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CONSTIPAÇÃO Constipação intestinal não é uma doença, mas meramente um sintoma. ● Foram desenvolvidos critérios objetivos baseados na frequência das evacuações para se chegar a uma definição satisfatória. ● Estudos permitiram definir constipação como a evacuação intestinal abaixo de 3x por semana. Definição do Colégio Americano de Gastrenterologia: defecação insatisfatória caracterizada por reduzido número de evacuações e dificuldade para evacuar, pelo menos nos últimos 3 meses. A dificuldade para evacuar pode incluir: ● Fezes endurecidas ou em cíbalos; ● Necessidade de esforço para evacuar; ● Sensação de evacuação incompleta; ● Sensação de obstrução anorretal; ● Necessidade de usar manobras manuais para facilitar a evacuação. Características físicas das fezes: ● Tamanho: pacientes constipados referem fezes finas como um lápis, ou fragmentadas como fezes de cabra. ● Comprimento: 90% esvaziam apenas o reto quando defecam; 10% até a flexura esplênica. ● Peso fecal: o peso normal das fezes pode variar de 35 a 450g por evacuação, variando de acordo com o teor de fibras da alimentação. ● Consistência ● Frequência: parâmetro mais fácil de se utilizar na clínica; pode ser alterada por cultura, dieta, atividade física, educação, fatores emocionais. EPIDEMIOZINHA ● A ocorrência é maior em mulheres adultas e crianças homens; ● A ocorrência aumenta muito após os 60 anos; o Até 34% das mulheres; o Até 26% dos homens ETIOPATOGENIA Pode estar em 3 grupos: 1. Primária 2. Secundária 3. Idiopática/funcional CAUSAS PRIMÁRIA 1. Ingesta alimentar inadequada: ingesta reduzida de fibras, desnutrição. A presença de fibras vegetais na dieta acelera o trânsito colorretal, aumenta o peso das fezes e a frequência das evacuações. Além da dieta pobre em fibras, é frequente a ingesta inadequada de líquidos. 2. Sedentarismo: a inatividade física, associada à postura antifisiológica para defecar, colabora para constipação. A inatividade debilita os músculos diafragmático, abdominais e pélvicos, dificultando a fase expulsiva da evacuação. 3. Gravidez: alterações hormonais e compressão extrínseca pelo útero. 4. Perda de reflexo: na maioria das pessoas o desejo de evacuar ocorre após refeição; é o reflexo gastrocólico. O bloqueio voluntário e repetido do desejo de evacuar provoca alterações nos mecanismos sensoriais, de tal forma que a chegada de fezes não é capaz de provocar o desejo de evacuar. 5. Viagens: é comum a mudança transitória do hábito. SECUNDÁRIA As situações mais frequentes são: doenças do cólon, neurológicas, endócrinas, medicamentos e psiquiátricas. 1. Cólon: qualquer condição que provoque estreitamento anatômico ou bloqueio mecânico do lúmen intestinal pode produzir constipação intestinal. As lesões extraluminais, como cistos ovarianos, miomas, tumores de próstata, dependendo do tamanho, podem ocasionar constipação intestinal por compressão extrínseca, ao passo que hérnias, vólvulos e invaginação o fazem por obstrução intestinal. A diverticulose pode produzir constipação por estase intestinal, decorrente da hipertrofia da musculatura. Certos tipos de enfermidades neuromusculares, tais como miopatias, distrofias e doenças escleroatróficas, podem acometer as estruturas da parede colônica e ser responsáveis por constipação. 2. Neurológicas: o Hirschsprung é uma afecção congênita caracterizada pela ausência, ou redução, dos plexos nervosos em determinados segmentos do intestino. A região afetada torna-se espástica, acarretando estenose funcional. Muitos casos de constipação intestinal nos quais não se encontra uma causa evidente podem ser devidos à neuropatia autonômica. A doença de Chagas constitui uma das causas mais frequentes de constipação intestinal em nosso meio. Caracteriza-se por destruição dos plexos neuronais da musculatura lisa do intestino, especialmente o plexo de Auerbach. Os segmentos acometidos tornam-se atônicos e muito dilatados. 3. Medicamentos: o uso abusivo de laxativos tem sido implicado como causador de constipação intestinal orgânica, presumivelmente por lesar as estruturas nervosas do cólon. 4. Psiquiátricos: pacientes que sofrem de depressão, ansiedade e, sobretudo, aqueles com distúrbios mais sérios geralmente apresentam, entre suas queixas, constipação intestinal. IDIOPÁTICA OU FUNCIONAL Nesta situação, não há nenhuma alteração estrutural ou metabólica, nem qualquer alteração na rotina diária do paciente que justifique o problema. 1. Constipação com trânsito normal: é a mais comum. O trânsito colônico e a frequência são normais, entretanto, os pacientes se sentem constipados. Sentem dificuldades para evacuar. 2. Constipação intestinal com trânsito lento: apresenta prolongado tempo no trânsito das fezes pelo cólon, por diminuição na peristalse normal e prolongada permanência do bolo fecal no interior do cólon. 3. Obstrutiva ou defecação dissinérgica: nesta situação, existe uma falência do mecanismo de coordenação da evacuação. Do ponto de vista prático, o que ocorre é uma contração da musculatura da pelve, em vez de relaxamento, durante a evacuação, resultando em acúmulo do bolo fecal na região retossigmoidiana. ● Incontinência fecal e encoprese: o termo encoprese deve ser preservado para a perda involuntária de fezes inteiras na roupa íntima, ao passo que incontinência fecal se refere a perdas de pequenas quantidades, geralmente líquidas ou pastosas. ● Abuso sexual e constipação: uma parcela considerável das mulheres com distúrbios funcionais do aparelho digestivo é ou foi vítima de abuso sexual. o Cerca de 20% das crianças submetidas a abuso sexual são levadas ao médico por dor abdominal e constipação. DIAGNÓSTICO O estudo deve ser realizado em 3 planos: 1. Orgânico 2. Funcional 3. Psicológico ORGÂNICO O ponto-chave da história é saber a respeito do início dos sintomas. ● Indagar sempre sobre os hábitos alimentares, incluindo a qualidade e quantidade de alimentos consumidos no dia a dia. ● Geralmente pct refere constipação, desconforto abdominal, meteorismo, flatulência. EXAME FÍSICO ● Em especial, a boca deve ser examinada, verificando-se o estado dos dentes e buscando-se lesões na cavidade oral que possam interferir na alimentação. ● O exame do abdome pode revelar distensão, hérnias, massas palpáveis ou sinais de fecaloma. ● A inspeção da região perianal permite identificar escoriações na pele, hemorroidas, fístulas, fissuras, doenças sexualmente transmissíveis, e, em crianças com incontinência fecal, procurar sempre trauma consequente de abuso sexual. EXAMES BIOQUÍMICOS ● Importantes para exclusão de doenças orgânicas. ● Hemograma, glicemia e função da tireoide devem ser realizados rotineiramente. ● Retossigmoideoscopia: observação da mucosa retal é indicada com o intuito de afastar doenças orgânicas. ● Colonoscopia: poderá ser necessária naqueles casos em que se suspeita de malignidade, presença de divertículos, megacólon, estenoses, entre outros. ● Defecografia: permite avaliar a anatomia e a dinâmica da evacuação. Permite diagnosticar prolapso retal, enterocele e esvaziamento do reto. AVALIAÇÃO FUNCIONAL ● Determinação do tempo de trânsito colônico: consiste na administração de um marcador radiopaco. Seguem-se radiografias seriadas diariamente. o Normal: quando ao final do 5º dia restam menos de 20% dos marcadores no cólon. o Lento: mais de 20% dos marcadores após 5º dia. o Obstrutivo: retenção de 20% na região retossigmoidiana, com trânsito normal no resto do cólon. ● Eletromiografia do cólon AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA ● O constipado com frequência passa de médico a médico, pois nem sempre aceita realizar os exames propostos, gerando frustração e raiva no médico, rompendo a relação o É essencial obter uma boa história, no sentido de detectar o que pode estar o impedindo. TRATAMENTO O tratamento baseia-se em melhorar os sintomas. ● O tratamento inicia-se com uma boa relação médico-paciente, dada a importânciado vínculo nesta situação. ● Reeducação dos hábitos evacuatórios o Manter horário para defecar, tentando mesmo que não tenha desejo. Com o passar do tempo torna-se um reflexo condicionado. ▪ Medida mais eficiente que o uso de laxativos. o Sempre que possível, não deixar de atender ao desejo de evacuar o Postura no vaso (cócoras, se possível adaptar) o Tratar afecções anorretais (hemorroidas, fístulas, fissuras). o Praticar exercícios físicos (abd). ● Aumento da ingestão de fibras o As fibras dietéticas estão disponíveis em diversas fontes naturais, como frutas, vegetais e cereais. ● Reeducação funcional – biofeedback o O uso de técnicas que estimulem o relaxamento pode até mesmo curar a constipação. o Todas elas ensinam o paciente a relaxar a musculatura pélvica durante o esforço evacuatório. ● Red flags o New onset in elderly patient o Unexplained anaemia o Rectal bleeding o Positive faecal occult blood test o Family history of bowel cancer or inflammatory bowel disease o Tenesmus o Weight loss TTO FARMACOLÓGICO 1. Formadores de massa: composto por fibras que aumentam o bolo fecal, estimulando o peristaltismo fisicamente e diminuindo o tempo de trânsito. a. Evitar doenças que o aparelho excretor esteja comprometido (chagas, pct grave, idosos) por risco de fecaloma. 2. Osmóticos: substâncias hiperosmolares que determinam a secreção de água para a luz intestinal, amolecendo as fezes. a. Dor abdominal, flatulência, meteorismo, distúrbios eletrolíticos. b. Hidróxido de magnésio 3. Estimulantes: derivados do difenilmetano (fenolftaleína) e das antraquinonas (cáscara sagrada). São laxativos pelo aumento da motilidade e da secreção intestinal por meio da estimulação do plexo mioentérico. a. Cólicas, incontinência e hipocalemia b. Uso crônico: lesão do plexo mioentérico. 4. Emolientes: diminui a tensão superficial e facilita a entrada de águas nas fezes, amolecendo-a. Indicado para hemorroidas. 5. Lubrificantes: formam uma camada oleosa sobre o bolo fecal, facilitando a passagem através do TGI. 6. Procinéticos: agem no sistema nervoso entérico estimulando o reflexo peristáltico, a motilidade e a secreção colônica. FECALOMA Formação de uma massa de fezes, grande, dura e imóvel, se localiza em geral no reto e sigmoide. Pelo seu volume e consistência, não pode ser eliminado. DN 1. Dor em baixo ventre 2. Tenesmo 3. Distensão abdominal 4. Incontinência 5. Alças intestinais dilatadas 6. Ausculta a. RHA metálicos (peristaltismo de luta) b. Silêncio em fase tardia 7. Toque retal confirma dn 8. Retossigmoideoscopia identifica (bom para casos que o dedo não alcança) 9. Radiografia simples identifica TTO 98% dos fecalomas ficam na ampola retal; logo, a manipulação digital é suficiente, com ajuda de lubrificante e laxativo à base de óleo mineral.