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transtornos alcoólicos

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TRANSTORNOS ÁLCOÓLICOS
O alcoolismo é definido como uma dependência do
indivíduo ao álcool, está entre uma das doenças mais
incapacitantes na atualidade. O uso constante,
descontrolado e progressivo de bebidas alcoólicas pode
comprometer seriamente o bom funcionamento do
organismo, levando a consequências irreversíveis.
O álcool é um depressor do sistema nervoso central que
pode causar desde euforia até progressiva sedação e,
apesar de seu consumo milenar, o mesmo pode estar
relacionado a fatores diversos que levam a problemas
com a bebida, sejam eles temporários, severos ou
recorrentes.
O álcool causa mortes em todo o mundo,
aproximadamente 3 milhões de pessoas por ano sendo
responsável por uma porcentagem grande EM todas as
mortes no mundo, a faixa etária entre 20 a 39 anos é a
mais afetada. A dependência ao álcool pode conduzir
os indivíduos ao desenvolvimento tanto de transtornos
mentais quanto comportamentais, provocando perdas
sociais e econômicas para o indivíduo, família e para a
própria sociedade.
O uso excessivo do álcool é considerado um dos
principais fatores de riscos relacionados a
transtornos neuropsiquiátricos, dependência,
depressão, ansiedade e doenças não-transmissíveis,
como neoplasias e doenças cardiovasculares.
Expressando uma taxa de mortalidade de 3,8% a nível
mundial, ocupando o 3° lugar de mortes no mundo.
O Brasil lidera mundialmente, o uso abusivo do álcool
na faixa etária acima de 15 anos, o uso do álcool chega
a média de 8,7 litros por pessoa anualmente,
alcançando a 53° posição no consumo do álcool a nível
mundial. A Organização Mundial de Saúde (OMS)
estima que em 2025 o consumo de álcool abranja o
aumento de 10,1 litro do consumo de álcool por pessoa
no mundo (OMS, 2014).
Além disso, algo que tem gerado uma preocupação a
mais no contexto brasileiro é o grande consumo de
álcool em 65,2% dos jovens do ensino fundamental e
médio, sendo a idade média de início para primeiro
consumo aos 12,5 anos. Em todo o mundo,
aproximadamente 16% dos bebedores com 15 anos de
idade ou mais já beberam grandes quantidades de
bebida em pouco tempo, ou seja, bebem em binge.
Beber em binge é um conceito utilizado para se referir
ao consumo de álcool em grandes quantidades e em
pouco tempo, sendo para homens a quantidade de 5
doses em 2 horas e para mulheres 4 doses nestas
mesmas horas, este tipo de consumo tem elevados
custos sociais e danos para a saúde como por exemplo
aumento da violência, homicídios, etc. Alguns fatores
influenciam nos efeitos do “beber em binge” como: peso
do indivíduo, idade, velocidade de consumo, presença
de alimento no estômago, número de doses
consumidas.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS)
o consumo de risco seria aquele em que o padrão de
consumo aumenta o risco de condições adversas para a
saúde que quando torna-se um hábito significa o
consumo 20-40g para mulheres e 40-60g para homens.
Já o consumo prejudicial, segundo a OMS, seria
aquele em que há prejuízo concreto para a saúde física
e mental da pessoa, associado ao consumo regular de
40- 60g de álcool para homens/mulheres. Enquanto que,
o consumo episódico é aquele em que ocorrem
repercussões em problemas específicos para a saúde a
partir do consumo de pelo menos 60g de álcool.
INTOXICAÇÃO ALCOÓLICA AGUDA
O quadro de intoxicação aguda pelo álcool é comum
nos serviços de saúde e é uma condição autolimitada
causada pelo excesso de bebida alcóolica além do
tolerado pelo indivíduo gerando alterações físicas e
psíquicas capazes de interferir no seu funcionamento
normal. Seus estágios vão desde uma embriaguez leve
até o coma, logo, é importante também investigar
hipoglicemia e traumatismo cranioencefálico (TCE)
associado ou como causa do quadro de rebaixamento
caso na história não fique evidente a associação com
ingesta de bebida alcóolica. Além disso, outras
alterações podem ser notadas logo que o paciente
chega na Unidade, pois a intoxicação causa alterações
no afeto (alegria, excitação e labilidade de humor), na
fala (pastosa, arrastada), no comportamento
(impulsividade, agressividade, ataxia), no pensamento
(redução na capacidade de raciocínio e juízo crítico,
pensamento lento).
O manejo inicial do paciente com intoxicação
consiste em assegurar que haja a interrupção da
ingesta de álcool, posicionar o paciente em decúbito
lateral de modo a evitar a broncoaspiração de conteúdo
gástrico caso venha a vomitar e proporcionar um
ambiente seguro e tranquilo. Tais medidas são
suficientemente efetivas em boa parte dos casos.
Porém, em algumas situações o paciente apresenta-se
com agitação psicomotora e agressivo o que torna
necessária a sua imobilização e se necessário uso de
Haloperidol 5mg, via intramuscular (IM). Vale ressaltar
que benzodiazepínicos e histamínicos podem ter efeito
cruzado com o álcool, por este motivo, a droga de
escolha é o haloperidol. O exame físico do paciente
com intoxicação aguda deve ser completo e realizado o
quanto antes buscando complicações agudas (TCE,
hipoglicemia, sangramentos, crises hipertensivas) e
crônicas (hepatomegalia e desnutrição). No que diz
respeito aos exames laboratoriais é necessário
solicitar: hemograma, exames para avaliar função
hepática e renal, eletrólitos. Outros exames
complementares como exames de imagem devem ser
solicitados conforme necessidade diante do quadro
de cada paciente.
A todos os pacientes está indicado o uso de Tiamina
300mg IM como profilaxia da Síndrome de Wernicke-
Korsakoff. Caso a glicose hipertônica seja indicada ao
paciente, a tiamina deve ser aplicada 30 min antes da
glicose. No entanto, é importante destacar que nem
todos os pacientes com intoxicação aguda pelo álcool
devem receber glicose hipertônica endovenosa e soro
fisiológico, estes estão indicados apenas se o paciente
apresenta-se hipoglicêmico e/ou desidratado,
respectivamente.
USO NOCIVO DO ÁLCOOL
O uso nocivo do álcool é caracterizado pelo ato de
beber “disfuncional” capaz de interferir na vida do
indivíduo causando problemas individuais, legais,
psicológicos e clínicos associados ao consumo de
bebidas alcóolicas por um período ≥ 1 ano e que
não satisfaça os critérios para dependência
alcoólica.
A abordagem de pacientes que fazem este uso nocivo
sempre deve ser realizada nas consultas, fazendo a IB
e buscando identificar com o paciente os gatilhos
relacionados a este hábito de modo a ajuda-lo neste
processo. Este momento de atuação do profissional de
saúde é fundamental como forma de evitar a
progressão para a dependência. Existe uma polêmica
acerca da indicação de ingesta moderada de álcool no
futuro caso o mesmo deseje, de maneira geral, o uso
moderado pode ser uma opção para aquelas pessoas
que não chegaram a ter crises graves devido ao uso
nocivo ou que não seja alcoolista ou que não tenha
herança genética para dependência. No entanto,
aqueles bebedores nocivos que possuem doença
hepática ou cardíaca, problemas gastrointestinais ou
possuam problemas que possam ser agravados pelo
uso do álcool como gestantes e que façam uso crônico
de medicamentos, a abstinência alcoólica deve ser o
objetivo.
A IB é a principal medida de abordagem para estes
pacientes usando o mnemônico FRAMES que citamos
anteriormente. É importante negociar com o paciente a
redução gradual do seu uso, estabelecer metas e
identificar quais situações são gatilhos ou de risco para
o uso da bebida. Além disso, é importante dialogar com
o paciente sua relação com o álcool, quais vantagens e
desvantagens vê no uso da substância, devendo em
seguida fornecer material didático informativo de fácil
leitura para o mesmo. Em seguida, é fundamental que o
profissional de saúde continue abordando tais questões
em cada consulta e dê suporte ao paciente por meio da
equipe multiprofissional conforme necessidade.
Abordagem farmacológica também é uma opção.
SÍNDROME DA DEPENDÊNCIA ALCÓOLICA
Esta síndrome é caracterizada por sinais e sintomas
comportamentais, fisiológicos, cognitivos no qual o
uso de álcool torna-se prioridade na vida da pessoa,
ficando outras atividades em segundo plano. Diantedisso, além das intervenções psicossociais, alguns
medicamentos podem ser utilizados sendo fundamental
a regularidade no seu uso. Como forma de possibilitar
melhor adesão ao tratamento é importante que o
profissional crie um plano conjunto de cuidado com o
paciente, auxilie o mesmo na compreensão do
problema, bem como evidencie o funcionamento e
efeitos colaterais dos respectivos tratamentos propostos.
O dissulfiram é um fármaco utilizado no tratamento do
alcoolismo, acessível, de baixo custo e o único
sensibilizante ao álcool disponível no Brasil.
Seu mecanismo de ação ocorre no metabolismo
hepático do álcool, pois inativa a enzima acetaldeído-
desidrogenase que é responsável pela conversão de
acetaldeído em ácido acético, logo, com a atuação do
dissulfiram ocorre um acúmulo do acetaldeído. Deste
modo, caso a pessoa em uso do medicamento faz
ingestão de bebida alcóolica, o acúmulo de acetaldeído
desencadeia uma reação conhecida por “efeito
antabuse” caracterizada por rubor facial, cefaleia,
taquipneia, precordialgia, náuseas, vômitos, sudorese e
cansaço. Tal reação pode durar de 30 min a horas e vai
depender da sensibilidade de cada paciente, no entanto,
caso a dose de bebida alcóolica seja grande pode haver
progressão do efeito antabuse para confusão mental,
rebaixamento do nível de consciência, hipotensão,
coma e até mesmo morte. Com isso, o dissulfiram age
como um freio para o paciente não ingerir bebida
alcóolica, devido a essas reações desagradáveis
vinculadas ao ato de beber, por este motivo o
medicamento deve ser iniciado apenas 12h após a
última ingestão de álcool com dose inicial de 500mg/dia
por 1-2 semanas e dose de manutenção de 250mg/dia.
Porém, é importante frisar com o paciente que, uma vez
iniciado o tratamento, o medicamento permanece na
corrente sanguínea por aproximadamente 1 semana,
ou seja, mesmo que a medicação seja interrompida,
caso ocorra uma recaída, o efeito antabuse ainda
pode ocorrer. O tempo de tratamento vai depender da
melhora do estado psicossocial do paciente e aquisição
do autocontrole do comportamento de beber.
Outro medicamento que contribui para o tratamento do
alcoolismo é a naltrexona, um antagonista opioide
utilizado como coadjuvante das intervenções
psicossociais no tratamento da dependência alcóolica,
pois atenua os efeitos prazerosos do ato de beber.
Estudos mostram que seu efeito terapêutico é maior nos
primeiros 42 dias de uso, no entanto, pode atuar
reduzindo as taxas de recaídas por até 5 meses. De
modo geral, recomenda-se seu uso por até 12
semanas, com dose inicial de 25 mg/dia para
minimizar os efeitos adversos (o principal é a
náusea) na 1ª semana, seguida de 50 mg/dia que é a
dose de fato para tratamento do alcoolismo. A
naltrexona é contraindicada quando há doença hepática
(aguda ou crônica) devido seu potencial de
hepatotoxidade baseado no aumento das
transaminases hepáticas. Apesar deste aumento nas
transaminases estar mais associado ao uso de doses
altas (> 300mg/dia) é importante mesmo assim realizar
o controle mensal de bilirrubinas e transaminases
hepáticas.
O acamprosato é outro fármaco que vem sendo
utilizado por seu efeito na redução do consumo de
álcool, sobretudo, por reduzir os sintomas de
abstinência. Tal medicamento é um coagonista de
receptores de glutamato e é um fármaco seguro por não
interagir com o álcool ou com BDZ, no entanto, alguns
estudos mostraram que este é menos efetivo do que o
dissulfiram. A dose habitual é 1.200- 3.000 mg/dia,
dividido em 3 vezes ao dia, por um período de 3-12
meses.
SÍNDROME DA ABSTINÊNCIA ALCÓOLICA
A síndrome da abstinência alcóolica (SAA) é
caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas que
se iniciam cerca de 6h após a diminuição ou interrupção
do uso de álcool, sendo o tempo e intensidade do uso
diretamente proporcional a gravidade da apresentação.
O curso desta síndrome é flutuante e autolimitado,
porém seu pico pode acontecer entre 24 e 48h após
o início do quadro e a mesma pode durar até 1
semana.
O quadro clínico da SAA está relacionado com o
aumento da atividade do sistema nervoso autônomo,
por este motivo, podem ocorrer: tremores, ansiedade,
sudorese, taquicardia, aumento da pressão arterial,
cefaleia, náuseas e vômitos, inquietação, alteração do
humor e insônia. Porém, é importante classificar a SAA
de modo a compreender a gravidade do quadro de cada
paciente, podendo orientar melhor o tratamento da
síndrome. A classificação pode ser realizada por meio
da aplicação da escala Clinical Withdrawal Assessment
Revised (CIWA-Ar) composta por 10 itens rapidamente
respondidos em que o escore final apresenta a
gravidade da SAA: 0-9 leve, 10-18 moderada e >18
grave.
Como já foi dito, o tratamento irá depender da
gravidade do quadro do paciente de modo que, é
possível atualmente realizar tratamento ambulatorial
quando o escore classifica o paciente como
leve/moderado e, caso seja grave o tratamento deve ser
feito a nível hospitalar. É importante realizar a adequada
indicação de tratamento ambulatorial, pois este quando
bem indicado reduz os custos no tratamento e
melhora a adesão do paciente. No entanto, outros
fatores também irão interferir nesta decisão como por
exemplo a presença de uma rede de apoio e insucessos
em tratamentos anteriores.Caso o paciente apresente:
desidratação, história de TCE, sintomas neurológicos,
complicações clínicas (hipertensão, sangramento
digestivo, insuficiência renal), delirium tremens,
convulsões e sintomas psicóticos, o mesmo deve ser
tratado, de forma mais adequada, em ambiente
hospitalar.
O tratamento ambulatorial consiste em inicialmente
abordar a família e informar a natureza do problema,
como é o curso da SAA e seu tratamento, devendo
orientar que seja proporcionado ao paciente um
ambiente calmo e tranquilo. Além disso, é importante
iniciar reposição vitamínica com tiamina 1 ampola ao dia
por 7-15 dias e após este período reposição via oral
com 300mg/dia como forma de evitar a Síndrome de
Wernike, postergando a evolução para a fase crônica
desta que é a Síndrome de Wernike-Korsakoff. Além
disso, a prescrição de benzodiazepínicos (BDZ) deve
ser feita com base nos sintomas apresentados, mas
devem ser retirados gradualmente ao longo de 1
semana, a 1ª escolha é o uso de Diazepam, mas em
pacientes com hepatopatias graves recomenda-se o
uso do Lorazepam.
Quando há indicação de tratamento a nível hospitalar
o monitoramento do paciente deve ser frequente,
mantendo a orientação de proporcionar um ambiente
calmo. A reposição vitamínica é a mesma indicada para
os casos leve/moderado. Caso o paciente apresente
confusão mental, o mesmo deve permanecer em jejum
devido ao risco de broncoaspiração, devendo neste
caso realizar hidratação endovenosa a cada 8h com
solução com glicose 5%+ NaCl+KCl. A indicação de
BDZ também deve ser feita com base nos sintomas,
sendo boa opção para profilaxia de delirium
tremens (DT). A contenção física só deve ser realizada
em caso agitação intensa onde há risco para o paciente
e terceiros ou quando não é possível administrar as
medicações.
O DT é uma forma grave e potencialmente fatal da
abstinência do álcool que pode se desenvolver cerca de
1 a 4 dias após a SAA, caracterizado por um estado de
confusão mental agudo, rebaixamento do nível de
consciência, desorientação e desatenção, podendo
apresentar alucinações visuais e táteis que pode
evoluir para agitação. É uma psicose orgânica que
pode ser revertida em alguns dias com manejo sempre
realizado em hospital geral e tratamento baseado no
uso de BDZ (Diazepam 10-20 mg/h ou Lorazepam 2-4
mg/h) e, se necessário, administrar haldol 5 mg/dia.
Além disso, é fundamental realizar hidratação do
paciente e avaliação geral através de exames
laboratoriais.
SÍNDROMES DEMENCIAIS
O álcool pode provocar lesões cerebrais difusas
prejudicando a memória, capacidade de julgamento,
de abstração e de comportamento. Com isso, o
comprometimento pode ocorrer desde deficiências
cognitivas leves percebidas somente em testes
neurológicos, até síndromes demenciais graves. De
modo geral, há prejuízoda memoria recente e
confabulações sem alterações no nível de consciência.
Alterações psicológicas e radiológicas podem acontecer,
mas são reversíveis após meses de abstinência até
mesmo naqueles pacientes que já possuem demências
estabelecida. O comprometimento cerebral costuma ser
mais global como no caso da Síndrome de Wernicke-
Korsakoff que já abordamos anteriormente sendo
indicado o uso de tiamina 300mg/dia por 12 meses.
REPERCUSSÃO DA DEPENDÊNCIA ALCOÓLICA NO
CONTEXTO SOCIAL E FAMILIAR.
O álcool é muito utilizado por seus efeitos desinibidores,
antidepressivo e de fácil acesso, tornando-se um dos
maiores problemas de saúde pública que afetam
homens e mulheres em todas as idades e classes
sociais, o alcoolismo, descrito por esta associado ao
forte desejo de beber e dificuldade em controlar o
consumo e a utilização insistente apesar das
consequências negativas que o álcool produz.
Quando refletimos sobre o conceito da palavra droga,
logo pensamos em cocaína, heroína, maconha, craque
entre outros tantos nomes que são dadas às drogas
lícitas e ilícitas existentes. Não nos deportamos ao
álcool como sendo uma das drogas mais utilizadas e
mais nocivas ao ser humano da nossa atualidade,
pois o álcool é consumido desde os tempos mais
primitivos da nossa sociedade e é visto como
complemento dos momentos de alegria e de festa,
onde as pessoas se reúnem para comemorar e celebrar
a vida.
O álcool é definido como uma droga bastante poderosa
e que mata mais pessoas que todas as drogas juntas,
com exceção apenas do cigarro, por ser uma droga
lícita e de fácil acesso a todas as camadas da
sociedade devido ao baixo valor, ela faz vítimas em
todas as classes sociais.
Os dependentes do álcool e sua família estão sujeitos a
vivenciar algumas das expressões da questão social.
Entre essas expressões, destacam-se o desemprego, a
sub habitação, a desnutrição, a precarização dos
serviços de saúde e outras problemáticas que atingem,
especialmente, a população de baixa renda, sobre a
qual incidem de forma mais perversa as desigualdades
sociais.
A ingestão de maneira abusiva de álcool está
relacionada a causar diversas patologias e transtornos
como os mentais em geral, cirrose hepática,
pancreatite, câncer, além de estar associado à
ocorrência de acidentes de transito e homicídios.
Aproximadamente 5,2 milhões de mortes por acidentes
ocorrem todos os anos, destas, 1,8 milhões estão
associadas ao consumo de bebidas alcoólicas.
Do ponto de vista da saúde o alcoolismo é uma
doença crônica, com aspectos comportamentais e
socioeconômicos, caracterizada pelo consumo
compulsivo de álcool, na qual o usuário se torna
progressivamente tolerante à intoxicação produzida
pela droga e desenvolve sinais e sintomas de
abstinência, quando a mesma é retirada.
Nesse contexto, surgem as várias formas de resistência
e enfrentamento à situação de dependência do álcool,
através da busca de políticas públicas, dos programas
específicos de atenção ao alcoolista e sua família e,
também, do acesso à rede de apoio social. O uso
constante de álcool causa dependência física e
psicológica, transformando o usuário ocasional em
viciado, podendo levar à morte pelo consumo excessivo
e até mesmo debilitar progressivamente o organismo de
quem a usa.
Estudiosos acreditam que a ação do álcool no sistema
central, dá-se por que o álcool entra rapidamente no
cérebro com inúmeros efeitos nos neurônios, ou seja,
boa parte dos sistemas neuroquímicos, provocando
alterações nos neurotransmissores serotoninérgicos,
nos dopaminérgicos no VTA e no núcleo acumbente e
na liberação de peptídeos opióides no sistema nervoso
central que causam seus efeitos prazerosos.
A exposição ao álcool em um pequeno período de
tempo reduz os impulsos elétricos dos neurônios
determinando a depressão da atividade cerebral e dos
nervos, como consequência do aumento da atividade do
GABA nos receptores GABA-érgicos já que diminui a
ação dos aminoácidos excitatórios, por exemplo, o
glutamato ao nível dos receptores NMDA.
O consumo assumido de substâncias com ação
psicotrópica tem evoluído de acordo com os percursos
civilizacionais e que, embora numa primeira fase atue
no funcionamento mental (causando euforia,
estimulante, anestesiante, inebriante), numa segunda
fase, induz em dependência e tolerância, apresentando
elevados riscos biopsicossociais imediatos.
Durante anos o alcoolismo foi considerado por muito
tempo como um “problema moral”, com o passar do
tempo, constatou que trata-se de uma patologia e um
dos pressupostos é que os dependentes teriam
características genéticas e de personalidade diferentes
do restante da população sendo possível destaca-se um
biótipo.
Em 1967, na 8ª Conferência Mundial de Saúde, o
alcoolismo foi incorporado na Classificação
Internacional das Doenças. Nesta oportunidade a
Organização Mundial de Saúde classificou as drogas
pelo seu grau de periculosidade, utilizando critérios
como o maior ou menor perigo tóxico, a maior ou menor
capacidade de provocar a dependência física e a maior
ou menor rapidez em que esta dependência se
estabelece. Com base nestes critérios, as drogas são
classificadas como: Grupo 1: ópio e derivados (por
exemplo, morfina e heroína); Grupo 2: barbitúricos e
álcool; Grupo 3: cocaína e anfetaminas; Grupo 4: LSD,
canabinoides, tabaco, entre outros.
A magnitude do problema do uso indevido do álcool,
verificada nas últimas décadas, ganhou proporções tão
graves que hoje é uma questão de saúde pública no
país. Além disso, este contexto também é refletido nos
demais segmentos da sociedade por sua relação
comprovada com os agravos sociais, tais como:
acidentes de trânsito e de trabalho, violência domiciliar
e crescimento da criminalidade.
nalidade.11 O alcoolismo depende de variáveis sociais,
econômicas e culturais. Envolve um continuam
multideterminado de comportamentos relacionados ao
beber. Os problemas relacionados ao álcool não
resultam apenas do exagero da quantidade consumida,
mas da ausência de controle da forma de consumo
(quando, onde e quanto). O abuso de álcool gera
dependência, depressão e instabilidade de
personalidade.
Uma pessoa consome álcool abusivamente por diversos
motivos, podendo-se citar alguns exemplos como a
necessidade de álcool para aceitar a realidade, a
tendência a fugir às responsabilidades, a angústia,
agressividade, má resistência às frustrações e tensões;
o nível de consciência tende a levá-lo a uma conduta
impulsiva, negligente perante a família, frequentes
perdas de emprego, problemas financeiros,
agressividade perante a sociedade. Poderá haver algum
contributo genético que facilite a dependência do álcool,
mas fatores culturais são, sem dúvida, os mais
importantes.
O alcoolismo é a reivindicação de um gozo infinito. O
alcoolista procura a possibilidade do gozo e deseja ser
reconhecido e respeitado como sujeito. É alguém que
não tem receios, não para diante de barreiras ou limites,
está disposto a ir até o fim na busca do prazer.
Este comportamento tem um preço, comparando o
cérebro de um dependente alcoólico ao de uma pessoa
saudável, o de um alcoólatra apresenta atrofia, pois os
neurônios são, progressivamente, destruídos, o fato
pode ser observado pela dilatação dos ventrículos, pelo
estreitamento do corpo caloso (a principal conexão
entre os dois hemisférios) e pela redução do hipocampo
(região da memória).
São várias as consequências individuais e sociais do
consumo de álcool, além da embriaguez, pois seu
consumo abusivo é responsável por muitos óbitos e
incapacidades (devido aos acidentes e doenças que
provoca), falta de produtividade no trabalho e violência
familiar e criminal. Todos esses fatores, aliados ao fato
de provocar grande dependência física e psíquica e ser
das poucas substancias que causam lesões
irreversíveis.
As situações de violência, criminalidade, acidentes de
transito ocasionados por indivíduos alcoolizados não
deixam dúvida que o alcoolismo é também uma doença
cujos sintomas sociais devem ser alertados e
prevenidos. Isso dá margem muitas vezes para que a
sociedadetrate o indivíduo de forma a excluí-lo de seu
meio, o que faz com que o alcoolista tenha dificuldades
para se reconhecer como doente.
Segundo o padrão Internacional considera-se o uso
nocivo do álcool, quando seu consumo semanal para
adultos é de 21 doses para homens e de 14 doses para
mulheres. Uma dose equivale a una taça de vinho, uma
lata de cerveja ou dois dedos de uísque.
Com a continuidade de ingestão da droga e seu
aumento na concentração sanguínea o cérebro começa
a demonstrar sinais de deterioração, provocando
desequilíbrio, alteração da capacidade cognitiva,
dificuldade crescente para a articulação das palavras,
falta de coordenação motora, movimentos vagarosos e
irregulares dos olhos, visão dupla, rubor facial e
taquicardia.
O pensamento fica desconexo e a percepção da
realidade se desorganiza. Mais tarde ainda surgem
letargia, diminuição da frequência cardíaca, queda da
pressão arterial, depressão respiratória e vômitos, que
podem eventualmente ser aspirados e chegar aos
pulmões provocando pneumonia ou outros efeitos
colaterais perigosos. Para concluir, pode acontecer
estupor e coma, depressão respiratória severa,
hipotensão e morte. E todos estes sintomas podem
acarretar em inúmeros sinistros.
Estatísticas da Associação Brasileira de Álcool e Drogas
(ABEAD) relatam que a associação de álcool e direção
é responsável por 75% dos acidentes de trânsito com
mortes; 39% das ocorrências policiais, e constitui-se a
3ª causa de absenteísmo, respondendo por 40% das
consultas psiquiátricas no Brasil.
Além disso, dados do Ministério da Saúde do Brasil,
demonstram que os Transtornos Mentais são a 4ª
causa de internação hospitalar, sendo suplantada
apenas pelas internações por problemas respiratórios,
circulatórios e dos partos, sendo o álcool a razão
principal em 20,6% dos casos.
O alcoolismo dentro de uma família traz uma grande
dose de estresse, transformando-se rapidamente numa
doença de todo o grupo familiar, como postulou Jackson
em 1954. Esse estresse é responsável pelo rompimento
da estabilidade que, por sua vez, conduz a família a um
exagerado apego ao conhecido, cronificando atitudes
calcadas em mecanismos reguladores.
O certo é que não há ainda certeza do que leva uma
pessoa a ser um dependente em álcool, já que é um
transtorno pessoal de quem a adquire, pois o que é
perceptível é que cada pessoa reage de uma forma
diferente e por diversas razões, contextos e
circunstâncias.

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