Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 1/17 TEORIA DO CONHECIMENTO PENAL UNIDADE 1 INQUÉRITO POLICIAL TÓPICO 2 O Código de Processo Penal regulamenta a regra geral aplicada para todos os procedimentos penais do Brasil. Diz a regra geral porque pode haver exceções previstas em leis esparsas. Assim, esse dispositivo penal prevê todas as regras que devem ser seguidas pelo magistrado ou pelo delegado no momento da confecção do inquérito policial. E é sobre esse inquérito policial, essa peça instrutória do processo penal que iremos dedicar nosso estudo no Tópico 2, da Unidade 1. Vamos nessa? No momento da ocorrência de um delito, seja ele crime ou contravenção penal, surge para o Estado um poder-dever de punir o infrator, porém, em sua maioria, não é fácil essa aplicação da lei ao caso concreto, demandando do Estado um esforço para a elucidação do fato concreto em busca da verdade real. Para essa busca, o Estado possui instrumentos que possibilitam a realização deste seu poder-dever. Bon�m (2017, p. 130) a�rma que Essa atividade denominada “persecução penal” é o caminho que percorre o Estado- Administração para satisfazer a pretensão punitiva, que nasce no exato instante da perpetração da infração penal. A persecutio criminis divide-se em três fases: 1 INTRODUÇÃO - 2 PERSECUÇÃO PENAL - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 2/17 investigação preliminar (compreender a apuração da prática de infrações penais, com vistas a fornecer elementos para que o titular da ação penal possa ajuizá-la), ação penal (atuação junto ao Poder Judiciário, no sentido de que seja aplicada condenação aos infratores, realizando assim a concretização dos ditames do direito penal material diante de cada caso concreto que se apresentar) e a execução penal (satisfação do direito de punir estatal, reconhecido de�nitivamente pelo Poder Judiciário). Passaremos ao estudo da primeira fase, qual seja, o inquérito policial. O inquérito policial é o instrumento pelo qual a autoridade policial irá documentar todas as investigações realizadas no intuito de comprovar a materialidade a autoria do delito. Este instrumento reveste-se de características próprias, diversas da ação penal. Inquérito policial pode ser conceituado, segundo Nucci (2016, s.p.), como “O inquérito policial é um procedimento preparatório da ação penal, de caráter administrativo, conduzido pela polícia judiciária e voltado à colheita preliminar de provas para apurar a prática de uma infração penal e sua autoria”. Para Aury Lopes Jr. (2018, p. 119) constitui o conjunto de atividades concatenadamente por órgãos do Estado, a partir de uma notícia-crime, com caráter prévio e de natureza preparatória com relação ao processo penal, e que pretende averiguar a autoria e as circunstâncias de um fato aparentemente delituoso, com o �m de justi�car o processo ou o não processo. Então podemos criar juntos nosso conceito de inquérito policial, sendo este entendido como aquele procedimento pré-processual, iniciado com base em uma notícia de um suposto crime, que objetiva a colheita de todas as provas possíveis para �m de instrumentalizar uma possível ação penal, ou justi�car o seu não processamento. A natureza jurídica do inquérito policial é de procedimento administrativo. Como ressalta Bon�m (2017, p. 142) “ele não pode ser considerado processo porque ao investigado não é garantido a participação com ampla defesa e contraditório”. 3 INQUÉRITO POLICIAL - 3.1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS - 3.2 NATUREZA JURÍDICA - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 3/17 Natureza jurídica é aquilo que representa no mundo jurídico. Por isso a do inquérito policial é de procedimento pré-processual, porque ele é realizado em fase preliminar. Ele é considerado mera peça informativa, tendo que suas provas, para terem validade em juízo, serem repetidas possibilitando a aplicação da ampla defesa e contraditório, e é exatamente por isso que os tribunais são unânimes em determinar que os vícios do inquérito, em regra, não contaminam a ação penal. Devemos lembrar do estudo no Tópico 1, quando trabalhamos com os sistemas de processo, que o inquérito policial ainda é entendido como pertencente ao sistema inquisitório, e assim com essa informação mais nosso conceito, conseguimos perceber que as características deste inquérito policial serão diversas das características da ação penal. Então, vamos a elas: O inquérito policial é uma peça meramente informativa, que não irá produzir efeitos condenatórios e por isso não precisa respeitar os princípios do contraditório e da ampla defesa. Assim, durante o inquérito policial, o investigado ou indiciado não são considerados partes, e por isso são considerados como meros objetos da investigação. Inexiste nulidade do interrogatório policial por ausência do acompanhamento do paciente por um advogado, sendo que esta Corte acumula julgados no sentido da prescindibilidade da presença de um defensor por ocasião do interrogatório havido na esfera policial, por se tratar o inquérito de procedimento administrativo, de cunho eminentemente inquisitivo, distinto dos atos processuais praticados em juízo. (STJ, HC 162.149/MG, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, Quinta Turma, julgado em 24/4/2018, DJe 10/5/2018). 3.3 CARACTERÍSTICAS - 3.3.1 Inquisitivo - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 4/17 O inquérito policial poderá ser sigiloso, desde que seja necessário essa decretação do sigilo para a investigação do fato. Essa é a norma disciplinada no artigo 20 do CPP, que determina que “a autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade” (BRASIL, 1941). Em regra, esse sigilo não pode atingir a pessoa do defensor, em respeito ao exercício do direito de defesa, conforme a súmula vinculante nº 14 do STF: Súmula Vinculante 14 do STF: “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa” (BRASIL, 2009). Ele servirá de instrumento para provar o lastro probatório da ação penal. Re�ita que o juiz não pode admitir a abertura de uma ação penal sem um mínimo de provas de que aquele fato efetivamente aconteceu e que aquele que está sendo processado é seu provável autor. E é para preparar esse mínimo de prova necessário que serve o inquérito policial. Essa característica �ca muito clara na redação do artigo 12 do CPP, que determina que “O inquérito policial acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. (BRASIL, 1941) (grifo nosso). Ou seja, ele é pensado para que possa servir de base para a denúncia ou a queixa crime. A obrigatoriedade e dispensabilidade do inquérito policial tem que ser analisada sob dois ângulos. O primeiro é a obrigatoriedade da instauração do inquérito policial a partir do momento que a autoridade policial tenha ciência do cometimento de um delito através de qualquer meio, seja uma notitia criminis, ou não. Em se tratando de ação penal pública, é obrigatória a instauração do inquérito pela autoridade policial. O artigo 17, do CPP determina que “a autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito”, demonstrando assim a falta de discricionariedade da autoridade policial. E isso se dá por causa do entendimento que o destinatário do inquérito policial é o autor da ação penal e não a autoridade policial, porque – vamoslembrar – essa peça servirá de instrumento probatório para a peça crime inaugural. 3.3.2 Sigiloso - 3.3.3 Instrumental - 3.3.4 Obrigatório e dispensável - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 5/17 Agora veja, o inquérito é dispensável, porque a prova pode ter sido constituída de outra maneira, por exemplo, livros contábeis que já existem, sendo desnecessária a instauração do inquérito para a confecção deste instrumento probatório que neste caso já é pré-constituído. Agravo regimental em recurso extraordinário com agravo. 2. Jurisprudência do Supremo Tribunal pací�ca no sentido de que o inquérito policial é peça meramente informativa e dispensável e, com efeito, não é viável a anulação do processo penal em razão das irregularidades detectadas no inquérito, porquanto as nulidades processuais dizem respeito, tão somente, aos defeitos de ordem jurídica que afetam os atos praticados durante da ação penal. 4. Ausência de argumentos su�cientes para in�rmar a decisão recorrida. 5. Agravo regimental a que se nega provimento STF, RELATOR MIN. GILMAR MENDES, A G. REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 654.192 PARANÁ, Julgamento em : 22/11/2011, Disponível em: DJe 14/05/2012, Disponível em: �le:///C:/Users/ferna/Downloads/dispensavelSTF2.pdf. Acesso em: 30 mar. 2019. O inquérito policial serve apenas como lastro probatório para que a acusação possa apoiar a sua peça acusatória, seja ela uma denúncia ou queixa crime. Assim, embora nele constem vários atos de provas, elas não serão levadas em consideração pelo juiz no momento da prolação da sentença, mas sim, no momento do recebimento da peça crime acusatória, para saber se há indícios de autoria e provas da materialidade. Bon�m (2017, p. 142) a�rma que “O inquérito policial como se viu, é procedimento meramente informativo, destinado à investigação de um fato possivelmente criminoso e à identi�cação de seu autor; com vistas à obtenção de elementos su�cientes para a propositura de uma ação penal”. Assim, qualquer vício que possa vir a ser alegado da fase de inquérito policial não terá o condão de anular a ação penal, porque por ser peça meramente informativa e que não deve ser considerada para a prolação da sentença, não irá eivar de vício a respectiva ação penal. 3.3.5 Meramente informativo - 3.3.6 Forma escrita - Unidade 1 - Tópico 2 file:///C:/Users/ferna/Downloads/dispensavelSTF2.pdf 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 6/17 Por determinação expressa do artigo 9º, do CPP, “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade” (BRASIL, 1941). As características do inquérito policial são: inquisitivo, sigiloso, instrumental, obrigatório (sua instauração), dispensável (para a propositura da ação), meramente informativo e escrito. A atribuição para o inquérito policial é dos policiais civis dos Estados e da polícia federal. Isso porque o dispositivo 144 da CF determina que: 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). Art. 144 A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos: I- polícia federal; II- polícia rodoviária federal; III- polícia ferroviária federal; IV- polícias civis; V- polícias militares e corpos de bombeiros militares. I- apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II- prevenir e reprimir o trá�co ilícito de entorpecentes e drogas a�ns, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III- exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras; IV- exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). 3.4 TITULARIDADE - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 7/17 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares (BRASIL, 1988). V- exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. [...]. Em conjunto com o artigo 4º do Código de Processo Penal, que determina que “a polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por �m a apuração das infrações penais e da sua autoria”, conseguimos determinar que a atribuição para esse inquérito é da polícia federal e da polícia civil. Sobre essa competência Nucci (2016, s.p.) esclarece que: Portanto, cabe aos órgãos constituídos das polícias federal e civil conduzir as investigações necessárias, colhendo provas pré-constituídas para formar o inquérito, que servirá de base de sustentação a uma futura ação penal. O nome polícia judiciária tem sentido na medida em que não se cuida de uma atividade policial ostensiva (típica da Polícia Militar para a garantia da segurança nas ruas), mas investigatória, cuja função se volta a colher provas para o órgão acusatório e, na essência, para o Judiciário avaliar no futuro. A presidência do inquérito cabe à autoridade policial, embora as diligências realizadas possam ser acompanhadas pelo representante do Ministério Público, que detém o controle externo da polícia. Assim, não resta dúvida que a Constituição Federal atribui às polícias civis e federais a competência para a instauração e confecção do inquérito policial, com o objetivo de elucidar os fatos delituosos, comprovando sua materialidade e buscando indícios de sua autoria. Para a doutrina majoritária, o valor do inquérito policial é meramente de início de prova, sendo que para que a prova seja recebida e utilizada para a condenação, é necessário que essa prova seja realizada em juízo com todas as garantias para o acusado. Porém, a discussão se dá em torno das provas de difícil ou impossível repetição em juízo, como é o caso de provas periciais. Neste caso, a doutrina a�rma que o contraditório deverá ser diferido. Ou seja, que em juízo deverá ser garantido à parte o contraditório e a ampla defesa em relação àquela prova realizada no inquérito policial. Isso seria possível, por exemplo, com a oitiva do perito em juízo, embora a perícia tenha sido realizada na fase do inquérito policial. 3.5 VALOR PROBATÓRIO - 3.6 PRAZO - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 8/17 O prazo do inquérito policial, em regra, é de 10 dias se o indiciado estiver preso e de 30 dias se o indiciado estiver solto. Isso é o que se extrai do artigo 10, do CPP: Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em �agrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante �ança ou sem ela (BRASIL, 1941). Esse prazo do inquérito policial é a regra geral, porém existem prazos especí�cos em leis esparsas, como é o caso da lei de drogas – Lei nº 11.343 – que no seu art.51 determina o prazo para a �nalização do inquérito policial em 30 dias para os casos de réu preso e 90 dias para os casos de réu solto. O prazo do inquérito policial é muito importante e deve sempre ser respeitado pela autoridade policial, sendo inclusive causa de nulidade da prisão preventiva se o inquérito não for �nalizado no prazo estabelecido em lei. Porém, em caso do indiciado estar solto, e havendo mais provas a serem produzidas pela autoridade policial, ele poderá requerer a devolução dos autos para mais diligências (art. 10, §3º, CPP). O procedimento do inquérito policial vem previsto no Código de Processo Penal no artigo 5º e seguintes. Sua instauração poderá se dar: a) De ofício – a instauração se dará de ofício, no caso da autoridade policial tomar conhecimento do cometimento de qualquer delito. b) Por requisição – a instauração se dará mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, quando a ordem para a instauração vier do Poder Judiciário ou do membro do Ministério Público a autoridade deverá instaurar o inquérito para apurar a suposta infração penal. c) Por requerimento do ofendido ou de seu representante – a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo, no caso do ofendido ou de seu representante fazer a delatio criminis. d) Por requerimento de qualquer do povo – no caso do conhecimento do cometimento de um crime de ação penal pública por qualquer pessoa, mesmo que não seja a vítima ou seu representante, este poderá procurar a autoridade policial 3.7 PROCEDIMENTO - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 9/17 e comunicar a ocorrência. Se veri�cada a procedência da informação, a autoridade policial deverá instaurar o inquérito policial. e) Por causa da prisão em �agrante – no caso da prisão em �agrante a autoridade policial irá instaurar um procedimento investigativo que terá início com o auto de prisão em �agrante. Em qualquer destes casos a autoridade policial encontra-se obrigada a instaurar o procedimento investigatório. Em regra, a peça inaugural do inquérito policial denomina-se portaria, a exceção será no caso de prisão em �agrante que a peça de instauração será o próprio auto de prisão em �agrante. Lembre-se de que a autoridade judicial e o membro do Ministério Público não são superiores hierárquicos da autoridade policial, e por isso, entendendo a autoridade policial que não se trata de caso de instauração de inquérito policial, como no caso de perseguição política de alguém, a autoridade policial poderá negar a instauração deste inquérito, sendo que desta negativa cabe recurso para o chefe de Polícia conforme o artigo 5º, §2º, CPP. Quando se tratar de ação penal pública incondicionada, o inquérito policial deve ser instaurado com a comunicação realizada por qualquer pessoa; se for caso de crime apurado através de ação penal pública condicionada à representação, o inquérito somente poderá ser iniciado com essa representação; e nos casos de crimes apurados mediante ação privada, o inquérito somente poderá ser instaurado mediante requerimento do ofendido ou de seu representante. Após a instauração do inquérito policial, a autoridade policial deverá tomar as medidas previstas no artigo 6º, do CPP: Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá: I- dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; II- apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais; III- colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias; IV- ouvir o ofendido; V- ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI- proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; Unidade 1 - Tópico 2 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm#livroitituloviicapituloiii 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 10/17 VII- determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras perícias; VIII- ordenar a identi�cação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; IX- averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter; X- colher informações sobre a existência de �lhos, respectivas idades e se possuem alguma de�ciência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados dos �lhos, indicado pela pessoa presa (BRASIL, 1941). Podendo inclusive, se necessário para compreender o modo de realização do delito, a autoridade policial realizar a reprodução simulada dos fatos, mas somente se isso não contrariar a moralidade e a ordem pública, conforme estabelecido no artigo 7º, CPP. Porém, sempre lembrando que o indiciado pode ser forçado a acompanhar essa simulação, mas nunca poderá ser forçado a dela participar, porque ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo (art. 5º, LXIII, CF). O artigo 13 prevê outras atribuições para a autoridade policial: Art. 13. Incumbirá ainda à autoridade policial: I- fornecer às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; II- realizar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; III- cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias; IV- representar acerca da prisão preventiva (BRASIL, 1941). Encerrada a atividade investigativa da autoridade policial, ou encerrado o prazo para a �nalização do inquérito, a autoridade policial deverá elaborar um relatório minucioso para ser encaminhado ao juízo para ser remetido ao Ministério Público no caso de ação penal pública, ou �cará no cartório aguardando o titular da ação penal privada. O relatório da autoridade policial deverá conter um relatório isento e objetivo de todas as atividades investigativas realizadas, podendo indicar as testemunhas que não puderam ser ouvidas. Os instrumentos do crime, e todos aqueles objetos que interessem ao juízo deverão acompanhar os autos deste inquérito para possibilitar melhor elucidação dos fatos. É o que vem previsto nos parágrafos do artigo 10 e 11 do CPP. Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 11/17 O indiciamento é o momento no qual o investigado passa a �gurar como principal suspeito do crime, deixando de ser mero investigado para ser indiciado. Bon�m (2016, p. 162) enfatiza que: o indiciamento é ato complexo da autoridade policial, dividindo-se em três partes (art. 6º, V, VIII, e IX): deve o delegado, inicialmente, interrogar o suspeito, com observância, no que for cabível, do previsto para o interrogatório judicial, devendo a leitura do respectivo termo ser presenciada por duas testemunhas. Após será ordenada a identi�cação do investigado e, �nalmente, elaborada a folha de vida pregressa deste. Além do indiciamento do suspeito que participa das investigações, é possível o indiciamento do foragido, sem nenhum prejuízo. Em regra, qualquer suspeito pode ser indiciado, porém existem exceções que não podem ser indiciados, como os menores de dezoito anos, os Membros do MP e da Magistratura, entre outros. O Artigo 15 dispõe que “se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial”, porém com a entrada emvigor do Código Civil de 2002, este dispositivo vem sendo entendido pela doutrina como tendo perdido a razão de ser uma vez que a maioridade civil passou a ser completa aos 18 anos, diversamente do Código Civil de 1916 que previa que essa maioridade absoluta somente seria alcançada aos 21 anos. Os casos de crimes de menor potencial ofensivo, aqueles que têm pena máxima não superior a dois anos, serão apurados perante o Juizado Especial Criminal, de acordo com a Lei nº 9.099. Para privilegiar os princípios informadores da lei como a celeridade, economia, informalidade, oralidade, a lei prevê que a autoridade policial instaurará termo circunstanciado em vez de inquérito policial para a apuração dos delitos, de acordo com o Artigo 69 da citada lei. Esse termo circunstanciado deverá ser um inquérito mais simpli�cado. Sobre o termo circunstanciado, Nucci (2016, s.p.) a�rma que: 3.8 INDICIAMENTO - 3.9 TERMO CIRCUNSTANCIADO - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 12/17 É um substituto do inquérito policial, realizado pela polícia, nos casos de infrações de menor potencial ofensivo (contravenções penais e crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa). Assim, tomando conhecimento de um fato criminoso, a autoridade policial elabora um termo contendo todos os dados necessários para identi�car a ocorrência e sua autoria, encaminhando- o imediatamente ao Juizado Especial Criminal, sem necessidade de maior delonga ou investigações aprofundadas. Após o relatório do inquérito policial, o caderno investigatório será remetido a juízo em que poderá: a) Permanecer em cartório nos casos de ação penal privada, porque o ofendido ou seu representante legal é que tem a competência para oferecer a queixa crime (art. 19, CPP); b) Ser remetido ao Ministério Público que é o titular da ação penal pública. Neste caso o membro do MP poderá: b.1) oferecer denúncia – se entender que existem indícios de autoria e prova da materialidade; b.2) requerer o arquivamento do inquérito – o Ministério Público é o titular da ação penal, cabendo a ele requerer o arquivamento do inquérito se entender que não há provas de materialidade ou indícios de autoria, que não houve crime ou até mesmo por causa da extinção da punibilidade. Note, porém, que o Ministério público deve requerer o arquivamento que será deferido pelo Juiz. Mas, o que o juiz pode fazer se entender que não é caso de arquivamento? No caso do Ministério Público requerer o arquivamento e este não for deferido pelo juiz, o magistrado deverá enviar o inquérito policial para o Chefe do Ministério Público – Procurador Geral de Justiça – para que, conforme o Artigo 28 do CPP, este apresente a denúncia se entender cabível, designe outro membro do MP para fazê-lo, ou ainda, insista no arquivamento. b.3) devolver o inquérito para a autoridade policial para a apuração de demais provas imprescindíveis para a apuração do delito, conforme o artigo 16 do CPP. 3.10 PROVIDÊNCIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 13/17 RESUMO DO TÓPICO O inquérito policial há de realizar as investigações sobre a ocorrência de um crime, buscando a prova da materialidade e os indícios de autoria. A natureza jurídica do inquérito policial é de procedimento de natureza administrativa. As principais características do inquérito policial são: inquisitivo, sigiloso, instrumental, obrigatório (sua instauração), dispensável (para a propositura da ação), meramente informativo e escrito. A titularidade para a confecção do inquérito policial é da polícia civil dos Estados e da polícia federal. O valor probatório do inquérito policial é meramente informativo, sendo considerado como início de prova. O prazo do inquérito policial, em regra, é de 10 dias se o indiciado estiver preso e de 30 dias se o indiciado estiver solto. Procedimento do inquérito está previsto no CPP, sendo que deverá ser instaurado por portaria ou auto de prisão em �agrante, deverão ser feitas todas as diligências necessárias para a apuração do crime, e por �m, será �nalizado com o relatório da autoridade policial. b.4) requerer a remessa ao juízo competente quando aquela jurisdição não for a competente. Embora o inquérito policial seja a forma mais comum de apuração de delito na busca de provas da materialidade e indícios de autoria, ele não é o único que poderá ser utilizado. Além dele existem as comissões parlamentares de inquérito (CPI), o inquérito policial militar (para apurar infrações militares), o inquérito civil (que é realizado pelo Ministério Público), o inquérito apurado pelo Conselho de Controle de atividades �nanceiras (COAF), entre outros. Neste tópico, você aprendeu que: 3.11 OUTRAS FORMAS DE INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR - Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 14/17 O indiciamento é o momento no qual o investigado passa a ser o principal suspeito e deixa de ser mero investigado para ser indiciado. Ao receber o Inquérito Policial, o Ministério Público poderá requerer que permaneça em cartório nos casos de ação penal privada, oferecer denúncia, requerer a devolução para autoridade policial para mais diligências, requerer o arquivamento, requerer a remessa ao juízo competente. AUTOATIVIDADES A) B) C) D) E) Responder UNIDADE 1 - TÓPICO 2 1 O inquérito policial É um procedimento sigiloso que pode ser presidido pelo Ministério Público, mas preferencialmente será presidido pela autoridade policial. De acordo com o artigo 12 do CPP, acompanhará a denúncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra. Tem como principal característica o sigilo absoluto de suas informações, sendo inclusive aplicado esse sigilo ao advogado do indiciado em todos os inquéritos. É um procedimento, em regra, oral, porque toma o depoimento das testemunhas e realiza o interrogatório do indiciado. É imprescindível para a propositura da ação penal pública. Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 15/17 A) B) C) D) E) Responder A) B) C) 2 O inquérito policial poderá: Ser instaurado a requerimento do ofendido ou por requisição do Ministério Público. Ser instaurado somente com requisição do Poder Judiciário ou do Ministério Público. Ser instaurado somente com autorização do ofendido ou seu representante legal nos casos de ação penal pública. Ser instaurado de ofício pelo juiz, já que será ele quem vai julgar. Ser instaurado de ofício pelo Ministério Público, já que ele é o titular da ação penal. 3 De acordo com o artigo 10 do Código de Processo Penal, o Inquérito Policial terá o prazo de encerramento de: 30 dias para indiciado preso e 60 dias para o indiciado solto. 30 dias para indiciado preso e 90 dias para o indiciado solto. 10 dias para indiciado preso e 30 dias para o indiciado solto. Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 16/17 D) E) Responder A) B) Responder A) B) C) D) 15 dias para indiciado preso e 30 dias para o indiciado solto. 15 dias para indiciado preso e 90 dias para o indiciado solto. 4 Responda certo ou errado: O valor probatório do inquérito policial é meramente informativo, sendo considerado como início de prova. Certo Errado 5 As principais características do inquérito policial são: Inquisitivo, sigiloso, instrumental, meramente informativo e escrito. Inquisitivo, sigiloso, instrumental,meramente informativo e oral. Acusatório, sigiloso, instrumental, meramente informativo e escrito. Inquisitivo, não sigiloso, instrumental, meramente informativo e escrito Unidade 1 - Tópico 2 08/04/2021 Livro Digital - Processo do conhecimento penal https://livrodigital.uniasselvi.com.br/16790_processo_do_conhec_penal/unidade1.html?topico=2 17/17 Responder Tópico 1 Tópico 3 Conteúdo escrito por: escrito. Todos os direitos reservados © Prof.ª Cláudia Fernanda Souza de Carvalho Becker Silva Unidade 1 - Tópico 2
Compartilhar