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Marília Lino 30/03 Fisiologia Cardiovascular V Choque circulatório Definição: choque é o estado de hipoperfusão de órgãos, com resultante disfunção celular e morte. É a expressão clíni- ca da falência circulatória aguda que resulta na oferta insufici- ente de oxigênio. Denomina também a hipóxia celular. O choque circulatório é uma emergência médica potencial- mente ameaçadora à vida. Seus efeitos são inicialmente re- versíveis, mas rapidamente podem se tornar irreversíveis, re- sultando em falência orgânica, síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e sistemas de morte. É importante detectar a causa, etiologia. A causa define como será levado adiante o tratamento. Mecanismos de choque: existem quatro mecanismos clássicos de choque. Três deles são caracterizados por baixo débito cardíaco e, portanto, por transporte inadequado de oxigênio. • Hipovolêmico: redução do volume intravascular. Ex.: Hemorragias ou perdas de fluidos (diarreia, diurese osmótica) • Cardiogênico: redução do débito cardíaco por falha da bomba cardíaca. Ex.: Infarto agudo do miocárdio IAM, arritmias, cardiomiopatias; • Obstrutivo: redução do débito cardíaco por causas extracardíacas, geralmente associadas a falência de ventrículo esquerdo VE. Ex.: embolia pulmonar, placa de ateroma, acúmulo de lipídeos e formação de trombos impedem a chegada do sangue • Distributivo: vasodilatação sistêmica - diminuição da resistência vascular sistêmica e alteração da extração de oxigênio. Ex.: sepse, anafilaxia, crise adrenal aguda, pancreatite. Por ser vasodilatador reduz a pressão ar- terial. Obs.: podem coexistir mais de um tipo de choque em um mesmo paciente. Tratamento do choque circulatório: para a identifi- cação do paciente chocado, apresenta-se baixa saturação(70%), cianose, marcadores bioquímicos com proteí- nas aumentadas(troponina) e um reduzido o débito cardíaco. O tratamento deve ser iniciado precocemente, enquanto se investiga a etiologia. Corrigir as causa do choque após a iden- tificação de sua etiologia, com atitudes como controle de sangramento para hemorragia, intervenção coronariana, ad- ministração de antibióticos e controle do foco infeccioso por sepse. O atendimento do paciente deve ser realizado na sala de emergência. Caso o choque não seja rapidamente revertido, reco- menda-se fazer a inserção de um cateter arterial para a monitoração da PA e para controle de sangue e de um ca- teter venoso central para a injeção de drogas vasoativas e ressuscitação volêmica. Administração de oxigênio: a administração de oxi- gênio suplementar deve ser iniciada precocemente, para aumentar o fornecimento de oxigênio aos tecidos e preve- nir a hipertensão pulmonar. Esse oxigênio não deve ser administrado por métodos de ventilação não invasiva, pois essa tem atividade limitada no tratamento de choque e a sua falha pode resultar rapida- mente em um quadro de insuficiência respiratória e parada cardíaca Logo, deve-se optar pela ventilação invasiva com a entu- bação endotraqueal a quase todos pacientes com dispneia intensa, hipoxemia persistente ou piora de acidemia- pH < 7.30. Esse tipo de ventilação tem como vantagem a redu- ção da demanda de oxigênio dos músculos cardíacos respi- ratórios e a diminuição da pós-carga ventricular esquerda (pressão feita pelo sangue contra a valva da aorta) Reposição volêmica: é indicada aos pacientes com choque hipovolêmico. Esse procedimento melhora o fluxo sanguíneo microvascular e aumenta o débito cardíaco, que é uma parte essencial do tratamento da maioria dos tipos de choque. Consiste na injeção de soluções cristaloides à circulação por meio de um cateter venoso. O ringer lactato geral- mente é a primeira escolha de solução por conter em sua composição sódio, cloro, potássio, cálcio e lactato além de ter menor concentração de sódio do que as demais solu- ções (fisiológica e plasmalyte). Quando paciente apresenta edema o choque não será do tipo hipovolêmico, assim não se recomenda executar a res- suscitação volêmica, pois a sobrecarga de volume aumenta a carga sobre o coração, dificultando mais o bombeamento e piorando a hipoxemia. A reposição volêmica pode ser repetida conforme a neces- sidade se o paciente apresentar resposta, mas deve ser in- terrompido rapidamente em caso de ausência de resposta a fim de evitar sobrecarga do volume, tida como um dos piores prognósticos. Quando a hipotensão resiste à ressus- citação volêmica é indicada a administração de vasopresso- res. Vasopressores são potentes agentes farmacológicos usados para aumentar a Pa por mecanismo de vasoconstri- ção. Seu uso é indicado também enquanto a ressuscitação volêmica está em andamento. • A norepinefrina (NE) é o vasopressor de primeira escolha nos quadros de choque. Sua administração geralmente resulta em um aumento clinicamente sig- nificativo da pressão arterial média, com pouca alte- ração na frequência cardíaca ou no débito cardíaco, o que é ideal pois a maioria dos choques são causados pela queda desse débito. A NE atua nos receptores adrenérgicos alfa 1 que desencadeiam na vasocons- trição • A dopamina(DA) tem efeito semelhante a NE na so- brevida em pacientes com choque, mas a DA foi mais associada a arritmias e aumento da mortalidade, sen- do assim preferível o uso da NE. • A epinefrina estimula efeitos predominantemente beta-adrenérgicosquando administradas doses bai- xas, que causa o aumento do ritmo cardíaco e da contração cardíaca. Para que sejam estimulados os alfa-adrenérgicos devem ser administradas doses mais altas de epinefrina, assim a epinefrina deve ser reservada como agente de segunda ou terceira linha, usada em casos graves. Seu uso também deve ser evitado no caso de choques cardiogênicos. • A administração de vasopressina em doses baixas pode resultar em aumentos substanciais da pressão arterial. Assim, sugere-se o uso dela como segundo agente em pacientes com quadro de choque séptico, já em uso de noradrenalina, que matem hipotensão arterial e que não apresentam depressçao miocárdica importante associada. • A dobutamina é o agente intrópico de escolha para o aumento do débito cardíaco. Uma dose ini- cial de apenas alguns microgramas por quilograma por minuto pode aumentar substancialmente o débito cardíaco. Com doses mais elevadas podem ocorrer ocasionalmente taquicardia e arritmias, por isso não são indicadas doses maiores de 20 micro- grama/kg/min. A dobutamina é a amina simpaticomimétrica pa- rental (imita o tono simpático aumentando o débi- to cardíaco) utilizada em perfusão inadequada. Ela estimula os receptores beta-1 e em menor grau beta-2 e alfa-1 o que faz com que haja aumento de contratibilidade e vasodilatação, reduzindo, assim, a pós-carga. Vasodilatadores: O uso de drogas vasodilatadoras podem aumentar o débito cardíaco sem aumentar a de- manda de oxigênio no miocárdio(redução da pós-carga). A principal limitação dessas drogas é o risco de diminuição da pressão arterial para um nível que compromete a perfu- são tecidual. O uso do vasodilatador é limitado, administrado quando o paciente tem aumento das cargas sobre o coração com fra- ção de ejeção menor de 40%; O uso prudente de nitratos e possivelmente outros vasodi- latadores pode, melhorar a perfusão microvascular e a fun- ção celular em pacientes com choque cardiogênico Os vasos dilatadores que aumentam a capacitância venosa ou diminuem a resistência vascular sistêmica, como nitro- prussiato e nitroglicerina podem aumentar o débito car- díaco em pacientes sem hipotensão grave. Distúrbios isquêmicos (angina e infarto): Angina instável e infarto agudo do miocárdio: an- gina é uma dor insuportável sentida no peito. A angina instá- vel (AI) continua sendo uma das maiores causas cardiovascula- res de internação. Durante a sua evolução, parte dos pacientes desenvolve ele- vações nos marcadores bioquímicos de necrose miocárdica(troponina, CK E CK-MB), configurandoo quadro de infarto agudo do miocárdio (IAM) A instabilidade da angina e o infarto agudo do miocárdio for- mam as Síndromes Isquêmicas Miocárdicas Instáveis-SIMI Oxigenoterapia: Em pacientes de risco intermediário e alto a conduta indicada é a oxigenoterapia, a administração de oxi- gênio é capaz de limitar a extensão da lesão isquêmica aguda. A oxigenoterapia será mantida conforme a necessidade clínica quando houver hipoxemia persistente comprovada. Porém, a administração desnecessária de oxigênio por tempo prolonga- do pode causas vasoconstrição sistêmica e ser prejudicial ao paciente. Analgesia, sedação e tratamentos: a dor precordial e a ansiedade, presentes nas SIMI geralmente levam a hipe- ratividade do SNS, que causa o estado hiperadrenérgico au- mentando o consumo miocárdico de oxigênio, predispõe ao aparecimento de taquiarritmias e a vasoconstrição que de- sencadeia no aumento da dor. Assim, recomenda-se a utili- zação de analgésicos potentes a pacientes com dor isquê- mica intensa. Sulfato de morfina é o analgésico de eleição. É adminis- trado via intravenosa, para maior velocidade no efeito, sua dose é de 2 a 4 mg diluídos a cada 5 minutos até, no máxi- mo, 25 mg, quando a dor não for aliviada com o uso de ni- trato sublingual, ou nos casos de recorrência da dor apesar da adequada terapêutica anti-isquêmica, monitorando-se a pressão arterial. Nitratos: O emprego dos nitratos fundamenta-se em seu mecanismo de ação e na experiência clínica de muitos anos de uso. O tratamento é iniciado na sala de emergência, ad- ministrando-se o nitrato por via sublingual. Caso não haja alí- vio rápido da dor: administração intravenosa de nitrogliceri- na(tem maior chance de efeitos adversos, sildenafil vasodilata- dor). Os nitratos estão contraindicados na presença de hipotensão importante (PA sistólica < 100 mmHg) ou uso prévio de silde- nafil nas últimas 24 horas, por desencadear na vasodilatação. O tratamento deverá ser mantido por 24-48 horas após a últi- ma dor anginosa, devendo ser suspenso de forma gradual. Os efeitos adversos do tratamento com nitratos é a hipoten- são e a cefaleia. Como o nitrato é um vasodilatador, ocorre a dilatação anormal da carótida na cabeça, que desvia o fluxo de sangue arterial causando edemas no encéfalo que gera isque- mia e hipóxia cerebral. Betabloqueadores adrenérgicos: reduzem a frequência car- díaca, a pressão arterial e a contratilidade miocárdica: redução do consumo miocárdio de oxigênio. Pode reduzir a mortalida- de nas primeiras 24 h. Juntamente aos nitratos, são considerados agentes de primei- ra escolha no tratamento das SIMI. Devem ser iniciados na for- mulação oral, para pacientes se contraindicação e estáveis, em doses pequenas, que devem ser gradualmente aumentadas para se manter a frequência cardíaca ao redor de 60 bpm. No caso de o paciente apresentar dor isquêmica persistente e/ou taquicardia (não compensatória de um quadro de insuficiência cardíaca), pode-se utilizar a formulação venosa. Contraindicações: sinais de ICC e baixo débito. Bloqueadores dos canais de cálcio: diminuem o consumo miocárdico de oxigênio; a pós-carga, a contratilidade e a frequência cardíaca e aumentam a oferta de oxigênio ao miocárdio pela vasodilatação coronária que promovem. São usados para tentar controlar sintomas isquêmicos refra- tários em pacientes já em uso de nitratos e betabloqueado- res, ou naqueles que não toleram o uso desses medicamen- tos. Em pacientes com comprometimento da função ventricular esquerda e/ou alterações na condução atrioventricular, es- ses medicamentos devem ser evitados. Exemplos: • Nifedipino • Anlodipino • Diltiazem • Vera- pamil Inibidores da ECA (iECA): não há evidências conclusivas de benefícios quando da utilização precoce em pacientes, mas alguns estudos sugerem que possam ser úteis na fase crôni- ca. Benefícios dos iECA: série de estudos clínicos randomiza- dos que analisaram em conjunto mais de 100.000 pacientes. A maioria iniciou o tratamento entre 3 e 6 dias do IAM e mantiveram por 2 a 4 anos. O número de vidas salvas para cada 1000 pacientes tratados variou de 40 a 76. Devem ser utilizados nas primeiras 24 h, na ausência de hi- potensão (PAS < 100mmHg) ou outra contra-indicação a uso de IECA.
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