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1 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 Neoplasias da Próstata e da Bexiga TUMORES DE PRÓSTATA • Adenocarcinoma: o Epidemiologia: ▪ Forma mais comum de câncer em homens (principalmente após os 50 anos) ▪ Vão de cânceres insignificantes até cânceres muito agressivos e letais ▪ Mais frequente em negros e raro em asiáticos (fatores hereditários e ambientais) o Etiologia e patogenia: ▪ Vários fatores (idade, raça, história familiar, níveis hormonais e influências ambientais) ❖ Fator ambiental de risco: Consumo de gorduras ou carcinogênicos em carnes vermelhas carbonizadas ❖ Fator ambiental de proteção: Consumo de licopenos (tomate), produtos de soja e vitamina D ▪ Produto de combinação crítica de mudanças estruturais genômicas adquiridas, mutações somáticas e alterações epigenéticas ▪ Papel dos andrógenos: ❖ Andrógenos → Receptor androgênico (RA) → Expressão de genes pró-crescimento e pró-sobrevida ❖ A extensão de repetições de poliglutamina (códon CAG) no gene dos RAs está inversamente relacionada à sensibilidade aos andrógenos e, logo, à incidência e à mortalidade do câncer de próstata ❖ ↓ Extensão de repetições = ↑ Sensibilidade aos andrógenos = ↑ Incidência e ↑ Mortalidade ➢ Negros: Extensão curta de repetições → Maior incidência e mortalidade ➢ Caucasianos: Extensão intermediária de repetições → Incidência e mortalidade intermediárias ➢ Asiáticos: Extensão longa de repetições → Incidência e mortalidade baixas ❖ Castração ou tratamento com antiandrogênicos geralmente induzem regressão do câncer ➢ Maioria dos tumores eventualmente se torna resistente ao bloqueio androgênico por: ✓ Hipersensibilidade em níveis baixos de andrógeno ✓ Ativação de RA independente de ligante ✓ Mutação em RA que permite ativação por ligantes não androgênicos ✓ Ativação de vias de sinalização alternativas (Ex.: PI3/AKT) ▪ Polimorfismos hereditários (história familiar): ❖ Homens com história familiar têm maior risco de desenvolver câncer de próstata ❖ Tendência a desenvolver o câncer mais precocemente em história familiar forte ❖ Mais de 40 loci do genoma associados ao risco ➢ Mutação do supressor tumoral BRCA2 (risco 20 vezes maior) ROBBINS 2 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ➢ Mutação hereditária no HOXB13 (regula o desenvolvimento da próstata) também aumenta o risco ➢ Vários genes envolvidos com a imunidade inata (inflamação pode estar relacionada) ▪ Mutações adquiridas: ❖ São muito comuns rearranjos cromossômicos que justapõem a sequência de codificação do gene de um fator de transcrição da família ETS próximo ao promotor TMPRSS2 regulado por androgênio ➢ Gene ETS envolvido (Ex.: ERG, ETV1) fica sob controle do promotor TMPRSS2 → Superexpressão dos fatores de transcrição ETS → Torna as células epiteliais prostáticas mais invasivas ❖ Deleções e amplificações genômicas são mais comuns que mutações pontuais envolvendo oncogenes ➢ Amplificação do locus 8q24 contendo o oncogene MYC ➢ Deleções envolvendo o supressor tumoral PTEN ➢ Perda de TP53 por deleção ou mutação e deleção envolvendo RB (estágios avançados da doença) ▪ Alterações epigenéticas: ❖ Silenciamento de genes supressores de tumor ❖ Hipermetilação no gene da glutationa S-transferase (mais comum) → Infrarregula a expressão de GSTP1 (faz parte da via que previne lesão decorrente de vários carcinógenos) ❖ Genes envolvidos na regulação do ciclo celular (RB, CDKN2A) ❖ Genes envolvidos na manutenção da estabilidade genômica (MLH1, MSH2) ❖ Genes envolvidos na supressão da via de sinalização Wnt (APC) ▪ Neoplasia intraepitelial prostática (suposta lesão precursora): ❖ Tanto a neoplasia intraepitelial prostática (PIN) quanto o câncer predominam na zona periférica ❖ Próstatas com câncer possuem maior frequência e extensão de PIN (muitas vezes perto do câncer) ❖ Muitas alterações moleculares observadas nos cânceres invasivos estão presentes em PIN o Morfologia: ▪ Majoritariamente na zona periférica da glândula e em localização posterior (palpável em exame retal) ▪ Tecido neoplásico granuloso e firme ▪ Estende localmente para o tecido periprostático, vesículas seminais e base da bexiga (pode produzir obstrução uretral na doença avançada) ▪ Metástases linfáticas para linfonodos obturadores e paraaórticos ▪ Metástases hematogênicas para ossos (coluna lombar, fêmur proximal, pelve, coluna torácica e costelas), tipicamente osteoblásticas ▪ Pode ocorrer disseminação visceral maciça via hematogênica (mas é rara) FIGURA 21-34 Adenocarcinoma da próstata. O tecido carcinomatoso é visto na face posterior (inferior esquerda). Observe o tecido sólido mais branco do câncer em contraste com aparência esponjosa da zona periférica benigna no lado oposto. 3 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Aspectos histológicos: ❖ Majoritariamente um padrão glandular bem definido ❖ Glândulas (menores que as glândulas benignas) revestidas por uma camada única e uniforme de epitélio cuboide ou colunar baixo ❖ Glândulas mais aglomeradas e sem ramificações ou dobras papilares ❖ Glândulas sem a camada de células basais externas típicas de glândulas benignas ❖ Citoplasma varia de pálido-claro a um aspecto anfofílico nítido ❖ Núcleos grandes, muitas vezes com um ou mais nucléolos grandes ❖ Geralmente a variação de tamanho e forma do núcleo (pleomorfismo) não é acentuada FIGURA 21-36 A, Fotomicrografia de pequenos focos de adenocarcinoma da próstata, demonstrando pequenas glândulas aglomeradas entre glândulas benignas maiores. B, Maior ampliação mostra várias pequenas glândulas malignas com núcleos aumentados, nucléolo proeminente e citoplasma escuro, em comparação com a glândula benigna maior (topo). ▪ Biópsia prostática: ❖ Diagnóstico de câncer difícil (quantidade escassa de tecido, malignidade sutil, mistura de glândulas malignas e benignas etc.) ❖ Diagnóstico feito com base em uma constelação de achados arquiteturais, citológicos e auxiliares ❖ Invasão perineural é específico para o câncer ❖ Deve-se distinguir glândulas benignas e malignas pela ausência de células basais nas malignas (distinção evidenciada por marcadores imuno-histológicos que rotulam as células basais) FIGURA 21-35 Carcinoma prostático osteoblástico metastático dentro de corpos vertebrais. FIGURA 21-37 Carcinoma de próstata mostrando invasão perineural pelas glândulas malignas. Compare à glândula benigna (à esquerda). 4 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ❖ A AMACR (α-metilacil-coenzima A-racemase) é suprarregulada no câncer de próstata (marcador imuno-histoquímico útil) ▪ Neoplasias intraepiteliais prostáticas de alto grau (PIN): ❖ Supostas lesões precursoras (aparecem em 80% dos casos) ❖ São ácinos prostáticos arquiteturalmente benignos revestidos por células citologicamente atípicas com nucléolos proeminentes ❖ Diferente das glândulas malignas, as glândulas de PIN são cercadas por uma camada irregular de células basais e uma membrana basal intacta o Gradação: ▪ É um importante indicador de prognóstico, junto com o estadiamento ▪ Sistema de Gleason (com base nos padrões glandulares de diferenciação) ❖ Grau 1 representa tumores mais bem diferenciados (glândulas neoplásicas de aspecto uniforme e redondo agrupadas em nódulos bem circunscritos) ❖ Grau 5 representa tumores sem diferenciação glandular, com células tumorais infiltrando estroma na forma de cordões, lençóis e ninhos ❖ Graus 2, 3 e 4 possuem características situadas entre as dos graus extremos (1 e 5) ▪ A maioria dos tumores contém mais de um padrão (graus diferentes) ❖ Grau primário: Padrão mais frequente ❖ Grau secundário: 2º padrão mais frequente ▪ O grau final de Gleason de uma peça cirúrgica é obtido pela soma dos graus primário e secundário ❖Em tumores com apenas 1 padrão, dobra-se o grau encontrado ❖ Em tumores com 3+ padrões, soma-se o grau mais comum (grau primário) com o maior grau presente ❖ Na biópsia da próstata soma-se sempre o grau primário com o maior/pior grau ❖ A pontuação de Gleason vai de 1 + 1 = 2 (mais bem diferenciados) até 5 + 5 = 10 (menos diferenciados) ❖ Tumores de soma igual podem ser diferentes pelo grau que está mais frequente em cada um (Ex.: Gleason 3 + 4 = 7 e Gleason 4 + 3 = 7), sendo o primeiro da soma o mais frequente (grau primário) ▪ As pontuações de Gleason são combinadas em grupos de comportamento biológico semelhante ❖ Gleason 2 a 6: Tumor bem diferenciado com um excelente prognóstico ➢ Gleason de 2 a 4 são normalmente tumores pequenos e achados incidentais ➢ Gleason de 6 a 7 são normalmente detectados por biópsia de agulha como resultado de rastreamento e são potencialmente tratáveis ❖ Gleason 3 + 4 = 7: Tumores moderadamente diferenciados ❖ Gleason 4 + 3 = 7: Tumores moderadamente a pouco diferenciados ❖ Gleason 8 a 10: Tumores pouco diferenciados até indiferenciados ➢ Normalmente representam cânceres avançados e com pouca possibilidade de cura 5 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ A pontuação de Gleason permanece estável durante um período de vários anos (porém há evidências que o câncer de próstata possa se tornar mais agressivo com o tempo o Estadiamento: ▪ Importante para seleção de terapia apropriada ▪ Classificação da extensão do tumor primário (T): ❖ T1: Câncer encontrado incidentalmente ➢ T1a e T1b: Encontrados numa ressecção transuretral prostática (RTUP) para sintomas de hiperplasia prostática benigna (HPB). A e B se diferenciam pela extensão e grau do tumor ➢ T1c: Encontrado por biópsia de agulha realizada devido a uma elevação nos níveis séricos do antígeno prostático específico (PSA) ❖ T2: Câncer palpável ou visível confinado ao órgão ❖ T3: Extensão Extra prostática ➢ T3a: Sem invasão de vesícula seminal ➢ T3b: Com invasão de vesícula seminal ❖ T4: Invasão direta dos órgãos contíguos ▪ Classificação do estado dos linfonodos regionais (N): ❖ N0: Ausência de metástases regionais ❖ N1: Presença de metástases em linfonodos regionais (geralmente associada à evolução fatal) FIGURA 21-38 A, Câncer de próstata de baixo grau (pontuação de Gleason 1 + 1 = 2) que consiste em glândulas malignas adjacentes (back-to-back), de tamanho uniforme. As glândulas contêm cristaloides prostáticos intraluminais eosinófilos, uma característica mais comumente vista em câncer do que em glândulas benignas e mais frequentemente vista em cânceres de próstata de grau menor do que os de grau maior. B, Biópsia de agulha da próstata com glândulas de tamanho variável e mais amplamente dispersas de adenocarcinoma moderadamente diferenciado (pontuação de Gleason 3 + 3 = 6). C, Adenocarcinoma indiferenciado (pontuação de Gleason 5 + 5 = 10), composto por lençóis de células malignas. 6 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Curso clínico: ▪ A maioria dos cânceres de próstata T1a não progride por 10 anos ou mais ❖ Idosos com T1a são apenas acompanhados ❖ Homens mais jovens com T1a podem ser submetidos à biópsia de agulha para buscar câncer adicional ▪ Lesões T1b são mais ameaçadoras (mortalidade de 20%), então são tratadas igual T1c ▪ Câncer prostático localizado é assintomático ▪ A maioria dos cânceres prostáticos surge perifericamente e longe da uretra ▪ Sintomas urinários ocorrem tardiamente em casos avançados ❖ Dificuldade em iniciar ou interromper a micção ❖ Disúria ❖ Frequência urinária ❖ Hematúria ▪ Metástases vertebrais podem gerar dor nas costas (raro) o Exames: ▪ O achado de metástases osteoblásticas é virtualmente diagnóstico do câncer de próstata ▪ O exame retal digital pode detectar carcinomas prostáticos precoces devido localização posterior, mas possui baixas sensibilidade e especificidade 7 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ A ultrassonografia transretal e outros métodos de imagem podem mostrar achados característicos, mas também carecem de sensibilidade e especificidade ▪ Normalmente uma biópsia por agulha transretal é necessária para confirmar diagnóstico ▪ A medição dos níveis séricos de PSA é amplamente utilizada para auxiliar no diagnóstico e no tratamento o Antígeno prostático específico (PSA): ▪ O PSA é secretado normalmente no sêmen para clivar e liquefaz o coágulo seminal após ejaculação ▪ Normalmente apenas quantidades mínimas de PSA circulam no soro ▪ O câncer de próstata gera níveis elevados de PSA ▪ Níveis de PSA elevados podem indicar várias coisas (baixa especificidade) ❖ Câncer de próstata ❖ Hiperplasia prostática benigna (menos elevados que no câncer) ❖ Prostatite ❖ Infarto de hiperplasias nodulares ❖ Instrumentação da próstata ❖ Ejaculação ▪ A análise dos níveis de PSA para diagnóstico de câncer possui baixa sensibilidade e o ponto de corte deve ser escolhido com cuidado ❖ Pontos de corte baixos podem indicar falsa necessidade de biópsia, detecção e tratamento de tumores indolores e não fatais ❖ Normalmente é usado o ponto de corte de 4 ng/mL ❖ Outras orientações consideram o ponto de corte de 2,5 ng/mL (visto que 20 a 40% dos pacientes com câncer de próstata confinado têm PSA abaixo de 4 ng/mL) ▪ Refinamentos na estimativa e interpretação de PSA são usados para potencializar o exame ❖ Densidade de PSA (proporção entre o valor de PSA sérico e o volume da próstata) ➢ Elimina a contribuição do tecido benigno nos níveis de PSA sérico ➢ O volume da glândula normalmente é determinado por ultrassom transretal ➢ É estimado o PSA produzido por grama de tecido prostático ❖ Velocidade na alteração do valor de PSA ➢ Homens com câncer de próstata apresentam aumento mais rápido nos níveis de PSA ➢ O ponto de corte para a taxa de alteração do PSA é de 0,75 ng/mL por ano ➢ 3 medidas de PSA devem ser realizadas em um período de 1,5 a 2 anos ➢ Homens com níveis normais de PSA (< 4 ng/mL), mas que tiveram elevação significativa em comparação ao último exame (> 0,75 ng/mL), devem ser submetidos à avaliação adicional ❖ Faixas de referência de PSA específicas para a idade ➢ 40 a 49 anos: 2,5 ng/mL 8 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ➢ 50 a 59 anos: 3,5 ng/mL ➢ 60 a 69 anos: 4,5 ng/mL ➢ 70 a 79 anos: 6,5 ng/mL ❖ Proporção entre PSA livre e ligado no soro ➢ A porcentagem de PSA livre é menor no câncer do que em doença prostática benigna ▪ O valor de PSA também é bem importante e muito mais assertivo para avaliação da resposta à terapia ❖ Elevações de PSA após prostatectomia radical ou radioterapia para doença localizada indica doença recorrente ou disseminada ❖ Imuno-histoquímica de PSA em corte de tecido de metástase pode determinar se originou na próstata ▪ Outros genes e proteínas também podem servir como biomarcadores do câncer de próstata ❖ PCA3 (RNA não codificante superexpresso em 95% dos cânceres de próstata) ❖ PCA3 urinário com rastreamento urinário para fusão gênica TMPRSS2-ERG o Tratamento: ▪ Cirurgia, radioterapia e manipulações hormonais ▪ O tratamento mais comum é a prostatectomia radical (prognóstico baseado no estágio patológico, estado das margens e grau de Gleason) ▪ Câncer localizado pode ser tratado alternativamente com radioterapia com feixe externo ou radioterapia intersticial / braquiterapia (colocação de “sementes” radioativas na próstata) ▪ Carcinoma avançado metastático é tratado por terapia de privação androgênica ❖ Orquiectomia (cirúrgica) ❖ “Orquiectomia” farmacológica (Administração de agonistas sintéticos do LHRH – hormônio liberador do hormônio luteinizante → Supressão do LHRH normal) ❖ Administração de agentes que inibem a síntese de hormônio esteroide sistêmica→ Diminui os níveis de andrógenos circulantes e locais ❖ Bloqueio farmacológico do receptor de androgênio ▪ Lembrar que os tumores podem se tornar resistentes à terapia antiandrogênica • Tumores diversos e condições semelhantes a tumores: o Adenocarcinomas ductais: ▪ Adenocarcinomas prostáticos que surgem nos ductos ▪ Adenocarcinomas de ductos periféricos podem se apresentar igual o câncer de próstata comum ▪ Adenocarcinomas de dutos periuretrais maiores podem exibir sinais e sintomas semelhantes ao câncer urotelial (hematúria e sintomas obstrutivos urinários) ▪ Prognóstico pior o Carcinoma adenoescamoso ou escamoso puro: ▪ Câncer de próstata com diferenciação escamosa após terapia hormonal ou como evento “de novo” o Carcinoma coloide da próstata: 9 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ▪ Câncer de próstata com secreções mucinosas abundantes o Carcinoma de pequenas células (carcinoma neuroendócrino): ▪ Variante mais agressiva de câncer de próstata ▪ Rapidamente fatais o Carcinoma urotelial: ▪ Envolve secundariamente a próstata ▪ Carcinomas protelais grandes e invasivos podem invadir diretamente a próstata a partir da bexiga ▪ Carcinoma urotelial in situ da bexiga pode se estender para a uretra prostática e para baixo até os ductos e ácinos prostáticos o Tumores mesenquimais: ▪ Os mesmos que envolvem a bexiga podem envolver a próstata ▪ Existem também tumores mesenquimais específicos da próstata derivados do estroma prostático TUMORES DE BEXIGA Serão estudados apenas os tumores uroteliais (invasivos e não invasivos) • Tumores uroteliais: o 90% de todos os tumores da bexiga o De lesões pequenas benignas até cânceres agressivos e fatais o Podem ocorrer em qualquer local com urotélio (mais comuns na bexiga) o São descritas 2 lesões precursoras para o carcinoma urotelial invasivo ▪ Tumores papilares não invasivos: Mais comuns, originam-se da hiperplasia urotelial papilar ▪ Carcinoma urotelial não invasivo plano: Carcinoma in situ (não invade membrana basal) o Em cerca de metade dos indivíduos com diagnóstico de câncer invasivo o tumor já invadiu a parede da bexiga ▪ Lesões precursoras não aparecem mais pois são destruídas pelo componente invasivo de alto grau ▪ Apresenta-se como uma massa grande e frequentemente ulcerada ▪ A invasão da muscular própria (músculo detrusor) está relacionada com mortalidade em 5 anos de 30% o Os tumores uroteliais são classificados em 4 níveis de acordo com a OMS/ISUP ▪ Papiloma urotelial (PU) ▪ Neoplasia urotelial papilar de baixo potencial maligno (NUPBPM) ▪ Carcinoma urotelial papilar de baixo grau (CUPBG) ▪ Carcinoma urotelial papilar de alto grau (CUPAG) • Epidemiologia e patogenia dos tumores uroteliais: o Mais comum em homens (3:1), em nações desenvolvidas e em áreas urbanas o Ocorre majoritariamente entre os 50 e 80 anos o Em geral não é familiar 10 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Fatores de risco: ▪ Tabagismo (mais importante) ▪ Exposição industrial a arilaminas (particularmente 2-naftilamina e compostos relacionados) ▪ Infecções por Schistosoma haematobium ▪ Uso de analgésicos em longo prazo ▪ Intensa exposição a ciclofosfamida (imunossupressor) por longo prazo ▪ Irradiação o Alterações genéticas: ▪ Várias alterações genéticas adquiridas podem ser observadas em diferentes carcinomas uroteliais ❖ Ganho de função em FGFR3 ❖ Perda de função de TP53 e RB (supressores de tumor) ❖ Ativação do oncogene HRAS ❖ Perdas de material genético no cromossomo 9 ➢ Deleção de 9p: Inclui o gene CDKN2A (supressor de tumor) ➢ Deleção de 9q: Inclui os genes PTCH e TSC1 (supressores de tumor) ▪ É proposto um modelo de 2 vias da carcinogênese da bexiga ❖ Tumores papilares superficiais de baixo grau: Mutações FGFR3 e RAS + Deleções no cromossomo 9 (Desses uma minoria pode perder a função de TPF3 e/ou RB e progredir para invasão) ❖ Lesões não invasivas planas ou papilares de alto grau: Iniciam com mutação de TP53 e com a perda do cromossomo 9 progridem para invasão • Morfologia dos tumores uroteliais: o Varia de puramente papilar a nodular ou plano o A maioria surge nas paredes lateral ou posterior na base da bexiga o Tumores múltiplos bem individualizados estão frequentemente presentes o Histologicamente vão desde um papiloma benigno até carcinomas anaplásicos altamente agressivos FIGURA 21-7 Corte transversal da bexiga, com a metade superior mostrando um grande tumor papilar. A metade inferior demonstra neoplasias papilares multifocais menores FIGURA 21-6 Quatro padrões morfológicos de tumores de bexiga. CIS, Carcinoma in situ 11 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 o Papilomas uroteliais (PU): ▪ 1% ou menos ▪ Geralmente em pacientes mais jovens ▪ Tipicamente são estruturas pequenas (0,5 a 2 cm), delicadas, fixadas superficialmente à mucosa por um pedículo (papilomas exofíticos) ▪ Papilas com núcleo central de tecido fibrovascular frouxo coberto por epitélio (igual ao urotélio normal) ▪ Recorrências e progressão são raras ▪ Podem ocorrer também papilomas invertidos (cordões interanastomosantes de urotélio sem atipias citológicas que se invaginam para dentro da lâmina própria / lesão benigna) o Neoplasias uroteliais papilares de baixo potencial maligno (NUPBPM): ▪ Diferenciam-se dos papilomas pelo urotélio mais espesso (tendem a ser maiores) ▪ Na cistoscopia podem ser indistinguíveis dos carcinomas papilares de alto e baixo grau ▪ Recorrências comumente mostram a mesma morfologia ▪ Pode ocorrer progressão, mas é raro o Carcinomas uroteliais papilares de baixo grau (CUPBG): ▪ Aspecto arquitetural e citológico bem ordenado (células espaçadas mantendo polaridade e coesas) ▪ Leve grau de atipia nuclear (núcleos hipercromáticos dispersos, raras figuras mitóticas e leve variação no tamanho e forma) ▪ Podem recorrer e, não frequentemente, invadir ▪ Raramente representam ameaça à vida do paciente o Carcinomas uroteliais papilares de alto grau (CUPAG): ▪ Desorganização arquitetural e perda de polaridade das células ▪ Células pouco coesas, com grandes núcleos hipercromáticos ▪ Algumas células altamente anaplásicas ▪ Figuras mitóticas são frequentes ▪ Incidência maior de invasão para camada muscular e maior risco de progressão ❖ Podem se estender para a parede da bexiga ❖ Mais avançados podem invadir próstata, vesículas seminais, ureteres e retroperitônio ❖ Alguns produzem comunicações fistulosas com a vagina ou reto ▪ Potencial metastático significativo FIGURA 21-8 Papiloma composto por ramificações papilares pequenas revestidas por urotélio aparentemente normal. FIGURA 21-9 Carcinoma urotelial papilar de baixo grau com uma aparência geral ordenada, com um revestimento mais grosso do que o papiloma e núcleos hipercromáticos dispersos e figuras de mitose (setas). FIGURA 21-10 Carcinoma urotelial papilar de alto grau com atipia citológica marcante. 12 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 ❖ Linfonodos regionais ❖ Disseminação hematogênica para fígado, pulmões e medula óssea o Carcinoma in situ (CIS) / Carcinoma urotelial plano não invasivo: ▪ Células citologicamente malignas confinadas em um urotélio plano ▪ Pode ter atipias em toda a espessura ou dispersas em meio a urotélio normal (disseminação pagetoide) ▪ Há a perda de coesão das células (igual ao CUPAG) que prova sua descamação para a urina ▪ Geralmente aparece como uma área de vermelhidão, granularidade ou espessamento da mucosa (sem produzir massa intraluminal evidente) ▪ Comumente é multifocal ▪ Pode se estender para os ureteres e uretra ▪ Se não tratados a maioria (50-75%) progride para um câncer invasivo FIGURA 21-11 A, Urotélio normal com núcleos uniformes e camada decélulas em guarda-chuva bem desenvolvida (seta). B, Carcinoma in situ plano com numerosas células com núcleos aumentados e pleomórficos. o Carcinoma urotelial invasivo (CUI): ▪ Pode estar associado ao carcinoma urotelial papilar (geralmente alto grau) ou CIS adjacente ▪ A extensão da invasão/disseminação (estadiamento) tem importância prognóstica ❖ Quase todos os carcinomas uroteliais infiltrativos apresentam alto grau ❖ É mais importante classificar o carcinoma urotelial não invasivo (se é alto ou baixo grau) FIGURA 21-12 Bexiga aberta, mostrando um de carcinoma de células transicionais de alto grau, invasivo, em um estágio avançado. A neoplasia multinodular agressiva vegetou no lúmen da bexiga e se espalhou por uma vasta área. As áreas amarelas representam áreas de ulceração e necrose. 13 ANATOMIA E FISIOLOGIA PATOLÓGICAS RAUL BICALHO – MEDUFES 103 • Curso clínico do câncer de bexiga: o Classicamente produz hematúria indolor o Ocasionalmente a hematúria pode estar acompanhada de frequência urinária, urgência miccional e disúria o Quando há acometimento do orifício ureteral podem ocorrer pielonefrite e hidronefrose o Recorrências após excisão são comuns e podem exibir maior grau ▪ Risco depende do tamanho, estágio, grau, multifocalidade, recorrência prévia, displasia e CIS associados ▪ Podem ser recorrências reais ou novos tumores inteiramente independentes (maioria) o O prognóstico depende do grau histológico e do estágio no diagnóstico ▪ PU, NUPBPM e CUPBG: Taxa de sobrevida em 10 anos de 98% independente de recorrências ▪ CUPAG: Invadem e levam à morte em cerca de 25% dos casos ▪ CIS primário: Progressão de 28% para câncer com invasão muscular e de 7% para morte ▪ CIS associado a CUI: Progressão de 59 % para câncer com invasão muscular e de 45% para morte ▪ CUI: Taxa de mortalidade de 30% o O desafio clínico é a detecção precoce e o acompanhamento adequado ▪ 50% dos cânceres invasivos têm invasão muscular e prognóstico insatisfatório mesmo com terapia ▪ Cistoscopia e biópsia constituem os fundamentos do diagnóstico (principalmente nos estágios iniciais) ▪ Pacientes são acompanhados com cistoscopias de vigilância adicionais em busca de recorrência ▪ Exame de células em amostra de urina para detectar anormalidades cromossômicas é útil para triagem o A seleção do tratamento depende do grau, do estágio e se a lesão é plana ou papilar ▪ Ressecção transuretral: Para tumores papilares de baixo grau, localizados e pequenos ▪ Instilação intravesical de BCG (Bacilo Calmette-Guérin): Em casos de alto risco de recorrência/progressão ▪ Cistectomia radical: Em casos de invasão da muscular própria, CIS ou CUPAT refratário a BCG e CIS se estendendo para uretra prostática e ductos prostáticos
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