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2021 - Manhiça, Milton Maria. A Automedicação na Cidade de Maputo Uma Análise dos Significados para os Residentes do Bairro Polana Caniço "A"

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Prévia do material em texto

Milton Maria Manhiça 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Automedicação na Cidade de Maputo: Uma Análise dos Significados para os Residentes 
do Bairro Polana Caniço “A” 
Licenciatura em Antropologia com Habilitação em Estudos Étnicos e Africanos 
 
 
 
 
 
 
Universidade Pedagógica de Maputo 
Maputo 
2021 
 
 
 
 
Milton Maria Manhiça 
 
 
 
 
 
A Automedicação na Cidade de Maputo: Uma Análise dos Significados para os Residentes 
do Bairro Polana Caniço “A” 
 
Monografia apresentada ao Departamento 
Pedagógico da Faculdade de Ciências Sociais e 
Filosofia para a obtenção do grau académico de 
Licenciatura em Antropologia com Habilitação em 
Estudos Étnicos Africanos. 
 
Supervisor: Mestre Arlindo João Uate 
 
 
 
Universidade Pedagógica de Maputo 
Maputo 
2021 
 
 
 
Índice 
Declaração........................................................................................................................................I 
Dedicatória......................................................................................................................................II 
Agradecimentos.............................................................................................................................III 
Resumo..........................................................................................................................................IV 
Abstract...........................................................................................................................................V 
1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………..…….6 
2. CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE 
PESQUISA…………………………………………………………..………………………...….9 
2.1. Revisão da Literatura................................................................................................................9 
2.2. Formulação do Problema de Pesquisa....................................................................................15 
3. CAPÍTULO II: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL……………..………..17 
3.1.Enquadramento teórico............................................................................................................17 
3.2. Definição de Conceitos……………………………..……………………………………….19 
4. CAPÍTULO III: METODOLOGIA DO TRABALHO………………..………………………21 
4.1. Método de abordagem.............................................................................................................21 
4.2. Método de procedimento........................................................................................................21 
4.3. Técnicas de recolha de dados..................................................................................................22 
4.4. Técnicas de análise de dados..................................................................................................23 
4.5. Universo e amostra.................................................................................................................23 
4.6. Questões éticas na pesquisa....................................................................................................24 
4.7. Constrangimentos...................................................................................................................24 
5. CAPÍTULO IV: ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS.......................................................25 
5.1. Localização e Características Gerais do Bairro Polana Caniço "A".......................................25 
 
 
 
5.2. Perfil Sócio-Demográfico dos Entrevistados..........................................................................29 
5.3. Trajectória dos Indivíduos que se Automedicam no Bairro Polana Caniço "A"....................31 
5.4. Lógicas que Orientam os Residentes do Bairro Polana Caniço "A" na Automedicação........34 
5.5. Das Lógicas aos Significados da Automedicação para os Residentes do Bairro Polana 
Caniço "A".....................................................................................................................................37 
6. CONCLUSÃO...........................................................................................................................39 
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………….…….41 
8. APÊNDICES.............................................................................................................................43 
8.1. Apêndice 01: Guião de entrevista para as Autoridades Comunitárias…………..…………..43 
8.2. Apêndice 02: Guião de entrevista para os residentes do Bairro Polana Caniço "A"…..…....44 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
i 
 
 
ii 
DEDICATÓRIA 
Dedico este trabalho a minha mãe, Maria Jossefa Manhiça e aos meus irmãos, fazendo votos que 
sigam os passos do irmão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
iii 
AGRADECIMENTOS 
Agradeço em primeiro lugar a Jeová, Deus Todo-Poderoso, por tudo que tem feito na minha 
vida. 
A minha mãe, Maria Jossefa Manhiça pelo amor e carinho e, que desde cedo, enfrentando muitos 
sacrifícios, soube dar valor aos meus estudos. Amo-te mãe! 
Ao meu supervisor, Mestre Arlindo João Uate, por todo o apoio e pela sua imensurável atenção 
ao trabalho. Foi, para mim, mais do que um supervisor, foi uma fonte de inspiração. Muito 
obrigado Professor! 
Ao professor Anselmo Chizenga pela revisão feita no trabalho. 
Aos meus familiares, pelo apoio moral e material, o meu muito obrigado. 
Aos residentes do Bairro Polana Caniço “A”, por terem aceitado participar nesta pesquisa, e de 
igual modo, agradeço aos funcionários da Secretaria do Bairro Polana Caniço “A”. 
Aos meus Professores do curso com particular destaque para: Aurélio Miambo, José Raimundo, 
Paulo Mahumane, Alípio Siquisse, Carlos Manjate, Martinho Pedro, Arcanjo Nharucué e Stélia 
Muianga. 
Aos meus colegas do curso, Antropologia 2017, particularmente ao colega César Gremo Nota, o 
meu muito obrigado pela colaboração. 
Por último, quero agradecer a todos que não foram aqui mencionados, mas que tornaram possível 
a realização deste trabalho, o meu muito obrigado. 
 
 
 
 
 
 
iv 
RESUMO 
O estudo analisa os significados da automedicação para os residentes do Bairro Polana Caniço 
“A” na Cidade Maputo. O objectivo geral é compreender os significados que os residentes 
atribuem a esta prática. Os casos da automedicação de 2016 à actualidade, tem aumentado cada 
vez mais no nosso país e esta problemática constitui uma grande preocupação para o Serviço 
Nacional de Saúde (SNS). Para a análise dos resultados recolhidos no campo, pautamos pela 
articulação de duas teorias, a teoria interpretativa de Clifford Geertz (1989) e a teoria 
fenomenológica de Afred Schutz (1979), cingimo-nos nestas teorias pelo facto delas olharem 
para os significados e partirem do princípio que o conhecimento que o indivíduo forma em torno 
da realidade social é resultado de uma construção social onde o pensamento e contexto social 
surgem como elementos relevantes neste processo. O estudo segue uma abordagem qualitativa, 
onde recorremos ao método monográfico e método de histórias de vida, e nas técnicas de recolha 
dados recorremos a pesquisa bibliográfica, a observação directa, entrevista semi-estruturada e 
conversas informais. Os resultados mostram que há vários significados que os residentes 
atribuem a automedicação, para alguns visto como evitar a morte, para outros significa bem-estar 
e, a principal conclusão que chegamos é que a automedicação acima de tudo tem um significado 
cultural, que ao longo do tempo foi ganhando o “status” na vida dos residentes do Bairro e, 
passaram a ter a automedicação como um hábito ou como um costume nas suas vidas e por isso 
que eles se automedicam. 
Palavras-chave: Automedicação, Cultura, Significados, Polana Caniço “A” e Maputo. 
 
 
 
 
 
 
 
v 
ABSTRACT 
The study analyzes the meanings of self-medication for the residents of Polana Caniço “A” in 
Maputo City, and themain objective is to understand the meanings that residents give to self-
medication. The cases of self-medication from 2016 to the present, have increased in our country 
and this problem is of a major concern for the National Health System (SNS). For the analysis of 
the results gathered in the field, we opted for articulating two theories, namely the interpretative 
theory of Clifford Geertz (1989) and the phenomenological theory of Alfred Schutz (1979). We 
focus on these theories as they look at the meanings and assume that the knowledge that an 
individual forms around the social reality is the result of a social construction where thought and 
social context emerge as relevant elements in this process. To conduct the study, we opted for a 
qualitative approach, where we resorted to monographic method and life stories method, and 
data collection techniques, bibliographic research, direct observation, semi-structured interviews 
and informal conversations. The results show that the meanings that individuals give to self-
medication are various. For some, self-medication means preventing death, for others, it means 
well-being, and the main conclusion we reached is that self-medication has a cultural meaning, 
which has, over time, gained “status” in the lives of the residents, and they have self-medication 
as a habit in their lives and this is why they self-medicate. 
Keywords: Self-medication, Culture, Meanings, Polana Caniço “A” and Maputo. 
 
 
 
 
6 
1. INTRODUÇÃO 
A automedicação refere-se ao uso de medicamentos sem uma indicação médica, ou seja, 
automedicação é a utilização de medicamentos por conta própria ou por indicação de pessoas não 
habilitadas, para o tratamento de doenças cujos sintomas são percebidos pelo usuário, sem 
avaliação prévia de um profissional de saúde (Iurasa et al, 2016). 
A automedicação é uma prática que se verifica desde há muitos anos e que desde sempre que os 
indivíduos recorrem à medicamentos sem prescrição médica para alívio de várias dores, e 
actualmente, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a automedicação é um fenómeno 
em crescimento em quase todas sociedades do mundo e, este facto poderá estar relacionado com 
a familiarização que os indivíduos hoje em dia têm com os medicamentos, o que faz com que por 
vezes se torne num acto desregrado (apud, Peixoto, 2008). 
Em Moçambique, com base no relatório do Ministério da Saúde (2006), pode se afirmar que a 
situação da automedicação mostra-se cada vez mais crescente e que esta problemática constitui 
uma grande preocupação para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Visto também que, cada vez 
mais o homem não hesita quando se trata de aliviar os seus sintomas, e por vezes não apresenta 
conhecimentos suficientes para tomar decisões em relação ao uso de medicamentos, mas mesmo 
assim há uma crescente onda de pessoas que automedicam (Peixoto, 2008). 
O Ministério da Saúde na pessoa do Seu Ministro Armindo Tiago, em declaração ao Jornal 
Domingo (31 de Janeiro de 2021), referiu que são muitos os casos de pacientes, que chegam às 
unidades sanitárias “graves” depois de terem ingerido diversos medicamentos, o que em algumas 
situações complica o seu estado de saúde e dificulta o processo de recuperação, e por isso que, o 
ministro desencoraja a automedicação nas pessoas, porque a automedicação é algo errado, e a 
automedicação pode levar à morte. Porém, nas sociedades moçambicanas, mesmo com este 
apelo, a prática da automedicação prevalece. É justamente dentro desta problemática que surge 
esta pesquisa, visando compreender os significados que os residentes do Bairro Polana Caniço 
“A” atribuem a automedicação. 
 
 
7 
O interesse pelo tema surge a partir da convivência com os meus avôs e eles optam pela 
automedicação, isso antes de consultarem um especialista em saúde e, por conta da 
automedicação já perdemos um membro da família, que se automedicou e o medicamento não 
reagiu como era suposto e, quando o acompanhamos ao hospital já era tarde e perdeu a vida, e os 
médicos levantaram a possibilidade da causa principal da morte do paciente ter sido o 
medicamento por ele ingerido, que não era adequado para a enfermidade que ele sentia e por isso 
reagiu “mal”. 
Tendo em conta que a automedicação é um fenómeno social e que hoje em dia tem se falado 
muito dele nos mídias, assim como em fóruns académicos e tratando-se de um problema de 
saúde pública no nosso país, assim, reflectir sobre a automedicação mostra-se pertinente ao 
alargarmos o nosso entendimento sobre o assunto ao trazer mais subsídios de reflexão. 
O facto de ter-se constatado através da pesquisa bibliográfica, que em Moçambique os estudos 
sobre esse fenómeno no que diz respeito aos significados da automedicação ainda se mostram 
escassos, espera-se que esta monografia venha a ser um contributo para academia (em geral) e, 
para a Antropologia (em particular), visto também que, a abordagem em torno da automedicação, 
permite deste modo examinar as conexões entre os modelos de práticas, que suportam as 
organizações dos serviços e programas de saúde1. 
No âmbito social, o estudo trás uma imagem mais ou menos aproximada sobre o quotidiano dos 
residentes do Bairro Polana Caniço “A” no que diz respeito a prática da automedicação e, 
esperamos que está monografia seja útil na medida em que os dados que foram recolhidos no 
campo sirvam como forma de apresentar os diferentes significados que se pode atribuir a prática 
da automedicação. 
O objectivo geral do trabalho consiste em compreender os significados da automedicação para os 
residentes do Bairro Polana Caniço “A” na Cidade de Maputo. E especificamente pretende-se: a) 
traçar a trajectória dos residentes que se automedicam no Bairro Polana Caniço A; b) descrever 
as lógicas que orientam os residentes do Bairro Polana Caniço “A” na automedicação; e c) 
analisar os significados da automedicação para os residentes do Bairro Polana Caniço “A”. 
 
1 Uchôa e Vidal (1994). 
 
8 
O trabalho encontra-se organizado em quatro capítulos, sendo: primeiro capítulo é sobre a 
Revisão da Literatura e Formulação do Problema de Pesquisa, em que procuramos fazer uma 
discussão das diferentes análises feitas no âmbito da automedicação; segundo capítulo é sobre o 
Enquadramento Teórico e Conceptual que serviu de alicerce para a pesquisa; terceiro capítulo é 
sobre a Metodologia que orientou o nosso trabalho e, quarto capítulo é sobre a Apresentação, 
Análise e Discussão de Dados, onde apresentamos aquilo que foram as nossa principais 
constatações. Depois deste capítulo segue a parte inerente a conclusão, referências bibliográficas 
e por fim, os apêndices com o guião de entrevista. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
9 
2. CAPÍTULO I: REVISÃO DA LITERATURA E FORMULAÇÃO DO 
PROBLEMA DE PESQUISA 
No presente capítulo fazemos uma discussão das diferentes abordagens no âmbito da 
automedicação e, concomitantemente fazemos a articulação dessas abordagens com o nosso 
objecto de estudo, e por conseguinte, formulamos o nosso problema de pesquisa. 
2.1. Revisão da Literatura 
A temática sobre a automedicação já foi estudada por vários autores, tanto a nível internacional 
como a nível nacional. Olhando para o contexto internacional, abaixo encontramos autores que 
abordam a questão da automedicação que na sua maioria olham para esta prática sob ponto de 
vista de risco, factores e motivações que levam os indivíduos a se automedicarem. 
Nogueira (2011), no seu estudo: Análise da Automedicação em Portugal e Seus Intervenientes, o 
autor analisa de que forma o utente opta pela automedicação, onde afirma que a automedicação 
se resume a processos de autoconfiança, e que indivíduos mais autónomos são os que se sentem 
mais competentes na adopção de comportamentos de saúde, e recorrem mais à automedicação, e 
os indivíduos menos autónomosou seja, menos autodeterminadas recorrem menos vezes à 
automedicação. O autor deixa bem claro que, os indivíduos recorrem a automedicação 
influenciados pela sociedade, e também recorrendo a automedicação evitam longas filas, mau 
tratamento, etc. 
Peixoto (2008), no seu estudo: Automedicação no Adulto, faz uma análise dos factores que levam 
os indivíduos a recorrer a automedicação em Brasil, se a praticam de forma segura e ainda se 
mostram iniciativa de procura de informação em relação aos riscos que a prática pode causar. A 
autora desenvolve um estudo usando uma abordagem quantitativa, onde para a colheita de dados, 
o instrumento usado foi o questionário. 
A autora conclui que, a principal causa que leva os indivíduos a recorrer a automedicação 
relaciona-se com sintomas considerados menores, como a gripe, constipação ou tosse, (27%). 
Verificou ainda que os indivíduos recorreram a automedicação sem procurar informações ou 
esclarecimentos sobre o medicamento que vão ingerir (63,5%) e que 54% dos indivíduos que se 
automedicam padecem de doença crónica e já se encontram a tomar diariamente medicamentos 
prescritos. 
10 
Souza et al. (2018), no seu estudo: Percepção Sobre a Automedicação: Saúde Versus Riscos 
Associados, procuram analisar a percepção sobre a automedicação em Brasil, focalizando a 
saúde e factores de riscos associados, visando caracterizar e quantificar aspectos problemáticos 
passíveis de intervenção, correcção e prevenção. Fazem um estudo quantitativo. Os resultados 
obtidos mediante o questionário respondido pelos participantes, revelaram que 65,5% dos 
indivíduos eram do género feminino, 37% do género masculino e 3% consideram-se 
homossexuais. A faixa etária de 18 e 28 anos representam maior parcela dos indivíduos da 
amostra com 65,5%. Quanto à área profissional 46,5% representam á área de Ciências 
Biológicas, Saúde e Humanas. Em relação aos motivos que levam a automedicação 88% 
responderam dor de cabeça e 92% utilizam analgésicos. 
Os autores concluem que teve um elevado percentual de automedicação no género feminino, 
atingindo mais da metade da amostra que era de 200 pessoas. E que os profissionais que mais se 
automedicam são os das Ciências Biológicas, Saúde e Humanas, o que já era esperado devido os 
mesmos terem maior acesso os medicamentos, e tendo em vista se tratar de um legítimo processo 
de autocuidado. Concluem também que os medicamentos mais utilizados foram os analgésicos, 
devido ao facto de aliviar as dores de cabeça. 
Iurasa et al. (2016), no estudo sobre: Prevalência da Automedicação entre Estudantes, procuram 
verificar se a prática da automedicação é comum entre estudantes da área de saúde da 
Universidade do Estado do Amazonas (UEA – Brasil), procuram identificar os tipos mais 
comuns de medicamentos que são utilizados sem prescrição médica e identificar os principais 
motivos que os levaram a adquirir medicamentos sem prescrição. Os autores reconhecem que o 
Brasil já ocupa a quinta posição entre os países mais consumidores de medicamentos, sendo o 
primeiro lugar na América Latina. Os estudantes quando perguntados se já fizeram uso de 
medicamentos sem prescrição médica, 89% dos estudantes universitários responderam sim e 
apenas 11% responderam não. Dor de cabeça, dores musculares, dor de garganta, febre, 
inflamações foram as principais queixas que levaram à prática de automedicação. 
Analgésicos/antipiréticos, anti-inflamatórios, antibióticos e relaxantes musculares representaram 
de acordo com os autores as principais classes de medicamentos utilizados para aliviar tais sinais 
e sintomas. Os autores concluem falando das Medidas preventivas e educativas que devem ser 
aplicadas, contribuindo para a diminuição dos riscos causados pela automedicação. 
11 
Corrêa. Galato. Alano. (2012), no estudo: Condutas Relacionadas à Automedicação de Adultos, 
fazem um estudo qualitativo baseado na técnica de grupo focal, onde avaliam a conduta de 
adultos relacionada à automedicação, buscando compreender o significado da automedicação, 
identificar quais as situações e as influências que os motivam a adoptar essa prática. Trata-se 
num estudo exploratório realizado no município de Tubarão, Santa Catarina - Brasil, onde foram 
realizados dois grupos focais nos quais 19 indivíduos participaram. Os autores dizem que a 
maioria dos indivíduos soube conceituar de maneira correcta o termo automedicação e mostram 
as principais situações relatadas como motivadoras desta prática foram dores em geral e 
transtornos relacionados às vias aéreas superiores, principalmente sob influência de pessoas 
conhecidas, funcionários de farmácia e uso de prescrições antigas. 
Os autores concluem que com a automedicação foram percebidos pelos entrevistados como 
benéficos, sobretudo para o alívio de transtornos menores, sendo citadas também várias situações 
em que foi observado o seu uso também em situações crónicas, o que por vezes, gerou resultados 
desfavoráveis. E terminam dizendo que torna-se de fundamental importância, que as pessoas 
sejam conscientizadas quanto aos riscos do uso inadequado de medicamentos a fim de evitar 
problemas relacionados aos mesmos. Cabendo aos profissionais de saúde, especialmente 
farmacêuticos, o dever de orientar quanto ao correcto uso dos medicamentos. 
Comentando em relação aos estudos acima, percebemos que os autores estão preocupados em 
olhar para a automedicação sob ponto de vista de motivação e riscos, ou seja, procuram 
compreender os factores/razões que levam os indivíduos a se automedicarem como: longas filas, 
mau tratamento por parte dos especialistas de saúde, influência de pessoas conhecidas, sintomas, 
etc., mas também, verificamos que todos os autores olham para a automedicação como algo 
prejudicial, que pode pôr em risco a vida do indivíduo, porém, os autores perdem de vista que, 
por detrás da automedicação existem lógicas e significados que os indivíduos dão a 
automedicação, visto também que com base na automedicação os indivíduos tem tido suas 
vantagens e resultados satisfatórios, respondendo positivamente as enfermidades dos indivíduos. 
Portanto, mais do que olhar para a automedicação sob ponto de vista de risco, pretendemos olhar 
para os significados desta prática para que se possa perceber na íntegra o que significa a 
automedicação para os indivíduos. 
12 
No contexto nacional, estudiosos discutem a questão da automedicação, também que na sua 
maioria olham para a automedicação sob ponto de vista de risco e de motivações, aqui 
encontramos autores tais como Huate (2017), no seu estudo: Processo Terapêutico: 
Automedicação como forma de Gestão Individual de Saúde - Estudo de Caso no Bairro de 
Chamanculo “B” (Cidade de Maputo), procura compreender e analisar as diferentes percepções 
dos praticantes da automedicação no bairro de Chamanculo “B”. Portanto, o autor diz que os 
praticantes da automedicação possuem as suas formas específicas e particulares de aceder a um 
determinado tipo de tratamento ou cura. Constata ele, que a prática da automedicação não se 
limita apenas no indivíduo, mas também tem a ver com os sistemas e técnicas simbólicas, 
conjuntos de saberes, representações e práticas colocadas pelos indivíduos, família para 
responder os problemas de saúde e mal-estar, antes de se recorrer aos profissionais de saúde. 
O autor conclui dizendo, que os processos terapêuticos relacionados a automedicação são 
resultantes da morosidade, de longas filas, do mau tratamento e do conhecimento prévio 
adquirido através de várias experiências nas consultas anteriores por parte dos indivíduos. O 
autor mostra ainda que são vários factores que levam os indivíduos a ocorrerem a prática da 
automedicação, influenciados pelos familiares, amigos e vizinhos. Por vezes fazem-no por 
vergonha ou medo de perder status social. 
Este estudo é importante para a nossa pesquisa, na medida em que, o autor aborda o mesmo tema 
e,trás alguns conceitos que vão servir de alicerce para o nosso trabalho. Contudo, quando o autor 
propõe-se a responder a seguinte questão de pesquisa: “Quais são as lógicas e racionalidades que 
orientam as escolhas dos itinerários terapêuticos?” E tendo em conta que seu último objectivo 
específico é “Descrever os procedimentos de automedicação em prática a nível do bairro de 
Chamanculo “B”, e no final do seu trabalho fala-nos da morosidade, de longas filas, do mau 
tratamento, que automedicação trás muitas vantagens como a resolução imediata dos seus 
problemas de saúde, economia do tempo no atendimento, diminuição da carga do trabalho do 
profissional. Portanto, percebemos nisto que, o autor perde de vista aquilo é o cerne da sua 
pesquisa, que seria efectivamente a analisar as lógicas e racionalidades que orientam as escolhas 
dos itinerários terapêuticos (automedicação), abordando mais os factores que levam as pessoas a 
se automedicar. Sem perder de vista que, uma pesquisa nunca é cabal, surge a nossa pesquisa, 
13 
onde analisamos os significados que orientam os indivíduos a optarem pela automedicação, ou 
seja, o que as pessoas pensam, quais são os significados que os mesmos dão a automedicação. 
Hassani. Maduco. Gabriel (2017), no estudo: Automedicação e Factores a Ela Associados em 
Adultos do Bairro de Mutauanha-Ntotta na Cidade de Nampula, analisam a automedicação e os 
factores associados em adultos, onde fazem um estudo numa abordagem qualitativa, no bairro, 
numa unidade comunal 7 de Setembro, quarteirão 1, envolvendo 164 participantes 
(representantes de domicílio). Todos 164 (100%) afirmaram que tem se automedicado. Os 
analgésicos foram os medicamentos mais consumidos (31,1%) e a dor de cabeça foi o maior 
motivo (23,2%). A principal fonte de medicamento foi a farmácia comunitária (38,5%). A falta 
de informação (31%), o mau atendimento nas unidades sanitárias (30%), constituíram os factores 
de tal atitude. 
Os autores concluem de acordo com os resultados obtidos e a relação dos mesmos com os dos 
outros estudos similares, que os factores sócio demográficos influenciam na prática da 
automedicação e os factores da falta de informação e o mau atendimento nas unidades sanitárias, 
constituem um reforço, contribuindo de uma certa forma para a automedicação no bairro. 
Portanto, segundo os autores há uma necessidade de se ajustar a gestão de informação e 
intensificar a consciencialização da população sobre o uso racional do medicamento, porque o 
uso não racional de medicamento/sem prescrição médica tem seus riscos e pode levar até a 
morte. 
Percebemos nos estudo acima que os autores estão preocupados com a automedicação e os 
factores associados a ela. O estudo de (Hassani. Maduco. Gabriel (2017), é importante para o 
nosso trabalho visto que, aborda o mesmo tema que é a Automedicação e trás alguns factores que 
contribuem para a automedicação no bairro Mutauanha-Ntotta na Cidade de Nampula. Contudo, 
o trabalho ao olhar para os factores que contribuem para a automedicação e perde de vista as 
racionalidades e significados que estão por detrás da automedicação visto também que, se os 
indivíduos se automedicam é por que efectivamente há significados, algo que os indivíduos 
fazem tendo em conta as suas crenças, etc. 
 
14 
Peracaula. Munguambe. Ribeiro (2018), no estudo: Venda Informal de Medicamentos no 
Município de Maputo: Causas e Consequências para a Saúde Pública. Eles descrevem o 
fenómeno da venda informal de medicamentos no Município de Maputo, suas causas e 
consequências para a saúde pública. Para este estudo os autores usaram uma abordagem mista, 
através de inquéritos nos mercados informais (vendedores e consumidores) e entrevistas semi-
estruturadas aos profissionais de saúde, onde por sua vez, foram inquiridos 508 participantes dos 
quais 51% (257) do sexo masculino e 49% (251) do sexo feminino. Dos 508 participantes do 
estudo 480 eram consumidores que deslocaram ao mercado para comprar algum tipo de 
medicamento e 28 eram vendedores. Os medicamentos adquiridos com maior frequência pelos 
consumidores entrevistados foram os analgésicos com 49,2%; os antibióticos com 20,4% e os 
xaropes para a tosse com 18,3%. A Amoxicilina2 (10,4%), o Cotrimoxazol3 (4,5%) e o 
Metronidazol4 (2,1%) foram os antibióticos mais adquiridos pelos consumidores. Cerca de 54% 
dos consumidores adquiria os medicamentos sem nenhuma receita médica. 82,1% dos 
vendedores não tinham nenhuma formação na área de farmácia. Cerca de 42,9% dos 
medicamentos vendidos neste mercado provem da África do Sul e 57,1% do SNS. 
Os autores concluíram que a venda de medicamento nos mercados informais é uma realidade e 
representa um risco grave para a saúde pública. A falta de medicamento nas unidades sanitárias, 
o tempo gasto nas longas bichas e falta de tempo dos consumidores para ir à consulta nas 
unidades sanitárias foram os principais motivos que levaram os consumidores a adquirirem os 
medicamentos no mercado informal. 
Percebemos nos estudo acima que, os autores abordam a questão da venda de medicamentos nos 
mercados informais, onde, como outros autores anteriormente citados fazem menção de alguns 
factores que fazem com que os indivíduos se automediquem, como é o caso da falta de 
medicamento nas unidades sanitárias, longas bichas, etc., e mais do que estes factores, eles 
deixam bem claro que automedicação representa um grave risco a saúde pública. Entretanto, 
mesmo os indivíduos sabendo dos riscos da automedicação, eles continuam se automedicando, 
quer dizer, há significados que eles atribuem e que os orienta para automedicação. 
 
2 Amoxicilina é um antibiótico usado no combate a bactérias, também pode ser usado em alguns tipos de 
pneumonia, infecção urinaria, sinusite, etc. 
3 Cotrimoxazol é um antibiótico usado para tratar uma variedade de infecções bacterianas. É usado para infecções do 
trato urinário, infecções de pele, diarreia, cólera, etc. 
4 Metronidazol é um antibiótico usado para tratar doença inflamatória pélvica, endocardite e vaginose bacteriana. 
15 
2.2. Formulação do Problema de Pesquisa 
No que toca ao problema de pesquisa, a nossa inquietação baseia-se na percepção dos 
significados que os indivíduos atribuem a automedicação, visto que, no que diz respeito aos 
itinerários terapêuticos. Vários estudos têm mostrado que, em determinados contextos, há uma 
tendência para a automedicação (Tomasi et al. 2007; Filho et al. 2002; Oliveira et al. 2014). 
Na maior parte dos casos, só quando o tratamento caseiro não funciona e o estado de saúde do 
paciente se agrava, é que este é levado para um serviço de saúde, por isso que, de acordo com o 
relatório do Ministério da Saúde (2006) em Moçambique a situação da automedicação mostra 
que mais de 50% do manejo de casos ocorrem fora do sistema de saúde. 
Segundo a Ex. ministra da saúde, Nazira Abdula, em entrevista ao Jornal Domingo (11 de 
Dezembro de 2016), afirmou que, ao nível dos hospitais nacionais continuavam a receber 
pacientes com doenças em estado avançado de evolução, em virtude de, antes de se dirigirem a 
uma unidade sanitária, terem recorrido a automedicação, usando, na maioria dos casos com 
medicamentos impróprios, fora do prazo ou mal conservados. 
Segundo a Ex. ministra, os pacientes que recorrem à automedicação não tem garantia do 
medicamento que adquire nos mercados e nos vendedores informais. Para se obter o máximo 
benefício da medicação, segundo ela, o paciente deve receber toda a informação relativa ao 
mesmo. No processo de automedicação não há diagnóstico e aconselhamento de um profissional 
de saúde quanto à utilização do medicamento comprado em locais impróprios. Assim o uso 
contra indicado por parte do paciente origina reacções adversas graves, causando incapacidade 
ou até mesmo levando à morte do mesmo antes de chegar ao hospital conforme constatoua Ex. 
Ministra de Saúde. 
Na mesma linha de pensamento, mas olhando para a pandemia da COVID-19, o actual ministro 
da saúde Armindo Tiago, em declaração ao Jornal Domingo (31 de Janeiro de 2021), referiu que 
são muitos os casos de pacientes com COVID-19, que chegam às unidades sanitárias “graves” 
depois de terem ingerido diversos medicamentos, o que em algumas situações complica o seu 
estado de saúde e dificulta o processo de recuperação. Tendo em conta este cenário, o governante 
desencoraja a automedicação nas pessoas, porque a automedicação é algo errado, e, a 
automedicação pode levar à morte, sendo que na maior parte dos casos agrava o quadro clínico 
16 
do doente, como é o caso de alguns pacientes internados no Centro de Isolamento de COVID-19 
que, primeiramente, optaram pela automedicação, o que agravou o seu estado de saúde, pela 
quantidade de medicamentos ingeridos. 
Hélia Manasse, directora do Hospital Geral da Polana Caniço (HGPC), refere não haver dados 
estatísticos relativamente a automedicação no Bairro Polana Caniço “A”, mas reconhece, como 
tem se evidenciado no hospital, que no Bairro há uma primeira tendência para a automedicação, 
contudo, salienta que a automedicação é um risco para a vida dos indivíduos, que pode levar a 
morte e ela não aconselha a ninguém (Portal do Governo S/D). 
De acordo com um trabalho exploratório desenvolvido no Bairro Polana Caniço A, 
concretamente no Quarteirão 2, do dia 28 de Setembro a 2 de Outubro de 2020, constatamos que 
efectivamente os residentes do bairro automedicam-se, sendo Ibrupufeno, Diclofenac e 
Paracetamol os medicamentos consumidos. Este último que consideram como o principal 
medicamento para o alívio de dor de cabeça e que é ingerido quando a pessoa sente dor de 
cabeça sem precisar de ir ao hospital. 
Conseguimos perceber também que, há uma tendência das pessoas se automedicarem tendo em 
conta as relações de vizinhança, em que, os indivíduos se automedicam com base nas 
experiências/conhecimentos do outros vizinhos, quer dizer, há um lugar que a automedicação 
ocupa na vida dessas pessoas. Portanto, percebemos nisto que há significados que as pessoas dão 
a automedicação e, é neste âmbito que emerge a nossa inquietação, no sentido de compreender 
os significados que os actores sociais dão a automedicação. 
Vários estudos (Corrêa et al. 2012; Iurasa et al. 2016; Souza et al. 2018), conforme vimos na 
revisão da literatura, estão preocupados em olhar para a automedicação sob ponto de vista de 
motivação e riscos, e não exploram a questão dos significados que os actores sociais dão a esta 
prática. Portanto, o facto de não se olhar para esta questão, faz com que se tenha um pouco 
entendimento, se não nenhum sobre o lugar que esta prática ocupa na vida das pessoas, os seus 
significados, as suas lógicas, um aspecto considerado importante uma vez que mesmo com 
campanhas de sensibilização desenvolvidas pelo MISAU, as pessoas não deixam de se 
automedicar, daí que questionamos no presente trabalho: Quais são os significados que os 
residentes do Bairro Polana Caniço “A” atribuem a automedicação? 
17 
3. CAPÍTULO II: ENQUADRAMENTO TEÓRICO E CONCEPTUAL 
Este capítulo propõe-se a construir o quadro teórico e conceptual que orientou a leitura dos dados 
no campo de pesquisa. 
3.1. Enquadramento teórico 
Para perceber a temática e problemática que nortearam a presente pesquisa, pautamos pela 
articulação de duas teorias, a teoria interpretativa de Clifford Geertz (como a principal) e a teoria 
fenomenológica de Afred Schutz (como a secundária). 
De acordo com Clifford Geertz: 
A teoria interpretativa faz a leitura das sociedades enquanto todos ou como análogas a textos e, 
esta interpretação só é possível a partir de uma descrição etnográfica densa que ocorre em todos 
os momentos do estudo, da leitura do “texto”, pleno de significado, que é a sociedade na escrita 
do texto /ensaio do antropólogo, por sua vez interpretado por aqueles que não passaram pelas 
experiências do autor do texto escrito. Todos os elementos da cultura analisada devem, portanto 
ser entendidos à luz desta textualidade, imanente, a realidade cultural (Geertz, 1989: 19). 
A teoria interpretativista parte do princípio de que as pesquisas humanas e sociais devem buscar 
compreender a realidade humana que ocorre dentro de um contexto histórico e construída 
socialmente. A busca dessa realidade passa pela descoberta dos significados camuflados nas 
acções e palavras dos nativos. As acções e palavras dos indivíduos devem ser encaradas como 
interpretações, pois traduzem a fórmula que estes usam para definir o que lhes acontece. Assim 
os significados das descrições das culturas devem ser calculados em termos das construções que 
imaginamos que os nativos colocam através da vida que levam e, por isso que Geertz pressupõe 
que nós na qualidade de sermos pesquisadores devemos fazer uma segunda interpretação depois 
da interpretação do nativo (Geertz, 1989). 
Buscando-se operacionalizar a teoria de Clifford Geertz, pode se dizer que a automedicação por 
parte dos residentes do Bairro Polana Caniço “A” é a realidade humana e compreende-se que a 
sua busca é feita com base na análise dos significados que os residentes atribuem a essa 
realidade, e para tal deixamos que os residentes falassem, que fizessem a interpretação desses 
significados e, por conseguinte fizemos a segunda interpretação depois das interpretações dos 
nativos. 
 
18 
Olhando para a nossa teoria secundária, segundo Alfred Schutz: 
A fenomenologia é uma teoria usada no estudo do comportamento dos indivíduos na vida 
quotidiana, através de pesquisas empíricas dos métodos que os mesmos utilizam para realizar 
acções, ou seja, estuda o modo que os seres humanos vivenciam o quotidiano e os significados da 
acção do homem no mundo social (Schutz, 1979: 74). 
A preocupação principal deste teórico está na forma como os indivíduos constroem a realidade 
social pautada na significação dos actos pelo sujeito que os pratica. A abordagem concebe a 
realidade como conjunto de fenómenos que acontecem no mundo independente da vontade do 
indivíduo. Contudo, o conhecimento ou o saber que os indivíduos formam em torno da realidade 
é baseado na interpretação que fazem dela (Schutz, 1979, apud, Berger e Luckmann, 2004). 
A realidade interpretada consiste na relação existente entre o pensamento e o contexto social no 
qual o indivíduo está inserido. Assim, o mundo da vida surge como um espaço social importante 
no qual os actores sociais estabelecem relações entre si e partilham os seus conhecimentos de 
forma a comungarem as mesmas crenças e valores. Por isso que apresenta-se como uma 
realidade interpretada pelos homens e subjectivamente dotada de sentido para eles na medida em 
que forma um mundo coerente de ideias (Schutz, 1979, apud, Berger e Luckmann, 2004). 
A realidade da vida quotidiana apresenta-se como um mundo intersubjectivo em que o indivíduo 
partilha com os outros membros da sociedade. Essa intersubjectividade diferencia a vida 
quotidiana de outras realidades das quais ele tem consciência. 
A partir destes pressupostos da teoria, foi possível analisar e perceber os significados que os 
residentes do Bairro Polana Caniço “A” dão a automedicação, visto que, a automedicação é uma 
realidade sujeita a interpretação dos indivíduos, visto que, a teoria de Schutz (1979) por 
excelência traz-nos uma interpretação mais coesa que possibilita na obtenção de dados mais 
qualificados uma vez que nos interessou estudar os significados que os residentes dão 
automedicação. 
 
 
 
19 
3.2. Definição de Conceitos 
3.2.1. Cultura 
Geertz (1989), define cultura como uma teia de significados em que o homem esta amarrado e 
que ele mesmo teceu. O conceito de Geertz é essencialmente semiótico, acreditando, como Max 
Weber, a cultura como sendo essas teias e a sua análise, não como uma ciência experimental embusca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura de significados. 
O conceito de Geertz (1989) foi útil neste trabalho visto que, ele olha para a cultura numa 
dimensão simbólica em que o homem está amarrado a uma teia de significados e portanto, 
ajudou-nos na compreensão dos significados da automedicação para os residentes do Bairro 
Polana Caniço “A”, visto também que, como veremos ao longo do trabalho que são vários os 
significados que são atribuídos a automedicação. 
3.2.2. Interpretação 
Segundo Geertz (1989), Interpretação é o acto de interpretar a cultura ou a realidade social do 
grupo a ser estudado como um texto, “um manuscrito” estranho onde se constrói uma leitura 
através de uma descrição densa das estruturas de significados. Para Geertz, é preciso que o 
etnógrafo esteja o mais próximo possível dos sujeitos da sua pesquisa, realizando a pesquisa 
antropológica no sentido de uma “experiência pessoal”, onde ele deve conviver e entender a 
“vida nativa” através de conversas, observações e experiências na busca por significados, mas 
não se transformar em um nativo. 
Este conceito foi útil no nosso estudo na medida em que permitiu que fizéssemos uma descrição 
densa ou mais profunda dos significados da automedicação para os residentes do Bairro Polana 
Caniço “A”. 
3.2.3. Estoque de conhecimento 
Schutz (1979), diz que o homem, na vida diária, tem a qualquer momento um estoque de 
conhecimento à mão e lhe serve como código de interpretações de suas experiências passadas e 
presentes, e também determina sua antecipação das coisas que verão. Este estoque de 
conhecimento tem sua história particular, foi constituída de e por actividades anteriores de 
experiência de nossa consciência, cujo resultado tornou-se agora uma posse nossa habitual. 
20 
O estoque de conhecimento trazido aqui por Schutz é na verdade a retenção de todas actividades 
e acções que conhecemos, vivenciamos e atribuímos a estes um significado e, é preciso uma 
chamada de atenção para perceber sobre os conhecimentos em estoque que os indivíduos trazem 
consigo, que em muitas vezes não seguem uma coerência tal, mas que acaba desaguando num 
sentido prático daquilo que são os conhecimentos acerca da automedicação na vida deles. 
3.2.4. Mundo de Vida 
Para Schutz (1979), o mundo de vida é um mundo intersubjectivo, objecto das nossas acções e 
interacções. Desta forma, a nossa atitude se dá sobre o mundo afectando-o, modificando seus 
objectos e suas relações mútuas; por sua vez, esses objectos também oferecem resistência às 
nossas acções, portanto, o mundo assim concebido, é algo que temos de modificar com nossas 
acções. 
Este conceito de “mundo de vida” foi útil na medida permitiu-nos a captar a realidade ou o 
mundo de vida dos residentes do Bairro Polana Caniço “A” que é justamente automedicar-se. 
3.2.5. Automedicação 
Arrais et al. (1997); Cerqueira et al. (2005); Tomasi et al. (2007), definem automedicação como 
um procedimento caracterizado, fundamentalmente, pela iniciativa de um doente, ou o seu 
responsável, sem prescrição profissional, obter e utilizar um produto que acredita que lhe trará 
benefícios no tratamento de doenças ou alívio de sintomas. 
Na opinião dos autores são várias as formas da automedicação ser praticada, nomeadamente, 
adquirir o medicamento sem receita médica, compartilhar remédios com outros membros da 
família ou conhecidos, reutilizar antigas receitas e não cumprir a prescrição profissional. Este 
conceito da automedicação é muito importante porque nos permitir perceber a automedicação no 
sentido mais amplo, mas de uma forma restrita, nós definimos a automedicação como sendo um 
acto ou efeito de medicar-se por si mesmo, sem um encaminhamento ou acompanhamento de um 
técnico de saúde. 
 
 
 
21 
4. CAPÍTULO III: METODOLOGIA DO TRABALHO 
Neste capítulo apresentamos os métodos e técnicas de recolha de dados que serviram de base 
para a obtenção de informação e elaboração da presente monografia. 
4.1. Método de abordagem 
Para o alcance dos objectivos preconizados no presente trabalho de pesquisa, privilegiamos a 
abordagem qualitativa. A sua escolha deveu-se ao facto de que procura dar conta dos 
significados, motivos, atitudes, crenças, percepções, representações e valores que se expressam 
na linguagem comum e na vida quotidiana (Minayo. Sousa. Sanches, 1993). 
Segundo Richardson (1999), esta abordagem ao buscar a compreensão detalhada dos 
significados e características situacionais apresentadas pelos entrevistados, dá primazia as 
convicções subjectivas das pessoas, devido à concepção de que o conhecimento que os 
indivíduos formam em torno dos fenómenos sociais está carregado de significados e possuem 
características específicas que determinam a percepção das coisas e o condicionamento das 
acções dos actores sociais. Deste modo, a abordagem qualitativa enquadrou-se no estudo, na 
medida em que permitiu a compreensão dos significados que os residentes do quarteirão 2, no 
Bairro Polana Caniço “A”, dão automedicação. 
4.2. Método de procedimento 
No que toca ao método de procedimento, recorremos ao método monográfico ou estudo de caso 
que segundo Gil (2008), caracteriza-se por ser um estudo aprofundado, qualitativo, no qual se 
procura reunir o maior número de informações, utilizando-se variadas técnicas de colecta de 
dados, com o objectivo de apreender todas as variáveis da unidade analisada e concluir, 
indutivamente, sobre as questões propostas na escolha da unidade de análise. 
Dessa forma, o método monográfico enquadrou-se no nosso estudo uma vez que analisamos um 
caso que é a Automedicação no Bairro Polana Caniço “A” e, este método permitiu-nos fazer uma 
análise profunda do tema em causa com objectivo de mostrar na íntegra os significados que os 
residentes do Bairro dão a automedicação. 
 
22 
Aliado ao método monográfico, recorremos também ao método de histórias de vida (relato da 
vida), que baseia-se na história que os indivíduos relatam sobre seu quotidiano ou até mesmo 
acções que já ocorreram. Ou seja, baseia-se na premissa de que os conhecimentos sobre os 
indivíduos só são possíveis com a descrição da experiência humana, tal como é vivida e tal como 
ela é definida por seus próprios actores (Spindola e Santos, 2003). Portanto, este método nos 
permitiu entrevistarmos os residentes do Bairro Polana Caniço “A”, onde procurávamos saber 
toda a trajectória relacionada com a automedicação. 
4.3. Técnicas de recolha dados 
No que tange as técnicas, para a colecta de dados no campo de pesquisa optamos por recorrer a 
quatro (4) técnicas principais: a pesquisa bibliográfica, a observação directa, entrevista semi-
estruturada e conversas informais. 
Optamos pela pesquisa bibliográfica que segundo Gil (2008), ela é desenvolvida a partir de 
material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. A principal 
vantagem da pesquisa bibliográfica reside no facto de permitir ao investigador a cobertura de 
uma gama de fenómenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar directamente. 
Para este estudo a pesquisa bibliográfica foi útil na medida em que permitiu conhecer o estado da 
temática da automedicação a nível nacional e também internacional, o que abriu por sua vez um 
espaço para se ampliar os horizontes de pesquisa, buscando pesquisar aspectos pouco abordados, 
evitando insistir em assuntos que já foram anteriormente pesquisados. 
No campo recorremos a observação directa que segundo Quivy e Compenhoudt (2005), é aquela 
em que o próprio investigador procede directamente à recolha das informações, sem se dirigir 
aos sujeitos interessados. Apela directamente ao sentido de observação. Ou seja, é um tipo de 
técnica em que o investigador não participa na vida do grupo que pretende estudar. Portanto, esta 
técnica foi útil porque deu-nos a possibilidade de observar, o local da pesquisa e suas 
características, permitiu-nosainda captar imagens da secretaria administrativa do Bairro e de 
alguns medicamentos que são ingeridos na automedicação. 
 
23 
A entrevista semi-estruturada foi outra técnica usada, visto que, é uma forma de interacção social 
que possibilita um contacto directo entre o investigador e os seus entrevistados para a recolha de 
informação sobre um determinado assunto. Tem a vantagem de dar a possibilidade aos 
indivíduos de exprimirem as suas percepções em relação a um fenómeno ou situação, a partir das 
próprias experiências do quotidiano (Quivy e Compenhoudt, 2005). 
Recorremos também as conversas informais que possibilitaram-nos a colocar questões que não 
tínhamos no nosso guião de entrevista. 
As entrevistas foram realizadas por meio de duas línguas, nomeadamente: Português e 
Xichangana. Pautamos pelo uso de ambas línguas, visto que, alguns dos nossos entrevistados não 
falavam a língua portuguesa a não ser Xichangana. As informações eram registadas num diário 
de campo e as imagens foram feitas com recurso a um telemóvel. 
4.4. Técnicas de análise de dados 
No que concerne ao tratamento e análise de dados e por se tratar de um trabalho qualitativo, 
recolhidos no campo foram classificados com base na Análise de Conteúdo definida como: 
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos 
sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou 
não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção 
(variáveis inferidas) destas mensagens (Bardin, 2009: 44). 
E feita a análise de conteúdo, seguida a fase de transcrição e organização dos dados colhidos no 
campo optamos pela categorização dos mesmos. Concordamos com Carvalho (2002), quando 
refere que um dos principais pontos de força da abordagem qualitativa é a riqueza e a quantidade 
dos dados gerados e, portanto, esta técnica foi útil na análise dos conteúdos das comunicações 
que tivemos com os nossos entrevistados. 
4.5. Universo e amostra 
No que tange ao universo e amostra, o universo no estudo, são as pessoas que já se 
automedicaram no Bairro Polana Caniço “A”. O tipo de amostra é não probabilística que não 
apresenta fundamentos matemáticos ou estatísticos, depende unicamente dos critérios do 
pesquisador (Gil, 2008). 
24 
No que concerne aos entrevistados, o critério de acesso baseou-se na técnica bola de neve em os 
participantes iniciais de um estudo indicam novos participantes que por sua vez indicam novos 
participantes e assim sucessivamente, até que seja alcançado o objectivo proposto (o “ponto de 
saturação”). O “ponto de saturação” é atingido quando novos entrevistados passam a repetir os 
conteúdos já obtidos em entrevistas anteriores, sem acrescentar novas informações relevantes a 
pesquisa (WHA, 1994). Com base nesta técnica, foi possível conversar com onze (11) residentes 
do Bairro, a saber: um (1) secretário do Bairro da Polana Caniço “A”, um (1) chefe do quarteirão 
do mesmo Bairro e nove (9) residentes do Bairro Polana Caniço “A”. 
4.6. Questões éticas na pesquisa 
Quanto às questões éticas, todos os participantes foram informados e explicados sobre a natureza 
da pesquisa, respeitou-se a questão do consentimento informado. A privacidade e 
confidencialidade foram salvaguardadas pelo uso de nomes fictícios e garantiu-se o anonimato. 
4.7. Constrangimentos 
Durante o processo a pesquisa, encontrou igualmente situações adversas durante a realização do 
trabalho de campo, uma vez que, o pesquisador deparou-se com várias dificuldades no terreno, 
mas que posteriormente foram ultrapassados. Algumas entrevistas eram marcadas mas por vezes 
adiavam os encontros sem um aviso prévio. 
A falta de confiança de alguns entrevistados foi um constrangimento porque não entendiam o 
carácter de estudo e receavam participar e dar informações. Alguns quando se interessavam em 
participar exigiam em troca algum dinheiro. A proposta de remuneração foi superada com ajuda 
e interacção das estruturas do bairro, que explicaram aos interlocutores que se tratava duma 
pesquisa de carácter académico sem ganhos lucrativos. 
Um outro constrangimento foi o facto de esta Monografia ter sido desenvolvida num contexto 
pandémico que o país enfrenta, a COVID-19, e por conta disso, alguns entrevistados indicados 
não aceitavam participar das entrevistas porque segundo eles temiam o contágio pelo vírus, e 
alguns que aceitavam participar, no momento das entrevistas não queriam colocar a máscara de 
protecção, alegando que ela sufoca, mas com o nosso apelo, entenderam a importância do uso da 
máscara, porém, as entrevistas duravam pouco tempo, por conta do referido. 
25 
5. CAPÍTULO IV: ANÁLISE E DISCUSSÃO DE DADOS 
5.1. Localização e Características Gerais do Bairro Polana Caniço “A” 
O Bairro da Polana Caniço “A” localiza-se na periferia da Cidade de Maputo. 
Administrativamente, localiza-se ao Norte da Cidade de Maputo, no Distrito Kamaxaquene. Ao 
Norte é limitado pelo Bairro Maxaquene “D”, ao Sul pelo Bairro Sommerchield, a Este pelo 
Bairro Polana Caniço “B”, a Oeste pelo Maxaquene “C”. O Bairro tem uma extensão de 31Km² 
e possui 45.893 de habitantes dos quais 22.322 do sexo masculino e 23.571 do sexo feminino. 
Das línguas articuladas, distinguem-se o “Xichangana e Xironga” e, devido às suas semelhanças, 
pode-se observar durante a fala dos participantes, ambas as línguas são recorrentes e se 
influenciam. Das línguas mais faladas destacamos a língua Portuguesa, Xironga e Xichangana 
(Conselho Executivo da Cidade de Maputo e Cooperação Francesa, 2017). 
5.1.1. Figura 1- Mapa da localização geográfica do Bairro Polana Caniço “A” 
 
Fonte: Domisio, (21.07.2020). 
 
26 
5.1.2. Organização Política, Administrativa, Religiosa e Socioeconómica do Bairro 
O Bairro Polana Caniço “A”, em termos políticos e administrativamente é dirigido por: Um 
Secretário do Bairro; Chefes de quarteirões; Chefes de dez casas. 
O Bairro Polana Caniço “A” possui setenta e sete (77) quarteirões, cada quarteirão possui um 
chefe, eleito pelos residentes do quarteirão. As eleições para o cargo do chefe de quarteirão, são 
dirigidas pelo secretário do bairro. O chefe de quarteirão tem a missão de garantir o controlo dos 
quarteirões, contam com a ajuda dos chefes das dez casas que normalmente são pessoas de 
confiança e indicadas para o cargo por eles, aquando da tomada de posse. 
O Bairro Polana Caniço “A” possui uma Secretaria Administrativa, em que são canalizados os 
assuntos sociais que localmente sucedem. Trata-se de um edifício erguido pelo Conselho 
Municipal da Cidade Maputo. O mesmo possui cinco (5) compartimentos: um (1) gabinete 
partilhado pelo secretário do bairro, uma (1) secretaria, uma (1) sala de reuniões, uma (1) copa e 
por fim uma (1) casa de banho. 
A Secretaria, funciona em dias úteis da semana, isto é, de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 
15h30min. A figura 2 abaixo mostra a visão frontal da secretaria. 
5.1.3. Figura 2 – Visão Frontal da Secretaria Administrativa do Bairro Polana Caniço “A”
Fonte: O autor, (18.01.2021). 
27 
O secretário do bairro nomeado cargo pelo Presidente do Conselho Municipal da Cidade de 
Maputo. A sua substituição dependerá do seu desempenho, com a chegada de um outro 
Presidente do Município ou por motivo de morte. Tem a função de garantir o funcionamento de 
todas as áreas e é o representante da comunidade no governo do distrito. O chefe de secretaria 
zela pelo normal funcionamento da secretaria na tramitação de expedientes, recebem os 
problemas trazidos pelas comunidades e canaliza-os em sector próprio. 
O Bairro Polana Caniço “A” possui quatro (4) escolas, dentre elas, duas (2) primárias e duas (2) 
secundárias, nomeadamente: Escola Primária Completa Polana Caniço “A” e Escola 
Comunitária Rainha da Paz (primárias), Escola Secundária Mateus Sansão Muthemba e Escola 
Comunitária 4 de Outubro (secundárias).O Bairro Polana Caniço “A” possui um (1) Centro de Saúde, denominado Hospital Geral da 
Polana Caniço, que actualmente funciona como Centro de Isolamento de COVID-19 (CICOV), e 
o Bairro conta com um (1) posto policial. 
Em termos da organização religiosa, existem no bairro, seis (6) igrejas da Assembleia de Deus, 
uma (1) igreja Universal do Reino de Deus, três (3) igrejas Apostólicas, uma (1) igreja Católica 
(Rainha da Paz) e igrejas Zione em um número não especificado. 
Em termos de actividades económicas, os residentes dedicam-se ao comércio, trabalho na cidade 
de Maputo e a actividade agrícola, embora pouco praticada. O comércio caracteriza-se pela 
venda de produtos alimentares em forma de mercearias, barracas e pequenas bancas no bairro e 
pela venda de material de construção em forma de estaleiros e ferragens. 
 
5.1.4. História do Surgimento do Bairro Polana Caniço “A” 
No que tange ao surgimento do Bairro Polana Caniço “A”, é importante referir que existem 
várias opiniões que relatam o surgimento do bairro e convergem somente no nome, isto é, todos 
os residentes antigos entrevistados contam que Polana, era nome de um régulo e médico 
tradicional que chamava-se Phulana e, Caniço porque na altura havia problemas de habitação e 
muitas casas eram de caniço, mas podemos ver com mais detalhes nos depoimentos a seguir: 
28 
(…) O nome de Polana Caniço surge da seguinte maneira, primeiro Polana porque na 
altura, tinha um régulo, curandeiro e médico tradicional que era uma referência 
incontornável na altura, porque era a única pessoa no tempo que curava todas doenças 
no Bairro, e por causa disso, todas pessoas quando vinham para o bairro usavam o 
nome dele (Phulana) como referência e assim foi e o nome dele prevaleceu até ao ponto 
de se usar como o nome do bairro, mas já “aportuguesado” (Polana). E Caniço, foi 
porque na altura, existiam problemas de habitação e muitas casas eram de Caniço e esse 
facto fez com que se usasse o Caniço como referência, em suma, havia o régulo, 
curandeiro e médico tradicional (Phulana) e o Caniço que eram referências no Bairro e 
acabou ficando Polana Caniço.5 
(…) Bom meu filho, o nome Polana Caniço surgiu por causa de um velho que existia na 
altura e que era um régulo do bairro, o nome dele era Phulana Ngondzo, ele para além 
de ser régulo, era um médico tradicional que praticamente curava quase todas doenças e 
ele era o único aqui no Bairro, mas também ele fazia esteiras caseiras e na altura como 
podes imaginar a esteira era uma coisa que se usava muito e todas as pessoas adquiriam 
as esteiras com Phulana, então, o facto de ele ser um régulo, médico tradicional e 
produtor de esteiras caseiras fez com muitas pessoas usassem o nome dele para se referir 
ao Bairro, actualmente Polana. E Caniço, foi nada mais, nada menos que por causa de 
muitas casas de caniço que existiam na altura, e acabou ficando Polana (que era o 
régulo Phulana) e Caniço (que eram as casas de caniço).6 
Olhando para os extractos acima podemos perceber que o nome do Bairro Polana Caniço, surge 
por conta de dois factores, primeiro porque existiu um régulo que chamava-se Phulana que era 
curandeiro, médico tradicional e produtor de esteiras caseiras e, por ser o único no bairro na 
altura fez que que o nome dele passasse a ser usado como uma referência para se referir ao 
Bairro, mas de uma forma já aportuguesada (Polana). E Caniço pelo simples facto de ter existido 
muitas casas de caniço na altura. Portanto, houve essa junção de dois nomes Phulana e Caniço e 
passou a ser Polana Caniço até nos dias actuais. 
 
 
5 Entrevista do dia 18/01/2021 com Jacinto de 56 anos de idade, Secretário do Bairro Polana Caniço “A”. 
6 Entrevista do dia 16/01/2021 com Ângelo de 60 anos de idade, residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
29 
5.2. Perfil Sócio-Demográfico dos Entrevistados 
Neste subcapítulo apresentamos o perfil sócio-demográfico dos entrevistados e, para 
compreender o perfil sócio-demográfico traçou-se como critérios de análise: Nome, Sexo, Idade, 
Nível de escolaridade, Profissão e Residência. 
Nº de Entrevistados Nome Sexo Idade Nível de 
Escolaridade 
Profissão Residência 
1 Jacinto M 56 Técnico Médio Ad. Público Polana Caniço “A” 
2 Teresa F 32 12ª Classe Estilista Polana Caniço “A” 
3 Artur M 23 11ª Classe Barbeiro Polana Caniço “A” 
4 Cacilda F 52 12ª Classe Polícia Polana Caniço “A” 
5 Luís M 55 10ª Classe Motorista Polana Caniço “A” 
6 Noémia F 57 7ª Classe Vendedeira Polana Caniço “A” 
7 Salma F 38 8ª Classe Vendedeira Polana Caniço “A” 
8 Ângelo M 60 Técnico Médio Professor Polana Caniço “A” 
9 Rosa F 36 Licenciada Tradutora Polana Caniço “A” 
10 Maria F 29 10ª Classe Doméstica Polana Caniço “A” 
11 Auneta F 40 Não estudou Vendedeira Polana Caniço “A” 
 
De acordo com a tabela acima, podemos perceber que participaram onze (11) residentes, e como 
forma de preservar a privacidade dos envolvidos no trabalho optou-se por usar nomes fictícios. 
Podemos ver que temos indivíduos do sexo feminino e masculino, cuja as idades variam de 23 a 
60 anos, e no que toca ao nível de escolaridade, varia de quem não estudou até licenciada, no que 
toca as profissões, podemos verificar que elas variam mas, que na sua maioria são de 
vendedeiras e, que todos os entrevistados são do Bairro Polana Caniço “A” e do mesmo 
quarteirão. 
 
30 
No que diz respeito ao sexo mais uma vez, como os dados ilustram na tabela, podemos perceber 
que a maioria dos entrevistados são do sexo feminino, porém, este facto não foi pré-determinado 
na pesquisa nem está relacionado a outros factores de análise que excluem indivíduos do sexo 
masculino, mas sim deve-se ao facto de termos usado a técnica de bola de neve que nos conduziu 
a mais indivíduos do sexo feminino em detrimento dos indivíduos do sexo masculino. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
31 
5.3. Trajectória dos Residentes que se Automedicam no Bairro Polana Caniço “A” 
Neste subtítulo pretende-se mostrar a trajectória dos residentes que se automedicam no Bairro, 
ou seja, descrever o percurso dos mesmos, lembrando que para o efeito usamos o método de 
histórias de vida e com base nos relatos de vida que os residentes iam nos contando, percebemos 
que a prática da automedicação na maioria dos entrevistados começa principalmente no seio 
familiar, e que segundo eles, a família contribuiu significativamente para que eles começassem a 
se automedicar, entretanto, alguns afirmaram ter começado a tomar medicamento sem prescrição 
médica por influência de pessoas (amigos, vizinhos, conhecidos, etc.) e outros por conta própria. 
Para percebermos melhor a trajectória ou percurso dos indivíduos que se automedicam no Bairro, 
abaixo temos os depoimentos que dão conta de quando e como é que os residentes do Bairro 
começaram a tomar medicamento sem prescrição médica, onde muitos afirmaram: 
(...) Comecei a tomar medicamento sem receita por causa de um amigo.7 
(...) Comecei a me automedicar por conta dos meus pais.8 
(...) Comecei a tomar remédio sem prescrição médica por ouvir minhas vizinhas.9 
(...) Tudo começou quando eu senti uma dor insuportável por causa de período, algo que 
nunca tinha-me acontecido, então minha amiga recomendou-me Ibrupefeno para tomar, 
então tomei e até nos dias de hoje tomo quando sinto algo do género.10 
(...) A automedicação ganhou um impacto significante na minha vida quando começou a 
minha fase menstrual, aos meus 15 anos de idade, quando tivesse cólicas, comecei a 
tomar Ibrupufeno por conta da minha mãe, tomei e a partir daí sempre que sentisse as 
cólicas, não recorreria ao hospital, muito menos ao farmacêutico para ter mais 
instruções em relação as dores que sentia, simplesmente tomava e aliviava as dores, 
outros dias sim e outros não, mas um hábito que não consigo deixar, pois no momento de 
aflição e dor simplesmente tomo pensandonos benefícios que terei.11 
 
7 Entrevista do dia 19/01/2021 com Artur de 23 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
8 Entrevista do dia 23/01/2021 com Maria de 29 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
9 Entrevista do dia 23/01/2021 com Teresa de 35 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
10 Entrevista do dia 21/01/2021 com Rosa de 36 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
11 Entrevista do dia 19/01/2021 com Salma de 38 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
32 
Podemos ver nos extractos anteriores que, a maioria dos entrevistados afirmaram que começaram 
a se automedicar por influência de alguém, uns pela influência da família e outros pela influência 
de conhecidos ou amigos, portanto, percebemos nisto de acordo com Geertz (1989), quando 
fornece-nos o conceito de cultura que implica socialização do indivíduo, essa socialização por 
sua vez pode em grande parte determinar o que o indivíduo faz ou não na sociedade, e é a partir 
desta socialização onde encontramos a influência, onde um acaba influenciando o outro a fazer 
uma determinada coisa, no caso concreto a automedicação, essa influência como constatamos 
pode ser através da família, vizinhos, amigos e até mesmo conhecidos e é dessa forma que 
muitos começaram a se automedicar. 
Ainda na trajectória da automedicação podemos constatar existem diversos medicamentos que 
são consumidos sem prescrição médica para diferentes tipos de doenças, no entanto, com base 
nas entrevistas que tivemos acesso percebemos que os medicamentos que os residentes 
consomem na prática automedicação são nomeadamente, Paracetamol, Diclofenac e Ibrupufeno. 
5.3.1. Figura 3 – Tipos de medicamentos consumidos na automedicação 
Fonte: O autor, (25.01.2021). 
(...) Pode faltar qualquer medicamento na minha casa, mas Parecetamol, Diclofenac e 
Ibuprufeno jamais pode faltar (...).12 
 
12 Entrevista do dia 23/01/2021 com Noêmia de 57 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
33 
(…) Meu filho é assim, quando nos sentimos dor de cabeça ou corpo, Diclofenac, 
Paracetamol e Ibuprufeno são os primeiros medicamentos que recorremos sem precisar 
de ir pra hospital (...).13 
(...) Uma pessoa pode até dizer que vai para o hospital, mas quando se sente 
incomodado, dependendo da dor que sente, os primeiros medicamentos a tomar sem 
prescrição médica são Paracetamol, Ibuprufeno e Diclofenac, digo isso porque conheço 
muitos e também por experiência própria.14 
De acordo com o que constatamos no terreno e de acordo com extractos acima, podemos 
perceber estes são medicamentos consumidos sem prescrição médica e, segundo os nossos 
entrevistados o Paracetamol que encontra-se em primeiro lugar e é mais tomado para aliviar a 
dor de cabeça, o Diclofenac que é para aliviar a dor no corpo e inflamação, entorse, etc., e o 
Ibuprufeno que para o alívio de febre e dores adversas e, para tal, segundo os nossos 
interlocutores não precisam ir até uma unidade sanitária para receber uma orientação médica 
para tomar e ter esses medicamentos. 
Podemos aqui notar que a automedicação é o mundo de vida dos residentes e com base na vida 
diária deles, tem um estoque de conhecimento (Schutz, 1979) com relação aos medicamentos e 
fazem a interpretação de sintomas com base nas experiências já vividas e determinam como, 
quando e para que tipo de dor eles tomam o medicamento sem precisar de uma orientação 
médica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 Entrevista do dia 19/01/2021 com Auneta de 40 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
14 Entrevista do dia 23/01/2021 com Maria de 29 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
34 
5.4. Lógicas que Orientam Residentes do Bairro Polana Caniço “A” na Automedicação 
Neste subcapítulo procuramos trazer as lógicas que orientam os residentes do Bairro Polana 
Caniço “A” na automedicação, visto que pudemos constatar que mais do que os motivos ou 
factores que levam os indivíduos a se automedicarem existem portanto, lógicas que os orienta 
nesta prática. As lógicas são várias que estão por detrás e que orienta os indivíduos na 
automedicação, nos referimos às lógicas populares, família, lógicas hospitalares, etc. 
Olhando para a lógica hospitalar, vamos perceber que os indivíduos fazem interpretação de 
sintomas com base nos conhecimentos que foram adquirindo ao longo dos tempos com os 
médicos na decisão do uso de medicamentos. E com base nesta lógica, muitos indivíduos quando 
questionados por exemplo sobre como é que sabiam se determinada doença ou sintoma só pode 
se resolver com a automedicação ou indo para hospital, a resposta que a maioria dos nossos 
entrevistados dava, era de que eles percebiam através do tipo de doença que os aflige, 
aproximam a uma farmácia para comprar o medicamento, não precisando portanto, de ir até uma 
unidade sanitária para receber uma orientação médica para tal. 
A seguir temos alguns extractos dos nossos entrevistados que evidenciam algumas lógicas que 
orientam os residentes do Bairro Polana Caniço “A” na automedicação, como podemos ver: 
(...) Quando sinto uma dor de cabeça já não preciso ir ao hospital, porque, sempre que 
vou o médico me dão paracetamol, então eu já sei que quando doe minha cabeça a única 
solução para curar-me é ir até a farmácia comprar paracetamol e tomar.15 
(...) É sempre mesma coisa, eu parei de ir pra médico porque sempre que eu sentia 
cólicas e ia para o hospital, o médico só me dava ibuprofeno e paracetamol, sempre, 
hoje em dia quando estou no meu período menstrual, não vou ao hospital, porque sei que 
é só eu tomar ibruprofeno, coldaflu e paracetamol simples e dá certo.16 
(...) Meu filho, eu não vou para o hospital a não ser que seja algo grave mesmo, quando 
é uma dor de cabeça, dor de corpo, tosse, entre essas dores simples, medico-me porque 
já conheço todos medicamentos e o principal de todos é paracetamol.17 
 
15 Entrevista do dia 30/01/2021 com Salma de 38 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
16 Entrevista do dia 25/01/2021 com Rosa de 36 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
17 Entrevista do dia 24/01/2021 com Luís de 55 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
35 
Fazendo uma interpretação dos extractos de entrevistas, vemos neles que há uma tendência dos 
residentes se automedicarem seguindo uma lógica que é orientada ou que foi incutida pelos 
profissionais de saúde, visto que, em todos os momentos em que os pacientes vão ao hospital 
sempre dão-lhes paracetamol como um dos principais medicamentos, e isto por sua vez, acabou 
criando uma lógica nos residentes do bairro e que hoje em dia os orienta automedicação. Em 
outras palavras podemos perceber que os indivíduos fazem interpretação dos sintomas que eles 
tem, e esta interpretação, por sua vez está ligada ao estoque de conhecimento (Schutz, 1979), 
visto que, eles num momento tiveram um tipo de sintomas, e se dirigiram a uma unidade 
sanitária e os receitaram um tipo de medicamento e num outro momento voltam a ter o mesmo 
tipo de sintoma, então a partir daí a pessoa usa o estoque do conhecimento que já vinha tendo e 
interpretam. 
Vale lembrar que o conhecimento de um indivíduo acerca de uma dada doença tem sempre uma 
história particular, pois é constituído por experiências diversas. Assim, é de se esperar que este 
conhecimento exista em um fluxo seguido e que o mesmo seja passível de mudanças, tanto em 
termos de extensão como em termos de estrutura. Portanto, a explicação que as pessoas elaboram 
para uma dada experiência de enfermidade é o resultado dos diferentes meios pelos quais elas 
adquirem seus conhecimentos médicos como referimos anteriormente e, taisconhecimentos são 
diferentes entre as pessoas, por serem originados em situações biográficas determinadas. 
Ainda olhando para as lógicas que orientam os indivíduos na automedicação, podemos constatar 
que alguns dos nossos entrevistados relataram ter observado resultados satisfatórios quando se 
automedicam, resultados estes que de forma significativa os orienta ainda mais na 
automedicação como podemos ver abaixo: 
(...) Automedico-me por que acredito que surtirá efeito na dor que sinto, e quando eu 
tomo um determinado medicamento, não acho que faz mal, porque sempre quando eu 
estou com dor, eu tomo e a dor melhora.18 
(...) Automedico-me já há muito tempo, filho e, sempre dá certo, tenho quase sempre 
dores constantes de cabeça, mas quando me automedico, fico calmo o dia inteiro, não 
falha.19 
 
18 Entrevista do dia 31/01/2021 com Teresa de 35 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
36 
(...) Nós aqui em casa nos automedicamos, as vezes com base nas experiências dos 
outros, nós acreditamos e a automedicação tem surtido efeito e é por esta via que sempre 
optamos em nos automedicar.20 
(...) Eu não costumo ir ao hospital na verdade, porque não confio nos médicos (…) mas 
sim nos meus familiares, eles é que sempre me curam quando fico doente, e são os que 
me dão a visão de vida e de muita coisa, o hospital não tem nada a ver comigo.21 
No que toca aos extractos acima, podemos perceber que as lógicas que orientam os indivíduos na 
automedicação, estão relacionadas em parte com a confiança que os mesmos têm com relação 
aos medicamentos, mas também estão relacionadas com as vivências dos mesmos. O conceito 
mundo de vida, (Schutz 1979), se enquadra neste aspecto, pois os indivíduos constroem a 
realidade social pautada na significação dos actos pelo sujeito que os pratica, nesse caso que 
seria a automedicação. 
Olhando mais uma vez para estes extractos dos nossos entrevistados de acordo com Geertz 
(1989), quando advoga que a cultura é uma rede simbólica e semiótica, afirmando que os 
homens estão suspensos numa teia de significados, que eles próprios teceram e que a cultura é 
constituída por essas redes, percebemos nisto que os indivíduos com base na socialização, os 
indivíduos partilham suas experiências (automedicação é uma prática que tem a partilha social), 
concepções e crenças relativamente a automedicação, denotando assim, a capacidade 
interpretativa do que é a automedicação para os mesmos, quer dizer, eles tem fé ou a certeza que 
a automedicação sempre surtirá efeito positivo, não precisando dessa forma se dirigir a uma 
unidade sanitária. 
Lógicas populares, família, etc., experiências positivas na automedicação, a função simbólica 
que os medicamentos exercem sobre a população são a dificuldade de acesso aos serviços de 
saúde que contribuem para a automedicação como forma de gestão individual de saúde. 
 
 
 
19 Entrevista do dia 25/01/2021 com Ângelo de 60 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
20 Entrevista do dia 06/02/2021 com Cacilda de 52 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
21 Entrevista do dia 21/01/2021 com Artur de 23 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
37 
5.5. Das Lógicas aos Significados da Automedicação para os Residentes do Bairro 
Polana Caniço “A” 
No subtítulo anterior abordamos a questão das lógicas que orientam os indivíduos na 
automedicação, e aqui, procuramos olhar para a questão dos significados, visto que primeiro há 
uma lógica que depois nos leva aos significados, e é por esta via que procuramos analisar os 
significados da automedicação para os residentes do Bairro Polana Caniço “A”, isto porque 
também, não há dúvidas que existem significados subjacentes e que são atribuídos a esta prática 
da automedicação. É importante destacar que o medicamento em si trás intrinsecamente um valor 
simbólico, que expressa a vontade de transformar o curso natural da doença na vida do 
indivíduo. 
Com base nas entrevistas que efectuamos no terreno, pudemos constatar que os significados que 
são atribuídos a esta prática são vários, alguns participantes afirmaram que quando se 
automedicam evitam a morte, quer dizer, este o sentido que eles dão à automedicação, outros 
afirmavam que a automedicação tem um significado cultural, na medida em que segundo os 
nossos entrevistados a automedicação tornou-se um hábito nas suas vidas e de tanto se 
automedicar já não imaginam as suas vidas sem a automedicação, quer dizer, a automedicação 
ganhou um espaço significante na vida desses indivíduos e para outros o significado da 
automedicação é o de bem-estar. Portanto, para percebermos melhor temos os extractos a seguir: 
(...) Me automedico e já faço há um bom tempo e com a automedicação e evito a morte.22 
(…) Para mim, automedicação significa eu me sentir bem, por isso que me automedico 
quando estou incomodado e continuo até hoje.23 
(...) Comecei a me automedicar e não me arrependo por conta disso, digo mais, foi algo 
que descobri e que hoje tem um valor para mim, porque com base no conhecimento que 
tenho e mais, hoje posso me automedicar e me sentir bem.24 
 
 
22 Entrevista do dia 02/02/2021 com Luís de 55 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
23 Entrevista do dia 02/02/2021 com Auneta de 40 anos de idade residente do Bairro Polana Canico “A”. 
24 Entrevista do dia 05/02/2021 com Noêmia de 57 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
38 
(…) Automedicação para mim já ganhou um lugar preponderante na minha vida (...) 
sabe, eu já estou a bastante tempo e não sei o que é ir para o hospital, sempre que me 
sinto incomodado recorro a automedicação e sempre tenho tido resultados positivos, por 
isso que eu digo que esta prática para representa mais de que uma simples 
automedicação, mas sim uma prática cultural, já virou um hábito para mim.25 
(...) Conforme vês e conforme eu te disse, tenho 60 anos, sempre tomei medicamento sem 
receita, não digo que não vou ao hospital, vou, mas já estou há anos que tomo 
medicamento sem receita e estou aqui vivo graças a automedicação.26 
Olhando para os extractos acima e fazendo uma interpretação dos mesmos recorrendo a Geertz 
(1989), podemos percebemos que a automedicação ao ser vista como uma prática cultural pelos 
residentes do Bairro Polana Caniço “A”, acaba sendo ou constituída por uma teia de significados 
que tem a ver com a crença, etc. Portanto vemos nestes extractos de entrevistas que os 
significados são vários, para uns automedicação significa evitar a morte, para outros significa 
bem-estar e, outros a automedicação tem um significado cultural que ao longo do tempo foi 
ganhando o status na vida desses indivíduos, em outras palavras, os indivíduos passaram a ter a 
automedicação como um habito/costume nas suas vidas e que segundo eles não imaginam as 
suas vidas sem a automedicação, reconhecendo sim que existem riscos na automedicação, mas 
nem por isso podem parar com esta prática. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 Entrevista do dia 06/02/2021 com Cacilda de 52 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A”. 
26 Entrevista do dia 07/02/2021 com Ângelo de 60 anos de idade residente do Bairro Polana Caniço “A". 
39 
6. CONCLUSÃO 
No início da pesquisa, propusemo-nos a responder a seguinte questão: quais são os significados 
da automedicação para os residentes do Bairro Polana Caniço “A”? E para dar resposta a questão 
colocada, pautamos pela articulação de duas teorias, a teoria interpretativa de Clifford Geertz que 
pressupõe fazer uma segunda interpretação depois da interpretação

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