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A Presença dos Pais na Orientação Profissional Rosane Levenfus e Dulce Penna Soares 2002

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069 Orientação Vocacional Ocupacional: novos achados Leóricos, Lécnicos 
e inslrumentais para a clínica, a escola e a empresa/ organizado por 
Rosane Schotgues Levenfus e Dulce Helena Pcnna Soares . - Pono 
Alegre : Artmed, 2002. 
1. Psicologia - Orientação vocacional. 1. Levenfus, Rosane 
Schotgues. II. Soares, Dulce Helena Penna. 111. Título. 
CDU 159.98 
Catalogação na publicação: Mônica BaJlejo Canto - CRB 10/1023 
ISBN 85-363-0015-9 
6 
A Presença dos Pais na Orientação Profissional 
Eliene Rodrigues de Lima 
Sílvia Gusmão Ramos 
Nossa experiência tem apontado a importância significativa da inserção dos pais 
no processo de Orientação Profissional dos jovens menores de idade. A presença 
deles é fundamental porque, no contexto desse programa de orientação, entendem 
que podem e devem falar o que desejam para o filho, como também escutá-lo, consi-
derando suas incertezas, inseguranças, indagações e diferenças de posição. Além dis-
so, ampliam a visão sobre os fatores que interferem nessa escolha, adquirindo a noção 
exata de sua complexidade e das conseqüências negativas das escolhas equivocadas. 
Essa compreensão muda a qualidade da participação dos pais, favorecendo o diálogo 
e a disponibilidade para compartilhar das reflexões, mesmo que as escolhas sigam em 
direção contrária ao seu desejo. É evidente que esse resultado também é fruto das 
intervenções do coordenador que, atuando como terceiro, facilita a discriminação 
necessária entre o que o jovem deseja fazer e as sugestões ou pressões que estão 
atreladas às expectativas de quem está emocionalmente envolvido. 
Vale ressaltar que consideramos que o desejo e as expectativas dos pais são 
estruturantes e determinantes para o lugar que o filho ocupa na família. Mas, apesar 
dessa característica, os conflitos são inevitáveis, em especial quando o jovem não se 
identifica com o projeto da família. 
Ilustraremos, com um caso, a discussão sobre a presença dos pais no processo de 
Orientação Profissional, visando explicitar nossa concepção teórica e a aplicação prá-
tica. Nosso trabalho é desenvolvido em seis encontros, que podem ser realizados em 
grupo ou individualmente. A entrada dos pais ocorre apenas quando o atendimento é 
destinado aos menores de idade e em três encontros: 
• 
• 
• 
na entrevista de seleção; 
no primeiro encontro; 
no último encontro . 
Nesse texto será dado realce a esses três encontros, por se constituir no recorte 
necessário ao desenvolvimento do tema proposto, embora, na íntegra, o programa 
contemple encontros destinados, também, às informações (sobre as profissões, mer-
cado de trabalho, perfil do profissional, hoje e no futuro) e às discussões sobre entre-
vistas realizadas com profissionais. 
92 Levenfus, Soares & Cols. 
ENTREVISTA DE SELEÇÃO 
F r I h a com sua mãe para uma entrevista, desejando fazer Orienta _ 
Profiss~~~=I. ~r:;isa fazer vestibular e tem dúvidas se opta pelo curso de teleco111J;i~ 
- d" • 1 d gado sobre O interesse por esses cursos, refere que ª"'bo caçoes ou me icma. n a . . - d ·11 s são interessantes e, certamente, podem garantlí sua i_nserçao _no merc_a . o. O pai Pos. 
sui uma empresa na área de telecorimni:ação e um tio_ poss~i uma clmica na área de 
'd . · 1 · sse ti·o pretende toma-lo seu herdeiro. Diante do exposto, a rn-sau e, me usive, e _ . fl ºá 
I 
N •11ae entende que Felipe precisa de ajuda, ~as p~efere nao m u_enci _- º· a sua ~pinião, 
deve fazer O que gosta. Os pais de Fehpe sao separados, s1tua_çao que re?u~m O pa. 
drão financeiro da fami1ia. Possivelmente, essa e uma das razoes para pnonzar pro. 
fissões consideradas promissoras. 
Após colher esses dados, o orientador apresentou a proposta do trabalho, esti-
mulando a discussão sobre os seguintes aspectos: 
• 
• 
• 
• 
a estrutura e o desenvolvimento do programa - o número e a duração de 
encontros, metodologia, modalidades de participação (individual, em dupla 
ou em grupo), preço e resultado esperados; 
a complexidade da escolha da profissão que exige reflexão e análise dos 
fatores determinantes (psicológicos, econômicos, sociais e políticos), para 
que seja possível fazer a integração entr~ o perfil pessoal, as características 
da profissão e as condições do mercado; 
a importância da análise e da elaboração dos conteúdos relacionados à ver-
tente informativa do programa articulada à história pessoal ; 
os efeitos de uma escolha bem elaborada para ampliar a visão de mercado e 
para montar as estratégias adequadas a uma rota promissora. Ambas fortale-
cem a disposição para suportar as barreiras inevitáveis dessa trajetória. 
A entrevista com Felipe junto à sua mãe demonstrou que a demanda para fazer 
Orientação Profissional existia de ambos os lados. Ele reconhecia a necessidade de 
ajuda e evidenciava o desejo de encontrar a solução. A mãe, apesar de imagJnar que 
não podia fazer nada, nem interferir, legitimava a escolha por nosso serviço. E impor· 
ta~te salientar que não realizamos o atendimento quando a demanda é apenas dos 
~ais, porq_ue ~onsi~eramos que, se não houver, do lado do jovem, uma quota de inves· 
timento sigmficat1va, ele não terá disponibilidade para participar ativamente desse 
?ro~es~o. _Co~statamos que esse cuidado preventivo produz efeitos evidenciados no 
md1ce msigmficante de evasão dos nossos clientes. 
PRIMEIRO ENCONTRO 
Nesse encontro, r~al}z_amos uma tarefa conjunta, com pais e filhos,2 qu_e ºº! 
fori;tc~ da~os sobre a h1stona da família no que se refere às escolhas e à trajetória ~o 
pro issmnais_, d~s valores, das expectativas e dos projetos que se endereçam!º J~ 
vem, os quais sao selados com a experiência de gerações. Essa tarefa traz a ton 
1Nome fictício. 
2
0 s pais são introduzidos no programa independente da s·t _ d ue evitar11 
. . ' 1 uaçao o casal No ca d · arados q contato, o atendimento aos dois é preservado porém em . . · so os pais sep 
' • momentos d1stmtos. 
Orientação Vocacional Ocupacional 93 
situações que não devem ser negli·ge · d p · · · · . neta as. ara alguns pais, facihta o entendimento 
de ~ue ~-esc~l~a profissional faz parte de um processo histórico da família e por essa 
ra~ao, e _m~vitavel um revestimento emocional que, naturalmente, os imped; de assu-
IDir yosiçoes neutras. Para outros, a percepção da interferência desse componente 
a~euvo gera ~m temor que os impulsiona a adotar como saída a "convicção" de que 
nao devem dizer o que pensam para não influenciar. 
Acontecem, também, ~ituações nas quais os pais, de modo claro ou implícito, 
ap_res~ntam ao filho determmadas profissões, com o caráter de "mandato a ser cum-
pndo _, em nome de ~1!1 futuro promissor. Todos os dados obtidos nesse encontro se 
constituem em _subsidios para o coordenador realizar intervenções durante todo o 
processo, esp~ci~lmente durante o último encontro, quando essas situações são reto-
mad~s. No pnmetr~ encontro, com freqüência, os filhos escutam, pela primeira vez, o 
depoimento dos pais sobr~ a história profissional dos avós, sobre o modo como fize-
ram suas escolh~s e o sentimento que guardam dessa experiência: pressão, abandono, 
talta de alternativas por necessidade de trabalhar, etc. Esses relatos produzem efeitos 
importantes: 
• 
• 
• 
• 
permitem a abertura do diálogo sobre a dimensão histórica da escolha pro-
fissional que se interpõe, muitas vezes de modo inconsciente, durante todo o 
processo; 
facilitam a compreensão sobre os projetos profissionais que se deslocam ao 
longo de gerações; 
oferecem visibilidade aos pais sobre as inquietações que a escolha do filho des-
pertam, porque estão ligadas à revivência de sua própria escolha profissional, 
agora marcada por urna trajetória de sucesso, fracasso, arrependimento, etc.; 
legitimam a posição dos pais, hoje, caracterizada pelo temor de falar o que 
pensam para não influenciar, como se fossem porta-vozes de mensagens 
prejudiciais. 
No contato com os pais, consideramos que o orientador profissional deve dar aten-
ção especial à força do desejo e à posição dos pais na contemporaneidade.Quanto à 
força do desejo, na perspectiva do nosso trabalho, que é a da psicanálise, pode ser 
evidenciada no discurso dos pais, discurso esse que determina a posição que cada filho 
assume na família. Revestida de expectativas e projetos de natureza diversa, a marca do 
desejo está impressa no modo como o filho é visto, como cada filho é reconhecido: 
como alguém que corresponderá às mais altas expectativas, às expectativas medianas, 
ou de quem não se espera muito. No âmbito do processo de Orientação Profissional, 
trabalhamos com a hipótese de que o projeto profissional também está atrelado ao dese-
jo que circula, inclusive, por gerações, cuja força se evidencia no sentimento que os 
jovens nutrem ao seu respeito: de crédito ou descrédito na própria capacidade para fazer 
escolhas e conquistas. Portanto, é preciso investigar a imagem e os projetos que os pais 
construíram para os filhos. Por essa via, pode-se ch~ga~ às re_ferências identificatórias e 
aos traços de identificação do jovem com pessoas significativas. 
Observamos que os maiores impasses que ocorrem nesse processo estão direta-
mente vinculados à identificação, via privilegiada do processo de reconhecimento do 
sujeito. Esses impasses para o jovem se expressam nas seguintes dificuldades: 
• confrontar-se com a representação do seu lugar na família, seja por constatar 
um excesso de exigências ou por descrédito em sua capacidade; 
------------94 Levenfus, Soares & Cais. . do J. ovem é ser fruto de 
. o deseJO lh . da família, pois drnitir as seme anças com 
• admitir que possm traços. é difícil nessa fase a ral A urgência é provar 
" a ou seJa, d modo ge · geração espontane ' . e adultos, e 
·gnificauvas f a· b't• pais, pessoas s1 s· _ orizadas na amt ta mo 11za 
que é diferente de todo ' daquelas que sao vai ausar decepção, fracassa, 
• fazer escolhas diferentes r de ser abandonadfio, c só para enfrentar o merca. 
fantasias ligadas ao tem?s" perder o apoio, icatr·tária· 
- b decer aos pai ' d scolha so 1 ' 
1 "por nao o e eqüências a e . d f mília paradoxa mente, ern do de trabalho e as con!spondem ao deseJO, a a peti~ões familiares. 
• fazer escolhas que_ corr es relacionados as com 
os suscita temor 
alguns cas • , _ s dados sobre a história da 
. estões destacadas ate entao, o 
Para exemphfic_ar as qu tados em síntese: 
família de Felipe serao apresen 
1 RAÍZES DA FAMIÍLIA 
Lado paterno Lado materno 
' 
Avô: contador Avô: engenheiro civil 
Avó: professora de teclado Avó: dona de casa . _ 
Mãe: projetista de produto Pai· engenheiro de telecomumcaçoes ~ 
Expectativas: fazer o que gosta. · . . Ira profissao que Expectativas: med1cma ou ou 
tenha boa aceitação no m~rcado. . . 
Profissão que o pai gostaria de ter feito. Profissão que a avó gostaria de ter feito: 
medicina medicina 
Pessoas importantes: tios engenheiros e médicos. 
. . · - profis-Conforme demonstram os dados acima, med1cma e telecomu~1c~çoes, , das 
sões que interessam a Felipe, exercem influência de natureza subJehva, ª(e~ A 
possibilidades de acesso ao mercado de trabalho, alegada~ na entrevista ~e se 
3 saber engenharia de telecomunicações é o campo profiss10nal do seu pai, enqu d 
medi~ina também está relacionada a ele, enquanto desejo não-realizado. Do lad? ª 
família m'atema, medicina foi a profissão que a avó desejava fazer, além de ser a area 
de atuação de um tio considerado uma pessoa muito significativa. 
No que se refere à posição dos pais na contemporaneidade, a afirmação ~ue_a 
mãe de Felipe faz sobre não poder influenciá-lo evidencia o desconforto da maiona 
dos pais que nos procuram. Constrangidos, assumem posições caracterizadas rº' 
ambigüidade, omissão e culpa. Essas razões estão na origem da tendência a evitar 
dizer o 9 ue pensam, sobretudo acerca dos projetos e das expectativas que têm P:11:ª os 
filhos. E comum escutannos pais totalmente dominados pela ilusão de que, onuundo 
o que p_e,~sam, ajudam os filh~s, porque os deixam livres para fazerem melhores 
lhas. F1e15 reprodutores do dIScurso contemporâneo, atuam como se fosse passive 
neutralizar a história da família e o próprio desejo. . 
. Esse ~is_curso impr~~•do de ~al~res e ideais que privilegiam 
O 
culto ao indiv•· 
dual~smoC a hbe'.dade e a mdependencrn produz um tipo de solidão que exacerba as 
mqmetaçoes do Jov~m. _Órfão ~e referência, pois seus pais são silenciosos e, quando 
expres_sam seu dese10, e d~ nao mfluenciar o seu destino. AcometidoS do temor de 
assurrur o lugar de referencia e de exercer essa função, os pais, quando indagados 
Orientação Vocacional Ocupacional 95 
sobre as expectativas e projetos que construíram para os filhos, adotam posições que 
não são facilitadoras. 
Alguns garantem que, livres de sua interferência, os filhos farão escolhas melho-
res. Outros não conseguem assumir nenhuma posição. Ambas as situações produzem 
impasses. No primeiro caso, apesar de silenciosas, as expectativas são bastante eleva-
das. O jovem, diante dessa situação, tem dificuldades para explicitar o que pensa e, 
quando o consegue, é desautorizado. No segundo caso, os pais deixam seu lugar vazio. 
Culpados, esses pais silenciosos tentam preencher seu lugar com bens materiais 
e com a ausência de limites. Diante da paternidade idealizada e por realizar, esperam 
que o filho seja perfeito, caminhe sozinho e os supere em virtudes e êxitos. Na medida 
em que não falam, atuam, induzindo-o a reparar suas próprias escolhas. A farru1ia 
moderna tem produzido filhos solitários e inseguros, aos quais propõe que encontrem 
seu lugar e sejam felizes. O cerne desse discurso é a libertação da história individual, 
independente das origens sociais e culturais dos pais. 
Considerando esse contexto e a importância que atribuímos aos pais, convoca-
mos sua participação, estimulando-os a falar e a ocupar seu lugar de referência 
identificatória. Esse modo de legitimá-los tem facilitado a compreensão da importân-
cia de exercerem sua função, que é incompatível com a ilusão de que não devem falar. 
Ao contrário do que imaginam, autorizar-se a dizer o que pensam, desbloqueia a 
comunicação e ajuda o jovem a situar-se diante do que desejam para ele. 
Quando os pais não dizem o que pensam, o desejo silencioso exerce uma força tão 
expressiva que o jovem, mesmo já tendo constatado que não se identifica com determi-
nadas profissões, não "descola" delas, permanecendo às voltas com questões que não se 
sustentam. Para esclarecer melhor essa situação, citaremos falas emblemáticas: "Eu 
pensei que não dizendo nada ajudaria meu filho. Nunca me ocorreu que minhas expec-
tativas sobre ele tivessem uma função importante"; "Eu nunca pensei que meu desejo 
de fazer direito, sem eu nunca ter falado, fosse aparecer no meu filho!". Esses fragmen-
tos do discurso de duas mães evidenciam a surpresa de ambas gerada pela percepção de 
que, apesar de os filhos não terem identificação com as profissões que elas desejam, 
foram testemunhas da dificuldade que eles enfrentavam para descartá-las e assumir 
outra escolha. Nos dois casos, inclusive, as escolhas foram realizadas em áreas total-
mente diferentes daquelas às quais os jovens se "apegavam". 
Outro exemplo é esse fragmento do discurso de uma adolescente: "Eu estava na 
dúvida entre jornalismo e publicidade e insistia em saber a opinião de minha mãe. Ela 
se recusava a dar opiniões para não me influenciar. Depois de muita insistência, es-
clareceu que não gostava das minhas opções, porque, como a dela, não me daria 
retomo financeiro. Por esse motivo, torcia para eu fazer o curso de informática. Quando 
eu ouvi o que ela pensava, ela, mesmo sem concordar comigo, ajudou-me a escolher 
publicidade". 
Tomar contato com esses dados da história pessoal não neutraliza as inquieta-
ções e o sentimento de solidão do jovem diante do que se espera dele. É preciso 
considerar que assumir uma escolha representa confrontar-se com duas dimensões 
significativas da solidão, particularmente legítimas. Uma, que se expressa no senti-
mento de estar em risco,de errar, de desobedecer, de ser penalizado, de se dar mal... 
Outra, mais inconsciente, que se refere à angústia frente à demanda das figuras de 
referência (os próprios pais ou pessoas significativas), conforme já foi dito. Apesar 
do trabalho de Orientação Profissional não ter a pretensão de aprofundar essa última 
problemática, ao fazer a retrospectiva histórica, caracterizar o perfil e integrar essas 
informações às características das profissões de interesse, o jovem consegue situar-se 
diante de sua escolha. A falta de recursos que havia antes para lidar com as convoca-
Levenfus, Soares & Cols. 
ções explícitas ou silenciosas dá lugar à construção de referências que o capacita 
assumir uma posição diante do seu desejo. . , . . . Ill ª 
Retomando o caso de Felipe, con_fo~e Jª fm di~?: 0 ~ovem chegou afinnando 
seu interesse por medicina e telecomumcaçoes. N_a sequencia do p_rograma, no segu0_ 
do encontro, é realizada uma tarefa que tem a fin~lid~de de caractenzar o perfil pessôa) 
cujo objetivo é propiciar a aquisição de refe~en_cias sobre os _tr~ços marcantes, 0~ 
interesses, as habilidades, as capacidades, os _Imutes, a~ po~encia~idades e _as dificuJ. 
dades, para que possa articular esses dados as profissoes mveSttgadas e identificar 
aquela com a qual se tenha mais afinidade. 
Para uma breve apresentação, faremos a síntese dessa tarefa. 
Características marcantes: capacidade para negociar, articular, comerci~izar, c~ar estratégias; 
desenvolver habilidade numérica, facilidade para lidar com pessoas, mediar conflitos, solucionar 
problemas, em especial aqueles que podem ser resolvidos a partir das ciências exatas; inteligência 
geral, dinamismo, atenção a detalhes. 
Interesses: atividades voltadas para planejamento e resultados financeiros, que exijam execução 
com regularidade, controle e seqüência lógica. Não se interessa por trabalho ligado aos equipamen-
tos eletrônicos, ler, estudar, especialmente biologia. 
Principais dificuldades: inibição de suas potencialidades, desinvestimento generalizado em rela-
ção às atividades que desenvolve, medo de desagradar, tendência a desistir do que pretende quando 
se confronta com desafios, insegurança. ' 
O ~asso seguinte é o exercício de articulação entre os dados sobre o perfil pesso-
ale as discussões sobre as profissões investigadas que são ordenados na tarefa deno-
minada Matriz de Integração que se segue. 
MATRIZ DE INTEGRAÇÃO 
TELECOMUNICAÇÕES 
1~~~i=~~~ot~e~sse ~esolução de pro~lem~ da área de exatas, raciocínio rápido. Outro fator 
Dificuldades· fal ~s~1b1hdade de g~ar dmhe1ro, na medida em que essa é uma área promissora. 
. ta e interesse para ltdar com equipamentos eletrônicos. -MEDICINA 
A0nidades: condição para lidar com 
Dificuldades: pouca dispo ºbTdad ª morte e com :1 dor, controle emocional. 
em horários pouco conve m_ t t . e para estudar, alem de não gostar de biologia nem de trabalhar nc1onais. , 
ASIOTERAPIA ----Afinidades: coorden ão m . 
Dificuldades: pouca~-~ ~tora, mteresse pelo corpo humano 
1enc1a e calma. · 
ADMINISTRAÇÃO ------Afinidades: capacidade . é · . . para negociar · . de num nca, fac1 Itdade para lidar ' articular, mediar conflitos e . té ·as habiltda 
para os problem com gente sociabi l"d . cnar estra g1 ' 1 õeS 
dade para ganh:di~~st~ atividades voitadas p~a a1e, ~tsponibilidade para encontr~ s~ ~:Cili· 
e sequência lógica e1ro, Interesse por atividade p ~eJamento e resultados financeiros, rrole 
Dificuldades· não ·id t'ti 5 que sao executadas com regularidade, con 
· • en 1 1cadas. 
Orientação Vocacional Ocupacional 97 
Observa-se que o curso mais sintonizado com o perfil de Felipe é administração, 
sequer vislumbrado por ele no início do programa. A realização dessa tarefa, com a 
assessoria do coordenador, permite a troca, a ordenação e a discriminação dos dados. 
Nesse caso, além de não existir afinidade com medicina e com telecomunicações, as 
dificuldades identificadas demonstram a sua dissonância com as exigências das pro-
fissões, a saber: a falta de interesse para lidar com equipamentos eletrônicos, no caso 
da escolha por telecomunicações e pouca disponibilidade para ler, estudar, principal-
mente biologia, na opção por medicina. Nessa investigação, valorizamos a análise 
das dificuldades para distingui-las das impossibilidades, na medida em que as primei-
ras possam ser contornadas e as segundas representem os inevitáveis limites que to-
das as pessoas podem ter. Além disso, é possível identificar, também, dificuldades de 
ordem psicológica e fazer indicação de tratamento, quando necessário. Em alguns 
casos, problemas emocionais não-identificados pelos pais geram tensão e interpreta-
ções distorcidas sobre o jovem, tais como irresponsabilidade, preguiça, birra, etc. A 
indicação de tratamento confere um outro sentido aos sintomas, facilitando a mudan-
ça de conduta dos pais. 
ÚLTIMO ENCONTRO 
Nesse encontro, os pais e os jovens recebem um documento que demonstra a 
evolução do processo. Eles trocam idéias, explicitam suas posições, em especial 
verbalizam aprovações ou temores sobre a escolha do filho. A estrutura do documen-
to comporta os seguintes itens: 
• opções iniciais, profissões investigadas, priorizadas e profissão escolhida; 
• síntese da matriz histórica; 
• caracterização do perfil pessoal; 
• integração do perfil pessoal às características das profissões investigadas; 
• considerações da coordenação; e 
• recomendações. 
O item Considerações é utilizado pela coordenação para registrar seu posiciona-
mento sobre a escolha realizada, agora, de modo mais direto. Isso não significa que, 
durante o processo, o jovem fique à deriva de suas dúvidas e inquietações. Ao contrá-
rio, o coordenador acompanha as tarefas e as elaborações, estimulando a discrimina-
ção dos dados e norteando as articulações entre os conteúdos que são propostos e 
aqueles que emergem a partir das discussões. A metodologia adotada, inclusive, ofe-
rece, a cada encontro, um documento-síntese sobre os temas tratados no encontro 
anterior, organizado com o propósito de atualizar as elaborações e integrá-las aos 
novos conteúdos. Essa prática reaviva as elaborações em curso e ajuda a aprofundá-
las. Uma das evidências de que esse objetivo é conquistado diz respeito à qualidade 
da argumentação do jovem, quando questionado pelos pais sobre sua definição pro-
fissional. Adotando essa metodologia, o coordenador não se autoriza a intervir de 
modo pessoal. 
A entrega e a análise da síntese da evolução do processo, no final do programa, 
tem produzido efeitos facilitadores . Para os pais, em particular, os dados sobre 0 
perfil pessoal articulados à profissão escolhida, propiciam, de partida, o reconheci-
mento das características do filho e o sentimento de respeito às suas produções e 
elaborações, mesmo quando a escolha profissional os contraria. O que antes era con-
8 Levenfus, Soares & Cols. ·---
, lhas diferentes das expectativas da farní. 
siderado uma afronta, como e o caso das esco 
lia, passa a ter legitimidade.. . . 'b ída à escolha profissional, nesse mornen. 
É evidente que essa leg1ttmi~a~e atn u 
O 
de modo espontâneo. Os pais de 
t qtilhdade tampouc · 'd 'fi to, não ocorre sempre com ran ' aracterísticas pessoais I ent1 1cadas 
Felipe, por exemplo, apesar de reconh_e~erem_as ~evantaram a hipótese de essa opção 
e sua sintonia com a escolha por admi~isdtraçao,sos de medicina e telecomunicações 
'd 't concorrência os cur . N . ' ser uma sai a para ev1 ar a d'am as suas expectativas. a maioria 
os quais, conforme já foi referido, co7ies~on :ograma momento que exige do coor-
dos casos, esse é um dos mai~re~ desa 1~s ~s interve~ções adequadas a esse traba-
denador habilidade e competencia ~ara aze 'd do para sustentar o enquadramento 
lh D. d d t O modo é preciso ter o cm a . o. 1zen o e ou r • . • tentação nem na armadilha de do rocesso de Orientação Profissional, sem catr, n~ ,' . , 
P • - b'l' conflitos e angustias que so podenam ser trabalha-fazer mtervençoes que mo 1 izam. , . 
dos no tempo e no espaço de um tratamento psi~olog!co. ~ . 
o impasse que os pais de Felipe criaram fm mediado pela coordenaçao, precisa-
mente a partir da indagação sobre a hipótese que foi lev_antada. Ressaltando as_ supo-
sições e os dados registrados no documento que l_hes foi entregue, f~ram convidados 
a refletir sobre a possibilidade de estarem com dificuldade para aceitar uma ~scolha 
que contrariava as suas expectativas. Esse tipo de questão, no nosso entendimento, 
evita o deslize para interpretações sobre problemas psicológicos que extrapolam a 
finalidade desse trabalho; confronta os pais com o seu desejo e com o desejo do filho, 
colocando o foco na escolha profissional. Do lado dos pais, favorece a visão de que, 
ao pensar diferente, o filho, necessariamente, não os estaria afrontando. Do lado do 
jovem, a percepção sobre seu direito de pensar e de fazer escolhas diferentes desvincula-
se da fa_ntasia de_ que será punido, fracassará pela desobediência ou perderá a aliança 
e o ap010 dos pais . 
. O~ proces,sos_que conduzimos têm gerado escolhas adequadas que se revelam na 
ava~iaçao q~e e feita no final do processo, cuja ratificação ocorre na avaliação que é 
reah~ada dms ou tr~s anos após, com os jovens e com os pais, conforme ilustram os 
dep01mentos a segmr: 
"Você não sabe o bem que o Progr t , . h . 
mente ct·, . ama ez ª mm ª filha. Ela se posicionou completa-. . 11erente a partir de então. Seu inv f - " . . . 
mc1sivo: tem participado d . ~s ime~t? na formaçao academica ficou mais 
curado se articular com et pesquisas, f~lto estagios logo no início do curso, tem pro-
pro essores considerados sérios etc " "E , . 
sse Programa ajudou bastante. O modo de 
nosso perfil às profissões vai p . . d _ord~nar os dados, de fazer a articulação de quer A' d · ermitm o a nos d1s · · · Ju a, Inclusive a lid cnmmar o que se quer e o que não se nossa tr · , · ' ar com algumas dific Jd d a.Jetona profissional." u a es que teremos de enfrentar na 
"Fiquei impressionada com . . 
do no primeiro . a determmação de me filh - . 
não qu1·s . vestibular. Passou em out u t o. Nao passou no curso escolh1-mgressar p , ro curso em . re1ere ficar estudando , uma segunda faculdade, mas ele 
para tentar novamente". 
Orientação Vocacional Ocupacional 99 
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