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Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Patogênese bacteriana • Na patogênese bacteriana existem uma série de etapas que precisam ser cumpridas para que no final ocorra a infecção e o dano tecidual/doença. Figura 23.9, pág. 714, Microbiologia de Brock, 14 ed. • A primeira etapa é a transmissão ou exposição aos patógenos. • A segunda etapa da patogênese é a adesão, à pele ou à mucosa (depende da especificidade da bactéria). Cada microrganismos possui especificidades sobre o local no qual vão se aderir, já que precisam ser células com receptores específicos para eles. • A bactéria se adere ao ligante nesse tecido e invadem o epitélio (muito ou pouco, dependendo do nível de invasiva que seja). • Após a invasão, começa a infecção: as bactérias começam a colonizar o epitélio. Crescem, proliferam e produzem fatores de virulência – que vão dar uma maior capacidade de patogênese – e toxinas – caso ela seja do tipo que produz. • A partir da infecção, há a toxicidade – os efeitos das toxinas liberadas, locais ou sistêmicos e a invasividade – é o crescimento adicional no sítio original e em sítios distantes. • Isso tudo causará o dano tecidual – a doença, resultado da infecção + toxicidade + invasividade. Conceitos importantes: • Infecção é o crescimento de microrganismos que não estão normalmente presentes dentro do hospedeiro. • Hospedeiro é um organismo que abriga um patógeno. • Patógeno é outro organismo que vive sobre ou dentro do hospedeiro e provoca doença. • Doença é o dano ou lesão tecidual que prejudica as funções do hospedeiro. • Virulência: é a medida de patogenicidade de um microrganismo. É a capacidade relativa de um patógeno em provocar doenças. Figura 23.10, pág. 715, Microbiologia de Brock, 14 ed. O gráfico mostra a porcentagem de camundongos mortos e o número de células das bactérias injetadas. Comparam- se 2 espécies distintas. Para que haja 100% de morte, é necessário 100 bact da vermelha. Da azul, precisa 1000000 para ter o mesmo efeito. Isso significa que o vermelho tem mais virulência que o azul, pois menos células são necessárias. • Atenuação: diminuição ou perda da virulência de um patógeno. Quando os patógenos são mantidos em culturas laboratoriais, em vez de isolados a partir de animais doentes, sua virulência geralmente é diminuída ou totalmente perdida. Isso é importante pois muitas vacinas são compostas por vírus atenuados. - No meio de cultura é o ambiente ideal, então acaba perdendo os fatores de virulências pois não precisa infectar, já está em um meio ótimo para sua replicação. Adesão • Segunda etapa da patogênese bacteriana. • Capacidade de se aderir à pele ou à mucosa. Mecanismos de patogenicidade bacteriana Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • A adesão ocorre por interações específicas entre moléculas do patógeno e moléculas presentes nos tecidos do hospedeiro. • A adesão é mediada por adesinas, A adesina da bactéria interage com o receptor da célula hospedeira – célula específica na qual ela se liga. Pode haver duas formas de interação: A ligação lectina, com carboidrato e a ligação proteína. • Existem dois tipos de adesinas, as chamadas fimbriais – são as fímbrias, que algumas bactérias têm e afimbriais. Adesinas fimbriais • Adesão por meio das fimbrias. Elas são estruturas proteicas da superfície da célula bacteriana. Figura 23.14, pág. 717, Microbiologia de Brock, 14 ed. Figura 23.12, pág. 716, Microbiologia de Brock, 14 ed. • São projeções para fora da célula. • O pili também pode ser uma adesina. • As fimbrias vão fazer a ligação às glicoproteínas da superfície da célula hospedeira, iniciando o processo de aderência. • Ex: fímbrias do tipo I de bactérias entéricas são distribuídas uniformemente sobre a superfície das células. • Os flagelos – para as bactérias que os possuem, também podem aumentar a adesão. Adesinas afimbriais • São estruturas da superfície bacteriana que vão exercer a função de adesão: Figura 23.12, pág. 716, Microbiologia de Brock, 14 ed • A cápsula é um envoltório polimérico, uma camada densa e bem definida. As bactérias que produzem a cápsula a utilizam para adesão. • A camada limosa também é importante na adesão. Ela é uma rede frouxa de fibras poliméricas. • As bactérias gram-negativas usam as proteínas da membrana externa como adesinas também. • Proteínas autotransportadoras; • LPS – presente nas gram-negativas. Biofilmes • Ele é uma comunidade complexa e estruturada de microrganismos envoltos por uma matriz extracelular de polissacarídeos, aderidos entre si a uma superfície ou interface. Figura 6.5, pág. 163, Microbiologia, Tortora, 10 ed. 3 bactérias vão se replicando, crescendo e produzindo a matriz extracelular de exopolissacarídeos, fixando na superfície e formando uma comunidade mais densa. Essa comunidade vai crescendo e maturando, até formar uma comunidade densa envolta na camada polissacarídea. • Essa formação representa um problema em relação a infecções hospitalares, pois aderem a cateteres, ventilador mecânico ou outros materiais hospitalares, podendo infectar os pacientes que os utilizam. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • Por causa da camada de proteção e matriz celular envolvendo é difícil que o antimicrobiano penetre. Para destruir o biofilme é complicado. Figura 23.4, pág. 716, Microbiologia de Brock, 14 ed. • A tabela possui os principais fatores de aderência utilizados para facilitar a ligação de patógenos microbianos aos tecidos do hospedeiro. Invasão • A bactéria pode ser mais ou menos invasiva. • Ela começa a crescer e a produzir fatores de virulência. • Estabelece a infecção com esses fatores e toxinas. • Essa infecção pode ser localizada – no local específico; bacteremia – no sangue; septicemia – infecção generalizada. Toxinas • Dentro da infecção, algumas toxinas começam a ser produzidas. Endotoxinas • Endotoxinas: São lipopolissacarídeos (LPS) tóxicos encontrados na maioria das bactérias Gram-negativas. São componentes estruturais da membrana externa Gram-negativa. • Não é uma toxina produzida pela bactéria, é uma substância presente na estrutura da bactéria. • Os ácidos lipoteicóideos das Gram-´positivas podem desempenhar um papel de toxina também. Composto por três partes: Polissacarídeo O – é imunogênico e pode mudar a conformação dos sacarídeos e traz vantagem de pode não ser mais reconhecido por anticorpos; A porção do cori; lipídeo A – é a parte tóxica do LPS. O lipídeo A é importante para a toxicidade; Polissacarídeo é imunogênico. Ambos são necessários para o efeito tóxico. Por serem estruturais, são liberados em quantidades tóxicas apenas quando as células sofrem lise. • As endotoxinas não vão provocar um efeito específico. Provocam vários efeitos fisiológicos: - A febre: há a estimulação das células hospedeiras a liberarem citocinas, proteínas solúveis secretadas pelos fagócitos e outras células, que atuam como pirogênios endógenos – proteínas que afetam o centro cerebral que controla a temperatura, provocando a febre. - As citocinas liberadas em resposta à exposição a endotoxina também podem causar diarreia, rápida diminuição no número de linfócitos e plaquetas, e inflamação generalizada. • O LPS pode provocar inúmeros efeitos em diferentes órgãos. - Altas doses de endotoxinas podem causar a morte por choque hemorrágico e necrose dos tecidos. Exotoxinas • Exotoxinas: são proteínas tóxicas liberadas pela célula do patógeno, à medida que ele cresce. Tabela 23.5, pág. 719, Microbiologia de Brock, 14 ed. Lista de bactérias/doenças/toxinas produzidas.Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez • Essas toxinas deslocam-se de um sítio de infecção e causam danos em regiões afastadas. São liberadaa pelo patógeno na circulação sanguínea. • Classificam-se entre 3 categorias em termos de mecanismos: as toxinas citolíticas, as toxinas AB e os superantígenos. • Um subconjunto das exotoxinas são as enterotoxinas – toxinas das bactérias que atuam no TGI. Citotoxinas ou toxinas citolíticas • São proteínas extracelulares solúveis, secretadas, produzidas por uma variedade de patógenos. Elas danificam a membrana citoplasmática do hospedeiro, provocando lise e morte celular. - As citolisinas atuam causando poros na membrana citoplasmática. Ex: alfa-toxina de estafilococos. Desestabilizam a membrana do hospedeiro. Figura 23.19, pág. 721, Microbiologia de Brock, 14 ed. - As fosfolipases são enzimas que vão degradar fosfolipídeos da membrana citoplasmática do hospedeiro. • Devido à atividade lítica destas toxinas, são mais facilmente observadas nos ensaios que utilizam eritrócitos – hemolisinas. Superantígenos • São ativas em superfícies celulares. • Os superantígenos causam uma exacerbação da resposta imunológica, estimulando um grande número de células da resposta imune, o que resulta em intensas reações inflamatórias e danos teciduais. • Essas exotoxinas causam uma resposta imunológica tão intensa que começa a causar danos ao hospedeiro. Exotoxinas tipo AB • Essas toxinas apresentam uma subunidade A e uma subunidade B. • Um dos tipos é a toxina que vai atuar inibindo a síntese proteica da célula hospedeira, levando a morte celular. Várias outras toxinas AB atuam dessa forma. Ex: toxina diftérica. Figura 15.5, pág. 436, Microbiologia, Tortora, 10 ed. - A porção B se liga ao receptor da célula hospedeira. A porção A é a toxina propriamente dita. - Quando ocorre a ligação, induz-se a endocitose da toxina pela célula hospedeira, formando o endossomo. Esse endossomo vai se acidificar e a porção A vai se desassociar da porção B. - A porção A – graças a seu pequeno tamanho e permeabilidade – sai do endossomo, vai para o citoplasma da célula hospedeira e nele vai inibir a síntese proteica, levando à morte celular. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Ex: A exotoxina A de Pseudomonas aeruginos, toxina Shiga e tipo Shiga produzida por E. Coli enteropatogênico atuam de forma similar. • Outro tipo de toxina do tipo AB é a que atua como neurotoxina. Ela bloqueia a liberação de neurotransmissores envolvidos no controle muscular. Ex: toxina botulínica. Figura 23.21, pág. 722, Microbiologia de Brock, 14 ed. - Após a estimulação dos nervos periféricos e cranianos, a acetil coa é normalmente liberada a partir das vesículas na porção neural da placa motora terminal. - A acetil coa vai se ligar a receptores musculares específicos induzindo a contração muscular. Isso é o normal. - Quando a pessoa tem a toxina botulínica: A toxina botulínica atua na placa motora terminal, bloqueando a liberação da acetilcolina, resultando na ausência de estimula. Esse neurotransmissor não será liberado e não ocorre a contração, permanecendo em um relaxamento irreversível – Isso leva à chamada paralisia flácida. - A toxina impede a contração muscular ao se ligar à placa motora final. Pode provocar morte por asfixia (resultado fatal do botulismo). • Outro tipo de toxina é a toxina tetânica (exemplo). Também atua como neurotoxina, gerando uma ação inversa à botulínica. Figura 23.22, pág. 723, Microbiologia de Brock, 14 ed. - Ela vai bloquear a liberação de neurotransmissores envolvidos no controle muscular. - O relaxamento muscular é normalmente induzido pela liberação de glicina, a partir dos interneurônios inibidores. - A glicina atua nos neurônios motores, bloqueando a excitação e a liberação da acetilcolina na placa motora terminal – quando quer relaxar o músculo. - Quando tem a toxina tetânica, essa toxina se liga ao interneurônio inibitório, impedindo a liberação da glicina, resultando na ausência de sinais para impedir a liberação de acetilcolina. Ocorrerá a liberação constante de acetilcolina, mantendo o músculo contraído constantemente. Esse efeito causa a contração irreversível dos músculos e a chamada paralisia espasmática. - Quando os músculos respiratórios são envolvidos, a contração prolongada pode resultar em morte por asfixia. • Outro tipo de toxina do tipo AB é a toxina colérica. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Figura 23.23, pág. 724, Microbiologia de Brock, 14 ed. - Lúmen do intestino delgado, sangue e células epiteliais do intestino com suas microvilosidades. - Em um movimento normal, o sódio do lúmen vai para o sangue sem o deslocamento de outros íons. - Se a pessoa for infectada por bactérias que produzem essa toxina: A porção B se liga ao receptor da célula hospedeira e a porção A entra na célula. - A toxina vai atuar ativando as adenilato ciclases – enzimas que converter o ATP em AMP cíclico. Esse AMPc é um mediador importante de diferentes sistemas reguladores nas células, incluindo o quilíbrio iônico. - Com a estimulação das adenilato ciclases haverá muita produção de AMPc, causando um desequilíbrio iônico. Isso vai resultar em um extravasamento de líquido do sangue para o lúmen intestinal, junto a íons. - Isso gera diarreia, desidratação e pode gerar risco à vida, com a depleção dos eletrólitos – perdidos com a saída de íons para o lúmen. - Alterações nas concentrações iônicas leva à secreção de grandes quantidades de água no lúmen intestinal. A taxa de perda de água no intestino delgado é maior do que sua possível absorção pelo intestino grosso, resultando em uma perda maciça global de fluidos e diarreia aquosa. Diferenças ente endotoxinas e exotoxinas Tabela 23.6, pág. 724, Microbiologia de Brock, 14 ed. Propriedades das endotoxinas e exotoxinas. Observa-se as diferenças entre elas. Enzimas hidrolíticas • Vão atuar degradando componentes da membrana e/ou desorganizando a estrutura do tecido. - Hialuronidases: atuam degradando polissacarídeo ácido hialurônico dos tecidos. - Colagenases: destroem redes de colágeno que sustentam os tecidos. - Proteases: degradam proteínas. - Nucleases: degradam ácidos nucléicos. - Enzimas fibrinolíticas: dissolvem os coágulos de fibrina, tornando possível a disseminação da invasão. Evasão • Outro mecanismo de virulência que algumas bactérias podem ter é a evasão. • Fugirem de ataques dos hospedeiros, por meio das evasinas. - Fagocitose: As bactérias que possuem cápsula, possuem na sua composição moléculas quimicamente idênticas ao humano. Ex: o s. Pyogenes possui ácido hialurônico idêntico ao humano. Com isso, o hospedeiro não vai reconhecer como corpo estranho. - Patogenicidade intracelular: a bactéria se adapta ao ambiente intracelular das células, evadindo o sistema imunológico e seus mecanismos para destruí-la. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez - Complemento: Possuir proteína inibidora do complemento, que atua inativando o complexo C5-C9 e anulando a função lítica do complexo. - Heterogeneidade antigênica: Possuir polissacarídeo O – composto de diferentes açúcares que mudam sua conformação, fazendo com que o sistema imune não reconheça essa nova forma – evadindo assim os anticorpos. Sistemas de secreção • Existem 6 sistemas de secreção descritos para bactérias – I ao VI. • Esses sistemas são canais que as bactérias podem produzir, que vão ligar desde o citoplasma da bactéria até o citoplasma do hospedeiro. Percebem-se os canais ligando desde a membranaplasmática até a membrana do hospedeiro, de forma que ela consiga passar proteínas de dentro da bactéria para a célula do hospedeiro. • Os sistemas de secreção dos tipos I, III, IV e VI – secretam proteínas através das membranas interna e externa em um único passo. Sistema de secreção tipo III • Ex: Bactéria S. C. possuem esse sistema. - Existe um canal que vai de dentro da bactéria para a célula hospedeira. O patógeno injeta uma proteína tir, que atua como um receptor na célula hospedeira – ela vai ser exposta na superfície da célula para ajudar na ligação da bactéria com a hospedeira – para que essa ligação seja mais forte. • Esse sistema secreta proteínas como tir e outras envolvidas em morte celular por apoptose, disfunção em mitocôndrias e diminuição da barreira defensiva da mucosa intestinal. Genética da virulência • Uma bactéria comensal – não infecciosa, pode adquirir genes de virulência e se tornar uma bactéria patógena, causando infecção e doença. • Ao mesmo tempo ela também pode perder esse gene de virulência e através de mutações pode formar-se um patógeno persistente, com infecção assintomática – não perdei toda a virulência, mas a maioria. • A genética da virulência varia, podendo adquirir ou perder esses genes. Figura 23.17, pág. 720, Microbiologia de Brock, 14 ed Ilustração de uma bactéria com todos os possíveis fatores de virulência que pode ter. Resumo desses fatores e suas funções. Fatores do hospedeiro • Os fatores de virulência não são os únicos a determinar o rumo de uma infecção bacteriana. • Os fatores do hospedeiro também são importantes, pois existe: - A resistência natural do hospedeiro. Universidade Federal do Rio de Janeiro Campus Macaé Enfermagem Angie Martinez Figura 23.25, pág. 726, Microbiologia de Brock, 14 ed - Sítio de infecção e especificidade tecidual: A bactéria é específica e tem que encontrar o receptor específico ao qual pode se ligar. - Barreiras físicas e químicas: na figura. • Outros fatores do hospedeiro que vão ser importantes para a infecção das bactérias: - Idade: bebês e idosos possuem mais risco, pela ineficiência do sistema imune. - Estresse e dieta. - Comprometimento do hospedeiro: por causa de doenças crônicas, tratamento quimioterápicos...