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Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 Podem ser: Anestesias locais: administração subcutânea, na qual é bloqueada uma região específica onde vai ser trabalhado ou que necessite de alívio para dor, por exemplo. Anestesia Regional: Visa bloqueios periféricos, porém com foco em ramos específicos do nervo. São exemplos: anestesia peridural e a raquimedular. Anestesia Geral: O indivíduo perde a consciência e fica vulnerável com relação aos aspectos cardiovasculares, respiratórios. A primeira anestesia foi utilizada em 1846, em uma cirurgia de retirada de tumor do pescoço de um adolescente e era formada pelo éter (hoje não é mais utilizado porque ele provoca lesão na mucosa respiratória). Antes as cirurgias eram muito limitadas e existiam na época profissionais especializados em segurar o paciente (credo kkk) para que pudesse se realizar o procedimento. Com a evolução da medicina, a anestesiologia passou a ser uma especialidade médica separada. Esse profissional tem a responsabilidade de acompanhar o paciente pré-operatório, fazer análise dos fatores de risco do paciente, induzir, manter e recuperar o paciente da anestesia e acompanhar os dados vitais, reflexos e outros dados durante o procedimento. “A anestesia geral é uma completa, contínua e reversível depressão das funções do SNC, que leva a perda da consciência, eliminação da dor e perda da atividade muscular”. Eles atuam reduzindo a transmissão nervosa em diferentes locais do sistema nervoso, tanto o periférico como o central. São funções dele: 1. Induz depressão generalizada e reversível do SNC; 2. Provoca perda da percepção de todas as sensações; 3. Perda da consciência, amnésia e imobilidade (ausência de resposta a estímulos nocivos); 4. Relaxamento muscular (depende do tipo de anestésico, em alguns casos é necessário fazer uso do relaxante muscular para aumentar o relaxamento). 5. Perda dos reflexos autônomos (muito importante, portanto, o suporte respiratório e o acompanhamento cardiovascular pois, a depender do nível de profunidade provocada pelo anestésico, pode entrar em parada cardiorrespiratória. 6. Analgesia e ansiólise A diferença entre analgesia e anestesia é que, a primeira inibe apenas a transmissão do impulso nervoso relacionado a dor, enquanto a anestesia inibe qualquer tipo de condução nervosa, independente dos tipos de fibra. Benzodiazepinicos: Redução da ansiedade pré-operatória. Barbitúricos: Podem ser usados para iniciar a sedação Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 Anti-histaminicos: Evitar que o paciente desenvolva reações alérgicas aos anestésicos Antieméticos: Porque muitos pacientes podem apresentar náuseas e vômitos no pós-operatório. Opióides: Auxiliar na analgesia. Anticolinérgicos: Para evitar a bradicardia e a secreção de líquidos no aparelho respiratório. Relaxantes musculares: facilitam a entubação e o relaxamento muscular. O indivíduo sai do estado de vigília com o início da aplicação e vai sofrendo o processo de aprofundamento da anestesia. O objetivo desse aprofundamento é fazer com que o paciente chegue ao estádio 3, quando ele está pronto para fazer o procedimento cirúrgico, e permaneça nele durante todo o procedimento. Contudo, pode acontecer de o paciente evoluir para o estágio 4 de depressão bulbar. Quando o procedimento chega ao fim, cabe ao anestesista recuperar esse paciente. Dessa forma, o anestésico é retirado (dependendo do anestésico pode ser de forma abrupta ou ir diminuindo a concentração aos poucos, como é o caso de anestésicos inalatórios para manutenção, por exemplo) até que o paciente volte ao estado de vigília. Esse médico também precisa acompanhar o paciente no pós- operatório, visto que algumas pessoas podem apresentar reações dos anestésicos após o fim da cirurgia. Podem ser divididos em três: indução, manutenção e recuperação. Indução Intervalo de tempo que vai desde o início da administração do anestésico até o desenvolvimento de anestesia cirúrgica, ou seja, estadiamento 3. O tempo de indução depende da rapidez com que concentrações eficazes do anestésico atinge o SNC. o Manutenção Período de tempo durante o qual o paciente se mantém anestesiado em plano cirúrgico. o Recuperação Período que vai desde a interrupção da administração do anestésico até a recuperação da consciência. A velocidade do estado de recuperação depende de quão rapidamente o anestésico é removido do SNC. Podem ser inalatórios ou endovenosos. São compostos por líquidos voláteis (halotano, enflurano, isoflurano, desflurano, sevoflurano) e gases (N2O). - Liquidos voláteis: O primeiro descoberto foi o Halotano. Apesar de serem líquidos, eles possuem uma volatilidade muito alta em temperatura ambiente. Por conta disso, eles são administrados através de equipamentos pela via respiratória. Quando é usado esse tipo de anestésico o equipamento faz uma mistura desses liquidos, ou desse gás no caso do N2O, com oxigênio e o individuo passa a respisrar esse “oxigênio modificado com anestésico inalatório”. o Vantagens: Rápida indução e recuperação dos estados de anestesia; Depende da sua solubilidade no sangue (coeficiente de partição sangue:gás) e solubilidade em gordura. o Desvantagens: Coeficiente de partição altos (halotano) mostram indução e recuperação mais lentas, enquanto CP baixos produzem indução e recuperação rápidas (óxido nitroso, desflurano). Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 Coeficiente de partição sangue:gás Corresponde a solubilidade do gás no sangue. Quanto maior o coeficiente de partição sangue:gás mais lento será o processo de indução e de recuperação. Isso ocorre porque o fármaco quando é muito solúvel no sangue significa que ele tem uma afinidade química com o sangue maior que outros medicamentos que são menos solúveis. Nesse sentido, ele tem uma preferência maior por permanecer no sangue e demora mais para ele sair da circulação sanguínea e ir para o SNC. Mecanismos de ação o Líquidos voláteis – “fluoranos” Todos os seus representantes têm os mesmos mecanismos de ação, atuando em diferentes frentes. (1). Potencializadores da atividade dos receptores GABAA: Da mesma forma que fazem os fármacos anticonvulsivantes, eles vão se ligar aos canais de cloreto (receptores GABA) e aumentar a eficiência desse transportador. Dessa forma, esse transportador estará mais sensível ao neurotransmissor GABA e vai ficar aberto por mais tempo, permitindo um influxo maior de ions cloreto e, por consequência, a hiperpolarização da célula, de forma a dificultar a condução do estímulo. (2). Bloqueio de receptores nicotínicos: Os receptores nicotínicos são receptores colinérgicos, bastante presentes nas placas motoras. Quando se bloqueia esses receptores, o indivíduo perde a capacidade de contração muscular esquelética. (3). Hiperpolarização das membranas através da ativação de canais de K+: Com os canais de potássio ativados, o K+ intracelular sai dos neurônios. Assim, a célula fica hiperpolarizada. (4). Ativação de receptores de glicina: A glicina pode ser considerada um neurotransmissor que tem função dual, porque tem uma atividade depressora do SNC (existem receptores de glicina presentes em canais GABA, então quando se ativam há o influxo de cloreto e etc.), mas também são encontrados receptores de glicina em canais de cálcio NMDA como ativadores (aumentam a entrada de Cálcio). Com relação aos fluoranos, eles ativam os receptores de glicinanos canais GABA. (5). Inibem a liberação de alguns neurotransmissores pré-sinápticos (sinaptobrevina, sintaxina): Atuam no rearranjo de algumas proteínas que participam da liberação das vesículas na fenda sináptica, diminuindo assim a atividade no SNC. Os fluoranos são administrados através dos aparelhos vaporizadores. Os líquidos voláteis são muito importantes na prática anestésica, porque eles promovem o efeito anestésico completo: atividade hipnótica, analgésica, amnésica e relaxante muscular. Eles que fazem a mistura do liquido volátil com o O2 Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 Características gerais o Cardiovascular: vasodilatação (diminui PA) e risco de insuficiência cardiovascular; o Respiratório: Pode gerar depressão respiratória; o Útero: efeito relaxante uterino (retarda o trabalho de parto e aumenta o risco de hemorragias). o Efeitos colaterais - raro e grave: “hipertermia maligna” o Efeito colateral do Halotano: insuficiência hepática. Hipertemia maligna o Sintomas: Taquicardia, hipertensão, rigidez muscular, hipertemia, desequilíbrio ácido-base. o Susceptibilidade genética: Esses pacientes tem uma predisposição genética ocasionada pela alteração do receptor de liberação do cálcio do retículo sarcoplasmático do músculo esquelético tornando-o mais sensível à liberação do cálcio. Em um momento de estresse eletrolítico (grande influxo de cloreto, grande efluxo de potássio, entre outros) as células musculares desse individuo liberam cálcio de forma exagerada e isso leva a sintomatologia descrita. o Tratamento: Interromper a administração de anestésico volátil e em seguida baixar a temperatura corpórea. Dantrolene: é uma estratégia farmacológica pois é um inibidor dos canais de Ca+2 do retículo endoplasmático. o Óxido Nitroso É uma substância gasosa em temperatura ambiente e atua através do bloqueio de receptores NMDA. Com o bloqueio de canais de cálcio provocados por esse gás, há uma redução do influxo de cálcio, dificultando a despolarização do neurônio. Ele não irrita as vias aéreas. É um anestésico pouco potente, administrado através do uso de uma máscara e promove estabilidade cardiovascular em comparação com os fluoranos. Ele provoca uma indução e uma recuperação rápidas, devido ao baixo coeficiente de partição sangue:gás. Um ponto negativo é que ele não causa relaxamento do músculo esquelético, assim é necessário associa- lo com outro anestésico endovenoso com capacidade de relaxar essa musculatura ou administrar um relaxante muscular (anticolinérgico). Ele também não induz a hipnose profunda, necessitando de associação com outros anestésicos gerais. Potência dos anestésicos inalatórios O parâmetro utilizado é a concentração alveolar mínima (CAM), que é a concentração que precisa manter nos alvéolos para cessar os movimentos em 50% dos pacientes submetidos a uma cirurgia. É dependente do coeficiente de partição óleo:gás. Quanto menor o coeficiente de partição óleo:gás, menor a potência desse anestésico inalatório (porque quanto menor esse coeficiente, mais difícil desse anestésico sair do alvéolo). Podem ser utilizados tanto para indução, quanto para manutenção. O Tiopental, por exemplo, quando aplicado por via venosa inicia o processo de sedação em cerca de 20 segundos. Os anestésicos intravenosos promovem uma indução rápida da anestesia, com recuperação mais lenta se comparados aos gases inalatórios. Laís Sena – Medicina FTC 2020.2 Os principais efeitos indesejáveis são o risco de depressão respiratória e cardiovascular (principalmente a cetamina), além de náuseas no pós-operatório que são bastante comuns. Mecanismos de ação o Barbitúricos, propofol, etomidato: aumentam a atividade dos receptores GABAA se ligando nesses receptores e aumentando a afinidade do neurotransmissor pelo receptor. Assim aumenta o influxo de cloreto, gerando mais hiperpolarização. o Barbitúricos, propofol: aumentam a atividade dos receptores de glicina. Esse aumento gera maior influxo de cloreto. o Cetamina: antagonista do receptor NMDA. Características dos fármacos endovenosos Barbitúricos: tiopental É uma molécula pequena de caráter lipofílico (tende a se acumular no tecido adiposo) e de fácil precipitação, ou seja, precisa ser solubilizada em um meio com soro fisiológico e pH entre 10- 11. Quando é administrado em meio extravascular (por um erro, geralmente) causa dor e pode gerar necrose tecidual por conta da toxicidade do tiopental nos tecidos adjacentes. Esse medicamento produz rápida indução (em segundos) e recuperação (em minutos) da anestesia. Uma característica particular o Tiopental é o efeito pós-operatório semelhante a “ressaca”. É indicado majoritariamente para a indução da anestesia e possui potente ação sedativa e hipnótica. O primeiro órgão que ele penetra após sair do sangue é o cérebro, alcançando a concentração máxima em pouco mais de 1 minuto e cerca de 20 segundos já se tem concentração suficiente para começar o processo anestésico. Propofol É insolúvel em água – disponível na forma de emulsão a 1% e causa dor no momento da injeção. É rapidamente metabolizado pelo fígado e não causa a sensação de “ressaca”, na verdade, pode gerar uma sensação de prazer. A indicação vai desde indução anestésica até a manutenção. O indivíduo retorna rapidamente a consciência após a retirada do Propofol por conta da sua rápida metabolização. Etomidato É pouco solúvel em água e causa dor à injeção. É rapidamente metabolizado pelo fígado e sua eliminação 78% é renal e 22% biliar. A indicação é, principalmente, indução anestésica e geralmente é reservado para pacientes com riscos de hipotensão e/ou isquemia miocárdica. Esse anestésico tem uma certa estabilidade cardiovascular, pois não causa redução da PA e alterações no débito cardíaco. Sabidamente, ele tem risco com relação a administração continuada pois provoca supressão da produção de esteroides pela suprarrenal, então não se recomendam infusões prolongadas como em cirurgias muito longas, por exemplo. Cetamina É solúvel em água e possui rápida metabolização pelo fígado, sendo excretado pelos rins e bile. Pode ser utilizada tanto para indução, quanto para manutenção em pacientes pediátricos, em procedimentos curtos. Importante para pacientes asmáticos, com queimaduras e com risco de hipotensão. É estável no sistema cardiovascular, em doses adequadas. Seus efeitos incluem o estado cataléptico (anestesia dissociativa), nistagmo, dilatação pupilar, salivação e/ou lacrimejamento, movimentos espontâneos dos membros, manutenção do tônus muscular. Sobre sua recuperação anestésica, o paciente pode apresentar “delírios de emergência” com a presença de sonhos vívidos, alucinações e ilusões. Laís Sena – Medicina FTC 2020.2