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Aula 12 - O Arcadismo I - Bocage

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ARCADISMO I
Bocage
Almoço na Relva Pintura Édouard Manet
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O arcadismo é uma escola literária surgida na Europa no século XVIII, também denominada de setecentismo ou neoclassicismo. O nome "arcadismo" é uma referência à Arcádia, região campestre do Peloponeso, na Grécia antiga, tida como ideal de inspiração poética.
ORIGEM
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O século XVIII ficou conhecido na Europa como Século das Luzes, considerando o florescimento artístico e cultural vivido pela sociedade nesse período. O Iluminismo, filosofia de caráter burguês, combatia o obscurantismo da época barroca e seus preceitos religiosos e místicos, opondo-lhe o racionalismo e uma atitude de retomada da cultura clássica.
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CONTEXTO HISTÓRICO
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Os defensores dessa premissa – pensadores, artistas, filósofos, educadores – tornaram-se antagonistas de teorias católicas e passaram a disputar com a Igreja o controle da educação em algumas regiões da Europa.
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John Locke, Voltaire, Rousseau, Diderot, Montesquieu e d'Alembert: livre pensadores iluministas
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Os iluministas faziam a apologia do saber e do conhecimento. Sábios como Diderot, Montesquieu, Rousseau, D’Alembert, Voltaire e outros dedicaram-se à tarefa de reunir, em uma só obra, todo o conhecimento humano: tratava-se da Enciclopédia, símbolo da crença no poder transformador da Ciência.
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A transformação que objetivavam tinha também caráter político e combatia os privilégios da nobreza. Expressões como “liberdade” e “igualdade” ganharam conotação revolucionária, em um processo que culminaria com a Revolução Francesa de 1789.
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Ilustração da queda da Bastilha, 1789
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Para os iluministas, viver em liberdade e igualdade era 
aprender as lições do homem quando este vivia em estado natural, antes da civilização. Não se tratava de um retorno às selvas, mas de tentativa de introduzir esses valores na vida civil. Na literatura, ganha força a imagem do bom selvagem, criada por Rousseau para representar o homem puro, ainda não contaminado pela concorrência humana e pela ambição que marcavam as relações sociais.
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As “luzes” chegaram a Portugal e foi o marquês de Pombal (primeiro-ministro do rei D. José I, que governou o país de 1750 a 1777) quem se manifestava e agia de maneira mais contundente em defesa dessas ideias.
PORTUGAL
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Marquês de Pombal
Rei D. José, de Portugal
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Pombal era um déspota esclarecido que, diante da reação do clero ao seu projeto de laicização do ensino, expulsou os jesuítas do território português. Com a influência do ensino religioso na vida cultural, começara um processo de decadência no ensino português. Reverter essa situação foi o principal feito da Reforma Pombalina.
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Despotismo é uma forma de governo na qual uma única entidade governa com poder absoluto.
Déspotas esclarecidos são soberanos europeus que tentaram colocar em prática as ideias dos pensadores iluministas. 
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No Brasil, as ideias iluministas vieram ao encontro dos sentimentos e anseios nativistas, com maior repercussão em Vila Rica, centro econômico da colônia, graças à mineração. O acontecimento mais importante gerado pelo Iluminismo europeu no Brasil foi a Inconfidência Mineira, tentativa de libertar o Brasil do domínio colonial português.
BRASIL
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Tiradentes
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Em Portugal, o Arcadismo, também chamado de Neoclassicismo e ainda de Setecentismo, tem como data de referência inicial o ano de 1756, com a fundação da Arcádia Lusitana, entidade em que se reuniam artistas para debater sobre a arte. No Brasil, o marco inaugural do estilo se deu com a publicação do livro de poemas Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768.
MARCO HISTÓRICO
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O Arcadismo, a exemplo do Renascimento, retoma a cultura clássica (Grécia e Roma), o que justifica a denominação de Neoclassicismo. Essa retomada se deu por identificação, nele, de valores muito parecidos com os valores iluministas, como o racionalismo e a apologia do conhecimento.
caracterização
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A imitação dos modelos antigos passou a ser um ideal defendido abertamente pelos árcades. Assim, noções como equilíbrio, harmonia, arte ética 
(Bem = Belo), apologia de valores espirituais, em detrimento de valores materiais, voltam a fazer parte da prática literária, como já tinha ocorrido com o Classicismo do século XVI. A mitologia clássica ganha novo impulso como fonte de inspiração e de referência.
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Essa aproximação do modelo antigo representava também uma reação aos excessos do Barroco. Na tentativa de encontrar linguagem mais simples e direta, os árcades afastaram da expressão artística o rebuscamento típico do estilo anterior.
A linguagem simples e despojada, buscada pelos árcades, levou-os a defender o inutilia truncat (= cortar o que é inútil).
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A plenitude da vida na terra só poderia ser obtida com equilíbrio e tranquilidade, o que correspondia a outro ideal árcade, aurea mediocritas 
(a mediania é de ouro, ou: o equilíbrio vale ouro). A crença na felicidade terrena permitiu a valorização do momento presente. Esse tema era já muito antigo e recebia o nome latino de carpe diem 
(aproveitar o presente).
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A Natureza, tão importante para os iluministas, também exerceu grande fascínio nos árcades. Os cenários dos poemas são geralmente compostos por ambientes alegres, onde o ser humano vive em harmonia. Essa cenografia recebeu o nome de locus amoenus (= lugar ameno). O otimismo evidente desse tipo de ambientação associava o campo à alegria e à felicidade.
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Em contrapartida, a vida urbana era considerada indigna e traiçoeira – daí por que eles pregavam o fugere urbem (fuga da cidade). O elogio da vida natural permite falar em um dos aspectos mais característicos do Arcadismo: o bucolismo, isto é, a consagração de uma imagem campestre e tranquila. Quase sempre, a Natureza explorada nos poemas árcades era pastoril.
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A busca de uma identificação com o universo pastoril levava os artistas a adotarem pseudônimos inspirados em supostos nomes de pastores antigos.	
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Barroco x arcadismo
		BARROCO	ARCADISMO
	VOCABULÁRIO	Culto, rebuscado	Simples
	FRASES	Cheias de inversões sintáticas	Em ordem direta
	FIGURAS DE LINGUAGEM	Em excesso	pouquíssimas
	CONSTRUÇÕES	Complexas	Ao estilo clássico
	CULTURA	Religiosa (cristã)	Greco-Latina
	FIGURA FEMININA	Mulher = pecado	mulher é superior, inalcançável
	TEMAS	Conflito espiritual, carnal x espiritual,
consciência da efemeridade do tempo, cultismo, conceptismo, carpe-diem Teocentrismo x Antropocentrismo	pastoralismo, bucolismo, idéias
iluministas, racionalismo
fugere-urbem, áurea medioacritas, carpe-diem e Antropocentrismo
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Manuel Maria Barbosa du Bocage nasceu em 1765 (Setúbal) e morreu em 1805 (Lisboa). Sua vida caracteriza-se pelas irregularidades e infortúnios. Socialmente inadaptado, andou e conviveu bastante pelas periferias, em tavernas, becos, comumente em companhia de marginalizados. 
Manuel m. Du Bocage
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A aguda inteligência, a fina espiritualidade e a sutil sensibilidade desenvolveram-se a par dessa trajetória social pouco convencional, mesmo para a época em que viveu, tanto que se narram histórias de confusões e até de prisões vividas pelo poeta. 
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Todavia, esse ambiente social, se não contribuiu para aprimorar a capacidade versificatória desse autor, também não prejudicou esse processo, pois Bocage é dono de técnica poética ímpar, a ponto de ser considerado um dos três melhores sonetistas de Portugal. Nesse mister, é colocado honrosamente ao lado de Camões e de Antero de Quental. 
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No geral, economicamente sempre viveu mal, satirizou muito, principalmente poderosos, e morreu com apenas 40 anos de idade, melancolicamente, o que foi um fim não muito diferente da forma como conduzira boa parte de sua curta vida. Bocage escreveu poesia satírica e poesia lírica.
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Como satírico, expôs as mazelas de seu tempo em linguagem quase sempre “pesada”.Os seus alvos preferidos eram os poderosos, mas também não poupou seus colegas de Academia. A exploração da temática sexual marcou sua produção satírica.
Bocage: obra satírica
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Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:
Dido foi puta, e puta dum soldado,
Cleópatra por puta alcança a coroa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu corno não passa por honrado:
Essa da Rússia imperatriz famosa
Que ainda há pouco morreu (diz a Gazeta),
Entre mil porras expirou vaidosa:
Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isto de virgo e honra é tudo peta.
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Como lírico, Bocage tem duas vertentes. Uma é a do árcade obediente a todos os convencionalismos dessa escola literária: a natureza bela, amiga e delicada (bucolismo), a paz do campo (elogio da tranquilidade), amores realizados, a pastora feliz (pastoralismo). Seguindo a tradição neoclássica, adotou o nome pastoril de Elmano Sadino. Tudo isso pode ser percebido no soneto a seguir, um dos mais representativos dessa faceta.
Bocage: obra lírica
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Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre flores?
Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta as inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folgas a abelhinha para,
Ora nos ares sussurrando gira:
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.
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A outra vertente lírica da obra de Bocage mostra um poeta atormentado, marcado pelo pessimismo e pela melancolia, capaz de arroubos egocêntricos e sentimentais. Essas marcas levaram a crítica a concluir que o poeta teria antecipado o Romantismo, o que lhe valeu a classificação de pré-romântico.
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Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores:
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade,
Que elas buscam piedade, e não louvores:
Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas, e amores;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores:
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.
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• Influência do Iluminismo > combate ao obscurantismo absolutista e teocêntrico
• Retomada da cultura greco-romana > mitologia
• Racionalismo, simplicidade e bucolismo
-aurea mediocritas , fugere urbem, carpe diem 
-poesia bucólica, pastoril
-racionalismo
-elementos da cultura greco-latina
-ideia do "bom selvagem" de Rousseau
-convencionalismo amoroso (idealização amorosa)
-aspecto formal: uso de formas clássicas (sonetos, versos decassílabos, poesia épica), vocabulário simples, frases em ordem direta, ausência quase total de figuras de linguagem
• Brasil: combate à colonização lusitana > Conjuração Mineira
RESUMO: ARCADISMO
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• Vertente arcádica = adequação à escola
• Vertente satírica: denúncia contra os poderosos
• Vertente romântica: intimismo, pessimismo e desconsolo > Pré-romântico
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