Prévia do material em texto
- -1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL III BALANÇO CRÍTICO SOBRE A VERTENTE DE INTENÇÃO DE RUPTURA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS PARA A FORMAÇÃO PROFISSIONAL - -2 Olá! Para compreendermos em que cenário se gesta e desenvolve a produção do Serviço Social brasileiro, é preciso recorrer à história do desenvolvimento sócio-econômico-político brasileiro, compreendendo suas transformações, e como elas refletem no modo de pensar e agir dos assistentes sociais. Abordaremos o período relativo ao desenvolvimento da industrialização e do capitalismo no Brasil, e como o Serviço Social vai ser forjado para atender as necessidades desse modelo de desenvolvimento. Finalmente, apresentaremos o cenário e as variáveis que permitiram o surgimento do Movimento de Reconceituação do Serviço Social brasileiro, com suas faces conservadoras e inovadoras, que resultaram na aproximação e posterior incorporação do referencial teórico marxista. Ao final desta aula, você será capaz de: 1. Um balanço crítico sobre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social, com ênfase na perspectiva de Intenção de Ruptura. 2. O debate atual sobre os desafios contemporâneo para a formação profissional. 1 Balanço critico sobre a vertente de intenção de ruptura As transformações societárias, reconfigurando as necessidades sociais dadas e criando novas (Heller, 1978), ao metamorfosear a produção e reprodução da sociedade, atingem a divisão sócio-técnica do trabalho, envolvendo modificações no referencial teórico, nas metodologias e nos objetos da produção de conhecimentos, nas propostas de formação profissional em sincronia com as demandas postas à profissão, na articulação e desarticulação do aparato legal e institucional que dá sustentação e legitimidade às práticas profissionais. As profissões não podem ser tomadas apenas como resultados dos processos sociais macroscópicos- devem também ser tratadas como um arsenal teórico-metodológico e instrumental que, condensando projetos políticos e ideológicos, articulam respostas aos mesmos processos sociais. O processo de ruptura com o Serviço Social tradicional no Brasil, foi articulado ao movimento de Reconceituação do Serviço Social Latino Americano, pois a crise do Serviço Social tradicional foi um fenômeno internacional em praticamente todos os países onde a profissão encontrou um nível de significativo de inserção na estrutura sócio- ocupacional, num contexto de crise de um determinado período O pano de fundo de tais núcleos é dado pelo exaurimento de um padrão de desenvolvimento capitalista- o das ondas longas de crescimento, na década de 60. - -3 O tensionamento das estruturas sociais do mundo capitalista gestou um quadro favorável para a mobilização das classes sociais subalternas em defesa dos seus interesses imediatos. Registram-se amplos movimentos para direcionar as cargas de desaceleração do crescimento econômico, mediante as lutas dos trabalhadores e as táticas de reordenamento dos recursos das políticas sociais dos Estados burgueses. Em tais movimentos, o conteúdo das demandas econômicas entrecruza-se com demandas sociais e culturais: começam a emergir reivindicações diferenciadas por categorias específicas ( negros, mulheres, jovens), à ambiência social e natural ( a cidade, o equipamento coletivo, a defesa dos ecossistemas), a direitos emergentes ( ao lazer, à educação permanente, ao prazer), etc. Esses movimentos põem em questão a racionalidade do Estado burguês e suas instituições, e nas suas expressões mais radicais, negam a ordem burguesa e seu estilo de vida. Recolocam em pauta as ambivalências da cidadania fundada na propriedade e redimensionam a atividade política, multiplicando seus sujeitos e suas arenas. As instituições e organizações governamentais e o elenco de políticas do Welfare State, veem-se em xeque; seu universo ideal, centralizado nos valores da integração na sociedade aberta, sua aparente assepsia política formalizada tecnicamente é recusada, sua eficácia enquanto intervenção estatal é negada. Segundo Netto, é no marco da Reconceituação que pela primeira vez, de forma aberta, o Serviço Social vai recorrer à tradição marxista, valendo-se de manuais de divulgação de qualidade muito discutível, por vezes com versões deformadas pelo neopositivismo. A partir daí, mesmo com alguns equívocos, foi possível uma aproximação com a tradição marxista, que marca um dado da modernidade profissional. O ecletismo das elaborações reconceitualizadas é mais um dos traços presentes em autores que assumiram um certo protagonismo naquele período, tais como Leila Lima, 1975. Três circunstâncias marcam o caráter eclético das formulações propostas: A recusa à importação de teorias, como resposta num primeiro momento, ao hegemonismo do Serviço Social norte-americano, levou a uma postura de relativização da universalidade teórica. O confucionismo ideológico que procurou sintetizar as inquietudes da esquerda cristã e as novas gerações revolucionárias não ortodoxas e não tradicionais sobre a base teórica do marxismo mais dogmático. O reducionismo próprio ao ativismo político, que obscureceu as fronteiras entre a profissão e o militantismo, com a consequente minimização da função da teoria. 1.1 Desafios contemporâneos para a formação profissional As transformações societárias, reconfiguram as necessidades sociais existentes e criam novas necessidades, que repercutem nos meios de produção e reprodução da sociedade, e na divisão sócio-técnica do trabalho, - -4 envolvendo modificações em todos os seus níveis (parâmetros de conhecimento, modalidades de formação e de práticas, sistemas institucional-organizacionais, etc). No mundo contemporâneo as profissões são marcadas por diversidade de concepções, tensões e confrontos internos. Elas não podem ser tomadas apenas como resultado dos processos sociais macrossociais, devem também ser tratadas cada qual como corpus teórico e práticos que, condensando projetos sociais, articulam respostas aos processos sociais. 1.2 Transformações societárias no capitalismo contemporâneo Em 1974-1975 o mundo enfrenta a primeira recessão generalizada da economia capitalista internacional, desde a II Guerra Mundial. Chegava ao fim o padrão de crescimento das três décadas de expansão do capitalismo monopolista, baseado no padrão de acumulação “fordista-keynesiano”, e no pacto de classes expresso no Welfare State . Este novo padrão que Mandel caracterizou como “capitalismo tardio”, baseado num regime de acumulação flexível. A “flexibilização” provocou um aumento excessivo das atividades de natureza financeira (resultado da superacumulação e da especulação desenfreada), cada vez mais independentes de controles dos governos nacionais. Também foi fortemente impactado pelas novas tecnologias da comunicação, que aumentaram extraordinariamente a mobilidade e agilidade nas informações e tomadas de decisões. Simultaneamente, a produção segmentada, horizontalizada e descentralizada, a fabricação de produtos assume novas feições, sendo os “parques industriais” descentralizados, a produção fracionada, a mão de obra fragmentada, terceirizada, propiciam uma “mobilidade” ou “desterritorialização” dos polos produtivos, que se articulam em redes internacionais, em conglomerados supranacionais, passíveis de rápida reconversão. - -5 A globalização econômica vincula-se a essa financeirização do capitalismo ( Harvey, 1993; Mattoso, 1995), e à articulação supranacional das unidades produtivas, que vem implicando uma ampla desregulamentação da economia mundial. A flexibilização vem sendo favorecida pela revolução tecnológica, que desde os anos 50 afeta as forças produtivas: é a substituição da eletromecânica pela eletrônica. Uma crescente informatização do processo de automação, o desenvolvimento de novos materiais alteram profundamente o processo produtivo, produzindo modificações no processo de trabalho. O “capitalismo tardio”, transitando para um modelode acumulação flexível, reestrutura radicalmente o mercado de trabalho, altera a relação entre incluídos e excluídos, introduz novas modalidades de contratação, cria novas estratificações e novas discriminações entre os que trabalham (de sexo, idade, etnia). No nível social, o que se verifica é que a estrutura de classes vem sofrendo profundas modificações, com o desaparecimento de antigas classes sociais, como é o caso do campesinato. A classe operária que fixou sua identidade classista (sindical e política) transforma-se rapidamente, afetada por diferenciações, perde sua grandeza estatística. O que se registra são mutações, que Antunes(1995) chama de metamorfoses no mundo do trabalho. O proletariado perde a centralidade objetiva que exercia na fase anterior do capitalismo. 2 O serviço social no Brasil, na entrada dos anos 90 Na entrada da década de 90 o Serviço Social se apresenta como uma profissão relativamente consolidada, com cerca de 70 unidades de ensino superior, com um alto grau de associação e com um organismo de pesquisa – (CEDEPSS), com um dinamismo naCentro de Documentação e Pesquisa em Serviço Social e Políticas Sociais área de pesquisas e publicações. Verifica-se a presença cada vez maior de profissionais brasileiros em eventos acadêmicos nacionais e no exterior, aumento dos cursos de pós-graduação e da presença de estrangeiros neles. O Serviço Social abriu-se Saiba mais Clique no link e leia o texto “A pós-modernidade“: http://estaciodocente.webaula.com.br /cursos/gon187/docs/04FH_aula10_doc02.pdf - -6 apara amplo diálogo interdisciplinar, promovendo a interlocução com importantes teóricos e intelectuais do país e do exterior. Registra-se também ganhos na representatividade acadêmica e organizacional que demonstram um amadurecimento da profissão. Os avanços e o acúmulo realizados no Serviço Social foram enormes, porém ainda são débeis. A efetiva existência de um mercado nacional de trabalho crescentemente diferenciado em todos os níveis, tem propiciado experiências inovadoras e fecundas. Na virada da década de 80 para a 90, as bases dessa dominância teórico- cultural começam a ser deslocadas, devido ao impacto, nas esquerdas, do colapso do socialismo real, a ofensiva neoliberal reconversão de numerosos intelectuais ao ideário da ordem, os giros do processo político brasileiro. - -7 2.1 Perspectivas imediatas, mercado de trabalho e tendências de desenvolvimento A cultura profissional - princípios, valores, objetivos, concepções teóricas, instrumentos operativos, joga um papel importante nesse campo de lutas, em que diferentes segmentos da categoria expressam sua diferenciação ideológica e política, e procuram elaborar uma direção social estratégica para sua profissão. Ao longo da década de 80 e na entrada dos anos 90, o rompimento com o conservadorismo engendrou uma cultura profissional repleta de diversidades, mas que acabou por gestar e formular uma direção social estratégica, explicitada no Código de Ética Profissional que entra em vigência em março de 1993, tendo como valor central a liberdade, e tem como princípios fundamentais a democracia e o pluralismo, posicionando-se em favor da equidade e justiça social, da construção de uma nova ordem social, sem dominação de classe, etnia e gênero. ( CFAS, 1993:11). CONCLUSÃO Nesta aula, você: • Um balanço crítico sobre o Movimento de Reconceituação do Serviço Social, com ênfase na perspectiva de Intenção de Ruptura, e sua contribuição fundamental para a apropriação pelo Serviço Social do referencial teórico baseado na Teoria Social Crítica de Marx. • Os desafios contemporâneos para a formação e para a prática profissional, frente às transformações societárias e no país. Saiba mais Para mais informações sobre esse assunto, clique no link e leia o texto: http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula10_doc03.pdf E Assista o DVD O Congresso da Virada e os 30 anos da revista Serviço Social e Sociedade. São Paulo: Cortez, out. dez; 2009 • • http://estaciodocente.webaula.com.br/cursos/gon187/docs/04FH_aula10_doc03.pdf Olá! 1 Balanço critico sobre a vertente de intenção de ruptura 1.1 Desafios contemporâneos para a formação profissional 1.2 Transformações societárias no capitalismo contemporâneo 2 O serviço social no Brasil, na entrada dos anos 90 2.1 Perspectivas imediatas, mercado de trabalho e tendências de desenvolvimento CONCLUSÃO