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FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS DERMATOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A Infecções Fúngicas Profundas Definição: micoses profundas são doenças variadas produzidas por diferentes fungos que têm em comum a invasão dos tecidos um pouco mais profundos que as micoses superficiais, então não acometem apenas a epiderme, e sim invadem a derme, a hipoderme e pode acometer também os órgãos internos. A maioria dos fungos são provenientes do e entram pela via traumática no corpo. A infecção depende da resistência do hospedeiro logo, hospedeiros resistentes com a resposta imune boa não ficam doentes, e se tornam portadores assintomáticos. Esporotricose: é uma infecção causada por fungos (sporothrix schenckii) que vive vegetação em plantas em solos, com distribuição ampla em áreas urbanas e rurais, principalmente em climas tropicais. Acomete ambos os sexos, todas as raças, da infância até velhice. Animais também podem ser infectados (rato, equino, cão, gato, golfinho, ave). A transmissão desse fungo é por inoculação traumática com vegetais objetos contaminados logo, existe a maior frequência desta doença em agricultores, jardineiros e quem mexe com animal contaminado (veterinários). O quadro acomete principalmente extremidades, que são mais suscetíveis a inoculação traumática. Tem um período de incubação entre 3 semanas até 6 meses. O indivíduo entra em contato com o fungo e desencadeia o quadro de imunidade celular e humoral que vão tentar controlar a doença. Algumas pessoas têm imunidade total ou parcial, logo tem cura espontânea ou até não ter manifestação de doença sistêmica (infecção somente em exames laboratoriais). Entretanto, quanto menor imunidade que a pessoa tem ao fungo, maior a disseminação da doença. Existem quadros de forma: - Cutânea - Forma localizada: são os indivíduos que têm maior imunidade contra o fungo ou já tiveram contato prévio, tem o quadro mais localizado pois o próprio sistema imune dá conta da infecção. Em geral é uma lesão única que ocorre apenas no local de inoculação do fungo (cancro de inoculação) e não tem disseminação linfática, hematogênica e não tem sintomas sistêmicos (não compromete o estado geral do paciente). Tem uma apresentação clínica variável: pode ser apenas uma úlcera, um abscesso com uma placa ou uma placa eritemato escamosa, mas em geral são pápulas que ulceram ou evoluem para abscesso. Em alguns pacientes que têm imunidade muito preservada pode até curar espontaneamente. O diagnóstico pode ser feito com raspagem da lesão ou biópsia. - Forma cutâneo-linfática ( mais comum - 70%): são indivíduos com imunidade relativa que tem um pouco de contenção para resposta imune mas não é suficiente para controlar a disseminação linfática. Se manifesta com uma lesão inicial no local de traumatismo: cancro de inoculação (ulceração com base infiltrada ou pápula, nódulo, vegetação - drena secreção purulenta). A disseminação linfática ocorre após semanas ou meses (linfangite nodular - trajeto ascendente dos membros e descendente na face → caracterizada por uma cadeia de nódulos {regionais} indolores, ao longo dos vasos linfáticos, que podem amolecer e ulcerar/fistulizar ou não). O estado geral do paciente não é afetado e pode ter resolução espontânea ou permanecer ativa por muitos anos - Invasiva ( se houver imunossupressão relativa ao fungo ou geral) - Cutânea disseminada: é uma forma rara que atinge imunodeprimidos. O paciente tem uma inoculação inicial na pele e, como não tem resposta celular, cursa com disseminação hematogênica do fungo. As lesões são subcutâneas, gomosas e abcessos, amolecidas, que ulceram. Podem ter depressão central e bordas elevadas. Pode ser assintomática sistemicamente ou acompanhada de fraqueza, anemia, caquexia. O fungo possui tropismo pelo sistema osteoarticular logo o paciente pode sentir dor e fraqueza nesses locais. - Diferentemente da forma cutânea linfática, as lesões não se restringem a um membro ou uma cadeia linfonodal apenas, são generalizadas - Mais propenso para desenvolver esporotricose extracutânea - Extracutânea: em imunodeprimidos, com febre e comprometimento do estado geral. Pode ser adquirida por trauma ou inalação e há disseminação linfática ou hematogênica - Osteoarticular: edema e dor articular - Pulmonar: febre, tosse, dispneia, hemoptise FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS DERMATOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Meníngea: meningite O diagnóstico da esporotricose baseia-se em uma suspeita clínica como por exemplo no caso da disseminação esporotricoide/linfangite nodular. Nos outros quadros de mais difícil diagnóstico, o padrão-ouro é a cultura para fungos e também pode ser realizado o PCR e o exame anatomopatologico mas em geral não é possível identificar o S. schenkii O tratamento, por sua vez é feito majoritariamente com itraconazol, de 100-200mg/dia (dependendo do caso) até duas semanas após a melhora clínica (é mantido por 3-6 meses). Uma alternativa é o iodeto de potássio (manipulado) ou anfotericina B, que é utilizado em caso de imunodeprimidos, infecção visceral ou disseminada. Forma Localizada Forma Cutâneo Linfática Forma Cutânea Disseminada Paracoccidioidomicose: Também conhecida como blastomicose sul-americana, é causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis, residente no solo, adquirido através da inalação. Os pacientes são principalmente trabalhadores Rurais do sexo masculino. Tem a menor prevalência em mulheres uma vez que o estrogênio impede a transformação da forma filamentosa para a forma leveduriforme que é a causadora da doença (crianças do sexo feminino e mulheres pós-menopausa têm maior chance de infecção quando comparadas a mulheres em idade reprodutiva). Se o paciente possuir uma imunidade preservada, provavelmente não terá nenhum sintoma. - Infecção Subclínica: Ocorre em 95% dos pacientes que possuem contato com o fungo, em que não há sinais clínicos ou laboratoriais da doença. Há infecção com formação de complexo primário pulmonar, mas sem evolução (contido pelo sistema imune). Pode ter linfonodomegalia hilar, sem outros achados. - Doença: 5% dos pacientes tem progressão do complexo primário pulmonar - Aguda ou subaguda: ocorre principalmente em crianças, adolescentes e imunodeprimidos. - Infecção aguda ou subaguda é também chamada de tipo juvenil, ocorre naqueles pacientes que não tem uma imunidade preservada. A disseminação ocorre normalmente por via hematogênica e o fungo tem tropismo pelo sistema monocitico fagocitario, logo vai acometer principalmente os linfonodos, causando linfonodomegalia, hepatoesplenomegalia e disfunção de medula óssea. Sintomas constitucionais estão presentes, sendo frequentes a febre, inapetência e emagrecimento. Como há tropismo pelo sistema monocitico fagocitario, o comprometimento pulmonar não é tão comum mas pode existir. o paciente em questão terá lesões cutâneas do tipo nodulares úlcera ou tipo pápulas e Além disso lesões líticas ósseas. - Crônica: 90% desses casos, história mais longa e geralmente associada a tabagismo e etilismo. FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS DERMATOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A - Unifocal: 25%, restrita a um órgão → geralmente acomete o pulmão mas pode estar em supra-renal, SNC, ossos ou pele - Multifocal: acomete geralmente o pulmão e outro órgão (lesões mucosas e cutâneas). Cursa com tosse seca e dispneia aos esforços. As lesões geralmente são os ulcerações dolorosas em mucosa com bordas infiltradas e pontilhado hemorrágico típico (na boca: estomatite moriforme - sialorreia, ou dinofagia, disfagia e rouquidão) . As lesões cutâneas podem ser por contiguidade com mucosas ou disseminação hematogênica O diagnóstico se inicia por uma suspeita clínica (síndrome PLECT - lesões com as mesmas características e difíceis de diferenciar - paracoco, leish, esporo, cromomicose e tuberculose). Alguns exames podem ser realizados: exame micológico direto, cultura, anatomopatológico, sorologia (acompanhar titulagem - imunodifusão, fixação de complemento, ELISA e contraimunoeletroforese), RX de tórax. Tratamento: Itraconazol (6 meses), cetoconazol, Bactrim, anfotericina B Aguda ou Subaguda Crônica Cromomicose: micose crônica que acomete a pele e o tecido celular subcutâneo, causada por agentes que vivem no solo, plantas, troncos e pedaços de madeira que penetram na pele por implantação traumática. Agente mais comum no Brasil é a Fonsecaea pedrosoi, mas também se tem Fonsecaea compacta, Cladosporium carrionii, Phialophora verrucosa, Rhinocladiella aquaspersa e Cladophialophora ajeloi. Mais comum em homens pelo fator ocupacional e acomete principalmente MMII, MMSS e glúteos. Depois da inoculação aparece uma pápula, que pode ser pruriginosa, que cresce lentamente e se transforma em uma forma nódulo verrucosa ou em placas. Ambas as formas têm pontos enegrecidos na superfície (concentração de fungos), e pode ter prurido, disseminação linfática ou hematogênica. É um fungo resistente, que pode persistir por muito tempo, gerar constante inflamação (e até decorrente CEC). O diagnóstico é feito através da suspeita clínica através das lesões cutâneas típicas e confirmado através do exame micológico direto, cultura para fungos ou exame histopatológico. FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS DERMATOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A As lesões são difíceis de tratar e muitas vezes, por abrigarem grande quantidade de fungos, são recorrentes. O melhor tratamento envolve métodos destrutivos locais (excisão cirúrgica, curetagem e eletrocoagulação, crioterapia, termoterapia) e antifúngicos (itraconazol 200-400mg/dia ou Terbinafina 250mg/dia) Cromomicose Micetomas: grupos de infecções subcutâneas que podem ser produzidas por fungos (eumicetomas) ou por bactérias (actinomicetomas). Causam lesões com aumento de volume local (principalmente subcutâneo), fístulas e presença de grãos visíveis na pele. Ocorrem principalmente em climas tropicais em subtropicais, principalmente em homens e em extremidades (inoculação traumática). Não há disseminação linfática ou hematogênica e não há presença de sintomas sistêmicos. O período de incubação do fungo dura 3 meses, e esses vivem em espinhos, lodos e areias. As bactérias por sua vez podem ser endógenas e entram para o subcutâneo através de contiguidade (cervicofaciais, toracopulmonar ou pélvica). Ambos os patógenos tem o quadro clínico que começa com o aumento de volume local (edema), eritemas e fistulização com drenagem de conteúdo do nódulo para a pele. Com isso, a inflamação invade cada vez mais o subcutâneo e a lesão se torna mais dura (dureza lenhosa), o que pode culminar em deformidades. Podem ser causados por uma infinidade de agentes: - Bactérias: Nocardia, Actinomyces, Streptomyces, Nocardiopsis - Fungos: - Grão amarelo: Scedosporium apiospermum, Acremonium falciforme, A.recifei, A. kiliense, Aspergillus fumigatus, A. nidulans, Fusarium moniliforme. - Grão preto: Madurella mycetomatis, M.grisea, Exophiala jeanselmei. - Grão vermelho: Rubromadurella langeronii O diagnóstico é feito através da suspeita clínica e o exame direto dos grãos, cultura em ágar sabouraud, exame histopatológico e estudo radiológico. O tratamento é feito com: - Actinomicóticos: penicilina G ou V potássica 2 a 6 meses → resposta boa / ou Bactrim de 6 a 24 meses - Eumicóticos: itraconazol, cetoconazol, voriconazol e posaconazol → a fibrose pode dificultar a chegada da droga no local, logo o tratamento pode ser associado com métodos destrutivos Micetomas FACULDADE CIÊNCIAS MÉDICAS DE MINAS GERAIS DERMATOLOGIA GABRIELA PICCHIONI BAÊTA - 68A
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