loxoscélico, além do comprometimento cutâneo, observam-se manifestações Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE clínicas em virtude de hemólise intravascular como anemia, icterícia e hemoglobinúria que se instalam geralmente nas primeiras 24 horas. Este quadro pode ser acompanhado de petéquias e equimoses, relacionadas à coagulação intravascular disseminada. Os casos graves podem evoluir para insuficiência renal aguda, de etiologia multifatorial (diminuição da perfusão renal, hemoglobinúria e coagulação disseminada), principal causa de óbito no loxoscelismo. Com base nas alterações clínico-laboratorais e identificação do agente causal, o acidente loxoscélico pode ser classificado em: Leve: observa-se lesão incaracterística sem alterações clínicas ou laboratoriais e com a identificação da aranha causadora do acidente. O paciente deve ser acompanhado durante pelo menos 72 horas, uma vez que mudanças nas características da lesão ou presença de manifestações sistêmicas exige reclassificação de gravidade; Moderado: o critério fundamental baseia- se na presença de lesão sugestiva ou característica, mesmo sem a identificação do agente causal, podendo ou não haver alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo, cefaleia e mal-estar; Grave: caracteriza-se pela presença de lesão característica e alterações clínico- laboratoriais de hemólise intravascular. Complicações podem surgir nas duas formas de ações tóxicas, sendo infecções secundárias, perda tecidual e cicatrizes desfigurantes um marcador de agravos locais, e a insuficiência renal aguda caracterizando uma complicação sistêmica. Na maioria dos casos, o prognóstico é bom. Nos casos de ulceração cutânea, de difícil cicatrização, podem ocorrer complicações no retorno do paciente às atividades rotineiras. A hemólise intravascular, quando presente, pode levar a quadros graves e neste grupo estão incluídos os raros óbitos. 3. Gênero Latrodectus – Viúva-Negra: O abdome das aranhas pertencentes a esse grupo é bastante globoso, com os olhos dispostos em duas fileiras de 4. O último segmento do quarto par de persas apresenta um pente de cerdas, mas isso só pode ser observado com lupa, uma vez que o tamanho médio desses animais é de 2cm para fêmeas e 3mm para machos, sendo que somente elas são responsáveis pelos acidentes com seres humanos. A coloração das espécies brasileiras é negra e vermelha ou verde/acinzentado com laranja. No ventre desses animais é bem visível um desenho em forma de ampulheta com tonalidade rubra ou laranja. As fêmeas constroem suas teias irregulares no meio de vegetações arbustivas e gramíneas ocupando buracos no solo causados por erosão, mas podem se alojar, em ambientes urbanos, em latas vazias, calhas de água de chuva ou pneus velhos. Os machos vivem na teia da fêmea e têm vida curta, morrendo após a cópula para servir de alimento para a parceira. Essas aranhas não são agressivas, atacando somente quando são pressionadas contra o corpo da vítima. Para sua defesa, muitas vezes se desprendem da teia, Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE permanecendo imóveis por alguns momentos como se estivessem mortas. Os acidentes por Latrodectus têm sido relatados na região Nordeste, principalmente em pacientes do sexo masculino na faixa etária de 10 a 30 anos. A alpha-latrotoxina é o principal componente tóxico da peçonha da Latrodectus. Atua sobre terminações nervosas sensitivas provocando quadro doloroso no local da picada. Sua ação sobre o sistema nervoso autônomo leva à liberação de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos e, na junção neuromuscular pré- sináptica, altera a permeabilidade aos íons sódio e potássio. As manifestações clínicas desses acidentes dividem-se em: Manifestações locais: Geralmente, o quadro se inicia com dor local de pequena intensidade, evoluindo para sensação de queimadura 15 a 60 minutos após a picada. Pápula eritematosa e sudorese localizada são observadas em 20% dos pacientes. Podem ser visualizadas lesões puntiformes com 1 a 2 mm de espaço entre elas. Na área da picada há referência de hiperestesia (aumento de sensibilidade) e pode ser observada a presença de placa urticariforme acompanhada de infarto ganglionar regional. Manifestações sistêmicas: o Gerais: aparecem nas primeiras horas após o acidente, sendo referidas: tremores, ansiedade, excitabilidade, insônia, cefaleia, prurido, eritema de face e pescoço. Há relatos de distúrbios de comportamento e choque nos casos graves; o Motoras: dor irradiada para os membros inferiores, acompanhada de contraturas musculares periódicas, movimentação incessante, atitude de flexão no leito, marcada por hiperreflexia ósteo-músculo-tendinosa constante. É frequente o aparecimento de tremores e contrações espasmódicas dos membros. Dor abdominal intensa, acompanhada de rigidez e desaparecimento do reflexo cutâneo-abdominal, pode simular um quadro de abdome agudo. A contratura facial e o trismo dos masseteres caracteriza o fásceis latrodectísmica; o Cardiovasculares: opressão precordial, com sensação de morte iminente, taquicardia inicial e hipertensão seguidas de bradicardia; o Digestivas: náuseas e vômitos, sialorreia, anorexia e obstipação; o Geniturinárias: retenção urinária, dor testicular, priapismo e ejaculação; o Oculares: ptose e edema bipalpebral, hiperemia conjuntival, midríase. As complicações presentes na literatura internacional como choque e edema agudo de pulmão não são evidentes no Brasil. Júlia Figueirêdo – LPI DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE ESCORPIÕES: Os escorpiões são aracnídeos quelicerados facilmente reconhecidos por sua aparência característica. O corpo é segmentado tal como o das aranhas, com cefalotórax e abdome, esse último dividido em 12 metâmeros. Os 7 primeiros metâmeros formam o mesossoma, constituído por placas dorsais e ventrais, e os 5 últimos compõem o metassoma
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