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@LSTUDYMED 1 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Estudo das TIPOS CELULARES • Os seres vivos podem ser classificados em eucariontes e procariontes quanto ao tipo de célula que possuem • São quimicamente similares - ambos contêm ácidos nu- cleicos, proteínas, lipídeos e carboidratos. • Usam os mesmos tipos de reações químicas para meta- bolizar o alimento, formar proteínas e armazenar energia Eucariontes • DNA é encontrado no núcleo das células, se- parado do citoplasma por uma membrana nuclear, em cromossomos múltiplos; • DNA é associado as proteínas cromossômi- cas histonas e às proteínas não histonas; • Possuem diversas organelas revestidas poi membranas, tais como mitocôndrias, reticulo endoplasmático, complexo de Golgi e lisosso- mos; • Paredes celulares, quando presentes, são quimicamente simples; • A divisão celular geralmente envolve mitose (exceção-leveduras, que ocorrem por brota- mento). Procariontes • DNA não envolvido por membrana e ele é um cromossomo geralmente no formato circular; • DNA não está associado a histonas; • Não possuem organelas revestidas por membrana; • Paredes celulares quase sempre certem o polissacarídeo complexo PEPTIDEOGLICANO • Normalmente se dividem por divisão binária FORMAS E ARRANJOS BACTERIANOS Os procariotos compõem um vasto grupo de organismos unicelulares muito pequenos, que incluem as bactérias e as arqueias. A maioria dos procariotos faz parte do grupo das bactérias. Elas podem ter formato de esfera (cocos, que significa frutificação), de bastão (bacilos, que significa bastonete ou bengala) e de espiral. Os cocos geralmente são redondos, mas podem ser ovais, alongados ou acha- tados em uma das extremidades. Quando os cocos se di- videm para se reproduzir, as células podem permanecer li- gadas umas às outras, formando sues arranjos. Os bacilos se dividem somente ao longo de seu eixo curto; portanto, existe um menor número de agrupamentos de bacilos que de cocos. As bactérias espirais têm uma ou mais curvatu- ras; elas nunca são retas. As bactérias que se assemelham a bastões curvos são chamadas de vibriões. Outras, cha- madas de espirilos, possuem forma helicoidal. Já outro grupo de espirais tem forma helicoidal e flexível; são cha- mados de espiroquetas Formas Arranjos Cocos Diplococos Estreptococos Tétrades Sarcinas Estafilococos Bacilos Bacilo único Diplobacilos Estreptobacilos Cocobacilos Espirais Vibrião Espirilo Espiroqueta Figura. Arranjos dos bacilos. @LSTUDYMED 2 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Figura. Arranjos dos cocos. Figura. Bactérias espirais. ESTRUTURA DA CÉLULA PROCARIÓTICA ESTRUTURAS INTERNAS À PAREDE CELULAR As células procarióticas geralmente não possuem organe- las envoltas por membranas. Todas as bactérias possuem citoplasma, ribossomos, uma membrana plasmática e um nucleoide. Quase todas as bactérias possuem parede ce- lular. Algumas estruturas desempenham papéis específi- cos, por exemplo: Plasmídeos • Pequenas moléculas de DNA de fita dupla, cir- culares – elementos genéticos extracromossô- micos e replicam-se independentemente do DNA cromossômico • Não são cruciais para a bactéria em condições normais; Podem ser adquiridos ou perdidos sem causar dano a célula; • Sob certas condições, eles são uma vantagem para as células. Os plasmídeos podem trans- portar genes de resistência aos antibióticos, to- lerância a metais tóxicos, produção de toxinas e síntese de enzimas; • Eles podem ser transferidos de uma bactéria para outra; • Codificam informações como genes de resis- tência a antibióticos ou para a produção de to- xinas. Pode haver troca de plasmídeos entre as bactérias • DNA plasmidial - manipulação genética em bi- otecnologia. Endosporos • Quando os nutrientes essenciais se esgotam, certas bactérias formam células especializa- das de "repouso". Ela fica dormente até que as condições tornem-se suficientes para que a bactéria possa se desenvolver • Exclusivos das bactérias, os endosporos são células desidratadas altamente duráveis, com paredes espessas e camadas adicionais • Quando liberados no ambiente (esporulação), podem sobreviver a temperaturas extremas, falta de água e exposição a muitas substâncias químicas tóxicas e radiação - Estrutura de Re- sistência. • Sua formação se dá pela falta de nutrientes es- senciais, tais como fontes de Nitrogênio e Car- bono Inclusões • Metacromáticos (volutina) reserva de fósforo; lipídeos, polissacarídicos; enxofre, ferro, gás, en- zimas; • Função de reserva, vão conter esses materiais para desenvolver algum processo bacteriano Ribossomo • Síntese Proteica • Procariotos 70s X Eucariotos 80s. • Local de ação de antibacterianos: o que afeta o 70s não afeta o 80s • O ribossomo 70s é composto por duas subuni- dades: maior (50s) e menor (30s) @LSTUDYMED 3 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias ESTRUTURAS EXTERNAS À PAREDE CELULAR Entre as possíveis estruturas externas da parede extracelu- lar dos procariotos estão o glicocálice, os flagelos, os fila- mentos axiais, as fímbrias e os pili. Glicocálice Função de adesão e de proteção das bacté- rias que formam o biofilme. Composto de po- lissacarídeo, peptídeo ou ambos. Se a subs- tância é organizada e está firmemente ade- rida à parede celular, o glicocálice é descrito como cápsula, importante componente dos biofilmes. Função do glicocálice: adesão, fator de virulência (evita que seja fagocitada e eli- minada), evitar a desidratação e inibir a saída de nutriente as células. Flagelos Algumas células procarióticas possuem fla- gelos, que são longos apêndices filamentosos que realizam a propulsão da bactéria. As bac- térias que não possuem flagelos são chama- das de atríquias (sem projeções). Um flagelo é constituído de três porções básicas: fila- mento, gancho e corpo basal. A longa região mais externa, o filamento, tem diâmetro cons- tante e contém a proteína globular flagelina. O filamento está aderido a um gancho ligeira- mente mais largo, consistindo em uma prote- ína diferente. A terceira porção do flagelo é o corpo basal, que ancora o flagelo à parede celular e à membrana plasmática. A fixação de um flagelo em uma bactéria gram-nega- tiva e gram-positiva são diferentes: • Gram-negativa: Corpos basais dos flagelos estão inseridos nas membranas externa e interna (plasmática). Corpos basais pre- sentes em maior quantidade pra sustentar os flagelos • Gram-positiva: Corpos basais inseridos apenas na membrana basal. Filamentos axiais As espiroquetas são um grupo de bactérias que possuem estrutura e motilidade exclusi- vas. As espiroquetas se movem através de fi- lamentos axiais, ou endoflagelos, feixes de fi- brilas que se originam nas extremidades das células, sob uma bainha externa, e fazem uma espiral em torno da célula Fímbrias Semelhantes a pelos (poucos a vários por cé- lula), mais curtos, retos e finos que os flagelos e que são usados mais para fixação que para mobilidade. Função de fixação e adesão da bactéria. Pili Maiores e em menor número que as fimbrias (1 a dois por célula), estando envolvidos na mobilidade celular e na transferência de DNA. (Pili sexual-conjugação) - Resistência a anti- microbianos. Comunicação entre as bacté- rias. Figura. Estruturas do flagelo procariótico: diferenças de fixação do flagelo em uma bactéria gram-negativa e gram-postiva @LSTUDYMED 4 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Figura. Os flagelos podem ser peritríquios (distribuídos ao longo de toda a célula; ou polares (em uma ou ambas as extremidades da célula). No caso de flagelos polares, eles podem ser monotríquios (um único flagelo em um polo da célula); lofotríquios (um tufode flagelos saindo de um polo da célula); ou anfitríquios (flagelos em ambos os polos da célula). Figura. Filamento axial: mobilidade Figura. Célula procariótica. ESTRUTURA DA PAREDE CELULAR A parede celular da célula bacteriana é uma estrutura complexa e semirrígida responsável pela forma da célula. Quase todos os procariotos possuem uma parede celular que circunda a frágil membrana plasmática (citoplasmá- tica) e a protege, bem como ao interior da célula, de alte- rações adversas no meio externo. FUNÇÃO: A principal função da parede celular é prevenir a ruptura das células bacterianas quando a pressão da água dentro da célula é maior que fora dela. Ela também ajuda a manter a forma de uma bactéria e serve como ponto de ancoragem para os flagelos. À medida que o volume de uma célula bacteriana aumenta, sua membrana plasmá- tica e parede celular se estendem, conforme necessário. Clinicamente, a parede celular é importante, pois contribui para a capacidade de algumas espécies causarem doen- ças e também por ser o local de ação de alguns antibióti- cos. Além disso, a composição química da parede celular é usada para diferenciar os principais tipos de bactérias. COMPOSIÇÃO: A parede celular bacteriana é composta de uma rede macromolecular, denominada peptideoglicano (também conhecida como mureína), que está presente isoladamente ou em combinação com outras substâncias. O peptideoglicano consiste em um dissacarídeo repetitivo ligado por polipeptídeos para formar uma rede que cir- cunda e protege toda a célula. • PORÇÃO DISSACARÍDICA: A porção dissacarídica é composta por monossacarídeos, denominados N-acetilglicosamina (NAG), e ácido N-acetilmurâmico (NAM) (de murus, sig- nificando parede), que ficam intercalados e estão relaci- onados à glicose. O que liga essas partes glicídicas é uma ligação peptídica (é a que sofre ação das penicilinas e outros antimicrobianos). • PORÇÃO PEPTÍDICA: A porção peptídica: a ligação proteica é composta por uma cadeia lateral de aminoácido e por uma ponte cruzada de aminoácido. A penicilina interfere com a interligação final das fileiras de peptideoglicanos através das pontes cruzadas peptídicas. Por isso, a pa- rede celular fica muito enfraquecida e a célula sofre lise, uma destruição causada pela ruptura da membrana plasmática e pela perda de citoplasma. @LSTUDYMED 5 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Figura. Composição das paredes celulares das Gram + e Gram - PAREDE CELULAR DE GRAM-POSITIVAS A coloração de GRAM se baseia na diferença de estrutura da parede. Na maioria das bactérias gram-positivas, a pa- rede celular consiste em muitas camadas de peptideogli- cano (maior influência da penicilina, que age na parede celular), formando uma estrutura rígida e espessa. Em con- trapartida, as paredes celulares de gram-negativas con- têm somente uma camada fina de peptideoglicano. O es- paço entre a parede celular e a membrana plasmática de uma bactéria gram-positiva é o espaço periplasmático. AMPLA CAMADA DE PEPTIDEOGLICANO: A parede tem ampla ca- mada de peptideoglicano. ÁCIDOS TEICOICO E LIPOTEICOICO: As parede celulares das Gram + contém os ácidos teicoico e lipoteicoico. Devido à sua carga negativa (proveniente dos grupos fosfato), os ácidos teicoicos podem se ligar e regular o movimento de cátions (íons positivos) para dentro e para fora da célula. Eles tam- bém podem assumir um papel no crescimento celular, im- pedindo a ruptura extensa da parede e a possível lise celular. Por fim, os ácidos teicoicos fornecem boa parte da especificidade antigênica da parede e, portanto, tornam possível identificar bactérias gram-positivas utilizando de- terminados testes laboratoriais. Uma importante diferença é: o lipoteicoico se ancora na membrana plasmática da bactéria, já o teicoico se estende apenas pelo peptideogli- cano PAREDE CELULAR DE GRAM-NEGATIVAS Fina camada de peptideoglicano, possui também lipopro- teínas que vão ancorar membranas externa à camada de peptideoglicano. A camada de peptideoglicano e a mem- brana externa forma a parede celular. Há a presença de um espaço contendo periplasma, que contém fina camada peptideoglicano. Na membrana externa haverá os lipopo- lissacarídeos ou LPS (são conhecidas como endotoxinas, comuns a todas as gram-negativas, por isso causam os mesmos sinais e sintomas quando o rompimento da mem- brana). O polissacarídeo é composto por lipídio A, cerne e lipídio O (responsável pelos sintomas) @LSTUDYMED 6 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias FINA CAMADA DE PEPTIDEOGLICANO: As paredes celulares das bactérias gram-negativas consistem em uma ou poucas camadas de peptideoglicano e uma membrana externa. As paredes celulares gram-negativas não contêm ácidos tei- coicos. Como as paredes celulares das bactérias gram- negativas contêm somente uma pequena quantidade de peptideoglicano, são mais suscetíveis ao rompimento me- cânico. PRESENÇA DO PERIPLASMA: O peptideoglicano está ligado a li- poproteínas na membrana externa e está localizado no pe- riplasma (fluido semelhante a um gel no espaço periplas- mático de bactérias gram-negativas), a região entre a membrana externa e a membrana plasmática. O peri- plasma contém uma alta concentração de enzimas de de- gradação e proteínas de transporte. LIPOPOLISSACARÍDEOS NA MEMEBRANA EXTERNA: A membrana ex- terna da célula gram-negativa consiste em lipopolissaca- rídeos (LPS), lipoproteínas e fosfolipídeos. A membrana ex- terna tem várias funções especializadas. Sua forte carga negativa é um fator importante na evasão da fagocitose e nas ações do complemento (causa lise de células e pro- move a fagocitose), dois componentes das defesas do hospedeiro. A membrana externa também fornece uma barreira contra a ação de detergentes, metais pesados, sais biliares, determinados corantes, antibióticos (p. ex., penici- lina) e enzimas digestórias como a lisozima. O lipopolissa- carídeo (LPS) da membrana externa é uma molécula grande e complexa que contém lipídeos e carboidratos e que consiste em três componentes: lipídeo A O lipídeo A é a porção lipídica do LPS e está embebido na parede superior da mem- brana externa. Quando bactérias gram-ne- gativas morrem, elas liberam lipídeo A, que funciona como endotoxina. O lipídeo A é res- ponsável pelos sintomas associados a in- fecções por bactérias gram-negativas, como febre, dilatação de vasos sanguíneos, choque e formação de coágulos sanguí- neos. Cerne polissacarídeo O cerne polissacarídico é ligado ao lipídeo A e contém açúcares incomuns. Seu papel é estrutural – fornecer estabilidade polissacarídeo O O polissacarídeo O se estende para fora do cerne polissacarídico e é composto por moléculas de açúcar. O polissacarídeo O funciona como antígeno, sendo útil para di- ferenciar espécies de bactérias gram-ne- gativas. Figura. Micobactérias MICOBACTÉRIAS: Possuem o ácido micólico, que é altamente hidrofóbico e não se colore com o método de coloração de gram. Consequentemente, isso faz com que as micobacte- rias apresentem resistência a todos os antimicrobianos que são usados na gram negativa e positiva; Somente uma classe específica de antimicrobianos conseguem agir so- bre elas, sendo que estes medicamentos tem que se alta- mente hidrofóbico para atingir seu alvo, como a: rifampi- cina. Assim, o ácido micólico são responsáveis pela resis- tência maior das micobacterias. COLORAÇÃO DIFERENCIAL - MÉTODO DE GRAM É um procedimento que permite classificar as bactérias em dois grandes grupos: gram-positivas e gram-negativas. Nesse procedimento: 1 CORANTE PÚRPURA: Um esfregaço fixado em calor é co- berto com um corante básico púrpura, geralmente cristal violeta. Uma vez que a coloração púrpura colore todas as células, ela é denominada coloração primária. EFEITO: Cristal violeta, o corante primário,cora as células gram-positivas e gram-negativas de púrpura, pois pene- tra no citoplasma de ambos os tipos celulares. 2 ADIÇÃO DE IODO: Após um curto período de tempo, o co- rante púrpura é lavado, e o esfregaço é recoberto com iodo, um mordente. Quando o iodo é lavado, ambas as bactérias gram-positivas e gram-negativas aparecem em cor violeta-escura ou púrpura. EFEITO: Quando o iodo (mordente) é aplicado, forma cris- tais com o corante, os quais são muito grandes para es- capar pela parede celular. @LSTUDYMED 7 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias 3 LAVAGEM COM ÁLCOOL: A seguir, a lâmina é lavada com ál- cool ou com uma solução de álcool-acetona. Essa solução é um agente descorante, que remove a coloração púrpura das células de algumas espécies, mas não de outras EFEITO: A aplicação de álcool desidrata o peptideoglicano das células gram-positivas para torná-la mais impermeá- vel ao cristal violeta-iodo. O efeito nas células gram-ne- gativas é bem diferente; o álcool dissolve a membrana ex- terna das células gram-negativas, deixando também pe- quenos buracos na fina camada de peptideoglicano, pelos quais o cristal violeta-iodo se difunde. 4 ADIÇÃO DE SAFRANINA: O álcool é lavado, e a lâmina é então corada com safranina, um corante básico vermelho. O es- fregaço é lavado novamente, seco com papel e exami- nado microscopicamente. EFEITO: Como as bactérias gram-negativas tornam-se in- colores após a lavagem com álcool, a adição de safranina (o contracorante) deixa as células cor-de-rosa ou verme- lhas. A safranina fornece a cor contrastante à coloração primária (cristal violeta). Embora as células gram-positi- vas e gram-negativas absorvam a safranina, a colo-ração cor-de-rosa ou vermelha da safranina é mascara-da pelo corante roxo-escuro, previamente absorvido pelas células gram-positivas. RESULTADO: O corante púrpura e o iodo se combinam no ci- toplasma de cada bactéria, corando-a de violeta-escuro ou púrpura. As bactérias que retêm esta cor após a tenta- tiva de descoloração com o álcool são classificadas como gram-positivas; as bactérias que perdem a coloração púrpura ou violeta-escura após a descoloração são clas- sificadas como gram-negativas. Como as bactérias gram- negativas se tornam incolores após a lavagem com álcool, elas não são mais visíveis. É por isso que o corante básico safranina é aplicado; ele cora a bactérias gram-negativas de cor-de-rosa. Os corantes como a safranina, que pos- suem uma cor contrastante com a coloração primária, são denominados contracorantes. Como as bactérias gram- positivas retêm a cor púrpura original, elas não são afeta- das pelo contracorante safranina. Esse mecanismo é base- ado nas diferenças das estruturas das paredes celulares gram-positivas e gram-negativas e em como cada uma delas reage a vários reagentes (substâncias utilizadas na produção de uma reação química). GRAM + • Parede celular espessa • Retém a coloração púrpura • O álcool torna as Gram + mais impermeáveis e dificultam a saída do cristal violeta • Não são afetadas pelo contracorante safranina • Coloração roxa GRAM - • Parede celular fina • Não retém a coloração púrpura • O álcool dissolve a membrana externa e permite a difusão dos cristais violeta por ela, tornando-a incolor • Adição de safranina fornece a coloração rosa • Coloração rosa (safranina) Figura. Coloração Gram @LSTUDYMED 8 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias CRESCIMENTO MICROBIANO Quando falamos em crescimento microbiano, estamos nos referindo ao número de células, não ao tamanho delas. Os microrganismos que "crescem" estão aumentando em nú- mero e se acumulando em colônias (grupos de células grandes o suficiente para serem visualizadas sem a utiliza- ção de um microscópio) de centenas ou milhares de célu- las ou populações de bilhões de células. FATORES DE CRESCIMENTO Os fatores necessários para o crescimento microbiano po- dem ser divididos em duas categorias principais: físicos e químicos. Fatores físicos Temperatura, pH e pressão osmótica Fatores químicos Fontes de carbono, nitrogênio, enxofre, fósforo, oxigênio, elementos-traço e fatores orgânicos de crescimento. TEMPERATURA A maioria dos microrganismos cresce bem nas temperatu- ras ideais para os seres humanos. Contudo, certas bacté- rias são capazes de crescer em extremos de temperatura que certamente impediriam a sobrevivência de quase to- dos os organismos eucarióticos. Os microrganismos são classificados em três grupos principais, com base na faixa de temperatura que eles preferem: psicrófilos, mesófilos e termófilos Psicrófilos Micróbios que gostam de frio Mesófilos Micróbios que gostam de temperaturas mode- radas. Os mesófilos, com temperatura ótima de crescimento de 25 a 40°C, são os microrganis- mos mais comuns. Os organismos que se adaptaram a viver dentro dos corpos de ani- mais geralmente têm uma temperatura ótima próxima daquela de seus hospedeiros. Termófilos Micróbios que gostam de calor TEMPERATURAS DE CRESICMENTO: Cada espécie bacteriana cresce a temperaturas mínima, ótima e máxima específi- cas. A temperatura mínima de crescimento é a menor tem- peratura na qual a espécie pode crescer. A temperatura ótima de crescimento é a temperatura na qual a espécie cresce melhor. A temperatura máxima de crescimento é a maior temperatura na qual o crescimento é possível. Re- presentando graficamente a resposta de crescimento ao longo de um intervalo de temperatura, podemos observar que a temperatura ótima de crescimento se encontra geralmente próxima à parte superior da faixa; acima dessa temperatura, a velocidade de crescimento cai rapidamente (Figura). Isso ocorre provavelmente porque a temperatura elevada inativou os sistemas enzimáticos necessários da célula. As faixas e as temperaturas máximas de cresci- mento que definem as bactérias como psicrófilas, mesófi- las ou termófilas Figura. Velocidades de crescimento características de diferentes tipos de microrganismos em resposta à temperatura. CUIDADO: Mesófilos crescem próximos a temperatura corpo- ral e por isso são os principais causadores de doenças PH PH refere-se à acidez ou alcalinidade de uma solução. A maioria das bactérias cresce melhor em uma faixa estreita de pH próxima da neutralidade, entre pH 6,5 e 7,5. Poucas bactérias crescem em pH ácido abaixo de 4. Por essa razão, muitos alimentos, como o chucrute, os picles e muitos quei- jos, são protegidos da deterioração pelos ácidos produzidos pela fermentação bacteriana. Todavia, algumas bactérias, chamadas de acidófilas, são extraordinariamente toleran- tes à acidez. PRESSÃO OSMÓTICA A osmose é a passagem de solvente (geralmente a água) por uma membrana semipermeável para um meio mais concentrado. Os microrganismos obtêm a maioria dos seus nutrientes em solução da água presente no seu meio am- biente. PO elevada (hipertônico) Pressões osmóticas elevadas têm como efeito remover a água necessária para a célula. Quando uma célula microbiana está em uma solução cuja concentração de so- lutos é mais elevada que dentro da célula (ambiente hipertônico), a água atravessa a membrana celular para o meio com a con- centração mais elevada de soluto. Essa perda osmótica de água causa plasmólise, ou o encolhimento do citoplasma da célula. Organismos tolerantes à salinidade são de- nominados halófilos. @LSTUDYMED 9 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias PO baixa (hipotônico) Se a pressão osmótica é anormalmente baixa (o ambiente é hipotônico) – como na água destilada, por exemplo –, a água tende a entrar na célula, em vez de sair. Alguns mi- crorganismos que têm uma parede celular relativamente frágil podem ser lisados com esse tratamento. CLASSIFICAÇÃO DE HALÓFITOS: Tolerantes à salinidade Halófilosextremos Toleram altas concentrações de sais Halófilos obrigatórios Toleram altas quantidades de NaCl e essa quantidade é necessária para o seu cresci- mento (contrações de 30%) Halófilos facultativos São mais comuns e não requerem altas con- centrações de sais, mas são capazes de cres- cerem em concentrações salinas de até 2%, uma concentração que inibe o crescimento de muitos outros organismos. Algumas espé- cies de halófilos facultativos podem tolerar até mesmo 15% de sal. CONTROLE DO CRESCIMENTO USANDO A PRESSÃO OSMÓTICA: O cres- cimento da célula é inibido à medida que a membrana plasmática se afasta da parede celular. Portanto, a adição. de sais (ou outros solutos) em uma solução e o aumento resultante na pressão osmótica podem ser utilizados para preservar alimentos. Peixe salgado, mel e leite condensado são preservados por esse mecanismo; as concentrações elevadas de sal ou açúcar removem a água de qualquer célula microbiana presente e, consequentemente, impe- dem seu crescimento. Esses efeitos da pressão osmótica estão aproximadamente relacionados ao número de moléculas dissolvidas e íons em um volume de solução. Com base nisso existe a técnica de desidratação de carnes (Charque). FATORES QUÍMICOS Fontes de carbono, nitrogênio, Enxofre e fósforo são impor- tantes para o crescimento bacteriano. Carbono Esqueleto estrutural da matéria viva - quimio- heterotróficos - lipídeos, carboidratos e proteí- nas. Nitrogênio Enxofre Fósforo Síntese de DNA e RNA, ATP Elementos traços Não precisam ser em grande quantidade e não precisam ser suplementados. Ferro, cobre, zinco e molibdênio. São importantes por serem cofa- tores de enzimas - água da torneira. Oxigênio Os microrganismos que utilizam o oxigênio mo- lecular (aeróbios) produzem mais energia a partir dos nutrientes que os microrganismos que não utilizam o oxigênio (anaeróbios). Aeróbios obrigatórios: precisam de O2 para viver • Anaeróbios facultativos: podem produzir energia com O2 ou em ambientes sem ele • Anaeróbios obrigatórios: são bactérias inca- pazes de utilizar o oxigênio molecular nas re- ações de produção de energia. • Anaeróbios aerotolerantes: não podem utili- zar o oxigênio para o seu crescimento, porém toleram bem a sua presença • Microaerófilas: São aeróbias e requerem oxi- gênio. Contudo, crescem somente em con- centrações de oxigênio inferiores às do ar. Figura. O efeito do oxigênio no crescimento de vários tipos de bactérias (TORTORA). @LSTUDYMED 10 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias BIOFILMES Na natureza, os microrganismos raramente vivem em colô- nias isoladas de uma única espécie, eles normalmente vi- vem em comunidades chamadas de biofilmes, os quais são uma camada fina e viscosa envolvendo bactérias que se aderem a uma superfície. Os microrganismos nos biofil- mes podem trabalhar em cooperação para desenvolver tarefas complexas. MEIOS DE CULTURA O material nutriente preparado para o crescimento de mi- crorganismos em laboratório é chamado de meio de cul- tura. Os microrganismos que são introduzidos em um meio de cultura para dar início ao crescimento são chamados de inóculo. Os micróbios que crescem e se multiplicam no in- terior ou sobre um meio de cultura são chamados de cul- tura. Quando se deseja o crescimento das bactérias em meio sólido, um agente solidificante, como o ágar, é adici- onado ao meio. Figura. Tipos de meios de cultura. Obs: Bactérias fastigiosas, uso de sangue (meio de enriquecimento) Figura. Meio diferencial. Este meio é o ágar hipertônico manitol, e as bactérias capazes de fermentar o manitol em ácido (Staph ylo- coccus aureus) causam a mudança de coloração do meio para amarelo. Isso diferencia entre as bactérias que fermentam o ma- nitol e aquelas que não o fazem. Na verdade, este meio também é seletivo, uma vez que a alta concentração de sal impede o cresci- mento da maioria das bactérias, mas não de Staphlylococcus sp. CURVA DE CRESCIMENTO BACTERIANO O crescimento bacteriano se refere ao aumento do número de bactérias, e não a um aumento no tamanho das células individuais. As bactérias normalmente se reproduzem por divisão binária. Algumas espécies bacterianas se reprodu- zem por brotamento; elas formam uma pequena região ini- cial de crescimento (o broto), que vai se alargando até atingir um tamanho similar ao da célula parental, e, então, separa-se dela. O tempo necessário para uma célula se di- vidir (e a sua população dobrar) é chamado de tempo de geração. A curva de crescimento bacteriano é uma repre- sentação gráfica que mostra o crescimento em função do tempo. Há quatro fases básicas de crescimento: a fase lag, a fase log, a fase estacionária e a fase de morte celular. Figura. Divisão binária. Fase LAG Período de pouca ou nenhuma divisão. Mas as células não estão dormentes. A população mi- crobiana passa por um período de intensa ati- vidade metabólica, envolvendo principalmente a síntese de enzimas e várias moléculas Fase LOG Período em que as células começam a se dividir e entram em um período de crescimento loga- rítmico (fase de crescimento exponencial ou lo- garítmico). A reprodução celular é mais ativa nesse período e é a fase de maior atividade metabólica, sendo o preferido para fins indus- triais. Como o tempo de geração (intervalo em que a população dobra) é constante, a repre- sentação do crescimento no gráfico é uma linha reta Fase estacionária A fase de crescimento continua sem controle, ocorre a formação de um grande número de células, porém, a reprodução diminui e o nú- mero de mortes microbianas é equivalente ao @LSTUDYMED 11 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias número de células novas. Assim, a população se estabiliza (período de equilíbrio) Fase de Morte celular O número de mortes eventualmente excede o número de novas células, e a população entra em uma fase de morte, ou fase de declínio logarítmico. Essa fase continua até que a popu- lação tenha diminuído para uma pequena fra- ção do número de células da fase anterior ou até que a população morra totalmente Figura. Fases de crescimento bacteriano. MICROBIOTA DO SER HUMANO O microbioma humano ou microbiota humana é a soma de todos microorganismos que residem nos tecidos e fluidos humanos, composto principalmente de bacterias. A micro- biota humana normal também inclui alguns fungos, ar- chaea e vírus. Cada local anatômico possui seu microbi- oma específico (figura). A bactéria pode se estabelecer e se multiplicar no corpo do hospedeiro, podendo causar do- enças (infecção) ou não causar doenças (colonização) Infecção (patógeno) Patógeno: microrganismo capaz de causar a doença; Alguns componentes da microbiota normal são potenciais patógenos (Staphylo- coccus aureus, Streptococcus pneumonia, Es- cherichia coli) Colonização (carreador) Carreador: hospedeiro colonizado por uma bactéria patogênica sem apresentar sinto- mas de infecção FUNÇÕES DA MICROBIOTA • Primeira linha de defesa • Proteção contra doenças por prevenirem o crescimento de micro-organismos nocivos (competição e produção de bacteriocinas), produção de substâncias unteis como vitamina K e algumas vitaminas do complexo B • Quando a microbiota normal sai do seu nicho - pode cau- sar doença ANTAGONISMO BACTERIANO: Uma vez estabelecida, a microbiota normal pode beneficiar o hospedeiro ao impedir o cresci- mento excessivo de microrganismos potencialmente peri- gosos. Esse fenômeno é denominado antagonismo micro- biano, ou exclusão competitiva. O antagonismo microbiano envolve a competição entre os micróbios. Uma consequên- cia dessa competição é o fato de que a microbiota normal protege o hospedeiro contra a colonização por micróbios potencialmente patogênicos ao competir por nutrientes, produzir substâncias prejudiciais aos micróbiosinvasores e afetar condições como o pH e a disponibilidade de oxigênio. Quando o equilíbrio entre a microbiota normal e os micró- bios patogênicos é alterado, o resultado pode ser o surgi- mento de doenças. RESISTÊNCIAS NATURAIS Á PATÓGENOS: Reação aos patógenos depende da nossa resistência - a habilidade de evitar do- enças. Importantes resistências naturais: barreira da pele, membranas mucosas, cílios, ácido estomacal, compostos antimicrobianos e imunidade inata (Fagócitos, comple- mento). TIPOS DE MICROBIOTA Transiente • Derivada do meio • Reside por horas, dias ou semanas • Patogênica • Não-patogênica Residente • Relativamente fixa • Se restabelece, caso afetada @LSTUDYMED 12 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Figura. Representantes da microbiota normal por região corporal DETERMINANTES DA MICROBIOT NORMAL • PH, temperatura, oxigênio, água, aporte de nutrientes • Outros fatores: Peristaltismo, saliva, secreção de lisozimas e de imunoglobulinas, muco MICROBIOTA OPORTUNISTA São microrganismos que não causam doença em seu há- bitat normal em um indivíduo saudável, mas podem ocasi- onar um quadro de doença em um ambiente diferente. Por exemplo, a Aids com frequência é acompanhada por uma infecção oportunista comum, a pneumonia causada pelo organismo oportunista, uma vez que seu sistema imune está suprimido. Bactérias da microbiota normal podem se tornar patógenos opor- tunistas: • S. aureus, Streptococcus mutans, Enterococcus faecalis, Strep- tococcus pneumoniae, Pseudomonas aeruginosa, etc. • Quebra da barreira da pele ou mucosa por trauma: Cirurgia da boca pode levar a abscesso de osso, pulmão e cérebro • Tratamento de dentes: Streptococci na corrente sanquínea chegam ao coração onde podem aderir a válvulas previa- mente danificadas por febre reumática → endocardite Bactérias da microbiota normal pode infectar outros sítios: • Ex: E. coll do TGI pode infectar TGU. PATOGENICIDADE BACTERIANA Patogenicidade Capacidade do micro-organismo em causar doença. Qualquer microrganismo que consiga causar uma doença Virulência Grau ou extensão da patogenicidade. Quanto invasor o microrganismo vai ser @LSTUDYMED 13 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias INFECÇÃO DO HOSPEDEIRO Para que haja a infecção, o microrganismo deve estar em uma quantidade suficiente e aderir a uma superfície da porta de entrada do hospedeiro. Portas de entrada São as vias de entrada do patógeno no corpo hu- mano. São elas: • Pele • Trato. respiratório • Trato. urogenital • Trato gastrointestinal • Via parenteral • Mucosas Portas de entrada preferenciais: Muitos patóge- nos têm uma porta de entrada preferencial, a qual é um pré-requisito para serem capazes de causar doença. Se eles entrarem no organismo por outra porta de entrada, a doença talvez não ocorra. Exemplo: • Salmonella typhi produz os sinais e sintomas da febre tifóide quando deglutida (via preferen- cial) Número de invasores Número de microrganismos invasores: A proba- bilidade de doença aumenta à medida que o nú- mero de patógenos se eleva Aderências Aderência ou adesão é uma etapa da patogeni- cidade em que o patógeno adere na superfície da porta de entrada do tecido do hospedeiro Adesinas: são moléculas da superfície do pató- geno que permite a aderência entre ele e os re- ceptores do hospedeiro. As adesinas se ligam es- pecificamente a receptores de superfície com- plementares, encontrados em determinadas cé- lulas do hospedeiro. Esses receptores podem ser alterados para interferir nas aderências • A maioria das adesinas nos microrganismos estudados até hoje é constituída por glicopro- teínas ou lipoproteínas. • As adesinas podem estar localizadas no glico- cálice • ou em outras estruturas da superfície microbi- ana, como pili, fímbrias e flagelos • Exmplo:. As cepas enteropatogênicas de E. coli possuem adesinas que se aderem apenas a ti- pos específicos de células em certas regiões do intestino delgado. Após a aderência, induzem a endocitose para penetrarem as células do hos- pedeiro e então se multiplicam em seu interior Biofilmes: são comunidades de micróbios que tem a capacidade de se agrupar em massa, aderir à superfícies e captar/compartilhar os nu- trientes entre si. Em outras palavras são camadas múltiplas de bactérias que aderem superfícies do hospedeiro. • Os biofilmes favorecem as trocas de alimentos entre os integrantes da colônia de microrganis- mos. Pode ser tanto fungo como bactérias ULTRAPASSAGEM DAS DEFESAS DO HOSPEDEIRO Para causar as doenças, além dos mecanismos de infec- ção, os patógenos devem possuir mecanismos para passar pelas barreiras do hospedeiro. São elas: • Cápsulas • Componentes da parede celular • Enzimas • Variação antigênica Cápsulas Algumas bactérias produzem substâncias or- ganizadas no glicocálice que formam cápsu- las ao redor de sua parede celular; essa pro- priedade aumenta a virulência das espécies. A cápsula é uma camada rígida com bordas bem definidas, formada por uma série de po- límeros orgânicos. Ela se deposita no exterior da parede celular bacteriana, estando forte- mente aderida a ela. Uma bactéria que deve a sua virulência à presença de uma cápsula polissacarídica é o Streptococcus pneumo- niae • Impedem a fagocitose: impedem que a que a célula fagocítica se ligue à bactéria. • Glicocálice organizado Componentes da parede celular A parede celular de certas bactérias contém substâncias químicas que contribuem para a virulência: • Proteína M (Streptococcus pyogenes): proteína resistente ao calor e à acidez. Essa proteína faz o intermédio da aderên- cia da bactéria às células epiteliais do hospedeiro e auxilia na resistência da bac- téria à fagocitose pelos leucócitos • Proteína OPA (Neisseria gonorrhoeae): adesão às células do hospedeiro. Após a aderência através das proteínas Opa e pelas fímbrias, as células do hospedeiro captam as bactérias. Enzimas Podem digerir o material entre as células e in- duzir a formação ou a degradação de coágu- los sanguíneos, entre outras funções. • Coagulase: são enzimas bacterianas que coagulam o fibrinogênio no sangue. Os co- águlos de fibrina podem proteger a bacté- ria da fagocitose e isolá-la de outras defe- sas do hospedeiro. São produzidas por al- guns membros do gênero Staphylococcus. • Quinase ou cinase: As cinases bacterianas são enzimas que degradam a fibrina e, @LSTUDYMED 14 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias assim, digerem coágulos formados pelo organismo para isolar uma infecção. Uma das cinases mais conhecidas é a fibrinoli- sina (estreptoquinase), produzida por es- treptococos, como o Streptococcus pyoge- nes. • Hialuronidase: secretada pelo Estreptoco- cos. Ela hidrolisa o ácido hialurônico, tipo de polissacarídeo que une certas células do corpo, particularmente em tecidos co- nectivos. Acredita-se que essa ação di- gestória esteja envolvida na necrose de fe- rimentos infectados e que ela auxilie na dispersão do microrganismo a partir de seu sítio inicial de infecção. • Colagenase: produzida por diversas espé- cies de Clostridium, facilita a disseminação da gangrena gasosa. A colagenase que- bra a proteína colágeno, que forma os te- cidos conectivos de músculos e de outros órgãos e tecidos Variação Antigênica É uma alteração de antígenos. Na presença de antígenos, o organismo produz proteínas, denominadas anticorpos (imunidade adap- tativa), que se ligam aos antígenos e os tor- nam inativos ou os destroem. No entanto, al- guns patógenos podem alterar seus antíge- nos de superfície por meio de um processo denominado variação antigênica. Permite o escape da resposta imunológica Ex: Influenza- virus, Neisseria gonorrhoeae (tem em seu ge- noma diversas cópias do gene codificadorda proteína Opa, resultando em células que apresentam diferentes antígenos) Penetração no citoesqueleto das células dos hospedei- ros A bactéria produz proteínas de superfície - in- vasinas - causam o rearranjo dos filamentos de actina do citoesqueleto celular próximos ao ponto de contato bacteriano, gerando um enrugamento da membrana (desorganiza- ção do citoesqueleto). Isso permite que se formem dobras na membrana e ocorra o en- golfamento da bactéria. Exemplo: Salmonella sp. DANIFICAÇÃO DAS CÉLULAS DO HOSPEDEIRO Quando a bactéria invade a célula hospedeira e ultrapassa as suas defesas, ela pode danificar as células de 4 formas: • Utilizando os nutrientes do hospedeiro. • Causando danos diretos à região próxima ao local da in- vasão. • Produzindo toxinas, que são transportadas pelo sangue e pela linfa, que danificam sítios distantes do local inicial da invasão. • Induzindo reações de hipersensibilidade. Usando os nutrientes do hospedeiro Sideróforo e a aquisição de ferro: O ferro é ne- cessário para o crescimento da maioria das bactérias patogênicas, porém o ferro livre dentro do corpo é reduzido. Para obterem ferro, alguns patógenos secretam proteínas, chamadas de sideróforos. Estes são liberados no meio, onde removem o ferro das proteínas transportadoras através de uma ligação ainda mais intensa aos átomos de ferro. Quando o complexo sideróforo-ferro é for- mado, ele liga-se a receptores de sideróforos na superfície da bactéria, sendo absorvido por ela. Dessa forma, o ferro é levado para dentro da célula bacteriana. • Alternativas aos sideróforos: os receptores das bactérias se ligarem diretamente aos transportadores de ferro e a destruição de células do hospedeiro para liberação do ferro. Lesão direta Quando os patógenos metabolizam e se mul- tiplicam nas células, elas normalmente se rompem causando danos diretos à célula (bactérias intracelulares). Algumas bactérias, como E. coli, Shigella, Salmonella e Neisseria gonorrhoeae, podem induzir as células epite- liais do hospedeiro a englobá-las por um pro- cesso semelhante à fagocitose (indução do engolfamento). Produção de toxinas • As toxinas são substâncias venenosas pro- duzidas por certos microrganismos. A ca- pacidade dos microrganismos de produzir toxinas é chamada de toxigenicidade. As toxinas transportadas pelo sangue ou pela linfa podem causar efeitos graves e muitas vezes fatais. Algumas toxinas geram febre, distúrbios cardiovasculares, diarreia e cho- que. As toxinas também podem inibir a sín- tese proteica, destruir células e vasos san- guíneos e danificar o sistema nervoso cen- tral, causando espasmos. • O termo toxemia refere-se à presença de toxinas no sangue. As toxinas podem ser de dois tipos principais, com base em sua po- sição relativa à célula microbiana: exotoxi- nas e endotoxinas. As intoxicações são cau- sadas pela presença de uma toxina, não pelo crescimento microbiano. Plasmídeos/ Conversão lisogênica • Plasmídeos: são pequenas moléculas de DNA circulares não conectadas ao cromos- somo bacteriano principal, capazes de se replicarem independentemente. Ele pode transportar informações (podem codificar fatores de virulência) que determinam a @LSTUDYMED 15 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias patogenicidade de um micróbio, como: co- dificação de exotoxinas. • Conversão lisogênica: Um bacteriófago pode infectar a bactéria e conferir outras características a ela, essa mudança de ca- racterística devido a presença do vírus é denominada conversão lisogênica. Ex. Shiga Toxina EXOTOXINAS BACTERIANAS As exotoxinas são produzidas no interior de algumas bac- térias como parte de seu crescimento e metabolismo, e são secretadas pela bactéria no meio circundante ou liberadas após a lise da célula. Em razão da natureza enzimática da maioria das exotoxinas, mesmo pequenas quantidades são bastante perigosas, pois podem agir várias vezes seguidas. Os genes que codificam a maioria (e talvez todas) das exotoxinas são carreados em plasmídeos bacterianos ou fagos. As exotoxinas agem destruindo determinadas partes das células do hospedeiro ou inibindo certas funções me- tabólicas. Elas são altamente específicas em relação aos seus efeitos teciduais e estão entre as substâncias mais le- tais conhecidas. Assim, as características principais são: • Produzidas por bactérias Gram-positivas ou Gram-nega- tivas • Estão entre as substâncias mais letais conhecidas • São parte do crescimento e metabolismo bacteriano. • Secretadas ou liberadas no meio circundante após a lise celular • Produzem os sinais e sintomas específicos da doença. As- sim, as exotoxinas são doença-específicas. • Codificadas por plasmídeos VACINAÇÃO E PRODUÇÃO DE ANTITOXINAS: O organismo produz anticorpos, denominados antitoxinas, que promovem imu- nidade contra exotoxinas. Quando as exotoxinas são inati- vadas por calor ou pelo uso de formaldeído, iodo ou outra substância química, não podem mais causar doença, po- rém ainda são capazes de estimular o sistema imune a produzir antitoxinas. Essas exotoxinas alteradas são cha- madas de toxoides. Quando os toxoides são injetados no corpo, como uma vacina, estimulam a produção de antito- xinas, gerando imunidade. TIPOS DE EXOTOXINAS Podem ser divididas em 3 tipos principais quanto ao modo de ação: • Toxinas A-B • Toxinas que rompem membranas • Superantígenos Toxinas que rompem membranas As toxinas danificadoras de membrana cau- sam a lise da célula hospedeira pela degra- dação da membrana plasmática. Algumas toxinas agem pela formação de canais pro- teicos na membrana e outras degradam a porção fosfolipídica da membrana. As toxinas que degradam membranas contribuem para a virulência pela morte de células do hospe- deiro, sobretudo fagócitos, e também por au- xiliar as bactérias a escaparem de vesículas no interior dos fagócitos (fagossomos) para o citoplasma da célula hospedeira. • Leucocidinas: As toxinas danificadoras de membrana que destroem leucócitos fago- cíticos (glóbulos brancos) são chamadas de leucocidinas e agem pela formação de canais proteicos. A maioria é produzida por estafilococos e estreptococos. • Hemolisinas: As toxinas danificadoras de membrana que destroem hemácias, tam- bém pela formação de canais proteicos, são denominadas hemolisinas. Os estafilo- cocos e os estreptococos são importantes produtores de hemolisinas. As hemolisinas produzidas pelos estreptococos são cha- madas de estreptolisinas. Toxinas A-B • Modelo proposto para o mecanismo de ação da toxina diftérica • São assim denominadas por consistirem em duas partes, designadas A e B, e ambas são polipeptídeos. A maioria das exotoxinas é A-B. A porção A é o componente ativo (enzima), e a porção B é o componente de ligação. Superantíge- nos • Os superantígenos são antígenos que pro- vocam uma resposta imune muito intensa. Eles são proteínas bacterianas. Por uma sé- rie de interações com várias células do sis- tema imune, os superantígenos estimulam, de forma não específica, a proliferação de células imunes denominadas células T. • Em resposta aos superantígenos, as células T são estimuladas a liberar enormes quan- tidades de citocinas, que regulam as res- postas imunes e fazem a mediação da co- municação célula a célula. Níveis excessi- vamente altos de citocinas circulam pela corrente sanguínea e desencadeiam vários sintomas, como febre, náusea, vômito, diar- reia e, às vezes, choque e até mesmo a morte. • Estímulo de grande produção de citocinas - choque anafilático @LSTUDYMED 16 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias • Incluem as toxinas estafilocócicas que cau- sam intoxicação alimentar e síndrome do choque tóxico Figura. A ação de uma exotoxina A-B. Um modelo proposto para o mecanismode ação da toxina diftérica. NOMENCLATURA DAS EXOTOXINAS As exotoxinas são nomeadas com base em diversas ca- racterísticas, como: • Quanto ao tipo de célula a que elas aderem no hospe- deiro: neurotoxinas, cardiotoxinas hepatotoxinas, leucoto- xinas, enterotoxinas, citotoxinas • Quanto às doenças a que estão associadas: toxina difté- rica, toxina tetânica • Quanto às bactérias específicas que as produzem: toxina botulínica, enterotoxina colérica DOENÇAS CAUSADAS POR EXOTOXINAS • Tétano • Botulismo • Gangrena gasosa • Difteria • Intoxicação alimentar • Síndrome do choque tóxico • Cólera ENDOTOXINAS BACTERIANAS As endotoxinas estão localizadas no interior das células bacterianas. São parte da porção externa da parede celular das bactérias Gram-negativas: A membrana externa que circunda a camada de peptideoglicano da parede celular tem como um de seus componentes os lipopolissacarídeos (LPS). A porção lipídica dos lipopolissacarídeos (LPS), de- nominada lipídeo A, é a endotoxina. Carcaterísticas impor- tantes são: • Produzem os mesmos sinais e sintomas, independente da bactéria. Esses sintomas incluem calafrios, febre, fraqueza, dores generalizadas e, em alguns casos, choque e até mesmo morte. • As endotoxinas são liberadas quando a bactéria morre e a célula se degrada • As endotoxinas exercem seu efeito pelo estímulo de ma- crófagos, os quais, por sua vez, liberam citocinas em con- centrações bastante elevadas. Nessas concentrações, as citocinas são tóxicas. Ativação macrofágica: O pulmão é um dos órgãos mais sensiveis aos eteitos das endotoxinas e o primeiro a ser atingido. • Outra consequência da presença de endotoxinas é a ati- vação das proteínas envolvidas na coagulação sanguí- nea, causando a formação de pequenos coágulos. Esses coágulos obstruem os vasos capilares, e o decréscimo no suprimento de sangue resultante induz a morte tecidual. Essa condição é conhecida como coagulação intravas- cular disseminada FEBRE E AS ENDOTOXINAS A febre e o choque produzido pelas endotoxinas estão re- lacionados à secreção de citocinas pelos macrófagos. O mecanismo proposto pelo qual as endotaxinas causam fe- bre: 1. Um macrófago ingere uma bactéria gram-negativa. 2. A bactéria é degradada em um vacúolo, liberando en- dotoxinas que induzem a produção das citocinas IL-1 e TNF-a pelo macrófago. 3. As citocinas são liberadas na corrente sanguínea pelos macrófagos e são transportadas até o hipotálamo, no cé- rebro. 4. As citocinas induzem a produçao de prostaglandinas pelo hipotálamo, alterando o "termostato" corporal para tem- peraturas mais altas. produzindo EXOTOXINAS X ENDOTOXINAS • As endotoxinas são lipopolissacarídeos, ao passo que as exotoxinas são proteínas. • As exotoxinas afetam órgãos alvos, já as endotoxinas pro- movem efeitos fisiológicos generalizados • As endotoxinas não promovem a formação de antitoxinas efetivas contra seu componente carboidrato. Anticorpos são produzidos, porém eles tendem a não controlar os efeitos da toxina; na verdade, em algumas circunstâncias, esses anticorpos podem até mesmo intensificar seu efeito. @LSTUDYMED 17 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Figura. Endotoxinas e a resposta pirogênica. O mecanismo proposto pelo qual as endotoxinas causam febre. Figura. Diferenças endo e exotoxinas Figura. Diferença exo e endotoxina @LSTUDYMED 18 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Figura. Resumo PORTAS DE SAÍDA BACTERIANAS É a via pela qual um patógeno deixa o organismo. Os pató- genos geralmente deixam o corpo através de portas de sa- ída específicas, que normalmente correspondem aos mes- mos sítios utilizados inicialmente por eles para entrarem no hospedeiro. As portas de saída mais comuns são: • Trato respiratório • Trato gastrintestinal • Trato urogenital • Pele ESTÁGIOS DE UMA DOENÇA Uma vez que o microrganismo supera as defesas do hos- pedeiro, o desenvolvimento da doença tem certa sequên- cia, que tende a ser similar, independentemente de se a do- ença é aguda ou crônica: • Período de incubação • Período prodrômico • Período da doença • Período de declínio • Período de convalescência Período de Incubação Consiste no intervalo entre a infecção inicial e o surgimento dos primeiros sinais ou sin- tomas. Depende do microrganismo Período Prodrômico Consiste em um período de tempo relativa- mente curto que se segue ao período de in- cubação de algumas doenças. Ele é carac- terizado pelo surgimento de sintomas pre- coces e leves de doença, como dores gene- ralizadas e indisposição. Período de doença Esse quadro da doença é o mais grave. A pessoa exibe sinais e sintomas claros. Du- rante o período de doença, o número de leu- cócitos pode aumentar ou diminuir. Em ge- ral, as respostas imunes e outros mecanis- mos de defesa do paciente derrotam o pa- tógeno, o que demarca o fim do período de doença. Quando a doença não é controlada (ou tratada) com sucesso, o paciente morre durante esse período. Normalmente esse período ocorre a maior transmissão da doença Período de declínio Os sinais e sintomas diminuem de intensi- dade. A febre diminui, assim como a sensa- ção de indisposição. Nessa fase, que pode durar de menos de 24 horas a vários dias, o paciente encontra-se vulnerável a infecções secundárias. Período de convalescência A pessoa recobra a sua força e o corpo re- torna ao estado anterior à doença. Ocorre a recuperação. @LSTUDYMED 19 Letícia Cavalcante - UFDPar Aula 2 | Introdução ao estudo das bactérias Figura. Os estágios de uma doença. CONTROLE DO CRESCIMENTO BACTERIANO Uma palavra utilizada com frequência e, muitas vezes, in- corretamente, em discussões sobre o controle do cresci- mento microbiano é esterilização. A esterilização é a remo- ção ou destruição de todos os microrganismos vivos. O aquecimento é o método mais comum usado para destruir microrganismos. O controle direcionado à destruição de microrganismos nocivos é chamado de desinfecção. Esse termo normalmente se refere à destruição de patógenos na forma vegetativa (não formadores de endósporos), o que não é o mesmo que esterilidade completa. Outros termos importantes são: Figura. Terminologia relacionada ao controle do crescimento microbiano Os fármacos antimicrobianos podem ser bactericidas (destroem os micróbios diretamente) ou bacteriostáticos (impedem o crescimento dos micróbios). Figura. Controle do crescimento bacteriano Figura. Agentes do controle do crescimento bacteriano REFERÊNCIAS TORTORA, Gerard J.; FUNKE, Berdell R; CASE, Christine L. Mi- crobiologia. 12 Porto Alegre: Artmed, 201.
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