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Transtornos psiquiátricos relacionado ao uso de substâncias

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1 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
OBJETIVO 01: DESCREVER OS TIPOS DE 
TRANSTORNOS RELACIONADOS A SUBSTÂNCIAS 
E OS EFEITOS DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA 
(ÁLCOOL, MACONHA, COCAÍNA/ CRACK) 
INTRODUÇÃO 
O consumo de álcool, tabaco e outras drogas está presente 
em todos os países do mundo. Mais da metade da 
população das Américas e da Europa já experimentou 
álcool alguma vez na vida e cerca de um quarto da 
população é fumante. O consumo de drogas ilícitas atinge 
4,2% da população mundial. A maconha é a mais 
consumida, seguida pelas anfetaminas, cocaína e os 
opiáceos, incluindo-se heroína. As complicações clínicas e 
sociais causadas pelo consumo de tais substâncias são hoje 
bem conhecidas e consideradas um problema de saúde 
pública. O tabaco foi o maior fator responsável pelas 
mortes nos Estados Unidos, em 1990, contribuindo 
substancialmente para as mortes relacionadas a neoplasias, 
doenças cardiovasculares, doenças pulmonares, baixo peso 
ao nascimento e queimaduras. O aumento do consumo de 
álcool está diretamente relacionado a ocorrência de cirrose 
hepática, transtornos mentais, síndrome alcoólica fetal, 
neoplasias e doenças cardiovasculares. O abuso e a 
dependência de substâncias, de uma forma geral, são mais 
comuns nos homens que nas mulheres. 
Substâncias com potencial de abuso são aquelas que 
podem desencadear no indivíduo a autoadministração 
repetida, que geralmente resulta em tolerância, abstinência 
e comportamento compulsivo de consumo. Tolerância é a 
necessidade de crescentes quantidades da substância para 
atingir o efeito desejado. As substâncias com potencial de 
abuso discutidas neste capítulo são agrupadas em oito 
classes: álcool, nicotina, cocaína, anfetaminas, inalantes, 
opioides, ansiolíticos benzodiazepínicos e maconha. Pode 
haver coadição de drogas e co-morbidade do uso de drogas 
com outros transtornos psiquiátricos. 
Há diferentes padrões de consumo que variam de 
intensidade ao longo de uma linha contínua. Antigamente, 
esses padrões de consumo se restringiam à dependência ou 
à não dependência. Contudo, qualquer padrão de uso pode 
trazer problemas para o indivíduo. Desse modo, o padrão 
de uso pode ser classificado em um consumo de baixo 
risco, uso nocivo ou dependência. O consumo de 
substâncias em baixas doses, cercado de precauções 
necessárias à prevenção de acidentes relacionados, faz 
deste um consumo de baixo risco. Há indivíduos que fazem 
uso de substâncias ocasionalmente, mas são incapazes de 
controlar ou adequar seu modo de consumo, o que pode 
levar a problemas sociais (brigas, falta no emprego), físicos 
(acidentes) e psicológicos (heteroagressividade). Diz-se, 
então, que tais indivíduos fazem uso nocivo. A presença de 
abstinência exclui este diagnóstico. Por fim, quando o 
consumo se mostra compulsivo e destinado à evitação de 
sintomas de abstinência, e cuja intensidade é capaz de 
ocasionar problemas sociais, físicos ou psicológicos, fala-se 
em dependência. O diagnóstico de dependência a uma 
determinada substância requer a presença de compulsão 
para o consumo, aumento da tolerância, síndrome de 
abstinência, alívio ou evitação da abstinência pelo aumento 
do consumo e consumo da substância em detrimento de 
outras áreas de interesse da pessoa (trabalho, p. ex.). 
As complicações clínicas orientam um critério de gravidade 
da dependência. Abordá-las de modo preciso e precoce é 
importante, entre outros motivos, pelo fato de que pode 
estimular o paciente a buscar a abstinência. Muitos 
pacientes não admitem a relação entre seu consumo de 
drogas e as complicações clínicas, mas aceitam ser 
submetidos a tratamento por conta delas. 
Pode haver coexistência de dois ou mais transtornos 
mentais, denominada comorbidade. Esta pode se dar como 
uso de duas ou mais substâncias e/ou uso de substância e 
outro transtorno mental, como por exemplo depressão e 
uso de cocaína. Nestes casos, a melhora do transtorno 
psiquiátrico associado pode ser benéfica para a evolução do 
quadro de dependência estabelecido. 
 
ETIOLOGIA DAS SPA 
A etiologia da dependência de drogas é multifatorial. O 
processo que leva à dependência de drogas pode ser 
dividido em três etapas: experimentação, uso e 
dependência. O contato com as drogas começa pela 
experimentação. Quanto mais precoce for o contato com a 
droga, maior a chance de surgirem problemas com seu uso. 
 
2 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
Não é por acaso que restringir o acesso ao uso de tabaco e 
álcool aos menores de 18 anos é uma política presente em 
quase todos os países do mundo. 
No momento de exposição às drogas, entram em jogo os 
fatores de risco para o indivíduo tornar-se um dependente. 
Quanto maior o número de fatores de risco em um 
determinado sujeito, maior a sua chance de desenvolver o 
problema. São considerados fatores de risco: 
1) Hereditariedade: filhos de pai ou mãe dependentes de 
droga têm mais chance de se tornarem dependentes 
quando experimentam droga do que os que não têm 
história familiar. Não sabemos ainda como esta 
vulnerabilidade se transmite mas um dos fatores está 
relacionado ao efeito da droga em nosso corpo. Alguns 
indivíduos têm mais prazer, outros têm mais desconfortos e 
esses efeitos devidos à droga podem ser herdados 
geneticamente. 
2) Psicopatologia: indivíduos com transtornos psiquiátricos 
têm mais chance de se envolverem com a droga após a 
experimentação. Ansiedade, depressão, traços de 
personalidade como busca de sensações fortes (sensation 
seeking), hiperatividade e déficit de atenção são alguns dos 
fatores de risco. 
3) Pressão de grupo: muitos adolescentes têm como 
verdade a afirmativa “todo mundo usa”. Essa sensação 
estimula o indivíduo a usar para poder fazer parte do 
grupo. 
4) Acesso: o acesso hoje às drogas é muito fácil. Na maior 
parte das pesquisas, os sujeitos referem que encontram 
drogas “com facilidade”. 
5) Situação familiar: pais mais tolerantes ao uso podem 
aumentar as chances de seu filho usar drogas. Discursos 
como: “faz parte da idade”, “é coisa de adolescente”, “isto 
passa”, podem impedir os familiares de abordarem seus 
filhos para conversarem sobre o assunto. Famílias 
disfuncionais com conflitos, violência e pouca interação 
também podem predispor ao consumo de drogas. 
6) Falta de informação: adolescentes mal informados sobre 
as drogas têm mais chance de usarem drogas. Outra 
questão importante e alvo de debates no momento é a 
teoria da porta de entrada. Será que usar uma droga leva 
ao uso de outras? Algumas pesquisas apontam que sim. Um 
fumante de tabaco tem 2,8 vezes mais chance de se expor à 
maconha do que quem não fuma tabaco. Um fumante de 
maconha tem 5 vezes mais chance de se expor à cocaína do 
que os não fumantes de maconha. 
 
FISIOPATOLOGIA DAS SPA 
Sistema da recompensa da droga no cérebro 
Estudos a partir do funcionamento do sistema nervoso 
central de ratos sustentam que o processo de dependência 
de droga pode ser o mesmo para seres humanos. As 
ilustrações mostradas aqui usam a informação recolhida 
dos estudos animais para mostrar quais áreas podem ser 
envolvidas em sistemas da recompensa no cérebro 
humano. O sistema da recompensa da cocaína e 
anfetamina inclui neurônios dopaminérgicos encontrados 
na área tegmental ventral (VTA). Esses neurônios são 
conectados ao núcleo accumbens (Nac) e a outras áreas, 
tais como o córtex prefrontal. 
O sistema da recompensa de opiáceos e do álcool também 
inclui estas estruturas. A secreção de dopamina decorrente 
do uso de drogas seria maior e teria duração mais longa do 
que em processos fisiológicos. Dessa forma, a falta da SPAproduziria uma sensação de desconforto no usuário, 
fenômeno conhecido com fissura (craving), ou seja, a 
expressão de um intenso desejo pela droga, que levaria o 
usuário a voltar a consumir e a procurar obter mais 
facilmente a SPA, caracterizando a perda de controle do 
início, do término e dos níveis de uso. 
 
O processo de uso repetitivo das SPA com padrão 
compulsivo, sugerido a partir de modelos animais 
envolvendo vias estriatais, tem sido demonstrado por 
estudos com imagens como a tomografia por emissão de 
pósitron (PET) e a tomografia por emissão única de fóton 
(SPECT), envolvendo a administração aguda de etanol em 
voluntários sadios, demonstrando a ativação de regiões 
estriatais consideradas intimamente relacionadas com o 
sistema de recompensa, responsável pela fissura pelo 
álcool. 
 
 
3 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
 
TRANSTORNOS RELACIONADOS AO ÁLCOOL 
O consumo de álcool é considerado atualmente um dos 
principais problemas de saúde pública no mundo. Estima-se 
que quase 14% da população americana preencha os 
critérios de dependência ou abuso de álcool em algum 
período da vida. O uso de álcool constitui a terceira causa 
de mortalidade que poderia ser prevenida. Esses dados são 
alarmantes e, uma vez que nos deparamos diariamente 
com pacientes com problemas relacionados ao uso de 
álcool na prática clínica, justifica-se a importância de um 
conhecimento mais aprofundado por parte dos médicos e 
dos profissionais de saúde em geral sobre o assunto. 
Ao contrário de outras drogas, nem todo consumo de 
álcool é prejudicial ao organismo. O consumo em baixas 
doses, especialmente na forma de vinho, parece diminuir o 
risco de doença cardiovascular. Oitenta por cento da 
população consome alguma quantidade, mas nem todas 
essas pessoas são dependentes. Mas como definir níveis 
seguros para beber? Para isso, costuma-se empregar o 
conceito de unidade de álcool, que equivale a 10 ou 12 g de 
álcool puro. Como a concentração de álcool varia em cada 
tipo de bebida, a quantidade de álcool também varia muito. 
Assim, por exemplo, 16 ml de álcool puro equivalem a uma 
lata (350 ml) de cerveja ou a um copo (150 ml) de vinho ou 
a uma dose (40 ml) de destilados. Dessa forma, foi definida 
a quantidade de unidades de álcool que um adulto hígido 
pode ingerir por semana sem colocar em risco sua saúde: 
21 unidades por semana para os homens e 14 unidades por 
semana para as mulheres. Os efeitos fisiológicos do álcool 
incluem depressão do sistema nervoso central e alteração 
da arquitetura do sono, com diminuição do sono REM. 
 
Não existe um fator isolado que possa predizer quais 
indivíduos apresentam maior risco de desenvolver 
dependência do álcool. Na realidade, diversos fatores em 
conjunto determinam as condições para o aumento 
progressivo do seu consumo, criando a base para o 
desenvolvimento da dependência. A motivação inicial para 
o uso de álcool e outras substâncias deve- -se, em parte, 
aos efeitos dessas substâncias no comportamento, no 
humor e na cognição. As mudanças subjetivas decorrentes 
desse consumo podem ser experimentadas como muito 
prazerosas por algumas pessoas e levá-las ao uso repetido. 
Elas podem passar a ter a sensação de não conseguirem 
mais desempenhar suas funções adequadamente sem o 
uso da substância, o que aumenta as chances de 
desenvolver a dependência. Fatores genéticos também 
exercem influência no risco de desenvolvimento de 
dependência, especialmente no sexo masculino com 
antecedente de familiar alcoolista do mesmo sexo. A 
 
4 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
maioria dos pacientes inicia o uso de álcool precocemente. 
Os primeiros episódios de intoxicação costumam aparecer 
na adolescência e a dependência desenvolve-se mais 
comumente entre os vinte e quarenta anos de idade. O 
abuso e a dependência de álcool potencialmente acarretam 
problemas sociais, legais, financeiros, no trabalho, na 
escola e nas relações interpessoais, além de estarem 
relacionados a doenças gastrointestinais, cardiovasculares, 
endócrinas, imunológicas e neurológicas. 
 
QUADRO CLÍNICO 
De uma forma geral, a dependência a diferentes 
substâncias apresenta critérios semelhantes, listados na 
introdução. Os indivíduos dependentes de álcool 
necessitam de uma grande quantidade diária de álcool para 
o funcionamento adequado. Quando não o fazem, 
apresentam sintomas de abstinência. Frequentemente, 
deixam de cumprir as obrigações de forma adequada, com 
atrasos ou faltas ao trabalho e conflitos familiares por conta 
disso. Também abandonam outras atividades que, no 
passado, eram prazerosas. A vida passa a girar em torno do 
hábito de beber, mesmo que esteja havendo prejuízos 
evidentes. 
Podem ser identificados com os seguintes questionários: 
CAGE (Cut down, Annoyed, Guilty, Eye- -opener) 
Contém quatro questões e a resposta afirmativa em duas 
ou mais é um indicativo de dependência do álcool. Observe 
as perguntas: 
1 – Você já tentou diminuir ou cortar (“Cut down”) a 
bebida? 
2 – Você já ficou incomodado ou irritado (“Annoyed”) com 
outros porque criticaram seu jeito de beber? 
3 – Você já se sentiu culpado (“Guilty”) por causa do seu 
jeito de beber? 
4 – Você já teve que beber para aliviar os nervos ou reduzir 
os efeitos de uma ressaca (“Eye -opener”)? 
AUDIT (Alcohol Use Disorders Identification Test) Utiliza dez 
questões, com pontuações específicas para cada resposta. 
Interpretação: até 7 pontos indica consumo de baixo risco; 
de 8 a 15 pontos indica uso de risco; 16 a 19 pontos indica 
uso nocivo; e 20 ou mais pontos, provável dependência. 
Perguntas: 
1– Com que frequência você consome bebidas alcoólicas? 
2– Quantas doses alcoólicas você consome tipicamente ao 
beber? 
3– Com que frequência você consome cinco ou mais doses 
de uma vez? 
4– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você 
achou que não conseguiria parar de beber uma vez tendo 
comeca̧do? 
5– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você, 
por causa do álcool, não conseguiu fazer o que era 
esperado de você? 
6– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você 
precisou beber pela manhã para poder se sentir bem ao 
longo do dia após ter bebido bastante no dia anterior? 
7– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você se 
sentiu culpado ou com remorso depois de ter bebido? 
8– Quantas vezes ao longo dos últimos doze meses você foi 
incapaz de lembrar o que aconteceu devido à bebida? 
9– Você já causou ferimentos ou prejuiźos a você mesmo 
ou a outra pessoa após ter bebido? 
10– Algum parente, amigo ou médico já se preocupou com 
o fato de você beber ou sugeriu que você parasse? 
INTOXICAÇÃO AGUDA 
Intoxicação é o uso nocivo de substâncias em quantidades 
acima do tolerável para o organismo. Os sinais e os 
sintomas da intoxicação alcoólica caracterizam-se por níveis 
crescentes de depressão do sistema nervoso central. 
Inicialmente, há sintomas de euforia leve, evoluindo para 
 
5 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
tontura, ataxia e incoordenação motora, passando por 
confusão, desorientação e atingindo graus variáveis de 
disartria, anestesia, podendo chegar ao estupor, coma, 
depressão respiratória e morte. A intensidade da 
sintomatologia tem relação direta com a alcoolemia. O 
desenvolvimento de tolerância, a velocidade da ingestão, o 
consumo de alimentos e alguns fatores ambientais também 
são capazes de interferir nessa relação. A maioria dos casos 
não requer tratamentofarmacológico. De acordo com os 
sintomas e sinais, devem-se conduzir medidas gerais de 
suporte à vida. Broncoaspiração de vômitos e TCE por 
queda da própria altura também podem decorrer da 
intoxicação. 
Há uma forma peculiar de intoxicação, que é um pouco 
rara, porém de importância pela sua gravidade. Na 
intoxicação alcoólica idiossincrática ou patológica, há 
graves alterações de comportamento após a ingestão de 
pequena quantidade de álcool. Pode haver alterações da 
consciência, desorientação, amnésia lacunar, alucinações, 
delírios e atividade psicomotora aumentada. O 
comportamento pode ser impulsivo e agressivo, e o 
indivíduo pode tomar atitudes agressivas, das quais não se 
recorda. 
 
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA 
A cessação da ingestão crônica de álcool ou sua redução 
pode levar ao aparecimento de um conjunto de sinais e 
sintomas de desconforto definidos como síndrome de 
abstinência. O sinal mais precoce e mais clássico da 
abstinência é representado pelos tremores. A maioria dos 
dependentes apresenta uma síndrome de abstinência entre 
leve a moderada, caracterizada por tremores, insônia, 
agitação e inquietação psicomotora. Cerca de 5% dos 
pacientes apresentarão sintomas graves. A síndrome de 
abstinência é autolimitada, com duração média de sete a 
dez dias. Crises convulsivas tônico-clônicas aparecem em 
3% dos casos e a mortalidade gira em torno de 1%. Os 
sintomas têm certa relação temporal com o momento de 
cessação do uso. Os sintomas leves, como ansiedade, 
irritabilidade, insônia e tremor, costumam aparecer mais 
precocemente, cerca de 24 a 36 horas após a interrupção 
do uso. Já os sintomas mais graves costumam surgir cerca 
de três a quatro dias depois da abstinência. O delirium 
tremens é um estado confusional breve, mas 
ocasionalmente com risco de morte, geralmente resultante 
de uma abstinência absoluta ou relativa de álcool em 
usuários gravemente dependentes, com longa história de 
uso. A clássica tríade de sintomas inclui obnubilação da 
consciência, confusão, desorientação temporoespacial, 
alucinações e ilusões vívidas, além de tremores marcantes e 
sudorese profusa. Delírios, agitação, insônia, ou inversão do 
ciclo sono-vigília e hiperatividade autonômica (hipertensão 
arterial, taquicardia, taquipneia, hipertermia) também 
estão geralmente presentes. As alucinações visuais 
costumam ser de animais, denominadas zoopsias. 
Outro quadro, mais raro, pode ocorrer na síndrome de 
abstinência. A alucinose alcoólica se caracteriza por 
alucinações predominantemente auditivas, mas que 
também podem ser visuais ou táteis, e que podem causar 
ansiedade, medo ou agitação. Uma característica peculiar 
deste tipo de fenômeno é que ele ocorre na ausência de 
rebaixamento do nível da consciência e sem alterações 
autonômicas. 
O tratamento da síndrome de abstinência visa o alívio dos 
sintomas existentes, a prevenção do agravamento do 
quadro com convulsões e delirium e a vinculação do 
paciente no tratamento, que pode ocorrer de forma 
ambulatorial ou internação hospitalar, dependendo da 
gravidade do quadro. O tratamento baseia-se no uso de 
benzodiazepínicos e reposição de vitaminas para evitar a 
síndrome de Wernicke. 
 
 
 
 
6 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
COMPLICAÇÕES CLÍNICAS 
O uso excessivo de álcool pode gerar diversas complicações 
clínicas, sendo as principais:- Gastrointestinais: pancreatite, 
gastrite, úlcera gástrica e duodenal, esteatose e cirrose 
hepática, tumores hepáticos; - Cardiovasculares: 
hipertrigliceridemia, hipertensão, aumento do LDL, 
cardiomiopatia; - Endócrinas: diminuição da libido, 
amenorreia, impotência; - Miopatia periférica induzida por 
álcool; - Cognitivas: disfunções cognitivas subclínicas, 
demência; - Neurológicas: relacionadas à deficiência de 
vitaminas, principalmente tiamina: neuropatias periféricas, 
deficits cognitivos, prejuízo da memória, alterações 
degenerativas cerebelares 
TRANSTORNO AMNÉSTICO PERSISTENTE INDUZIDO 
PELO ÁLCOOL 
Alterações da memória, principalmente da memória 
recente, podem ocorrer em usuários de grande quantidade 
de álcool por muito tempo. As duas principais entidades 
clínicas são: a síndrome de Wernicke e a síndrome de 
Korsakoff. Ambas são causadas pela deficiência de tiamina, 
presente nestes casos devido a maus hábitos alimentares 
ou alterações na absorção gastrointestinal. 
A Síndrome de Wernicke (SW) é um transtorno neurológico 
agudo caracterizado por ataxia, confusão mental e 
alterações da motilidade ocular extrínseca, como nistagmo. 
Há possibilidade de reversão do quadro com o tratamento. 
Caso contrário, há evolução para a Síndrome de Korsakoff 
(SK). O tratamento da SW é tiamina 100 mg, duas a três 
vezes por dia, por uma a duas semanas. A SK é uma 
síndrome amnéstica crônica que pode seguir-se à SW. Os 
aspectos fundamentais desta síndrome são deficits 
mnêmicos, principalmente da memória anterógrada ou 
recente. Pode haver confabulação, que é a inserção de 
dados na lacuna da memória, os quais não correspondem à 
realidade. Estes pacientes perdem a capacidade de fixação 
de qualquer nova informação. O tratamento se inicia da 
mesma forma que a SW, mas a fase de manutenção com 
reposição da tiamina pode durar de três meses até um ano. 
SÍNDROME ALCOÓLICA FETAL 
A síndrome alcoólica fetal é o resultado da exposição do 
feto ao álcool in utero. Por este motivo, recomenda-se que 
mulheres grávidas não devam ingerir derivados etílicos. 
Retardo mental, hipotonia, microcefalia, malformações 
craniofaciais e defeitos nos membros e coração são comuns 
nos bebês afetados. 
TRATAMENTO 
O tratamento da dependência do álcool é complexo, devido 
aos frequentes episódios de intoxicação, abstinência e 
recaídas. Os objetivos devem ser a abstinência, a prevenção 
de recaídas e a reabilitação. A diminuição da quantidade de 
álcool ingerida (ou beber controlado) é uma questão muito 
discutível, parecendo estar indicada em alguns grupos de 
pacientes, quando a melhora do estado clínico e psicológico 
é significativa. No entanto, para a maioria dos pacientes, a 
meta deve ser a abstinência total. 
MOTIVAÇÃO 
Constitui uma etapa importante do tratamento, devendo 
ser uma responsabilidade do paciente e do médico. Há 
quatro estágios descritos para a motivação: 
- Pré-contemplação: quando o paciente ainda não 
dimensiona as consequências negativas de beber e não 
planeja mudar seu comportamento; 
- Contemplação: quando o paciente começa a comparar as 
vantagens e desvantagens de beber e a possibilidade de 
realizar alguma mudança já é mais real; 
- Ação: quando mudanças objetivas no comportamento são 
realizadas; 
- Manutenção: quando alterações mais profundas no estilo 
de vida são concretizadas a fim de possibilitar a abstinência. 
RECAÍDAS 
Antigamente eram vistas como fracasso do tratamento, 
mas hoje se sabe que são muito frequentes e apenas 
significam que estratégias de prevenção devem ser 
empregadas. 
DESINTOXICAÇÃO 
Os dois principais objetivos são a melhora das condições 
gerais do paciente e emprego de medicações que possam 
aliviar os sintomas de abstinência. 
INTERVENÇÃO 
breve Geralmente realizada em uma a três sessões, inclui 
avaliar a gravidade do alcoolismo e oferecer feedback 
motivacional e aconselhamento. 
GRUPOS DE AUTOAJUDA 
Geralmente funcionam em esquema de reuniões diárias, 
nos quais são compartilhadas as experiências de cada um 
no processo de dependência e recuperação. 
MEDICAMENTOS 
De modo geral, o uso de medicamento está indicado para 
pacientes com consumo moderado a severo, que estão 
 
7 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
motivadosa reduzirem a ingestão de álcool e que não tem 
contraindicação ao uso individual do medicamento. 
Naltrexona: antagonista opioide que tem a funcã̧o de 
diminuir o prazer ao beber, por meio da liberação das 
endorfinas e consequente bloqueio da liberacã̧o de 
dopamina. A dose usual é de 50 mg/dia, mas pode chegar a 
100 mg/dia. Não deve ser utilizado junto com opioides, e é 
contraindicado para indivíduos portadores de hepatite ou 
insuficiência hepática. 
Acamprosato: o acamprosato, ao contrário da naltrexona, 
reduz o desejo compulsivo que aparece na abstinência, por 
meio da reducã̧o da atividade glutamatérgica e aumento da 
gabaérgica. Seu principal cuidado são os pacientes com 
insuficiência renal. Também é considerado uma droga de 
primeira linha. 
Dissulfiram (Antabuse): age inibindo a enzima acetaldeid́o 
desidrogenase, o que faz com que o acetaldeid́o 
(metabólito tóxico) se acumule no organismo, provocando 
vários efeitos colaterais, como rubor facial, cefaleia, 
tonturas, náuseas, vômitos, fraqueza, sonolência, sudorese, 
visão turva, taquicardia e sensacã̧o de morte eminente. 
Não deve ser utilizado em portadores de miocardiopatia 
grave, assim como em portadores de doença coronariana. 
Atualmente é considerado de segunda linha para o 
tratamento. 
TRANSTORNOS RELACIONADOS Á COCAÍNA 
A cocaína é uma das drogas ilícitas mais aditivas e 
perigosas, atualmente consumida por 0,3% da população 
mundial. A prevalência entre os homens é duas vezes maior 
do que entre as mulheres, com variações relacionadas à 
idade, sendo mais comum nos adultos jovens. É derivada 
das folhas de coca (Erytrhoxylon coca) e posteriormente 
transformada em vários subprodutos: crack, merla e 
produto refinado (“pó”). O consumo da substância pode se 
dar por qualquer via de administração, com rápida e eficaz 
absorção pelas mucosas oral, nasal e pulmonar. O 
mecanismo de ação se dá principalmente pela inibição da 
recaptação de dopamina, mas há também bloqueio da 
recaptação da noradrenalina e da serotonina. 
A euforia desencadeada reforça e motiva, na maioria dos 
indivíduos, o desejo por um novo episódio de consumo. 
Quanto mais rápido o início da ação, quanto maior a sua 
intensidade e quanto menor a duração, maior a chance de 
o indivíduo evoluir para situações de uso nocivo e 
dependência. Desse modo, a via de administração é um 
importante fator de risco para este comportamento 
prejudicial; as vias endovenosas e pulmonar (crack) 
parecem ser as vias de maior risco. Metabólitos podem ser 
detectados na urina em até dez dias após o consumo 
DIAGNÓSTICO E CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS 
Deve-se suspeitar de uso de cocaína em indivíduos que 
apresentem mudanças em seu comportamento habitual, 
tais como irritabilidade, capacidade comprometida para 
concentrar-se, comportamento compulsivo, insônia severa 
e perda de peso. Os colegas de trabalho e a família podem 
perceber uma incapacidade para executar tarefas 
esperadas associadas com o trabalho e a vida familiar. Os 
critérios para dependência de cocaína são semelhantes 
àqueles para as outras substâncias (desejo compulsivo de 
consumo, tolerância, abstinência, abandono progressivo de 
outras atividades, persistência do uso a despeito de 
prejuízo etc.). Seu uso está associado a complicações 
agudas e crônicas. 
MANIFESTAÇÕES AGUDAS 
A cocaína possui múltiplas ações periféricas e centrais, 
ligadas ao seu efeito estimulante. Os efeitos agudos 
produzem sinais e sintomas psíquicos e físicos. Geralmente 
ocorre euforia, aumento do estado de vigília, aumento da 
autoestima, melhor desempenho em atividades físicas e 
psíquicas. Pode haver delírios persecutórios e alucinações, 
os quais melhoram depois de cessado o efeito da droga. Os 
efeitos físicos estão ligados à hiperatividade autonômica: 
taquicardia, hipertensão arterial, taquipneia, hipertermia, 
sudorese, tremor leve de extremidades, tiques, midríase, 
espasmos musculares (língua e mandíbula), 
vasoconstricção. Há também efeito anestésico. 
INTOXICAÇÃO AGUDA E OVERDOSE 
Doses maiores estão associadas a irritabilidade, sintomas 
maníacos, agitação, comportamento sexual compulsivo. 
Estas doses também estão associadas a complicações 
clínicas, ligadas à ação simpaticomimética. A overdose pode 
ser definida como a falência de um ou mais órgãos 
decorrentes do uso agudo da substância e é uma 
emergência clínica que requer atenção imediata. Os 
principais sistemas afetados costumam ser o cardiovascular 
e o sistema nervoso central. 
ABSTINÊNCIA 
Após a cessação do uso de cocaína ou após a intoxicação 
aguda, a depressão pós-intoxicação (“aterrisagem”) 
caracteriza-se por disforia, anedonia, ansiedade, 
irritabilidade, fadiga, hipersonolência e, ocasionalmente, 
agitação. Pode haver também ideação suicida. Com o uso 
de cocaína leve a moderado, esses sintomas de abstinência 
costumam melhorar em até vinte e quatro horas; porém, 
com o uso pesado, podem durar até uma semana. No 
estado de abstinência, a avidez por cocaína pode ser 
 
8 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
poderosa e intensa, pois o indivíduo sabe que o consumo 
de cocaína pode aliviar estes sintomas. 
SISTEMA CARDIOVASCULAR 
As complicações cardiovasculares decorrentes do uso de 
cocaína são as mais frequentes entre as complicações não 
psiquiátricas. A angina pectoris é a queixa mais recorrente e 
não há diferença clínica entre esta e a angina ocasionada 
em outras situações. O infarto do miocárdio também foi 
relatado como uma complicação, geralmente em indivíduos 
coronariopatas e tabagistas. Pode haver, ainda, arritmias 
induzidas pela cocaína. 
SISTEMA NERVOSO CENTRAL 
As complicações do uso de cocaína neste sistema têm como 
substrato principalmente a va 
soconstricção, que causa principalmente eventos vasculares 
cerebrais isquêmicos (ataques isquêmicos transitórios, 
infartos cerebrais isquêmicos). Pode haver também infartos 
hemorrágicos cerebrais e medulares. Além disso, há relatos 
de convulsões tônico- -clônicas em 3 a 8% dos 
atendimentos relacionados à cocaína nas salas de 
emergência. A cocaína é a substância de abuso mais ligada 
a esta complicação; a segunda é a anfetamina. Morte Altas 
doses de cocaína estão associadas a convulsões, depressão 
respiratória, doenças cerebrovasculares e infarto do 
miocárdio, que podem levar à morte. 
GRAVIDEZ 
O consumo de cocaína durante a gravidez está associado a 
complicações, tais como: baixo peso ao nascer, abortos 
espontâneos e deficits cognitivos ao recém-nascido. 
COMPLICAÇÕES PSIQUIÁTRICAS AGUDAS 
As complicações psiquiátricas são o principal motivo de 
busca por atenção médica entre os usuários de cocaína, 
podem decorrer tanto de episódios de intoxicação quanto 
da síndrome de abstinência. Mesmo quando os sintomas 
psiquiátricos são evidentes, podem decorrer de condições 
clínicas, tais como hipoglicemia e distúrbios metabólicos. 
Desse modo, uma avaliação clínica é sempre desejável. 
Pode haver transtornos de humor relacionados à cocaína, 
sendo que os sintomas maníacos frequentemente ocorrem 
na intoxicação, enquanto que sintomas depressivos estão 
mais associados à abstinência. A presença de sintomas 
psicóticos que ocasionalmente ocorrem na intoxicação por 
cocaína, tais como delírios persecutórios; alucinações 
podem desaparecer espontaneamente após algumas horas, 
ao final da ação da cocaína. Agitações extremas, 
decorrentes destes sintomas, podem necessitar de 
abordagem farmacológica, com benzodiazepínicos ou 
antipsicóticos. Deve-se evitar o uso de antipsicóticos de 
baixa potência, como clorpromazina, pelo fato desta 
medicação provocar redução no limiar convulsivo. 
TRATAMENTO 
O maior obstáculo a ser superado no tratamento dos 
transtornos relacionados à cocaína é a intensaavidez do 
paciente pela droga. No entanto, até o momento, nenhum 
medicamento mostrou-se eficaz para proporcionar alívio 
aos sintomas de abstinência. Desse modo, os reforçadores 
negativos, como problemas no trabalho e na família, se 
colocam como importantes na motivação do paciente pelo 
tratamento. Intervenções psicológicas em grupo, familiares 
ou individuais, e grupos de apoio, como os Narcóticos 
Anônimos (NA) podem ajudar. 
TRANSTORNOS RELACIONADOS AO USO DE 
MACONHA 
Cannabis é o nome abreviado da planta Cannabis sativa, 
conhecida popularmente como maconha. Todas as partes 
da planta contêm princípios ativos, cerca de 400, dentre os 
quais o ∆9 -Tetraidrocanabinol (∆9 -THC) é o mais 
abundante. A planta é processada e consumida mais 
frequentemente na forma de cigarros. Os efeitos 
euforizantes são conhecidos há milhares de anos. Os 
potenciais efeitos medicinais são analgésico, 
anticonvulsivante e hipnótico. Recentemente a cannabis 
tem sido usada com sucesso no tratamento da náusea 
secundária às drogas, no tratamento do câncer e para 
estimular o apetite em pacientes com Aids. Alguns relatos 
menos convincentes incluem o uso no tratamento do 
glaucoma. A maconha é a droga ilícita mais consumida 
mundialmente. O uso geralmente é intermitente e 
autolimitado: os jovens param por volta dos seus vinte anos 
e poucos entram em um consumo diário. 
INTOXICAÇÃO COM CANNABIS 
Os efeitos euforizantes se desenvolvem após cerca de meia 
hora da administração e duram cerca de duas a quatro 
horas. Foi identificado um receptor cerebral específico para 
canabinóis. Os efeitos psicológicos e comportamentais 
incluem euforia, risos imotivados, comprometimento da 
coordenação (interferindo na condução de veículos), 
sensação de lentificação do tempo, prejuízo na memória de 
curto prazo e retraimento social. Os efeitos físicos mais 
comuns são: hiperemia conjuntival, boca seca, taquicardia e 
apetite aumentado podendo ocorrer também tontura, 
retardo psicomotor, hipotensão ortostática. Não parece 
haver risco de depressão respiratória, nem complicações 
cardiovasculares. Também pode haver depressão, aumento 
da percepção de cores, sons, textura e paladar, 
 
9 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
despersonalização, desrealização e até mesmo sintomas 
psicóticos, como delírios persecutórios e alucinações. 
DEPENDÊNCIA E ABUSO DE CANNABIS 
A dependência de maconha vem sendo diagnosticada há 
algum tempo, nos mesmos padrões de outras substâncias. 
O risco aumenta conforme a extensão do consumo, mas, 
apesar disso, a maioria dos usuários diários não se torna 
dependente e uma minoria desenvolve uma síndrome de 
uso compulsivo semelhante a outras drogas. 
COMPLICAÇÕES 
– Agudas: o consumo de maconha pode desencadear 
quadros temporários de ansiedade, tais como reações de 
pânico ou sintomas psicóticos. Esse último pode ter sido 
desencadeado pela droga em indivíduos predispostos. O 
surgimento dos efeitos psíquicos pode estar relacionado à 
potência da droga, à via de administração, à técnica de 
fumar, à dose, ao contexto, à experiência passada do 
usuário e à vulnerabilidade biológica aos efeitos. 
- Crônicas: a síndrome amotivacional tem sido associada ao 
uso pesado em longo prazo e tem sido caracterizada pela 
relutância de a pessoa persistir em uma tarefa, seja na 
escola, no emprego ou em qualquer contexto que exija 
atenção prolongada ou tenacidade. O indivíduo é descrito 
como apático e sem energia. Há risco respiratório 
semelhante ao causado pela nicotina. 
TRATAMENTO 
O tratamento para o uso abusivo de cannabis se baseia nos 
mesmos princípios relatados na abordagem do uso abusivo 
de cocaína: abstinência e apoio. Podem ser usados 
ansiolíticos em caso de ansiedade quando da abstinência. 
Os usuários devem ser informados sobre os riscos do uso: 
risco de acidentes, danos respiratórios, risco de 
dependência para usuários diários e deficits cognitivos para 
usuários crônicos. Pode ser necessário o uso de 
antidepressivos para a síndrome amotivacional. 
ÁLCOOL E DROGAS 
O abuso e a dependência de substâncias psicoativas são um 
dos mais freqüentes transtornos mentais e um dos 
principais problemas de saúde publica. Além dos problemas 
sociais, familiares e no trabalho, é muito freqüente o 
comprometimento físico decorrente do abuso de álcool 
e/ou drogas. As complicações clínicas são amplas, e 
envolvem desde intoxicação e abstinência graves até 
infecções, distúrbios metabólicos, hemorragias, 
insuficiência hepática, cardiopatia, entre outras. Muitas 
vezes essas complicações são graves e requerem 
intervenção médica de urgência. A freqüência de 
complicações psiquiátricas decorrentes do uso de álcool e 
drogas nos prontos-socorros é muito alta. 
Aproximadamente 25% das internações de pacientes do 
sexo masculino, especialmente os jovens, são decorrentes 
do uso de álcool34. Portanto, em todo o paciente que 
procura atendimento em uma unidade de pronto-socorro, 
especialmente nos casos de agitação psicomotora, 
alteração comportamental e rebaixamento do nível de 
consciência, o médico deve sempre investigar a 
possibilidade do diagnóstico de complicações relacionadas 
ao uso de álcool e drogas. Neste texto serão abordados os 
principais quadros de urgências psiquiátricas decorrentes 
do uso de álcool e/ou drogas. 
INTOXICAÇÃO AGUDA AO ÁLCOOL 
O álcool tem múltiplas ações no sistema nervoso central. 
Ele potencializa a ação inibitória do ácido gama-
aminobutírico (GABA) e bloqueia a ação excitatória do 
glutamato nos receptores NMDA (N-metil-Daspartato), que 
são os principais mecanismos fisiopatológicos para explicar 
os seus efeitos sedativos. Além disso, o álcool aumenta a 
liberação de dopamina no sistema de recompensa cerebral, 
interage com os sistemas mediados por serotonina e 
peptídeos opióides, que contribuem para os seus efeitos 
prazerosos34. A sintomatologia clínica da intoxicação 
alcoólica depende de quantidade ingerida, velocidade do 
consumo, ingestão concomitante de alimentos e tolerância 
aos efeitos do álcool. O quadro pode variar de leve 
embriaguez a coma, depressão respiratória e óbito. Os 
sintomas mais comuns da intoxicação alcoólica são: 
desinibição, irritabilidade, excitação psicomotora, prejuízo 
da atenção e do julgamento, rubor facial, hálito alcoólico, 
fala pastosa, incoordenação motora e ataxia. A abordagem 
de um paciente com sintomas de intoxicação alcoólica não 
se restringe aos cuidados quanto à desintoxicação. É 
extremamente importante realizar avaliação clínica geral e 
investigar especialmente a presença de complicações físicas 
associadas como infecções, traumatismo crânio-encefálico, 
distúrbios metabólicos, insuficiência hepática e outras 
comorbidades, como cardiopatia, neuropatia, entre outras. 
O tratamento básico da desintoxicação consiste em 
cuidados gerais, deixando o paciente em repouso em 
ambiente seguro, com baixa estimulação, pois em poucas 
horas o organismo metaboliza o álcool. Prática comum em 
pronto-socorro é a administração de glicose. É importante 
lembrar que a glicose não acelera a desintoxicação. A 
reposição de glicose é útil para os casos em que existe 
suspeita de hipoglicemia, que pode ocorrer especialmente 
nos usuários crônicos de álcool. Antes de administrar 
glicose é necessário administrar tiamina por via 
intramuscular, na dose de uma ampola de 100 mg, para 
evitar a precipitação da síndrome de Wernicke (ver a seguir 
tópico sobre síndrome de WernickeKorsakoff). Pacientes 
 
10 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
com episódio isolado de intoxicação alcoólica e que não são 
usuários crônicos e que têm histórianutricional adequada, 
sem suspeita de hipoglicemia, não necessitam de reposição 
de glicose ou de tiamina. 
SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA DO ÁLCOOL 
A síndrome de abstinência é um quadro que surge após 
diminuição ou interrupção da ingestão etílica, em um 
indivíduo com história de alcoolismo. Esse quadro é 
decorrente da diminuição da atividade inibitória gabaérgica 
e aumento da atividade excitatória glutamatérgica, que 
surge após interrupção da ingestão etílica35. Os sintomas 
de abstinência alcoólica aparecem 6 a 12 horas após a 
interrupção da ingestão etílica e se caracterizam por tremor 
de mãos, insônia, náusea, vômitos, sudorese, taquicardia, 
aumento da pressão arterial, inquietação, irritabilidade, 
ansiedade. O aparecimento de crises convulsivas é sinal de 
maior gravidade, pois sugere evolução para delirium-
tremens. Geralmente o quadro é autolimitado, remitindo 
em torno de cinco a sete dias. Em alguns casos, ele pode ter 
evolução mais grave. Em 5% dos casos ocorre evolução 
para delirium-tremens34. O tratamento visa ao alívio dos 
sintomas da abstinência e à prevenção de complicações. Os 
benzodiazepínicos, medicamentos que apresentam 
tolerância cruzada com álcool, são a medicação de primeira 
escolha no tratamento da síndrome de abstinência do 
álcool. 
Além de aliviar os sintomas de abstinência, os 
benzodiazepínicos ajudam a prevenir crises convulsivas 
(redução de risco de convulsão de 7,7 por 100 pacientes 
tratados) e evolução para delirium-tremens (redução de 
risco de 4,9 casos por 100 pacientes)36. Os 
benzodiazepínicos atuam potencializando a atividade 
inibitória do neurotransmissor GABA, aumentando a 
afinidade aos seus receptores. 
Não há estudos que mostrem que um benzodiazepínico 
seja mais eficaz que outro. Na escolha de um 
benzodiazepínico devem ser considerados muitos fatores. 
Os benzodiazepínicos de meia-vida longa são os mais 
indicados pelo fato de que aliviam os sintomas de 
abstinência de forma mais suave, são mais eficazes para 
prevenir convulsões e oferecem menor risco de causar 
sintomas rebote após interrupção36. Nos casos de 
pacientes que apresentam comprometimento hepático 
importante, é mais indicado usar lorazepam ou oxazepam 
que são benzodiazepínicos metabolizados via conjugação 
com ácido glicurônico, que são pouco alterados nas 
hepatopatias. O uso de benzodiazepínico deve ser de curta 
duração, e portanto, após a melhora dos sintomas de 
abstinência, deve ser retirado gradualmente 
O fenobarbital pode ser uma alternativa terapêutica, mas 
tem a desvantagem de apresentar uma margem de 
segurança menor que os benzodiazepínicos36. Os 
betabloqueadores, a carbamazepina e a clonidina são 
medicamentos que também aliviam os sintomas de 
abstinência, mas não são recomendados como 
monoterapia, pois não reduzem o risco de evolução para 
delirium-tremens e, com a exceção da carbamazepina, 
também não previnem aparecimento de crises convulsivas. 
Eles podem ser usados em associação com 
benzodiazepínicos em determinadas situações clínicas. É 
possível associar betabloqueadores nos casos de 
comorbidade com doença arterial coronariana ou quando 
se deseja reduzir a intensidade dos sintomas da 
hiperatividade autonômica como tremores, taquicardia, 
sudorese e hipertensão. A clonidina pode ser usada quando 
existe concomitância de síndrome de abstinência de 
opióides, e a carbamazepina, nos casos de comorbidade 
com dependência e abstinência de benzodiazepínicos. 
Da mesma forma, não se usam neurolépticos isoladamente, 
pois não reduzem o risco de evolução para delirium-
tremens, além de aumentar o risco de convulsão. Eles 
podem ser usados em associação com benzodiazepínicos 
nos casos de marcada agitação ou alucinações. Além dos 
benzodiazepínicos, deve-se também administrar no início 
do tratamento, e durante três dias, uma ampola 
intramuscular de tiamina, pelo fato de que a síndrome de 
abstinência pode desencadear um quadro de Wernicke. 
DELIRIUM-TREMENS 
O delirium-tremens é um quadro de síndrome de 
abstinência alcoólica grave, que se instala 
aproximadamente após 48 horas da interrupção ou 
diminuição da ingestão etílica. A taxa de mortalidade é alta, 
variando de 5 a 15%. A alteração psicopatológica 
fundamental para o diagnóstico de delirium-tremens é a 
ocorrência de rebaixamento da consciência em um 
paciente que esteja apresentando sintomas de abstinência 
alcoólica. Além da alteração da consciência, o paciente 
apresenta desorientação temporal e espacial, prejuízo da 
atenção e da memória, ilusões e alucinações, mais 
freqüentemente visuais (insetos e pequenos animais). O 
paciente fica muito sugestionável, sendo fácil induzi-lo a ler 
uma folha em branco ou segurar um fio imaginário (sinal da 
linha). Os sintomas de liberação autonômica da síndrome 
de abstinência discutidos antes, como tremores, sudorese, 
taquicardia, aumento de pressão arterial, ansiedade, entre 
outros, são muito intensos. O paciente pode ainda 
apresentar febre, agitação psicomotora e crise convulsiva 
do tipo tônico-clônico generalizada. 
Exame físico detalhado e investigação laboratorial são 
necessários para detectar complicações físicas associadas, 
 
11 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
como infecções, distúrbio metabólico e hidroeletrolítico, 
hematoma subdural etc., que, além de aumentar 
significativamente a taxa de mortalidade, podem contribuir 
para o rebaixamento de consciência apresentado pelo 
paciente. 
O paciente deve ser tratado em ambiente hospitalar. O 
quarto deve ser silencioso e bem ventilado. A medicação de 
primeira escolha é o benzodiazepínico. Não existem 
evidências que indiquem que um determinado 
benzodiazepínico seja mais eficaz que outro. Um esquema 
terapêutico muito utilizado é a administração oral de 10 mg 
de diazepam a cada 2 a 4 horas, ou 50 mg de 
clordiazepóxido a cada 2 a 4 horas, ou 1 mg de lorazepam a 
cada 2 horas, e para a maioria dos pacientes a dose máxima 
necessária é em torno de 120 mg de diazepam ou 600 mg 
de clordiazepóxido nas 24 horas39. A vantagem desse 
esquema é o controle maior do quadro e da medicação, 
evitando risco de superdosagem, pois a administração de 
uma nova dose requer avaliação clínica. Outra proposta é a 
prescrição de doses fixas de 10 a 40 mg de diazepam, via 
oral, quatro vezes por dia, ou um outro benzodiazepínico 
com dose equivalente34. Os benzodiazepínicos lorazepam 
ou oxazepam são indicados nos casos de pacientes que 
apresentam comprometimento hepático, pois eles são 
metabolizados pela conjugação com ácido glicorônico, que 
não é afetado quando há cirrose ou outra doença hepática 
grave associada. 
Se o paciente estiver agitado, ou apresentar alucinações ou 
delírios, pode associar haloperidol ao benzodiazepínico. 
Iniciar com 0,5 a 2 mg de haloperidol, repetindo a cada 2 
horas, e para a maioria dos pacientes não há necessidade 
de doses maiores que 10 mg nas 24 horas39. Outra opção, 
dependendo da gravidade, é a administração de 
haloperidol 5 mg intramuscular. Alem do benzodiazepínico, 
é preciso também administrar uma ampola intramuscular 
de tiamina para evitar o desencadeamento de um quadro 
de Wernicke. 
SÍNDROME DE WERNICKE-KORSAKOFF 
A síndrome de Wernicke-Korsakoff é composta de uma fase 
aguda, a encefalopatia de Wernicke, e uma fase crônica, a 
síndrome de Korsakoff. A encefalopatia de Wernicke é um 
quadro de emergência neurológica que se caracteriza pela 
tríade: confusão mental, oftalmoplegia e ataxia cerebelar. É 
decorrente de deficiência de tiamina. O alcoolismo é uma 
das principais causas de Wernicke, pois o alcoólatra tem 
uma baixa ingestão alimentar e, além disso, o álcool inibe a 
absorção de tiamina. 
A iatrogenia, ou seja, a administração de glicose parenteral 
em pacientes alcoolistassem administração prévia de 
tiamina é uma das causas de encefalopatia de Wernicke. A 
tiamina transforma-se em pirofosfato de tiamina, que é 
uma coenzima que desempenha papel importante na 
metabolização da glicose. Como usuários crônicos de álcool 
com freqüência têm uma reserva baixa de tiamina, a 
administração de glicose leva a uma queda abrupta dos 
níveis dessa substância, resultando em micro-hemorragias 
cerebrais e instalação do quadro de Wernicke.Aslesões 
cerebrais são focais, comprometendo o tálamo, corpos 
mamilares, assoalho do quarto ventrículo, hipotálamo e 
cerebelo. 
O quadro se instala abruptamente. O sintoma mais comum 
é a confusão mental, seguido por oftalmoplegia e ataxia de 
marcha. Outros sintomas freqüentemente associados são: 
neuropatia periférica, nistagmo, sinais cerebelares e 
hipotensão. Trata-se de uma condição clínica muito grave, 
com alta taxa de mortalidade e morbidade. O tratamento é 
feito com tiamina parenteral. O primeiro sintoma a 
melhorar é a oftalmoplegia. Aproximadamente 85% dos 
pacientes evoluem para síndrome de Korsakoff, que é uma 
condição crônica que se caracteriza por comprometimento 
da memória recente, amnésia anterógrada e retrógrada, 
confabulação e desorientação temporal. 
 
 
12 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
 
 
OBJETIVO 03: CONHECER AS INTERVENÇÕES 
TERAPÊUTICAS DA DEPENDÊNCIA QUIMICA 
Existem três medidas gerais envolvidas no tratamento do 
indivíduo alcoolista depois do diagnóstico do transtorno: 
intervenção, desin-toxicação e reabilitação. Essas 
abordagens presumem que todos os esforços possíveis 
foram realizados para otimizar o atendimento médico e 
contemplar emergências psiquiátricas. Dessa forma, por 
exemplo, um alcoolista com sintomas de depressão 
suficientemente graves a ponto de estar em risco de 
suicídio exige internação durante vários dias até o 
desaparecimento da ideação suicida. Da mesma forma, um 
indivíduo com miocardiopatia, problemas hepáticos ou san-
gramento gastrintestinal necessita primeiramente de um 
tratamento adequado da emergência clínica. O paciente 
com abuso ou dependência de álcool precisa, en-tão, ficar 
face a face com a realidade do transtorno (intervenção), 
sofrer desintoxicação, caso necessário, e dar início à 
reabilitação. Os pontos principais dessas três medidas para 
uma pessoa alcoolista com síndromes psiquiátricas 
independentes comórbidas têm grande semelhança com as 
abordagens utilizadas com o indivíduo alcoolista primário 
sem síndromes psiquiátricas independentes. No primeiro 
caso, no entanto, os tratamentos são aplicados depois que 
o transtor-no psiquiátrico foi estabilizado o máximo 
possível. 
 
 
 
13 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
 
ABSTINÊNCIA LEVE OU MODERADA 
A abstinência ocorre porque o cérebro se adaptou 
fisicamente à presença de um depressor cerebral e não 
consegue funcionar de maneira adequada na ausência da 
substân-cia. Administrar depressores cerebrais suficientes 
no primeiro dia para reduzir os sintomas e, então, reduzir a 
dosagem do fármaco até sua in-terrupção ao longo dos 
cinco dias seguintes proporciona, à maioria dos pacientes, o 
máximo de alívio com a menor possibilidade de 
desenvolver abstinência grave. Qualquer depressor – 
incluindo álcool, barbitúricos ou qualquer um dos 
benzodiazepínicos – pode funcionar, mas a maio-ria dos 
profissionais prefere um benzodiazepínico, devido a sua 
relativa segurança. Pode-se administrar um tratamento 
adequado seja com fár-macos de ação breve (p. ex., 
lorazepam), seja com substâncias de ação prolongada (p. 
ex., clordiazepóxido e diazepam). 
Um exemplo de tratamento é a administração de 25 mg de 
clor-diazepóxido via oral 3 ou 4 vezes por dia no primeiro 
dia, com indicação de pular a dose se o paciente estiver 
dormindo ou se sentindo sonolen-to. Podem ser 
ministradas 1 ou 2 doses adicionais de 25 mg durante as 
primeiras 24 horas se o paciente estiver com tremores ou 
mostrar sinais de aumento de tremor ou disfunção 
autonômica. Qualquer que seja a dosagem de 
benzodiazepínicos necessária no primeiro dia, ela pode ser 
reduzida em 20% a cada dia subsequente, o que resulta em 
falta de ne-cessidade da medicação após 4 ou 5 dias. Ao 
administrar um agente de ação prolongada, como 
clordiazepóxido, o clínico deve evitar produzir sonolência 
excessiva decorrente de sobremedicação; caso o paciente 
es-teja sonolento, a próxima dose agendada deve ser 
omitida. Ao tomar um fármaco de ação breve, como 
lorazepam, o paciente não pode perder nenhuma dose, 
porque alterações rápidas nas concentrações de benzo-
diazepínicos no sangue podem precipitar abstinência grave. 
Um programa com modelo social de desintoxicação poupa 
fun-dos ao evitar medicamentos enquanto se faz uso de 
apoios sociais. Esse regime menos oneroso financeiramente 
pode ajudar em síndromes de abstinência leves ou 
moderadas. Alguns também recomendaram anta-gonistas 
do receptor β-adrenérgico (p. ex., propranolol) ou agonistas 
do receptor α-adrenérgico (p. ex., clonidina), embora esses 
medicamentos não pareçam ser superiores aos 
benzodiazepínicos. Diferentemente dos depressores 
cerebrais, esses outros agentes pouco fazem para reduzir o 
risco de convulsões ou delirium. 
ABSTINÊNCIA GRAVE 
Para aproximadamente 1% dos pacientes al-coolistas com 
extrema disfunção autonômica, agitação e confusão – ou 
seja, aqueles com delirium por abstinência alcoólica, ou DTs 
–, ainda não foi desenvolvido um tratamento ideal. O 
primeiro passo é questionar o motivo pelo qual uma 
síndrome de abstinência tão grave e relativamente 
incomum ocorreu; a resposta costuma estar relacionada a 
um problema médico concomitante grave que precisa de 
tratamento imediato. Os sin-tomas de abstinência podem, 
então, ser reduzidos ao mínimo por meio do uso de 
benzodiazepínicos (que, dependendo do caso, às vezes 
requerem doses elevadas) ou agentes antipsicóticos, como 
haloperidol. Novamente, no primeiro ou segundo dia, as 
doses são usadas para controlar o compor-tamento, e a 
medicação pode ser suspensa gradualmente até o quinto 
dia. 
Outro 1% dos pacientes podem sofrer uma única convulsão 
tônico--clônica; apenas em casos raros há crises múltiplas, 
sendo que a incidência de pico ocorre no segundo dia de 
abstinência. Esses pacientes necessitam de avaliação 
neurológica, mas, na ausência de evidências de um 
transtorno convulsivo, eles não se beneficiam de fármacos 
anticonvulsivantes. 
ABSTINÊNCIA PROLONGADA 
Sintomas de ansiedade, insônia e hiper-reatividade 
autonômica leve provavelmente continuam durante 2 a 6 
meses após a cessação da abstinência aguda. Embora não 
pareça haver tratamentos farmacológicos apropriados para 
essa síndrome, é possível que alguns medicamentos usados 
para a fase de reabilitação, especial-mente acamprosato, 
possam funcionar ao reduzir alguns desses sinto-mas. É 
importante advertir o paciente de que algum tipo de 
problema de sono ou sentimentos de nervosismo podem 
permanecer após a abstinên-cia aguda e discutir 
abordagens cognitivas e comportamentais adequadas para 
ajudar o paciente a se sentir mais à vontade. Esses 
sintomas de abs-tinência prolongada podem aumentar a 
probabilidade de recaída. 
 
 
 
14 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
REABILITAÇÃO 
 Para a maioria dos pacientes, a reabilitação inclui três 
componen-tes principais: (1) esforços contínuos para 
aumentar e manter níveis elevados de motivação para 
abstinência; (2) ajudar o paciente a se readaptar a um estilode vida sem álcool; e (3) prevenção de recaída. Como essas 
medidas são tomadas no contexto de síndromes de abs-
tinência aguda e prolongada, e crises de vida, o tratamento 
exige a constante reintrodução de recursos semelhantes 
que lembrem o paciente o quanto a abstinência é 
importante e que o ajudem a desen-volver novos sistemas 
de apoio diários e estilos de enfrentamento. 
Não há conhecimento de nenhum evento de vida único, 
período de vida traumático ou transtorno psiquiátrico 
identificável que seja uma causa única de alcoolismo. Além 
disso, os efeitos de quaisquer causas de alcoolismo 
possivelmente foram diluídos pelos efeitos do álcool sobre 
o cérebro e pelos anos de um estilo de vida alterado, de 
forma que o alcoolismo assumiu vida própria. Isso é 
verdadeiro apesar da crença de muitos indivíduos 
alcoolistas de que a causa foi depressão, ansiedade, 
estresse de vida ou síndrome dolo-rosa. Pesquisas, dados 
de registros e relatos pessoais normalmente revelam que o 
álcool contribuiu para o transtorno do humor, aciden-te ou 
estresse de vida, e não o contrário. 
A mesma abordagem de tratamento geral é usada em 
contex-tos ambulatoriais e de internação. A escolha do 
modo de internação intensiva, mais oneroso, costuma 
depender das evidências de outras síndromes psiquiátricas 
ou médicas graves, da ausência de grupos ambulatoriais 
próximos adequados e da história do paciente de fra 
casso em um sistema de cuidados ambulatorial. O processo 
de tratamento em qualquer um dos contextos envolve 
intervenção, melhora do funcionamento físico e 
psicológico, intensificação da motivação, colaboração da 
família e uso das primeiras 2 a 4 semanas de cuida-dos 
como um período intensivo de auxílio. Esses esforços 
devem ser seguidos por um período mínimo de 3 a 6 meses 
de cuidados ambulatoriais menos frequentes. A abordagem 
ambulatorial usa uma combinação de aconselhamento 
individual e em grupo, evitação cri-teriosa de 
medicamentos psicotrópicos, a menos que sejam necessá-
rios para transtornos independentes comórbidos e 
envolvimento em grupos de mútua ajuda, como os AA. 
ACONSELHAMENTO 
Os esforços de aconselhamento nos primei-ros meses 
devem estar voltados para questões da vida diária com a 
finalidade de ajudar os pacientes a manter um nível 
elevado de motivação para abstinência e para melhorar seu 
funcionamento. Técnicas de psicoterapia que provocam 
ansiedade ou que exigem insights profundos não 
demonstraram nenhum benefício durante os primeiros 
meses de recuperação e, pelo menos teoricamente, podem, 
na realidade, prejudicar os esforços para manter a 
abstinência. Por-tanto, a abordagem se concentra nos 
esforços que provavelmente caracterizarão os primeiros 3 a 
6 meses de cuidados. 
Aconselhamento ou terapia pode ocorrer individualmente 
ou em grupo; poucos dados indicam que uma das duas 
abordagens seja superior à outra. A técnica usada 
dificilmente fará muita diferença e em geral se reduz a um 
aconselhamento diário simples, ou praticamente qualquer 
outra abordagem comportamental ou psicoterapêutica que 
se concentre no aqui e agora. Para obter o máximo de 
motivação, as sessões de tratamento devem explorar as 
consequências do consumo, o provável curso futuro de 
problemas de vida relacionados ao álcool, e a grande 
melhora que se pode esperar com a abstinência. Seja em 
um contexto de internação, seja ambulatorial, costuma ser 
aconselhamento individual ou em grupo pelo menos 
oferecido três vezes por semana, durante as primeiras 2 a 4 
semanas, seguido por esforços menos inten-sos, talvez de 
uma vez por semana, durante os 3 a 6 meses seguintes. 
Grande parte do tempo durante o aconselhamento é 
dedicada a como construir um estilo de vida sem álcool. Os 
tópicos cobrem a necessidade de um grupo de pares 
sóbrios, um plano para eventos sociais e recreativos sem 
consumo de álcool e abordagens para res-tabelecer 
comunicação com a família e os amigos. O terceiro 
componente principal, a prevenção de recaídas, 
primeiramente identifica situações nas quais há grande 
risco de recaída. O conselheiro deve ajudar o paciente a 
desenvolver modos de enfrentamento para que sejam 
usados quando a fissura por álcool aumentar ou quando 
um evento ou estado emocional tornar mais provável a 
retomada do hábito de beber. Uma parte importante da 
prevenção de recaída é lembrar o paciente da atitude 
adequada para lidar com deslizes. Experiências de curto 
prazo com álcool nunca podem ser usadas como desculpa 
para retomar o hábito de ingestão regular de álcool. Os 
esforços para alcançar e manter um estilo de vida sóbrio 
não são um jogo no qual todos os benefícios são perdi-dos 
com o primeiro gole. Na verdade, a recuperação é um 
processo de tentativa e erro; o paciente faz uso dos deslizes 
que ocorrem para identificar situações de alto risco e para 
desenvolver técnicas de enfrentamento mais apropriadas. 
A maioria dos esforços de tratamento identifica os efeitos 
que o alcoolismo tem sobre as pessoas importantes na vida 
do pa-ciente, e um aspecto de destaque na recuperação 
envolve auxiliar familiares e amigos próximos a entender o 
alcoolismo e perceber que a reabilitação é um processo 
 
15 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
contínuo que dura de 6 a 12 meses ou mais. 
Aconselhamento para casais e família e grupos de apoio 
para parentes e amigos ajudam os indivíduos envolvidos a 
reconstruir relacionamentos, a aprender como evitar 
proteger o paciente das consequências de consumo no 
futuro e a oferecer o máximo de apoio possível no 
programa de recuperação do paciente alcoolista. 
MEDICAMENTOS 
Caso a desintoxicação tenha sido finalizada e o paciente 
não integre os 10 a 15% de alcoolistas que apresentam um 
transtorno do humor independente, esquizofrenia ou 
transtorno de ansiedade, há poucas evidências que 
indiquem a prescrição de medicamentos psicotrópicos para 
o tratamento do alcoolismo. Níveis residuais de ansiedade 
e insônia como parte de uma reação a estresses de vida e 
abstinência prolongada devem ser tratados com 
abordagens de modificação de comportamento e 
tranquilização. Medicamentos para esses sintomas 
(incluindo benzodiazepínicos) têm probabilida-de de perder 
sua eficácia muito mais rapidamente do que o desapa-
recimento da insônia; portanto, o paciente pode aumentar 
a dose e apresentar problemas subsequentes. Do mesmo 
modo, tristeza e e oscilações de humor podem se manter 
em níveis mais baixos durante vários meses. Experimentos 
clínicos controlados, no entanto, indicam que não há 
benefícios em prescrever medicamentos antidepressivos ou 
lítio para tratar o indivíduo alcoolista médio que não 
apresenta transtorno psiquiátrico independente ou de 
longa duração. O transtor-no do humor irá se dissipar antes 
que os medicamentos possam fazer efeito, e pacientes que 
retomam o consumo de álcool durante o curso da 
medicação encaram perigos potenciais significativos. Sem 
evidên-cias convincentes de que os medicamentos são 
eficazes, os perigos superam quaisquer benefícios 
potenciais de seu uso de rotina. 
Uma possível exceção à recomendação contra o uso de 
medica-mentos é o agente de sensibilização ao álcool 
dissulfiram. O dissulfi-ram é administrado em doses diárias 
de 250 mg antes que o paciente receba alta da primeira 
fase intensiva de reabilitação ambulatorial ou dos cuidados 
durante a internação. O objetivo é colocar o paciente em 
uma condição na qual a ingestão de álcool precipite uma 
reação física desconfortável, incluindo náusea, vômito e 
sensação de queimação na face e no estômago. Poucos 
dados comprovam que o dissulfiram é mais eficiente do 
que o placebo, contudo, provavelmente isso se deve ao 
fato de a maioria dos indivíduos interromper o curso do 
dissulfi-ramquando retoma o hábito de beber. Vários 
profissionais pararam de prescrever o agente de forma 
rotineira, em parte por reconhecerem os perigos 
associados ao próprio fármaco: alterações do humor, 
ocasiões raras de psicose, possibilidade de aumento de 
neuropatias periféricas e ocorrência relativamente rara de 
outras neuropatias significativas e hepatite potencialmente 
fatal. Ademais, pacientes com condições preexistentes, 
como doença cardíaca, trombose cerebral, diabetes e uma 
série de outras condições, não podem ser medicados com 
dis-sulfiram porque uma reação do álcool ao medicamento 
pode ser fatal. 
Uma possível exceção à recomendação contra o uso de 
medica-mentos é o agente de sensibilização ao álcool 
dissulfiram. O dissulfi-ram é administrado em doses diárias 
de 250 mg antes que o paciente receba alta da primeira 
fase intensiva de reabilitação ambulatorial ou dos cuidados 
durante a internação. O objetivo é colocar o paciente em 
uma condição na qual a ingestão de álcool precipite uma 
reação física desconfortável, incluindo náusea, vômito e 
sensação de queimação na face e no estômago. Poucos 
dados comprovam que o dissulfiram é mais eficiente do 
que o placebo, contudo, provavelmente isso se deve ao 
fato de a maioria dos indivíduos interromper o curso do 
dissulfi-ram quando retoma o hábito de beber. Vários 
profissionais pararam de prescrever o agente de forma 
rotineira, em parte por reconhecerem os perigos 
associados ao próprio fármaco: alterações do humor, 
ocasiões raras de psicose, possibilidade de aumento de 
neuropatias periféricas e ocorrência relativamente rara de 
outras neuropatias significativas e hepatite potencialmente 
fatal. Ademais, pacientes com condições preexistentes, 
como doença cardíaca, trombose cerebral, diabetes e uma 
série de outras condições, não podem ser medicados com 
dis-sulfiram porque uma reação do álcool ao medicamento 
pode ser fatal. 
Outras duas intervenções farmacológicas promissoras 
foram objeto de estudo recentemente. A primeira envolve 
o antagonista de opioides naltrexona, o qual, ao menos em 
teoria, se acredita apresen-tar a possibilidade de reduzir o 
desejo de consumo de álcool ou embo-tar os efeitos de 
recompensa do ato de beber. De qualquer modo, duas 
pesquisas relativamente pequenas (aproximadamente 90 
pacientes medicados com o fármaco ativo nos estudos) e 
de curta duração (3 meses de tratamento ativo) que 
utilizaram 50 mg ao dia desse fármaco obtiveram 
resultados promissores. No entanto, uma avaliação do im-
pacto total desse medicamento, irá exigir estudos mais 
prolongados e grupos relativamente maiores de pacientes 
mais heterogêneos. 
O segundo medicamento que desperta interesse, 
acamprosa-to, foi testado em mais de 5 mil pacientes 
dependentes de álcool na Europa. Esse fármaco ainda não 
está disponível nos Estados Unidos. Usado em dosagens de 
aproximadamente 2.000 mg ao dia, esse me-dicamento 
esteve associado a cerca de 10 a 20% de resultados mais 
 
16 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
positivos do que o placebo quando usado no contexto dos 
regimes de tratamento comportamentais e psicológicos 
habituais para lidar com alcoolismo. O mecanismo de ação 
do acamprosato é desconhecido, mas pode agir direta ou 
indiretamente nos receptores GABA em sí-tios NMDA, cujos 
efeitos alteram o desenvolvimento de tolerância ou 
dependência física de álcool. 
Outro medicamento promissor para o tratamento de 
alcoolismo é o fármaco não benzodiazepínico ansiolítico 
buspirona, embora seu efeito sobre a reabilitação não 
apresente consistência entre estudos. Não há evidências de 
que antidepressivos, como inibidores seletivos da 
recaptação de serotonina (ISRSs), lítio ou medicamentos 
antipsicó-ticos, sejam significativamente eficazes no 
tratamento do alcoolismo. 
 
 
 
 
 
 
17 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
 
 
 
MACONNHA 
O tratamento do uso de Cannabis se baseia nos mesmos 
princípios que o tratamento para outras substâncias de 
abuso – abstinência e apoio. A abstinência pode ser 
alcançada por meio de intervenções diretas, como 
hospitalização, ou mediante monitoramento atento de base 
ambulatorial por meio de exames de urina, que podem 
detec-tar a presença de Cannabis até quatro semanas após 
o uso. Pode-se obter apoio por meio de psicoterapia 
individual, familiar e de grupo. Esclarecimento e 
informações devem ser o alicerce tanto para absti-nência 
quanto para programas de apoio. Um paciente que não 
com-preende os motivos lógicos para enfrentar um 
problema de abuso de substância tem pouca motivação 
para saná-lo. No caso de alguns indivíduos, um fármaco 
ansiolítico pode ser útil para alívio de curto prazo dos 
sintomas de abstinência. Para outros, o uso de Cannabis 
pode estar relacionado a um transtorno depressivo 
subjacente, que pode melhorar com um tratamento 
específico com antidepressivos. 
OBJETIVO 04: DESCREVER AS POLÍTICAS 
PÚBLICAS DE COMBATE Á DEPENDÊNCIA 
QUÍMICA 
Entende-se por políticas públicas o conjunto de ações 
coletivas voltadas para a garantia de direitos sociais, 
caracterizando um compromisso público que visa dar conta 
de determinada demanda. As políticas públicas são 
mecanismos de mudança social, que visam promover o 
bem-estar, principalmente dos segmentos sociais mais 
excluídos, destacando-se as políticas públicas ligadas à área 
da saúde, uma das maiores preocupações do país. Na 
década de 1980, o intenso debate sobre direitos humano 
teve como ponto central a elaboração da Constituição de 
1988, a qual evidenciou a saúde como direito fundamental 
e condição essencial à vida digna. Da mesma forma, o 
usuário de drogas é um ser com direito à saúde, devendo 
ser acolhido como qualquer outro usuário dos serviços de 
saúde. Desta forma, as políticas públicas de saúde 
constituem-se em um conjunto de ações sociais 
direcionadas para garantir o direito à saúde em todas as 
suas dimensões (promoção, proteção e recuperação), e 
visam, sobretudo, garantir às populações vulneráveis a 
melhoria das condições de saúde. Nesse diapasão, a 
questão do uso de drogas, deve ser vista não apenas como 
um caso de polícia, mas também de saúde pública, uma vez 
que a droga afeta a saúde física e mental dos dependentes, 
afetando toda a sociedade pelos transtornos causados por 
estes através da prática de delitos em decorrência do uso 
indiscriminado da droga, tais como: homicídios, suicídios, 
assaltos, estupros, violência doméstica, acidentes de 
trânsito dentre outros. Assim sendo, o tratamento do 
dependente de drogas traz vantagens de ordem financeira 
para o Estado, pois o custeio do tratamento se torna menos 
oneroso para os cofres públicos que a estada deste possível 
infrator em presídios, acarretando superlotação. Isso 
porque, após passar pelo sistema prisional, o qual se sabe 
incapaz de ressocializar o preso, este continua dependente, 
e pelo fato de não ter passado por tratamento, continuaria 
certamente a praticar crimes para financiar o vício. A 
responsabilidade da formulação das políticas públicas é do 
Estado. O poder público é, portanto, o grande provedor de 
recursos, de forma a viabilizar o tratamento desses 
dependentes através da inclusão na dotação orçamentaria 
 
18 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
de verbas públicas destinadas a esse fim, bem como, do 
apoio com politicas públicas a nível nacional. As medidas de 
prevenção, atenção e reinserção social, previstas na atual 
Lei de Drogas (11.343/06) para os dependentes, evidenciamque o dependente químico deve ser visto como um cidadão 
que necessita de ajuda e cuidado, por encontrar-se em 
situação de risco e vulnerabilidade, não devendo ser visto e 
posto como criminoso e inimigo da sociedade. Nesse 
sentido o art. 1º da referida lei dispõe: Esta Lei institui o 
Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - 
Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, 
atenção e reinserção social de usuários e dependentes de 
drogas; estabelece normas para repressão à produção não 
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas e define crimes. 
Anteriormente à reforma psiquiátrica, os procedimentos 
aplicados aos dependentes de drogas eram restritos a 
ações policiais, culminando na prisão dos mesmos ou ao 
encaminhamento destes à hospitais psiquiátricos, onde lá 
permaneciam para tratar da dependência de drogas como 
se esta fosse uma doença mental. Destarte faz-se 
necessário o aprimoramento de conhecimentos 
teóricometodológicos em áreas voltadas à problemática 
das drogas e adequação da ação conjunta através do 
enfoque multidisciplinar entre profissionais da área de 
atenção psicossocial (assistentes sociais, pedagogos, 
psicólogos, dentre outros), profissionais da área da saúde 
(médicos e enfermeiros), de modo que haja um equilíbrio 
entre prevenção e repressão: prevenção do uso, atenção e 
reinserção social para os dependentes e repressão para 
produção não autorizada e tráfico ilícito. O tema objeto 
desse estudo necessita do envolvimento de todos para que 
possamos obter resultados favoráveis, através da 
responsabilidade compartilhada entre Estado e sociedade 
nas atividades do SISNAD, como destaca a Resolução n° 3 
do CONAD, de 27 de outubro de 2005: Fundamentar, no 
princípio da responsabilidade compartilhada, a 
coordenação de esforços entre os diversos segmentos do 
governo e da sociedade, em todos os níveis, buscando 
efetividade e sinergia no resultado das ações, no sentido de 
obter redução da oferta e do consumo de drogas, do custo 
social a elas relacionado e das conseqüências adversas do 
uso e do tráfico de drogas ilícitas e do uso indevido de 
drogas lícitas. 
A atividade de prevenção está voltada para dois momentos: 
impedir o primeiro contato do indivíduo com a droga 
através de estratégias ligadas ao esclarecimento das 
consequências do uso indevido de drogas, e evitar que os 
que já fazem uso de drogas menos pesada e de maneira 
menos habitual passem a usá-la de forma mais frequente. 
Durante muito tempo quando a conduta do uso era 
criminalizada houve grande dificuldade de acesso do 
dependente de drogas aos meios de tratamento adequado 
em decorrência do medo por parte dos dependentes da 
pena que poderia recair sobre eles se descobrissem sua 
situação de dependência, pois, de acordo com essa lógica 
criminalizadora, o dependente não poderia optar por 
tratamento, pois tinha a sua conduta criminalizada. 
Portanto, a nova Lei de Drogas, além de descriminalizar o 
consumo trouxe a política de prevenção ao Brasil, com 
estratégias voltadas para a redução dos fatores de 
vulnerabilidade, redução dos fatores de risco, promoção e 
fortalecimento dos fatores de proteção. Com a quebra de 
paradigmas houve o surgimento da política de redução de 
danos decorrente do artigo 196 da Constituição Federal, o 
qual dispõe: Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do 
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas 
que visem à redução do risco de doença e de outros 
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e 
serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Quanto ao tratamento destinado aos dependentes de 
drogas no Brasil, as Comunidades Terapêuticas (ONGS) e os 
CAPS AD (PÚBLICAS) atualmente são o perfil preponderante 
da rede de serviços que presta atendimento a estes, 
estando vinculadas à proposta de reinserção social do 
indivíduo. As comunidades são Instituições não 
Governamentais e sem fins lucrativos, que contam com 
pouca ou nenhuma ajuda de recursos provenientes da 
União, Governo Federal e dos Estados. O serviço prestado 
pelas Comunidades Terapêuticas é de obrigação pública, 
contudo, este não é disponibilizado de forma gratuita para 
a população. As Comunidades Terapêuticas são referência 
no tratamento de dependentes químicos, constituindo-se 
em importante e efetivo meio de aplicabilidade da Lei 
11.343/06. Estamos vivenciando, um período de mudanças 
com a integralização das redes de serviços que prestam 
assistência no tratamento do dependente de drogas. Com a 
nova Lei Antidrogas 11.343/06, e o advento da reforma 
psiquiátrica, houve a introdução do tratamento 
ambulatorial (CAPSad), fora dos hospitais manicomiais, o 
uso da psicoterapia, a introdução de psicofármacos. No 
Brasil, a expansão dos CAPS-AD, baseada em um modelo de 
atenção integral à saúde de usuários de álcool e outras 
drogas, preconiza a passagem da idéia de doentes para a de 
cidadãos; reinserção social e intersetorialidade das ações; 
adoção da redução de danos dentre outros princípios. O 
CAPS é um Centro de Atenção Psicossocial de referência e 
tratamento para pessoas com sofrimento psíquico. É um 
recurso em saúde mental, constituindo-se em um serviço 
substitutivo ao modelo asilar, de assistência extra-
hospitalar que diminui e procura evitar reinternações 
psiquiátricas, buscando a ressocialização do indivíduo. Seu 
objetivo é oferecer atendimento à população realizando o 
acompanhamento clínico e reinserção social dos usuários, 
contribuindo para o resgate da cidadania em função da 
discriminação por ser acometido de sofrimento psíquico. O 
 
19 AES15-PROBLEMA 1 MATHEUS SIQUEIRA MED 5-2019.2 
CAPS AD é voltado para pessoas com problemas pelo uso 
de álcool ou outras drogas. Dependendo da gravidade do 
problema, o CAPS realiza o tratamento intensivo, no qual o 
paciente é atendido de segunda a sexta-feira, o dia todo; o 
semiintensivo, em que a freqüência é de pelo menos três 
dias da semana; e o nãointensivo, que se resume a um dia 
da semana. Nesse ponto a nova Lei Antidrogas trouxe 
avanços significativos com relação às legislações anteriores, 
destacando críticas ao atendimento dispensado aos 
dependentes de drogas, requerendo um atendimento mais 
humanizado através das medidas de atenção estando 
incluso aí o tratamento, prevenção e reinserção social, a 
fim de assegurar a dignidade do dependente de drogas, 
como cidadão. 
As políticas públicas enquanto instrumento por meio do 
qual o Estado trabalha sobre as demandas da população 
são dispositivos relativamente novos, e, neste contexto, as 
políticas públicas direcionadas ao enfrentamento do 
consumo de drogas são ainda mais incipientes. Nesse 
sentido, promover o estudo sobre políticas públicas sobre o 
enfrentamento do consumo e da dependência de drogas na 
sociedade é extremamente importante, visto ser a base das 
políticas públicas no último século direcionadas para a 
parcela excluída da população. Observa-se que foram 
muitos os avanços referentes ao tema drogas, porém ainda 
muito precisa ser feito. Neste sentido, as políticas públicas 
atuais, estão voltadas para programas de prevenção, 
promoção da saúde e tratamento, pois, entende-se que tão 
importante como tratar os indivíduos já em uso é proteger 
os que ainda não entraram em contato com a droga. Assim 
sendo, procurou-se através deste estudo, levantar uma 
discussão a respeito da necessidade de políticas públicas 
sobre drogas, na área da saúde pública, voltadas ao 
tratamento dos usuários dependentes. 
Temos consciência de que uma mudança de mentalidade 
sobre a dependência química requer tempo, contudo, 
desejamos contribuir para que o dependente de drogas não 
receba tantas críticas e seja mais compreendido, em função 
de sua doença, reconhecido com cidadão

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