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Ciclo Capilar e controle de glândulas sebáceas Glândula sebácea É um tipo de glândula multiacinar microscópica e ramificada, presente em toda a pele do corpo, exceto nas palmas das mãos, solas e dorso dos pés. Assemelha-se as cabeças de couve flor presas a uma haste de cabelo. Os ácinos individuais se esvaziam em ductos que convergem para um ducto excretor comum e este se abre dentro de um canal piloso. Corte histológico de glândulas sebáceas em torno no folículo piloso. Há a eliminação da secreção sebácea no infundíbulo do folículo piloso em ducto comum. A glândula sebácea se desenvolve basicamente ao mesmo tempo do folículo piloso, aparecendo em torno da décima terceira (13ª) semana de gestação. Essa glândula pertente a uma estrutura conhecida como unidade pilossebácea, que também inclui o pelo, o folículo piloso e o músculo eretor do pelo. Sua finalidade é a produção e secreção de um material oleoso e ceroso (sebo) por meio da diferenciação e desintegração de células totalmente maduras e cheias de grânulos de secreção, um processo único denominado de secreção holócrina. Existem também vários exemplos de glândulas produtoras de lipídios livres (não associados a folículos capilares). Os exemplos incluem as glândulas de Meibomian (presentes nas pálpebras), manchas de Fordyce (presentes no epitélio oral) e as glândulas ceruminosas, (presentes nas orelhas). Corte histológico de folículo piloso e glândula sebácea em formação na 14ª semana de gestação. Abaixo da glândula sebácea indicada pela seta, há a região do bulge, com células tronco pluripotentes que dão origem ao folículo como um todo. A glândula de Meibormian produz secreção oleosa que é eliminada na borda da pálpebra com a função de lubrificar os olhos. A composição do sebo e as funções das glândulas sebáceas são altamente específicas para cada espécie. Os lipídios sebáceos contribuem para uma barreira cutânea normalmente funcional. O sebo humano contém principalmente triacilglicerídeos, diglicerídios e ácidos graxos livres (40 a 60% dos lipídios totais), seguidos por ésteres de cera (25 a 30%), escaleno – que pode ser transformado em colesterol ou ésteres de colesterol (12 a 15%), ésteres de colesterol (3 a 6%), e colesterol (1,5 a 2,5%). Os ésteres de cera e o escaleno são típicos dos sebócitos e normalmente não são produzidos em outras partes do corpo. Há evidências da interdependência da glândula sebácea e do folículo capilar: em respostas a lesões ou outros estímulos apropriados, as células tronco em cada local podem gerar todas as linhagens epiteliais diferenciadas e em situações em que um dos dois colapsa, o outro também é frequentemente perdido. A glândula sebácea pode se manter em vários ciclos capilares, apoiando a noção de que uma população de células de vida longa pode manter a glândula sebácea independente do bulge do folículo piloso. Também é relatado um ciclo da glândula sebácea, mais longos que o ciclo capilar. Outra evidência da possível independência da glândula sebácea é a capacidade de proliferação do seu epitélio na porção secretora para a manutenção de sua funcionalidade, sem a necessidade de recorrer diretamente às células tronco do bulge. A região permanente do folículo piloso é formada por: 1. Infundíbulo: região entre a glândula sebácea e a superfície da epiderme. 2. A zona juncional: porção onde o ducto da glândula sebácea desemboca sua secreção. 3. Glândula sebácea associada. 4. Ístimo: região entre o bulge e a glândula sebácea. 5. Bulge: região com células tronco pluripotentes. 6. Músculo eretor do pelo associado ao bulge. A região ciclável do folículo piloso é formada por: 1. Papila dérmica: interage com o epitélio produzindo a haste do pelo. 2. Bulbo piloso. 3. Região supra bulbar. Os sebócitos possuem uma maquinaria enzimática necessária para a síntese de todas as classes de lipídios presentes no sebo, mas também podem absorver lipídios pré-formados ou remodelar lipídios da corrente sanguínea. A secreção sebácea pode ser influenciada por níveis séricos (concentrações séricas) de alguns lipídios ou lipoproteínas (LDL, HDL). A enzima ∆6-dessaturase é um marcador funcional de sebócitos diferenciados. É detectável em células com plena capacidade de síntese lipídica, ocupando as camadas suprabasais da porção secretora das glândulas sebáceas. Essa via é exclusiva do sebo humano e leva à formação de ácidos graxos específicos do sebo, como o ácido sapiênico. A atividade da ∆6-dessaturase tem sido associada à acne, levando a um aumento do conteúdo de ácido sapiênico tanto em frações livres quanto esterificadas – isso pode estar relacionado a uma maior incidência de acne. Na secreção sebácea existem peptídeos antimicrobianos (AMPs) de vários tipos – pequenas moléculas com capacidades de identificar padrões moleculares de bactérias e fungos, que atacam esses organismos para destruí-los sem a necessidade de um processo de reconhecimento de antígeno. É uma resposta imune imediata a antígenos específicos com certos padrões moleculares. Um dos grupos desses peptídeos antimicrobianos são as defensinas humanas (hBD-1 e Hbd-2), catelicidina e dermicidina. A histona H4 (que está associada ao DNA e é eliminada, evidentemente, na secreção holócrina) pode ser um componente importante da ação antimicrobiana dos sebócitos humanos. Além disso, os ácidos graxos sebáceos exibem propriedades antibacterianas e antifúngicas. As glândulas sebáceas podem desempenhar um papel fundamental na regulação da desintoxicação da pele. O filme lipídico da superfície da pele, uma mistura de lipídios da membrana do sebo e queratinócitos, é a primeira barreira contra o estresse ambiental. O escaleno e a vitamina E (alfa- tocoferol) tem papel antioxidante na superfície da pele – os danos oxidativos advindos de, por exemplo, poluição do ar, podem sofrer uma contra-ação sob efeito da secreção sebácea. Um estudo na China mostrou que a população urbana tem uma razão 𝑒𝑠𝑐𝑎𝑙𝑒𝑛𝑜 𝑙𝑖𝑝í𝑑𝑖𝑜 menor que a rural, o que pode significar que a redução (por consumo) do escaleno é induzida por poluentes ambientais. O controle das glândulas sebáceas é realizado por receptores para hormônios específicos, como: o hormônio de liberação da corticotropina (substância que pode ser derivada de terminações nervosas), a melanocortina, receptores opioides (possível interação entre sistema nervoso e glândulas sebáceas, pouco conhecida), receptor de estrogênio, de andrógenos, de fator de crescimento, receptor de pipar (sinalizador celular estimulante de transcrição de várias proteínas), receptores dos retonóides A e X (substâncias derivadas do retinol e da vitamina A, que atuam em muitos receptores da pele. PPAR: Membros da família do receptor de hormônio nuclear (NHR) e atuam como reguladores da transcrição de uma variedade de genes, incluindo aqueles envolvidos no metabolismo lipídico no tecido adiposo, fígado e pele. Se identificou que agonistas do PPAR-𝛼 e antagonistas do PPAR-𝛾 podem reduzir a síntese de lipídios sebáceos. Esses últimos podem ser usados no tratamento de acne. Retinóides: Exibem efeitos antiproliferativos e inibem a diferenciação de sebócitos da glândula sebácea e a síntese de lipídeos. Amplamente utilizados e conhecidos no tratamento da acne, como a isotretinoína. Hormônios sexuais: Atuam na diferenciação, proliferação de sebócitos e produção de lipídeos. No homem, a secreção sebácea é maior do que na mulher, que se evidencia em ambos os sexos a partir da puberdade. Localmente, é expressa a enzima 5- 𝛼-redutase que transforma a testosterona na sua forma mais ativa e potente: 5-hidroxitestosterona. Já os estrogênios teriam um efeito inibitório sobre a atividade excessiva das glândulas sebáceas (ao contrário dos andrógenos). Porém, já se identificou a existência de mais de 150 proteínas correguladoras, em associaçãoaos hormônios sexuais, que modulam a atividade transcricional de genes induzidos pelos andrógenos do receptor androgênico. As glândulas sebáceas humanas e os folículos capilares são equipados com todas as enzimas necessárias para a biossíntese e metabolismo dos andrógenos (autócrino – síntese e uso no próprio órgão). Os andrógenos podem ser gerados através da via sintética de novo do colesterol, e/ou através de uma via de atalho do sulfeto de dihidroepiandrosterona (DHEAS) circulante, para produzir as vias finais da forma mais ativa de testosterona. Hormônios do crescimento: O aumento dos níveis séricos de GH está associado ao aumento da secreção do sebo. A produção do sebo atinge seu pico na metade da adolescência (puberdade), quando o GH e o IGF-1 atingem seus níveis séricos mais elevados. O IGF-1 desempenha um papel fundamental na indução da síntese de lipídios em sebócitos humanos Controle das glândulas sebáceas Os hormônios e receptores de hormônios já identificados nas glândulas sebáceas que estão relacionados a certos aminoácidos são: 1. Tirosina: Tiroxina Epinefrina Norepinefrina Dopamina 2. Triptofano Serotonina Melatonina 3. Histadina: Histamina. E relacionados a polipeptídeos: Corticotropina Fator de crescimento ACTH: hormônio adenocorticotrópico Aqueles hormônios e receptores de hormônios que estão relacionados a certos oligopeptídeos são: Ocitocinas Hormônios antidiuréticos Substância P E, por fim, aqueles relacionados a retinoides: Retinoides Pipar Ciclo Capilar O pelo possui uma parte permanente, mais superior, e uma parte cíclica, mais inferior. O folículo capilar não tem necessidade de inervação intacta, vascularização ou outros componentes extra foliculares para manter o ciclo – isso permite que seja possível a realização de enxertia de pelos e transplante capilar. O sistema oscilador que faz o ciclo capilar está localizado no próprio folículo. O principal desafio é definir esse sistema “oscilador”, já que pouco se conhece sobre ele na atualidade. Acredita-se que interações entre o epitélio do folículo e o mesênquima (tecido conjuntivo) circundante; ou seja, as interações entre epitélio e tecido conjuntivo do folículo piloso poderiam ser responsáveis pela manutenção do ciclo capilar. Isso pode ser defendido pelas secreções rítmicas de sinais modulatórios do epitélio folicular ou do tecido conjuntivo ao seu redor. Fase anágena: Fase de proliferação e crescimento da haste. Dura de 2 a 6 anos no couro cabeludo. O ciclo celular da matriz do folículo dura 18 horas. Nessa fase ocorre a formação da haste e da bainha interna. As proteínas regulatórias envolvidas no desencadeamento do início dessa fase, ambas envolvidas na embriogênese e na diferenciação celular: Proteína morfogenética óssea (BMPs), Sonic hedgehog Proteínas WNT A manutenção da fase anágena é realizada através do IGF-1, do fator de crescimento hepático de fibroblastos 7 (HGF) e VEGF. Fase catágena: Transição entre a fase anágena e telógena, durando de 3 a 4 semanas. Há uma involução no crescimento da haste do pelo. A porção inferior de “ciclagem” de cada folículo piloso regride em um processo de apoptose celular do bulbo e da bainha da raiz externa. A base da haste se fecha em uma estrutura arredondada em forma de clava ou bastão, que se move para cima até atingir o folículo superior permanente e não cliclável. Uma estrutura temporária se forma – o cordão epitelial – que é exclusivo da fase catágena. Fase telógena: O folículo fica dormente em fase de repouso. Dura aproximadamente 3 meses. Aproximadamente 10 a 15% de todo cabelo está no estágio telógeno. Não é incomum que cabelos telógenos humanos sejam retidos de mais de um ciclo folicular. Curiosidades Temos em torno de 5 milhões de folículos pilosos no corpo, sendo até 150.000 presentes no coro cabeludo. A maioria dos pelos (85 a 90%) estão na fase anágena, 1% na fase catágena e de 10 a 15% na fase telógena. O normal de perda de fios por dia é de 100 a 200. O fio de cabelo cresce em torno de um cm por mês. Os menores pelos (vellow) do corpo têm até 0,06 mm de espessura e 1 a 2 mm de comprimento e os maiores (terminais) > 0,06 mm de espessura e de 1 a 50 cm de comprimento. Ciclo Capilar