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CID-10 DSM-5 1 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro Transtornos de Personalidade Introdução Indivíduos com distúrbios de personalidade estão entre os usuários mais assíduos dos serviços de emergência, representando, para o médico, casos bastante complexos, confusos e que consomem muito tempo e energia. O correto diagnóstico e a abordagem desse tipo de paciente são fundamentais para que o seu comportamento não influencie a avaliação e a conduta objetiva do caso. Definição e sintomas do transtorno de personalidade: 1. Definição: de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), esse agrupamento compreende diversos estados e tipos de comportamento clinicamente significativos que tendem a persistir e são a expressão característica da maneira de viver do indivíduo e de seu modo de estabelecer relações consigo próprio e com os outros. Alguns desses estados e tipos de comportamento aparecem precocemente durante o desenvolvimento individual, enquanto outros são adquiridos mais tardiamente durante a vida. Eles representam desvios extremos ou significativos das percepções, dos pensamentos, das sensações e sobretudo das relações com os outros em comparação àquelas de um indivíduo médio de dada cultura. Tais tipos de comportamento são, em geral, estáveis e englobam múltiplos domínios da conduta e do funcionamento psicológico. Com frequência, estão associados a sofrimento subjetivo e a comprometimento de intensidade variável do desempenho social; 2. Sintomas: iniciam-se na adolescência e continuam por toda a vida adulta, podendo ser atenuados na velhice. Em graus variados, o distúrbio influencia todas as facetas da personalidade, incluindo cognição, humor, comportamento e relacionamento interpessoal. No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), diferentemente da CID-10, os transtornos da personalidade estão reunidos em três grupos, com base em semelhanças descritivas. ➢ Grupo A – inclui os transtornos da personalidade paranoide, esquizoide e esquizotípica. Indivíduos com esses transtornos frequentemente parecem esquisitos ou excêntricos. ➢ Grupo B – inclui os transtornos da personalidade antissocial, borderline, histriônica e narcisista. Indivíduos com esses transtornos costumam parecer dramáticos, emotivos ou erráticos. ➢ Grupo C – inclui os transtornos da personalidade evitativa, dependente e obsessivo-compulsiva. Indivíduos com esses transtornos com frequência parecem ansiosos ou medrosos. Deve-se observar que esse sistema de agrupamento, embora seja útil em algumas pesquisas, apresenta sérias limitações e não foi consistentemente validado. É também bastante frequente que pessoas apresentem diagnóstico ou características de mais de um transtorno de personalidade. Epidemiologia Estimativas de prevalência para os diferentes grupos no DSM-5 sugerem 5,7% para os transtornos do grupo A, 1,5% para os do grupo B e 6% para os do grupo C, com 9,1% para qualquer transtorno da personalidade, indicando concomitância frequente de transtornos de grupos diferentes. Dados do National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions, de 2001-2002, sugerem que cerca de 15% dos adultos dos Estados Unidos apresentam pelo menos um transtorno da personalidade. Definição O distúrbio de personalidade resulta de interações complexas entre constituição pessoal, temperamento, experiências pessoais, relacionamento familiar e oportunidades de aquisição de modelos comportamentais (fatores constitucionais e ambientais). São condições médicas mais comuns que podem causar alteração na personalidade: CID-10 DSM-5 2 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro 1. Epilepsia; 2. Doenças endócrinas; 3. Doenças cerebrovasculares; 4. AIDS; 5. Traumatismos cranianos; 6. Tumores cerebrais; 7. Esclerose múltipla; 8. Doença de Huntington; 9. Envenenamento por metais pesados (manganês, mercúrio); 10. Neurossífilis Tipos de Transtornos Segundo a CID-10, os transtornos de personalidade são agrupados em: Paranoide 1. Excessiva sensibilidade em ser desprezado; 2. Tendência a guardar rancores, recusando-se a perdoar insultos, injúrias ou injustiças cometidas; 3. Interpretações errôneas de atitudes neutras ou amistosas de outras pessoas, tendo respostas hostis ou desdenhosas; 4. Tendência a distorcer os atos dos outros; 5. Combativo e obstinado senso de direitos pessoais em desproporção à situação real; 6. Repetidas suspeitas injustificadas relativas à fidelidade do parceiro conjugal; 7. Tendência a valorizar-se em excesso; 8. Preocupações com fofocas, intrigas e conspirações infundadas, com base nos acontecimentos circundantes. As palavras-chave do transtorno paranoide são desconfiança, rancor e ciúme. Esquizoide 1. Pouca ou nenhuma atividade produz prazer; 2. Frieza emocional, afetividade distante; 3. Capacidade limitada de expressar sentimentos calorosos, ternos ou de raiva para com os outros; 4. Indiferença a elogios ou críticas; 5. Pouco interesse em relações afetivas ou sexuais; 6. Preferência quase invariável por atividades solitárias; 7. Tendência à vida introspectiva e fantasias pessoais; 8. Falta de amigos íntimos e de interesse em fazer amizades; 9. Insensibilidade a normas sociais predominantes, como atitude respeitosa para com idosos ou com aqueles que perderam uma pessoa querida recentemente. CID-10 DSM-5 3 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro As palavras-chave do transtorno esquizoide são distância emocional, solidão e indiferença. Antissocial 1. Atitude de desrespeito por normas, regras e obrigações sociais de forma persistente; 2. Estabelecimento de relacionamentos com facilidade, principalmente quando é do seu interesse, mas com dificuldade em mantê-los; 3. Baixa tolerância à frustração e fácil “explosão” em atitudes agressivas e violentas; 4. Incapacidade de assumir a culpa pelo que fez de errado ou de aprender com as punições; 5. Tendência a culpar os outros ou defender-se com raciocínios lógicos, porém improváveis. As palavras-chave do transtorno antissocial são violação de regras, mentira e ausência de aprendizado com punição. Histriônico 1. Busca frequente por elogios, aprovações e reafirmações dos outros em relação ao que faz ou pensa; 2. Comportamento e aparência sedutores e inadequados na esfera sexual; 3. Preocupação com aparência e atratividade físicas; 4. Expressão de emoções com exagero inadequado, como ardor excessivo no trato com desconhecidos, acessos de raiva incontrolável, choro emotivo em situações de pouca importância; 5. Desconforto nas situações em que não é o centro das atenções; 6. Emoções, apesar de intensamente expressadas, superficiais e que mudam facilmente; 7. Imediatismo, pouca tolerância a adiamentos e atrasos; 8. Estilo de conversa superficial e vago, com dificuldades para detalhar o que pensa. As palavras-chave do transtorno histriônico são teatralidade, emotividade e busca por atenção. Borderline ou emocionalmente instável 1. Padrão de relacionamento instável, que varia rapidamente entre grande apreço por certa pessoa para logo depois desprezá-la; 2. Comportamento impulsivo, principalmente quanto a gastos financeiros, sexual, abuso de substâncias psicoativas, pequenos furtos, irresponsabilidade ao volante; 3. Rápida variação das emoções, passando de um estado de irritação para angústia e, depois, para depressão (não necessariamente nessa ordem); 4. Sentimento de raiva frequente e falta de controle desse sentimento, chegando a lutas corpóreas; 5. Comportamento suicida ou automutilante; 6. Sentimentos persistentes de vazio e tédio; 7. Dúvidas a respeito de si mesmo, de sua identidade como pessoa, de seu comportamento sexual, de sua carreira profissional. As palavras-chave do transtorno borderlinesão sensação de vazio, instabilidade, suicídio e automutilação. CID-10 DSM-5 4 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro Obsessivo (anancástico) 1. Perfeccionismo que pode atrapalhar o cumprimento das tarefas, porque, muitas vezes, o indivíduo se detém nos detalhes enquanto atrasa o essencial; 2. Insistência em que as pessoas façam as coisas a seu modo ou preferência por fazer tudo por achar que os outros o farão errado; 3. Excessiva devoção ao trabalho em detrimento das atividades de lazer e da família; 4. Expressividade afetiva fria; 5. Comportamento rígido (não se acomoda ao comportamento dos outros) e insistência irracional (teimosia); 6. Excessivo apego a normas sociais em ocasiões de formalidade; 7. Relutância em desfazer-se de objetos por achar que serão úteis algum dia (mesmo sem valor sentimental); 8. Indecisão constante, prejudicando seu próprio trabalho ou estudo; 9. Consciência e escrúpulo excessivos com relação às normas sociais. As palavras-chave do transtorno anancástico são perfeccionismo, indecisão e rigidez Ansioso (evitação/esquiva) 1. Fácil ofensa por críticas e desaprovações; 2. Ausência de costume de ter amigos íntimos, além dos parentes mais próximos; 3. Aceitação de relacionamento apenas quando tem certeza de que é querido; 4. Fuga de atividades sociais ou profissionais em que o contato com outras pessoas seja intenso, mesmo que venha a ter benefícios com isso; 5. Sentimentos de tensão e apreensão enquanto está exposto socialmente; 6. Exagero nas dificuldades, nos perigos envolvidos em atividades comuns, porém fora da rotina. Por exemplo, cancelamento de encontros sociais por achar que estará muito cansado, antes de chegar. As palavras-chave do transtorno de evitação são insegurança, fácil ofensa e tensão social. Dependente 1. Incapacidade de tomar decisões do dia a dia sem uma excessiva quantidade de conselhos ou reafirmações de outras pessoas; 2. Permissão para que outras pessoas decidam aspectos importantes de sua vida, como onde morar, que profissão exercer; 3. Submissão de suas próprias necessidades às dos outros; 4. Preferência por não fazer exigências, ainda que em seu direito; 5. Sentimento de desamparo quando sozinho, por medos infundados; 6. Medo de ser abandonado por quem possui relacionamento íntimo; 7. Fácil ofensa por crítica ou desaprovação. As palavras-chave do transtorno dependente são sensação de desamparo, submissão e medo do abandono. CID-10 DSM-5 5 PSIQUIATRIA | INTERNATO | Eva Gabryelle Vanderlei Carneiro O transtorno de personalidade é diagnosticado quando o funcionamento do paciente é de tal maneira danoso, prejudicando a si mesmo ou às pessoas ao seu redor. Tratamento Psicoterápico O tratamento psicoterápico deve sempre ser indicado e incentivado. Independentemente do tipo de psicoterapia (psicodinâmica, de suporte ou cognitivo-comportamental), é o tratamento que mais beneficia o paciente, melhorando seu comportamento em médio e longo prazos. Medicamentoso O tratamento medicamentoso é reservado para emergências e comorbidades com doenças psiquiátricas (ansiedade, transtornos de humor e psicoses).
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