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– 1 • Introdução s A Dispepsia Funcional (DF) é uma SÍNDROME (conjunto heterogêneo de sinais e sintomas dispépticos crônicos) originada da região GASTRODUODENAL na ausência de doença estrutural ou metabólica. Frequentemente está associada a diferentes distúrbios FISIOPATOLÓGICOS, incluindo anormalidades da função gástrica motora, hipersensibilidade visceral, úlcera péptica, Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE), gastrite, neoplasias. No caso da dispepsia funcional, o diagnóstico se dá a partir de uma avaliação completa em um paciente que apresenta dispepsia e não se consegue identificar uma causa orgânica para os seus sintomas. • Possíveis Fisiopatologias ➔ Função Motora Gástrica – anormalidades na função motora podem determinar GASTROPARESIA, causando a retenção da comida na porção DISTAL do estômago e, consequentemente, causando a DISTENSÃO. o Sintomas: náuseas/vômitos, saciedade precoce, perda de peso, plenitude. A gastroparesia e o esvaziamento gástrico lento são condições em que NÃO HÁ OBSTRUÇÃO MECÂNICA, mas há lentidão na motilidade – presente em até 30% dos pacientes com DF!! ➔ Hipersensibilidade Visceral – a diminuição do limiar de percepção da dor devido à distensão gástrica (por distensão dos mecanorreceptores) causa uma hipersensibilidade gástrica! Além disso, há o processamento anormal das aferências medulares. ➔ Infecção por H. pylori – é, sabidamente, a causa de GASTRITE CRÔNICA, embora se saiba que a gastrite parece NÃO SER CAUSA dos sintomas de pacientes com dispepsia funcional!! Provavelmente, o H. pylori causa dispepsia pelo processo inflamatório desencadeado, pela atividade muscular gástrica ou por diminuição da sensibilidade gástrica aos estímulos. A erradicação da H. pylori na dispepsia funcional causa benefícios DISCRETOS. ➔ Fatores Psicossociais – transtornos depressivos, de somatização e de ansiedade estão aumentados na população com DF. • Manifestações Clínicas Segundo os critérios de Roma IV, a dispepsia engloba duas síndromes clínicas diferentes: SÍNDROME DA DOR EPIGÁSTRICA e SÍNDROME DO DESCONFORTO PÓS-PRANDIAL – essas síndromes, muitas vezes, podem se SOBREPOR. o Síndrome da dor epigástrica – caracterizada por DOR EPIGÁSTRICA intermitente com ausência de irradiação ou generalização, pelo menos UMA VEZ NA SEMANA, e que NÃO MELHORA com a defecação ou eliminação de flatos. – 2 o Síndrome do desconforto pós-prandial - Decorrente de ALTERAÇÃO NA MOTILIDADE E/OU NA ACOMODAÇÃO GÁSTRICA; caracterizada por saciedade precoce, sensação de plenitude pós- prandial e aumento da eructação. Diagnóstico de Dispepsia Funcional É um diagnóstico de EXCLUSÃO, i.e., só é estabelecido quando as outras condições mais comuns causadoras de dispepsia forem eliminadas! Dentre os diagnósticos que precisam ser considerados: ➔ Doença Ulcerosa Péptica – os sintomas ocorrem 2 a 5h após as refeições de na vigência de estômago vazio. A característica da dor é semelhante à sensação de FOME ou em QUEIMAÇÃO. Há períodos sintomáticos (por semanas) e períodos assintomáticos (por semanas a meses). O diagnóstico diferencial poderá ser feito com certeza pela Endoscopia Digestiva Alta (EDA) com biópsia, uma vez que TODOS OS SINTOMAS DE DOENÇA ULCEROSA PODEM OCORRER NA DF. ➔ DRGE – sintomas mais comuns são queimação retroesternal e regurgitação. Podem haver manifestações extraesofágicas (pigarro, rouquidão, tosse crônica). O diagnóstico é dado por EDA com presença de ESOFAGITE PÉPTICA PELO REFLUXO. ➔ Malignidade Gástrica – é uma CAUSA INCOMUM de DF. Pode apresentar emagrecimento inexplicável, vômitos, disfagia, odinofagia, hematêmese. Diagnóstico por EDA. ➔ Dor Biliar – episódio agudo de EPIGASTRALGIA ou DOR EM QSD com duração de, pelo menos, 1 hora, podendo irradiar-se para a região escapular. Diagnóstico por US Abd. ➔ Dor Pancreática – Pacreatite crônica ou CA de pâncreas podem causar sintomas confundíveis com DISPEPSIA. A diferença é que esses pacientes apresentam dor MUITO MAIS SEVERA e, muitas vezes, IRRADIADA PARA O DORSO. Diagnóstico TC ou RM ABD. ➔ Dispepsia Induzida por Drogas – a mais conhecida é a por AINES – alendronato, bloqueadores do canal de cálcio, eritromicina, metronidazol ➔ DM – pode cursar com PLENITUDE PÓS PRANDIAL, NÁUSEAS, VÔMITOS e GASTROPARESIA – a epigastralgia pode ser decorrente da RADICULOPATIA DO NERVO TORÁCICO ➔ Isquemia Cardíaca – epigastralgia associada aos esforços! – 3 • Tratamento As medidas primordiais incluem EDUCAÇÃO ALIMENTAR, principalmente no que diz respeito à realização de refeições mais frequentes e em menor quantidade. Além disso, quanto ao conteúdo do alimento, sabe-se que os lipídios no duodeno causam um AUMENTO DA SENSIBILIDADE GÁSTRICA, sendo, portanto, indicado a diminuição desse tipo de macronutrientes; alimentos apimentados contendo capsaicina também são desaconselhados; evitar AINEs; evitar cafeína, álcool. ➔ Medidas Farmacológicas o Para DF com epigastralgia – bloqueadores dos receptores H2 e os Inibidores de Bomba de Prótons (IBP) por 1 a 2 meses. o Para DF de plenitude pós prandial - A domperidona 10mg 12/12h é um procinético para a DP do tipo plenitude pós prandial, pois tem menor toxicidade em comparação à metoclopramida e à cisaprida. o Antidepressivos Tricíclicos e a fluoxetina se mostraram eficazes - Os antidepressivos são comumente utilizados para o tratamento dos transtornos gastrointestinais funcionais que não respondam às abordagens iniciais convencionais. Embora as revisões sistemáticas sugiram que os ansiolíticos e antidepressivos, especialmente os antidepressivos tricíclicos, possam ter algum benefício em pacientes com transtornos gastrointestinais funcionais, incluindo a dispepsia funcional (redução de 45% no risco relativo), os ensaios disp01úveis são pequenos e de má qualidade e não se pode afastar um viés de publicação. o Erradicação da H. pylori – há pequena evidência estatística de que a erradicação da bactéria em pacientes com DF pode causa melhora dos sintomas disfuncionais – caso a erradicação seja efetiva por 6 meses ou mais. o Inibidores da Bomba de Prótons – de acordo com diversos ensaios clínicos comparativos de placebo e IBP, estes foram estabelecidos como efetivos para o tratamento da DF, mas vale destacar que os IBPs não são eficazes para o ALÍVIO AGUDO DOS SINTOMAS. Tanto os inibidores da bomba de prótons quanto os fármacos procinéticos podem ser utilizados como farmacoterapia inicial. O padrão de sintoma pode ajudar a determinar a escolha da terapia inicial mais apropriada, mas a mudança da classe do medicamento é aconselhável em caso de uma resposta terapêutica insuficiente o Drogas Procinéticas – em comparação ao placebo, essas drogas se mostraram efetivas com redução do risco relativo de 33% - esses estudos foram decorrentes de uso concomitante com domperidona e cisaprida. Isoladamente, os procinéticos sem efeitos antieméticos centrais ACELERAM o esvaziamento gástrico por induzirem a MOTILIDADE GASTRODUODENAL no período pos-prandial → são MENOS EFETIVOS que terapias combinadas de PROCINÉTICOS + ANTIEMÉTICOS – 4 Referências • SILVERTHORN, D.U. Fisiologia Humana. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2010 • Tratado de Gastroenterologia - Da Graduação à Pos-Graduação, Schilioma Zaterka, Jayme Natan Eisig, eds. 2ª ed, São Paulo: Editora Atheneu, 2016. • Transtornos Gastrointestinais Funcionais: Critérios de Roma IV – lactentes, escolares e adolescentes. IGASTROPED, 5 dez. 2018. Disponível em: <https://www.igastroped.com.br/transtornos-gastrointestinais-funcionais-criterios-de-roma- iv-lactentes-escolares-e-adolescentes/>. Acesso em: 8 abr. 2021 https://www.igastroped.com.br/transtornos-gastrointestinais-funcionais-criterios-de-roma-iv-lactentes-escolares-e-adolescentes/ https://www.igastroped.com.br/transtornos-gastrointestinais-funcionais-criterios-de-roma-iv-lactentes-escolares-e-adolescentes/
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