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Introdução à química orgânica O ser humano tem utilizado a química orgânica, desde a época das grandes civilizações egípcia e romana, para pigmentar tecidos, produzir medicamentos fitoterápicos e venenos, assim como processos mais complexos, como a fermentação da uva para produzir vinhos. No entanto, não se sabia qual era a composição química das substâncias utilizadas. Historicamente, a química orgânica recebeu essa denominação por estudar compostos extraídos de organismos dos reinos animal e vegetal. Acreditava-se que as substâncias extraídas eram compostas por uma força vital e que, portanto, não poderiam ser sintetizadas em laboratório. Porém, em 1828, o cientista Friedrich Woler descobriu que era possível produzir ureia ao aquecer o cianato de amônio (Figura 1). Figura 1. Produção de ureia a partir do cianato de amônio. Esta descoberta encorajou outros cientistas a buscar metodologias para sintetizar compostos orgânicos, levando-os a observar que o carbono era o elemento químico comum entre as diversas substâncias que eles obtiveram (COMASSETO; SANTOS, 2008). Devido a isso, a química orgânica é conhecida principalmente por estudar o carbono. Com o advento de tais pesquisas, identificou-se que o carbono, ao se ligar a outros elementos químicos, adquiria diferentes propriedades e funções, permitindo que diversas reações orgânicas fossem desenvolvidas. Consequentemente, os métodos analíticos para a caracterização dos compostos orgânicos tiveram que ser definidos. Inúmeras técnicas foram desenvolvidas, dentre elas a cromatografia (Figura 2), que é capaz de separar uma mistura líquida de compostos orgânicos pela diferença de solubilidade, por exemplo, passando a mistura por uma fase estacionária, geralmente uma resina (SADEK, 2004). Figura 2. Separação de uma mistura de compostos orgânicos (proteínas) utilizando coluna cromatográfica. Fonte: ACIKARA, 2014. Atualmente, a química orgânica está presente tanto na aspirina, para cuidar de uma dor de cabeça, quanto no combustível de automóveis. No entanto, é a partir da junção de conhecimentos presentes na química orgânica e na engenharia, que novos materiais compósitos, medicamentos, defensivos agrícolas, produtos de beleza, polímeros biodegradáveis, biocombustíveis e os mais diversos materiais podem ser produzidos (WILLIAM, 2014). As áreas de pesquisa e desenvolvimento em química orgânica, e consequentemente a indústria química, têm passado por uma revolução ao longo dos últimos anos. Isso porque cada vez mais instituições e a sociedade entendem a necessidade de buscar processos amigáveis ao meio-ambiente, a fim de mitigar os impactos gerados pela ação do homem. Por exemplo, em uma aplicação da química orgânica, a dopagem de um material inerte permitiu a adsorção de poluentes presentes no meio aquoso (CASTANHEIRA et al., 2017). Na prática, com a ampliação da fronteira do conhecimento e com o desenvolvimento de novas tecnologias envolvendo a química orgânica, a compreensão sobre o comportamento do carbono, bem como suas propriedades, funções orgânicas e principais formas de interação se tornaram indispensáveis, uma vez que permitem uma abordagem inovadora para a solução de diferentes problemas. Com base no contexto apresentado, diversos aspectos fundamentais da química serão abordados neste capítulo, facilitando a compreensão sobre reações que são utilizadas em processos químicos. Ligação e estrutura molecular Para compreender como os átomos se ligam, a fim de formar moléculas mais complexas, é preciso conhecer a sua composição, isto é, suas partículas subatômicas. Um átomo é composto por três partículas fundamentais: os prótons (p) que são partículas carregadas positivamente, sendo sua quantidade no núcleo denominada número atômico (Z); os nêutrons (n), por sua vez, não possuem carga e têm como principal função diminuir a energia de repulsão coulombiana entre os prótons, que tendem a se repelir. Essas duas partículas, prótons e nêutrons, somadas, formam o núcleo do átomo e concentram a maior parte da massa atômica, que é representada por A (A = N + Z). A terceira partícula é o elétron, que possui massa infinitamente menor em comparação às duas anteriores. Os elétrons estão presentes no átomo na mesma proporção que os prótons, e estão distribuídas ao redor do núcleo em camadas. Cada camada contém um número determinado de elétrons, sendo que os elétrons da última camada, conhecida como camada de valência, são os responsáveis por realizar as ligações com outros átomos. Além disso, os elétrons são carregados negativamente, fazendo com que as cargas presentes no átomo se igualem e resultando em um átomo neutro. As moléculas orgânicas são majoritariamente compostas por átomos de carbono (C) e hidrogênio (H), mas é comum encontrar heteroátomos, como oxigênio (O), nitrogênio (N), enxofre (S) e fósforo (P), além de halogênios, como o flúor (F), cloro (Cl), bromo (Br) e iodo (I). Desse modo, veremos como estes átomos se ligam, produzindo uma molécula, e as formas de representação das estruturas atômicas. TEORIA ESTRUTURAL A teoria estrutural é importante, pois explica como os átomos interagem para formar ligações. De acordo com essa teoria, cada átomo pode formar um número máximo de ligações, utilizando os elétrons dispostos na camada de valência. O carbono possui quatro elétrons nessa camada, logo, pode realizar quatro ligações, sendo então classificado como tetravalente. Hidrogênio e halogênios são monovalentes, ou seja, realizam apenas uma ligação. Já o oxigênio e o enxofre são bivalentes e o nitrogênio é trivalente. CURIOSIDADE É comum encontrar, na química orgânica, moléculas que possuem a mesma fórmula molecular, mas diferentes fórmulas estruturais, ou seja, a forma em que os átomos da molécula estão ligados é diferente. A teoria estrutural permitiu resolver essa questão, uma vez que isômeros geralmente possuem propriedades físicas e químicas diferentes, e essa diferença era uma incógnita para os cientistas. Outra premissa apontada pela teoria estrutural relaciona-se aos tipos de ligações que o carbono é capaz de formar, utilizando os elétrons da camada de valência. Assim, o carbono pode fazer ligações simples, representadas por um traço (C - C), ligações duplas, demonstradas por dois traços (C = C) e ligações triplas, ilustradas por três traços (C ≡ C). ESTRUTURAS DE LEWIS A união entre átomos produz as moléculas, por meio de ligações químicas. Os primeiros estudos acerca dessas ligações foram realizados em 1916, pelos cientistas Lewis e Kössel. Como resultado da pesquisa de ambos, foi proposto que os átomos podem se ligar por meio de ligações iônicas ou ligações covalentes. As ligações iônicas ocorrem quando um átomo ganha ou perde elétrons, logo, quando há transferência de elétrons acontecendo entre um metal e um ametal, o metal perde e o ametal ganha elétrons. Uma forma de avaliar a tendência dos átomos fazerem ligação iônica é pela diferença de eletronegatividade, que pode ser verificada na tabela periódica. Basicamente, essa característica aumenta da esquerda para direita e de baixo para cima, na tabela periódica. Uma das características mais marcantes de compostos que realizam ligação iônica é o seu alto ponto de fusão, que geralmente ultrapassa os 1000 ºC. Além disso, esses compostos são comumente sólidos. Um exemplo de composto iônico presente no nosso dia a dia é o cloreto de sódio (NaCl), também conhecido como sal de cozinha. Neste exemplo, o sódio (Na) é um metal com um elétron na camada de valência e grande tendência de perder elétrons, enquanto o cloro corresponde a um ametal com sete elétrons na camada de valência, por isso ganha mais facilmente elétrons. As ligações covalentes ocorrem entre ametais que possuem cerca de quatro a sete elétrons na camada mais externa. Nesse caso, paraque a ligação ocorra, há o compartilhamento de elétrons, que, portanto, pertencem a dois átomos simultaneamente. Embora as moléculas orgânicas são constituídas por ligação covalente, nem todos os elétrons são compartilhados. O carbono, por exemplo, possui quatro elétrons na camada de valência e pode compartilhar todos eles, para realizar ligações com outros átomos, como pode ser observado no metano (CH4). O cloro, por outro lado, possui sete elétrons em sua camada de valência, no entanto, compartilha apenas um elétron, como ocorre no tetracloreto de carbono (CCl4). De uma maneira simplificada, diz-se que estes átomos seguem a regra do octeto, para atingir a estabilidade (SOLOMONS; FRYHLE, 2012). EXPLICANDO Os átomos se ligam tanto por meio de ligações iônicas, quanto por ligações covalentes, para atingir a estabilidade. De acordo com a regra do octeto, a estabilidade é atingida quando um átomo apresenta oito elétrons na camada de valência, semelhante à configuração eletrônica de gases nobres. Outra possibilidade ocorre quando o átomo, por meio de ligações, alcança dois elétrons na camada de valência, semelhante ao hélio, um gás nobre. Existem também exceções à regra do octeto, alguns compostos, como PCl4 e SF6, podem conter átomos com mais de oito elétrons na camada de valência. Tanto as ligações iônicas, quanto as ligações covalentes entre átomos podem ser representadas por meio de pontos e ou estrelas, que simbolizam a quantidade de elétrons disponíveis na camada de valência. Esse tipo de representação é conhecido como estrutura de Lewis (Figura 3). Contudo, existem também diversas formas mais simplificadas de representar as ligações dos compostos orgânicos além da estrutura proposta por Lewis. Figura 3. Representação da estrutura de Lewis. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado). FÓRMULAS ESTRUTURAIS As fórmulas estruturais de traço, condensadas e de linhas são mais fáceis para ilustrar os compostos orgânicos, principalmente quando a estrutura é grande e ou complexa. A fórmula estrutural de traço representa, de maneira integral, como os átomos de hidrogênio se ligam ao carbono. Os traços podem ser dispostos em zigue-zague e, neste caso, demonstram com maior similaridade a disposição real dos átomos em uma molécula orgânica, pois as ligações usualmente possuem um ângulo. Contudo, é muito comum ilustrar a fórmula estrutural de traços utilizando ângulos de ligação de 90º, a fim de simplificar sua escrita (Figura 4). Figura 4. Fórmulas estruturais do pentano do tipo traço, condensada e linhas. As fórmulas condensadas (Figura 4) são a simplificação do modo de anotação das fórmulas estruturais de traços. Na representação de uma molécula orgânica, os átomos ligados ao carbono são escritos em uma sequência, ocupando a mesma linha. Os índices que aparecem em subscrito na fórmula indicam a quantidade do elemento, ligado ao carbono. Também é muito comum a utilização de colchetes para indicar a repetição de parte do constituinte da molécula, sendo que, do lado de fora dos colchetes, é adicionado um índice para representar a quantidade de repetições. Em uma notação ainda mais simples, pode-se apenas escrever quais são os átomos, seguidos de seus índices, representando, portanto, a quantidade de moléculas de carbono, hidrogênio e heteroátomos. Outra forma de representar a estrutura de moléculas orgânicas é pela estrutura de linhas ou bastão (Figura 4), na qual se assume que as conexões entre as linhas são feitas pelo carbono, raramente sendo representada por uma molécula de hidrogênio. Os heteroátomos, quando presentes, são escritos por suas fórmulas químicas. Essa fórmula estrutural é amplamente difundida na química orgânica, por isso é comum encontrar, tanto em livros quanto em artigos acadêmicos, moléculas orgânicas reproduzidas desta forma. CARGA FORMAL Até aqui, vimos que existem diferentes formas de representar uma estrutura molecular. No entanto, quando tratamos da estrutura de Lewis, devemos lembrar que nem todos os átomos se comportam de acordo com a regra do octeto ao realizar ligações químicas, fato que pode ocasionar inúmeras dúvidas. Com o intuito de resolver tal questão, é possível calcular a carga formal dos átomos e verificar qual é a estrutura mais próxima da realidade. Para tal, inicialmente, deve-se verificar qual a quantidade de elétrons na camada de valência do átomo de interesse. Essa tarefa pode ser facilmente realizada consultando a tabela periódica. Ao localizar o elemento químico na tabela, basta verificar a qual família ele pertence. O número da família corresponde à quantidade de elétrons na camada de valência, os grupos variando de 1A até 7A e de 1B até 8B. Como exemplo, considere uma molécula de oxido nitroso (N2O). Saberemos que o átomo de oxigênio possui seis elétrons na camada de valência e o nitrogênio possui cinco. Assim, a próxima etapa consiste em escrever as prováveis estruturas de Lewis e, em seguida, calcular a carga formal destas estruturas, que é dada por: Carga formal = V - (L + 1/2S) Nessa equação, V é o número de elétrons na camada de valência do átomo livre; L é o número de pares de elétrons livres após a ligação; e S é o número de elétrons compartilhados entre os átomos. A Figura 5 apresenta as possibilidades de ligações entre o nitrogênio e o oxigênio, e o cálculo da carga formal para as prováveis estruturas de Lewis do átomo de N2O. Figura 5. Possíveis estruturas de Lewis e cálculo da carga formal do átomo de N2O. Fonte: OPENSTAX, 2016. (Adaptado). Uma das formas de analisar qual a estrutura correta é observando os dados obtidos a partir do valor da carga formal. Quanto mais próximo de zero for este valor, maior a possibilidade de a molécula existir naquela conformação. Portanto, observando o exemplo do N2O (Figura 5), a estrutura de Lewis representada na possibilidade 1 é a mais provável, pois suas cargas formais, considerando os dois nitrogênios e o oxigênio, é mais próxima de zero. Orbitais atômicos e moleculares Vimos que os elétrons estão ao redor do núcleo do átomo. Contudo, sua distribuição não é randômica, podendo ser descrito pela mecânica quântica. De acordo com o princípio da incerteza, estabelecido pelo físico Werner Heisenberg, não é possível saber com precisão a exata localização e energia de uma partícula, princípio este que se estende aos elétrons. A mecânica quântica também considera que partículas podem ter o comportamento dual, denominado dualidade onda-partícula, que compreende o comportamento de uma partícula, como se ela possuísse massa em um dado momento, e como se ela fosse onda em outro instante. A função de onda, descrita por Erwin Schrödinger e representada por ψ (psi), descreve o comportamento de onda de um elétron em um nível de energia quântica. Já o quadrado da função de onda ψ2 considera um local especifico do eixo cartesiano (x, y, z) em que há maior probabilidade, ou densidade de probabilidade eletrônica, de se encontrar um elétron. Quando o valor de ψ2 é elevado, significa que a probabilidade de se ter um elétron naquela localização também e grande e, se ψ2 for pequeno, então a probabilidade é menor. A região do átomo em que há probabilidade de se encontrar um elétron é denominada de orbital atômico. Basicamente, existem quatro tipos de orbitais (Figura 6), retratados em três dimensões: Figura 6. Representação estrutural dos orbitais atômicos s, p, d e f. Fonte: MARRA, 2015. Clique nos botões para saber mais Orbital s + Orbital p + Orbitais d + Orbitais f + Os elétrons podem também ser representados pela utilização de números quânticos, n = 1, l = 0, ml = 0 e ms= +1/2. Os primeiros três relacionam-se à região com maior probabilidade de encontrar um elétron, enquanto o último relaciona-se ao spin. A forma com a qual os elétrons nos orbitais se organizamé determinada pela energia de seus subníveis, de modo que cada subnível é capaz de acomodar uma determinada quantidade de elétrons. Assim: Clique nos botões para saber mais Subnível “s” + Subnível “p” + Subnível “d” + Subnível “f” + A distribuição eletrônica destes subníveis pode ser realizada utilizando a distribuição de Linus Pauling (Figura 7). Adicionalmente, os subníveis são inseridos em sete camadas, que se iniciam no K e terminam no Q. Cada camada também admite apenas uma determinada quantidade de elétrons. Portanto, a camada K tem no máximo dois elétrons; as camadas L e Q, oito; a M e a P, 18; a N e a O, 32. Figura 7. Camadas eletrônicas e distribuição de Linus Pauling. Note que a distribuição deve seguir as setas. Por exemplo, um átomo de carbono possui seis elétrons, logo, sua distribuição eletrônica, de acordo com Linus Pauling, será de 1s2, 2s2, 2p2. Adicionalmente, seguindo algumas regras, torna-se possível determinar a configuração eletrônica dos primeiros dois períodos da tabela periódica, sendo constituída por: Clique nas abas para saber mais PRI NCÍ PIO DE A UFB AU PRI NCÍ PI O DE EXCLUSÃO DE PA ULIRE GRA DE HUND Indica que subníveis, dos orbitais de menor energia, são inicialmente preenchidos e qual é o mais próximo do núcleo. A compreensão dos orbitais atômicos permite entender como as ligações covalentes são formadas. Para exemplificar, considere o gráfico da Figura 8, que apresenta a síntese de uma molécula de hidrogênio H2. Para tal, são necessários dois átomos de H, que possui apenas um elétron em seu orbital 1s, portanto: https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.574.0400/content/_3171319_1/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.574.0400/content/_3171319_1/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.574.0400/content/_3171319_1/scormcontent/index.html https://sereduc.blackboard.com/courses/1/7.574.0400/content/_3171319_1/scormcontent/index.html Figura 8. Gráfico da formação da ligação covalente entre átomos de hidrogênio e diagrama de energia da molécula de hidrogênio. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado). Inicialmente, os átomos estão distantes um do outro; Ao se aproximarem, os núcleos começam a se atrair; As funções de onda dos orbitais envolvidos podem se somar ou subtrair. Quando as funções de onda são somadas, ocorre o reforço da densidade eletrônica entre os núcleos dos átomos e, consequentemente, ocorre a diminuição da energia de repulsão coulombiana, produzindo uma ligação; Se a energia aumentar novamente, os átomos tendem a se repelir. A junção dos dois orbitais atômicos, um de cada hidrogênio, produzirá dois orbitais moleculares: um de alta energia, denominado de orbital molecular antiligante; e outro com baixa energia, que corresponde ao orbital molecular ligante. As energias dos orbitais moleculares são diferentes da energia dos orbitais atômicos iniciais. Esta junção resulta em uma ligação covalente. Cabe ressaltar que existe uma certa distância entre os núcleos dos átomos, quando estão ligados covalentemente. Essa distância internuclear permite que os elétrons emparelhados pertençam, ao mesmo tempo, aos dois átomos, além de evitar a repulsão, que pode ocorrer devido à proximidade de dois núcleos, o comprimento desta distância estando associada à energia de ligação. Agora que compreendemos as etapas que resultam na ligação, pode-se definir o termo orbital molecular (OM), que é a região da molécula em que há o aumento da probabilidade de densidade eletrônica, logo, é o local mais provável de se encontrar os elétrons. Além disso, cada orbital pode conter no máximo dois elétrons emparelhados, seguindo, portanto, o princípio de exclusão de Pauli. Por fim, a quantidade de orbitais moleculares resultantes da ligação entre átomos é sempre igual à quantidade de orbitais atômicos presentes nos mesmos. A Figura 8 também apresenta um diagrama de energia, resultante da formação da molécula de hidrogênio com seus respectivos orbitais atômicos e moleculares. Com a soma dos orbitais atômicos produz-se apenas um orbital molecular preenchido por elétrons, o orbital ligante, que é comumente denominado de σ (sigma) e também representa a formação de uma ligação simples. O orbital antiligante, por outro lado, é denominado de σ* (sigma estrela). Em moléculas diatômicas, como o óxido de nitrogênio, que possui uma dupla ligação, além dos orbitais σ e σ*, também estão presentes as ligações π (pi), portanto, o orbital molecular ligante é representado por π e o antiligante por π*. O preenchimento dos orbitais moleculares com elétrons segue o mesmo padrão aplicado no preenchimento dos orbitais atômicos. Desta forma, são preenchidos os orbitais de menor energia, presentes na região inferior do diagrama, seguido dos de maior energia, localizados na região superior. Com relação às energias dos orbitais moleculares, que podem ser determinadas experimentalmente, existem basicamente três regras: A energia dos orbitais moleculares relaciona-se diretamente à energia dos orbitais atômicos; Quando os orbitas atômicos estão muito próximos de seus núcleos, a junção de dois átomos não produzirá orbitais ligantes ou antiligantes; O orbital ligante tem menor energia que o orbital atômico e o antiligante que possui maior energia. A quantidade de ligações químicas covalentes presentes na junção de dois átomos e sua estabilidade pode ser determinada pela ordem de ligação, calculada por: Os valores da ordem de ligação variam de 0 a 3, sendo que 0 significa que a ligação não tem possibilidade de ocorrer; 1 é referente a uma ligação simples; 2, ligações duplas; e 3, ligações triplas. Considere como exemplos uma molécula de hélio (He2) e as ligações entre o oxigênio e o nitrogênio de uma molécula de oxido nitroso (N=O). O átomo de He possui apenas dois elétrons no orbital 1s, de modo que a união entre dois átomos resultaria em um diagrama do orbital molecular com um orbital ligante e um antiligante, ambos completamente preenchidos, logo, a ordem de ligação seria igual a zero, fazendo com que a molécula de hélio não seja possível. No caso do oxido nitroso, apenas os elétrons da camada de valência são utilizados para construir o diagrama do orbital molecular. O oxigênio possui seis elétrons na camada de valência, enquanto o nitrogênio possui apenas cinco. Na distribuição dos elétrons no OM, os orbitais ligante e antiligante 2s são preenchidos na integra. Quanto aos orbitais referentes a 2p, três orbitais ligantes são preenchidos e um antiligante é preenchido com apenas um elétron. É importante ressaltar que a ordem de ligação não necessariamente precisa ser um número inteiro. Assim, a ordem de ligação neste caso é de 2,5. HIBRIDIZAÇÃO Além da teoria do orbital molecular, as ligações covalentes podem ser explicadas pela hibridização. Desse modo, as ligações são resultantes da sobreposição dos orbitais atômicos que são rearranjados no espaço. Matematicamente, os orbitais híbridos ocorrem devido à combinação das funções de onda. Uma forma de visualizar esta combinação é imaginando que a nuvem de elétrons se comporta de modo semelhante a uma onda em um lago, causada por uma perturbação qualquer. Quando duas ondas se juntam, tem-se a formação de uma única onda, que possui características diferentes das ondas iniciais. Logo, diferentes funções de onda resultam em diferentes combinações de orbitais, sendo que a quantidade de orbitais híbridos é proporcional à quantidade de funções de onda. Por exemplo, a combinação entre um orbital 2s e um 2px resulta em dois orbitais híbridos, ou seja, duas funções de onda. A combinação entre os orbitais 2s e 2px pode ser simplesmente denominada de sp. Então, seguindo a mesma lógica, a combinação entre um orbital 2s e dois orbitais 2p, que são referentesaos orbitais 2px e 2py, lembrando que os orbitais do tipo p podem possuir diferentes orientações no espaço, nos eixos x, y e z, formando o orbital hibridizado sp2. A combinação dos orbitais determina também a forma com a qual a molécula irá se orientar espacialmente. Portanto, com a formação de ligações covalentes, têm se a diminuição da repulsão eletrônica em torno do átomo central. Considere como exemplo o carbono e sua distribuição eletrônica de 1s2, 2s2, 2p2. De acordo com essa distribuição, o carbono possui apenas dois elétrons desemparelhados nos orbitais 2px e 2py, logo, poderia realizar apenas duas ligações, e não quatro, como estudamos anteriormente. No entanto, esta configuração se refere ao carbono em seu estado fundamental. Ao fornecer uma pequena quantidade de energia, o carbono passa para o estado excitado, em que um dos elétrons do orbital 2s2 é transferido para o orbital 2pz. Como resultado desta transferência, o carbono passa a possuir quatro orbitais semipreenchidos que se unem, formando um novo orbital hibridizado. Portanto, o carbono se torna capaz de realizar quatro ligações simples, também chamadas de ligação σ, e seu orbital híbrido é denominado de sp3, que espacialmente é um tetraedro. A ligação entre o carbono e um hidrogênio, que possui apenas um elétron no orbital 1s, resulta sobreposição dos orbitais sp3 e s, formando efetivamente uma ligação σ. Orbitais do tipo sp3 são comuns na química orgânica. Contudo, estudamos que o carbono também pode realizar ligações duplas C=C, ou seja, o compartilhamento de dois pares de elétrons entre carbonos, o que produz o orbital hibridizado sp2. Nesse caso, assim como anteriormente, o carbono vai do estado fundamental para o excitado, e o orbital s transfere um elétron para o orbital p. Entretanto, a hibridização ocorre entre os orbitais 2s, 2px e 2py, sendo que o orbital 2pz não realiza a hibridização. Os orbitais sp2 se organizam espacialmente na forma de um triangulo, e o orbital p não hibridizado se arranja perpendicularmente ao triangulo. Assim, a sobreposição entre dois carbonos com orbitais hibridizados sp2 gera uma ligação σ, e os orbitais p realizam uma ligação π que ocorre lateralmente. A interação entre carbono com orbital hibridizado sp gera uma ligação tripla. Nesse caso, o orbital 2s hibridiza com um 2px, produzindo dois orbitais lineares do tipo sp. Os outros orbitais, 2py e 2pz, não sofrem hibridização e se mantém em seus respectivos eixos. A interação entre dois carbonos hibridizados sp ocorre pela sobreposição frontal, que forma uma ligação σ. Os outros orbitais p não hibridizados realizam, cada um, uma ligação do tipo π. A Figura 9 apresenta a transferência de elétrons do orbital 2s2 do carbono em seu estado fundamental para o orbital 2pz, resultando no carbono em seu estado excitado, além dos orbitais do carbono hibridizados sp3, sp2 e sp. Figura 9. Transferência do orbital 2s para orbital 2pz do carbono. Fonte: BARBOSA, 2011. (Adaptado). O carbono também pode interagir com outros átomos, como o oxigênio e o nitrogênio, que realizam dupla ligação, logo, possuem orbitais hibridizados do tipo sp2. O nitrogênio também é capaz de realizar ligação tripla, assumindo a configuração do orbital hibridizado do tipo sp. PROJEÇÕES DE NEWMAN Até aqui, analisamos as ligações entre átomos para formar moléculas. Estudamos que a ligação mais comum entre átomos de carbonos é a ligação simples, também denominada de ligação sigma (σ). Basicamente, essa ligação ocorre devido ao compartilhamento de elétrons entre dois átomos, resultando na ligação covalente. Ainda de acordo com a teoria dos orbitais moleculares, essa ligação ocorre devido à sobreposição de orbitais. Uma das características da ligação sigma está relacionada à sua densidade eletrônica, localizada especificamente no eixo em que ocorre a ligação entre os átomos, situação essa diferente da observada em ligações duplas do tipo pi (π), na qual a densidade eletrônica se localiza acima ou abaixo, em relação ao eixo da ligação entre dois átomos. Logo, em uma ligação σ, a sobreposição de orbitais ao longo do eixo permite que a ligação possa girar ao redor do próprio eixo. No caso das ligações π, em que a sobreposição dos orbitais ocorre lateralmente, o movimento de rotação não é possível, pois isto quebraria a ligação. Portanto, as ligações π não podem girar livremente. Para que estas rotações ocorram, faz-se necessário a utilização de energia que é denominada de barreira de rotação. Por exemplo, em uma molécula de etano (H3C-CH3), há uma barreira de rotação de 2,9 kcal/mol. Nesse caso, a energia necessária é pequena e, por isso, dizemos que a rotação ocorre livremente. A molécula de etano é constituída, espacialmente, por dois carbonos, ligados por meio de uma ligação simples, e três hidrogênios, ligados em cada carbono em direções distintas. A rotação dessa molécula (Figura 10a), em um ângulo de 60º, pode resultar na conformação em oposição e em coincidência. Na conformação em oposição, os átomos de hidrogênio, localizados nas extremidades, assumem ângulos opostos entre si, em outras palavras, assumem as bissetrizes dos ângulos. Na conformação em coincidência, a posição dos hidrogênios coincide, sendo que, se a molécula for observada sob outra perspectiva, é possível visualizar apenas três dos seis hidrogênios presentes na molécula. Figura 10. (a) Rotação do etano em A e C para conformação de oposição, e em B para conformação de coincidência; (b) Representação de uma molécula do etano sendo convertida a uma projeção de Newman;(c) Diagrama de energia potencial das estruturas de Newman. Fonte: VALLHARDT; SCHORE, 2013. (Adaptado). Em uma molécula em que os átomos de hidrogênio são substituídos por outros átomos, as conformações podem resultar em diferentes arranjos. A representação destes arranjos pode ser realizada pelas projeções de Newman (Figura 10b), a fim de simplificar a visualização. A projeção deve ser representada como se o espectador observasse a molécula com a ligação C-C perpendicular ao eixo da folha. Basicamente, a representação consiste em uma um átomo central, que é simbolizado pelo encontro de três, duas das linhas estão dispostas na vertical e uma está apontada para cima. Um círculo é adicionado para representar o carbono de trás, e mais três linhas referentes aos átomos ligados a este carbono são adicionadas. As conformações assumidas pela molécula de etano, por exemplo, possuem diferentes energias potenciais. A conformação em oposição tem menor energia e, portanto, é mais estável, pois as ligações C-H da frente estão mais distantes entre os carbonos e, consequentemente, há a diminuição da repulsão. A conformação em coincidência, em contrapartida, é menos estável, devido à redução da distância entre as ligações C-H dos dois carbonos, logo, tem-se o aumento da repulsão. A rotação ao redor do eixo, que resulta na conformação em coincidência, tem energia de rotação de 2,9 kcal/mol. Em adição, essa configuração reduz a energia de ligação entre os átomos de carbono, apesar de ocorrer ao longo do eixo, pois a sobreposição dos orbitais sofre pequenas alterações, e a repulsão também aumenta. A variação da energia, devido à rotação da ligação de uma molécula, pode ser observada em um diagrama de energia potencial (Figura 10c), em que a energia mínima corresponde a 0º da conformação em oposição e aumenta conforme a rotação da ligação (VALLHARDT; SCHORE, 2013). Contudo, existem exceções quanto à rotação da ligação sigma. Por exemplo, em uma molécula cujas ligações são conjugadas, na qual ligações duplas e simples ocorrem intercaladas, como o 1,3-butadieno (H2C=CH—CH=CH2), as ligações entre os carbonos teoricamente poderiam rotacionar livremente. Entretanto, experimentalmente, a rotação da ligação simples entres os carbonos centraisnão é observada, pois, neste caso, a ligação σ é mais curta, possuindo cerca de 148 nm, em comparação com uma ligação σ comum, que possui 154 nm. Além disso, existe uma barreira energética para que a rotação ocorra. A presença de um grupo substituinte, como a metila (-CH3), pode elevar a barreira de rotação devido ao impedimento estérico, que ocorre quando o espaço ocupado pelo átomo substituinte é relativamente maior do que o dos outros átomos, sendo necessária mais energia para que a ligação σ ocorra. TEORIA DA RESSONÂNCIA Uma estrutura química, molécula ou íon, pode ser representada por mais de uma forma, de acordo com a teoria da ressonância. Como base, utiliza-se as estruturas de Lewis, sendo que as moléculas apenas se diferem com relação à posição dos elétrons que se deslocam pela molécula e, eventualmente, a posição da ligação também é alterada. As estruturas de ressonância são demonstradas dentro de colchetes, sua equivalência podendo ser demonstrada pela utilização de uma seta com duplo sentido. Para retratar as estruturas de ressonância (Figura 11a), inicialmente escreve- se a estrutura de Lewis, respeitando a regra do octeto. A troca do par de elétrons é, então, indicado por setas curvas, e os átomos constituintes da molécula permanecem na mesma posição. A utilização das setas curvas, para indicar a movimentação dos elétrons, é imprescindível para que erros sejam evitados. Além disso, elas podem ser aplicadas para escrever mecanismos de reações químicas. Figura 11. (A) Íon carbonato com estrutura do híbrido de ressonância e suas respectivas estruturas de ressonância; (B) Estrutura do formaldeído cujas ressonâncias podem ou não seguir a regra do octeto; (C) Estrutura do ácido fórmico, demonstrando a distância entre as cargas positivas e negativas. Também é possível representar a estrutura de ressonância pela utilização de apenas uma estrutura, na qual a deslocalização do par de elétrons é desenhada com traços acima das ligações simples, que são linhas continuas, produzindo assim uma média das moléculas, que é denominada de híbrido de ressonância. Deve-se ressaltar que as estruturas de ressonância não são reais, ou seja, elas não simbolizam a mesma estrutura. Na realidade, a representação da molécula hibrida de ressonância é mais adequada. Desse modo, considere três estruturas de ressonância. Elas são diferentes entre si, mas são equivalentes, o que significa que cada uma das estruturas contribui, na mesma proporção, para formar a molécula hibrida de ressonância (Figura 11a). Se avaliarmos a estrutura de ressonância de uma molécula que, em sua constituição, possui uma ligação entre o carbono e o oxigênio, a estrutura é representada, em um determinado momento, como uma dupla ligação (C=O), e em outro, como uma ligação simples, pois o par de elétrons é deslocado para outra região da molécula. Então, na estrutura híbrido de ressonância, a ligação entre o carbono e o oxigênio será constituída como uma ligação parcialmente dupla, uma vez que ora a ligação é simples, ora ela é dupla (VALLHARDT, P. 2013). Portanto, para escrever as estruturas de ressonância e a estrutura do híbrido de ressonância, deve se lembrar que: As estruturas de ressonância não condizem com a forma da molécula na realidade; Apenas os elétrons devem ser movimentados, os átomos permanecem em suas posições iniciais; Todas as estruturas devem obedecer à regra de Lewis; As estruturas de ressonância possuem maior energia em comparação com o híbrido de ressonância; A estabilidade de uma estrutura é proporcional à quantidade de ligações covalentes, logo, essa estrutura colabora mais para a formação do híbrido; A separação entre cargas positivas e negativas reduz a estabilidade da molécula; Se a camada de valência de um átomo estiver completa, então a estabilidade da estrutura será maior. Contudo, nem sempre as estruturas de ressonância são equivalentes, pois a deslocalização do par de elétrons pode gerar uma molécula diferente. Enfatiza-se que uma das estruturas de ressonância certamente irá contribuir mais para a formação do híbrido de ressonância. Assim, a fim de ampliar a discussão, vamos incluir moléculas cujas estruturas de ressonância não seguem a regra do octeto. Considerando as afirmações anteriores, regras foram estabelecidas para verificar qual estrutura colabora mais na formação do híbrido de ressonância, sendo elas: Uma estrutura que possui mais octetos em relação a outra é mais relevante no panorama geral (Figura 11b); Cargas positivas ou negativas devem ser representadas nos átomos cuja eletronegatividade é pertinente; A estrutura com a menor distância entre as cargas positiva e negativa contribuem mais para o híbrido de ressonância (Figura 11c). GEOMETRIA MOLECULAR O modelo de repulsão do par de elétrons é aplicado aos elétrons presentes na camada de valência, ou seja, aqueles que são utilizados para realizar as ligações químicas. Este modelo ajuda a explicar como os átomos nas moléculas podem se arranjar espacialmente. Contudo, para a aplicação deste modelo, algumas premissas devem ser consideradas: O átomo central de uma molécula se liga a outros átomos por meio de ligações covalentes; Todos os pares de elétrons presentes na camada de valência do átomo central, tanto os que realizam a ligação covalente com outros átomos, denominados de pares ligantes; quanto os que não realizam ligação, classificados como pares não compartilhados ou isolados, devem ser considerados; Sabendo que cargas iguais se repelem, aplica-se o mesmo conceito aos elétrons, que também se repelem, sendo que pares de elétrons disponíveis na camada de valência mantém a maior distância possível, mesmo durante a ligação covalente. Os pares de elétrons não compartilhados, por outro lado, têm maior repulsão, em comparação com os pares de elétrons compartilhados, e a repulsão entre pares de elétrons ligados e não ligados é intermediária; A geometria molecular deve considerar tanto os pares de elétrons ligados, quanto os pares de elétrons não ligados. No entanto, sua posição junto ao átomo é irrelevante, sendo, portanto, considerada a posição final do átomo na molécula. DICA Outra forma de saber a geometria dos compostos químicos é pelo cálculo do número de coordenação (NC), que pode variar de 2 a 12, e é dado pela soma do número de pares de elétrons ligantes (PL) e pares de elétrons não ligantes (PNL) ao redor do átomo central. Com todos os dados disponíveis, é possível então prever a geometria, consultando uma tabela. Por exemplo, o tetracloreto de carbono (CCl5) tem o NC= 4, o PL= 4 e o PNL=0, correspondendo à geometria tetraédrica. Para compreender melhor a teoria da repulsão do par de elétrons, e sua relação com a estrutura molecular, vamos observar alguns exemplos e a geometria molecular dos compostos neles descritos (Quadro 1): Tabela 1. Geometria molecular de acordo o modelo de repulsão do par de elétrons. Clique nos botões para saber mais Exemplo 1 + Exemplo 2 + Exemplo 3 + Exemplo 4 + Exemplo 5 + Exemplo 6 + Exemplo 7 + Exemplo 8 + Exemplo 9 + MOLÉCULAS POLARES E APOLARES A polaridade das moléculas orgânicas deve ser analisada por meio de seus constituintes, que possuem diferentes eletronegatividades. De maneira simplificada, um átomo mais eletronegativo é naturalmente um aceptor de elétrons, enquanto um átomo eletropositivo é um doador de elétrons. Então, em uma molécula, o átomo mais eletronegativo tende a deslocar a densidade eletrônica para si. Por exemplo, se um átomo de carbono se ligar a outros átomos, como o oxigênio e o nitrogênio, os elétrons são descolados para essas moléculas que são mais eletronegativas e, como resultado, tem-se uma molécula polar. Em contrapartida, uma molécula constituída apenas de carbono ehidrogênio, cuja eletronegatividade é insignificante, produz uma molécula apolar (VALLHARDT, P, 2013). Outra forma de avaliar a polaridade (Figura 12) é pela geometria dos compostos, já que átomos eletronegativos tendem a deslocar a densidade eletrônica para si, tornando uma parte da molécula parcialmente positiva e outra parcialmente negativa. Ao avaliar a geometria molecular, se houver um átomo que está deslocando a densidade eletrônica, então o composto é polar. Se não houver deslocamento de cargas, por outro lado, ou se as forças com as quais os elétrons são deslocados forem opostas e iguais, então o deslocamento é anulado e a molécula é considerada como sendo apolar. Figura 12. Diferença de polaridade entre moléculas. Observe que, na Figura 12, as setas indicam quais átomos estão deslocando a densidade eletrônica. Coincidentemente, tanto no dióxido de carbono como na água, o oxigênio é responsável pelo deslocamento. Esse deslocamento, simbolizado por setas, é referente ao vetor do momento dipolo. Considerando os vetores, setas opostas resultam em momento dipolo igual a zero, logo, em moléculas apolares. Caso contrário, vetores que se somam resultam em um momento dipolo maior que zero, portanto, em moléculas polares. VAMOS REFORÇAR O QUE APRENDEMOS ATÉ AGORA? Os compostos orgânicos podem se ligar de diferentes formas. Sendo assim, com relação a ligação simples, assinale a afirmativa correta: As ligações são estáticas. As ligações simples ocorrem por transferência de elétrons. As ligações simples podem rotacionar em torno do próprio eixo. ENVIAR TENTE NOVAMENTE Agora é a hora de sintetizar tudo o que aprendemos nessa unidade. Vamos lá?! SINTETIZANDO Neste capítulo, aprendemos que os átomos são constituídos de partículas fundamentais, como os prótons, os nêutrons e os elétrons, sendo estes últimos importantes para que os átomos se liguem. Vimos, na teoria estrutural, que cada átomo é capaz de realizar um número restrito de ligações, limitadas pela quantidade de elétrons presentes na camada de valência, que é a camada mais externa de elétrons. Os átomos podem se ligar uns aos outros por ligações iônicas, que consistem na transferência de elétrons de um átomo mais eletropositivo para outro mais eletronegativo, ou por meio de ligações covalentes, nas quais os elétrons são compartilhados pelos átomos. Descobrimos que uma das formas de representar as ligações iônicas e covalentes é utilizando a estrutura de Lewis, que consiste em representar o átomo com seus elétrons de valência. Observamos também, com detalhes, como uma molécula se forma e qual a variação de energia envolvida neste processo, para, em seguida demonstrar como um diagrama do orbital molecular é formado, a partir de orbitais atômicos. Adicionalmente, definiu-se que a quantidade de orbitais moleculares e sua energia está intimamente relacionada aos orbitais atômicos. Retratou-se como os orbitais devem ser preenchidos e como calcular a quantidade de ligações covalentes em uma molécula, aplicando a fórmula da ordem de ligação. A partir da hibridização, tornou-se possível compreender que ligações simples podem rotacionar, pois a sobreposição dos orbitais ocorrem em um eixo, enquanto as ligações duplas e triplas ocorrem lateralmente, inviabilizando a rotação. Utilizando as projeções de Newman, concebeu-se que uma molécula é capaz de realizar o movimento de rotação no eixo, podendo assumir as conformações de oposição e coincidência. Além disso, por meio da utilização das estruturas de Newman, comprovou-se que os elétrons de uma molécula não permanecem em uma mesma posição. Neste capítulo, diversos exemplos de moléculas foram explanados, isso porque a compreensão de moléculas com diferentes geometrias é imprescindível quando se trata de reações orgânicas. Com isso, tivemos uma visão geral dos conceitos fundamentais da química e como os átomos e suas partículas se organizam para formar ligações e moléculas, que possuem diversas estruturas e geometrias. Hidrocarbonetos: alcanos, alcenos, alcadienos, alcinos, ciclanos, ciclenos e aromático Basicamente, os hidrocarbonetos são compostos por átomos de carbono e hidrogênio. De início, sua classificação é realizada de acordo com o tipo de ligação que o carbono realiza, podendo resultar em um hidrocarboneto saturado ou insaturado. Os hidrocarbonetos saturados são caracterizados pela presença de ligações simples entre seus carbonos, como o butano, classificado como alcano (Figura 1). Figura 1. Classes de hidrocarbonetos alifáticos, cíclicos e aromáticos. As moléculas de hidrocarbonetos insaturados podem se constituir em ligações simples, duplas e triplas. Assim, o hidrocarboneto que possui apenas uma ligação dupla é denominado de alceno, o que possui duas ligações duplas é designado de alcadieno e o que possui ligações triplas é chamado de alcino. Outra classificação dos hidrocarbonetos se relaciona com a disposição dos átomos de carbono, ou seja, um alcano, alceno, alcadieno e alcino, podem ser também classificados como hidrocarbonetos alifáticos, em outras palavras, possuem cadeia aberta. As diferenças entre os hidrocarbonetos também podem ser observadas na Figura 1. ASSISTA Diversos hidrocarbonetos possuem um alto valor agregado que está relacionado a sua aplicação, como no petróleo e gás natural, que são utilizados como matéria-prima para a indústria petroquímica, para a produção de diferentes reagentes químicos, e em refinarias de combustível. A grande maioria dos hidrocarbonetos provenientes de fontes do petróleo se desenvolveram há milhares de anos pela deposição de matéria orgânica que resultou na formação de rochas sedimentares. O vídeo Origem do petróleo apresenta mais detalhes de como esse processo ocorreu. Contudo, se um átomo de carbono da extremidade de uma cadeia alifática saturada se ligar a outro na extremidade oposta, então, fecha-se a cadeia carbônica produzindo um ciclano ou cicloalcano. Hidrocarbonetos insaturados, como os alcenos, também podem realizar o fechamento da cadeia e produzir um cicloalceno. Os cicloalcano e cicloalceno estão inseridos na classificação de hidrocarbonetos cíclicos. Quando um hidrocarboneto cíclico é condensado, ou seja, ligado a outro anel, passa a ser denominado hidrocarboneto policíclico. Os aromáticos são hidrocarbonetos formados por seis átomos de carbono em uma cadeia fechada e contêm três ligações duplas e duas simples que são dispostas alternadamente. Os compostos aromáticos também podem ser condensados, isso é, podem possuir mais de um anel aromático, que produzem os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. NOMENCLATURA IUPAC E PROPRIEDADES FÍSICAS Os alcanos, também conhecidos como hidrocarbonetos parafínicos, são compostos saturados, alifáticos e apolares. Sua a fórmula geral é CnH2n+2 (no qual, n representa a quantidade de carbono e é um número inteiro), os átomos de carbono dos alcanos possuem hibridização do tipo sp3. Em geral, esses hidrocarbonetos são obtidos a partir do petróleo, sendo que o estado físico no qual um alcano pode ser encontrado à temperatura ambiente se relaciona à quantidade de carbonos na molécula. Desse modo, os alcanos que possuem no máximo quatro átomos de carbono são gases, como o butano (C4H10), encontrado no gás de cozinha. Já alcanos que possuem entre, aproximadamente, 5 e 17 átomos de carbono, são líquidos como o octano (C8H18), encontrado na gasolina. Acima de 17 átomos de carbono o alcano é encontrado no estado sólido, por exemplo, o tetracontano (C40H82), presente nas velas e cosméticos, como batons. Outras propriedades se relacionam ao ponto de ebulição e viscosidade dos alcanos, que tende a crescer com o aumento do número de carbonos na cadeia carbônica. Por serem apolares, os alcanos são insolúveis em água, que é polar. Assim, umamistura contendo alcano e água visualmente resulta em duas fases separadas, sendo que, por possuir menor densidade, os alcanos tendem a flutuar sob a superfície da água. A nomenclatura dos alcanos segue as regras impostas pela União Internacional de Química Pura e Aplicada (IUPAC), que também pode ser aplicada para diversos outros hidrocarbonetos. Portanto: 1 Inicialmente, deve-se determinar qual a cadeia principal de carbono, isso porque os hidrocarbonetos podem ser ramificados; logo, a cadeia principal é a que possui o maior número de hidrocarbonetos; 2 Em seguida, determina-se qual o prefixo que deverá ser utilizado, esse prefixo se relaciona à quantidade de átomos de carbono, sendo que met- é utilizado quando se tem apenas um carbono (1C), como no metano (CH3); et- (2C); prop- (3C); but- (4C); pent- (5C); hex- (6C); hept- (7C); oct- (8C); non- (9C); dec- (10C), e assim por diante; 3 O intermediário ou infixo se relaciona ao tipo de ligação, que quando é do tipo sigma, ou seja, ligação simples, será -an-; 4 O sufixo indica a qual classe pertence a molécula; nesse caso, hidrocarboneto utiliza como sufixo a letra -o. Para simplificar o conceito da nomenclatura, entende-se que é composta por prefixo + infixo + sufixo. Considere um alcano com seis carbonos, seu prefixo é o hex-, o infixo é o -an-, portanto, a molécula possui apenas ligações simples, e seu sufixo é a letra -o, então, trata-se de uma molécula de hexano. Como mencionado, os hidrocarbonetos podem ser constituídos apenas de uma cadeia linear, nesse caso, são denominados de alcanos normais, sendo aconselhável utilizar a letra n antes de nomear o hidrocarboneto. Ou, os hidrocarbonetos podem ser ramificados, em outras palavras, podem possuir substituintes orgânicos no lugar do átomo de hidrogênio. A nomenclatura do hidrocarboneto com ramificação inicia pela determinação da posição da ramificação, que é numerada de modo que irá receber o menor número possível. Após o número, insere-se um traço e verifica-se a quantidade de carbonos na ramificação, que deve ser nomeada utilizando os mesmos prefixos indicados na formação da nomenclatura (met-, et-, prop- etc.) e, como sufixo da ramificação, se utiliza -il. Insere-se novamente um traço, e o restante da cadeia é nomeada normalmente de acordo com as regras anteriores. Por exemplo, uma molécula de alcano ramificada, cuja cadeia principal contém cinco carbonos e uma ramificação no carbono de número três, com dois carbonos, é denominada de 3-etil-pentano. Caso haja mais de uma ramificação idêntica no mesmo hidrocarboneto, além de numerar suas posições, utilizando a separação por vírgula, os prefixos di-, tri-, tetra- são empregados para indicar a quantidade de repetições da ramificação. Em seguida, adiciona-se os infixos (-met-, -et-, -prop- etc.) que indicam a quantidade de carbono na ramificação, seguidos do sufixo -il. O restante da nomenclatura do hidrocarboneto é realizada seguindo as mesmas regras anteriores. Assim, a ligação de um alcano ramificado contendo cinco carbonos em sua maior cadeia e duas ramificações idênticas com um carbono cada, nas posições dois e quatro da cadeia, é nomeada de 2,4-dimetil-pentano. Quando as ramificações são diferentes, a ordem alfabética deve ser seguida. Logo, a ligação de um alcano ramificado com cinco carbonos em sua maior cadeia e uma ramificação com dois carbonos na posição 3 e um carbono na posição 2 é nomeada de 3-etil-2-metil-pentano. Portanto, as cadeias ramificadas são nomeadas seguindo o número da posição da ramificação + nome da ramificação + prefixo + infixo+ sufixo. Os alcenos, também conhecidos como olefinas, têm como fórmula geral CnH2n, em que n é a quantidade de carbonos e um número inteiro. Alcenos são hidrocarbonetos insaturados de cadeia aberta, ou seja, possuem uma dupla ligação, sendo que o carbono da dupla ligação possui orbital hibridização sp2. Em comparação com os alcanos, os alcenos possuem pontos de ebulição e fusão mais elevados, são insolúveis em solventes polares, como a água, e solúveis em solventes polares, além de serem mais reativos quimicamente se comparados com alcanos, isso porque sua dupla ligação pode ser quebrada com mais facilidade. Geralmente, os alcenos são encontrados em óleos essenciais naturais e em alguns pigmentos de origem vegetal como no licopeno, responsável pela cor vermelha de tomates, por exemplo, e também são produzidos no processo de amadurecimento de frutas. Além disso, diversos alcenos são sintetizados em laboratório e utilizados como precursores de polímeros, como o polietileno, utilizado na fabricação de embalagens plásticas e para induzir artificialmente o amadurecimento de frutas. A nomenclatura dos alcenos, como os demais hidrocarbonetos, segue as regras da IUPAC, portanto, de modo geral, pode utilizar o mesmo princípio aplicado aos alcanos, ou seja, prefixo + infixo + sufixo, com uma modificação no infixo de -an- para -en-, que indica que a molécula possui uma dupla ligação. Adicionalmente, a posição da dupla ligação deve ser identificada, a numeração deve ser iniciada pela extremidade da molécula mais próxima à dupla ligação, de modo que a indicação da dupla tenha o menor número possível. A nomenclatura do alceno indicando a posição da dupla ligação pode ser realizada de duas formas: na primeira, o número é indicado entre o prefixo e infixo, separado por traços; na segunda, o número antecede o nome do alceno. Por exemplo, um alceno contendo quatro átomos de carbono, cuja dupla ligação está no segundo carbono, pode ser nomeado como but-2-eno ou 2-buteno. De maneira análoga à descrição para as moléculas de alcanos, se o alceno apresentar ramificação, deve preceder o nome do alceno. Então, considere um aceno com sete carbonos, com a dupla ligação no segundo carbono e com duas metilas nos carbonos cinco e seis, logo, seu nome será 5,6-dimetil-hept- 2-eno. Os alcenos podem apresentar isômeros espaciais, produzindo os isômeros cis e trans. Os isômeros ocorrem quando os átomos ligados aos carbonos, que possuem a dupla ligação, são distintos. Considere um etano com dois substituintes como o bromo, a quantidade do substituinte também deve ser indicada por di-, tri-, entre outros. Ao representar o etano, os bromos podem estar apenas de um lado do plano da molécula, assim, o isômero será o cis, logo a nomenclatura da molécula será cis-dibromoeteno. Se os bromos estiverem em lados opostos do plano da molécula o isômero produzido é o trans e a nomenclatura da molécula será trans-dibromoeteno. Caso o hidrocarboneto seja um alcadieno, que possui duas duplas ligações, deve-se adicionar ao prefixo a letra -a- e o infixo é, então, alterado para - dieno-. A nomenclatura deve indicar a posição das ligações, sendo que a numeração da cadeia deve ser sempre a menor possível. Por exemplo, um alcadieno com seis carbonos e com as duplas ligações na posição um e três tem como nomenclatura hexa-1,3-dieno ou 1,3-hexadieno. Ainda, se o alcadieno for ramificado, a nomenclatura deve conter as posições e nomes das ramificações de maneira análoga aos demais hidrocarbonetos descritos anteriormente, ou seja, a posição e as ramificações devem ser indicadas em ordem alfabética, utilizando traços para separá-las. Os alcinos são hidrocarbonetos insaturados de cadeia aberta, cuja fórmula geral é CnH2n-2, possuem uma tripla ligação e o carbono relaciona essa ligação ao orbital hibridizado do tipo sp. Seus pontos de ebulição e fusão são maiores em relação aos alcanos e alcenos com mesmo número de carbono. São incolores, inodoros, insolúveis em solvente polar e solúveis em solventes apolares. Com relação ao aroma e solubilidade, a única exceção é o etino, que é utilizado na produção de borracha sintética, aplicada em pneus. A nomenclatura dos alcinos segue a ordem prefixo + infixo + sufixo, sendoque o infixo, nesse caso, será o -in-. Ademais, de maneira análoga à nomenclatura descrita para os alcenos, a posição da ligação tripla também deve ser indicada nos alcinos. Portanto, um alcino com seis átomos de carbono e com a tripla ligação no carbono dois será designado de pent-2-ino ou 2-pentino. Alcinos ramificados também devem seguir as regras descritas para hidrocarbonetos ramificados, portanto, sua nomenclatura se baseia no número da posição da ramificação + nome da ramificação + prefixo + infixo + sufixo. Desse modo, a ligação de um alcino, cuja cadeia principal contém sete carbonos, tripla ligação no terceiro carbono, e a ramificações no carbono dois e cinco, contendo um e dois carbonos respectivamente, será nomeada de 5- etil-2-metil-hept-3-ino. O Quadro 1 apresenta exemplos de hidrocarbonetos, bem como sua nomenclatura. Quadro 1. Nomenclatura de hidrocarbonetos de cadeia aberta. Os cicloalcanos são hidrocarbonetos de cadeia fechada contendo apenas ligações simples, sua formula geral é CnH2n e possuem propriedades físicas como ponto de fusão, ponto de ebulição e densidade mais altas em comparação com os alcanos. São compostos apolares, portanto, insolúveis em água. A nomenclatura do cicloalcano segue os conceitos descritos anteriormente para os alcanos, no entanto, o nome do composto é precedido pela palavra ciclo. Assim, um cicloalcano com três átomos de carbono é denominado de ciclopropano. De modo simplificado, segue o padrão ciclo + prefixo + infixo + sufixo. Cicloalcanos também podem apresentar ramificação, quando apenas uma ramificação está presente, não é preciso que seja indicada. No entanto, se houver mais de uma ramificação, deve-se indicar as suas respectivas posições em ordem alfabética, assim, a nomenclatura segue o padrão de número da posição da ramificação + nome da ramificação + ciclo + prefixo + infixo + sufixo. Cicloalcenos seguem a mesma regra, sendo alterado o infixo -na- para -en-. Cicloalcanos podem ter anéis condensados entre si ou anéis ligados por meio de pontes, denominados de alcanos bicíclicos ou bicicloalcanos. Se mais anéis compartilharem seus carbonos, a molécula passa a ser denominada de policíclica. Em um composto bicíclico, os átomos de carbono compartilhados pelos anéis são designados de cabeça de ponte e as ligações que se conectam aos carbonos cabeça de ponte são denominadas de ponte de carbono. Os bicicloalcanos possuem em sua nomenclatura a descrição da quantidade de ciclos, seguida da indicação, entre colchetes, da quantidade, em ordem decrescente, de átomos em cada ponte de carbono, e, por fim, o nome do hidrocarboneto. Por exemplo, a ligação de um bicíclico com o total de sete carbonos, contendo três pontes de carbono, sendo que duas contêm dois carbonos e uma contém apenas um carbono, terá como nomenclatura biciclo[2,2,1]heptano. Os bicicloalcanos podem presentar ramificações, sendo que deve ser indicada em sua nomenclatura. Para tal, a numeração tem início na cabeça de ponte e segue a contagem pela ponte com maior quantidade de carbonos, até chegar na outra cabeça de ponte, onde continua pela ponte com menor número de carbonos. Usualmente, a ponte de carbono mais curta é enumerada por último, como pode ser observado na Figura 2. Figura 2. Nomenclatura de cicloalcanos, bicicloalcano e policíclos. Em compostos policíclicos, além das cabeças de ponte e quantidade de carbono na ponte, deve-se considerar o biciclo principal, que é o de maior número e adiciona-se o prefixo indicando a quantidade de ciclos (triciclo, tetraciclo etc.). Adiciona-se a série de números referente às pontes entre colchetes. Se houver pontes secundárias aos carbonos, então, serão indicadas no colchete por meio da respectiva numeração e, em sobrescrito, deve-se indicar em quais carbonos se ligam, separados por vírgula, como demonstrado na Figura 2. CONFORMAÇÕES DE CICLOEXANO Os ângulos entre as ligações do carbono nos cicloalcanos são formados na tentativa de reduzir a energia excedente devido à tensão do anel. Nas moléculas de cicloexano, o desvio da planaridade pode ser claramente observado por meio das estruturas de conformação, que podem assumir a forma de cadeira ou a forma de barco. A conformação em cadeira permite que a ligação entre os carbonos ocorra em um ângulo de 109,5º, o que resulta na ausência da tensão angular e tensão de torção, consequentemente, é a conformação mais estável e de menor energia para o cicloexano. Observando uma projeção de Newman para o cicloexano, é possível notar que as ligações nessa conformação são alternadas, logo, a repulsão entre os hidrogênios também é menor. Ao fornecer uma energia de aproximadamente 45 kJ, as ligações entre os carbonos começam a rotacionar, chegando à conformação de meia cadeira e, em seguida, começam a perder energia até atingirem a conformação em barco, que não possui tensão angular, mas que apresenta o aumento da tensão de torção. Adicionalmente, os átomos de hidrogênio dos carbonos aproximam-se, o que gera repulsão. Essa conformação permite que a molécula seja mais flexível. Um intermediário entre as conformações também ocorre, a conformação torcida, que possui menor energia, cerca de 23 kJ, e estabilidade ligeiramente maior em comparação à de barco, que tem 30 kJ de energia. A Figura 3 apresenta as principais conformações em cadeira e barco, as projeções de Newman e um gráfico das diferenças de energia entre as conformações. Figura 3. (A) Projeções de Newman nas conformações em cadeira e barco; (B) Alteração da energia com a mudança da conformação do cicloexano. Fonte: SOLOMONS; FRYHLE, 2012. (Adaptado). PROPRIEDADES DOS DERIVADOS BENZÊNICOS O benzeno é a molécula mais simples entre os compostos aromáticos, sendo constituída por seis carbonos ligados entre si por ligações simples e duplas alternadas, formando um anel e tendo um hidrogênio ligado a cada carbono, sendo classificada como mononuclear. Esse hidrocarboneto aromático é altamente estável devido à presença de seis elétrons π deslocalizados, além de ser a origem de diversos outros compostos aromáticos, os chamados derivados de benzênicos. Os derivados mais simples do benzeno são resultado da condensação de anéis aromáticos que, de acordo com a quantidade, são classificados como: Dinuclares, quando contêm dois anéis aromáticos fundidos, como o naftaleno; Trinucleares, como o antraceno; Polinucleares, como o coroneno, que é também classificado como hidrocarboneto aromático policíclico. Além disso, o benzeno pode ser utilizado em reações de substituição eletrofílica, na qual um hidrogênio do anel aromático é trocado por outro átomo, produzindo benzenos com outras funções orgânicas. As substituições mais comuns são as de nitração (NO2), halogenação (F, Cl, Br, I), sulfonação (SO3), alquilação (por exemplo, -CH3), acilação (RC=O, onde R é um alquil). A nomenclatura dos benzenos substituídos segue as regras da IUPAC, em que cada função possui uma especificação. Por exemplo, benzenos monossubstituídos com halogênios utilizam o prefixo indicando o átomo ou grupo funcional seguido do sufixo benzeno, como clorobenzeno. Se a substituição é pela função ácido carboxílico, então a nomenclatura do benzeno será ácido benzoico. O benzeno pode ser dissubstituído e, nesse caso, a posição das substituições deve ser indicada na nomenclatura por meio da utilização de números ou dos prefixos orto-, meta- ou para-, simplificadamente, o-, m- e p-, respectivamente. Caso o benzeno seja trissubstituído, apenas a numeração deve ser utilizada para indicar a posição da substituição. Além disso, o benzeno pode sofrer reação de adição, em que as ligações duplas são quebradas, permitindo que outros átomos sejam adicionados à molécula, que se torna cíclica, como o hexaclorociclohexano. As propriedades dos derivados de benzeno se relacionamcom as funções dos seus substituintes. Uma característica importante para se avaliar é a eletronegatividade do substituinte e sua influência sobre o anel aromático. Por exemplo, uma acilação produz carga parcialmente ou totalmente positiva no átomo de carbono ligado ao anel aromático, isso porque o oxigênio é mais eletronegativo que o carbono, o mesmo ocorre quando é feita a substituição por halogênios. Adicionalmente, a presença de um substituinte afeta a posição em que outros grupos funcionais se ligam, podendo ser orto-, para-ou meta-dirigentes, além da velocidade com a qual um grupo secundário se liga. Se a velocidade da ligação do segundo substituinte for maior, tem-se um grupo ativador que eleva a taxa de substituição eletrolítica; se for menor, o grupo funcional é desativador, pois reduz a taxa de substituição eletrolítica. Por exemplo, a halogenação com bromo (Br) de um metoxibenzeno faz com que 96% do Br se ligue ao benzeno na posição para- e apenas 4% na posição orto-. Ainda mais, devido à presença do grupo funcional éter, a bromação ocorre com mais velocidade se comparada à bromação de um benzeno. A nitração de um nitrobenzeno ocorre, preferencialmente, na posição meta-. Portanto, o grupo NO2 é metadirigente e sua velocidade é muito menor do que a nitração do benzeno, isso porque o grupo NO2 é desativador. A Figura 4 apresenta o efeito dos substituintes na adição dos grupos secundários. Figura 4. Efeito dos substituintes na adição dos grupos secundários. Fonte: BROWN; POON, 2016. (Adaptado). De modo geral, pode-se dizer que quando grupos alquil e fenil se ligam ao benzeno, têm-se uma ativação moderada e o direcionamento dos substituintes ocorre para a posição orto- e para-. Halogênios são desativadores moderados e induzem as ligações de outros substituintes para que ocorram, preferencialmente, nas posições orto- e para-. Os grupos funcionais que direcionam outras substituições na posição meta- possuem carga total ou parcial positiva. Como exemplo, considerando-se a síntese do bromonitrobenzeno, se for iniciada pela nitração, então, o bromo se ligará à posição meta-, entretanto, se for iniciada pela bromação, o grupo nitro- se ligará nas posições orto- e para-. Outro modo de avaliar a capacidade de ativação e desativação dos grupos funcionais ligados ao benzeno, é por ressonância e efeito indutivo. Por exemplo, ressonâncias em grupos -NH2, -OH e -OR deslocalizam a carga positiva do íon intermediário, o que eleva a taxa de substituição da molécula em comparação com o benzeno sozinho. O efeito indutivo e de ressonância de grupos -NO2, -C=O, -SO3H, -NR3+, -CCl3 e -CF3, ligados ao anel aromático, diminuem a sua densidade eletrônica, o que causa redução na taxa de substituição aromática em comparação com o benzeno. Grupos alquil não reduzem a densidade eletrônica do anel aromático, ou seja, são ativadores. OUTROS COMPOSTOS AROMÁTICOS: NANOTUBOS E FULERENOS Os nanomateriais de carbono ganharam destaque ao longo dos últimos anos devido as suas propriedades óticas, eletrônicas e mecânicas, que se diferem de compostos de carbono macroscópicos. Dentre os nanomateriais de carbono mais estudados estão os nanotubos e os fulerenos. Os nanotubos foram descobertos na década de 1990 e vêm sendo estudados em áreas de pesquisa da física, química, biologia, ciências médicas e dos materiais. Basicamente, são formados a partir de uma folha de grafeno enrolada para se obter um cilindro ou tubo e que, dependendo da forma como é feito, pode influenciar na estrutura dos nanotubos. Podem ser classificados de acordo com a quantidade de camadas, simples ou múltiplas, nas quais as folhas de carbono se enrolam concentricamente. Dentre suas principais propriedades estão sua alta flexibilidade e resistência, que são mais elevadas quando comparadas com fibras de carbono, sua característica metálica ou semicondutora e alta condutividade térmica. As extremidades dos nanotubos possuem ligações incompletas permitem que sejam funcionalizados pela adsorção de compostos com grupos funcionais de interesse, que resulta um novo material, com outras propriedades e, consequentemente, outras aplicações. Sua versatilidade permite que sejam utilizados em dispositivos emissores de elétrons, em sensores de gás e biosensores, na remoção de poluentes, no armazenamento de energia, na catálise e na produção de compósitos, por meio da mistura de nanotubos com polímeros e fibras. A Figura 5 (A) apresenta nanotubos de carbono. Figura 5. Representação esquemática de nanotubos de carbono (A); e fulerenos (B). Fonte: ZARBIN; OLIVEIRA, 2013. (Adaptado). Os fulerenos foram descritos pela primeira vez em meados da década de 1980, e são moléculas constituídas por 60 carbonos ou mais, com hibridização sp², com aspecto de esférico, sendo por hexágonos e pentágonos intercalados, semelhante a uma bola, como apresentado na Figura 5 (B). Os fulerenos constituídos por menos de 300 carbonos são denominados de endoédricos. São considerados altamente simétricos e sua estabilidade fica atrás apenas do diamante. O fato de poderem ser produzidos com diferentes quantidades de carbono permite que suas propriedades possam ser adaptadas de acordo com a aplicação desejada. Possuem interessantes propriedades fotofísicas e fotoquímicas, que possibilitam sua utilização em processos de transferência de carga em células solares orgânicas, na obtenção de cristais líquidos, devido à organização da sua estrutura, e na construção de peças de computadores. Aplicações na área médica têm sido estudadas, como a atividade antimicrobiana e antiviral, terapia fotodinâmica e transporte de medicamentos. Devido a sua estrutura oca, os fulerenos podem ser funcionalizados com átomos de interesse, como metais, fornecem dá propriedades magnéticas. Funções orgânicas O carbono pode se ligar a outros átomos, como o oxigênio, nitrogênio, enxofre e metais, por meio de diferentes combinações, dando origem a milhares de compostos orgânicos que são utilizados em diversos processos químicos que ocorrem no nosso corpo e, também, são aplicados industrialmente na produção de produtos de diferentes setores, como o farmacêutico, cosmético e petroquímico. Nesse contexto, serão apresentados os diferentes grupos funcionais do carbono, bem como suas principais características e nomenclatura. HALETOS ORGÂNICOS Haletos orgânicos, também conhecidos como haloalcanos ou haletos de alquila, são compostos que contêm um halogênio como o flúor, cloro, bromo e/ou iodo, ligado a um átomo de carbono de uma molécula orgânica. Genericamente, a fórmula dos haletos pode ser representada como R-X, onde R representa a parte orgânica da substância e X o halogênio. Os halogênios podem se ligar a carbonos hibridizados sp³ e sp², e, nesse último caso, passa a ser denominado de haleto vinílico ou haleto de arila. A ligação entre um haleto e um carbono com ligação tripla, ou seja, hibridização sp, não é verificada na química. Esses compostos podem ser classificados de diversos modos, podendo ser de acordo com a quantidade de halogênios ligados à cadeia de hidrocarboneto (mono-haleto, di-haleto etc.), com relação ao halogênio (brometo, fluoreto etc.) e devido ao carbono no qual está ligado (primário, secundário e terciário). Sua nomenclatura deve ser realizada inicialmente informando o número do carbono no qual o halogênio está ligado, nome do halogênio e o nome do hidrocarboneto. Os haletos orgânicos podem ser utilizados como solventes, como o tetracloreto de carbono (CCl4), refrigerantes, como o diclorodifluorometano (CCl2F2), e pesticidas, como o diclorodifeniltricloroetano (C14H9Cl5). A Figura 6 apresenta alguns exemplos de haletos orgânicos e suas respectivas nomenclaturas. Figura 6. Exemplos de haletos orgânicos. Os haletos orgânicos são comumente utilizados na síntese decompostos orgânicos, principalmente em reações de substituição e eliminação, sendo que nessas reações o halogênio é convertido a um ânion, ou seja, um íon com carga negativa. FUNÇÕES OXIGENADAS As funções oxigenadas correspondem a uma das maiores classes de compostos orgânicos, sendo os mais relevantes os álcoois, enóis, fenóis, aldeídos, cetonas, éteres, éter etílico, ácidos carboxílicos, ésteres, sais orgânicos, cloretos ácidos e anidridos. Diversos compostos oxigenados são utilizados em processos de síntese de outros compostos orgânicos ou como solventes, ainda, algumas funções orgânicas oxigenadas estão presentes em moléculas biologicamente importantes, como os lipídios. O Quadro 2 apresenta de modo simplificado as funções oxigenadas, respectivas nomenclaturas e exemplos. Onde R e R’ são os radicais orgânicos e -Me são cátions. Quadro 2. Funções oxigenadas. Os álcoois são caracterizados pela presença do grupamento hidroxila (-OH) ligado a um átomo de carbono hibridizado sp3, ou seja, realiza ligação simples. Se a hidroxila estiver ligada a um carbono hibridizado sp2, então a molécula passa a ser denominada de enol, e se a ligação do -OH ocorrer em um anel aromático, então a substância é designada de fenol. Um dos álcoois mais conhecidos e amplamente difundido é o álcool etílico, ou etanol, que é utilizado como solvente, combustível e agente desnaturante. Além disso, o grupo -OH é quimicamente ativo, podendo ser oxidado, por exemplo, em reações que convertem o álcool do vinho (etanol) em vinagre (ácido etanoico). Os enóis são utilizados como aromatizantes de alimentos e medicamentos, um dos enóis mais conhecidos é o ácido ascórbico, ou vitamina C, que contém quatro hidroxilas, sendo duas ligadas a carbonos sp2. Os fenóis também possuem diversas aplicações industriais, como na preparação de polímeros, síntese de aspirina, e em produtos dermatológicos como o benzeno-1,4-diol, também conhecido como hidroquinona, que é utilizada para o clareamento de manchas presentes no tecido cutâneo. Os álcoois podem ser classificados em primários, secundários e terciários, de acordo com o carbono no qual o -OH se liga. Sua nomenclatura é semelhante à dos hidrocarbonetos, contudo, utiliza-se como sufixo o -ol, por exemplo, um álcool com três carbonos será denominado de 1-propanol. Para a nomenclatura dos enóis, devem ser informadas as posições da dupla ligação e da hidroxila; por exemplo, a ligação de um enol com seis carbonos, contendo uma insaturação e -OH no carbono três, será denominada de hex-3-en-3-ol. A nomenclatura dos fenóis pode ser realizada de modo simplificado iniciando pelo número do carbono ao qual o grupo -OH está ligado, seguido do infixo - hidroxi e, como sufixo, o nome do anel aromático; por exemplo, um benzeno com duas hidroxilas é denominado de 1,2-dihidroxibenzeno. Aldeídos são geralmente produtos da oxidação de álcoois primários, sendo caracterizados pela presença de uma carbonila (-C=O) na extremidade da cadeia carbônica. Sua nomenclatura é iniciada pela quantidade de carbonos, seguida da identificação do tipo de ligação, simples, dupla ou tripla e como sufixo utiliza-se o -al, por exemplo um aldeído com dois carbonos é chamado de etanal. Caso a molécula apresente duas carbonilas, o infixo -di- deve preceder o sufixo -al, um aldeído com cinco átomos de carbonos e duas carbonilas será intitulado de pentanodial. Os aldeídos podem ser aplicados na conservação de tecidos vivos e, por serem facilmente oxidados, também são utilizados como agentes redutores e como aromatizantes na indústria alimentícia e farmacêutica, sendo o mais conhecido a vanilina ou baunilha. As cetonas também possuem uma carbonila, no entanto, diferente do aldeído, sua -C=O se encontra no meio da cadeia carbônica, ou seja, ligada a um carbono secundário. A ausência do hidrogênio ligado à carbonila torna a cetonas menos reativas em comparação com os aldeídos, devido a isso, muitas cetonas são utilizadas como solventes. Sua nomenclatura se baseia no mesmo princípio aplicado aos aldeídos, contudo, o sufixo utilizado é o -ona, assim, uma cetona com três carbonos é denominada de propanona. Em cetonas simples, com até quatro carbonos, não é necessário especificar a posição da carbonila, mas o cenário é diferente se a cetona apresentar mais carbonos, por exemplo, uma cetona com seis carbonos e uma dupla ligação no primeiro carbono terá como nomenclatura o hex-1-en-3-ona. A cetona mais conhecida é a propanona, também chamada de acetona, utilizada como removedor de esmaltes, solvente, para a extração de óleos vegetais e síntese de medicamentos. As cetonas são também responsáveis por aromas, como a jasmona, extraída de flores de jasmin, e podem ser encontradas na forma de acetofenona em frutas como a banana. Os éteres são compostos orgânicos oxigenados caracterizados pela presença do oxigênio entre grupos alquila, definidos por sua baixa polaridade e reatividade. Sua nomenclatura deve sempre ser iniciada pelo nome do menor radical, infixo -oxi-, seguido da adição de um traço e nome do maior radical. Um éter com um radical meti e outro propril será denominado de metoxi- propano. Outro modo de nomear os éteres é adicionando no início do nome a palavra éter, seguido dos nomes dos radicais, menor e maior, respectivamente, e do sufixo -ico, assim, um éter com um radical metil e ou etil recebe o nome de éter metil-etílico. O etoxietano, comumente denominado de éter etílico, é um importante solvente de óleos, podendo ser utilizado na fabricação de pólvora e seda artificial, entretanto, seu uso é controlado, uma vez que pode ser aplicado para a síntese de produtos ilícitos. Na área médica, o éter etílico é utilizado como anestésico. Ainda mais, os éteres também podem ter compostos cíclicos que recebem o nome de epóxidos. Um dos éteres cíclicos mais conhecidos é o óxido de etileno ou epóxi-etano, empregado industrialmente nos processos de produção de fibras, resinas, tintas, entre outros. A nomenclatura dos éteres cíclicos se inicia com a numeração da posição do oxigênio ligado aos carbonos, seguido do prefixo -epóxi-, nomeando em ordem alfabética os substituintes e, por fim, a cadeia de carbonos. Considere uma molécula com cinco átomos de carbono, no qual o oxigênio fecha o ciclo se ligando simultaneamente no carbono um e quatro, a estrutura será nomeada de 1,4-epoxipentano. Ácidos carboxílicos possuem em sua estrutura um grupo carboxila, ou seja, uma cadeia carbônica, onde o carbono da extremidade realiza uma ligação dupla com um oxigênio, e uma simples, com uma hidroxila. A nomenclatura desses compostos é realizada adicionando a palavra ácido, seguida do nome da cadeia carbônica e do sufixo -oico, ou -dioico, se a cadeia apresentar em ambas as extremidades a função ácido carboxílico. Assim, uma cadeia carbônica com três átomos de carbono é chamada de ácido propanoico e, se a mesma cadeia apresentar a função do ácido carboxílico em ambas extremidades, terá como nome ácido propanodioico. Alguns ácidos têm importante aplicação industrial como o ácido metanoico, conhecido como ácido fórmico, é utilizado como fixador de corantes, já o ácido etanoico é um dos principais constituintes do vinagre. Os ésteres podem ser obtidos por meio de reações de ácidos carboxílicos com álcoois, sendo, caracterizados por possuírem um átomo de carbono, no meia de uma cadeia carbônica, ligado a dois oxigênios, por meio de uma ligação simples e outra dupla, em outras palavras, um radical se liga ao oxigênio, substituindo o hidrogênio do ácido carboxílico. A nomenclatura dos ésteres é realizada utilizando o prefixo que se relaciona à quantidade de hidrocarboneto, até o carbono contendo o grupo funcional, sendo o sufixo utilizado na primeira parte o -ato, seguido da preposição de e do nome do radical com sufixo -ila. Portanto,
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