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Fisiologia 3 Aula 2 – Eletrofisiologia Cardíaca e o Sistema Condutor I Divisão do Sistema Circulatório Quando falamos do Sistema Circulatório é importante lembrar que o coração também é participante, sendo responsável pela força propulsora do sangue para os vasos sanguíneos, sendo, junto a esses, constituintes do Sistema Cardiovascular. Já a outra parte do Sistema Circulatório se dá pelo Sistema Linfático, composto por órgãos linfáticos e vasos linfáticos. Função do Sistema Cardiovascular Esse sistema possui várias funções em nosso organismo: • Responsável pelo transporte de gases no organismo, através da circulação de sangue e hemácias • Regulação da temperatura através de vasoconstrição e vasodilatação • Transporte de nutrientes através da corrente sanguínea para tecidos específicos • Transporte de resíduos metabólicos • Transporte de hormônios que atuarão em glândulas ou tecidos específicos. Portanto, observamos que a propulsão do sangue dado pelo sistema cardiovascular é importante para a manutenção da homeostasia corporal, garantindo seu funcionamento adequado. Coração O coração está localizado em uma região importante chamada de mediastino, sendo um órgão de forma triangular onde sua base está voltada para cima e seu ápice para baixo. Na base cardíaco encontramos os vasos conhecidos como vasos da base, importantes para a circulação tanto sistêmica quanto pulmonar. Também encontramos na base do coração os átrios direito e esquerdo. O coração também é dividido em faces, sendo que a face anterior é conhecida como esternocostal e possui contato com as regiões dos ossos esterno e das costelas. Sua face ínfero-posterior é conhecida como face diafragmática, sendo nessa região que encontramos os ventrículos direito e esquerdo. Temos também a face pulmonar direita e a face pulmonar esquerda, fazendo o contato lateral do coração com os pulmões. Sabemos também que o coração é dividido em câmaras, sendo quatro câmaras cardíacas, das quais 2 são atriais e 2 ventriculares. Funcionalmente, costumamos falar em dois corações, sendo o direito e esquerdo, fazendo referencia às câmaras cardíacas e suas respectivas funcionalidades, sabendo que o coração esquerdo é responsável pela circulação sistêmica e a direita pela circulação pulmonar. Envoltórios do Coração Em relação aos envoltórios temos em sua porção mais externa o pericárdio, um saco membranáceo de paredes duplas que atua mantendo o coração em seu devido lugar no mediastino e também favorecendo o trabalho cardíaco uma vez que possui dois folhetos, um visceral e um parietal, sendo o seu deslizamento responsável pelo favorecimento. Uma vez que o deslizamento entre esses folhetos não ocorre podem aparecer algumas doenças, como a pericardite, uma inflamação do saco membranáceo, que diminui a função cardíaca de contração. O epicárdio é onde encontramos os vasos sanguíneos responsáveis por irrigar e levar nutrientes para o miocárdio, sendo formado por tecido conjuntivo frouxo e coberto por uma membrana serosa. Na região medial do coração encontramos o músculo cardíaco propriamente dito, chamado de miocárdio. Na região mais interna do coração encontramos o endocárdio, que reveste internamente o miocárdio e é formado por tecido conjuntivo e células pavimentosas. Suas dobras formam as valvas cardíacas. O coração como bomba Para que o coração possa atuar como uma bomba ejetora de sangue é necessário algumas câmaras e valvas que direcionem o fluxo, além de paredes extremamente compressíveis. Divisão interna Para que existam essas câmaras, o coração é dividido internamente por meio de septos, sendo possível encontrar: • Septo interatrial, dividindo os átrios • Septo interventricular, dividindo os ventrículos • Septo atrioventricular, ficando entre átrios e ventrículos e formado parte por uma parede muscular e parte pelas valvas cardíacas Nessa figura é interessante notar a espessura da musculatura cardíaca do ventrículo esquerdo em comparação com o ventrículo direito. Esse maior volume do ventrículo esquerdo se dá devido a sua função de bombeamento por um sistema de alta pressão, sendo que esse ventrículo é muito mais exigido. Sendo assim, temos um sistema de baixa pressão no bombeamento do coração direito e um sistema de alta pressão no bombeamento do coração esquerdo. ➢ Átrio direito Na imagem podemos observar a cavidade atrial direita exposta, sendo possível identificar a valva atrioventricular direita, também chamada de tricúspide, além dos músculos pectíneos, que se contrai durante a contração atrial devido aos potenciais de ação gerados nessas estruturas. Encontramos também nesse átrio a aurícula direita e, próximo a ela e ao septo interatrial encontramos o nó sinoatrial, que são os geradores de potencial de ação cardíaco. ➢ Ventrículo direito No ventrículo direito podemos observar a musculatura papilar, onde as cordas tendíneas são ancoradas e impedindo, assim, o abaulamento da valva atrioventricular. É possível observar também o septo interventricular as trabéculas cárneas, que são as musculaturas do ventrículo direito. ➢ Átrio esquerdo No átrio esquerdo encontramos o óstio das veias pulmonares, que recebe o sangue oxigenado proveniente dos pulmões por meio das veias pulmonares. Os átrios são responsáveis por bombear parte do sangue para os ventrículos, sendo que a maioria passa diretamente para os ventrículos por ação da gravidade. Podemos observar também a presença da aurícula esquerda, a válvula atrioventricular esquerda, a válvula do forame oval e o septo interatrial. ➢ Ventrículo esquerdo Na câmara ventricular esquerda é possível observar a abertura do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo, chamado de óstio atrioventricular esquerdo e onde está presente a valva atrioventricular esquerda. Encontramos também o óstio da aorta, onde encontramos a valva semilunar aórtica; assim como a musculatura papilar que ancora as cordas tendíneas da valva bicúspide, o septo interventricular e as trabéculas cárneas, que fazem parte do septo interventricular. ➢ Sistema Valvular Quando falamos em valva, na verdade estamos falando em um conjunto de válvulas. As válvulas são formadas por tecido fibroso recoberto de endocárdio/endotélio. Essas válvulas impedem que ocorra o refluxo do sangue durante a contração ventricular para os átrios e também impede o refluxo de sangue durante a ejeção dos ventrículos para o sistema pulmonar e circulação sistêmica. As valvas atrioventriculares estão localizadas entre os átrios e ventrículos, sendo pregas do endocárdio com estrutura interna de tecido conjuntivo fibroso. Estão ancoradas nos músculos papilares do miocárdio por pregas tendíneas. Durante o relaxamento cardíaco (diástole) encontramos essas valvas atrioventriculares abertas, justamente para receber o sangue proveniente da circulação sistêmica ou pulmonar no interior das cavidades ventriculares. Aproximadamente 80% do sangue flui diretamente dos átrios para os ventrículos, sendo que somente 20% são bombeados pelos átrios para os ventrículos. As valvas semilunares são valvas arteriais e impedem o retorno do sangue para os ventrículos. São localizadas no tronco pulmonar e na saída da aorta. Durante a contração ventricular o sangue é expulso dessas cavidades para os vasos, sendo que a pressão nos ventrículos fica maior, fazendo com que o sangue passe pelas valvas semilunares, que, também por diferença de pressão, impedem que o sangue volte para os ventrículos. Bombeamento do sangue Durante a diástole, o sangue venoso chega ao átrio e ventrículo direito pelas veias cavas e no átrio e ventrículo esquerdo chega o sangue arterial proveniente dos pulmões por meio das veias pulmonares. Durante a sístole atrial, os átrios se contraem e finalizam o enchimento ventricular (bomba de escorva). Durante asístole ventricular, o sangue é impulsionado para os vasos, como a aorta e as artérias pulmonares. Sendo assim, durante a diástole ventricular temos as valvas atrioventriculares abertas para receber o sangue para as cavidades ventriculares e as valvas semilunares fechadas. Já na sístole ventricular há um fechamento das valvas atrioventriculares e abertura das valvas semilunares, ejetando o sangue para a circulação pulmonar e sistêmica. É no momento de diástole ventricular também que o músculo cardíaco recebe seu aporte sanguíneo por meio das coronárias, visto que a musculatura está relaxada, fazendo com que o sangue passe passivamente para as coronárias. No período de sístole há a compressão das coronárias, impedindo a fluência de sangue pelas coronárias. É na fase de sístole ventricular que temos a pressão sistólica, causada pela força de ejeção dos ventrículos para os vasos sanguíneos. Na diástole, temos a pressão diastólica e reflete a pressão mínima presente na nossa circulação quando há o relaxamento ventricular. Complexo estimulante cardíaco Regulação autonômica Vimos anteriormente que o coração sofre influencias da regulação autonômica tanto pelo simpático quanto parassimpático, exercendo ações distintas no funcionamento cardíaco e circulatório. O sistema simpático é responsável por aumentar a frequência cardíaca e a força de contração cardíaca, já o sistema parassimpático é responsável por diminuir a frequência cardíaca e diminuir parcialmente a força da contração cardíaca. Uma diferença anatômica que podemos citar nesses sistemas é que o simpático é responsável pela inervação dos músculos ventriculares, parcialmente dos átrios e dos nós sinoatriais e atrioventricular. Já o sistema parassimpático possui uma influencia muito grande nos nós sinoatrial e atrioventricular e inervando parcialmente a musculatura cardíaca. Quando falamos na atuação do simpático, temos que esse sistema é o responsável por levar os batimentos médios cardíacos de aproximadamente 70 bpm até cerca de 200 bpm, enquanto que o parassimpático é responsável por diminuir esses batimentos de 70 bpm até a parada. Além disso, temos que o simpático acarreta em um aumento da força de contração até o dobre da comum, enquanto que o parassimpático acarreta em uma diminuição de contração de até 30%. Temos a inervação parassimpática principalmente nas regiões atriais e nos nodos atrioventricular e sinoatrial. Essa inervação parassimpática, principalmente na região atrial, evidencia que essa ação parassimpática não é tão importante quanto a ação do sistema simpático nesse mesmo músculo, já que no simpático temos uma inervação muito grande, tanto no átrio quanto no ventrículo. Ambos os sistemas podem regular o que chamamos de debito cardíaco, que é a frequência cardíaca X o volume sistólico, ou seja, o quanto de sangue está sendo bombeado em um minuto. Isso é dependente justamente do volume sistólico, que é a quantidade de sangue ejetado durante uma sístole ventricular, sendo multiplicado pelo número de batimentos que ocorreram em um minuto. O sistema simpático atua principalmente aumentando o débito cardíaco por meio do aumento da frequência cardíaca; pode haver um aumento da força de contração acarretando em um aumento do volume sistólico, porém, quando se aumenta a frequência cardíaca se diminui o tempo de preenchimento cardíaco, diminuindo o volume sistólico. O sistema parassimpático causa um tempo de relaxamento maior, uma vez que diminui a frequência cardíaca, podendo atuar no aumento do débito cardíaco pelo aumento do volume sistólico. Claro que existe um balanço entre os dois sistemas, não podendo haver uma regulação autonômica somente com o sistema parassimpático ou simpático. O que ocorre é um balanço, hora com a prevalência do sistema simpático e hora com o predomínio do sistema parassimpático. Por exemplo, durante uma atividade física não há vantagens em um predomínio da atuação do sistema parassimpático, uma vez que é muito importante uma maior frequência cardíaca e da pressão arterial para que a necessidade metabólica seja mantida; assim como não seria interessante o predomínio de um sistema simpático durante uma ação de descanso. Com esse balanço, temos a manutenção e o funcionamento da homeostasia corporal. Complexo estimulante do coração A contração do musculo cardíaco irá acontecer de forma rítmica e coordenada. Quando falamos em contração cardíaca, o movimento da contração das câmaras cardíacas se assemelha a uma torção de um pano e é justamente esse movimento de torção que tem como resultante um fluxo sanguíneo direcionado para os grandes vasos, tanto na aorta como no tronco pulmonar, via ação da contração ventricular. Essa contração cardíaca é dependente de alguns impulsos elétricos que são gerados espontaneamente pela região conhecida como nó sinoatrial. Esse nó sinoatrial é o responsável pela geração de potenciais de ação cardíaco. Claro que outras regiões e estruturas cardíacas, como o nó atrioventricular, também são responsáveis por gerar esses potenciais de ação, porém, quando falamos de células marca-passos, a frequência de disparo efetuado pelo nó sinoatrial é muito maior do que a gerada pelo restante das estruturas condutoras de potencial, que chamamos de complexo estimulante. Aprofundando um pouco nesse complexo estimulante, temos a presença do nó sinoatrial próximo à desembocadura no átrio direito, sendo o gerador dos potenciais de ação cardíaco e, por meio de ramos internodais, leva todo o potencial de ação para o musculo atrial direito e para o musculo atrial esquerdo por meio do feixe de Beckman. Por meio das fibras internodais, esse PA chega também no nó atrioventricular e, a partir dele, temos o feixe de His, que é o fascículo atrioventricular. Esse feixe de Hiss, por sua vez, irá se dividir em dois ramos, esquerdo e direito, que irão se subdividir em pequenos ramos, chamados de ramos subendocárdicos ou fibras de Purkinje, inervando os músculos ventriculares. Existe uma pequena diminuição na velocidade de propagação do potencial de ação ao chegar no nó atrioventricular e nos processos seguintes. Todas as células presentes nesse complexo estimulante cardíaco possuem a capacidade de se autodespolarizar, sendo que se retirarmos a ação da divisão simpática e parassimpática do coração haverá permanência da contração e bombeamento do coração gerado por células do nó sinoatrial. Essas células do complexo estimulante do coração sofrem ação do simpático e parassimpático, sendo que o simpático aumenta a frequência de disparos das células do nó sinoatrial e o parassimpático diminuindo esses disparos. Ritmicidade cardíaca e seus potenciais de ação É bastante comum encontrarmos em alguns livros a afirmação de que as células excitáveis, em geral, possuem o citoplasma eletricamente negativo em comparação com o meio extracelular. Isso acontece de fato, podemos observar em experimentos utilizando um microelétrodo de vidro que evidenciava uma medida de diferença de potencial elétrico através da membrana celular, que era conhecido como potencial de membrana, que é o potencial de membrana em repouso. Nesse tipo de experimento foi possível observar que o lado de fora da célula, que era usado como referência, tinha como referência um 0, como se as cargas que estavam no extracelular se anulasses, e o potencial de membrana negativo. Quando estamos falando das células cardíacas, tanto as atriais quanto as ventriculares, existe também um valor negativo no interior dessas células de aproximadamente -80 mV, ou seja, o potencial de membrana em repouso que encontramos nos cardiomiócitos também é entorno de -80 mV. Esse potencial de membrana em repouso negativo vai ser determinado por dois fatores: • Existência de gradientes químicos gerado por meio das membranas, ou seja, as concentrações iônicas diferentes. • Presença de uma membranaque é seletiva a determinado íon, sendo que nos cardiomiócitos existe seletividade ao cálcio, ao sódio, ao potássio, existem canais de cálcio diferentes no cardiomiócito que não existem em células estriadas esqueléticas, etc. Sendo justamente essa seletividade que favorecerá os diferentes tipos de potencial de ação em sua amplitude e tempo. Existe também o que chamamos de padrão de despolarização diferentes, como podemos observar na imagem, em que uns são rápidos e outros são lentos. Nas figuras abaixo também podemos observar os padrões de despolarização e potenciais de ação diferentes. Sendo que o padrão da musculatura cardíaca se dá por uma despolarização rápida seguida por a formação de um platô e por fim a repolarização. No nodo sinoatrial temos um padrão de despolarização inicialmente lenta e posteriormente um pouco mais rápida, com um pico e a repolarização. A musculatura esquelética, por sua vez, se dá por uma despolarização rápida, seguida pelo pico e uma repolarização também rápida. Outro detalhe interessante é que, diferente dos potenciais de ação de axônios e de fibras musculares esqueléticas, os potenciais de ação da musculatura cardíaca possuem longa duração e são limitados a aproximadamente 500 ms. Consequentemente, esse tempo maior de potencial de ação limita a frequência cardíaca máxima, sendo de certa forma inteligente, uma vez que uma frequência cardíaca muito elevada irá reduzir o tempo de enchimento ventricular durante a diástole, comprometendo o funcionamento da bomba cardíaca, além de diminuir a irrigação muscular do próprio coração (ação das coronárias já descritas anteriormente). Músculo Cardíaco Antes de continuarmos falando sobre o potencial de ação da musculatura estriada cardíaca, dos nodos sinoatrial e atrioventricular e do complexo condutor como um todo, precisamos apontar algumas características da musculatura cardíaca que serão importantes para o entendimento da contração cardíaca e da geração do potencial de ação do músculo cardíaco e do nó sinoatrial. Encontramos a principio 3 tipos de músculos cardíacos, sendo que a musculatura atrial e ventricular possui contração similar a dos músculos esqueléticos, com duração muito maior. Além desses dois tipos, há as fibras especializadas excitatórias e condutoras, constituídas por nó sinoatrial, feixes internodais, feixes de Beckman, feixes de Hiss, os ramos direito e esquerdo e as fibras de Purkinje. Essas fibras especializadas, que também são musculatura cardíaca, contraem- se fracamente por conterem poucas fibras contráteis, mas apresentam descargas elétricas rítmicas automáticas, na forma de potenciais de ação, representando um sistema excitatório que controla os batimentos cardíacos. Essas fibras musculares cardíacas, principalmente as atriais e ventriculares, são formadas como se fossem treliça, dividindo-se e recombinando-se novamente. Também são formadas por miofibrilas típicas de contração, como actina e miosina, que são responsáveis pela ação de contração muscular. Na musculatura estriada cardíaca existem discos conhecidos como discos intercalados. Discos intercalados Esses discos intercalados são as Gap Junctions, junções comunicantes permeáveis que permitem a difusão quase livremente de íons. Esses discos intercalados são membranas celulares que separam as células miocárdicas, mas que se comunicam através das fusões das membranas. Lembrando sobre as Gap Junctions, temos algumas proteínas conhecidas como conexinas, que formam canais iônicos que permitem que os potenciais de ação se propaguem de uma célula a outra. O coração se contrai com dois sincícios, sendo que um é o atrial para o bombeamento do restante do sangue para os ventrículos. Essa contração atrial ocorre praticamente no mesmo momento, existindo a despolarização do nó sinoatrial, percorrendo os feixes internodais e o feixe de Beckman e garantindo uma contração simultânea. Essa rápida propagação dos potenciais de ação por essas células se dá pela presença de conexinas nessas células atriais. Sendo assim, temos que essas junções comunicantes permitem que os íons responsáveis pela despolarização das células atriais e ventriculares, sejam passadas de célula a célula de maneira rápida, pois não existe resistência para a passagem desses íons, permitindo uma despolarização maciça de átrios. Sincícios Cardíacos Quando pensamos em sincícios cardíacos, temos que o potencial de ação será trafegado primeiramente para as células atriais e depois para as células ventriculares. Isso acontece devido ao fato de que os potenciais de ação não atravessam o tecido fibroso das valvas atrioventriculares. Logo, os impulsos são conduzidos pelo feixe de Hiss ou feixe atrioventricular, acarretando em uma contração atrial antes da contração ventricular. Sendo assim, esses dois sincícios ocorrem em tempos diferentes, sendo que o sincício atrial ocorre antes da contração ventricular, seguindo esse ciclo. Velocidade de condução A velocidade de condução quando falamos do potencial de ação nas fibras atrial e ventriculares é muito rápida, estando em torno de 0,3 a 0,5 m/s. Ela é de 1/250 de fibras nervosas mais calibrosas e 1/10 nas fibras dos músculos esqueléticos. Fibras condutoras Quando fazemos referência às fibras condutoras, temos que essa velocidade de propagação é muito maior, sendo que a velocidade fica em torno de 1,5 a 4 m/s. Na imagem é possível observar quanto tempo leva para que o potencial de ação chegue em regiões específicas do coração. Observamos também que a partir dos feixes de Hiss esses potenciais de ação chegam nos ramos direito e esquerdo em um período de tempo mais longo, havendo um atraso entre a propagação do nó atrioventricular e os feixes de Hiss. Essa condução rápida entre as fibras condutoras ocorre justamente pela alta densidade de discos intercalares presentes em sua constituição, sendo em torno de 6x mais rápida que as fibras ventriculares e até 150x mais rápida que as fibras do nodo atrioventricular. Esse atraso da propagação entre o nó atrioventricular e os feixes de Hiss ocorre justamente pela diminuição do número de discos intercalares. Essa menor velocidade de propagação se estende do nó atrioventricular até a divisão em ramos direito e esquerdo. Nos ramos direito e esquerdo há a volta de uma alta densidade de discos intercalados, fazendo com que a propagação do potencial de ação se de forma muito rápida. O nó sinoatrial é responsável pela geração dos potenciais de ação no coração, permanecendo mesmo se retirarmos as influencias do sistema simpático e parassimpático. Porém, não é apenas o nó sinoatrial que é capaz de gerar os potenciais de ação, sendo que o nó atrioventricular, os feixes de Hiss e os ramos direito e esquerdo também podem ser responsáveis pela geração desses potenciais. O que ocorre é que o nó sinoatrial pega essa responsabilidade por possuir uma frequência de disparos maior do que das outras regiões estimulantes. Mas, caso ocorra uma perda de função do nó sinoatrial, outra região do coração assume essa responsabilidade, respeitando a ordem de maiores frequências de disparos de potencial. Entretanto, temos que essa frequência de disparos das outras regiões do coração são muito menores e possivelmente seria incompatível com a vida a dependência apenas desses. Potencial de ação no músculo cardíaco Pensando agora um pouco mais sobre as características do potencial de ação do músculo cardíaco, temos que ele possui uma amplitude em torno de 105 mV, saindo de um potencial de repouso de -85 mV e chega a um pico de aproximadamente +20 mv. Existe também, como observamos na figura, a formação de um platô que tem uma duração de aproximadamente 0,2 s, fazendo com que a contração seja 15x mais duradoura do que a do músculo estriado esquelético. Após esse platô temos um período de repolarização, assim como ocorre também na musculaturaestriada esquelética. Comparando o potencial de ação de músculos esqueléticos e músculos cardíacos temos que na musculatura estriada esquelética o potencial de ação é gerado quase que inteiramente pela abertura de canais de Na+, já o potencial de ação nos músculos cardíacos são gerados por dois tipos de canais, sendo os mesmos canais de sódio e canais de cálcio, que permanecem abertos por mais tempo. O cálcio que ativa a contração de músculos esqueléticos é proveniente do retículo sarcoplasmático, já o cálcio da contração do músculo cardíaco está presente no retículo sarcoplasmático cardíaco, porém, principalmente no túbulo T no meio extracelular. O que causa o potencial de ação prolongado e o platô? Temos que o platô, ou seja, a fase que prolonga o PA da musculatura estriada cardíaca e faz com que seja 15x mais duradoura do que a dos músculos estriados esqueléticos, é ocasionado por canais específicos de cálcio que irão se fechar após 0,2 a 0,3 segundos e, após se fechares, a permeabilidade da membrana irá aumentar muito ao potássio e teremos a repolarização. Organização histológica da célula muscular esquelética Iremos recordar agora algumas estruturas internas da célula muscular esquelética. Sabemos que a fibra muscular é a célula muscular alongada, sendo que encontramos nessas células o sarcolema, que é a membrana plasmática dessas células. Encontramos no interior desses sarcolemas o sarcoplasma, que é onde encontramos o núcleo, mitocôndrias e organelas das células, sendo semelhante ao citoplasma. Temos também o retículo sarcoplasmático da célula muscular estriada esquelética, que é responsável pelo armazenamento de cálcio, sendo que todas as vezes que ocorre um PA, o cálcio no interior desses retículos é liberado e agirá nas troponinas, acarretando ao final a contração muscular. Há ainda a presença de um importante estrutura chamada de Túbulos T, sendo invaginações do sarcoplasma em direção ao interior da célula, sendo os responsáveis de levar o potencial de ação para dentro das fibras musculares, estando e fino contato com o retículo sarcoplasmático e interagindo com ele para a liberação de cálcio. Temos as miofibrilas presentes nessas células também, formado por miofilamentos de actina e miosina que, através de seus deslizamentos, permitirão a contração muscular. Todas essas estruturas também estão presentes na musculatura estriada cardíaca. Iremos agora relembrar como que a ativação dessas células para a contração acontecia. Primeiramente, um potencial de ação era gerado em um neurônio motor localizado no corno ventral da medula espinal, trafegando pelo axônio neuronal até chegar no terminal da junção neuromuscular, onde haverá a liberação de um neurotransmissor que se ligará à um receptor, permitindo a abertura de canais iônicos de sódio e potássio, despolarizando a célula. Quando a acetilcolina promove a abertura dos canais iônicos permite que o potencial de ação trafegue para os dois lados da fibra, entrando nos túbulos T. Esses túbulos T carreiam o potencial para o interior da célula e sensibiliza o retículo sarcoplasmático, liberando seu cálcio intracelular e fazendo com que ocorra a contração muscular por meio de interações entre cálcio e miofilamentos. A contração muscular cardíaca é muito semelhante a tudo o que ocorre aí, porém, há alguns pontos específicos que modificam a contração cardíaca. Como ocorre a liberação de cálcio? Na musculatura esquelética os Túbulos T são menos desenvolvidos do que na musculatura cardíaca. Na musculatura cardíaca os Túbulos T tem um diâmetro 5x maior, isso representa um volume 25x maior do que na musculatura cardíaca. Outro ponto interessante é que no interior dos Túbulos T da musculatura cardíaca há a presença de uma série de mucopolissacarídeos, que é carregado negativamente e atrai cargas positivas para ele, principalmente íons cálcio, auxiliando na transmissão do PA. Quando falamos em contração muscular esquelética, temos que o cálcio é totalmente proveniente do retículo sarcoplasmático, que é mais desenvolvido do que no músculo cardíaco. Já na musculatura cardíaca, o retículo sarcoplasmático é menos desenvolvido, logo, o cálcio é proveniente tanto do retículo sarcoplasmático quanto dos Túbulos T. É por isso que alterações na concentração de cálcio extracelular podem significar algum defeito de ação cardíaca.
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