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Severina Carla Vieira Cunha Lima (Organizadora) TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 Reitor José Daniel Diniz Melo Vice-Reitor Henio Ferreira de Miranda Centro de Ciências da Saúde Antônio de Lisboa Lopes da Costa (Diretor) Departamento de Nutrição Karla Danielly da Silva Ribeiro Rodrigues (Chefe) Programa de Pós-Graduação em Nutrição Karine Cavalcanti Maurício de Sena-Evangelista (Coordenadora) Coordenação de Nutrição Ingrid Wilza Leal Bezerra (Coordenadora) Diretoria Administrativa da EDUFRN Maria da Penha Casado Alves (Diretora) Helton Rubiano de Macedo (Diretor Adjunto) Bruno Francisco Xavier (Secretário) Editoração Helton Rubiano de Macedo Revisão Wildson Confessor Design editorial Rafael Campos Fotografia Pexels Severina Carla Vieira Cunha Lima (Organizadora) TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 NATAL 2020 Fundada em 1962, a Editora da UFRN (EDUFRN) permanece até hoje dedicada à sua principal missão: produzir livros com o fim de divulgar o conhecimento técnico-científico produzido na Universidade, além de promover expressões culturais do Rio Grande do Norte. Com esse objetivo, a EDUFRN demonstra o desafio de aliar uma tradição de quase seis décadas ao espírito renovador que guia suas ações rumo ao futuro. Todos os direitos desta edição reservados à EDUFRN – Editora da UFRN Av. Senador Salgado Filho, 3000 | Campus Universitário Lagoa Nova | 59.078-970 | Natal/RN | Brasil e-mail: contato@editora.ufrn.br | www.editora.ufrn.br Telefone: 84 3342 2221 Terapia nutricional para prevenção, tratamento e reabilitação de indivíduos com COVID-19 [recurso eletrônico] / Severina Carla Vieira Cunha Lima (Organizadora). – Natal, RN : EDUFRN, 2020. 67 p. :, PDF ; 8.700 Kb. Modo de acesso: http://repositorio.ufrn.br ISBN 978-65-5569-043-9 1. Doenças respiratórias. 2. Nutrição. 3. SARS-CoV-2. 4. Saúde - Aspectos nutricionais. I. Lima, Severina Carla Vieira Cunha. CDD 616.2 RN/UF/BCZM 2020/37 CDU 616.2:613.2 Coordenadoria de Processos Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte.UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede a n o s Elaborado por Márcia Valéria Alves – CRB-15/509 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 5 PREFÁCIO A doença causada pelo novo coronavírus (COVID-19) tem causado alterações históricas no perfil epidemiológico mundial, com impactos marcantes nas esferas social, econômica, política e cultural. Em meio a esse cenário, recebi com muita honra o convite para realizar o preâmbulo desta importante obra, cuidadosamente preparada com o intuito de trazer informações atualizadas sobre orientações e a terapia nutricional indicada no tratamento da COVID-19 sob diversos contextos. O estado nutricional adequado representa um aspecto fundamental no enfrentamento da COVID-19, requerendo dos profissionais nutricionistas a realização de intervenções, por meio de prescrições dietéticas e orientações sobre alimentação saudável na perspectiva de prevenção, tratamento e reabilitação de pessoas acometidas por essa enfermidade. Diante da velocidade alarmante do número de casos registrados no mundo e do comportamento obscuro do novo coronavírus no organismo humano, a comunidade científica tem se debruçado em estudar sobre a COVID-19, haja vista as inúmeras publicações que têm sido diariamente veiculadas. Imbuído do compromisso de contribuir com a sociedade, esse e-book, elaborado pelo grupo seleto de docentes que compõem a área de Nutrição Clínica do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), bem como discentes de graduação e pós- graduação da instituição, contempla informações de qualidade e rigor científico, distribuídas em três seções: (a) enfoque nutricional para a TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 6 prevenção e tratamento de indivíduos com sintomas leves da COVID-19; (b) informações sobre a terapia nutricional empregada para indivíduos com COVID-19 hospitalizados; (c) e a terapia nutricional indicada na reabilitação pós-COVID-19. Os conhecimentos contemplados nos tópicos são fundamentados nas evidências científicas baseadas em consensos e diretrizes mais atualizadas sobre as temáticas e combinam textos, quadros e fluxogramas, construídos com o objetivo de tornar a leitura mais objetiva e de fácil acesso. Sabendo que o combate ao COVID-19 inicia com medidas de prevenção, e que a alimentação é aliada para o fortalecimento do sistema imunológico, o primeiro tópico foi estruturado com foco nas orientações sobre alimentação saudável, baseadas nas informações do Guia alimentar para a população brasileira, ressaltando-se a importância de nutrientes específicos no contexto da prevenção de populações de risco e no tratamento de pessoas com COVID-19 apresentando sintomas leves. O segundo tópico, por sua vez, contempla informações preciosas sobre triagem nutricional e a terapia nutricional indicada no tratamento de pacientes com COVID-19 hospitalizados, particularizando as situações em que as pessoas são tratadas no ambiente de enfermaria e os casos críticos que necessitam de internação em Unidade de Terapia Intensiva sob ventilação mecânica. São destacadas as recomendações de energia, proteínas e outros nutrientes, em diversos cenários de pacientes internados por COVID-19. Por último, são apresentadas as informações sobre os impactos das alterações clínicas pós-COVID-19 com repercussão no aspecto nutricional. As autoras reúnem uma gama de orientações com uma riqueza de detalhes para auxiliar no restabelecimento do estado nutricional dos indivíduos. Dessa forma, TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 7 com muito profissionalismo, seriedade e compromisso com a qualidade, esses tópicos se somam para fornecer informações globais sobre o manejo nutricional para o enfrentamento da COVID-19. Para finalizar, gostaria de registrar a minha alegria de contribuir com essa obra e o meu orgulho e satisfação de fazer parte do grupo de docentes da UFRN, sobretudo da área de Nutrição Clínica do Departamento de Nutrição, composto por colegas de renomada competência e dedicação pela excelência no ensino superior. Esperamos que essa produção, com forte potencial de visibilidade, seja objeto de consulta de profissionais nutricionistas, membros das equipes multiprofissionais e acadêmicos do Curso de Nutrição e áreas afins, para fundamentar condutas, qualificando o atendimento nutricional no contexto da COVID-19. Parabenizo a todos do Departamento de Nutrição e de outras unidades acadêmicas da UFRN, pelas ações voltadas para o combate à pandemia, com impacto social relevante diante do cenário atual. Karine Cavalcanti Maurício de Sena-Evangelista Docente Associada Classe 1 do Departamento de Nutrição da UFRN. Coordenadora do Programa de Pós-graduação em Nutrição da UFRN. Sumário Introdução ....... 9 David Franciole de Oliveira Silva Ana Paula Trussardi Fayh Aspectos nutricionais na prevenção e tratamento de indivíduos com sintomas leves da COVID-19 ....... 13 Eduarda Pontes dos Santos Araújo Adriana Leão de Miranda Ferreira Ana Paula Trussardi Fayh Severina Carla Vieira Cunha Lima Terapia nutricional para o tratamento de pacientes com COVID-19 em ambiente hospitalar ........ 26 Severina Carla Vieira Cunha Lima Karine Cavalcanti Maurício de Sena-Evangelista Lúcia Leite Lais Maria Eduarda Bezerra daSilva Terapia nutricional na reabilitação pós-COVID-19 ......... 47 Márcia Marília Gomes Dantas Lopes Jéssica Bastos Pimentel Sancha Helena de Lima Vale Sobre os autores ......... 62 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 9 Introdução David Franciole de Oliveira Silva Ana Paula Trussardi Fayh A doença do coronavírus (COVID-19), atualmente o mais grave proble- ma de saúde pública no mundo,1 é causada por um novo betacoronaví- rus inicialmente denominado 2019-nCov pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mais recentemente esse vírus passou a ser chamado de SARS-CoV-2 (do inglês Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2).2 Essa doença foi inicialmente identificada na China, tendo se alastra- do para todos os continentes.1 Consequentemente, em março de 2020, foi caracterizada pela Organização Mundial da Saúde como pandemia. Até meados de maio de 2020, foram registrados mais de 4 milhões de casos e 278.892 mortes em todo o mundo.3 Os sintomas clínicos da COVID-19 são semelhantes aos sintomas leves de pneumonia viral e a gravidade da doença varia de leve (80% dos ca- sos) a grave (14% dos casos). É possível que a gravidade da doença esteja associada à idade avançada e à presença de comorbidades. Os sintomas mais comuns incluem febre (>=37,8ºC), tosse, dispneia, mialgia e fadi- ga. Os sintomas menos comuns são anorexia, produção de escarro, dor de garganta, confusão, tonturas, dor de cabeça, dor no peito, hemoptise, diarreia, náusea/vômito, dor abdominal, congestão conjuntival, anos- mia súbita ou hiposmia.2 Até o momento, não existe tratamento medicamentoso com eficácia comprovada para a prevenção ou tratamento da COVID-19.4 No en- tanto, por meio do reposicionamento de fármacos, pesquisadores têm TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 10 analisado a eficácia e a segurança destas substâncias, incluindo hidro- xicloroquina e remdesevir,5-7 alguns medicamentos têm sido utilizados de acordo com o protocolo estabelecido pela instituição, os quais apre- sentam indicações e implicações nutricionais diversas (Anexo 1). Atual- mente, não há evidências de ensaios clínicos randomizados de que qual- quer terapia potencial melhore os resultados em pacientes com suspeita ou confirmação de COVID-19, assim como não há dados de ensaios clínicos que apoiem qualquer terapia profilática.8 Sendo assim, faz-se necessária a identificação de outras intervenções não farmacológicas para auxiliar no adequado tratamento de pacientes com COVID-19, tanto os hospitalizados em condições de estabilida- de hemodinâmica, quanto os que requerem maior suporte na Unidade de Terapia Intensa (UTI), como a ventilação mecânica.9 A abordagem por meio da terapia nutricional tem importante papel, uma vez que a avaliação de pacientes em risco nutricional, aliada a uma terapia espe- cializada, considerando a interação droga-nutriente, favorece o melhor prognóstico e recuperação de pacientes com COVID-19.10,11 Nesse contexto, o presente e-book reúne informações sobre orientações e terapia nutricional, fundamentadas nas mais recentes evidências cien- tíficas para o enfrentamento da COVID-19, com abordagem na pre- venção, terapia nutricional tanto nos pacientes estáveis hemodinami- camente, quanto naqueles que requerem maior suporte mecânico em UTI e na reabilitação pós-COVID-19. Esse documento será importante para fundamentar condutas dos profissionais nutricionistas que atuam na linha de cuidados dos pacientes com COVID-19, proporcionando um atendimento nutricional mais direcionado e qualificado. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 11 Referências 1. Gates B. Responding to Covid-19: a once-in-a-century pandemic?. N Engl J Med. [Internet]. 2020;382(18):1677-9. 2. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde – SCTIE. Diretrizes para diagnóstico e tratamento da COVID-19. Versão 1. Brasília: Ministé- rio da Saúde; 6 Abril 2020 [cited 2020 May]. 398 p. 3. World Health Organization. Coronavirus disease 2019 (COVID-19). Situation Report – 112 [Internet]. 2020 May 11 [cited 2020 May 11]. Available from: https://www.who.int/docs/default-source/coro- naviruse/situation-reports/20200511-covid-19-sitrep-112.pdf?s- fvrsn=813f2669_2. 4. Lu CC, Chen MY, Chang YL. Potential therapeutic agents against COVID-19: What we know so far. J Chin Med Assoc [Internet]. 2020 Apr 1 [cited 2020 May]. doi: 10.1097/JCMA.0000000000000318 5. Sanders JM, Monogue ML, Jodlowski TZ, Cutrell JB. Pharmacolog- ic treatments for coronavirus disease 2019 (COVID-19): A review. JAMA. Forthcoming 2020. 6. Colson P, Rolain JM, Lagier JC, Brouqui P, Raoult D. Chloro- quine and hydroxychloroquine as available weapons to fight COVID-19. Int J Antimicrob Agents [Internet]. 2020 Apr [cited May 2020];55(4):105932. doi: 10.1016/j.ijantimicag.2020.105932 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 12 7. Grein J, Ohmagari N, Shin D, et al. Compassionate use of remde- sivir for patients with severe Covid-19. N Engl J Med [Internet]. 2020 Apr 10 [cited May 2020]. doi: 10.1056/NEJMoa2007016 8. Sanders JM, Monogue ML, Jodlowski TZ, Cutrell JB. Pharmacologic Treatments for Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): A Review. JAMA [Internet]. 2020 Apr 13 [cited May 2020];323(18):1824–36. doi:10.1001/jama.2020.6019 9. Cowling BJ, Ali S, Ng TW, Tsang TK, Li JC, Fong MW, et al. Impact assessment of non-pharmaceutical interventions against coronavirus disease 2019 and influenza in Hong Kong: an observational study. Lancet Public Health [Internet]. 2020 Apr 17 [cited May 2020]. doi: 10.1016/S2468-2667(20)30090-6 10. Caccialanza R, Laviano A, Lobascio F, Montagna E, Bruno R, Lu- dovisi S, et al. Early nutritional supplementation in non-critically ill patients hospitalized for the 2019 novel coronavirus disease (COVID-19): Rationale and feasibility of a shared pragmatic pro- tocol. Nutrition [Internet]. 2020 Apr 3 [cited May 2020];74. doi: 10.1016/j.nut.2020.110835 11. Barazzoni R, Bischoff SC, Krznaric Z, Pirlich M, Singer P. ESPEN ex- pert statements and practical guidance for nutritional management of individuals with SARS-CoV-2 infection. Clin. Nutr [Internet]. 2020 Mar 31 [cited 2020 May];1-8. doi: 10.1016/j.clnu.2020.03.022 12. Silva TFA, Filho MAA, Brito MRM, Freitas RM. Mechanisms of ac- tion, pharmacological effects, clinical studies and adverse reactions of ceftriaxone: a review of literature. Revista Eletrônica de Farmá- cia. 2014;11(3):48–57. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 13 Aspectos nutricionais na prevenção e tratamento de indivíduos com sintomas leves da COVID-19 Eduarda Pontes dos Santos Araújo Adriana Leão de Miranda Ferreira Ana Paula Trussardi Fayh Severina Carla Vieira Cunha Lima Em tempos desafiadores como os que a humanidade tem vivenciado, além das ações de isolamento social e higiene amplamente divulgada, medidas associadas ao estilo de vida exercem papel importante na pre- venção da COVID-19, sendo a alimentação saudável um dos aspectos que mais se destacam.1, 2 Ademais, o grande número de pessoas que se recuperará da COVID-19 pode levar a um aumento nas doenças crôni- cas que podem ser exacerbadas por dietas não saudáveis ou em popula- ções vulneráveis.3 Uma alimentação saudável pode auxiliar na prevenção da COVID-19, não só por fornecer os nutrientes e compostos bioativos necessários para a integridade da barreira imunológica mas também por garantir a manutenção do peso saudável. Esse aspecto em particular, tem sido relatado na literatura como importante, uma vez que tanto a desnutri- ção como a obesidade estão associadas a piores desfechos em pacientes acometidos pela COVID-19, com maior risco de hospitalização, maior tempo de internaçãoe mortalidade.4 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 14 Alguns estudos publicados demonstraram que pacientes com obesidade geralmente apresentam disfunção respiratória, caracterizada por alte- rações nos mecanismos respiratórios, aumento da resistência das vias aéreas, alteração das trocas gasosas e baixo volume pulmonar e força muscular. Esses indivíduos estão predispostos a pneumonia associada à hipoventilação, hipertensão pulmonar e estresse cardíaco.5,6 Dessa forma, para prevenção da COVID-19, a primeira orientação é que os indivíduos mantenham o peso saudável, podendo os profissionais utilizar o IMC (Índice de Massa Corporal) como parâmetro mais acessível para avaliação do estado nutricional antropométrico da população em geral. Pontes de corte de classificação do IMC Em adultos: IMC 18,5 kg/m2 a 24,9 kg/m2 – Eutrofia Em idosos: IMC 22 kg/m2 a 27 kg/m2 – Eutrofia Orientações nutricionais para prevenção da COVID-19 em indivíduos saudáveis ou para aqueles com sintomas leves da COVID-19 A manutenção ou adoção de uma dieta balanceada é a recomendação para toda a população e também para pessoas que foram afetadas pela COVID-19 com sintomatologia leve e/ou assintomáticas. Nesse sentido, as orientações apresentadas no Guia alimentar para a população brasi- leira7 são válidas para que os indivíduos se alimentem de modo saudá- TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 15 vel, de uma forma simples e objetiva. Além disso, seguir as orientações do Guia alimentar irá estimular a população a ingerir alimentos ricos em vitaminas, minerais e fibras que, em sinergia, irão favorecer a saúde imunológica e intestinal. Regra de Ouro do Guia alimentar para a população brasileira: Prefira sempre alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias a alimentos ultraprocessados. A compreensão adequada da nova classificação dos alimentos a partir do grau de processamento pode auxiliar a população a fazer escolhas alimentares mais saudáveis. Nesta perspectiva, conforme o Guia, se- guem os três grandes grupos de alimentos, bem como as características de cada um deles. Alimentos in natura ou minimamente processados: alimentos obtidos diretamente de plantas ou de animais, que não sofreram qualquer altera- ção após deixar a natureza ou que foram submetidos a processos de lim- peza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, fracionamento, moagem, secagem, fermentação, pasteurização, refrigeração, congela- mento e processos similares que não envolvam agregação de sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias ao alimento original. Podemos citar como exemplos: legumes, verduras, frutas, grãos, raízes e oleaginosas. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 16 Alimentos processados: alimentos fabricados pela indústria com a adi- ção de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a alimentos in natura para torná-los duráveis e mais agradáveis ao paladar. Podemos citar como exemplos: alimentos em conserva na salmoura, extratos de tomate concentrados em sal ou açúcar, frutas cristalizadas, carne seca ou de sol, peixes enlatados, queijos e pães feitos apenas com trigo, água e sal. Alimentos ultraprocessados: alimentos que possuem em sua com- posição, basicamente, óleos, gorduras hidrogenadas, açúcar, amido modificado e substâncias sintetizadas em laboratório com base em matérias orgânicas como petróleo e carvão (corantes, aromatizantes, realçadores de sabor e vários tipos de aditivos usados para dotar os produtos de propriedades sensoriais atraentes). Podemos citar como exemplos: biscoitos, sorvetes, macarrão instantâneo, refrigerantes, io- gurtes adoçados e aromatizados e embutidos. Outras orientações para a adoção de uma alimentação saudável incluem: Utilizar óleos, gorduras, açúcar e sal em pequenas quantidades nas pre- parações culinárias. Manter uma boa ingestão de líquidos ao longo do dia para se manter hidratado. A recomendação deve ser, em média, 35 ml/kg/dia. A hidra- tação deve receber atenção especial em idosos, que podem ter reflexo da sede diminuído e indivíduos acometidos com COVID-19 com sintoma de febre e tosse.3 A desidratação pode tornar as secreções respiratórias mais espessas e dificultar a eliminação pelos pulmões, aumentando o risco de pneumonia. Caldos, sopas, sucos e o consumo de frutas e ver- duras também contribuem com a ingestão hídrica. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 17 Consumir, ao menos, três porções de frutas e duas porções de verduras, de preferência regionais e da safra, além de alimentos integrais. Dar preferência a carnes magras, leite e derivados com baixo teor de gordura e preferir fontes de gorduras boas como oleaginosas e azeite extravirgem. Para lactentes, o aleitamento materno deve ser mantido. Até o momen- to, não há evidências de que o vírus possa ser transmitido pelas mães por meio do leite materno. Desse modo, a Organização Mundial da Saú- de (OMS) e o Ministério da Saúde orientam que a amamentação deve ser mantida, em virtude do seu papel na prevenção de diversas doenças. Ressalta-se que se recomenda amamentar de forma exclusiva até os 06 meses e, a partir dessa idade, introduzir a alimentação complementar. Para mais informações sobre a alimentação de crianças, consulte o Guia alimentar para crianças menores de 02 anos, publicado recentemente pelo Ministério da Saúde.8 Informações adicionais sobre o grau de processamento dos alimentos podem ser consultadas no Guia alimentar para a população brasileira, disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_ali- mentar_populacao_brasileira_2ed.pdf. Controlando o estresse na quarentena por meio da alimentação saudável Para muitos indivíduos, a quarentena está associada à interrupção da rotina de trabalho, que pode resultar em situações emocionais como tédio, estresse e ansiedade, que impactam diretamente no consumo de alimentos com maior ingestão de energia, ricos em gordura e açúcar e TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 18 a chamada comfort food.1 Contudo, esse hábito alimentar rotineiro as- sociado ao sedentarismo pode aumentar o risco de desenvolver obesi- dade, que, além de ser um estado crônico de inflamação, pode levar a complicações como doenças cardíacas, diabetes e doenças pulmonares que demonstraram aumentar o risco de complicações mais graves da COVID-19.9 Nesse sentido, para o manejo dos sintomas emocionais, é importan- te estimular o consumo de alimentos que contenham ou promovam a síntese de serotonina e melatonina a partir do aminoácido triptofano, principalmente durante a refeição do jantar, tais como: kiwi, banana, cacau, sementes como amêndoas, cerejas, aveia e alimentos proteicos, como leite e derivados.9 Evite o consumo de alimentos com alta densi- dade calórica e ricos em açúcar, gordura e sódio, que aumentam o risco de desenvolvimento de comorbidades como obesidade, hipertensão e diabetes, consideradas fatores de risco para COVID-19.10 Qual o papel de nutrientes específicos na prevenção da COVID-19? Além das orientações gerais de alimentação saudável, conhecer o pa- pel que nutrientes específicos e compostos bioativos exercem na saúde imunológica é importante para prevenção da COVID-19. Porém, uma vez que nenhum nutriente isolado ou composto bioativo tem eficácia comprovada em evitar a infecção por SARS-COV2, o ideal é aderir a uma alimentação saudável a fim de fortalecer o sistema imunológico e combater infecções.11 1 Comfort Food: “Comida confortável”, que desperta conforto e bem-estar ao ser consumida. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 19 A má alimentação também é caracterizada pela baixa ingestãode mi- cronutrientes, comumente associada a respostas imunes prejudicadas, particularmente imunidade mediada por células, função de fagócitos, produção de citocinas, resposta secretora de anticorpos, afinidade de anticorpos e sistema de complemento, tornando o indivíduo com maus hábitos alimentares mais suscetível às infecções virais.12 Existem muitos mitos sobre a influência da nutrição no reforço do sistema imunológico. No entanto, vários estudos de revisão publicados em revistas científi- cas apresentam como foco o papel da dieta no sistema imunológico e a atuação em infecções virais respiratórias. Essas informações foram sin- tetizadas a seguir no Quadro 1. Quadro 1 – Principais nutrientes e compostos bioativos com papel no sistema imunológico Nutriente Função Principais Alimentos Fontes por 100g13,14 Recomendação Observação Vitaminas (A, B6, B12, folato, D, E e C) Elementos traços (zinco, cobre, selênio, magnésio e ferro) Desempenham ação antioxidante, combatendo os radicais livres. Es- ses nutrientes têm ação na imunida- de inata e adapta- tiva, prevenindo contra as infecções respiratórias.15 Verduras, frutas e legumes Leite e derivados, Carne, Frango Frutos do mar 5 a 9 porções 1 a 2 porções 1 porção ao dia (carne vermelha 1 a 2x semana) 1x semana15 As necessidades podem estar aumentadas em situações de estresse por doença e/ou poluição.16 A suplementação de vitaminas e minerais quelados deve ser consi- derada em caso de baixa ingestão e em situações de estresse/inflamação acentuados.15 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 20 Vitamina C Comprovada ação na imunidade celular; melhora migração dos neu- trófilos (quimio- taxia), melhora a fagocitose, elimina espécies reativas de oxigênio (ROS). Dá suporte a en- zima caspase para a apoptose celular e inibe a necrose celular, atenuando a resposta infla- matória e dano aos tecidos.16 Acerola - 941,4 mg Caju -219,3mg Kiwi -70,8mg Morango - 63,9mg Laranja - 57,4 mg Pinha - 35,9mg Limão - 38,2mg Maracujá - 19,8mg Crianças - 15 a 25mg Adulto - 45 a 90mg Mulheres - 45 a 75mg Homens - 45 a 90mg Gestantes - 80 a 85mg17 Doses acima de 200mg/ dia tem demonstrado ação na prevenção e redução da severidade de doenças infecciosas respiratórias.15 Selênio Antioxidante essencial para uma resposta imune adequada (inata e adquirida). A deficiência causa redução nos níveis de IgM e IgG, dificultando a quimiotaxia de neutrófilos, produ- ção de anticorpos por linfócitos e aumentando as mutações dos vírus para formas mais virulentas.15 Com- ponente essencial de uma família de selenoproteínas, incluindo a gluta- tiona peroxidase e tioredoxina redu- tase, que atuam na proteção contra a replicação viral.18 Castanha-do-brasil - 1917µg Semente de girassol - 79,3µg Atum - 90µg Farelo de trigo -77µg Fígado - 54,6 µg Sardinha - 52,7µg Salmão - 31,4µg Camarão - 37,5µg Ovo - 31,1µg Crianças: 1-3 anos - 20 µg; 4-8 anos - 30µg; 9-13 anos – 40 µg Adultos e idosos de ambos os sexos - 55µg Gestantes - 60µg - Lactantes 70µg16 Em um estudo realizado na China, identificou-se uma associação positiva significativa entre a taxa de cura e estado nutricional anterior de selênio, demonstrando maior taxa de cura em pessoas que tinham me- lhor status de selênio.19 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 21 Vitamina D Protege o trato respiratório, preservando as junções epiteliais (tight junctions), regulação das cate- licidinas (envolvi- das na eliminação dos vírus).20 Sardinha - 4,8µg Salmão - 10,9 µg Atum - 1,7µg Fígado - 1,2µg Ovos - 2,46µg Leite - 1,3µg Crianças: 0-12 meses - 10 µg; 1-8 anos - 15µg Adultos (ho- mens e mulhe- res) - 15µg Idosos (>70 anos) - 15µg Gestantes e lac- tantes - 15µg21 Meta-análises demos- traram que a suplemen- tação (50µg/dia) reduz doenças respiratórias em crianças e adultos.20 Zinco Importante para imunidade inata e adaptativa. A deficiência de zinco prejudica a formação, ma- turação, ativação dos linfócitos e, em crianças, tende aumentar a suscetibilidade a diarreia e infecções respiratórias.15 Camarão - 1,24mg Ovo - 1,29mg Leite - 1,2mg Amendoim - 3,7mg Castanha-de-caju -5,78mg Crianças: 1-3 anos - 3mg; 4-8 anos - 5mg; 9-13 anos - 8mg Adolescentes: 14-18 anos - 11mg (sexo masculino); 9mg ((sexo feminino Mulheres acima de 19 anos - 8mg Homens acima de 19 anos - 11mg Gestantes - 11 a 13mg22 Autores observaram que a cloroquina e a hidro- xicloroquina, duas das drogas utilizadas no tra- tamento da COVID-19, podem induzir a absor- ção de zinco no citosol da célula, possibilitando a inibição da RNA polimerase dependente de RNA e, finalmente, causando a interrupção da replicação do coro- navírus no hospedeiro. Sendo assim, sugere-se ensaios clínicos baseados em uma administração sinérgica de suplemento de zinco com cloroquina ou hidroxicloroquina contra o novo vírus SARS-CoV-2.23 Flavonoides Reduzem a infla- mação e a resposta imune, bloquean- do a transloca- ção nuclear de NF-Κb.11 Vinho tinto, laran- jas, frutas verme- lhas e legumes Não definido Polifenóis Chá verde, brócolis, maçã Não definido 3 Ômega Salmão, sardinha, atum, nozes, linha- ça, chia Ingestão diária de 250 mg / dia de EPA + DHA Fonte: Messina et al. (2020),11 USDA. (2020),15 Calder et al. (2020),16 Gombart et al. (2020),17 Institute of Medicine (2000),18 Guillin et al. (2019),19 Zhang et al. (2020),20 Martineau et al. (2017),21 Institute of Medicine (2002),22 Institute of Medicine (2011),22 Shittu et al. (2020)23 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 22 Considerações finais A nutrição saudável se torna uma prioridade no momento atual tanto para a população sob estresse devido a quarentena, assim como também, para as pessoas que foram afetadas pela COVID-19 com sintomatologia leve e/ou assintomáticas. Uma alimentação equilibrada em nutrients, aliada a adequada hidratação e horas de sono, auxiliam no fortaleci- mento da imunidade e dá ao organismo maiores chances de lutar e se proteger contra o vírus. Entretanto, ainda não é possível comprovar que exista um alimento específico ou uma conduta nutricional que combata a contaminação, mas é de extrema importância o autocuidado e a ma- nutenção do estado de saúde saudável. Referências 1. Lipsitch M, Phill, Swerdlow MD, Finelli L. Defining the epidemiology of Covid-19 —studies needed. N Engl J Med [Internet]. 2020 Mar 26 [cited 2020 May];382:1194-96. doi: 10.1056/NEJMp2002125 2. 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Dietary reference intakes for vitamin C, vita- min E, selenium, and carotenoids. Washington, DC: National Acad- emy Press; 2000 18. Guillin OM, Vindry C, Ohlmann T Chavatte L. Selenium, Selenopro- teins and Viral Infection. Nutrients [Internet]. 2019 Sep 4 [cited 2020 May];11(9). doi: 10.3390/nu11092101 19. Zhang J, Taylor EW, Bennett K, Saad R, Rayman MP. Association be- tween regional selenium status and reported outcome of COVID-19 cases in China. Am J Clin Nutr [Internet]. 2020 Apr 28 [cited 2020 May]. doi: 10.1093/ajcn/nqaa095 20. Martineau AR, Jolliffe DA, Hooper RL, et al. Vitamin D supplemen- tation to prevent acute respiratory tract infections: Systematic review and meta-analysis of individual participant data. BMJ [Internet]. 2017 Feb 15 [cited 2020 May];356:6583. doi: 10.1136/bmj.i6583 21. Institute of Medicine. Dietary Reference Intakes for Calcium, and Vitamin D. Washington, DC: National Academies Press; 2011. 22. Institute of Medicine. 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Como medida preventi- va para evitar a disseminação do vírus, apoiada pelo Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), o nutricionista deve coletar as informações para triagem, avaliação e monitoramento nutricional mediante telenu- trição (áudio e/ou vídeo), coleta de dados secundários nos prontuários ou por intermédio de membros da equipe multiprofissional que já este- jam em contato direto com o paciente. Entretanto, havendo necessidade da visita presencial, seja na enfermaria ou na UTI, o nutricionista deve usar os equipamentos de proteção individual (EPIs) e seguir os demais regimentos internos do hospital quanto ao controle de infecções, em conformidade com as recomendações do Ministério da Saúde (MS) e da Organização Mundial de Saúde (OMS).1 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 27 Pacientes em enfermaria Os pacientes internados em enfermaria são beneficiados com o cuidado nutricional integral envolvendo triagem, avaliação, terapia e monitora- mento nutricional. A TN do paciente internado em enfermaria objetiva melhorar os desfechos clínicos, evitando o agravamento do quadro e a necessidade de cuidados intensivos. Nesse momento, é importante con- siderar que todos os pacientes com suspeita de COVID-19 são prioritá- rios, especialmente aqueles do grupo de risco e/ou com comorbidades, que podem potencializar o quadro dessa infeção. Recomenda-se que cada instituição hospitalar estabeleça o seu protocolo, e siga-o de forma que a recuperação e a alta hospitalar do paciente aconteçam o mais bre- vemente possível. (Fluxograma 1). Triagem e Avaliação Nutricional A triagem nutricional deve ser feita em todos os pacientes admitidos com suspeita ou diagnóstico de COVID-19. Segundo Piovacari et al. (2020),1 a presença de risco nutricional está presente nos pacientes que apresentarem pelo menos um dos fatores descritos no Quadro 1. Os pacientes que não apresentarem risco nutricional devem ser reavaliados a cada 48h. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 28 Quadro 1 – Principais fatores de risco que devem ser avaliados em pacientes com suspeita ou diagnóstico de COVID-19 Risco Nutricional (considerar pelo menos 1 critério): • Idosos ≥65 anos • Adulto com IMC < 20 kg/m2 • Risco elevado ou presença de lesão por pressão • Pacientes imunossuprimidos • Pacientes inapetentes • Diarreia persistente • Histórico de perda de peso • Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma, pneumonias estruturais • Cardiopatias, incluindo hipertensão arterial • Diabetes insulinodependente • Insuficiência renal • Gestante Fonte: Piovacari et al. (2020)1 Outros instrumentos de triagem nutricional (MUST e NRS-2002) e de avaliação do estado nutricional (ASG e MAN), já validados e utilizados na prática clínica, podem ser incorporados no protocolo de atendimento nutricional de pacientes hospitalizados com suspeita ou diagnóstico de COVID2.19- Entretanto, detectando o risco nutricional nesse paciente, mediante a presença de pelo menos um fator de risco (Quadro 1), já é im- portante verificar se há ou não presença de desnutrição. Nesse contexto, o TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 29 consenso para diagnosticar a desnutrição proposto pela Global Leadership Initiative on Malnutrition (GLIM) vem sendo recomendado (Quadro 2).2,3 Segundo esse consenso, o diagnóstico de desnutrição requer a presença de pelo menos 1 critériofenotípico e 1 critério etiológico.4 2 Quadro 2 – Critérios fenotípicos e etiológicos para o diagnóstico de desnutrição Critérios Fenotípicos (%) Perda de peso > 5% nos últimos 6 meses OU > 10% em mais de 6 meses Baixo Índice de Massa Corporal (Kg/m2) < 18,5 se < 70 anos OU < 22 se > 70 anos Redução da massa muscular Redução avaliada por métodos validados de composição corporal (DXA, BIA, TC, RM) Critérios Etiológicos Redução da ingestão alimentar ou prejuízo da absorção de nutrientes. Consumo de 50% das necessidades energéticas por > 1 semana ou qualquer redução da ingestão alimentar por > 2 semanas, ou qualquer condição gastrointestinal que afete a digestão dos alimentos e a absorção dos nutrientes* Inflamação Doença aguda/trauma ou doença crônica associada** Fonte: Cederholm et al. (2019),4 Barazzoni et al. (2020)2 *Considerar condições de disfagia, náuseas, vômitos, diarreia, constipação, dor abdominal e de- sordens disabsortivas (síndrome do intestino curto, insuficiência pancreática, pós-cirurgia bariá- trica etc.). **Considerar condições de grandes infecções, queimaduras, traumas, câncer, doença pulmonar obstrutiva crônica, inflamação crônica. A COVID-19, devido à sua gravidade, deve ser considerada como critério etiológico para o diagnóstico de desnutrição. DXA: densitometria por emissão de raios X de dupla energia; BIA: bioimpedância; TC: tomografia computadorizada; RM: ressonância magnética. 2 MUST (Malnutrition Universal Screening Tool): ferramenta de rastreio em cinco passos que identifica adultos que sofram de malnutrição, ou seja, que estejam em risco de desnutrição ou que sofram de obesidade. NRS-2002 (Nutritional Risk Screening): método de triagem nutricional que detecta o risco de desenvolver desnutrição, durante a internação hospitalar. ASG (Avaliação Subje- tiva Global): método que avalia o estado nutricional a partir da combinação de fatores como perda de peso, alterações na ingestão alimentar, sintomas gastrintestinais, alterações funcionais e exame físico do paciente. MAN (Mini Avaliação Nutricional): método validado e considerado padrão ouro para avaliar o estado nutricional de idosos. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 30 Terapia Nutricional O objetivo da Terapia Nutricional (TN) do paciente com risco ou diag- nóstico de COVID-19 é oferecer um aporte adequado de energia, pro- teína e micronutrientes, visando a prevenção da desnutrição e o fortale- cimento do sistema imunológico. Energia e macronutrientes Conforme parecer da Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Ente- ral (BRASPEN) e da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasilei- ra), as recomendações de energia e proteína sugeridas na fase aguda da doença estão descritas a seguir (Quadro 3) e devem ser instituídas grada- tivamente, conforme tolerância. Nesse parecer, não se recomenda o uso da calorimetria indireta, mesmo quando disponível, devido ao risco de disseminação da doença. Assim, as fórmulas de bolso são as escolhidas para o cálculo das necessidades de energia e proteína desses pacientes. Quadro 3 – Recomendações de energia e proteínas para pa- cientes hospitalizados com risco ou diagnóstico de COVID-19 Recomendação Observações Energia 15 a 25 kcal/kg/dia Sugere-se iniciar aporte calórico mais baixo e progredir para 25kcal/kg/dia, após o quarto dia de internação daqueles pacientes em recuperação. Proteína 1,5 a 2,0 g/kg/dia Essa recomendação é válida mesmo para pacientes com disfunção renal. Sugere-se progressão da oferta proteica: Dias 1 a 2: < 0,8 g/kg/dia Dias 3 a 5: 0,8 a 1,2 g/kg/dia Dia 5 em diante: > 1,2 g/kg/dia Fonte: Campos et al. (2020)5 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 31 Em relação aos pacientes idosos e polimórbidos (com duas ou mais co- morbidades), infectados com o SARS-CoV-2, a Sociedade Europeia de Nutrição Parenteral e Enteral (ESPEN) sugere recomendações de ener- gia e proteínas específicas (Quadro 4). Apesar da ESPEN endossar o uso da calorimetria indireta para determinar as necessidades energé- ticas desses pacientes, também apoia o uso de fórmulas de bolso. As recomendações de energia e proteínas nesse grupo de pacientes estão descritas a seguir (Quadro 4). As recomendações de gorduras e carboi- dratos devem ser ajustadas às necessidades de energia, considerando uma proporção de energia de gorduras e carboidratos entre 30:70, em indivíduos sem deficiência respiratória.2 Quadro 4 – Recomendações de energia e proteína para pacientes idosos e polimórbidos hospitalizados infectados com o SARS-CoV-2 População Recomendação Energia Pacientes idosos 30 kcal/kg/dia* Pacientes idosos e polimórbidos 27 kcal/kg/dia Pacientes polimórbidos e com muito baixo peso 30 kcal/kg/dia** Proteína Pacientes idosos 1 g/kg/dia* Pacientes polimórbidos ≥1 g/kg/dia*** Fonte: Barazzoni et al. (2020)2 * Esse valor deve ser individual e ajustado em relação ao estado nutricional, nível de atividade física, estado da doença e tolerância individual. **A meta de 30 kcal/kg/dia deve ser alcançada de forma gradativa e com cautela, pois essa população tem alto risco para síndrome de realimentação. *** O maior aporte proteico visa prevenir a perda de peso, reduzir o risco de complicações e de readmissão hospitalar e melhorar o estado funcional. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 32 Micronutrientes Uma das condutas nutricionais para manejo de infecções virais é a su- plementação e/ou aporte adequado de vitaminas e minerais a fim de reduzir os efeitos nocivos da doença ao organismo. Os micronutrientes atuam sinergicamente e desempenham papéis em todos os estágios da resposta imunológica. Nesse contexto, merecem destaque as vitaminas A, D, C, E, B6, B12 e folato, além dos minerais zinco, ferro, cobre, selê- nio e magnésio.6 Desse modo, sugere-se que a oferta de doses diárias de vitaminas e minerais (RDAs) seja garantida aos pacientes hospitalizados em risco ou diagnosticados com o COVID-19, com a finalidade de auxi- liar a defesa nutricional geral contra infecções.2 Necessidades hídricas A hidratação desses pacientes deve ser mantida e avaliada. Deve-se ga- rantir um aporte hídrico de 30 a 40 ml/kg ou 2,2 l/dia para mulheres e 3 l/dia para homens.3 Suplementos orais Os suplementos nutricionais são indicados para pacientes desnutridos ou em risco de desnutrição, e quando a ingestão energética estimada for inferior a 60-70% dos requerimentos energéticos.3,5 Nos pacientes infectados que estão em quadro de risco ou desnutrição, sendo idosos ou polimórbidos, a utilização desses suplementos deve ser precoce, nas primeiras 24/48 horas. Ademais, esses suplementos devem fornecer, pelo menos, 400 kcal/dia, incluindo 30 g de proteína/dia e devem ser mantidos pelo período mínimo de um mês.2,3 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 33 Probióticos Embora se conheça a importante relação entre a microbiota intestinal e outros sistemas orgânicos, e já tenha sido notificada disbiose intesti- nal em pacientes infectados por COVID-19, ainda há poucas evidên- cias que suportem o uso de probióticos nesses pacientes. O uso cego de probióticos convencionais para COVID-19 não é recomendado até que se tenha um entendimento mais aprofundado da patogênese da SARS- CoV-2 e seu efeito na microbiota intestinal.7 Via de alimentação A via oral é a preferencial e deve ser utilizada em pacientes não graves. A nutrição enteral (NE) é indicada em pacientes que não estão atingindo seus requerimentos energéticos via oral.5 São exemplos de indicação da NE, pacientes com ingestão energética inferior a %50 dos requerimentos energéticos por mais de uma semana ou casos em que se espera que a ingestão oral adequada seja impossível por mais de três dias.2 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO EREABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 34 Fluxograma 1 – Protocolo nutricional de pacientes em enfer- maria, com risco ou diagnosticados com COVID-19 Fonte: Adaptado Piovacari et al. (2020),1 Barazzoni et al. (2020),2 Bermúdez et al. (2020),3 Ce- derholm et al. (2019),4 Campos et al. (2020)5 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 35 Pacientes em Unidade de Terapia Intensiva A insuficiência respiratória aguda é uma das complicações mais graves de pacientes infectados pelo vírus SARS-CoV-2, causador da doença COVID-19. Atingindo esse quadro grave, o paciente infectado preci- sa de cuidados intensivos. Na UTI, o suporte nutricional adequado é elemento coterapêutico essencial para recuperação do paciente com COVID-19. Na verdade, o manejo nutricional do paciente de UTI com COVID-19 é, em princípio, muito semelhante a qualquer outro pacien- te de UTI admitido com comprometimento pulmonar. Dada a falta de evidências diretas em pacientes com COVID-19, especialmente aqueles com choque, muitas dessas recomendações são baseadas em evidências oriunda de pacientes críticos em geral e de pacientes com sepse e sín- drome do desconforto respiratório agudo (SDRA).8 Triagem e Avaliação Nutricional Os fatores que levam ao risco nutricional (Quadro 1) e o consenso da GLIM para diagnóstico da desnutrição (Quadro 2), comentados ante- riormente, podem ser aplicáveis aos pacientes em UTI. Além disso, o NUTRIC Score é uma alternativa para verificar o risco de desnutrição em pacientes críticos.2,9 Alguns parâmetros bioquímicos, como albumi- na e a proteína C reativa, parecem estar associados ao prognóstico dos pacientes infectados e também podem ser monitorados nesses pacientes (Fluxograma 2).10 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 36 Terapia Nutricional Conforme a diretriz da ESPEN, o suporte nutricional de pacientes com COVID-19 em UTI, dependerá do suporte ventilatório alocado ao pa- ciente (Quadro 5).2 Quadro 5 – Suporte nutricional do paciente com COVID-19 em UTI, conforme suporte ventilatório Enfermaria UTI Dia 1 a 2 UTI Dia 2 em diante Alta da UTI Oxigenoterapia e ventilação mecânica Nenhuma ou cânula nasal de alto fluxo CNAF, acompa- nhada de VM VM Possível extubação e transferência para enfermaria Disfunção orgânica Pneumonia bilateral; trom- bopenia Deterioração do estado respirató- rio; SDRA; possível choque Possível disfunção de múltiplos órgãos Recuperação progressiva após extubação Suporte nutri- cional Triagem nutri- cional; NO/SO; se necessário, NE ou NP Definir meta de energia e proteína. Em caso de CNAF ou VNI, administrar NO ou NE; se não for possí- vel, NP Preferir NE precoce; proteína e mobilização Avaliar presença de disfagia e, se possí- vel, indicar NO; se não for possível, NE ou NP; aumentar o aporte proteico e estimu- lar mobilização/ exercício Fonte: Barazzoni et al. (2020)2 CNAF: cânula nasal de alto fluxo; NO: Nutrição Oral; SO: Suplemento Oral; NE: nutrição enteral; NP: nutrição parenteral; VM: ventilação mecânica; VNI: ventilação não invasiva; SDRA: síndrome do desconforto respiratório agudo. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 37 Pré-intubação Pacientes com COVID-19 em UTI, não intubados, que não estejam atingindo a meta de energia pela via oral, devem receber suplementos nutricionais orais. Se ainda não atingirem essa meta, considerar a NE. Havendo limitações para via enteral, aconselha-se a nutrição parenteral periférica para auxiliar o alcance da meta energética e proteica. Quando a NE precisa ser iniciada em pacientes com ventilação não in- vasiva (VNI), a colocação da sonda nasogástrica pode ocasionar vaza- mento de ar e/ou dilatar o estômago. Em ambos os casos, pode haver comprometimento da eficácia da VNI. Esses fatos geram uma imple- mentação inadequada da NE, sobretudo nas primeiras 48h na UTI, po- dendo causar inanição do paciente, desnutrição e suas complicações. A nutrição parenteral periférica pode ser considerada nessas condições.2 É de suma importância avaliar a ingestão energético-proteica de pacientes oxigenados pela cânula nasal que estão retomando a dieta oral. Um aporte insuficiente de energia e proteínas nesses pacientes aumenta o risco de desnutrição e suas complicações. Nesses casos, considerar a possibilidade da suplementação nutricional oral.2 Ventilação mecânica e intubação Quando a cânula nasal de alto fluxo e a VNI não tiverem êxito, o pacien- te precisará ser intubado e receber a ventilação mecânica. A prevenção da desnutrição e a manutenção do estado nutricional desses pacientes deverá ser foco da terapia nutricional. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 38 Quadro 6 – Recomendações de energia e proteína para pacientes com COVID-19 em UTI, entubados e em ventilação mecânica Recomendações Observações Energia A alimentação deve ser iniciada com baixa dose de EN, definida como hipocalórica ou trófica, avançando gradativamente até a dose completa durante a primeira semana de doença crítica, para atingir a meta de energia de 15-20 kcal/kg peso atual/dia (≈70- 80% VCT).8 Embora os requerimentos energéticos por calorimetria sejam mais fidedig- nos, as fórmulas de bolso são uma alternativa prudente para reduzir o risco de disseminação do vírus.8 Se o paciente fizer uso de propofol, lembrar de contabilizar as calorias extras que estão sendo ofertadas me- diante esse anestésico (1,1kcal/mL).8 Proteína A meta de proteína é de 1,2 a 2,0 g/kg peso atual/dia.8 Durante a fase crítica, a meta de 1,3 g/kg/dia deve ser atingida de forma gradativa.2 Em pacientes com obesidade, usar 1,3 g/kg peso ajustado/dia.2 Uma fórmula enteral isosmótica polimérica hiperproteica (> 20% de proteína) deve ser usada na fase aguda da doença.2 O peso ajustado em pacientes obesos pode ser calculado da seguinte forma:2 PA = Peso ideal + (Peso atual – Peso ideal) x 0.33 Fonte: Martindale et al. (2020),8 Barazzoni et al. (2020)2 Recomenda-se a instituição da NE precoce, nas primeiras 12 horas, prefe- rencialmente pela via nasogástrica. Um agente procinético pode ser usado para aumentar a motilidade e acelerar o esvaziamento gástrico. Isso não deve ser uma contraindicação para uso da NE.2 Caso haja risco de bron- coaspiração, o posicionamento pós-pilórico da sonda é recomendado.3 No entanto, deve-se ter cautela na técnica de colocação da sonda pós-pilórica, pois o uso de endoscopia e orientação fluoroscópica pode violar o isola- mento aéreo e trazer risco de contaminação aos profissionais de saúde.8 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 39 Tanto as diretrizes da Sociedade Americana de Nutrição Parenteral e Enteral (ASPEN) como da ESPEN sugerem fortemente a administração da NE de forma contínua e não em bolus. Evidências mostram que a administração contínua está associada à redução da diarreia e, também, diminui a exposição de membros da equipe multiprofissional junto aos pacientes. No caso de escassez de bombas de infusão, deve-se priorizar os pacientes com sonda pós-pilórica ou com sintomas de intolerância. A administração da NE por gravidade é uma alternativa, caso não haja bomba de infusão para todos os pacientes.8 A NE deve ser contraindicada tanto na presença de choque não con- trolado, instabilidade hemodinâmica e baixa perfusão tecidual, como no caso de hipoxemia não controlada, hipercapnia ou acidose. Porém, quando houver um período de estabilização, a NE precoce trófica já pode ser instituída. Esse período de estabilização é verificado quando há controle do choque com fluidos vasopressores ou inotrópicos (sem deixar de observar se há sinais de isquemia intestinal) e em pacientes com hipoxemia estável e compensados.2 A posição prona é uma manobrautilizada para combater a hipoxe- mia nos pacientes com SDRA. É uma técnica barata para melhorar a oxigenação e aumentar a depuração da secreção brônquica. Tem sido associada à diminuição da lesão pulmonar induzida pela ventilação e ao aumento da sobrevida em pacientes com SDRA.8 Mesmo quando os pacientes estabilizados estão em decúbito ventral (posição prona), a NE trófica pode ser iniciada, seguindo meta de 20kcal/kg/dia, ofertando de 50 a 70% VCT no dia 2, e aumentando essa oferta para 80 a 100% no dia 4. A meta proteica de 1,3 kg/g/dia deve ser atingida entre os dias 3 e TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 40 5. Caso seja observado resíduo gástrico acima de 500mL, o posiciona- mento da sonda deve ser intestinal (pós-pilórico). Havendo intolerância à NE, considerar a nutrição parenteral. A glicose sanguínea deve ser mantida entre 6 e 8 mmol/L (108 a 144mg/dL), juntamente com o mo- nitoramento de triglicerídeos e eletrólitos no sangue, incluindo fosfato, potássio e magnésio.2 Quanto aos pacientes com COVID-19 internados na UTI que não tole- ram a evolução da NE durante a primeira semana na UTI, deve-se avaliar a possibilidade de introdução da nutrição parenteral, após todas as estra- tégias para maximizar a tolerância à NE terem sido implementadas.2,3 A nutrição parenteral (NP) deve ser iniciada logo que possível em pa- cientes de alto risco, ou seja, aqueles com sepse ou choque que requerem altas doses de medicamentos ou uma combinação de vasopressores, ou quando for necessário suporte respiratório de alta pressão. Nos casos de pacientes com COVID-19, a nutrição parenteral precoce subverterá as preocupações com o intestino isquêmico e reduzirá a transmissão de ae- rossóis aos profissionais de saúde, por evitar a colocação e a manutenção de uma sonda de acesso entérico.8 Pacientes idosos polimórbidos, com quadros graves de COVID-19, po- dem apresentar um risco maior de apresentar a síndrome de realimen- tação. Portanto, é importante identificar desnutrição preexistente ou outros fatores de risco para a síndrome de realimentação em pacientes críticos. Se houver risco de síndrome de realimentação, recomenda-se iniciar a alimentação com aproximadamente 25% da meta calórica, em pacientes alimentados com NE ou parenteral, combinado com o moni- toramento frequente das concentrações séricas de fosfato, magnésio e TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 41 potássio, à medida que as calorias aumentam lentamente. As primeiras 72 horas de alimentação são o período de maior risco.8 Antes mesmo dos sintomas respiratórios, alguns pacientes com CO- VID-19 podem apresentar inicialmente diarreia, náusea, vômito, des- conforto abdominal e, em alguns casos, sangramento gastrointestinal, cujas evidências sugerem maior gravidade da doença.11 Estudo aponta a presença de componentes virais de RNA em amostras fecais e respirató- rias desses pacientes, e o envolvimento gastrointestinal na COVID-19 foi confirmado pela presença da proteína ACE2 (receptor celular para SARS- CoV-2) encontrada nas células glandulares da mucosa esofágica, gástrica, duodenal e retal.12 Sendo assim, embora o mecanismo exato dos sintomas gastrointestinais induzidos por COVID-19 ainda não esteja totalmente esclarecido, nos casos de sintomas gastrointestinais graves ou incoercí- veis, recomenda-se o uso precoce da nutrição parenteral, com a transição para NE mediante o desaparecimento dos sintomas gastrointestinais.7 Pós-ventilação mecânica e disfagia De maneira geral, após a extubação, os pacientes tendem a apresentar disfagia, podendo limitar consideravelmente a ingestão de nutrientes por via oral, mesmo diante da melhora da condição clínica. De forma semelhante, a maioria dos pacientes submetidos à traqueostomia pode retornar à ingestão oral após esse procedimento, mas a cânula prolonga- da na traqueia retarda a ingestão oral adequada de nutrientes. A disfagia pós-extubação é comum em idosos e está associada à pneumonia, rein- tubação e mortalidade hospitalar. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 42 É recomendado segundo Barazzoni et al. (2020):2 • Orientar a modificação da textura dos alimentos, facilitando a deglutição e a aceitação das refeições; • Administrar a NE quando a deglutição não for segura. Quando houver elevado risco de broncoaspiração, optar pelo posiciona- mento pós-pilórico da sonda de alimentação; • Caso a NE não seja possível, recomenda-se nutrição parenteral temporária, durante treinamento da deglutição com a sonda nasoenteral removida; • A nutrição parenteral não foi muito estudada nessa população, porém pode ser considerada, caso as metas de ingestão energético -proteica não estejam sendo alcançadas. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 43 Fluxograma 2 – Protocolo nutricional de pacientes com COVID-19, em UTI Fonte: Adaptado Barazzoni et al. (2020),2 Bermúdez et al. (2020),3 Martindale et al. (2020),8 Heyland et al. (2011)9 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 44 Considerações finais Apesar do grande desafio que enfrentamos no combate ao COVID-19, é necessário garantir a qualidade da assistência multidisciplinar à saúde, de maneira que esta ocorra de forma sólida e coesa. Considerando que a manutenção/recuperação do estado nutricional do paciente está asso- ciada a menores complicações e melhores desfechos clínicos, a TN deve ser valorizada como parte integrante dos protocolos de cuidado ao pa- ciente hospitalizado com suspeita ou diagnóstico de COVID-19. Além disso, o profissional nutricionista deve valorizar o desenvolvimento e a implementação de protocolos nutricionais atualizados e fundamen- tados nas principais diretrizes clínicas que apoiam recomendações ba- seadas em evidências. Esses instrumentos devem estar presentes como documento orientador da rotina dos nutricionistas clínicos e membros da equipe multidisciplinar de terapia nutricional (EMTN), sempre vi- sando à recuperação do paciente. Referências 1. Piovacari AMF, et al. Fluxo de assistência nutricional para pacien- tes admitidos com COVID-19 e SCOVID-19 em unidade hospitalar. BRASPEN J [Internet]. 2020 [cited 2020 May];35(1):6-8. Available from: https://www.braspen.org/post/fluxo-de-assist%C3%AAn- cia-nutricional-para-pacientes-com-covd-19. 2. Barazzoni R, et al. ESPEN expert statements and practical gui- dance for nutritional management of individuals with SARS- CoV-2 infection. Clin Nutr [Internet]. 2020 Mar 31 [cited 2020 May]:S0261-5614(20):30140-0. doi: 10.1016/j.clnu.2020.03.022 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 45 3. Bermúdez C, et al. 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Essas condições exigem in- tervenções e cuidados de reabilitação com abordagem multidisciplinar a longo prazo.2,3,4 Diante da realidade de pacientes com algum tipo de incapacidade rela- cionada ao COVID-19, a atuação imediata dos profissionais de saúde é crucial para ajudar a restabelecer a melhora do quadro3. Neste sentido, o nutricionista pode auxiliar na terapêutica das alterações clínicas pós COVID-19, com condutas dietoterápicas específicas considerando as- pectos nutricionais e socioeconômicos do indivíduo. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 48 Principais alterações clínicas de impacto nutricional no pós-COVID-19 Alterações clínicas como ansiedade, distúrbios do sono, estomatites, al- terações do peso corporal e sensoriais têm sido associadas a mudanças no estado nutricional. Essas mudanças produzem um impacto nutri- cional tanto em pessoas sintomáticas quanto nas assintomáticas para COVID-19. A seguir será feita uma abordagem especificando como alimentos e componentes alimentares podem atenuar, ou até mesmo reverter, as principais alterações clínicas citadas. Ansiedade Os problemas de saúde mental estão aumentando durante a pandemia do COVID-19. Entre os casos diagnosticados, destaca-se a ansiedade. Baixas concentrações de serotonina no cérebro podem contribuir para o aumen- to da ansiedade e depressão. No aspecto nutricional, alimentos fontes de triptofano, que promove a síntese de serotonina e melatonina, desempe- nham papel importante na regulação do humor e da ansiedade.5 Distúrbios do sono O sono é uma atividade biológica fundamental na consolidação de diversas funções corporais. Portanto, a desregulação nos períodos de sono e vigília pode acarretar alterações significativas no funcionamen- to físico, ocupacional, cognitivo e social do indivíduo, comprometen- do substancialmente a qualidade de vida6. Em relação à nutrição, a má qualidade do sono está associada à alta ingestão de bebidas açucaradas e de cafeína.7,8 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 49 Alterações do peso corporal A obesidade é um fator de risco para o agravamento da COVID-19. Contudo, essa doença está relacionada com flutuações no peso corporal. As mudanças no peso podem refletir perda ou ganho de massa corporal ou de fluidos. A abordagem desse paciente fundamenta-se, sempre que possível, na correção dos fatores causais. É necessária a atenção precoce à nutrição e à prevenção da perda de peso durante períodos de estresse ou trauma agudo9. Em infecções virais, a inapetência e, consequente- mente, o baixo consumo de alimentos é um dos fatores principais da perda de peso.10 Por outro lado, podem ser observadas situações rela- cionadas ao ganho de peso persistente decorrente do período de distan- ciamento social quando fatores como ansiedade, distúrbios do sono e inatividade física estiveram presentes.2 Alterações de olfato e paladar Os distúrbios da quimiossensibilidade, olfação e gustação são sintomas de algumas infecções virais; por isso, o tratamento depende da sua cau- sa. A hidratação oral e o estímulo sensorial são importantes modali- dades de tratamento.11,12 A perda ou redução do olfato e, consequen- temente, do paladar, são achados clínicos recorrentes na infecção por SARS-COV-2. Poderá haver um aumento de pacientes com perda pós- viral persistente como resultado dessa doença.13 Estomatite e/ou fissuras orais Caracterizadas pelo aparecimento de lesões ulcerativas em qualquer re- gião da mucosa jugal. Sua etiologia é multifatorial, estando associadas às causas sistêmicas, como as infecções e as doenças imuno-hematológicas.14 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 50 Cansaço respiratório A síndrome respiratória aguda causada pela infecção por SARS-CoV-2 pode ser caracterizada por doenças respiratórias leves ou pneumonia mo- derada a grave, que pode causar Síndrome da Angústia Respiratória Agu- da (SARA) e falência de múltiplos órgãos. Além da reabilitação neuro- motora e do suporte neuropsicológico, a terapêutica nutricional também é um aspecto relevante na reabilitação de indivíduos com esse sintoma.4 Disfagia pós-intubação orotraqueal A intubação orotraqueal é utilizada em pacientes que necessitam de auxílio para a manutenção da respiração. Porém, apesar dos evidentes benefícios, quando o tempo de utilização é prolongado, pode propor- cionar lesões na cavidade oral, faringe e laringe. Essas lesões causam diminuição da motricidade e da sensibilidade local e comprometem o processo da deglutição, determinando as disfagias orofaríngeas. Sendo assim, a introdução da alimentação por via oral, para os pacientes que fizeram uso de tubo orotraqueal, deve ser cuidadosa a fim de garantir a nutrição adequada e evitar complicações respiratórias.15,16 Condutas nutricionais para os principais sinais e sintomas de impacto nutricional no pós-COVID-19 O coronavírus é um agente etiológico de infecções graves em animais e humanos, que pode causar desordem não apenas no trato respiratório mas também no trato digestivo e sistemas associados.17 Suas manifesta- ções sintomáticas são bem particulares e podem se apresentar de ma- neira diferente nos indivíduos acometidos pela doença. Abaixo, apre- sentamos os principais sinais e sintomas do COVID-19, que algumas vezes permanecem após a doença, e respectivas condutas nutricionais. TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 51 Fonte: Adaptado Lindseth et al. (2015),5 Brasil (2015),19 Dutheil et al. (2016),20 Ramón-Arbués et al. (2019)21e Muscogiuri et al. (2020)22 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 52 Receitas que auxiliarão na reabilitação, relacionada as altera- ções clínicas de impacto nutricional, no pós-COVID-19 Sabendo da importância dos alimentos e nutrientes no processo de rea- bilitação, sugerimos receitas específicas com o intuito de oferecer op- ções nutritivas, saborosas e práticas, apoiando e estimulando práticas alimentares adequadas, voltadas às principais alterações clínicas de im- pacto nutricional após o COVID-19. Ansiedade Bolo integral de banana com mel e oleaginosas Ingredientes: 3 ovos 1 pote de iogurte natural desnatado ½ xícara de chá de azeite ou óleo da sua preferência ½ xícara de chá de mel 2 xícaras de chá de farinha de aveia 1 colher de sopa de fermento em pó 2 bananas nanicas em cubos pequenos 50g de oleaginosas picadas (nozes, castanha-do-brasil, castanha-de-caju) Modo de preparo: Bata no liquidificador os ovos, o iogurte, o óleo, o mel e a farinha de aveia. Em uma vasilha, adicione essa mistura, acrescente as bananas picadas e, por último, o fermento em pó. Despeje a mistura em uma forma untada e enfarinhada. Adicione as oleaginosas picadas. Leve ao forno médio preaquecido (180º C), por cerca de 30 minutos ou até que, colocando um palito, ele saia seco. Distúrbios do sono Suco calmante Ingredientes: 5 folhas de alface 1 colher de sopa de salsa Polpa de 2 maracujás Modo de preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador e sirva. Rendimento: 1 porção TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 53 Perda de peso Bolo de abacate Ingredientes: 4 ovos 1 xícara de chá de leite de coco 1 xícara de chá de açúcar 1 colher de chá de manteiga 1 abacate médio 2 xícaras de farinha de arroz ou de trigo 3 colheres de sopa de semente de chia 1 colher de sopa de fermento Modo de Preparo: Pré-aqueça o forno. Coloque os ovos, o leite de coco, o açú- car, a manteiga e o abacate no liquidificador e bata bem até formar um creme. Em uma vasilha misture os secos, a farinha de arroz, a chia e o fermento, adicionando o creme batido e mexendo bem. Colocar esta mistura em uma forma untada e enfarinhada e levar ao forno a 150° C, por aproximadamente 40 a 50 minutos. Alterações de olfato e paladar Bolinho de feijão Ingredientes: 190g (1 xícara de chá) de feijão-branco cozido com temperos amassados – pode substituí-lo por feijão-fradinho ou carioca 50g (½ xícara de chá) de cenoura crua ralada 2 colheres de azeite de oliva 2 colheres de amido de milho ou farinha de trigo Temperos: salsa, orégano, semente de coentro moída, pimenta-do-reino e sal Modo de Preparo: Misture bem todos os ingredientes, modele com uma colher na mão e coloque em uma frigideira antiaderente, em fogo baixo com a frigideira tampada. Rendimento: 28 bolinhos TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 54 Estomatite e/ ou fissuras orais Creme de laranja e cenoura Ingredientes: ½ xícara de chá de cenoura picada ½ xícara de chá de água 1 xícara de chá de suco de laranja 2 colheres de sopa de maisena 2 colheres de sopa de açúcar Modo de preparo: Bata no liquidificador a cenoura com a água e acrescente o suco de laranja. Junte a maisena e o açúcar, mexa bem e leve ao fogo para engrossar. Cozinhe até desprender do fundo e sirva gelado. Rendimento: 1 porção Cansaço respiratório Suco antioxidante Ingredientes: 200ml de água mineral Suco de 1 laranja Duas xícaras de chá de frutas vermelhas (inclua a acerola, fruta regional) 1 rodela de gengibre Duas folhas de hortelã 1 colher de oleaginosas de sua preferência, picadas/trituradas Modo de preparo: Bata todos os ingredientes no liquidificador. Rendimento: 1 porção Disfagia pós intubação orotraqueal Purê de abóbora Ingredientes: 2 colheres de sopa de óleo ou azeite de oliva Sal à gosto 1 dente de alho amassado 2 xícaras de abóbora cozida e amassada 1 xícara de leite Modo de preparo: Levar o legume amassado para refogar em uma panela com o óleo, o sal e o alho. Deixar refogar e posteriormente acrescentar o leite aos poucos até que se obtenha a consistência desejada *Se necessário, acrescente na preparação o espessante indicado pelo fonoau- diólogo ou nutricionista. Dica: Pode ser feito com qualquer legume. Rendimento: 3 porções Rendimento Fonte: ASBRAN (2020),23 Brasil (2016)24 TERAPIA NUTRICIONAL PARA PREVENÇÃO, TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE INDIVÍDUOS COM COVID-19 55 Considerações finais Atualmente, não existem terapias específicas para o COVID-19. No entanto, as medidas implementadas permanecem limitadas a terapias preventivas e de suporte, projetadas para evitar complicações adicio- nais e possíveis danos aos pacientes infectados durante o período de reabilitação.18 Referências 1. Carda S, Invernizzi M, Bavikatte G, Bensma D, Bianchi F, Deltombe T, et al. The role of physical and rehabilitation medicine in the COVID-19 pandemic: the clinician’s view. 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