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Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII Oncologia Problema 1 Fechamento 1 Câncer de Mama • Definido como a proliferação maligna das células epiteliais que margeiam os ductos ou lóbulos. • A maioria dos carcinomas se forma na unidade terminal ducto lobular (UTDL) . Epidemiologia • Para o Brasil, estimam-se que 66.280 casos novos de câncer de mama, para cada ano do triênio 2020-2022. • O câncer de mama feminina ocupa a primeira posição mais frequente em todas as Regiões brasileiras. • O tipo histológico mais comum para o CA de mama é o carcinoma de células epiteliais, que se divide em lesões in situ e invasoras. Os carcinomas mais frequentes são os ductais ou lobulares Fatores de Risco → A idade (mulheres a partir dos 50 anos): em decorrência das alterações biológicas em função do envelhecimento e do acúmulo de exposições ao longo do tempo, é um dos principais fatores de risco. → Fatores Endócrinos ou relativos a historia reprodutiva : Menarca precoce (antes dos 12 anos); Menopausa após os 55 anos (+ exposta a ação estrogênica); Nuliparidade; Primeira gestação após os 30 anos e uso de terapia hormonal na pós-menopausa por tempo prolongado. → Fatores genéticos/hereditários relacionados à presença de mutações em determinados genes (BRCA1 e BRCA2 são os mais frequentes , eles também predispõem ao câncer de ovário). - BRCA1 ocorre no braço longo do cromossomo 17 (o qual codifica uma proteína supressora tumoral), é responsável por 40% dos casos de câncer (aumenta mais o risco na pré-menopausa). São negativos para receptores de estrógeno e HER2/neu. - Já a mutação no BRCA2, que ocorre no braço longo do cromossomo 13 (tbm relacionado à oncogênese), aumenta o risco principalmente na pós-menopausa. *Os portadores masculinos de mutações em BRCA2 têm risco aumentado de desenvolver câncer de mama ou de próstata. OBS : A mastectomia bilateral profilática, o método mais efetivo para reduzir o risco de câncer de mama entre portadoras e a salpingo-oforectomia bilateral (SOB) deve ser oferecida a todas as mulheres com mutação em BRCA1 ou BRCA2. → Ter parentes em primeiro grau (mãe, irmã, filha) com câncer de mama dobra ou triplica o risco de desenvolver câncer, mas a história em parentes mais distantes aumenta o risco apenas levemente. → Outros : raça branca; antecedente pessoal de outros tipos de câncer (principalmente endométrio, ovário e cólon), fatores nutricionais (como dieta rica em gordura), obesidade (maior conversão periférica em estrogênio), uso crônico de álcool, etc. → Doses moderadas a altas de radiação ionizante no tórax na juventude, como nos casos de tratamento de doença de Hodgkin, implicam risco significativo de câncer de mama mais tarde na vida. → As doenças benignas da mama são classificadas como lesões proliferativas e não proliferativas. - As não proliferativas não estão associadas a maior risco de CA. - As lesões proliferativas sem atipia (como hiperplasia, adenose esclerosante), resultam em um pequeno aumento no risco. - As lesões proliferativas com atipia (hiperplasia ductal atípica, hiperplasia lobular atípica e carcinoma lobular in situ) estão associadas a aumento no risco de CA de mama invasor. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII Tipos Histológicos 1. Carcinoma In Situ • É a proliferação das células cancerígenas dentro dos ductos e lóbulos e sem a invasão do tecido estromal. • É uma etapa na sequência de eventos que vai da hiperplasia ao carcinoma invasor. - No entanto, nem sempre este processo é contínuo. Assim, é provável que nem todos os carcinomas in situ evoluam para a forma invasiva e, que nem todo carcinoma invasor passe obrigatoriamente pela etapa in situ. • Pode ser classificado como lobular (quase sempre se originam dos ácinos), ou ductal (podem se originar tanto dos ácinos quanto dos ductos). A) Carcinoma Ductal In Situ (CDIS) • É considerada “lesão precursora” do CA de mama e, na maioria das vezes, tem prognóstico favorável. • Microscopicamente é caracterizado pela dilatação da luz dos ductos e pelo achado de células padrão ductal com alterações malignas que não invadem a membrana basal. • O risco de acometimento da mama contralateral não é comum. • O tipo celular característico é a célula grande, poligonal e coesa; sua disposição no interior dos ductos define os subtipos histológicos: - Cribiforme: proliferação celular que deixa espaços regulares; são redondos de bordas nítidas; - Micropapilar - Papilar : semelhante ao micropapilar, mas com eixos fibrovasculares evidentes; - Solido : suas células ocluem totalmente o lúmen dos ductos; - Comedocarcinoma : pior prognóstico; caracterizado pela distensão dos ductos, anaplasia celular e necrose central que posteriormente sofre calcificação; normalmente evolui para invasão. B ) Carcinoma Lobular In Situ (CLIS) • Não se apresenta como lesão palpável e não é visível macroscopicamente no exame histopatológico • Consiste em um achado microscópico incidental, detectado mais frequentemente na pré-menopausa, sugerindo influencia hormonal no seu desenvolvimento e manutenção. • O padrão histológico é o de hiperplasia lobular atípica, com presença de células epiteliais pequenas, não coesas, dispostas no interior dos ácinos. História do Câncer • A primeira célula maligna aparece no epitélio ductal susceptível, ativada por fatores genéticos ou ambientais, tais como radiação e agentes químicos. • O epitélio de revestimento ductal inicia sua proliferação motivado por estímulos hormonais, fato que acarreta uma elevação do número de células acima da membrana basal = hiperplasia típica. - Na maior parte das vezes essa proliferação epitelial cessa nesse estágio, sem traduzir perigos. • Em determinadas situações, os gatilhos da iniciação tumoral alteram o protótipo celular, culminando na hiperplasia atípica, ou seja, ocorrência de atipias leves. • As hiperplasias atípicas evoluem para os reais precursores morfológicos dos carcinomas invasores(os carcinomas intraductais ou intralobulares) • O carcinoma intraductal ou intralobular, pelos mais diferentes estímulos – angiogênicos, hormonais, enzimáticos, entre outros continuam sua proliferação celular e rompem a membrana basal ductal, penetram no estroma mamário, podem permear e embolizar os vasos sanguíneos e linfáticos e evoluir para carcinoma invasor. OBS : Não necessariamente passa por todas essas fases Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII • Representa um indicador biológico de aumento do risco para o desenvolvimento de um tumor invasor (pois possui grande potencial para multicentricidade e bilateralidade). • Deve ser tratado com biópsia excisional e acompanhamento meticuloso. 2. Carcinomas Infiltrantes (Invasivos): • Corresponde à doença invasiva, ou seja, quando ocorre infiltração do estroma mamário e apresentam a capacidade de metastatizar para sítios anatômicos distantes. • No carcinoma da mama, a disseminação ocorre principalmente a partir da via linfática e mais raramente por via hematogênica pura. • Uma vez dentro dos canais linfáticos, estas células são transportadas pela linfa até atingir o primeiro gânglio de drenagem da região tumoral, chamado linfonodo sentinela. OBS : Sítios mais comuns de metástase: osso, pulmão, fígado A) Carcinoma Ductal Infiltrante • É o tipo de câncer de mama invasivo mais comum. • A capacidade de provocar reação estromal é que produz diferentes formas de apresentação, determinando retração de pele quando há reação fibrótica intensa, ou abaulamentos quando o crescimento é tuberoso e com pouca fibrose. *Esta reação estromal pode ser intensa, resultando em estroma denso e firme, responsável por sua antiga denominação como carcinoma cirroso. • O prognóstico é bom em casos de carcinoma ductal isolado, e péssimo em casos de metástases. • Ao exame → massa palpável com consistência pétrea, grande expressão ultrassonográfica e radiológica,com presença de lesão solida típica. B) Carcinoma Lobular Infiltrante • É pouco frequente. • O achado típico é de uma área mal definida, infiltrada, espessada na mama, com pouca expressão mamográfica. • Apresenta maior tendência à bilateralidade e multicentricidade. • Está mais associado ao uso da terapia hormonal do que o câncer ductal invasivo. • Normalmente não observamos lesão macroscópica. • Microscopicamente, evidenciam-se células pequenas e ovais, que infiltram o estroma na forma característica, em “fila indiana”. • Há perda de coesão das células(devido a perda de expressão do gene E-caderina). C) Carcinoma Mucinoso (Coloide) • Possui crescimento lento e se distingue pelo acúmulo de mucina ao redor das células tumorais. • Parece ser mais comum em pacientes mais idosas. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII • Normalmente apresenta aparência gelatinosa ao exame macroscópico, com tendência a serem bem circunscritos. • Pertence ao grupo das lesões invasivas com bom prognóstico. D) Doença de Paget • É uma desordem do mamilo e aréola, caracterizada clinicamente pela aparência eczematoide, com a presença de erosão e descamação. • Histologicamente, caracteriza-se pela presença de células tumorais que acometem a epiderme das papilas mamárias. • É obrigatória a distinção deste tumor com o eczema areolar. • A destruição da papila é a principal característica da doença de Paget. E) Carcinoma Inflamatório (pior prognóstico) • É uma forma distinta de câncer de mama localmente avançado, caracterizado clinicamente por eritema, edema, calor e endurecimento da pele, com o aspecto característico em “casca de laranja” (peau d’orange). • Pode haver ou não a presença de nódulo palpável. Manifestação Clínica • A presença de tumor endurecido, de forma variável, contornos irregulares, limites imprecisos e fixo (aderido a planos profundos) ou pouco móvel é a apresentação clássica, mas nem sempre ela é encontrada. • Tem crescimento insidioso e localiza-se no quadrante superior externo ou na região central. • Além disso, deve-se desconfiar fortemente de um tumor unilateral (na maioria das vezes). • Os tumores podem, ainda, se apresentar como assimetrias de volume importantes ou edema linfático de pele. • A descarga papilar pode estar associada e é geralmente uniductal, espontânea, intermitente. - Normalmente, é do tipo água de rocha ou sanguinolenta. Ocasionalmente, é serossanguinolenta. OBS : Quanto ao perfil de expressão gênica e alterações genômicas: → Luminal A – Apresenta elevados índices de REs e RPs, baixo grau histológico e baixos níveis de genes de proliferação celular, caracterizando um perfil de bom prognóstico; → Luminal B – Também se caracteriza pela expressão de REs e RPs, porém, é associado a grau histológico mais alto e maiores níveis de genes de proliferação celular, sendo relacionado a prognóstico mais reservado; → Tipo mama normal– Pouco caracterizado, possui perfil mais semelhante ao tecido mamário normal, → HER-2 – Apresenta comportamento mais agressivo, associado ao surgimento precoce de metástases à distância e metástases cerebrais. - Também se caracteriza pela ausência de expressão de REs e RPs e amplificação do gene que codifica o HER-2. → Basaloide (ou triplo-negativo) – Semelhante ao das células basais da mama, precursoras das células epiteliais glandulares e das células mioepiteliais. Compreendem 19% dos tumores associados a pior prognósticos. - São, em geral, negativos para REs, para RPs e para o produto proteico do HER-2. Devido à negatividade para esses três marcadores, esses carcinomas são denominados triplo-negativos e têm sido relacionados à mutação do gene BRCA1. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII Diagnóstico O diagnóstico do câncer de mama deve estar ancorado em um tripé: auto-exame; exame médico; Métodos de imagem e de biópsia. Core Biópsia (punção por agulha grossa) : Permite diagnostico histopatológico; Não permite identificar microcalcificações ; É ideal para nódulos sólidos. Mamotomia: Destinada p/ lesões não palpáveis ; Fornece maior amostra tumoral. Nem sempre está disponivel PAAF : • A punção aspirativa por agulha fina é o primeiro passo na investigação dos nódulos mamários, pois diferencia lesões císticas das lesões sólidas. - Os tumores sólidos são diagnosticados após a falha em aspirar líquido com a PAAF. • Em seguida o material aspirado deve ser encaminhado para avaliação citológica. • A citologia isoladamente não faz o diagnóstico de câncer e não encerra a investigação de um nódulo suspeito. - Assim, diante de um nódulo suspeito, a citologia só possui valor se for positiva. Se for negativa, é obrigatória a realização de biópsia. Ultrassonografia: (+solicitada em pct jovens) • É um método que assegura boa diferenciação entre nódulos sólidos e císticos. • Alguns achados ultrassonográficos são sugestivos de malignidade, como margens irregulares, hipoecogenicidade e textura heterogênea, presença de sombra acústica posterior, etc. Mamografia : • Principal método de rastreamento do câncer de mama. • A mamografia de alta resolução possibilita a identificação de lesões muito pequenas, com o mínimo de radiação, sem apresentar risco para as pacientes. • Detecta lesões em fase pré- clínica, com nódulos a partir de 2mm e microcalcificações menores que 0.5 mm, há aumento da sensibilidade com a idade. • Único exame que detecta microcalcificações agrupadas. • As imagens sugestivas de malignidade incluem nódulos espiculados, sem margens definidas, e microcalcificações pleomórficas agrupadas. Ressonância Magnética: • É um exame não invasivo, de custo elevado, de alta sensibilidade. • A RM não identifica microcalcificações, ou tumores intraductais ou invasores menores que 2 mm. • Usado para avaliar recidivas, metástases. Classificação BIRADS Sobre o autoexame: consiste numa prática padronizada, sistemática e periódica, normalmente 1x por mês e uma semana após o término da menstruação para mulheres que estão na menacme. - Entretanto, essa técnica está em desuso; o recomendado é a prática ocasional da observação e autopalpação eventual da mama, para tornar as mulheres mais conscientes do aspecto normal de suas mamas (autoconhecimento). Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII • Consiste numa padronização da nomenclatura dos achados mamográficos, o que facilita a interpretação da mamografia e orienta a conduta. 0: inconclusivo; novos exames complementares 1: Sem achados mamográficos; rastreio anual a partir dos 40 anos. 2: achados benignos; rastreio anual 3: achados provavelmente benignos; controle semestral. 4: achados suspeitos de malignidade; biópsia 5: achados altamente sugestivos de malignidade; biópsia 6: achados com malignidade confirmada (biópsia prévia) Estadiamento • O estadiamento é utilizado como estratégia para definir prognóstico e orientar a conduta terapêutica. • O estadiamento do carcinoma de mama baseia-se no diâmetro máximo do tumor (T), na presença ou não de metástases para LNs regionais, incluindo LNs axilares, infraclaviculares, supraclaviculares, mamários internos homolaterais (N) e na presença ou não de metástase à distância (M). • Pacientes com tumores iniciais podem ser estadiadas com cintilografia óssea, RX de tórax, US de abdome e pelve LDH e fosfatase alcalina (para ajudar na detecção de metástases ósseas). + Avançado =TC de tórax. Rastreamento • O MS e o INCA preconizam que mulheres com idade < 50 anos não é recomendado o rastreamento com mamografia de alta resolução, apenas exame clínico das mamas (ECM) anual ; • Mulheres com idade entre 50 e 69 anos recomenda-se a MMG bienal. • Mulheres com risco elevado de desenvolver CA de mama é feita mamografia anual a partir dos 35 anos: Daniela Rocha. Fonseca– Sala XXVII - Parentes de 1º grau com CA de mama antes dos 50 anos; - Com parente de 1° grau que teve CA de mama bilateral, CA de ovário em qualquer idade; - HF CA de mama masculino; - Mulheres com diagnóstico histopatológico de lesão mamaria proliferativa com atipia ou neoplasia lobular in situ. OBS : A mamografia apresenta maior acurácia em mulheres mais idosas, porque, com o envelhecimento, o tecido fibroglandular da mama é substituído por gordura, que pode ser diferenciada mais facilmente das alterações teciduais. Fatores Prognósticos e de Recidiva → Fator prognóstico: - É qualquer marcador que pode ser associado ao tempo livre de doença ou sobrevida global na ausência de terapia sistêmica adjuvante. - São considerados fatores prognósticos: características demográficas, anatomopatológicas (ex: tamanho tumoral, tipo histológico, grau histológico etc), Alguns marcadores biológicos associados ao crescimento e à progressão tumoral ). → Fator preditivo: é qualquer marcador associado à resposta ou à sua falta para uma terapia específica. - O status dos receptores hormonais e o HER-2 são considerados fatores preditivos e prognósticos do câncer de mama. * HER-2 (Receptor tipo 2 de crescimento epidérmico) :Promove o crescimento de cél.epiteliais e quando o gene esta amplificado resulta em diversas cópias . → Fatores de recidiva: - Receptores hormonais(ER): mensuração de receptores estrogênicos e progestonênicos. A sobrevida livre de doença é notoriamente maior nas pacientes que apresentam receptores positivos. - Her-2/neu: oncogene presente no cromossomo 17 que, quando amplificado, é relacionado à maior incidência de axila positiva, resistência à hormonioterapia e pior prognóstico. - Muita E-caderina: ocorrência de metástases. - Invasao de vasos - Componente intraductal extenso - Linfonodos Axilares: a presença de linfonodos positivos representa o principal fator de risco para recidiva sistêmica da doença. Tratamento → Cirúrgico : • Consiste na abordagem do tumor primário e da axila, com ou sem associação da radioterapia. • Indicada para as pacientes sem doença metastática à distância (ou seja, portadoras de Ca de mama até o estágio III). • Cirurgias Conservadoras: - Preservam boa parte da mama. - Limitam-se à ressecção da área que contém o tumor, com boa margem de segurança. - O fator principal da extensão cirúrgica corresponde ao volume tumoral. - O ideal é que o volume do tumor corresponda a 20% do volume total mamário. - Estas cirurgias estão indicadas para tumores pequenos ou mesmo maiores, desde que haja boa relação entre o volume tumoral e o da mama. *Tumorectomia: ressecção total do tumor sem preocupar com margem de segurança *Segmentectomia: ressecção com margem de segurança de 1cm *Quadrantectomia: ressecção da área com ampla margem de segurança. Tira a pele OBS : Cirurgia conservadora sempre com radioterapia.* Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII • Cirurgia radical + Quimioterapia e/ou Radioterapia adjuvante: - Ideal para carcinomas infiltrantes ou tumores localmente avançados, realiza-se mastectomia (quando tumores >20% do volume total mamário ou localmente avançados) e esvaziamento axilar, com retirada da cadeia linfática axilar. Mastectomia simples: retira apenas a mama com extensão variável da pele que recobre. Tumores multicêntricos ou intraductais extensos. Mastectomia radical: tumores infiltrantes, nos quais o volume ou a multicentricidade não permitem a cirurgia conservadora. Retirada da mama e do pequeno peitoral, associado ao esvaziamento axilar. Há preservação ou não do peitoral maior. → Radioterapia • Tem como principal indicação o controle locorregional da doença. • Em alguns poucos casos é empregada no pré-operatório para reduzir o volume tumoral. • Seu uso mais comum é no pós-operatório, ou seja, radioterapia adjuvante, para diminuir as taxas de recidiva. • Todas as candidatas à radioterapia devem realizá-la até no máximo 16 semanas após a cirurgia. • A RT deve englobar toda a mama. → Quimioterapia • Visa auxiliar no tratamento locorregional, controlar e tratar o surgimento de metástases à distância. • Normalmente é recomendada para pacientes com tumores infiltrantes, linfonodos positivos ou quando o tumor é grande. • Afeta a evolução natural da doença, com melhora significante da sobrevida. • QT deve preceder a RT (em caso de indicação das 2). QT Neoadjuvante ou Pré-Operatória: - É aquela realizada anteriormente ao procedimento definitivo (cirúrgico ou radioterápico). - Assim, ela se propõe a diminuir o tamanho tumoral, de forma a possibilitar cirurgias conservadoras em tumores grandes. QT Adjuvante - Propõe-se complementar o tratamento cirúrgico, diminuindo as taxas de recidiva e os índices de mortalidade. - Deverá ser iniciada idealmente quatro a seis semanas após a cirurgia. - A indicação de terapia adjuvante decorre da presença de fatores de mau prognóstico. → Hormonioterapia • Consiste na utilização de substâncias que inibam ou diminuam a atividade dos hormônios endógenos (estrogênio e progesterona) sobre a mama. • Por esta razão, está indicada para nos tumores receptores hormonais positivos (RE+ e RP+). • Assim como a QT, a hormonioterapia pode ser empregada como terapia neoadjuvante, adjuvante ou no controle de metástases à distância. • Não deve ser administrada ao mesmo tempo em que a QT. EX : Tamoxifeno: é um modulador seletivo dos receptores de estrogênio. No entanto, na mama funciona como um antagonista. - Nos outros órgãos apresenta sua função primária de agonista, pode desencadear efeitos colaterais como: Aumento do risco de câncer de endométrio , indução da ovulação (ação similar ao clomifeno), aparecimento de fogachos de difícil controle, aumento do risco para trombose. Inibidores da Aromatase: merecem destaque o Anastrozol, o Letrozol e o Exemestano. - Sua ação está na inibição da conversão de androgênios em estrógenos nos tecidos periféricos, por intermédio do bloqueio da ação das enzimas do complexo citocromo p450. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII Análogos do GnRH: Goserelina Câncer de Ovário Ovários • Os ovários são órgãos intraperitoneais, sólidas, de cor branca rósea, que apresentam superfície lisa até a puberdade, tornando-se rugosa à medida que as ovulações acontecem. • O câncer de ovário é o tumor ginecológico mais difícil de ser diagnosticado e o de menor chance de cura. • Cerca de 3/4 dos cânceres desse órgão apresentam-se em estádio avançado no momento do diagnóstico. Epidemiologia • A maioria dos casos novos de câncer de ovário se forma por células epiteliais, o restante por células germinativas e células estromais. • O câncer de ovário é o oitavo câncer mais incidente entre as mulheres no mundo. Fatores de Risco → História Familiar: É o fator de risco mais importante. - A história familiar positiva eleva o risco em três a quatro vezes, em caso de uma ou duas parentes acometidas. → Fatores Genéticos: Identificam-se três padrões distintos de hereditariedade: - Câncer ovariano isolado - Síndrome de câncer de mama-ovário hereditária: é a relação hereditária mais comum. - Síndrome de câncer ovário-cólon (Síndrome de Lynch II ou câncer colorretal não polipoide hereditário. → Idade: A incidência aumenta com a idade. - A incidência máxima de câncer epitelial ovariano invasivo se dá em torno dos 60 anos. → Menarca Precoce e Menopausa Tardia → Paridade: Maior incidência nas nulíparas. → Raça: É mais comum na raça branca do que na negra. → Uso de Indutores da Ovulação: Pacientes que são submetidas a protocolos de indução ou estimulação ovariana (EX: citrato de clomifeno ou gonadotrofinas) apresentam um risco maior para o câncer de ovário. → Endometriose: O risco de transformação maligna de um Endometrioma é estimado em 2,5%. → Tabagismo: O tabagismo tem sido associadoao desenvolvimento de carcinoma mucinoso, mas não do carcinoma seroso. → Outros : Obesidade , Fatores Ambientais, Fatores Nutricionais. Fatores de proteção : A malignidade ovariana surge de um processo anômalo de regeneração da superfície epitelial na ovulação. - Fatores que promovem inibição da função ovariana reduzem o risco de câncer de ovário. - Amamentação - ACO = O mecanismo de prevenção está relacionado ao bloqueio da ovulação induzido pelo ACO, fazendo diminuir as alterações repetitivas na superfície ovariana, que agem como fator de risco para o desenvolvimento do câncer. - Ooforectomia Profilática - Laqueadura Tubária Manifestação Clinica • Sintomas iniciais são inespecíficos e vagos; • Os primeiros sintomas sugerem a presença de doença em andar superior do abdome: - Sensação de plenitude gástrica, saciedade precoce, dispepsia ou distensão abdominal e constipação intestinal. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII - Ocasionalmente, pacientes nos estádios iniciais apresentam dor pélvica. • Os sinais clínicos tipicamente incluem massa ovariana palpável ao toque vaginal bimanual e/ou à palpação do abdome. Mais raramente, ocorrem torções ou roturas tumorais que acarretam sintomas agudos. • Nos casos avançados, o quadro típico é a caquexia, ascite e abdome volumoso e dispneia ocasionada pela restrição dos movimentos respiratórios ou derrame pleural. Diagnóstico Exame Físico: • Características da massa ovariana identificada ao toque e/ou à palpação abdominal, como seu tamanho, seu contorno, seu grau de mobilidade ou aderência aos tecidos vizinhos, além da presença ou não de ascite. • O toque retal permite a avaliação do grau de aderência da massa aos ligamentos uterossacros, da presença de nodulações em fundo de saco de Douglas e da irressecabilidade cirúrgica do tumor em casos avançados de infiltração pélvica. • Outros achados incluem ascite, derrame pleural e massa umbilical (nódulo umbilical metastático- irmã Maria José ) OBS : Esses achados são inespecíficos e podem estar associados às neoplasias gástricas, pancreáticas, da vesícula biliar e aos tumores intestinais. Ultrassonografia Pélvica: • É o primeiro exame a ser solicitado na avaliação de massa anexial. • Ela permite a definição das características morfológicas das massas ovarianas. • A ausência dessas alterações fornece boa garantia em relação a não se estar diante de um tumor maligno ovariano ou tubário, mas a presença deles também não é indicativa de certeza de malignidade. Dopplerfluxometria: • Avalia a velocidade do fluxo sanguíneo pelo tumor. • A presença de neovascularização, principalmente central, com fluxo de baixa resistência (RI < 0,4) e índice de pulsatilidade < 1,0 é altamente sugestiva de malignidade. Ressonância Magnética (RM) e Tomografia Computadorizada (TC) do Abdome e Pelve: • Permitem a avaliação de toda a cavidade abdominal. • São úteis para determinar a extensão do câncer principalmente no pré-operatório. Marcadores tumorais: • Substancias produzidas pelo tumor ou associadas a ele. • CA125 (elevado em 80% dos casos) = Marcador mais utilizado no estudo dos carcinomas epiteliais. - Inespecífico, pode estar aumentado em outras doenças. - É indicado no seguimento pós-tratamento(dosagem normal após quimio e posterior aumento é sugestivo de atividade da doença). • CEA, beta-hCG, AFP, CA19, testosterona e estradiol. → São lesões que sugestivas de malignidade à USG: - Cistos > 8 cm. - Cistos que apresentam septos espessos (> 3 mm), papilas, espessamento da parede do cisto, nodularidades, multiloculações, presença de componente sólido no seu interior (muito sugestivo). - Massas sólidas. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII Histopatologia • As neoplasias malignas dos ovários são classificadas de acordo com a linhagem das células de origem. • Os tumores primários podem ser classificados em três categorias: neoplasias epiteliais; neoplasias germinativas; neoplasias do estroma e cordões sexuais. • A maioria dos cânceres ovarianos é de origem epitelial (65% a 70%). 1. Tumores Epiteliais • Os adenocarcinomas respondem por 80-90% dos tumores malignos ovarianos. • O tipo histológico mais comum dos epiteliais é o seroso. • Menos comuns: carcinoma mucinoso, endometrióide, de Brenner e indiferenciado. • Tumores invasivos ocorrem entre os 50-70 anos. • Os tumores epiteliais derivam da transformação maligna do epitélio da superfície ovariana (celômico). - Esse epitélio reveste as depressões formadas pela rotura folicular a cada ovulação. - Com o processo de regeneração, esse epitélio pode diferenciar-se em diferentes tipos de epitélio, dando origem aos diferentes tipos histológicos, ou pode não se diferenciar. A) Tumores serosos • Surgem por invaginação do epitélio superficial do ovário. • Secretam líquido seroso. • As invaginações podem associar a corpos estranhos, corpos de psammoma(correspondem a agentes irritativos que produzem aderências e aprisionamento dos epitélios superficiais). Há 3 subtipos: - Benignos: cistoadenoma seroso é um dos mais frequentes ; pode malignizar. - Limítrofes: 50% incidem antes dos 40 anos. -Malignos: há invasão do estroma. • Cistoadenocarcinomas são os mais comuns : Bilaterais(35% dos casos); Não ultrapassam 25cm. B) Tumores Mucinosos • São tumores císticos com cavidades revestidas por epitélio secretor de mucina. - Células possuem mucina no citoplasma e parecem com as do endocérvice, piloro gástrico ou do intestino. • Correspondem a 20% dos tumores epiteliais. • Atinge as maiores dimensões (1m de diâmetro) • O epitélio neoplásico secreta material mucoide → leva a rotura da cápsula ovariana → extravasamento do conteúdo para a pelve e cavidade abdominal. OBS : Pseudomixoma peritoneal é o termo clínico usado para descrever a presença de material mucoide circundado por tecido fibroso → Leva a extensa adesão das alças intestinais, podendo resultar em obstrução intestinal. C) Tumores endometrioides • Associa com endometriose em 10% dos casos. • Caracterizam-se por um padrão adenomatoso com todas as possíveis variações de epitélios encontrados no útero. D) Tumores de células claras • São constituídos por células claras e células em cabeça de prego que projetam seu núcleo para o citoplasma apical; • É o tumor de pior prognóstico entre os epiteliais. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII 2. Tumores de Células Germinativas • Representam cerca de 20% de todos os tumores ovarianos, mas apenas 5% dos tumores malignos do ovário. • Ocorrem principalmente em mulheres jovens e crianças; • São geralmente diagnosticados por massas abdominais palpáveis, sendo que dor abdominal, distensão abdominal e sangramentos vaginais anormais também podem estar presentes. • Costumam estar associados a atividades hormonais ou enzimáticas e os marcadores AFP, hcg e LDH (desidrogenase láctica) costumam estar presentes. • O tipo histológico maligno mais comum é disgerminoma, seguido pelo teratoma imaturo. • Entre os tumores benignos o mais comum é o teratoma maduro ou cisto dermoide. A) Disgerminoma • Tumor de crescimento rápido, geralmente unilateral, podendo causar sintomas compressivos e quadros de abdome agudo em decorrência de sua rotura ou torção do pedículo vascular. • Raramente secretam marcadores tumorais. • Acomete principalmente jovens e possui bom prognóstico. B) Teratoma Imaturo • Apresentam tecidos embrionários e fetais pouco diferenciados, podendo haver mais facilmente um crescimento descontrolado. • Tais tecidos podem produzir esteroides e acarretar na pseudoprecocidade sexual. • Não secretam marcadores tumorais. • Acometem principalmente jovens; normalmente é unilateral. • Paciente pré-menopausa com lesões limitadas a um ovário → ooforectomia. • Pode ter quimioterapia adjuvante. • Radioterapia não é indicada. • Localmais comum de disseminação é o peritônio. C) Tumor do seio endodérmico ou carcinoma do saco vitelino • São neoplasias derivadas do saco vitelino primitivo que possuem o corpúsculo de Schiller-Duval como achado característico (tem-se o espaço cístico revestido por uma camada de endotélio de onde se projeta um tufo semelhante a um glomérulo que tem núcleo vascular). • Acometem principalmente jovens; • Possuem péssimo prognóstico. • Produzem alfafetoproteína e são 100% unilaterais. D) Carcinoma embrionário • Raro e extremamente agressivo; acomete mulheres muito jovens (14 anos) e podem secretar estrogênios, levando à pseudopuberdade precoce e hemorragia genital irregular. • Costumam ser grandes e unilaterais. • Secretam AFP e hCG. 3. Tumores de células dos cordões sexuais/estroma gonadal • Derivam do estroma devido ao fato do mesênquima gonadal indiferenciado poder dar origem tanto a células femininas (granulosa e teca) quanto a masculinas (sertoli e Leydig), os tumores podem conter todos estes tipos de célula, além de poderem produzir hormônios. • Possuem baixo grau de malignidade. A) Tumores da Teca granulosa: Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII • Podem ser encontrados em qualquer faixa etária mas, 2/3 dos casos são após a menopausa. • Possuem superfície lisa e lobulada. • Secretam grandes quantidades de estrogênio causando, nas jovens, puberdade precoce e, nas adultas, um maior risco de hiperplasia endometrial, doença cística da mama e CA de endométrio. B) Tecomas e Fibromas • Raramente possuem características de malignidade. • São tumores sólidos, geralmente unilaterais, produtores de estrógenos que ocorrem mais na perimenopausa. C) Tumores de Sertoli-Leydig • Raros, unilaterais, mais frequentes entre os 20 e 40 anos de idade. • Devido a sua alta produção de androgênios, causa virilização em mais de 70% das mulheres acometidas. Estadiamento • A doença é estadiada e tratada ao mesmo tempo, Ou seja, o estadiamento cirúrgico já é terapêutico. • A partir da peça cirúrgica e do material coletado (líquido ascítico, lavado peritoneal, biópsias) é que a paciente será estadiada. Formas de Disseminação → Transcelômica: mais comum e mais precoce. - Células malignas esfoliativas propagam-se pela a cavidade abdominal pelo fluxo do líquido peritoneal influenciado por mov. respiratórios, mov. peristálticos, mov. da paciente, resultando em implantes peritoneais. → Continuidade: disseminação pelos órgãos vizinhos(trompas, útero, ovário contralateral e peritôneo) favorecida pelo comprometimento capsular do tumor. → Linfática: comum, ocorre mais tardiamente. - A disseminação segue o ligamento infundíbulo pélvico para comprometer os linfonodos para-aórticos e ao redor da veia cava OU seguir través do ligamento largo e canais parametriais atingindo os linfonodos pélvicos abrangendo a cadeia obturadora e as cadeias ilíacas interna e externa. → Hematogênica: rara, ocorre em estágios avançados. Fígado, pulmões, cérebro. Daniela Rocha. Fonseca – Sala XXVII Tratamento Cirurgia fundamental: • Corresponde à histerectomia total com salpingo-ooforectomia bilateral, omentectomia infracólica e citorredução tumoral. • A cirurgia será considerada ótima quando todo o tumor for ressecado ou quando permanecer tumor residual menor que 1cm. Cirurgia conservadora: • Nas pacientes jovens que desejam manter a função reprodutiva a cirurgia se restringe à salpingooforoplastia unilateral, caso o tumor esteja confinado a um ovário. Cirurgia citorredutora: • Indicada quando o tumor não está restrito aos ovários com o objetivo de deixar a menor quantidade de tumor residual, facilitando a ação da quimioterapia e atenuando os sintomas. - Ou seja, mesmo pacientes com doença aparentemente irressecável teoricamente beneficiam-se de cirurgia. Ooforectomia profilática: • Pacientes de alto risco para neoplasia de ovário com prole completa podem se beneficiar da ooforectomia bilateral profilática após os 35 anos. Tratamento adjuvante • A quimioterapia (QT) adjuvante é amplamente empregada após o tratamento cirúrgico (preferencialmente 4 a 6 semanas após o procedimento) sendo indicada de acordo com a classificação histológica do tumor, grau de diferenciação, estadiamento e volume residual. • Geralmente é indicada nas seguintes pacientes: - Estágios Ia e Ib, caso sejam grau III (tumores indiferenciados); - Estágio Ic em diante (independente do grau de diferenciação). • A radioterapia não é utilizada na prática.
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