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1 MOVIMENTOS DE CUIDADO: REDUÇÃO DE DANOS E ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA EXISTENCIAL HUMANISTA Care Moviment: Harm Reduction and Phenomenological Existential Humanistic Approach Movimiento de Cuidado: Reducción de Daños y Enfoque Fenomenológico Existencial Humanista GIULIA BARBARA THOMAZONI KUPKOWSKI¹ NATHALIE ANTUNES CARNEIRO¹ SABRINA MACHADO² RESUMO: O presente artigo visa inicialmente explanar conceitos pertencentes a corrente psicológica aqui denominada como abordagem Fenomenológica Existencial Humanista, a qual compreende o ser humano enquanto detentor de autonomia e liberdade, capaz de tomar decisões por si próprio e arcar com suas responsabilidades resultantes de suas experiências. Em concordância, a política de Redução de Danos entende o ser humano usuário de substâncias como autônomo e que opta pela relação e significado construídos com a substância psicoativa, em decorrência da angústia e da culpa que carrega consigo referente ao cuidado de sua existência. O objetivo deste trabalho é relacionar aspectos consonantes entre tais propostas, enfatizando a atitude humanizada, por meio de uma revisão bibliográfica. Conclui-se que o ser humano tem consciência para tomar as atitudes que julga corretas para seu crescimento, direcionando suas experiências e norteando sua vivência, livre de julgamentos e rótulos, devendo ser tratado sempre pelos pares e profissionais com respeito, dignidade e empatia. PALAVRAS-CHAVE: Fenomenologia; Existencial; Humanista; Redução de Danos; Cuidado. ABSTRACT: The aim of this article is to explain concepts belonging to the psychological current referred to Phenomenological Existential Humanistic approach, which comprises the human being as the holder of autonomy and freedom, able to make decisions for himself and to shoulder his responsibilities resulting from his experiences. In agreement, the Harm Reduction policy understands the human being as user of substances as autonomous and who opts for the relation and meaning built with the psychoactive substance as a result of the anguish and the guilt that carries with it regarding the care of its existence. The objective of this work is to relate consonant aspects among such proposals, emphasizing the humanized attitude, through a bibliographical review. It is concluded that the human being is conscious to take the actions that he considers correct for his growth, directing his experiences and guiding his experience, free of judgments and labels, and should always be treated by similar and professionals with respect, dignity and empathy. KEYWORDS: Phenomenological; Existential; Humanistic; Harm Reduction; Care. RESUMEN: El presente artículo apunta inicialmente a explicar conceptos pertenecientes a la corriente psicológica aquí denominada como enfoque fenomenológico existencial humanista, la cual comprende al ser humano como poseedor de autonomía y libertad, capaz de tomar decisiones por sí mismo y arcar con sus responsabilidades resultantes de sus experiencias. En concordancia, la política de Reducción de Daños entiende al ser humano usuario de sustancias como autónomo y que opta por la relación y significado construidos con la sustancia psicoactiva, en consecuencia de la angustia y de la culpa que lleva consigo respecto al cuidado de su existencia. El objetivo de este trabajo es relacionar aspectos consonantes entre tales propuestas, enfatizando la actitud humanizada, por medio de una revisión bibliográfica. Se concluye que el ser humano es consciente de tomar las actitudes que juzga correctas para su crecimiento, dirigiendo sus experiencias y orientando su vivencia, libre de juicios y rótulos, debiendo ser tratado siempre por los pares y profesionales con respeto, dignidad y empatía. PALABRAS CLAVE: Fenomenológico; Existencial; Humanista; Reducción de Daños; Cuidado. ¹ Acadêmicas do quarto ano do curso de Psicologia da Universidade Paranaense – UNIPAR, campus de Francisco Beltrão – PR. ² Professora orientadora do curso de Psicologia da Universidade Paranaense – UNIPAR, campus de Francisco Beltrão – PR. 2 INTRODUÇÃO A existência, por vezes, pode ser considerada um fardo e motivo de angústias, onde o indivíduo apresenta dificuldades para encontrar-se com a sua realidade e seus próprios desejos, não reconhecendo-se como pessoa responsável por suas decisões, encontrando posteriormente formas alternativas de lidar com tal sentimento. É comum o ser humano procurar formas muitas vezes convencionais para lidar consigo mesmo, podendo recorrer a substâncias psicoativas que possam tornar a vivência mais suportável, amenizando o sofrimento experimentado. Logo, existem situações normativas e regras culturais de expectativas de padrões do comportamento socialmente difundidos que o acompanham desde a sua concepção, podendo gerar problematizações futuras de quem se quer ser, de como ser aceito e de desejar aquilo que não se espera na coletividade, onde Sodelli (2010) justifica que temos sempre que escolher um modo de ser e que é possível falhar nesta tarefa, podendo gerar um sentimento de culpa da necessidade de efetuar escolhas, eximindo-se de outras. Essa angústia pode gerar sentimentos acerca da invalidez e da impotência juntamente com a pressão de precisar ser algo, não levando em conta a sua subjetividade nem permitindo a manifestação da liberdade de escolha e o próprio conhecer-se. As substâncias psicoativas podem ser entendidas como elementos que agem sobre o cérebro, alterando o seu funcionamento e promovendo mudanças comportamentais (humor, percepções) e podendo levar a estados de dependência (FILHO & TORRES, 2002), porém, torna-se necessário, primeiramente, ampliar a compreensão do que são substâncias psicoativas e as mais diversas relações que o ser humano pode estabelecer com esta. Cabe ainda ressaltar que a Fenomenologia Existencial Humanista pretende desconstruir o rótulo da dependência química, enxergando o ser humano como detentor de autonomia e responsabilidade por seus atos, enfatizando as potencialidades do ser em questão. O uso pode ser considerado como uma fuga, um apoio para enfrentar a sua realidade, minimizando os sentimentos que causam dor, sofrimento e medo, os quais permitem a pessoa considerar-se incapaz e inválida, eliciando sensações de alívio e distanciamento da realidade e dessa forma, amenizando a angústia eterna do viver. Portanto, o uso de drogas envolve questões internas de cada indivíduo e ainda demanda a compreensão sobre o papel que a substância tem em sua vida e qual a relação que está se movimentando naquele tempo-espaço. Assim, a política de Redução de Danos traz 3 como proposta a humanização do tratamento para os usuários, levando em conta a individualidade do ser e sua liberdade de escolha, visando autonomia e escolhendo junto do indivíduo qual o melhor caminho para seu processo de saúde física e mental. Para Costa & Telles (2017), as ações da RD devem ser facilitadoras e pautadas na necessidade do indivíduo, aceitando metas construídas pela própria pessoa que é usuária da substância, lembrando que a abstinência pode ser uma meta no processo, mas o cuidado imediato à saúde é prioridade, utilizando de respeito e tolerância, evitando julgamentos morais e a estigmatização da pessoa. Colaborando para o mesmo ponto de vista, a Fenomenologia Existencial Humanista coloca-se a favor do indivíduo detentor de identidade e desejo, observando que o mesmo precisa ser compreendido com empatia, apoio e aceitação, centrando a pessoa como protagonista da sua experiência existencial, procurando compreender a relação de significado que o mesmo estabelece com a substância e objetivando minimizar os danos em sua integridade física, psicológica e subjetiva. Portanto, para Frota (2012) concebe-se o sujeito como naturalmente livre e bom, portador de uma capacidade de desenvolver-se de formapositiva, respeitando o humano prioritariamente e compreendendo-o como organismo digno de confiança e de aceitação, não havendo justificativa para que o mesmo seja julgado ou rotulado pelas suas escolhas feitas em detrimento de uma receptividade social. SOBRE A FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL HUMANA Inicialmente, é imprescindível compreender que a Fenomenologia Existencial Humana sobre a qual falaremos é tida não só como uma teoria, mas uma filosofia que indica as formas de interpretar o funcionamento do ser ou de acolhê-lo dentro de um contexto psicoterapêutico e também como uma forma de ver o mundo, de estar dentro dele e observar as outras pessoas e coisas que também vivem dentro do mesmo tempo-espaço, de sua forma única e particular. Para Bezerra & Bezerra (2012) a Fenomenologia é percebida como a aproximação entre o objetivo e o subjetivo do ser através da experiência propriamente dita, o que pode ser manifestado e percebido, sendo um discurso esclarecedor daquilo que se mostra por si mesmo – um fenômeno experienciado que abarca, segundo Forghieri (1993) o existir do humano em sua totalidade, extremos que se completam e que contém significação única através da vivência. Husserl traz a busca para o “voltar às coisas mesmas”, o que seria o aparecer das coisas, aquilo que se apresenta de fato, “um retorno às coisas mesmas na linha da atitude natural seria o equivalente à introspecção, ou seja, um olhar para dentro de si procurando o que existe “na” consciência” (AMATUZZI, 2009, p. 95). 4 Já o Existencialismo, por sua vez, é compreendido como a forma concreta de existência do ser humano no mundo, podendo ser instável e contraditória, colocando em jogo o poder da escolha e responsabilidade pela ação do sujeito (BEZERRA & BEZERRA, 2012). Ou seja, o sujeito compreende seu lugar de decisão e deve arcar com as consequências de seus atos, ideia reafirmada pelas reflexões de Jean-Paul Sartre que afirma que o ser é capaz de se libertar e ser responsável por suas escolhas, onde o sujeito e o mundo se fundem e permanecem num constante movimento de vir a ser (REGINALDO & PEREIRA, 2015). Logo, a ideia de si mesmo é uma constante mudança e movimentação, uma eterna possibilidade do ser. Para tal, o eu é dividido em tendências que divergem entre si, sendo descritas como “[...] a relação EU-ISSO, que fundamenta a tendência objetiva pela sua natureza objetal, exclusivamente cognoscitiva e utilitária; e a relação EU-TU, que expressa a tendência existencial, pelo seu modo baseado na relação pessoal” (BEZERRA & BEZERRA, 2012, p. 28 apud VALENTE, 2006). Em outras palavras, o ser humano está presente como parte do mundo, na forma como fala, compreende, se movimenta e sua forma de ser-no- mundo: a) ser-em, que não indica uma coisa, um ser simplesmente dado, dentro do mundo, mas que se refere a uma constituição existencial, a um habitar em, estar familiarizado com; b) ser-junto ao mundo, no sentido de empenhar-se no mundo e não dar-se em conjunto de coisas que ocorrem; c) ser-com, em que a copresença dos outros constitui existencialmente o ser-no-mundo (BEZERRA & BEZERRA, 2012, p. 30). Portanto, a Fenomenologia Existencial considera o homem como um ser único e inacabado, incapaz de ser compreendido da mesma forma que outros seres e objetos, assim sendo, o que nos difere desses seres/objetos seria a presença do Dasein na figura humana. O Dasein, termo usado por Heiddeger, “[...] é o homem compreendido como o ser-existindo-aí. Dasein é sempre uma possibilidade na qual se encontra como uma abertura para a experiência” (SODELLI, 2010, p. 638). Considera-se o homem como indeterminado, ou seja, nenhuma experiência o rotula ou finda e ainda, o ser humano está acontecendo no mundo simultânea e continuamente: “Há uma interação entre o Dasein e o mundo como uma relação de troca constante, onde um se apresenta para o outro à todo momento, e dessa troca a existência flui para todos os outros entes” (ARAUJO, 2014, p. 203). Ainda, Dasein é um ser mortal e compreende sua finitude, logo, o homem sabe que um dia ele não existirá mais e é esta percepção de Dasein que nos difere dos demais seres. Viver é interpretar-se, é ser parte do mundo, é existir e, ao existir “para a morte” e ser livre para escolher viver ou morrer, emergem sentimentos que compõem o Dasein: a angústia e a culpa. (SODELLI, 2010) Da mesma forma: 5 Naquilo com que a angústia se angustia revela-se o “é nada e não está em lugar nenhum”. Fenomenalmente, a impertinência do nada e do lugar nenhum intramundanos significa que a angústia de angustia com o mundo como tal. A total insignificância que se anuncia no nada e no lugar nenhum não significa ausência de mundo. (HEIDEGGER, 2006, p. 253) Em outras palavras, do ponto de vista Heideggeriano, a angústia é o próprio estar-no- mundo, ela surge do não-ser, não havendo um lugar específico e direcionado. Essa angústia do vir-a-ser, da possibilidade, coloca o Dasein para a liberdade de tornar-se algo, colocando-o em sua própria autenticidade onde, para Heiddeger, é uma possível forma de transcendência da angústia, e essa transcendência é a compreensão do Dasein de ser-para-a-morte (OLIVEIRA, 2015). A angústia pode ser vista como o ponto de escape do existir, como incongruência e o desvio de si mesmo, o medo de tomar decisões e ser responsável pelas mesmas pode gerar um sentimento muitas vezes incompreensível, que não se sabe de onde vem. O não mais existir promove no homem a angústia em torno da realização de suas potencialidades e o medo de não realizá-las, o que causa uma responsabilidade de ser e cuidar do seu existir. A culpa relaciona-se com a pressão de darmos conta do nosso viver e por isso estamos o tempo todo em busca de escolher um modo de ser e por vezes falhamos, portanto, a culpa vincula-se à “[...] não-realização integral das potencialidades, da necessidade imperativa de efetuar certas escolhas, em detrimentos de outras.” (SODELLI, 2010, p. 639) O Dasein é livre, capaz de realizar escolhas, tomar decisões e é composto unicamente na relação com o próximo, onde se dá a experiência de fato. Por este motivo, nessas vivências, surge a busca incessante de sentido da nossa existência, onde precisamos sempre ser e fazer algo, e ainda, sermos capazes de darmos conta e cuidar nosso viver, pois a responsabilidade disso é inteiramente nossa (SODELLI, 2010). Ou seja, são responsabilidades extremamente importantes e que só podem ser respondidas e vivenciadas por nós mesmos, não havendo a possibilidade do dividir, o que torna a jornada muitas vezes difícil e cansativa. O sentido da vida, portanto, é algo que deverá ser criado pelo homem e é ele que irá direcionar sua vivência, pois afinal a vida é uma abertura para o mundo: “Do existir é próprio, por um lado, a facticidade, por outro, a abertura, [...] o estar essencialmente aberto para as coisas” (MARIAS, 2004, p. 480). Portanto, somos livres e a liberdade está na natureza humana, justamente porque o homem é um ser inacabado, sendo um nada e livre para ser alguma coisa dentro de suas possibilidades e da forma que quiser se apresentar, respondendo por isso sempre que necessário. Sabendo dessa responsabilidade e de vivermos livres e em busca de sentido, o mundo pode tornar-se pesado e doloroso demais para se carregar, fazendo com que Dasein 6 experimente angústia e dor dentre outros sentimentos, levando o homem a uma vulnerabilidade existencial, sendo a partir dessa condição que há a abertura para o uso de toda e qualquer substância e esse uso pode proporcionar uma visão possível, mais leve e tranquila para enfrentar o mundo em questão (SODELLI, 2010). Em concordância, Sipahi & Vianna (2001, p. 501) discorrem: “É frente à angústia do futuro estrangeiro que se abre essa possibilidade [...] enquanto promessa de um viver mais tranquilo. No seu inacabamento, em sua provisoriedade,angustiado com o seu vir-a-ser, cabe ao homem cuidar de si, cuidando de se construir momento a momento”. Como já visto anteriormente, para a Fenomenologia Existencial, a vulnerabilidade é considerada inerente ao ser, o que nos acarreta a busca incessante e interminável de meios para a minimização dos sentimentos de angústia e culpa e sendo assim, é impossível acabar com a possibilidade do uso de substâncias entre os indivíduos, pois para isso acontecer seria necessário modificar a condição ontológica do Dasein, logo, todo e qualquer método para o tratamento de uso de substâncias que desconsidera essa possibilidade do ser humano se torna falho (SODELLI, 2010). Para o mesmo autor, os principais argumentos dos modelos preventivos de intolerância e repressão às drogas estão relacionados à saúde e posteriormente, a uma patologia: a dependência. Partimos da reflexão de que é inegável que o uso de substâncias causa danos a saúde tanto física quanto mental, porém, há milhares de situações que causam danos à saúde, como a poluição e o trânsito, e para estes, há uma postura para reduzir os danos para a população como na infraestrutura e educação. Sendo assim, espera-se que a mesma postura seja tomada em relação às drogas. É necessário reconhecer que o desejo do ser humano em usar qualquer que seja a substância não irá acabar, pois como citado antes, para a Fenomenologia Existencial, não se pode modificar a condição ontológica do ser. Além de respeitar o desejo do indivíduo em questão, há uma série de outros fatores que devemos considerar, como qual a relação que o mesmo desenvolve com a substância, em que contexto ela é usada, explorar as expectativas e valores do sujeito, buscando quebrar a perspectiva estereotipada, para então pensar de fato em estratégias acolhedoras e humanizadas, onde o indivíduo possa estar ativo durante todo o processo (LEAL, 2017). Trata-se então, de uma aceitação que deve partir não apenas dos profissionais e órgãos da saúde que acolhem estes indivíduos em momentos de fragilidade, mas de toda uma comunidade que rotula e exclui esse sujeito, que pode ser visto como alguém dependente e não detentor de autonomia e desejo. 7 Em relação à dependência, para a Fenomenologia Existencial é possível afirmar que existir no mundo é prazeroso pelas infinitas possibilidades de ser e existir e ao mesmo tempo é doloroso, pois cai sobre o homem uma responsabilidade enorme ao cuidar do seu ser. Portanto: “[...] o sentido de minha vida, o modo como eu a vivo, aquilo que está sob minhas mãos, é de minha inteira responsabilidade. O sentido que se faz para cada um de nós, individualmente ou coletivamente, revela-se na nossa relação com o mundo, no qual vamos tecendo e estruturando nossa vida cotidiana. É o cuidado que torna significativas a vida e a existência humana. E é justamente por esta abertura existencial (ser-livre) que o uso de drogas pode causar um estreitamento do modo de cuidar de ser, ou seja, na liberdade de ser.” (SODELLI, 2010, p. 641) A dependência revela-se então como uma das possibilidades de alívio da responsabilidade do cuidar da existência de si. Ao fazer o uso da droga, no início, é despertada uma sensação de prazer ou ausência de desprazer, e isso abre para a repetição do uso, em busca dessa mesma sensação de alívio ou satisfação, oferecendo uma vivência diferente da que o sujeito está exposta cotidianamente (SIPAHI & VIANNA, 2001), aumentando, consequentemente, a necessidade de repetir o estado prazeroso que lhe é proporcionado: “O encontro com as drogas transforma o modo como se sente, alcançando possibilidades antes desconhecidas ou suspeitadas de maneira que passa a valorizar tais substâncias como via de acesso a um viver mais agradável e pleno, ou ainda, suportável e distanciado” (SIPAHI, VIANNA, 2001, p. 504). Assim sendo, o uso de drogas pode despertar no indivíduo uma forma mais amena de lidar com sua existência, mas a experiência depende unicamente de como cada um age, sente e é no mundo. Logo, os desdobramentos que poderão surgir a partir dessa experiência são imprevisíveis e únicos, pois isso se revelará na vivência de grau, o modo que cada ser experiencia a droga e de que forma constrói essa relação, compreendendo que a dependência não é algo determinado e imutável. Em outras palavras, um usuário não pode de forma alguma ser considerado eterno, pois estamos em constante transformação (SODELLI, 2010) e da mesma forma que o ser, a relação estabelecida com a substância pode ter seu significado alterado a qualquer momento. Como já citado, é de extrema importância considerar e respeitar a escolha de cada ser humano, visto que somos seres livres, responsáveis e capazes de tomar decisões diante das situações de nossa vida, autônomos e respondentes por nossos atos e, partindo disso, a Abordagem Centrada na Pessoa, dentro da perspectiva Humanista e criada por Carl Rogers, coloca o ser humano como centro do seu processo, trazendo contribuições relevantes sobre essa perspectiva e humanizando o indivíduo em questão. 8 Antes de prosseguir, é importante explanar que o Humanismo, para Bezerra & Bezerra (2012) pode ser compreendido como tudo aquilo que se volta para o ser humano, que toma o homem como foco e entende o ser em sua totalidade, não desvinculando nenhuma parte de si. Busca o crescer, o valor da pessoa e respeita sua dignidade, vê a realidade em que o sujeito está inserido e o entende como ser único, mas que forma sua subjetividade em contato com os outros seres presentes no mundo. A Abordagem Centrada na Pessoa, considerada como a Terceira Força da psicologia, tem como um de seus fundamentos a não-diretividade, apresentando um olhar diferenciado sobre o homem onde o indivíduo é compreendido como um ser livre e detentor do poder de escolha, mesmo nas situações adversas e severas, sendo capaz de ser autossuficiente e de auto afirmar-se. Ainda, o indivíduo é motivado para um processo construtivo, sendo essa motivação uma sabedoria do organismo capaz de levá-lo à sobrevivência, a organizar-se, e ainda a evoluí-lo para um processo de complexidade e autonomia. Sendo assim, a não- diretividade sugere ao terapeuta criar condições para que o indivíduo reorganize-se e reencontre sua direção (SANTOS, 2004). Esta forma de abordar a psicoterapia proporciona, pela fala de Rogers (1987), recursos para compreender e conhecer mais sobre o eu, alterar os conceitos que se tem sobre si e suas atitudes – mas isto só se dá de forma eficaz se a psicoterapia oferecer um ambiente facilitador. Sendo assim, Rogers descreve este ambiente como congruente e genuíno, onde tanto terapeuta como cliente necessitam ser quem são, da forma como podem se apresentar. Ainda, a presença do terapeuta é fundamental para a qualidade do encontro, onde pode-se ressaltar: Ao profissional, cabe propiciar uma relação humana calorosa na qual as duas pessoas possam estar inteiras no encontro, o que é proporcionado pelas atitudes facilitadoras. Para tanto, ele mesmo deve cuidar de estar completo na relação, não só como prestador de serviços de psicologia, mas como um ser humano em relação com outro. Assim, entra em cena um profissional que, também, é uma pessoa, que tem uma história, que vive alegrias e tristezas, que tem uma visão de mundo – ainda que seja aquela oferecida pela abordagem ou ciência que adotou –, que tem sentimentos, percepções e valores, pois assim é o ser humano, não uma consciência apartada do mundo, mas, sempre em contato, projetando-se nele e sendo com ele (ARAÚJO & FREIRE, 2014, p. 99). Por estes motivos, na Abordagem Centrada na Pessoa não existem técnicas diretivas, mas sim atitudes facilitadoras que promovam o valor do indivíduo, das quais se destaca a empatia, onde através dela é possível captar o mundo do cliente como se fosse seu próprio mundo, sendo capaz de sentir tudo o que o cliente sente,adentrando seu modo de perceber e tentando observar da forma com que ele observa. Quando o mundo do cliente fica claro para o terapeuta, o movimento tende a ser fluído e rico, propondo ao terapeuta uma escuta 9 qualificada, compreendendo o que será trazido sem qualquer tipo de julgamento ou distorção (ROGERS, 1987). Em continuidade, a consideração positiva consiste na valoração, respeito e confiança do indivíduo, sendo uma “responsabilidade para com o Outro, a quem não poderemos determinar, totalizar ou diagnosticar” (ARAÚJO & FREIRE, 2014, p. 100) e significa então, reconhecer a singularidade que vai além de nós, não cabendo avaliá-la atendo-se aos nossos padrões e sendo assim, não é a busca pela unidade, mas o reconhecimento da alteridade que faz parte de nós. Em outras palavras, é aceitar e acolher quem se mostra naquele momento da forma que consegue, compreendendo que é um ser humano em constante mutação e que está, não é, pois não pode ser estanque e nem acabado. Prosseguindo no ponto de vista de Araújo & Freire (2014), encontramos a ideia de self, que pode ser compreendida como o conceito que se tem sobre si mesmo de forma organizada, que pode restringir ou não as ações do organismo, ou seja, seus valores e leis próprios. Este processo define então o que conhecemos por congruência, que é definida por Rogers da seguinte forma: Quanto mais escutamo-nos e enfrentamos o que está dentro de nós com aceitação, mais aprendemos a diferenciar “o que é” do que criamos em nossa mente, e mais clara se torna nossa percepção. Com esta clareza, gradualmente nos abrimos à orientação a partir do mais profundo em nós mesmos, que transcende nossos pensamentos racionais. Através desta abertura, nossa intuição nos guia para agir com espontaneidade e propriedade nas diversas situações. Esta harmonia entre o que está acontecendo na intimidade e o que transparece por fora é o que compreendo por congruência. (ROGERS, 1987, p. 64). Quanto mais congruentes nos tornarmos em nossas decisões e significação de nossas experiê ncias e atos, há o favorecimento da tendência atualizante, definida por Bezerra & Bezerra (p. 96, 2014) “[...] como um processo equiparado à vida, não podendo se frustrar aquela sem que houvesse consequências danosas para esta”, ou seja, é a capacidade de transformação e realização do indivíduo por ele mesmo, o crescer e buscar se desenvolver, uma tendência a sempre melhorar. Ambas caminham lado a lado e não podem ser desvencilhadas uma da outra. Para tanto, existem valores e sentimentos que precisam estar presentes para obter o devido valor dentro da psicoterapia. Dentre eles, podemos citar a confiança, descrita por Rogers (1987) como acreditar na fluidez deste encontro, promovendo o crescimento de ambas as partes na relação, onde se crê no organismo, pois só a pessoa sabe a sua dor e sabe por aonde ir para chegar onde precisa, lembrando que a mesma deve ser mútua. A atmosfera deve propiciar acolhimento, calor humano e compreensão, ou seja, um ambiente livre de julgamentos e restrições (ARAÚJO & FREIRE, 2014). Para os mesmos autores, leva-se em 10 conta a forma de funcionar do indivíduo, sua personalidade e que o terapeuta, em sessão, deve permitir que este ser humano selecione, utilize ou descarte ideias, vivências e conceitos, pois tudo é experiência e agrega no desenvolvimento do sujeito. É portanto, um ambiente em que se pode, primeiramente, ser tudo o que deseja ser e se expor da forma que precisa, sem medo de repreensões ou ridicularizações, trata-se de um ambiente onde o sujeito pode finalmente libertar-se. Por fim, outro valor extremamente importante e que deve estar presente não só nas relações, mas também deve estar internalizado pelos envolvidos na terapia é a autenticidade. Os mesmos autores a descrevem como a valorização de sua experiência, e que ser genuíno implica ouvir seu interior, aquilo que vem de dentro e guia a existência. É necessário ser fiel a si mesmo para que o encontro flua da melhor forma possível e possa proporcionar a conexão e a mudança no outro da forma que ela deve acontecer, concomitante e continuamente entre as duas partes, é ser honesto consigo mesmo e com o outro, respeitar-se, compreender sua singularidade e responsabilidade com o semelhante (BEZERRA & BEZERRA, 2012). CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA SUBSTÂNCIA E A REDUÇÃO DE DANOS ENQUANTO CUIDADO HUMANIZADO Quando falamos sobre a relação que cada indivíduo constrói com qualquer que seja a substância que colabora para suportar as angústias do viver, a mesma surge com o rótulo de “dependência química”, passando a impressão de que a pessoa usuária não pode romper com o uso quando desejar, não é possuidor de autonomia para decidir o que usar e como usar, restringindo a liberdade de escolha e de levar a vida da forma que deseja. Observando o contexto histórico do termo, a dependência química já foi compreendida, em outro momento, como um desvio da personalidade do indivíduo, que só poderia ser atingido pelo problema se apresentasse dificuldades de relacionamento (MAFTUM , CAPISTRANO, FERREIRA, KALINKE & MANTOVANI, 2013). No entanto, após realização de estudos e de análises sobre os fatores que podem desencadear esta relação de dependência entre droga e sujeito, pode-se compreender, segundo os mesmos autores, que se trata de uma opção de escolha e da razão, experiência e princípios de cada indivíduo. De toda forma, coloca-se a ideia de dependência para justificar a sensação que o uso gera, podendo ser alvo de inúmeras repetições, pois ocasiona profundas modificações na forma como se concebe relações com o espaço, tempo e produção, buscando preencher vazios existenciais que, como mencionado anteriormente, é inerente à condição humana do viver 11 (FILHO & TORRES, 2002). Entre os motivos e causas que podem levar o ser humano a esse tipo de relacionamento com substâncias, destaca-se “[...] a grande dificuldade de suportar as responsabilidades sociais que lhe cabem. Geralmente, estes renunciam a necessidade e a esperança de modificar o meio social que convivem” (MAFTUM et. al., 2013, p. 469). Maftum et al (2013) relatam que após o comportamento da pessoa ser condicionado pelo uso contínuo da droga, a preocupação passa a ser sobre a aquisição do produto e quando utilizado de forma inconsciente e irrefreada pode acabar acentuando a perda de interesse na própria higiene, cuidados consigo mesmo e com o envolvimento e contato social. Afirmam ainda que em decorrência do possível uso contínuo e abusivo, configurando a relação de dependência entre sujeito e droga, existem consequências que prejudicam não só a saúde física e mental do usuário, mas também suas relações e a visão que possui de si mesmo, que podem ser descritos como conflitos e crises em todos os âmbitos de relacionamentos interpessoais, problemas recorrentes com a família, podendo apresentar comportamento agressivo, fomentando discussões e aumentando o número de rompimentos conjugais e no contexto de convivência com outras pessoas. Pode promover desorganização, limitação de atividades pertinentes ao trabalho, além de apresentar sobre si mesmo uma imagem de menos valia, angústia e insatisfação, apresentando discurso descontrolado e impulsivo sobre suas emoções. Porém, cabe ressaltar que partindo de uma análise fenomenológica, tal afirmativa tende a ser vista enquanto reducionista, uma vez que generaliza o padrão de relação sujeito- substância, o que não significa negar que tal uso possa gerar sofrimento e desarranjos existenciais, porém, ela não se resumirá a relação sujeito-substância e sim, com toda a contextualização possível sobre dada existência. Os conceitos de saúde e doença remetem-nos sempre ou quase sempre apenas a pratica médica, porém, historicamente tal concepção sofreu várias mudanças e seus sentidos e significados tomam uma proporção única e particular,o que também afetará diretamente o conceito de “substância psicoativa”. Na concepção dos povos antigos, as doenças eram manifestações de forças sobrenaturais que possuíam os seres humanos, posteriormente sendo explicadas pela religião como vontade dos deuses para seus filhos (PRATTA & SANTOS, 2009). Em seguida, os gregos apresentavam uma preocupação em compreender a natureza do homem, explicando a saúde e a doença como uma ideia de sacrifício por parte do ser humano em sinal de servidão aos deuses que cultuava, para poder se livrar das impurezas e dos castigos. Os mesmos autores seguem a linha do tempo mencionando Hipócrates, conhecido como pai da medicina, inovando no método e na preocupação com a doença e a forma de curá-la, além da preocupação em instaurar a saúde e mantê-la através de processos naturais e 12 os primeiros remédios utilizados em busca da cura (lembrando que a dose era determinante, como remédio ou veneno na mesma substância). A substância psicoativa, portanto, deve ser compreendida como: São todas as substâncias que agem sobre o cérebro, modificando seu funcionamento e provocando mudanças no comportamento (alterações no estado de consciência, no humor, nas percepções e no pensamento) e que podem induzir a estados de dependência. Quando falamos em drogas, tendemos a pensar sempre nas substâncias ilegais ou ilícitas (maconha, cocaína, crack, heroína, etc). Mas, vale chamar a atenção para o fato de que, em nosso meio, as substâncias mais consumidas e que provocam maior número de problemas são as legais ou lícitas (álcool, tabaco, solventes, tranquilizantes e sedativos, remédios para emagrecimento e analgésicos fortes). (FILHO & TORRES, 2002, p. 12) É possível, desta forma, perceber que as substâncias que eram usadas nos tempos antigos são as mesmas consumidas atualmente, a diferença é o que se entende por lícito ou ilícito, categorizando a substância e o seu nível de acesso. Ainda, é necessário reiterar que, novamente, o que diferencia o grau de dependência do indivíduo com a substância é o tipo de necessidade e relação que se estabelece com a mesma, observando o grau de necessidade do sujeito, a angústia que carrega consigo e os desdobramentos em sua existência. Na idade média, a concepção de doença volta-se novamente para o sobrenatural, tratamentos que uniam corpo e alma. Porém, começaram a aparecer os primeiros hospitais, mais caracterizados como abrigos, com função de isolar os enfermos. Nesta época, segundo Pratta & Santos (2009) a única droga permitida era o álcool (Cristianismo), mais precisamente o vinho por apresentar conteúdo simbólico sagrado. Durante o Renascimento, houve um resgate da cultura oriental, maior conhecimento sobre plantas e, consequentemente, a produção de drogas. Como resultado da criação da tecnologia e do poder e sistematização da ciência, a função dos médicos passa a ser a de consertar o defeito na pessoa, utilizando a droga como remédio e iniciando as dependências relacionadas ao uso contínuo. As primeiras drogas com substancia psicoativa isoladas foram a cafeína, a cocaína e os barbitúricos. Os autores ressaltam que o consumo destas substâncias cresceu a partir do século XX, compreendido como um fenômeno de massa e de saúde pública. Foi neste momento que a dependência e o abuso de drogas passaram a ser vistos como um transtorno mental que apresenta características próprias, o que contraria totalmente o ponto de vista que defendemos, onde o ser humano é plenamente capaz de responsabilizar-se pela relação que constrói com a substância, tendo capacidade para interromper o uso ou diminuí-lo quando achar necessário, podendo encontrar outros sentidos para a sua existência. Quando falamos em práticas de Redução de Danos (apresentada aqui a seguir como “RD”), podemos observar que poucas pessoas conhecem ou já ouviram o termo, não sabem 13 do que se trata ou onde é aplicada. Apesar de um contexto histórico no Brasil um tanto complicado na época em que o modelo foi importado – surto de Hepatite B e primeiros casos confirmados de AIDS, a prática não foi tão amplamente difundida no campo da saúde, tanto física quanto mental. Por objetivos, compreendemos a RD como uma forma de ajudar o sujeito que se encontra em relação com substâncias ilícitas, considerando que o mesmo carrega consigo sua história particular e experiências únicas, além de contextualizá-lo dentro de sua realidade social e econômica (OLIVEIRA, 2015), visando o bem estar desse indivíduo sem necessariamente reduzir ou eliminar o consumo de qualquer que seja a substância. Para tanto, procura claramente reduzir os danos causados pelo consumo, observando que o individuo pode não desejar ou não conseguir frear ou findar a relação existente com o uso das substâncias, colocando-se como uma alternativa para a abstinência total, ampliando as ofertas de saúde para o público-alvo desta forma de política (PASSOS & SOUZA, 2011). O Conselho Federal de Psicologia (CFP) posiciona-se a favor desta prática, observando que a tendência é ampliar esta discussão sobre formas de garantir manejo mais humanizado do cuidado que têm como princípio a descriminalização das pessoas que usam substâncias, a participação social e a diretriz de redução de danos, ou seja, apoia uma estratégia que reduz a intervenção a uma “clínica do comando”, adaptando o que se tem como ferramentas para dar lugar à Clínica Ampliada – é ir até o usuário, até a pessoa que precisa de ajuda, não restringindo as práticas psicológicas a um consultório que muitas vezes é de difícil acesso. Em uma construção histórica, Bastos (2003) menciona que toda a ideia inicial da prática de RD se impulsionou com a troca de seringas usadas por estéreis na Holanda, nos anos 80, pois além do uso das substâncias, os usuários compartilhavam as seringas infectadas pela hepatite B, contribuindo para a propagação alarmante da doença. Essa ideia, ao contrário do que geralmente se espera, partiu dos próprios usuários das substâncias, onde em outros lugares do mundo também ocorriam os primeiros surtos de HIV no ocidente: Não é que na ocasião não houvesse casos de aids ou infecções pelo HIV entre os usuários de drogas, mas esta ameaça não era claramente perceptível nesta população, apesar de haver usuários de drogas doentes e, principalmente, já infectados pelo HIV mas sem quaisquer sintomas. Naquele momento, nos países ocidentais, a questão da aids estava presente, basicamente, entre os homossexuais masculinos e pessoas que haviam feito transfusões de sangue ou recebido componentes do sangue (hemoderivados). (BASTOS, 2003, p. 18). 14 No Brasil, ao final dos anos 80, começaram a surgir as primeiras movimentações a respeito da RD, mas que inicialmente foi impedido para que não houvesse a contaminação em massa de HIV através da troca de seringas. Nos anos 90, a prática se instalou com firmeza, na Bahia, que segundo Oliveira (2015), surge como marco para que se apresente a troca de seringas de forma legal, através da primeira lei estadual que sanciona a troca, em 1998. Infelizmente, essa forma de minimizar os danos à saúde dos usuários foi compreendida também como um incentivo ao uso de substâncias, colocado por Bastos (2003) que o possível aumento do consumo de substâncias, sejam as mesmas injetáveis ou não, não se dão a partir das práticas de RD, oferecendo um serviço de encaminhamento mais facilitado para instituições que oferecem formas de tratamento para algum usuário que pode nunca ter tido qualquer contato com um serviço ou órgão de atendimento à saúde. A prática reconhece que sim, o uso de substâncias causa danos à saúde tanto física quanto mental, podendo se agravar até o consumo irrefreado e inconsciente da substância, promovendo uma relação de extrema dependência com a droga. Mas, da mesma forma, vem contra os movimentos de repressão e intolerância extremos,caracterizados por Sodelli (2010) como uma “guerra contra as drogas”. O autor ainda sustenta a ideia de que “o argumento de que o uso de drogas causa danos à saúde, a nosso ver, não é suficiente nem satisfatório para sustentar um modelo da intolerância e da guerra contra as drogas” (SODELLI, 2010, p. 641), argumento que fortalece os posicionamentos contrários às internações compulsórias, as políticas proibicionistas extremas e favoráveis aos movimentos de descriminalização e legalização do uso de substâncias. Falando mais propriamente sobre a política proibicionista, a mesma teve origem nos Estados Unidos com o objetivo de criminalizar atos relacionados com a produção, distribuição e consumo de substâncias psicoativas conhecidas, e dentre estas algumas são consideradas ilícitas, pois não apresentam natureza diversa, segundo Bastos (2003) tendo como exemplos claros e conhecidos a maconha, cocaína, heroína, etc. Logo, toda e qualquer substância provoca algum tipo de alteração no organismo, tendo como ponto de atenção a relação que cada indivíduo irá construir com cada substância, apresentando ou não caráter de dependência. É importante mencionar aqui que os meios midiáticos contribuem para a proliferação de rótulos preconceituosos e criminalizantes, estigmatizando o indivíduo e promovendo perspectivas equivocadas acerca do uso de substância e do sujeito que opta por manter o uso da mesma, reforçando a segregação e exclusão dessa população onde o Conselho Federal de Psicologia (CFP), enquanto órgão maior no que diz respeito à regulamentação da ciência 15 Psicologia, preconiza a inclusão desses grupos que muitas vezes vivem em situação de vulnerabilidade, considerados minorias e que são socialmente marginalizados. Em continuidade, a RD se mostra uma ideia e uma ação extremamente humana e compreensiva, apresentando como seu principal objetivo “minorar os efeitos negativos decorrentes do uso de drogas” (SODELLI, 2010, p. 642), ou seja, tratamos aqui de escolher, de ser livre, de não obrigar um indivíduo a sofrer ou tomar as decisões que alguém impõe a ele, falamos de construir junto com esse ser humano qual o significado que a substância apresenta para ele, reduzindo tanto quanto possível os danos causados à sua saúde, mas sempre observando que a relação com qualquer substância deve ser compreendida como uma possibilidade de existir (Sodelli, 2010). O CFP contribui somando a este posicionamento, observando a relação de cuidado direcionada pela própria pessoa, que tem toda a autonomia para escolher diminuir ou interromper o uso – abstinência versus controle do uso – sempre vistas como possibilidades de escolha. Um contraponto importante da RD para justificar sua adesão, é de que pode acolher e alcançar pessoas que não conseguem aderir ou se beneficiar com as abordagens já conhecidas e tradicionalmente difundidas, como por exemplo, a abstinência total exigida como pré- requisito para continuidade ou permanência no tratamento, muitas vezes optando por internação contra a vontade do indivíduo (Oliveira, 2015). A autora comenta sobre os objetivos da RD: O uso de drogas pode ser associado à necessidade de alívio da angústia inerente à condição humana, quando se pensa em prevenção, o desafio é encontrar outras maneiras de tornar essa angústia suportável, visando a transformação e não alienação. Prevenir o uso indevido de drogas é, na verdade toda e qualquer ação que contribua para que o indivíduo possa seguir sua vida, fazendo escolhas mais conscientes. (OLIVEIRA, 2015, p. 15) Desta forma, Costa & Telles (2017) se posicionam em concordância com a RD, por a considerarem uma abordagem humana, tendo o usuário como principal responsável ao definir suas necessidades, compreendido como pessoa de vivência única e que conhece seu corpo melhor do que qualquer profissional. Sua decisão e seus argumentos precisam ser levados em conta antes de qualquer decisão que possa ser tomada, realizando esta tarefa em conjunto com o órgão de saúde ou profissional responsável, pois para Oliveira (2015) essa maneira de considerar o indivíduo autônomo em seu processo de saúde pode facilitar a adesão aos cuidados a si mesmo, pois um tratamento prescrito por alguma outra pessoa, recheado de imposições e metas a serem alcançadas com prazos muitas vezes rigidamente estabelecidos engessam os métodos de cuidado, incluindo a pessoa alvo passivamente dentro de seu próprio tratamento. 16 Por fim, é importante reiterar que a RD é muito bem-vinda ao contexto de saúde tanto física quanto mental por propiciar um novo olhar para o indivíduo, sendo necessário compreender que todo este estigma sobre a droga e sobre seu usuário é uma construção cultural de longa data, tornando o processo de desconstrução e inclusão do usuário como pessoa protagonista de sua história e digna de tomar suas próprias decisões num trabalho longo e árduo, mas que deve ser contínuo (Oliveira, 2015). A empatia deve auxiliar todo este processo, sem julgamento e com auxílio qualificado, pois toda pessoa deve ser autônoma ao guiar seu processo de desenvolvimento. Além de respeito e compreensão: A empatia, expressa pelo profissional, pode gerar a sensação de ser compreendido no usuário, uma vez habitando no mundo de uma pessoa e expressando isso, naturalmente ela vai se sentir compreendida, [...] promover esse sentimento de respeito, de poder expressar-se como se é. (COSTA & TELLES, 2017, p. 80) Deve-se reiterar que esse tipo de atitude não deve partir apenas do profissional que acompanha o indivíduo, mas de toda e qualquer pessoa que convive com alguém em processo de cuidado, sem julgamentos ou rótulos, colaborando para o processo de saúde e aceitação de cada pessoa da forma como ela se apresenta, isto é, lembrando que antes de qualquer coisa que se deseje ser, somos todos seres humanos igualmente detentores de direitos, dignidade e merecedores de respeito. ASPECTOS CONSONANTES NA POLÍTICA DE REDUÇÃO DE DANOS E NA FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL HUMANISTA Diante de todos os conceitos e ideias que já foram expostos, é possível relacionar pontos que se completam no que diz respeito à política de RD e no ponto de vista explanado através da ciência psicológica, a Fenomenologia Existencial Humanista. Ambos tornam-se congruentes e harmoniosos quando se fala em respeito à identidade e às vontades de cada indivíduo, compreendendo o contexto em que está inserido e o significado que atribui às suas experiências e relações, considerando que sua vontade é prioritária, visando ampará-lo sempre que necessário para manter a integridade física e mental do mesmo. A Fenomenologia, portanto, compreende o indivíduo como ser único e que não pode ser considerado finalizado, pois está sempre aberto à experiência e não pode ser rotulado ou categorizado, onde o existir é um infinito estar, e não ser – não pode ser finalizado (FORGHIERI, 1993). O homem, dentro de suas possibilidades, compreende que não é eterno e que um dia deixará de existir. Logo, deve ter o direito de escolha sobre como quer viver, arcando com as responsabilidades diante de sua decisão. Socialmente e culturalmente, existe 17 um valor instituído que taxa o ser como dependente da relação que estabelece com a substância, estimando que o mesmo torna-se agressivo, violento e não é capaz de responder por si mesmo (FILHO & TORRES, 2002), tirando absolutamente todo o direito de escolha e de experienciar que pertence a cada sujeito, advindo da forma como entende o mundo e de como prefere encarar seus problemas, julgando decisões que cabem apenas à pessoa em questão, restringindo a liberdade e o direito de tentar ser quem se quer ser. Quando falamos sobre Existencialismo, precisamos compreender que o ser humano é livre, detentor de seu poder de escolha e que o mesmo deve estar ciente das responsabilidades que as acompanham, assimilandoque o movimento de chegar onde deseja deve partir apenas de si mesmo, ouvindo-se e dando espaço para conhecer-se. Para Reginaldo & Pereira (2015) o sujeito entende seu lugar de senhor de seus propósitos e vontades, e que junto com cada decisão advém uma consequência pela qual deve se responsabilizar, permanecendo num constante movimento de vir a ser, de encontrar-se enquanto possibilidade e mudança. O existir, lidar com todas as variáveis envolvidas e ter que optar por algo pode acarretar sentimentos difíceis de lidar, que podem incomodar o indivíduo e trazer uma ansiedade antes desconhecida, um “ter que resolver” pontos importantes para estar em congruência consigo. Por angústia, compreende-se o sentimento de medo e ansiedade do precisar tornar-se algo, a responsabilidade de decidir por si mesmo e ter de arcar com consequências que muitas vezes não são previstas ou imaginadas. É o medo de idealizar uma versão de si mesmo e não conseguir alcançá-la, de não poder tornar-se (SODELLI, 2010). Logo: Esta angústia, apresentada aqui, está livre de levar a inação, mas pela ação, uma angústia que traz responsabilidade. Ao mesmo tempo, em que é livre, o homem encontra-se condenado a inventar-se a cada instante, sem nenhum tipo de apoio a priori, se não por ele mesmo, e este desamparo é acompanhado de angústia. (REGINALDO & PEREIRA, 2015, p. 114) Ainda, a culpa entra como o não dar conta, o não realizar tudo o que deseja e ter que escolher algo em detrimento de outra coisa, de não poder atingir a plenitude e o ápice da realização pessoal para enfim conviver bem com seu próprio ser. Marias (2004) enfatiza que viver, permitir-se, é estar aberto e deixar-se sentir, experimentar e oportunizar novas sensações e pontos de vista para si, encontrando a angústia e a culpa como sentimentos inerentes ao existir, pois ao mesmo tempo em que busca o novo, lida com novas expectativas sobre o outro e sobre como quer atingir seus objetivos. É necessário aprender a conviver, aceitar e respeitar o que sente, para que possa futuramente sentir-se confortável dentro da própria pele. 18 Toda essa carga, tanto psicológica quanto emocional do viver e tornar-se algo (socialmente esperado), acarreta todos os sentimentos já mencionados anteriormente – o não saber lidar coloca o sujeito em um estado de vulnerabilidade existencial, onde Sodelli (2010) explica que este movimento abre brechas para o uso de toda e qualquer substância que propicie sensação de leveza e ajude a enfrentar todas essas situações presentes no viver, abrindo chance para uma relação de maior necessidade de uso ou menor, dependendo a história de cada um com substâncias e qual o significado e importância que atribui à mesma. A RD, portanto, compreende que nem sempre o ser humano quer descontinuar o uso da substância ou diminuir, entendendo que cada um sabe como se sente, adentrando a realidade do indivíduo: [...] a política de RD é uma forma de dar assistência ao sujeito, que possui suas particularidades e devem ser consideradas. A Redução de Danos é uma estratégia de Saúde Pública que tem como objetivo minimizar as consequências adversas do consumo de drogas, do ponto de vista da saúde e dos seus aspectos sociais e econômicos, sem necessariamente reduzir esse consumo. (OLIVEIRA, 2015, p. 9) Procura, portanto, reduzir os danos que são causados pelo consumo, preservando ao máximo a saúde da pessoa em questão, considerando a abstinência como alternativa apenas se o usuário compreende que pode enfrentá-la e que isso lhe trará benefícios, ampliando as ofertas de saúde para o público, sempre levando em conta a opinião e o desejo da pessoa, não a obrigando a fazer algo que não quer ou que entende que não precisa (PASSOS & SOUZA, 2011), ou seja, entra em concordância com o Humanismo, que tem o homem como seu foco, compreendido em sua totalidade e não em partes. Para Bezerra & Bezerra (2012) é o que centra sua atenção no sujeito, buscando o crescer e o valor da pessoa, respeitando sua dignidade, seu contexto, história e como ser único, detentor de uma subjetividade singular, mas que se constrói e desconstrói sempre em contato com o outro e com o externo. Dessa forma, é possível demonstrar que a ação da política de RD nada mais é que uma ação totalmente humanizada, que prioriza não apenas a saúde e integridade física do indivíduo, mas respeita seu desejo e possibilita que exista dentro do que ele espera que possa realizá-lo e atender às suas expectativas, não somente no que diz respeito a si mesmo, mas enquanto pessoa que se relaciona e que também é alvo das expectativas dos outros ao seu redor. É estar confortável dentro da própria pele e permitir que esse sujeito goste de conviver com quem se torna e que consiga se aceitar e viver bem com suas escolhas, independente de quais sejam elas. Assim sendo, a autenticidade é o ponto de encontro entre tudo o que explanamos até o momento, explicada por Bezerra & Bezerra (2012) como a valorização da experiência, o ser 19 genuíno, escutar o interior de si e que é ao mesmo tempo o ponto central que guia a existência do ser. É necessário ser fiel ao que sente para que se torne congruente, o que se compreende como aceitar o que está dentro de si e respeitar seus desejos e pensamentos, agindo de acordo com tudo que emana do seu ser (ROGERS, 1987). Além disso, é preciso olhar para todo e qualquer ser com empatia, que nada mais é “[...] uma atitude necessária durante o processo para a criação de um ambiente que facilite a compreensão do cliente [...]. E, acaba se voltando mais para essa capacidade do homem de acreditar em si.” (FONTGALLAND & MOREIRA, 2012, p. 39) Por fim, trata-se de eliciar a mudança e, neste caso, a saúde, da melhor forma que ela pode acontecer, sendo honesto sobre como o processo pode se dar e respeitando a pessoa dentro de seus limites e possibilidades, não impondo decisões e nem obrigando, contra sua vontade, a adesão a qualquer tipo de tratamento, tanto físico quanto psicológico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Após a explanação realizada, é possível observar que a fonte teórica da Psicologia que foi apresentada articula-se perfeitamente com a proposta da política de Redução de Danos, pois ambas visam o indivíduo como centro do processo e detentor de opção de escolha, sujeito de história, vivências e subjetividade, além de ser responsável por suas decisões e livre para direcionar suas experiências. É necessário reconhecer que viver é uma tarefa extremamente gratificante, mas que pode muitas vezes ser permeada por sofrimento, questionamento e indecisões a respeito do que se quer ser, sobre atender a expectativas ou não, sobre mostrar-se da forma que se quer ser visto e lidar com o medo de ser julgado ou rotulado, em encontrar sentidos. Infelizmente, a cultura brasileira ainda é limitada e moralista, aplicando penalidades ou exclusões a quem faz opções semelhantes ao que não é socialmente aceitável, não respeitando a decisão do ser humano e retirando sua autonomia, imaginando que a decisão tomada por outra pessoa pode ser extremamente benéfica em detrimento do desejo da própria pessoa. Corroborando com tudo o que já foi dito anteriormente, a RD, assim como a Psicologia Fenomenológica Existencial Humanista, prioriza o indivíduo e sua concepção de vida, aprimora suas potencialidades e o coloca como centro de suas escolhas e plena realização de desejos, impulsionando a autonomia e a liberdade, sempre ciente de suas decisões e das consequências que as acompanham, mas que independente de como esse processo se dará, ele deve estar confortável com o rumo ao qual está direcionando sua 20 existência. É, portanto, aceitar a escolha de cada pessoa e permitir que ela possa experimentar e posteriormente encontrar-se realizado dentro de sua proposta de subjetividade ideal. É, por fim, priorizar sempre o cuidado à saúde sem queesta se torne um fardo ou algo difícil de fazer, possibilitando a pessoa ser quem deseja no momento em que deseja, mudando de ideia sempre que almejar. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO AMATUZZI, M. M. (2009). Psicologia fenomenológica: uma aproximação teoria humanista. Estudos de Psicologia, 26(1), p. 93-100. ARAÚJO, I. C., FREIRE, J. C. (2014). Os valores e a sua importância para a teoria da clínica na Abordagem Centrada na Pessoa. Revista da Abordagem Gestáltica, 20(1), p. 94-103. ARAUJO, M. V. G. (2014). Uma breve compreensão sobre o dasein de Heidegger. Revista Lampejo, 6, p. 200-206. BASTOS, F. I., KARAM, M. L., MARTINS, S. M. (2003). Drogas, dignidade e inclusão social: a lei e a prática de redução de danos. Rio de Janeiro: Aborda. BEZERRA, M. E. S., BEZERRA, E. N. 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