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8- S4P2 hemorroida, constipação

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1 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi 
Sistemas orgânicos integrados 
OBJETIVOS: 
1. Compreender a fisiopatologia da constipação e da hemorroida (epidemiologia, fatores de risco, 
tipos, diagnóstico e tratamento) 
2. Relembrar a fisiologia do reto e anus 
Constipação 
Multifatorial, pode ser de manifestações de doenças metabólicas, como por exemplo a diabetes, hipotireoidismo, 
hipercalemia, intoxicação por metal pesado e outras; neurológicas, obstrutivas ou efeito colateral de drogas. 
É mais comum em mulheres não caucasianos e indivíduos com mais de 60 anos. 
Também são fatores de risco o uso de medicações, sedentarismo e depressão, além de fatores psicológicos ou ainda 
ambientais. 
A definição mais aceita de constipação intestinal é quando a frequência de evacuação é menor do que três vezes por 
semana, e os sintomas devem estar presentes por pelo menos três meses, tendo-se iniciado, no mínimo, seis meses 
antes do diagnóstico. 
Os critérios diagnósticos da constipação funcional são embasados nos critérios de Roma IV (2016). Além disso, 
devem estar incluídos dois ou mais dos seguintes sintomas: 
• Força para evacuar em, pelo menos, 25% das evacuações; 
• Fezes endurecidas em, pelo menos, 25% das evacuações; 
• Sensação de evacuação incompleta em, pelo menos, 25% das evacuações; 
• Sensação de obstrução anorretal em, pelo menos, 25% das evacuações; 
• Manobras manuais (evacuação digital) para facilitar em, pelo menos, 25% das evacuações; 
• Menos de três evacuações por semana. 
Deve-se incluir, ainda, evacuação raramente presente sem uso de laxantes e critérios insuficientes para o 
diagnóstico de síndrome do intestino irritável. 
Epidemiologia 
É a segunda causa mais frequente das queixas gastrenterológicas autorrelatadas. Sua prevalência nas populações 
ocidentais é variável, situando-se entre 15 e 25% dos indivíduos analisados5. É 1,5 a 2 vezes mais comum entre 
mulheres e idosos, estando associada com o aumento da idade, com índices de até 40% nas pessoas acima de 65 
anos, justificadas nas mudanças de hábitos alimentares por comprometimento mastigatório, insuficiente ingestão 
líquida, dificuldade para deambulação, inatividade física e frequente utilização de múltiplos medicamentos, muitos 
deles com efeito constipante. 
Aspectos clínicos 
Não deve ser entendida como uma doença. 
É, ao mesmo tempo, um sintoma e um sinal, nem sempre isolados, que podem acompanhar várias doenças 
funcionais ou orgânicas, digestivas ou de outros sistemas, com características individuais e, portanto, abordagens 
diagnósticas e terapêuticas particulares. 
A anamnese, com interrogatório, além de antecedentes pessoais e familiares, deve ser bem detalhada, seguida de 
exame físico, os quais possibilitam identificar sua(s) causa(s) na maioria dos doentes, sem recorrer a exames 
complementares. 
Problema 8 S4P2 
 
 
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É indispensável interrogar sobre os sinais de alarme, como perdas de peso, febre, enterorragia, anemia, que, se 
presentes, indicarão a necessidade de procedimentos subsidiários para o diagnóstico diferencial, especialmente a 
colonoscopia, obrigatória para os casos que iniciam sua queixa a partir dos 50 anos de idade. 
Hábitos alimentares e de vida, doenças pregressas e uso rotineiro de medicamentos permitirão até mesmo uma 
hipótese etiológica. 
Exame físico normal, mínimos testes laboratoriais e colonoscopia, se houver indicação, completam o diagnóstico da 
constipação funcional. 
Classificação 
A constipação intestinal é classificada em dois tipos: 
Funcional ou primária: 
Na qual não se estabelece causa bioquímica ou sistêmica que justifique essa disfunção. Incide preferencialmente na 
população jovem, tem início mal demarcado, evolução insidiosa, é lentamente progressiva, de longa duração e não 
compromete o doente no seu estado geral e nutricional. Esse modelo encontra-se subclassificado em 3 tipos: 
trânsito cólico normal, trânsito cólico lento e obstrução de saída ou disfunção do assoalho pélvico. A que se 
acompanhada de infrequentes reflexos da evacuação provavelmente se relaciona ao trânsito do conteúdo cólico, e 
presença de reflexo e dificuldade de eliminação das fezes, quase certamente corresponde à obstrução de saída. 
Orgânica ou secundária: 
Doenças digestivas de cólon, reto ou ânus ou doenças sistêmicas. Como digestivas, estenoses inflamatórias ou 
tumorais, megacólon, aderências pós-operatórias etc. Também no grupo da constipação secundária, encontram-se 
as causas metabólicas, doenças ou sequelas de afecções neuromusculares sistêmicas e os distúrbios psiquiátricos. 
Habitualmente, aparece em indivíduos de maior idade, progride mais rapidamente na sua intensidade, 
acompanhada de outras queixas digestivas ou da doença de base que a originou. Nesses casos, anamnese e exame 
clínico detalhado têm fundamental importância na elaboração das hipóteses da constipação e da sua provável 
etiologia. 
Classificação e etiologias da constipação intestinal: 
Constipação intestinal/primária • Trânsito cólico normal 
➢ Erros dietéticos 
➢ Erros comportamentais: 
✓ horário inconstante 
✓ não atendimento ao reflexo 
✓ postura 
✓ desconcentração 
✓ sedentarismo 
• Trânsito lento 
➢ inércia colônica 
• Disfunção do assoalho pélvico 
➢ anismo 
➢ hipertonia do esfíncter interno 
➢ síndrome da úlcera retal solitária intussuscepção 
➢ prolapso retal 
• Medicamentos 
 
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Constipação intestinal orgânica/secundária • Obstruções intestinais, cólicas e anorretais 
➢ inflamatórias 
➢ tumorais 
➢ aderências intraperitoneais 
• Doenças anorretais 
➢ fissuras, hemorroidas 
➢ estenoses inflamatórias ou tumorais 
• Doenças endócrinas/metabólicas 
➢ diabete 
➢ hipotireoidismo 
➢ hipocalcemia 
➢ hipocalemia 
➢ porfiria 
➢ uremia 
• Doenças neuromusculares 
➢ AVC 
➢ trauma medular 
➢ esclerose múltipla 
➢ Parkinson 
➢ neuropatia autonômica 
➢ Hirschsprung 
➢ Chagas 
✓ pseudo-obstrução intestinal 
• Distúrbios psiquiátricos 
Mecanismos da constipação intestinal primária 
Alterações dietéticas 
Os guias atuais recomendam dietas ricas em fibra como tratamento de primeira linha para a constipação funcional, 
apesar de pequena evidência que suporte essa conduta. 
Como retêm água, caso das fibras solúveis, aumentam o volume e a hidratação das fezes, favorecendo sua 
eliminação, além de estimularem a proliferação da microbiota com formação de produtos fermentados, ajudando o 
cólon nos seus movimentos de propulsão. 
A introdução de alimentos com fibras deve ser gradual, respeitando preferências individuais. Inicialmente, induzem 
meteorismo e sua eficácia, graças ao seu poder higroscópico, depende da ingestão de líquidos em quantidade 
adequada, para um resultado favorável. O efeito deve ocorrer após 2 a 3 semanas, tempo suficiente para se atingir a 
cota mínima de fibras no cardápio diário, algo em torno de 30 a 35 g de fibras/dia, com ingestão de volumes 
líquidos, 1,5 a 2 L/dia. Uma mistura de fibras insolúveis e solúveis é o ideal. 
Alterações comportamentais 
Para a maioria das pessoas, a evacuação ocorre aproximadamente em um mesmo horário, em geral após alguma 
refeição, pelo movimento de propulsão do cólon graças ao reflexo gastrocólico. Esse horário não necessita 
obrigatoriamente depender do momento da alimentação, podendo ser estabelecido de acordo com conveniências 
individuais. 
Não é incomum que a sensação da vontade de evacuar seja despertada em locais ou horários inadequados e, como 
sua progressão depende de ação voluntária, nem sempre há condições para que ocorra a eliminação do conteúdo 
retal. 
Obrigações profissionais e/ou sociais impedem que essa sequência seja exercida, reprimindo-se o reflexo 
voluntariamente, abortando a evacuação, o que redireciona o bolo fecal de volta para o sigmoide, desaparecendo o 
desconforto retal da presença de fezes nesse local. A repressão repetitiva é acompanhada da perda da sensibilidaderetal à sua distensão pelo bolo fecal, chegando a desaparecer por completo. A história identifica que o reflexo 
 
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passou a ocorrer em intervalos cada vez maiores, graças à negação repetida das evacuações no momento 
apropriado. 
A postura física do indivíduo durante a evacuação é fundamental, ao utilizar as pernas como alavanca, na flexão do 
tronco sobre o abdome, como observado na posição de cócoras, para um eficaz desempenho das forças musculares 
envolvidas. 
Um fator negativo que contribui para a constipação é a desconcentração no momento da evacuação. Muitos 
doentes aproveitam esse tempo para leitura, rever suas agendas de trabalho ou compromissos, fumar, fazer 
telefonemas, enfim, psicologicamente distantes, comprometendo sua efetiva participação nos mecanismos 
voluntários da evacuação. Para muitos, essa associação chega a criar condicionamentos com bom resultado, não 
devendo, portanto, ser desestimulada. No entanto, quando se pretende reabituar o funcionamento intestinal 
regular, esse comportamento certamente pode interferir na sua correção. 
Trabalhos epidemiológicos antigos referem maior frequência de constipação em indivíduos sedentários, porém, os 
poucos relacionados ao tema são inconsistentes. Contudo, há autores que reconhecem benefícios com a prática de 
exercícios aeróbicos regulares. 
Alteração por trânsito lento 
Caracteriza-se por um tempo prolongado para o deslocamento das fezes do ceco até o reto, na ausência de lesões 
intraluminares ou dilatações de algum dos seus segmentos. As bases fisiopatológicas para explicar a inércia colônica 
continuam mal esclarecidas. Pesquisas que analisaram a atividade propulsora das ondas de propagação em 
portadores de trânsito lento confirmaram que as de grande, como também as de baixa amplitude, apresentam-se 
em frequência significativa reduzida, comparadas com as de indivíduos sadios. Diminuição dos marca-passos 
intestinais (células de Cajal) e comprometimento de neurotransmissores gastrentéricos podem vir a ser 
responsabilizados pela hipomotilidade do cólon. 
Alteração do assoalho pélvico 
Na disfunção do assoalho pélvico, a dificuldade encontra-se localizada na passagem do conteúdo do reto para o 
exterior, por uma falha do relaxamento esfincteriano ou do músculo puborretal (anismo) durante a evacuação. 
Na evacuação obstruída, a hipótese mais simplista refere-se ao incompleto relaxamento do músculo puborretal ou 
sua contração paradoxal, como também do músculo esfincteriano, no momento que antecede a passagem do bolo 
fecal do reto para o canal anal e deste para o exterior. 
Hipertonia esfincteriana também está relacionada com constipação intestinal. 
Constipação induzida por medicamentos 
A utilização rotineira de determinados medicamentos pode constituir-se na única etiologia da constipação. Agindo 
diretamente sobre a musculatura dos diferentes segmentos ou sua inervação, muitos dos casos de constipação se 
iniciam ou pioram com o uso de algum medicamento, potencialmente constipante. É importante investigar esse 
aspecto na população idosa, por se tratar de faixa etária na qual a utilização de múltiplos fármacos é mais comum, 
embora, obviamente, sua repercussão sobre o intestino independa de idade. 
Laxativos de ação irritante, acessíveis sem prescrição médica, também são uma das causas iatrogênicas da 
constipação intestinal. Entre os compostos por produtos naturais, de elevado consumo, na suposição de sua 
inocuidade, alguns atuam igualmente por irritação, estimulando as terminações nervosas dos plexos intestinais, 
levando, por uso prolongado, à sua dessensibilização, por vezes de forma irreversível. 
Medicamentos de efeito constipante 
 Anti-inflamatórios não hormonais 
 Analgésicos opiáceos 
 Anticolinérgicos 
 Anti-histamínicos 
 Antidepressivos 
 
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 Antiparkinsonianos 
 Bloqueadores de canais de cálcio 
 Diuréticos 
 Sais de ferro 
 Bloqueadores de receptores de histamina 
 Alfa e betabloqueadores 
 Inibidores da monoamino-oxidase 
 Antipsicóticos (fenotiazínicos) 
 Antiácidos (Mg, Ca) 
Mecanismos da constipação intestinal secundária 
Alterações intestinais 
São secundárias a lesões colônicas intraluminares, congênitas ou adquiridas (megacólon, neoplasias, estenoses 
inflamatórias), aderências pós-operatórias, entre outras, resultando em vários graus de oclusão mecânica, 
dificultando o trânsito do bolo fecal. 
Doenças orificiais, acompanhadas de dor ou sangramento na passagem das fezes, podem ser as únicas etiologias da 
constipação secundária. 
Alterações endócrinas 
Endocrinopatias ou disfunções metabólicas que comprometam a motricidade enterocolônica igualmente respondem 
pela dificuldade de evacuar desses doentes. Entre elas, citam-se diabete melito e sua complicação, a neuropatia 
autonômica, hipotireoidismo, hipocalcemia, hipocalemia e uremia. 
Alterações neuromusculares 
Digestivas ou sistêmicas, predispõem a disfunção do esvaziamento colorretal. Megacólon chagásico, Hirschsprung, 
pseudo-obstrução intestinal, doença de Parkinson, acidente vascular cerebral isquêmico, esclerose múltipla, trauma 
medular e esclerodermia estão entre os principais exemplos. 
Distúrbios psiquiátricos 
Mesmo que aceita, a relação entre constipação intestinal e distúrbios emocionais continua sendo muito difícil de ser 
entendida. Admite-se que muitos indivíduos exteriorizem suas emoções por sintomas viscerais, e não há como negar 
que o sistema digestório é, particularmente, terreno fértil para essas manifestações. Estudos controlados identificam 
que a morbidade psicológica está comumente associada com apresentações graves de constipação intestinal. 
Abusos físicos, sexuais, perdas de parentes próximos, insatisfações pessoais, fobias e repulsa pelo ato de evacuar 
podem ser pontos de apoio para uma terapêutica mais abrangente, com melhores chances de resultados favoráveis 
que os observados apenas pela prescrição de um medicamento. 
Exames complementares 
Testes laboratoriais de avaliação dos diferentes parâmetros endócrinos e metabólicos (glicemia, hormônios 
tireoidianos, Ca, P, ureia), procedimentos de imagem (colonoscopia, videodefecografia), medidas dos tempos de 
trânsito intestinal, colônico ou retal com marcadores radiopacos, manometria anorretal e eletroneuromiografia 
esfincteriana e perineal servem de orientação para as condutas terapêuticas adequadas de acordo com as causas 
diagnosticadas. 
 
Tratamento clínico 
Descartadas as doenças orgânicas, o primeiro passo terapêutico para a abordagem da constipação funcional baseia-
se nas correções dietéticas e comportamentais. 
 
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Os laxantes, drogas que induzem a evacuação por acertos na motricidade colorretal ou modificações na consistência 
das fezes, procurando facilitar sua eliminação, têm sua indicação e são classificados com base nas suas propriedades 
químicas e mecanismos de ação. 
Aumentadores de volume ou agentes hidrofílicos 
Promovem o aumento de peso, volume e fluidez das fezes. Considerados os laxativos mais fisiológicos, aceitos como 
suplementos às fibras ingeridas pela alimentação, são encontrados naturalmente no farelo de cereais, ágar-ágar, 
celulose, Psyllium (Plantago ovata) e em produtos sintéticos à base de metilcelulose, carboximetilcelulose e 
policarbofila. 
Osmóticos 
São os laxativos recomendados na falha dos hidrofílicos. Graças ao seu poder osmótico, retêm água no lúmen, 
aumentando o teor hídrico do bolo fecal, que é o caso de sulfatos, fosfatos e citratos de sódio e magnésio, hidróxido 
de magnésio e os açucarados lactulose, sorbitol, manitol e polietilenoglicol. Devem ser usados com cuidado em 
idosos, pela possibilidade de desidratação, mas os ajustes das doses, sempre individuais, evitam essa complicação. 
Amaciantes/emolientes 
Facilitam a interface entre os componentes hidrofílicos e hidrofóbicos da massa fecal.Fazem parte desse grupo os 
óleos minerais e o dioctil sulfosuccinato (ducosato) de sódio, cálcio e potássio. Os ducosatos promovem um 
aumento na secreção de sódio, cloro e água pela mucosa do ceco, motivo que os recomenda para uso de curta 
duração. Já os óleos minerais têm função lubrificante. 
 
Estimulantes/irritantes/catárticos 
Constituem o modelo de laxantes mais frequentemente consumidos pelos doentes, tanto por prescrição médica 
quanto, e principalmente, por automedicação. Derivam de dois grandes grupos de drogas: difenilmetano e 
antraquinona. 
Os derivados do difenilmetano – fenolftaleína, bisacodil e oxifenizatina – inibem a absorção de sódio e glicose, 
aumentando o teor de água no cólon e estimulando sua motilidade. A fenolftaleína, mesmo absorvida parcialmente, 
responde por efeitos indesejáveis, como eritema nodoso e multiforme, síndrome de Stevens-Johnson, perda 
proteica intestinal, hiponatremia e hipocalemia. O bisacodil tem uma absorção intestinal menor, mas é um irritante 
gástrico. 
Os produtos contendo antraquinona – cáscara sagrada e sene – estimulam maior secreção de água e eletrólitos pelo 
íleo distal e ceco, além de provocarem irritação das terminações nervosas do cólon, via plexo de Auerbach, gerando 
um aumento na sua motricidade. Essas estruturas podem ter sua sensibilidade comprometida, até de forma 
permanente, pelo uso prolongado dos laxantes desse tipo, os quais também estão associados com o aparecimento 
da melanose coli. 
Hemorroida 
A doença hemorroidária ocorre quando há congestão, dilatação e aumento dos corpos cavernosos do canal anal 
(plexos hemorroidários) formando grandes emaranhados vasculares, submucosos ou subcutâneos, flexíveis, que se 
enchem de sangue, denominados mamilos hemorroidários. 
 
A natureza da doença hemorroidária não é, ainda, completamente conhecida. Vários fatores etiopatogênicos são 
importantes: 
• Dificuldade do esvaziamento sanguíneo do canal anal no ato defecatório, com congestão e dilatação dos 
corpos cavernosos. Prolapso anormal do plexo hemorroidário, durante a evacuação, por deficiência de sua 
fixação pela musculatura longitudinal da submucosa (músculo de Treitz). 
 
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• Excessivo esforço defecatório e/ou endurecimento das fezes. 
• Presença das comunicações arteriovenosas, muito calibrosas, na submucosa do canal anal facilitando o 
aumento e a dilatação dos corpos cavernosos. 
• Hiperatividade do esfíncter anal interno com hipertonia ocasionando distensão dos corpos cavernosos. 
Na etiopatogenia da doença hemorroidária, deve-se considerar também seus fatores desencadeantes e agravantes, 
como os relacionados com hábitos defecatórios errôneos, a constipação intestinal, o abuso de laxativos, a diarreia 
crônica, a gravidez (pelo aumento da pressão intra-abdominal) e a posição bípede do ser humano. 
É rara a sua remissão e, uma vez manifestada, sua evolução pode ser progressiva se não houver um tratamento 
adequado. 
Classificação: 
• Mamilo hemorroidário interno 
 1º grau 
 2º grau 
 3º grau 
 4º grau 
• Mamilo hemorroidário externo 
• Mamilos hemorroidários mistos 
Mamilo hemorroidário interno 
É o mamilo situado acima da linha pectínea, na parte interna ou proximal do canal anal. Ele é subclassificado, de 
acordo com a presença ou a ausência de seu prolapso para fora do canal anal, em: 
 1º grau: é o mamilo hemorroidário interno que não prolaba pelo canal anal à evacuação ou aos esforços 
(Figura 1). 
 2º grau: quando ele prolaba através do canal anal durante o esforço evacuatório, exteriorizando-se pelo ânus, 
porém retornando espontaneamente após cessado esse esforço (Figura 2). 
 3º grau: o mamilo prolaba à evacuação e/ou aos esforços e não retorna espontaneamente, necessitando ser 
recolocado digitalmente para o interior do canal anal (Figura 3). 
 4º grau: mamilo interno permanentemente prolabado pelo canal anal, sem possibilidade de ser recolocado 
para o interior do canal anal. 
 
Mamilo hemorroidário externo 
É o mamilo localizado abaixo da linha pectínea, no anoderma (porção externa ou distal do canal anal). Caracteriza-se 
por um abaulamento de consistência mole, indolor e, às vezes, de coloração vinhosa. 
Mamilo hemorroidário misto 
Na existência concomitante de mamilos internos e externos, a doença hemorroidária é classificada como mista. 
 
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Quadro clínico 
A enfermidade hemorroidária pode ser assintomática ou apresentar diferentes sintomas e sinais, com vários graus 
de intensidade. São eles: 
• Sangramento: é o principal sinal, além de ser o mais frequente e, às vezes, o primeiro a manifestar-se. O 
sangue pode ser observado somente no papel higiênico durante a higiene anal e/ou gotejando ou ocorrendo 
em jato no vaso sanitário durante e/ou imediatamente após a evacuação. Caracteriza-se pela sua cor 
vermelho rutilante. Esse sangramento é frequentemente intermitente e a principal causa da consulta 
médica. Ele é, em geral, esporádico, acontecendo em crises curtas de dias, pouco volumoso e relacionado 
com a evacuação. A enterorragia volumosa é rara na doença hemorroidária. É fundamental diferenciar esse 
sangramento originado da doença hemorroidária daquele ocasionado pelos tumores colorretais, pelas 
doenças inflamatórias intestinais, pela fissura anal etc., por serem bastante similares. 
• Prolapso: caracteriza-se pela exteriorização do mamilo hemorroidário interno, para fora do canal anal, 
durante o ato evacuatório ou durante as atividades físicas. Ele deve ser diferenciado da papila anal 
hipertrófica prolabada, do pólipo retal baixo que se exterioriza pelo canal anal e da procidência retal que se 
caracteriza pela protusão de todas as camadas do reto para o exterior do ânus. 
• Exsudação perianal: corresponde à umidade da pele perianal causada pela presença de muco nessa região, 
decorrente, sobretudo, da irritação da mucosa dos mamilos hemorroidários internos prolabados. 
Acompanha-se, em geral, pela dermatite e pelo prurido anal. 
• Desconforto anal: durante ou após a evacuação, pode haver uma pressão anal, definida pelo paciente como 
um desconforto, porém sem dor anal, porque a simples presença de doença hemorroidária não dói. A 
presença de dor no canal anal concomitante à doença hemorroidária é causada ou pelas suas complicações, 
como a trombose vascular (endoflebite) e o hematoma, ou pela presença concomitante de outras 
enfermidades, como a fissura anal, a infecção perianal (criptite, papilite ou abscesso), as lesões inflamatórias 
ou tumorais. 
Diagnóstico 
Anamnese dos sintomas e sinais anteriormente mencionados, além da avaliação dos hábitos evacuatórios e 
alimentares dos pacientes, o uso de laxativos, a existência de doenças anteriores ou de cirurgias no trato digestivo. 
Nas enfermidades agudas e dolorosas, como a trombose hemorroidária, o exame proctológico deve limitar-se ao 
mínimo necessário para confirmar o diagnóstico, sem agravar o sofrimento do paciente. 
O exame proctológico deve seguir a sequência: inspeção estática e dinâmica do canal anal, palpação, toque retal, 
anuscopia e retossigmoidoscopia. 
Diagnóstico diferencial 
Para os leigos, sob a designação de “hemorroidas”, é incluída, erroneamente, o diagnóstico diferencial da doença 
hemorroidária com as seguintes enfermidades: procidência retal, papila anal hipertrófica, hemangiomas perianais, 
condiloma, plicomas, fissura anal, processos infecciosos (criptites, papilites ou abscessos), doenças inflamatórias, 
tumores benignos ou malignos do canal anal e tumores retais prolabados benignos. 
Tratamento 
Depende do tipo e da gravidade de seu sintoma. A doença hemorroidária que não ocasiona sintomas ao paciente 
não necessita de tratamento específico, mas de cuidados higiênico-dietéticos. 
 
Tratamento clínico 
O tratamento clínico pode ser indicado quando a doença hemorroidária acarreta sintomas discretos e esporádicos 
ao paciente, com longosperíodos de acalmia. Está indicado, também, nas gestantes com doença hemorroidária não 
complicada, em especial no terceiro trimestre. Ele compreende os seguintes cuidados: 
 
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• Medidas higiênico-dietéticas: provocar o amolecimento das fezes e a diminuição do tempo de trânsito 
intestinal, evitando o trauma local e o esforço evacuatório, indicar a ingestão abundante de líquidos e evitar 
o uso excessivo de bebidas alcoólicas, pimentas e condimentos. 
• Cuidados locais: deve-se proibir a utilização de papel higiênico, substituindo-o por banhos com água. 
• Medicação tópica: é indicada para aliviar o desconforto local, fazendo-se uso de pomadas e/ou supositórios 
à base de anestésicos e anti-inflamatórios. 
Tratamento cirúrgico 
O tratamento curativo da doença hemorroidária sintomática é cirúrgico. Vários métodos terapêuticos podem ser 
utilizados, desde os mais conservadores aos mais radicais5,6. Nos enfermos que apresentam mamilos 
hemorroidários externos ou mistos, a melhor opção curativa é a hemorroidectomia. Esse procedimento pode ser 
realizado em ambulatório ou com o paciente hospitalizado. 
Reto e ânus 
Reto: 
Na pelve, o colo sigmoide se une ao reto, que desce ao longo da metade inferior do sacro em uma posição 
retroperitoneal. 
O reto não possui tênias; sua camada muscular longitudinal é completa e bem desenvolvida, de modo que ele 
consegue gerar fortes contrações para a defecação. 
Apesar do nome “reto”, ele possui, na realidade, várias curvas fechadas. Internamente, essas curvas são 
representadas como três pregas transversas do reto (ou válvulas retais), que evitam que as fezes sejam eliminadas 
junto com o flato (gases). 
Canal anal: 
A última subdivisão do intestino grosso é o canal anal. Com cerca de 3 m de comprimento, ele começa onde o reto 
atravessa o músculo levantador do ânus, o músculo que forma o assoalho da pelve. Uma parte do levantador do 
ânus é responsável por manter o ângulo da junção anorretal, um ângulo agudo entre o ânus e o reto que contribui 
para a continência fecal. O canal anal situa -se inteiramente externo à cavidade abdominopélvica no períneo 
 
 
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Defecação: 
O reto geralmente fica vazio e os esfíncteres do ânus, contraídos. 
Quando as fezes são impulsionadas para o reto pelos movimentos peristálticos de massa, o estiramento da parede 
do reto inicia o reflexo de defecação. Mediado pela medula espinal sacral, esse reflexo parassimpático sinaliza as 
paredes do colo sigmoide e do reto a contraírem e o esfíncter interno do ânus a relaxar. 
Até agora o quimo permaneceu no intestino grosso por 3 a 10 h, tornou-se sólido ou semissólido por causa da 
absorção de água e agora é chamado fezes. 
Quimicamente, as fezes consistem em água, sais inorgânicos, células epiteliais da túnica mucosa do canal alimentar, 
bactérias, produtos da decomposição bacteriana, materiais digeridos e não absorvidos e partes não digeríveis de 
alimentos. 
Embora 90% de toda a absorção de água ocorra no intestino delgado, o intestino grosso absorve o suficiente para 
torná-lo um órgão importante na manutenção de equilíbrio hídrico do corpo. Dos 0,5 a 1,0 ℓ de água que entra no 
intestino grosso, tudo exceto aproximadamente 100 a 200 mℓ normalmente é absorvido por osmose. O intestino 
grosso também absorve íons, incluindo sódio e cloreto, e algumas vitaminas. 
REFLEXO DE DEFECAÇÃO 
Os movimentos peristálticos em massa empurram o material fecal do colo sigmoide para o reto. 
A distensão resultante da parede retal estimula os receptores de estiramento, que iniciam um reflexo de defecação 
que resulta na defecação, a eliminação das fezes do reto por meio do ânus. 
O reflexo de defecação ocorre do seguinte modo: em resposta à distensão da parede retal, os receptores enviam 
impulsos nervosos sensitivos para a medula espinal sacral. Impulsos motores da medula viajam ao longo dos nervos 
parassimpáticos de volta para o colo descendente, colo sigmoide, reto e ânus. 
A contração resultante dos músculos longitudinais retais encurta o reto, aumentando assim a pressão em seu 
interior. Esta pressão, junto com contrações voluntárias do diafragma e dos músculos abdominais, além do estímulo 
parassimpático, abrem o músculo esfíncter interno do ânus. 
O músculo esfíncter externo do ânus é controlado voluntariamente. Se for voluntariamente relaxado, a defecação 
ocorre e as fezes são expelidas através do ânus; se for voluntariamente contraído, a defecação pode ser adiada. 
 
12 Gabi Vieira 02/2022 MEDFip Gbi 
Contrações voluntárias do diafragma e dos músculos abdominais auxiliam na defecação ao aumentar a pressão no 
interior do abdome, que empurra as paredes do colo sigmoide e do reto para dentro. Se a defecação não ocorrer, as 
fezes voltam para o colo sigmoide até que a próxima onda de peristaltismo em massa estimule os receptores de 
estiramento, novamente produzindo a vontade de defecar. 
Em crianças, o reflexo de defecação provoca esvaziamento automático do reto, porque o controle voluntário do 
músculo esfíncter externo do ânus ainda não se desenvolveu. 
O número de defecações em um determinado período de tempo depende de vários fatores, como a dieta, a saúde e 
o estresse. A variação normal de atividade intestinal vai de 2 ou 3 defecações por dia a 3 ou 4 defecações por 
semana.

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