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Transtorno de humor bipolar Thayná Cerqueira Silveira O TAB é uma alteração grave do humor que envolve períodos de humor elevado e de humor deprimido (polos opostos de experiencia afetiva) intercalados por períodos de remissão e estão associados a sintomas cognitivos, físicos e comportamentais específicos. Pode ser classificado em: TB I→ A elevação do humor é mais grave e persistente (mania) Mais comum no sexo ♂ Início dos sintomas aos 18 anos ≥1 episódio de mania precedido ou não por hipomania Recorrência de episódios em >2 meses TB II→ Elevação de humor é mais branda (hipomania) Mais comum entre ♀ Início dos sintomas aos 25 anos ≥1 episódio de depressão + ≥1 episódio de hipomania A depressão é mais incapacitante e duradouro O intervalo entre os episódios diminui com o tempo Grande ligação com hereditariedade Ciclotimia→ Distúrbio de humor flutuante, envolvendo períodos com sintomas hipomaníacos e depressivos com critérios não preenchidos; para diagnostico, ≥4 sintomas: a) Letargia alternada ↔ eutonia b) Autoestima oscilante entre autoconfiança baixa e alta c) Falar pouco ↔tagarelice d) Confusão mental↔ pensamento claro e criativo e) Choro inexplicável ↔piadas e trocadilhos f) Introspecção↔ desinibição Ciclagem rápida→ ≥4 episódios maníacos ou depressivos em 12 meses Mais frequente em ♀ Relacionado com antidepressivos, álcool e outros Episódio misto→ Presença simultânea da mania e depressão Aumento da impulsividade e maior risco de suicídio Mais comum em ♀ ❖ Episódio maníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade dirigida a objetivos ou da energia, com duração ≥1 semana e presente na maior parte do dia, quase todos os dias (ou qualquer duração, se a hospitalização se fizer necessária). B. Durante o período de perturbação do humor e aumento da energia ou atividade, ≥3 dos seguintes sintomas (4 se o humor é apenas irritável): 1. Autoestima inflada ou grandiosidade. 2. Redução da necessidade de sono (p. ex., sente-se descansado com apenas 3 horas de sono). 3. Mais loquaz que o habitual ou pressão para continuar falando. 4. Fuga de ideias ou experiência subjetiva de que os pensamentos estão acelerados. 5. Distratibilidade 6. Aumento da atividade dirigida a objetivos (seja socialmente, no trabalho ou escola, seja sexualmente) ou agitação psicomotora (i.e., atividade sem propósito não dirigida a objetivos). 7. Envolvimento excessivo em atividades com elevado potencial para consequências dolorosas C. Há prejuízo acentuado no funcionamento social ou profissional ou para necessitar de hospitalização. D. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento, outro tratamento) ou a outra condição médica. ❖ Episódio Hipomaníaco A. Um período distinto de humor anormal e persistentemente elevado, expansivo ou irritável e aumento anormal e persistente da atividade ou energia, com duração ≥4 dias consecutivos e presente na maior parte do dia, quase todos os dias. B. ≥3 sintomas do critério B do episodio de mania (≥4 se o humor é apenas irritável) C. Há mudança clara de funcionamento D. Não é grave suficiente para prejudicar o funcionamento social ou profissional ou necessitar de hospitalização F. Não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substancia. SUBSTANCIAS ASSOCIADAS A HIPOMANIA E MANIA Álcool Alfa interferon Anfetaminas Antagonista H2 Anticonvulsivantes Antidepressivos Antiparkisonianos Baclofeno Barbitúrico BZD - B adrenérgico Bromocriptina Buspirona Captopril Ciclosporina Cocaína Corticoide Dapona Esteroides anabólicos Hosmonio tiroidiano Loxapina Narcotico Metoclopramida ❖ Episódio Depressivo Maior A. ≥5 dos seguintes sintomas estiveram presentes durante o mesmo período de 2 semanas e representam uma mudança em relação ao funcionamento anterior; ≥ 1 dos sintomas é humor deprimido ou perda de interesse ou prazer. ▪ Alteração acentuada no peso ▪ Insônia ou hipersonia quase diária. ▪ Agitação ou retardo psicomotor ▪ Fadiga ou perda de energia quase todos os dias. ▪ Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada ▪ Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar ▪ Pensamento suicida B. Os sintomas causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. O episódio não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica. Diversos grupos vêm propondo ampliações do espectro bipolar que incluem mais formas intermediarias do que as propostas pelo DSM e sugerem a existência de um continum nas manifestações dos sintomas: 1. ≥1 episódio depressivo 2. Ausência de episódio espontâneo de mania ou hipomania 3. ≥1 critério abaixo + ≥2 critérios D ou ambos critérios abaixo + ≥1 critério D 4. Se nenhum item do critério C está presente são necessários ≥6 dos seguintes itens: ▪ Personalidade hipertimica ▪ Episódio depressivo recorrente (>3) ▪ Episodio depressivo breve (<3 meses) ▪ Episódio depressivo atípico ▪ Episódio depressivo psicótico ▪ Idade de inicio de DM <25 anos ▪ Depressão pós parto ▪ Resposta aguda, não profilática de antidepressivo ▪ Ausência de eficácia ≥ 3 ensaios com antidepressivos TRATAMENTO BIPOLARIDADE PORTARIA 315/2016 O TAB é uma doença crônica caracterizada por episódios de agudização e períodos de remissão; antes de estabelecer uma conduta a longo prazo, o 1º passo é o tratamento medicamentoso de um episodio agudo (maníaco ou depressivo) com o objetivo de se atingir a remissão dos sintomas de humor. 1. Tratamento do episódio de mania O objetivo primário é a remissão dos sintomas maníacos e o tempo de tratamento da fase aguda é de 8-24 semanas. A terapia mais eficaz é a associação de antipsicótico + estabilizador de humor. Dentre os antipsicóticos, a risperidona (1ª opção), olanzapina, quetiapina, aripiprazol, ziprasidona e haloperidol são efetivos na redução dos sintomas maníacos. Dentre os estabilizadores de humor: carbonato de lítio (1ª opção), ácido valproico e carbamazepina; A clozapina é eficaz e bem tolerada em transtornos de humor graves com reduções significativas de sintomas de humor e taxas de re-hospitalização, sendo, assim, indicada em monoterapia para pacientes com refratariedade a outros medicamentos. A associação mais indicada é risperidona + carbonato de lítio. Reavaliar o paciente em 2 semanas observando a resposta ao tratamento antes de pensar em trocar associação. 1ª opção Risperidona Carbonato de lítio 2ª opção Olanzapina Ácido valproico 3ª opção Haloperidol ou Quetiapiana Carbamazepina 4ª opção ------ Clozapina Em caso de necessidade de controle rápido da agitação, agressividade e falta de cooperação são fatores que influenciam a escolha do método de administração do medicamento. A 1ª opção é o medicamento via oral, só depois pensamos em tratamento IM. 2. Tratamento de episódio depressivo O objetivo primário é a remissão dos sintomas depressivos e o tempo de tratamento da fase aguda é de 8-24 semanas. A terapia mais eficaz é a monoterapia com um estabilizador de humor. Apenas o carbonato de lítio (1ª opção), lamotrigina e quetiapina (2ª opção) são considerados de 1ª linha. O uso de antidepressivos ISRS só pode ser cogitado se utilizado em associação: fluoxetina + carbonato de lítio, olanzapina ou ácido valproico. A avaliação da respostaclínica, feita pela monitorização da melhora dos sintomas depressivos, deve ser feita em até 4-6 semanas, antes da troca por outro fármaco. 1ª opção Carbonato de lítio 2ª opção Quetiapina 3ª opção Lamotrigina 4ª opção Olanzapina + fluoxetina Carbonato de lítio + fluoxetina Acido valproico + fluoxetina 3. Tratamento de manutenção O objetivo primário é a prevenção de novos episódios de humor e o tempo de tratamento não pode ser previamente determinado, pois varia com cada situação. De forma a minimizar efeitos adversos e facilitar a adesão, é prudente reduzir o número de medicamentos sempre que possível na fase, mas a monoterapia pode ser insuficiente para prevenção de novos surtos. Os antidepressivos ISRS devem ser gradativamente suspensos após 6-8 semanas de remissão dos sintomas; exceto em pacientes com inúmeras recorrências depressivas. Idealmente, o tratamento é a monoterapia utilizando estabilizadores de humor ou antipsicóticos: carbonato de lítio (1ª opção), ácido valproico, lamotrigina (só pode ser usada se em associações), olanzapina, quetiapina, risperidona, carbamazepina e clozapina. ❖ Critérios de exclusão e esquemas de administração Devem ser observados as contraindicações e o risco-benefício dos diferentes medicamentos. Cabe ressaltar que as contraindicações absolutas excluem o paciente do uso do medicamento, enquanto as relativas devem ter o risco-benefício avaliado pela equipe assistente. CARBONATO DE LÍTIO Dose inicial 300 mg/dia Faixa terapêutica 300-1800 mg/dia, dose única à noite Incremento 300 mg a cada 2 dias até chegar a 900 mg Dose máxima 1800 mg/dia (nível sérico 0,6-1,2 mEq/L) Efeito adverso náusea, vômitos, dor epigástrica, boca seca, gosto metálico, diarreia, ganho de peso, tremores finos, cansaço, cefaleia, hipotireoidismo e exacerbação da psoríase e acne Contraindicações absolutas: Insuficiência renal grave Bradicardia sinusal Arritmias ventriculares graves Insuficiência cardíaca congestiva Hipersensibilidade ao fármaco. Contraindicações relativas: hipotireoidismo Gravidez. ACIDO VALPROICO Dose inicial 250 mg/dia Dose terapêutica 250-2.000 mg/dia dose única à noite Incremento 250 mg a cada 2 dias até chegar a 750 mg Dose máxima 2000 mg/dia (nível sérico 50-125 mcg/mL) Efeito adverso Náusea, vômitos, cólicas abdominais, anorexia, diarreia, indigestão, aumento do apetite, ganho de peso, sedação, tremores, queda de cabelo, trombocitopenia, elevação das ALT/TGP e AST/TGO. Contraindicações absolutas: insuficiência hepática grave, Hipersensibilidade ao fármaco Doenças do ciclo da ureia Gravidez (é teratogênico) Contraindicações relativas: hepatopatia leve. CARBAMAZEPINA Dose inicial 200 mg/dia Dose terapêutica 200-1.000 mg/dia dose única à noite. Incremento 200 mg a cada 2 dias até chegar a 600 mg Dose máxima 1000 mg/dia (nível sérico 8-12 mcg/mL) Efeito adverso Boca seca, vômitos, anorexia, constipação, dor abdominal, tonturas, cefaleia, ataxia, sonolência, visão borrada, rash cutâneo. Contraindicações absolutas: doenças de origem hematopoética Insuficiência hepática Histórico de agranulocitose Histórico de alergia a carbamazepina Mulheres 1º trimestre de gravidez Hipersensibilidade ao fármaco. Contraindicações relativas: doenças cardiovasculares Glaucoma Retenção urinária LAMOTRIGINA Dose inicial 25 mg/dia Dose terapêutica 25-200 mg/dia, dose única à noite Incremento 25 mg/dia a cada 2 semanas nas primeiras 4 semanas Aumento para 100 mg/dia na 5ª semana. Dose máxima 300 mg/dia Efeito adverso Boca seca, náusea, vômitos, diplopia, tonturas, ataxia, visão borrada, cefaleia, irritabilidade, sonolência, tremores, astenia, insônia, rashmaculopapular, artralgia Contraindicações absolutas: hipersensibilidade ao fármaco Prejuízo de função hepática (AST/TGO e ALT/TGP) História de doença hepática Contraindicações relativas: Não há. RISPERIDONA Dose inicial 1 mg/dia Dose terapêutica 1-6 mg/dia, dose única à noite Incremento 1 mg/dia até chegar à dose-alvo Dose máxima 8 mg/dia Efeito adverso Sonolência, aumento do apetite, fadiga, sialorreia, constipação, xerostomia, tremor, distonia, vertigem, efeitos extrapiramidais Contraindicações absolutas: hipersensibilidade ao fármaco Síndrome neuroléptica maligna Discinesia tardia Contraindicações relativas: prolongamento do intervalo QT no ECG Doença cardio-cerebrovascular+hipotensão ortostática Hipotermia ou hipertermia Diagnóstico prévio de câncer de mama Tumor prévio dependente de prolactina Insuficiência renal ou hepática Doença de Parkinson História de convulsão ou epilepsia História de tumor cerebral Gravidez ou lactação Hiperprolactinemia QUETIAPINA Dose inicial 25 mg/dia Dose terapêutica Depressão 300-600 mg/dia Mania 600-800 mg/dia Incremento 25-50 mg/dia até dose alvo Dose máxima 800 mg/dia Efeito adverso Tontura, sonolência, boca seca, elevação dos níveis de triglicerídeos séricos, elevação do colesterol total, aumento de peso, constipação, hipotensão. Contraindicações absolutas: hipersensibilidade ao fármaco. Contraindicações relativas: obesidade Cintura > 94 cm HAS Dislipidemia DM ou resistência insulínica Câncer de mama Doenças cardiovasculares ou cerebrovasculares Desidratação e hipovolemia Insuficiência hepática ou renal Hipotireoidismo História de convulsões Catarata Parkinson + falência autonômica periférica OLANZAPINA Dose inicial 5 mg/dia Dose terapêutica 5-20 mg/dia, dose única à noite Incremento 5 mg/dia até chegar à dose-alvo Dose máxima 20 mg/dia Efeito adverso Aumento de peso, aumento transitório assintomático das ALT/TGP e AST/TGO, sedação, sonolência. Contraindicações absolutas: hipersensibilidade ao fármaco. Contraindicações relativas: obesidade ou cintura >94cm HAS, dislipidemia, DM ou resistência insulínica Tumor cerebral ou mama EpilepsiaGlaucoma Íleo paralítico Hiperplasia prostática Doenças cardíacas ou cerebrovasculares Condições que predisponham à hipotensão Risco de pneumonia de aspiração História de síndrome neuroléptica maligna Gravidez ou lactação Idade < 18 anos CLOZAPINA Dose inicial 25 mg/dia Dose terapêutica 300-400 mg/dia, dose única à noite Se >400 mg deve ser 12/12 horas. Incremento 25 mg a cada 1-2 dias até 300-400 mg/dia Dose máxima 800 mg/dia Efeito adverso Sialorreia, sonolência, tontura, ganho de peso, taquicardia, constipação intestinal Contraindicações absolutas: leucócitos < 3.550/mm3 Neutrófilos < 2.000/mm3 Doenças mieloproliferativas Uso de agentes mielossupressores História de agranulocitose com clozapina Depressão SNC ou coma História de miocardite por clozapina Doenças hepáticas ou cardíacas graves Hipersensibilidade ao medicamento Epilepsia não controlada Contraindicações relativas: Epilepsia Doenças hepáticas ou cardíacas graves Lactação HALOPERIDOL Contraindicações absolutas: síndrome neuroléptica maligna Discinesia tardia Contraindicações relativas: depressão grave do sistema nervoso central DPOC Síndrome de Sjögren Transtornos convulsivos Diagnóstico prévio de CA de mama Tumor dependente de prolactina Bexiga neurogênica Hipertrofia de próstata Gravidez e amamentação Doença de Parkinson FLUOXETINA Dose inicial 20 mg/dia Dose terapêutica 20-40 mg, dose única pela manhã. Incremento 20 mg a cada 1-2 semanas Dose máxima 80 mg/dia Efeito adverso Náusea, cefaleia, diminuição do apetite, dor abdominal, insônia, nervosismo, sudorese excessiva. Contraindicações absolutas: hipersensibilidade ao fármaco. Contraindicações relativas: história prévia de virada maníaca induzida por antidepressivo, em especial em caso de vigência de uso de estabilizador de humor ou antipsicótico. ❖ Monitorização O risco de toxicidade por lítio aumenta consideravelmente com nível sérico > 1,5 mEq/L. Sintomas de toxicidade do lítio incluem: ▪ Perda de equilíbrio ▪ Diarreia profusa ▪ Vômitos ▪ Anorexia ▪ Fraqueza ▪ Ataxia ▪ Visão borrada e zumbido ▪ Poliúria ▪ Tremor grosseiro e contrações musculares ▪ Irritabilidade e agitação Sonolência, psicose, desorientação, convulsões, coma e insuficiência renal também podem ocorrer em casos mais graves de intoxicação, sendo que litemia > 3,5 mEq/L é potencialmente fatal. É importante lembrar que o nível sérico pode ser afetado por outros medicamentos (diuréticos, inibidores da enzima conversora da angiotensina, anti-inflamatórios não esteroidais), devendo-se evitar essas associações, assim como condições que alterem a função renal. Para monitorização dos efeitos adversos, devem ser repetidas as medidas antropométricas e de PA em 3, 6 e 12 meses. Os exames de monitorização são os seguintes: MONITORIZAÇÃO LITIO Trimestral→ Creatinina e uréia Semestral→ TSH, cálcio sérico, litemia ACIDO VALPROICO Trimestral→ Hemograma, ALT/TGP e AST/TGO Semestral→ Nível sérico CARBAMAZEPINA Mensal→ Hemograma, ALT/TGP, AST/TGO Creatinina, ureia Na+ e K+ *3 primeiros meses Semestral→ Nível sérico Anual→ Mesmo do mensal LAMOTRIGINA Anual→ Hemograma, AST/TGO e ALT/TGP CLOZAPINA Semanal→ Hemograma (18 primeiras semanas) Trimestral→ Glicemia em jejum e perfil lipídico *Durante 1º ano Anual→ Glicemia em jejum, perfil lipídico e ECG Prolactina (se alterações)
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