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Água de maceração de milho Denominada milhocina (nome comercial) e na língua inglesa, “corn steep liquor” ou “corn steep water”, a água de maceração de milho é um subproduto resultante da indústria de beneficiamento de milho. Ela é oriunda do processamento por via úmida, no qual o grão de milho é macerado e retira-se o amido, que é utilizado para cervejarias e diversos outros produtos, sendo a milhocina o efluente desse processo (ZANOTTO, 2011). O primeiro uso reportado para a água de maceração de milho na história foi em fermentação microbiana, como componente de meio de cultura, junto com lactose, para produção de penicilina. O desenvolvimento desse meio, por Andrew J. Moyer, foi um marco da produção desse antibiótico em ampla escala, por processo fermentativo submerso (HOSLER; JOHNSON, 1953). A água de maceração de milho contém uma grande quantidade de matéria orgânica (ABIMILHO, 2011, LIGGETT; KOFFLER, 1948). Algumas de suas características físico-químicas são: à temperatura ambiente, é liquida, de cheiro agradável, sabor adocicado, viscosa, pH de 3,7 a 4,4; densidade (em graus Baumè, a 15,6°C) de 24 a 27 ºBé; acidez (em função de ácido lático) em torno de 3%. Sua composição é muito variável, depende da condição e qualidade do grão de milho e de seu processamento (ZANOTTO, 2011). A milhocina, no geral, é composta por nutrientes como nitrogênio, carboidratos, proteínas, aminoácidos, vitaminas, sais minerais, ácidos orgânicos e ácidos graxos (DOMINGOS, 2009; ZANOTTO, 2011). Seu conteúdo de nitrogênio em peso seco é, em média, de 7,7 a 8.2% (TAN, et al., 2016), sendo assim considerada uma fonte abundante desse elemento principalmente na forma orgânica, o que atende mais satisfatoriamente os requerimentos nutricionais dos processos fermentativos (GENTINA et al., 1997, SAHA; RACINE, 2010). Os carboidratos encontrados, cujo teor não costuma ser maior que 5% (ZANOTTO, 2011), podem ser divididos em três subgrupos: i) monossacarídeos - principalmente glicose e frutose com pequenas quantidades de galactose, arabinose e ocasionalmente xilose; ii) di e trissacarídeos - principalmente sacarose, rafinose, melibiose, trealose e maltose e iii) polissacarídeos - amido e hemicelulose. Como proteínas, cujo teor pode chegar a 50%, em peso seco, são encontradas albumina, globulina, glutelina e zeína (WILSON, 1987), além de várias enzimas, como por exemplo α-amilase, β-D-galactosidase, β-D- hexosaminidase e α-D-glucosidase. Em relação aos aminoácidos encontra- se em níveis mais altos ácido glutâmico, leucina, prolina e asparagina, em níveis mais baixos, lisina, cisteína e metionina. Em relação aos ácidos orgânicos, são encontrados ácido lático, que segundo Wright, (1987) é um dos constituintes mais predominantes na água de maceração de milho, e, em menores concentrações também encontra-se ácido glicólico. Os ácidos graxos são encontrados em quantidades muito pequenas, sendo o ácido linoléico o mais predominante. E em relação ao conteúdo de sais minerais, o ferro é o mineral mais presente, e em seguida vêm outros íons fisiologicamente importantes como potássio, sódio, fosfato inorgânico e cloreto (HULL et al., 1996). Devido a essa grande quantidade de matéria orgânica que possui e quando não tem destino de venda, a milhocina, em muitos casos, necessita receber técnicas de tratamento antes do descarte, uma vez que sua alta DBO (demanda bioquímica de oxigênio) pode causar a morte de organismos dos ecossistemas aquáticos (LIGGETT; KOFFLER, 1948). A produção de milhocina no Brasil é estimada em 16.320 ton./ano e atende apenas o mercado interno. Seu preço no mercado interno é de aproximadamente R$ 250,00/ton., enquanto que no mercado internacional gira em torno de $ 200/ton. (TAN, et al., 2016). As principais aplicações da água de maceração de milho são seus usos como alimento complementar na fabricação de rações para aves e ruminantes (ZANOTTO, 2011, MENEGHETTI; DOMINGUEZ, 2008) e como substrato em processos fermentativos microbianos (AMARTEY & LEUNG, 2000), para a obtenção de produtos como antibióticos (MOYER; COGHILL, 1946), álcoois (OKUDA et al., 2008), biomassa (MACHADO et al., 2009), enzimas (MANERA, et al., 2011) e biossurfactantes (ANTUNES et al., 2013). Por ser uma matéria-prima abundante, de baixo custo e de alto teor de nitrogênio, a milhocina vem sendo muito utilizada como fonte deste nutriente (que depois do carbono é o mais requerido pela célula) em diversos tipos de fermentações microbianas (XIAO, et al., 2012, TAN, et al., 2016). Da Silva et al., em 2016, produziram eritritol por Yarrowia lipolytica usando milhocina como fonte de nitrogênio e nutrientes. Manera et al.(2011) utilizaram água de maceração de milho (100g/L) junto com soro de leite para produção da enzima β-galactosidase; já Nascimento e Martins (2006), conseguiram produzir proteases com Bacillus sp SMIA-2 em meio contendo milhocina como co-substrato. E Tan et al. (2016) conseguiram produzir eficientemente ácido biosuccínico por Actinobacillus succinogenes, utilizando milhocina como fonte de nitrogênio, no lugar do caro extrato de levedura.