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RESPONSABILIDADE CIVIL Aula 04 – DANO MATERIAL – Dano Emergente, Lucros Cessantes e Perda de uma Chance Professor Fabio Pereira • O inadimplemento voluntário dá direito ao por ele prejudicado em pleitear perdas e danos. O dano material constitui forma de indenização e compreendem os danos emergentes e os lucros cessantes (utilitas intecepta, causa rei) cujos conceitos romanos coincidem com os atualmente adotados pelo Direito brasileiro. • Paulo Nader (2010, p. 455 e ss.) ensina que entre o incumprimento, as perdas e danos e a indenização há nexos que devem ser estabelecidos para a devida compreensão dos princípios jurídicos aplicáveis à matéria: • As perdas e danos pressupõem sempre o inadimplemento e requerem indenização. • Nem todo inadimplemento provoca perdas e danos e quando tais fatos não ocorreram não há que se cogitar de indenização. • Pode-se verificar o incumprimento seguido pelas perdas e danos, mas sem que da associação resulte uma indenização, pois esta pressupõe a culpa do devedor, nem sempre existente. • Para que o incumprimento se transforme em ressarcimento é necessário que haja perdas e danos, que não são meramente presumíveis, mas devem ser verificáveis, concretos, quantificados pecuniariamente. • Fundamental, também, para indenizar é o nexo de causalidade entre o incumprimento e os prejuízos sofridos. • Então, as perdas e danos, conforme determina o art. 402, CC, abrangem além do que o credor efetivamente perdeu (danos emergentes), o que razoavelmente deixou de lucrar (lucros cessantes), salvo as exceções expressas em lei. Regra que está diretamente relacionada aos arts. 186, 187 e 927, CC, que tratam da responsabilidade extracontratual, bem como à responsabilidade negocial (decorrente do descumprimento de uma obrigação). • Explicam Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 435) que “o dano representa uma lesão em qualquer bem jurídico, seja ele patrimonial ou extrapatrimonial. No Direito das Obrigações, o dano equivale ao prejuízo suportado por uma das partes, em virtude do descumprimento do dever especial de prestar. O inadimplemento gera o dever de indenizar, sendo a reparação completa por envolver todo o prejuízo experimentado pelo lesado, de forma a reconstituir situação semelhante à que se encontraria antes da ofensa. A indenização dos danos proporcionará uma compensação em prol de quem sofreu um menoscabo, representando uma exigência de justiça comutativa”. • Assim, danos emergentes (damnum emergens) são os efetivos prejuízos advindos da inexecução da dívida e que implicam a diminuição do patrimônio. São também denominados danos positivos e caracterizam o efetivo prejuízo que causa decréscimo no patrimônio, por isso, devem ser certos e atuais para serem indenizáveis. • Danos atuais são os que já existem ou existiram; danos certos são os que decorrem de um fato preciso. No entanto, vale lembrar, que são também indenizáveis os danos futuros, ou seja, aqueles que são certos, mas ainda não estão definidos quando da propositura da ação indenizatória. Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 435) ainda afirmam que “o dano que deva ser ressarcido demanda a presença de dois elementos: um de fato, que se manifesta pelo prejuízo; e outro de direito, consubstanciado pela lesão jurídica”, não sendo possível qualquer ressarcimento se não verificados conjuntamente esses elementos. • Lembre-se, ainda, que os danos morais (lesão aos direitos de personalidade) e materiais (lesão ao patrimônio) podem ser cumulados e sua quantificação se fará pela extensão do dano (e não da culpa, que será utilizada apenas como critério de proporcionalidade, art. 944, parágrafo único, CC). • Já os lucros cessantes (lucrum cessans) se configuram pela perda potencial do patrimônio, por isso, são também denominados danos negativos. Para serem indenizáveis devem ser pelo menos previstos ou previsíveis quando se formou a relação obrigacional, uma vez que se trata de frustração da expectativa de lucro (art. 403, CC). • A aferição dos lucros cessantes deve ser feita em total acordo com a realidade uma vez que a responsabilidade do devedor não deve ir além do que se podia prever para o caso do descumprimento. A indenização deve alcançar, tão-somente, os efeitos diretos do inadimplemento. Assim, não se pode indenizar prejuízos meramente teóricos ou de remota probabilidade. • Sobre a redação dada ao art. 403, CC (Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.), afirmam Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves de Farias (2008, p. 439) que: • “sendo certo que as teorias da equivalência dos antecedentes causais e do dano direto e imediato se mostram extremadas, a doutrina concebeu uma tese intermediária, capaz de deliberar a tormentosa questão do nexo causal. Neste sentido, forte impulso adquire a teoria da causalidade adequada. Esta teoria exprime a lógica do razoável, pois haverá nexo causal em toda situação que, pela ordem natural das coisas, a conduta do agente adequadamente poderia produzir o dano. Se o magistrado observar que a lesão foi determinada por um acontecimento normalmente previsível pelas regras da experiência comum, certamente responsabilizará o ofensor pela teoria da causalidade adequada”. • Lembre-se, por fim, que ao credor caberá o ônus da prova (salvo se relação de consumo) do incumprimento da obrigação e dos prejuízos sofridos. Ao devedor cabe demonstrar ausência de culpa ou negar os prejuízos. Teoria da perda de uma chance • É teoria desenvolvida na França que caracteriza a perda de uma chance como um tipo especial de dano. Vera Fradera, citada por Branco, afirma: “a perda de uma chance concretiza-se quando determinado acontecimento não ocorreu, mas poderia ter ocorrido, por si mesmo ou através de intervenção de terceiro. O evento teria sido possível, mas a atuação do médico tornou-o impossível, provocou a perda de uma chance”. • Pode-se dar como exemplo, o médico que não diagnostica a existência de um câncer uterino em uma paciente, que tardiamente o descobre pela intervenção de outro médico especialista. Assim a possibilidade de cura do câncer quando no seu estágio inicial se perdeu, pois não diagnosticado em sua origem. Neste caso, a imperícia ou a negligência médica eliminou a chance de cura e de sobrevivência da paciente. • É teoria ainda de pouca expressão nos tribunais brasileiros, embora já se possam encontrar diversas decisões que optaram pela sua aplicabilidade, reconhecendo-se como indenizável algo que está entre o dano certo e o dano hipotético. • Essa preocupação não tem passado despercebida pela jurisprudência, perfeitamente resumida na seguinte advertência realizada pela atual Ministra do Superior Tribunal de Justiça Nancy Andrighi, ao julgar o recurso especial de nº 965.758/RS, de sua relatoria: • “No mundo das probabilidades, há um oceano de diferenças entre uma única aposta em concurso nacional de prognósticos, em que há milhões de possibilidades, e um simples jogo de dados, onde só há seis alternativas possíveis. Assim, a adoção da teoria da perda da chance exige que o Poder Judiciário bem saiba diferenciar o improvável do quase certo, bem como a probabilidade de perda da chance de lucro, para atribuir a tais fatos as consequências adequadas”. • estará estabelecido o nexo causal sempre que se verificar um liame jurídico entre a conduta responsável por interromper a sequência natural dos fatos e a chance perdida, restando configurado que o primeiro evento é causa necessária do segundo. • Nesse sentido, transcreve-se a pertinente passagem do Recurso Especial nº 1.335.622/DF, da relatoria do Ministro Ricardo Villas Bôas Cuevas, que deu correto encerramento à matéria: • “Dessume-se, portanto, que é indiscutível que, no caso em apreço, o hospitalpode não ter causado diretamente o resultado morte, mas tinha a obrigação legal e não o impediu, privando a paciente de uma chance de receber um tratamento digno que, talvez, pudesse lhe garantir uma sobrevida. • Em suma, a omissão está em relação de causalidade não com o evento morte, mas com a interrupção do tratamento, ao qual tinha a obrigação jurídica de realizar, ainda que nunca se venha a saber se geraria resultado positivo ou negativo para a vítima.” • Vale lembrar que a perda de uma chance não pode ser equiparada ao lucro cessante uma vez que neste há uma probabilidade objetiva de que o resultado aconteceria, se não houvesse o dano. Na perda de uma chance essa expectativa é aleatória, ou seja, pode-se verificar um grau de probabilidade de obtenção da vantagem, mas não se pode afirmar que aconteceria se o fato antijurídico não tivesse se concretizado. Na perda de uma chance, portanto, há certeza da perda da ocasião, da oportunidade e é essa a causa geradora do dever de reparar.
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