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Do nacional-desenvolvimentismo a Política Externa Independente (Paulo G. Fagundes Vizentini)

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VIZENTINI, Paulo G. Fagundes. Do nacional-desenvolvimentismo a Política Externa 
Independente. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (Org’s). 
O Brasil Republicano: o tempo da experiência democrática – da democratização de 
1945 ao golpe civil-militar de 1964. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. 
pp. 195-216. 
 
“O período de quase duas décadas compreendido entre o fim do Estado Novo, em 1945, 
e o golpe militar de 1954 se caracterizou pela disputa (permeada de avanços e recuos) 
entre dois projetos, os nacionalistas e os ‘entreguistas’. O primeiro grupo, inspirado na 
CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina da ONU) e catalisado pelo ISEB 
(Instituto Superior de Estudos Brasileiros), buscava certa margem de autonomia frente 
aos EUA para impulsionar o projeto de desenvolvimento industrial, calcado em certa 
perspectiva de reforma social” (p. 197). 
“O segundo, apoiando-se nas fronteiras ideológicas definidas pela Escola Superior de 
Guerra (ESG) e no liberalismo econômico, destacava as vantagens comparativas da 
agricultura e a agenda de segurança defendida pelos EUA na Guerra Fria. Inimigos dos 
nacionalistas, foram por eles caricaturizados como ‘entreguistas’ (porque desejavam 
‘entregar’ o país aos yankees). Neste contexto, a tentativa de autonomizar a ação 
internacional do Brasil acabou sendo percebida por Washington como algo inaceitável, 
especialmente após a Revolução Cubana” (p. 197). 
[...] 
“Em outubro de 1947 o Brasil rompeu relações diplomáticas com a União Soviética a 
partir de um incidente sem maior importância. Na verdade, essa ruptura fazia parte de 
uma política mais ampla, e fora longamente preparada pelo governo. Nesse contexto, o 
Partido Comunista foi novamente colocado na ilegalidade no mesmo ano, paralelamente 
à uma significativa repressão ao movimento operário. Essa política anticomunista de 
Dutra não se devia apenas às concepções ideológicas e demandas sociais do Governo. 
Seu caráter um tanto exagerado vinculava-se à necessidade de evidenciar perante os EUA 
o engajamento do país na luta contra a subversão esquerdista” (p. 200). 
[...] 
“Entre 1951 e 1964, a política externa brasileira apresentou características novas, que a 
diferenciava das fases anteriores. Apesar das diferenças existentes entre o nacional-
desenvolvimento de Getúlio Vargas, o desenvolvimentismo-associado de Juscelino 
Kubitschek de Oliveira e a política externa Independente de Jânio Quadros e João 
Goulart, bem como das particularidades que marcaram o contexto histórico de cada uma, 
esses projetos possuem acentuados traços em comum e apresentam uma continuidade. 
Ainda que caracterizada por certas ambiguidades e interrompida por um hiato após o 
suicídio de Vargas, a política externa desses três períodos apresenta um aprofundamento 
contínuo, que atinge sua forma superior com a Política Externa Independente (PEI)” (p. 
202). 
“Embora apresentada inicialmente apenas como uma tentativa de realizar uma diplomacia 
mais autônoma face aos EUA após as decepções geradas (p. 202) durante o governo Dutra 
(quando se esperava uma relação privilegiada com esse país como decorrência da 
colaboração durante a Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria), essa linha 
política possuía raízes mais distantes. Entre 1930 e 1945 Vargas já havia procurado 
2 
 
transformar a política exterior num instrumento de apoio ao desenvolvimento de 
economia” (p. 203). 
[...] 
“Desde o início de seu breve governo, Quadros manteve um discurso crítico em relação 
aos EUA. Aliás, antes já se encontrara com Fidel Castro e Nikita Krushev. O embaixador 
americano Berle Jr. foi tratado com descortesia pelo presidente, que também se negou a 
romper com Cuba. Reformou o Itamaraty e reatou relações diplomáticas com vários 
países do leste europeu, iniciando igualmente tratativas para o reatamento com a URSS. 
Com relação a um antigo aliado conservador, Portugal de Salazar, Quadros buscou certo 
distanciamento, e passou a apoiar ostensivamente as independências de Angola e 
Moçambique, ao mesmo tempo em que criticava o apartheid sul-africano. Quando a CIA 
patrocinou a invasão anticastrista da Baía dos Porcos, Quadros assinou um acordo de 
cooperação com a Argentina de Frondizi, criando uma frente de resistência” (p. 208). 
“Ao mesmo tempo que sua diplomacia provocava a Casa Branca, sua política econômica 
alinhava-se com o FMI. Muitos analistas consideram que a política externa era 
compensação progressista ao conservadorismo interno (político e econômico). Contudo, 
a questão era que a ausência de reformas sociais privava a nova base produtiva de um 
mercado interno de porte correspondente, além da falta de capitalização – problemas 
agravados durante o governo JK. Assim, o capitalismo instalado em território brasileiro 
necessitava de mercados externos e de investimentos estrangeiros, obrigando o país a 
buscar novas parcerias no Primeiro Mundo, mais igualmente a abrir frentes nos países 
socialistas e no nascente Terceiro Mundo. O desenvolvimento estaria bloqueado se as 
relações internacionais se limitassem a um hemisfério dominado pelos EUA” (p. 208). 
[...] 
“Mas o que foi, afinal, a PEI? Ela pode ser considerada como uma resposta da diplomacia 
brasileira às aceleradas transformações internacionais, em particular o surgimento de 
novos atores ou a modificação do caráter de alguns, cujas necessidades e anseios os 
posicionavam fora da política à atitude dos EUA com relação à América Latina, percebida 
como de ‘descaso’ até a Revolução Cubana (p. 210). Esse fenômeno caracterizava-se pela 
ausência de investimentos públicos para a área de infra-estrutura e de bens de capital. O 
“descaso” transformava-se em forte pressão política e econômica quando as nações 
latino-americanas tomavam qualquer atitude visando modificar, ainda que parcialmente, 
as relações de dependências em busca do desenvolvimento nacional” (p. 211). 
“Além disso, a Política Externa Independente constituiu uma estratégia coincidentemente 
utilizada para questionar o status quo vigente no mundo e negociar uma nova forma de 
inserção internacional do país ou, dito mais claramente, renegociar o perfil da 
dependência. Outro argumento invocado centra a atenção nas relações Brasil-Estados 
Unidos e sua crescente deterioração, entendendo a PEI como uma forma de reação 
nacionalista ao hegemonismo norte-americano” (p. 211).

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